Fubini: por que d ´a certo e
o que fazer quando d ´a errado
Marcelo Viana
Teorema de Fubini
Comecemos por lembrar o que diz o teorema de Fubini, numa situac¸ ˜ao simples:
E Ex Ex x x Z
Teorema de Fubini
Em particular,
comprimento(Ex) =0 para todo x
⇓ area(E) =0 E Ex Ex x x
comprimento(Ex) =0 paraquasetodo x
⇓ ⇑
Teorema de Fubini
Em particular,
comprimento(Ex) =0 para todo x
⇓ area(E) =0 E Ex Ex x x
Teorema de Fubini
O teorema ´e v ´alido com muito maior generalidade:
para integrais de func¸ ˜oes:
Z E f(x,y)dx dy = Z Z Ex f(x,y)dy dx
para qualquer espac¸o euclideanoRd(integrais m ´ultiplas): volumed(E) =
Z
Teorema de Fubini
O teorema ´e v ´alido com muito maior generalidade:
para integrais de func¸ ˜oes:
Z E f(x,y)dx dy = Z Z Ex f(x,y)dy dx
para qualquer espac¸o euclideanoRd(integrais m ´ultiplas): volumed(E) =
Z
Teorema de Fubini
O teorema ´e v ´alido com muito maior generalidade:
para integrais de func¸ ˜oes:
Z E f(x,y)dx dy = Z Z Ex f(x,y)dy dx
para qualquer espac¸o euclideanoRd(integrais m ´ultiplas):
volumed(E) =
Z
Medidas produto
Porqu ˆe o teorema de Fubini vale ?
Porque a ´area ´e o produto de duas medidas de comprimento:
area(A×B) =comprimento(A)·comprimento(B).
Medidas produto
Esta resposta ´ecorreta. De fato, o teorema de Fubini vale em
qualquer espac¸o produto(X ×Y, µ× ν)de medida.
Medidas produto
Esta resposta ´ecorreta. De fato, o teorema de Fubini vale em
qualquer espac¸o produto(X ×Y, µ× ν)de medida.
Probabilidades condicionais - Exemplo 1
Seja(X, µ)um espac¸o de medida (p. ex.: X = R2eµ =area).
Dada uma partic¸ ˜ao finitaP = {P1, . . . ,Pn}do espac¸o X ,
P1
Pj
E
definaµj = restric¸ ˜ao normalizada deµa Pj, isto ´e, µj(E) = µ(E∩Pj)
µ(Pj)
Probabilidades condicionais - Exemplo 1
Para qualquer E ⊂X tem-se a seguinte f ´ormula detipo Fubini:
µ(E) = n X
j=1
µj(E)pj onde pj = µ(Pj). Confira!
Cadaµj ´e chamadaprobabilidade condicionaldeµdado Pj. Esta construc¸ ˜ao se estende a partic¸ ˜oes enumer ´aveis.
Probabilidades condicionais - Exemplo 1
Para qualquer E ⊂X tem-se a seguinte f ´ormula detipo Fubini:
µ(E) = n X
j=1
µj(E)pj onde pj = µ(Pj). Confira!
Cadaµj ´e chamadaprobabilidade condicionaldeµdado Pj.
Probabilidades condicionais - Exemplo 2
Agora consideremos a seguinte situac¸ ˜ao:
x
Fx
Ex φ
Probabilidades condicionais - Exemplo 2
Vale uma f ´ormula detipo Fubini:
area(E) = Z
λx(Ex)dx
onde cadaλx ´e um “comprimento ponderado” ao longo da
curvaFx, dado por
λx(B) = Z
B
|det Dφ| |∂yφ| ◦ φ
Probabilidades condicionais - Exemplo 2
Neste caso a partic¸ ˜ao ´en ˜ao enumer ´avele os seus elementos
t ˆem ´area zero(ao contr ´ario do Exemplo 1).
Continua valendo que
area(E) =0
m
comprimento(Ex) =0 para quase todo x .
O teorema da desintegrac¸ ˜ao de Rokhlin unifica estes e muitos outros exemplos.
Teorema da desintegrac¸ ˜ao
Seja(X,X , µ)um espac¸o de medida finita e considere uma
partic¸ ˜aoP decentede X em conjuntos mensur ´aveis.
Teorema de Rokhlin
Existe uma medidaµˆemP e uma fam´ılia de probabilidades
{µP :P∈ P}tais queµP(P) =1 e
µ(E) = Z
P
µP(E)dµ(P)ˆ
para todo conjunto mensur ´avel E ⊂X .
No Exemplo 1: µ({ˆ Pj}) =pj e µPj = µj No Exemplo 2: µ =ˆ dx e µFx = λx
Teorema da desintegrac¸ ˜ao
Seja(X,X , µ)um espac¸o de medida finita e considere uma
partic¸ ˜aoP decentede X em conjuntos mensur ´aveis.
Teorema de Rokhlin
Existe uma medidaµˆemP e uma fam´ılia de probabilidades
{µP :P∈ P}tais queµP(P) =1 e
µ(E) = Z
P
µP(E)dµ(P)ˆ
para todo conjunto mensur ´avel E ⊂X .
Partic¸ ˜
oes decentes
Dizemos que a partic¸ ˜aoP ´edecentese ela pode ser obtida por
uma sequ ˆencia enumer ´avel de bissec¸ ˜oes do espac¸o X em conjuntos mensur ´aveis.
No Exemplo 1:
Partic¸ ˜
oes decentes
Dizemos que a partic¸ ˜aoP ´edecentese ela pode ser obtida por
uma sequ ˆencia enumer ´avel de bissec¸ ˜oes do espac¸o X em conjuntos mensur ´aveis.
No Exemplo 1:
Partic¸ ˜
oes decentes
A partic¸ ˜ao do quadrado em segmentos verticais ´e decente: basta usar os racionais para definir as bissec¸ ˜oes.
x1 x2 q
Da´ı segue que a partic¸ ˜ao do Exemplo 2 tamb ´em ´e decente.
Partic¸ ˜oes n ˜ao-decentes existem.
Partic¸ ˜
oes decentes
A partic¸ ˜ao do quadrado em segmentos verticais ´e decente: basta usar os racionais para definir as bissec¸ ˜oes.
x1 x2 q
Desconstruindo Fubini
O teorema de Rokhlin diz que uma f ´ormula de tipo Fubini ´e totalmente geral, n ˜ao tem nada que ver com espac¸os produto. Por outro lado, coisas muito estranhas podem acontecer:
Teorema
Existem partic¸ ˜oes do quadrado Q em curvas suavesFx e existem conjuntos mensur ´aveis Z ⊂Q tais que
(a) area(Z) =1 e, no entanto,
(b) cardinal(Z ∩ Fx) =1 para todo x .
O comprimento de Z ∩ Fx ´e sempre zero, no entanto, a ´area do conjunto Z n ˜ao ´e zero!
Desconstruindo Fubini
O teorema de Rokhlin diz que uma f ´ormula de tipo Fubini ´e totalmente geral, n ˜ao tem nada que ver com espac¸os produto. Por outro lado, coisas muito estranhas podem acontecer:
Teorema
Existem partic¸ ˜oes do quadrado Q em curvas suavesFx e
existem conjuntos mensur ´aveis Z ⊂Q tais que
(a) area(Z) =1 e, no entanto,
Desconstruindo Fubini
Desconstruindo Fubini
Quem s ˜ao as probabilidadesµx neste tipo de exemplo ?
1= µ(Z) = Z 1 0 µx(Z)dx = Z 1 0 µx(Z ∩ Fx)dx implicaµx =medidadelta de Diracno ´unico ponto de Z∩ Fx
Desconstruindo Fubini
Quem s ˜ao as probabilidadesµx neste tipo de exemplo ?
1= µ(Z) = Z 1 0 µx(Z)dx = Z 1 0 µx(Z ∩ Fx)dx
implicaµx =medidadelta de Diracno ´unico ponto de Z∩ Fx
Desintegrac¸ ˜ao at ˆ
omica em Din ˆamica
Na ´ultima d ´ecada foi descoberto que situac¸ ˜oes como esta s ˜ao muito comuns em Din ˆamica. Vamos apresentar um exemplo.
f0: T2×S1→ T2×S1, f0(z,w) = (g(z),w) onde g: T2→ T2, g([x,y]) = 2 1 1 1 x y lembrando queT2= R2/Z2
Desintegrac¸ ˜ao at ˆ
omica em Din ˆamica
Teorema
Para todo difeomorfismo f : T2×S→
T2×S1pr ´oximo de f 0
existe uma partic¸ ˜ao deT2×S1em curvas fechadas suaves
(chamadasfolhas centrais) tal que f(Fp) =Ff(p)para todo p.
S1
T2 p
Desintegrac¸ ˜ao at ˆ
omica em Din ˆamica
Suponha que f :M→M preserva volume e satisfaz uma
propriedade t ´ecnica (fraca) chamada acessibilidade.
Teorema (Avila, Viana, Wilkinson)
Ent ˜ao a medida de volume tem desintegrac¸ ˜ao at ˆomica, a menos que a transformac¸ ˜ao seja da forma
f : T2×S1→ T2×S1, f(z,w) = (g(z),w + α(z))
m ´odulo alguma mudanc¸a suave de coordenadas.
µ(E) = n X j=1 µ(E∩Pj) = n X j=1 µ(E∩Pj) µ(Pj) pj = n X j=1 µj(E)pj Voltar
area(E) = Z Z E 1dx dy denotando D= φ−1(E) = Z Z D
|det Dφ|dx dy (mudanc¸a de vari ´avel)
= Z
dx Z
Dx
|det Dφ|dy (teorema de Fubini)
= Z dx Z Ex |det Dφ| |∂yφ| ◦ φ
−1ds (mudanc¸a de vari ´avel)