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AS DIVERSAS FACES DA AVALIAÇÃO EM ENGENHARIA: REFLEXÕES E PERSPECTIVAS

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Academic year: 2021

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ISSN 2176-1396

AS DIVERSAS FACES DA AVALIAÇÃO EM ENGENHARIA:

REFLEXÕES E PERSPECTIVAS

Daniel Scodeler Raimundo1 - UFABC Grupo de Trabalho - Políticas Públicas, Avaliação e Gestão do Ensino Superior Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

O presente trabalho reporta uma reflexão a respeito das diversas faces da avaliação em engenharia, pensando-se nas diversas perspectivas das avaliações nas diversas escalas e nas universidades que apresentam cursos de engenharia. Em todos os níveis de ensino a avaliação deve ter o objetivo de melhorar o processo ensino-aprendizagem e as práticas docentes. Em qualquer um dos níveis de ensino (fundamental, médio e superior) as diversas faces da avaliação devem estar presentes, pois cada uma delas tem um papel específico, e juntas devem servir para mensurar a qualidade do processo ensino-aprendizagem e das práticas docentes, visando sempre a melhoria dos sistemas de ensino. Ao se planejar o processo de formação devem-se considerar quatro dimensões fundamentais da avaliação para que o processo de avaliação das competências a serem construídas e desenvolvidas contextualmente tenha meio e fins. Sendo assim, este trabalho discute o papel da avaliação no desenvolvimento da universidade como instituição de saberes representativos para a construção de cidadãos críticos e reflexivos, e profissionais de qualidade, permeando reflexões sobre as quatro fundamentais dimensões da avaliação segundo Masetto: a dimensão diagnóstica inicial, a dimensão formativa, a dimensão recapitulativa e a dimensão acreditativa. Os profissionais da educação, em especial os professores, devem utilizar as mais diferentes formas de avaliação, para mostrar aos discentes que as avaliações são positivas e enriquecem e solidificam o processo ensino-aprendizagem, especialmente em cursos que demandam o aprendizado de conceitos bastante complexos, como os cursos de engenharia; e ainda servem como instrumento de reflexão sobre as suas práticas e o sobre o conjunto do trabalho pedagógico. Palavras-chave: Avaliação em engenharia. Dimensões da avaliação. Processo ensino-aprendizagem.

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Doutor em Ciências pela Escola Politécnica da USP. Professor Adjunto II do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do ABC (UFABC). E-mail: daniel.scodeler@ufabc.edu.br

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Introdução

A avaliação se faz presente em todas as atividades e domínios do cotidiano dos indivíduos. Sejam em situações informais ou formais, todos os indivíduos julgam e comparam, ou seja, avaliam comportamentos, ações e perspectivas a todo o momento. Sendo assim, todos os indivíduos precisam refletir para organizar e sistematizar as tomadas de decisões do dia a dia (DALBEN, 2005).

A avaliação no contexto escolar realiza-se segundo objetos escolares implícitos ou explícitos como prática formalmente organizada e sistematizada, refletindo valores e normas sociais. De acordo com Villas Boas (1988), as práticas avaliativas podem servir à manutenção ou à transformação social. Segundo ela, a avaliação não deve acontecer em momentos isolados da atuação pedagógica, devendo acontecer constantemente permeando todo o processo ensino-aprendizagem.

Em pleno século XXI, o contexto socioeducacional revela uma realidade em que a avaliação ainda se dissocia muito do processo ensino-aprendizagem.

A avaliação, tanto na educação básica como na educação superior, ainda muitas vezes, parece se desvincular das práticas pedagógicas, tornando-se um objeto de medo entre os alunos. Nos cursos de engenharia, isso não é diferente. As universidades procuram sistematizar semanas de provas fazendo com que os alunos se desesperem com as avaliações.

Para que a avaliação do processo ensino-aprendizagem expresse concretamente as competências desenvolvidas pelos indivíduos, é preciso que formação e avaliação por competências sejam planejadas em conjunto, de forma coerente (MASETTO, 1997). É neste contexto que se resgata a dimensão formativa da avaliação, isto é, seu papel essencial dentro da pedagogia diferenciada e da individualização dos caminhos de aprendizagem, permitindo aos docentes pronunciarem-se sobre os avanços educativos dos alunos e, com esses, contar com pontos de referência para julgar onde estão, onde podem chegar e do que vão necessitar para continuar aprendendo.

Ao se planejar o processo de formação devem-se considerar quatro dimensões fundamentais da avaliação para que o processo de avaliação das competências a serem construídas e desenvolvidas contextualmente tenha meio e fins, segundo Masetto (1997).

Uma das dimensões da avaliação é a diagnóstica inicial. Esta avaliação permite detectar os atributos que os alunos já possuem, contribuindo para a estruturação do processo ensino-aprendizagem a partir do conhecimento de base dos mesmos. A avaliação diagnóstica

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inicial serve para recolher evidências sobre as formas de aprender dos alunos, seus conhecimentos e experiências prévias, seus erros e ideias preconcebidas. Assim, cabe ao professor interpretar as evidências percebendo o ponto de vista dos alunos, o significado de suas respostas, as possibilidades de estabelecimento de relações e os níveis de compreensão que possui dos objetos de aprendizagem a serem estudados. De forma geral, sempre que possível, especialmente nas universidades, o planejamento do projeto ou da própria unidade didática deve ser feita posteriormente à avaliação diagnóstica inicial. Dependendo da estrutura institucional, a presente avaliação é equivalente aos mecanismos de ingressos, provas de ingresso ou vestibulares. As avaliações diagnósticas iniciais devem ser planejadas de acordo com os perfis dos cursos oferecidos nas instituições.

Outra dimensão da avaliação é a formativa. A avaliação formativa permite identificar o nível de evolução dos alunos no processo ensino-aprendizagem. Para os professores, implica uma tarefa de ajuste constante entre o processo de ensino e o de aprendizagem, para ir adequando a evolução dos alunos e para estabelecer novas pautas de atuação em relação às evidências sobre sua aprendizagem. A análise das atividades realizadas pelos alunos deve ser com o intuito de verificar os resultados das atividades em relação à complexidade delas a fim de analisar o processo de apreensão dos conhecimentos, desenvolvimento e aprimoramento de destrezas, construção de valores e qualidades pessoais. Segundo Perrenoud (1999), a dimensão formativa da avaliação é uma regulação de aprendizagens, e sendo assim, é importante planejar em que momentos as evidências de realização das atividades serão insumos para o processo de avaliação. Este planejamento é importante que seja realizado juntamente com o planejamento do projeto.

A terceira dimensão da avaliação é a recapitulativa. A avaliação recapitulativa apresenta-se como um processo de síntese de um tema, um curso ou um nível educativo, sendo que “o momento” que permite reconhecer se os estudantes alcançaram os resultados esperados e adquiriram algumas das habilidades propostas em função das situações de ensino e aprendizagem planejadas. Esta dimensão se ligará facilmente à dimensão acreditativa ou certificativa da avaliação. Este tipo de avaliação pode ser proposta aos alunos mediante estratégias de instrumentos das dimensões anteriores, aproximando-se, porém, os temas e as situações mais diretamente das normas de competências. Por outro lado, se a avaliação formativa foi precisa, cuidadosamente realizada e apropriadamente registrada, seja em memoriais de desempenho, em portfólios, planilhas de desempenho ou documentos equivalentes, a avaliação recapitulativa pode constituir-se como mais uma etapa de

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metacognição, por exemplo, propondo aos alunos uma reconstrução do processo seguido de tomada de consciência do momento em que aprenderam “mais” ou que desenvolveram novas competências.

A última dimensão da avaliação proposta por Masetto (1997) refere-se à dimensão acreditativa ou certificativa. Tal dimensão, que legitima a promoção dos estudantes de uma etapa para outra, de um nível de ensino para outro e/ou confere uma determinada certificação, é o ápice do processo de formação como inferência viabilizada pelo completo e complexo sistema de avaliação implementado durante o processo. A dimensão certificativa é a que se destaca quando o processo de avaliação ocorre independentemente do processo de formação, ainda que a dimensão formativa esteja sempre presente, em algum nível, em qualquer avaliação. A forma e o nível de aproveitamento que faz o indivíduo dessa outra dimensão estarão relacionados com a consciência do próprio quanto ao processo de construção de suas competências e/ou do quanto e como ele é devidamente orientado.

Quando avaliado em processo de formação, essas quatro dimensões da avaliação estarão relacionadas intrinsecamente e os percursos realizados posteriormente pelo indivíduo serão, de certa forma, consequência das próprias evidências obtidas pelas avaliações, segundo uma orientação minimamente sistematizada pelo professor. Por outro lado, se avaliado de forma independente à formação, o aproveitamento de qualquer evidência para a construção de percursos posteriores, seja de trabalho, seja de formação, ficará a cargo do próprio indivíduo.

Analisando-se as evidências das várias etapas de avaliação pelas quais os indivíduos passam na vida acadêmica, tanto na educação básica quanto na educação superior, todas elas são intrínsecas à realidade e fazem parte da evolução do processo de ensino-aprendizagem. No entanto, para a construção do conhecimento e para adequação dos sistemas de ensino, as práticas avaliativas devem ter uma variabilidade adequada para atingir a todos os alunos e poder envolver a maioria das competências e habilidades adquiridas por todos os indivíduos envolvidos no processo ensino-aprendizagem.

Diante do exposto anterior, o presente trabalho procura refletir e comentar sobre as diversas perspectivas da avaliação nos cursos de engenharia, sendo a avaliação uma característica multifacetada e fortemente necessária para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, dividida em diversas fases diferentes.

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Desenvolvimento

A Psicologia Cognitiva revela que sendo cada indivíduo diferente nas respostas ao aprendizado e tendo cada sujeito o seu modo de aprender, é importante que o professor mantenha-se em constante atualização a partir de cursos de formação continuada, para possibilitar uma grande diversificação de suas práticas e nas suas formas de avaliar para que ele possa de certa forma, atingir a maior quantidade de alunos que poderão aprender de forma mais eficiente, construindo uma visão mais reflexiva dos conhecimentos adquiridos. Sendo assim, a Psicologia Cognitiva enriquece as discussões sobre a importância da variabilidade das formas de avaliação propostas pelos professores de Engenharia, tornando as atitudes mais próximas da realidade no contexto atual da educação.

As diversas faces da avaliação em engenharia são responsáveis por construir dicotomias a respeito da avaliação. Ora, a avaliação é positiva ou negativa para os discentes? E para os docentes? Esta é uma discussão muito importante que deve imperar nos ambientes universitários, uma vez que a avaliação deve funcionar como ferramenta para corrigir distorções dos projetos pedagógicos e dos processos de ensino-aprendizagem.

Não se deve esquecer que o avaliar não está somente na sala de aula e nas mãos dos professores. Os diversos profissionais da educação e os próprios alunos devem avaliar as diversas instâncias de cada curso e de cada área da universidade para manter uma dinâmica consciente e satisfatória para o bem estar de todos e para o desenvolvimento da instituição.

Uma avaliação inicial é aplicada aos alunos no momento em que estes ingressam na universidade. É importante considerar que muitas das universidades, especialmente muitas das instituições particulares de ensino superior, não aplicam esta avaliação inicial. É claro que nem todos os instrumentos de avalição de ingresso nas universidades públicas podem ser considerados excelentes, mas apresentam certo nível de seleção que pode ser muito discutido e tornar-se dinâmico ao longo do tempo. O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) veio com grande força para mostrar que o processo ensino-aprendizagem deve ser repleto de significados e deve apresentar relação direta com a realidade do estudante.

As instituições de ensino devem pensar nas diversas avaliações como parte do seu projeto pedagógico. As avaliações devem ter encadeamento necessário para as tomadas de decisões e para a construção e desenvolvimento da instituição. Sendo assim, as diversas formas de avaliação devem ser pensadas juntamente com o projeto pedagógico, sendo que deve haver avaliações diagnóstica, formativa, recapitulativa e certificativa.

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As avaliações que representam o sistema de ingresso devem estar de acordo com as necessidades de saberes que os alunos têm para serem cidadãos do século XXI. As avaliações internas das diversas instâncias devem avaliar os diversos trabalhos e as diversas competências e habilidades do corpo docente, do corpo técnico-administrativo e do corpo de profissionais terceirizados. Os diversos programas de formação continuada para docentes, técnico-administrativos, profissionais terceirizados e alunos devem ser permeados por avaliações que servirão como diagnóstico para correções nos diversos caminhos do processo ensino-aprendizagem. As avaliações internas são importantíssimas para total autoconhecimento da instituição e para futuros enfrentamentos das avaliações externas (avaliações de grande escala). As pesquisas e programas de pesquisas, juntamente como os projetos de pesquisa e extensão também são constantemente avaliados no tocante de tentar melhorar cada vez mais as características dos diversos programas de construção de conhecimentos da universidade.

As avaliações em sala de aula, permeadas pelas ações dos professores, devem ser pensadas de acordo com os objetivos da disciplina e os objetivos do curso no qual a disciplina está inserida. Sendo assim, é importante que o professor tenha conhecimentos sobre didáticas, práticas de ensino, metodologias de ensino, e é claro, do conhecimento técnico da disciplina. Em engenharia, a complexidade dos conteúdos das disciplinas é diversa, e então, para depois os alunos serem avaliados nas diversas instâncias de competências e habilidades desenvolvidas com o aprendizado do conteúdo, é necessário que o professor utilize uma grande variedade de tipos de avaliações. As avaliações não devem ser pontuais, devem ser realizadas durante todo o processo ensino-aprendizagem, ou seja, devem ser avaliações contínuas que sirvam para conhecer o andamento da aprendizagem dos alunos e para autocrítica das metodologias de ensino e de avaliação aplicadas pelo professor. Conhecimentos pedagógicos para os professores de engenharia são diferenciais para suas atuações em sala de aula e em suas contribuições pedagógicas nos cursos e na instituição como um todo. Sendo assim, os professores de engenharia, além de aulas expositivas e aulas de exercícios, também podem propor atividades em grupos, seminários em grupo, resolução de problemas em grupo, apresentações teatrais, pequenos simpósios, discussões científicas, provas com consulta e em grupo, pesquisas em casa, etc.

Tendo uma maior variabilidade de avaliações, os sucessos de aprendizagem tenderão a uma porcentagem maior, pois é importantíssimo considerar que cada um aprende de uma forma e que cada um pode demonstrar seus maiores conhecimentos adquiridos de formas

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diferentes. Muitas vezes, trabalhos de pesquisas sobre determinados tópicos da disciplina podem ser mais interessantes que uma simples aula expositiva sobre o assunto. As diversas formas de exposição dos alunos podem levar à construção de conhecimentos compartilhados e que apresentam maiores significados em relação às realidades. Um exemplo clássico para dar significados ao aprendizado é desenvolver aulas de cálculo com conteúdos aplicados, exemplos de aplicações e envolvimento com a história da matemática. O significado da história vem à tona juntamente com as futuras aplicações dos cansativos cálculos realizados nas aulas de cálculo tradicionais.

Sendo assim, é importante que os professores e todos os agentes da educação pensem a universidade como um local onde a avaliação é uma ferramenta básica para a evolução dos diversos conhecimentos a serem construídos na universidade, dando lugar, a cada instante, à dinâmica da educação local, baseada sempre na avaliação como ligação entre os apoios do tripé da universidade (ensino, pesquisa e extensão).

Considerações Finais

As diversas faces da avaliação em engenharia mostram que mesmo se apresentando algumas vezes como negativa diante dos alunos, a avaliação é uma ferramenta imprescindível para o desenvolvimento do ensino e das diversas perspectivas educacionais nas instituições de ensino. A avaliação deixa de ser negativa diante dos alunos se os profissionais da educação e os docentes souberem utilizá-las das mais diversas formas possíveis.

É muito importante que os docentes da área de engenharia tenham contatos com as teorias didáticas, as metodologias de ensino e as interpretações sociais dos diversos conhecimentos, de foram que a partir da grande variedade de tipos de avaliações utilizados podem atingir uma maior parte dos alunos, fazendo-os reconhecer a avaliação como imprescindível no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem e como uma forma de reflexão sobre suas práticas docentes e suas perspectivas para o ensino.

REFERÊNCIAS

DALBEN, Ângela Imaculada Loureiro de Freitas. Avaliação escolar. Presença Pedagógica, Belo Horizonte, v. 11, n. 64, p. 66-75, jul./ago. 2005.

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PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens. Porto Alegre: Artmed, 1999.

VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Planejamento da avaliação escolar. Pró-posições (Unicamp), Faculdade de Educação UNICAMP, Campinas, v. 9, n. 3, p. 19-27, nov. 1998.

Referências

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