André Silva Franco – ASF EOQ – Escola Olímpica de Química Julho de 2011
Conceitos Básicos
Gás é um estado da matéria; as partículas de massa m estão
em movimento incessante e caótico;
O tamanho das partículas é desprezível, já que o diâmetro
delas é muito menor do que o valor que elas percorrem.
As partículas interagem rapidamente em colisões elásticas
Os gases ocupam todo o volume do recipiente e, portanto, não
tem forma definida;
A densidade de um gás, em geral, é muito inferior a de um
líquido ou sólido;
O Gás Perfeito
É aquele gás que não apresenta interações entre suas
partículas constituintes;
Na verdade, não há tal gás. E sim, um gás com
comportamento perfeito/ideal.
O estado de um gás é definido por variáveis ao
menos 3 variáveis:
P=f(n, V, T)
Equação do gás perfeito (de Clapeyron):
Pressão (P)
Pressão é definido como a razão de uma força
aplicada numa superfície.
Quanto maior a força, maior a pressão.
A origem da força vem das incessantes colisões das
partículas do gás nas paredes do recipiente que o contém.
As colisões são tantas que as partículas acabam por
exercer uma força efetivamente constante.
F
P
S
Nome Símbolo Valor
pascal 1 Pa 1 N/m²; 1 kg/(m.s²)
bar 1 bar 1.105 Pa
atmosfera 1 atm 101.325 kPa
torr 1 Torr 1/760 atm = 133,32 Pa Milímetros de mercúrio 1 mmHg 1 Torr
Pressão (P)
Pressão de uma atmosfera
Pressão exercida por coluna de mercúrio
Temperatura (T)
É a medida do nível de agitação das partículas; Lei Zero da Termodinâmica:
“Se A está em equilíbrio térmico com B, e B está em equilíbrio térmico com C, então C também está em equilíbrio térmico com A”
32 273 5 9 5 C F T Termômetro? A é a amostra; B é o vidro; C é o mercúrio
As Leis dos Gases
Lei de Boyle: PV = constante, com n e T constantes. Cada hipérbole é uma isoterma (pontos com a
mesma temperatura)
1 1 2 2
PV
PV
As Leis dos Gases
Lei de Charles: V = constante. T, com n, P constantes Cada reta no diagrama abaixo é uma isóbara, pois
cada ponto apresenta a mesma pressão.
1 2
1 2
V
V
As Leis dos Gases
Lei de Gay-Lussac: P = constante.T, com n, V constantes Cada linha do gráfico abaixo é uma isócora, pois cada
ponto apresenta o mesmo volume.
1 2
1 2
P
P
As Leis dos Gases
Princípio de Avogadro: V = constante.n, com P, T cte. n, V 2n, 2V
Equação do Gás Perfeito
Combinando todas as leis anteriores, chegamos à
seguinte expressão:
O valor de R é obtido experimentalmente à baixas
pressões (quando gases reais tem comportamento ideal)
PV
nRT
PV R nT Exemplo
Em um processo industrial, nitrogênio é aquecido a
500 K em um frasco a volume constante. Se ele entra no frasco a 100 atm e 300 K, qual será a pressão que ele exerceria na temperatura do de ação do frasco, supondo ter um comportamento ideal?
1 1 2 2 1 1 2 2 1 2 2 2 1 1 2 1
500
100.
167
300
PV
PV
n T
n T
P
P
T
P
P
atm
T
T
T
Transformações Gasosas
Um gás pode sofrer alterações em suas funções de
estado, assumindo um novo estado. Porém, algumas transformações merecem destaque:
Isotérmica: é aquela em que a temperatura permanece
constante;
Isobárica: é aquela em que a pressão permanece
constante;
Isocórica: é aquela em que o volume permanece
constante;
Adiabática: é aquela em que não ocorre troca de calor
Definições
Condições Normais de Temperatura e Pressão
(CNTP ou TPN): Corresponde ao gás sob pressão de uma atmosfera e temperatura de 0 °C ( 273,15 K)
Volume Molar: É o volume ocupado por um mol de
gás.
Da Equação de Clapeyron, temos: Nas CNTP, M V RT V n P 1 0, 0820574.273,15 22, 41 . 1, 0 M V L mol
Densidade de um Gás (ρ)
Já sabemos que , e ainda que Como , concluímos que:
Em geral utilizamos a primeira expressão de densidade
para sistemas fechados, e a segunda para sistemas abertos.
Observe que mantidos constantes as condições do meio, a
densidade do gás só depende de sua massa molar: Quanto maior a massa molar, maior é a densidade.
m V
PV
nRT
m n M m m PM PV RT PM RT M V RT Exemplo
A densidade do oxigênio nas CNTP é 1,429 g/L.
Calcule a densidade do gás carbônico nas CNTP. Da equação de Clapeyron, obtemos:
Como estamos nas CNTP nos dois casos, e as temperaturas são iguais. Então temos:
2 2 2 2 2 2 CO CO CO O O O P M PM RT P M RT RT 2 2 CO O P P 2 2 2 2 2 2 2 2 . 1,965 CO CO O CO CO O O O M M g M M L
Casos Particulares
Vazamento de gás a volume e temperatura constantes
Variação da temperatura a pressão constante em
pistão fechado
1 1 1 2 1 2 2 2 PV n RT P P V n n RT PV nRT PV n RT
1 1 1 2 1 2 2 2 PV nRT V V P T T nR P V nR T PV nRT Exemplo
Um recipiente inelástico de 0,5 L contendo um gás
desconhecido, sob 1 atm de pressão, mantido à
temperatura de 20°C, pesou 25,178 g-f(grama-força). Percebeu-se um vazamento neste recipiente e logo se providenciou sua correção. Após esta correção,
verificou-se que a pressão foi reduzida para 0,83 atm e que o peso passou a ser 25,053 g-f. Calcule a massa molecular do gás.
25,178 25, 053 0, 082.293 35,33 . . . 1, 0 0,83 0,5 mRT M u m a PV Lei Barométrica
Utilizada para medir a pressão atmosférica. Lei de Stevin ( ): Equação de Clapeyron: PV = nRT Lei Barométrica: 0 P P gh dP gdh 0 0 1 ln . Mg h RT dP gdh PMgdh Mg dP dP dh nM PM RT P RT V RT P Mg h P P e P RT
Gases Reais
As partículas de gases, na verdade, interagem entre
si.
Apresentam forças de repulsão:
Mais notáveis em altas pressões
Apresentam forças de atração:
Mais notáveis em baixas temperaturas
Além disso, apresentam volume não
Fator de Compressão (Z)
É a razão entre o volume molar medido (efetivo/real)
e o volume ideal (considerando comportamento ideal)
Sabemos que , então podemos escrever que
Ou seja,
Note que para Z = 1, temos gás ideal;
Para Z > 1, volume é maior do que o ideal: repulsão Para Z < 1, volume é menor do que o ideal: atração
0 m m V Z V 0 0 M V RT V n P m PV Z RT m PV RTZ
Equação de van der Waals
Adiciona fatores de correção à equação de Clapeyron:
Parâmetros de van der Waals:
a: forças de atração
b: forças de repulsão (volume de um mol de partículas)
Fator de Compressão:
Para Z = 1, a=b=0; Para Z > 1, b é mais influente que
a; Para Z < 1, a é mais influente que b.
2 2 nRT n P a V nb V 1 1 an Z nb RTV V
Exemplo
Os parâmetros de van der Waals para o hélio são:
a=3,412.10-2 L².atm.mol-2 e b=2,370.10-2L.mol-1.
Calcule o volume de 48.1023 átomos de gás hélio a 5
atm e 300 K. Calcule agora Z para o gás. O que predomina, as forças de repulsão ou atração?
3 2 0 m m m RT a ab V b V V P P P 3 2 5V 197, 748V 2,184V 0, 414 0 V 39,583 L 0 8.0, 082.300 39,36 5 nRT V L P
0 1, 005 Forças de repulsão predominam
V Z
V
André Silva Franco – ASF EOQ – Escola Olímpica de Química Julho de 2011
Lei de Dalton
Consideremos dois gases A e B submetidos à mesma
temperatura e recipientes de mesmo volume.
Se misturarmos uma certa quantia de A com outra de B
em outro recipiente sob mesma temperatura e de mesmo volume, teremos: Então, A nA PA T V nB PB T V B A + B n P T V A A P V n RT B B P V n RT n PV RT A B P V P V PV RT RT A B RT A B
n
n
n
P
P
P
“Pressão parcial de um gás componente de uma mistura gasosa é a pressão que este exerceria se estivesse sozinho no recipiente da mistura e submetido à mesma temperatura que se encontra a mistura.”
...
A B Z
Exemplo
Em uma experiência de laboratório, ácido clorídrico
concentrado reagiu com alumínio. O gás hidrogênio produzido na reação foi recolhido sobre água a 25 °C; seu volume foi de 355 mL a uma pressão total de 750 mmHg. A pressão de vapor d’água a 25 °C é
aproximadamente 24 mmHg.
a) Qual é a pressão parcial do hidrogênio na mistura? b) Quantos mols de hidrogênio foram recolhidos?
Lei de Amagat
Consideremos dois gases A e B submetidos à mesma
temperatura e pressão.
Se misturarmos uma certa quantia de A com outra de B
em outro recipiente sob mesma temperatura e pressão, teremos: Então, A nA P T VA nB P T VB B n P T V A A PV n RT B B PV n RT PV n RT A + B A B PV PV PV RT RT A B RT A B
n
n
n
V
V
V
“Volume parcial de um gás componente de uma mistura gasosa é o volume que este ocuparia se estivesse sozinho à mesma temperatura e pressão que se encontra a mistura.”
...
A B Z
Fração Molar
Imaginemos um recipiente contendo vários gases. Caso queiramos analisar o gás A com a mistura,
podemos fazer:
Definimos fração molar de um gás A como
Assim, podemos calcular as pressões ou os volumes
parciais usando a fração molar
Assim, analisando o gás numa mistura, podemos
usar ou a pressão parcial ou o volume parcial
ou A A A A A A A A P V n RT n PV n RT n P P V V PV nRT n PV nRT n A A n X n
.
.
i i i iP
X P ou V
X V
A A A A P V n RT ou PV n RT i i i in
P
V
X
n
P
V
Exemplo
Um bebê prematuro respira na incubadora uma
mistura de 75% de gás oxigênio e 25% de gás
nitrogênio (porcentagem em volume). Sabendo-se que a pressão total da mistura é igual a 800 mmHg, calcule as pressões parciais dos componentes.
Casos Particulares
Pressão Total:
Caso peguemos um gás A num recipiente A, e um gás B
num recipiente B e misturemo-los num único recipiente, todos submetidos à mesma temperatura, podemos
escrever:
Pressão de Equilíbrio:
Caso tenhamos dois recipientes separados por uma
barreira, e esta é retirada, após o equilíbrio entre os
gases a pressão de equilíbrio em cada recipiente, mesmo colocando a barreira novamente, será:
A A B B A A B B A B P V P V PV n n n RT R P V P V P V T RT A A B B eq A B B A A B P V P V P V V P V P P V V
Exemplo
Utilizando-se uma bomba pneumática com base 24
cm² e altura 30 cm quando o êmbolo está todo puxado, Hilsen pretende encher o pneu de sua
bicicleta. Sabendo que o pneu tem volume constante igual a 2,4 L e sua pressão inicial era de 3 atm,
calcule a pressão no interior do pneu quando ele empurrar uma vez a bomba, sabendo que ela está sujeita à pressão atmosférica normal.
Observe que o volume da bomba é VA = 0,24 dm². 3 dm = 0,72 dm³ = 0,72 L.
E o volume total V é o próprio volume do pneu, que é constante e igual a 2,4 L.
1.0, 24.3 3.2, 4 3,3 2, 4 A A B B P V P V P atm V
Lei de Graham
A velocidade média das moléculas de um gás é
diretamente proporcional à raiz quadrada da
temperatura e inversamente proporcional à raiz quadrada da massa molar
Considerando uma mesma temperatura, a razão das
velocidades de difusão dos gases é
Considerando o mesmo gás, a razão das velocidades
em temperaturas diferentes é T v M 1 2 2 1 v M v M 1 1 2 2 v T v T
Exemplo
Alan Bruno pegou um tubo de vidro cilíndrico de 1,000 metro de
comprimento e em uma extremidade colocou algodão embebido com ácido clorídrico e na outra, algodão embebido com amônia. Após algum tempo observou a formação de um anel branco dentro do tubo, sendo mais concentrado a 59,5 cm da extremidade que continha algodão com amônia. Assim sendo, Alan Bruno descobriu a massa molar do cloro com boa exatidão, já que ele só sabia a massa molar do hidrogênio e do
nitrogênio. (1,00 e 14,0 g/mol, respectivamente).
O que aconteceu no tubo para formar o anel branco e qual sua
composição? Mostre a reação de sua formação.
Como ele obteve a massa molar do cloro? Considere que a amônia e o
cloreto de hidrogênio possuam a mesma energia cinética no sistema.
g 3 g 4 s HCl NH NH Cl 3 3 3 2 1 1, 00 59,5 35, 7 . 40,5 17, 0 NH NH HCl Cl Cl HCl HCl NH v x M M M g mol v x M 40,5 cm 59,5 cm Algodão embebido com ácido clorídrico Algodão embebido com amônia Anel de cloreto de amônio
Desafio!
Dois recipientes idênticos são conectados por um
tubo com uma válvula deixando o gás passar de um recipiente a outro se a diferença de pressão for ΔP ≥ 1,10 atmosferas. Inicialmente, um frasco estava vazio (vácuo ideal) enquanto o outro continha gás perfeito a temperatura T1 = 27 °C e pressão de p1 = 1,00
atmosfera. Então ambos recipientes são aquecidos até a temperatura de T2 = 107 °C. Até qual valor a pressão no primeiro frasco (que continha vácuo inicialmente) irá aumentar?
Desafio?
Para o frasco cheio, inicialmente, definimos: Daí aquece-se esse frasco, e obtemos:
Já no segundo frasco, temos: Portanto,
Como , chegamos que:
1 1 0 PV n RT ' ' 1 1 PV n RT
'
2 1 1 PV n n RT ' ' 1 1 2 2 1 1 0 0 PV PV PV T P P P RT RT RT T ' 1 2 P P P 2 1 2 2 1 0 0 1 0, 08 2 T T P P P P P P P atm T T Sugestão
Leitura Complementar:
Atkins; Jones: Princípios de Química Atkins; de Paula: Físico-Química
Castellan, Gilbert W.: Physical Chemistry
Fontes:
Atkins, de Paula: Físico-Química Chemistry – the central science
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