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Desenvolvimento das habilidades percetivo-cognitivas no andebol feminino de elite: estudo realizado com as seleções nacionais de Portugal

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Desenvolvimento das habilidades percetivo-cognitivas

no andebol feminino de elite

Estudo realizado com as seleções nacionais de Portugal

Tese de Doutoramento

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Este trabalho foi elaborado com vista à obtenção do grau de Doutor em Ciências do Desporto, de acordo com o disposto no Decreto-Lei 107/2008 de 25 de Junho, sob orientação científica do Professor Doutor José Alves e coorientação da Professora Doutora Eduarda Coelho

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À memória do meu pai

"Não venci todas as vezes que lutei, mas perdi todas

as vezes que deixei de lutar"

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A realização deste trabalho foi possível graças ao contributo de um conjunto alargado de pessoas ou instituições que, direta ou indiretamente, ajudaram a ultrapassar as muitas dificuldades surgidas, nesta longa mas proveitosa viagem, tornando mais simples a passagem pelas diferentes fases até à sua concretização. Por isso, quero deixar o meu mais profundo reconhecimento às mesmas nomeadamente:

Ao Professor Doutor José Alves, pela permanente disponibilidade e apoio dispensados, pelo equilíbrio que sempre soube concretizar entre o rigor necessário da crítica e a afabilidade do incitamento, ao longo dos anos, na orientação desta dissertação. Foi um orgulho trabalhar com ele, ficando para sempre gravados na minha memória os momentos de aprendizagem informal e de convívio passados.

À Professora Doutora Eduarda Coelho, pela inexcedível disponibilidade e espírito incansável de cooperação, decisivos na realização deste trabalho, mas também pela sua paciência e pela confiança em mim depositada. Reconheço as suas oportunas e importantes sugestões e a amizade pessoal que desde sempre acrescentou às suas funções e que desejo partilhar para sempre.

Aos técnicos nacionais de andebol feminino (Duarte Freitas, Filomena Santos, Sandra Martins, Sónia Araújo e Sofia Silva) que, para além de colaborarem na construção de um dos instrumentos, disponibilizaram tempo e espaços dos estágios, para a aplicação dos vários instrumentos de recolha de dados.

Às jogadoras, de todas as seleções nacionais, da época desportiva 2010/2011, por

terem acedido à minha proposta e por toda a disponibilidade para a recolha de todos os dados, ao longo dos estágios, e sem as quais este trabalho não teria sido possível. À Federação de Andebol de Portugal, pela autorização concedida para a realização do trabalho com as várias seleções nacionais femininas.

Ao Carlos Santos, meu ex-aluno, que de forma desinteressada foi corresponsável pela construção da aplicação informática, instrumento fundamental para o estudo de algumas variáveis. Pelo seu empenho sempre que a aplicação teve que sofrer vários ajustamentos até à sua versão definitiva.

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transmitidos e pelas importantes sugestões e ajuda na revisão do texto, mas especialmente por ser o amigo que só ele podia ser. Muito obrigada pela tua longa e sincera amizade.

Ao diretor da Escola Secundária Adolfo Portela de Águeda, Henrique Coelho, pelas facilidades concedidas na elaboração dos meus horários de trabalho.

Aos colegas da Escola Secundária Adolfo Portela de Águeda, que se preocuparam e ajudaram nalgumas tarefas como tradução de alguns textos e apoio informático.

À Marta Ramos, pelo empréstimo de material informático após um dos reveses sofrido durante a investigação.

À Clara Veiga, pela ajuda importante na tradução de alguns textos. Ao Pedro Sequeira, por me ter ajudado a lançar nesta aventura.

À Isabel Gomes, pela ajuda preciosa na tomada de algumas decisões importantes e que se revelaram fundamentais para a conclusão deste trabalho.

À minha mãe por tudo.

Finalmente, ao Paulo, meu marido, companheiro e amigo de longa data, pela preciosa ajuda na recolha e edição dos vídeos, pelo amor e compreensão nas várias ausências reclamadas pelo meu trabalho. Às nossas filhas, Inês, Tânia e Sofia, pelo tempo que também lhes roubei mas, sobretudo, por me fazerem sentir em plenitude a emoção do que representa ser mãe.

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O presente estudo pretende contribuir para a compreensão da evolução de algumas capacidades percetivas e cognitivas, envolvidas no processamento de informação e tomada de decisão na expertise desportiva, em jogadoras de andebol de elite. Pretende ainda perceber de que forma essas capacidades discriminam as jogadoras, assim como quais os mecanismos que promovem uma superior expertise. Estas pretensões ocorrem na intenção de propor conceitos de treino percetivo-cognitivos que possam contribuir para a melhoria do processamento da informação e da tomada de decisão em jogadoras de andebol.

No primeiro estudo procurou-se perceber a evolução das habilidades percetivo-cognitivas, nomeadamente a perceção, atenção, concentração, antecipação e tomada de decisão, em cinco seleções nacionais de Andebol feminino (“Talentos”, 11-13 anos; “Juniores C”, 13-14 anos; “Juniores B”, 15-16 anos; “Juniores A”, 17-18 anos e “Seniores”> 18 anos). Foi utilizada uma bateria de testes específicos e não específicos para a atividade desportiva constituída pelos testes seguintes: Teste de Figuras Idênticas de Thurstone, Teste de Atenção de Toulouse-Piéron, Teste de Estilo Atencional e Interpessoal e um Protocolo para avaliação da antecipação. Os principais resultados sugerem que existe uma evolução progressiva nas habilidades percetivas e cognitivas em função da acumulação da experiência e prática desportiva, verificando-se a maior diferença a partir dos 18 anos de idade. Também as variáveis que mais diferenciam os grupos em estudo são a perceção, a atenção e a precisão na antecipação.

No segundo estudo procurou-se perceber, através de uma abordagem multidimensional, como se desenvolvem o processamento da informação e a tomada de decisão, no mesmo grupo de jogadoras e qual a sua contribuição relativa. Foram

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Alves (2005), para avaliar o processamento da informação. Utilizou-se também uma medida resultante de uma situação de perceção-ação, utilizando o paradigma da oclusão temporal, e uma aplicação de avaliação para a precisão na antecipação, desenvolvido por Biscaia e Santos (2011), no qual eram solicitadas às participantes respostas adequadas a uma dada tarefa. Os resultados sugerem que o tempo de reação vai diminuindo nas idades estudadas, sendo as jogadoras dos escalões mais velhos as que respondem mais rapidamente aos estímulos. Contudo, em todos os escalões, o aumento da complexidade da tarefa leva ao aumento do tempo de reação com uma diminuição da exatidão. Também a antecipação vai melhorando ao longo da idade, com o aumento da experiência, conseguindo as jogadoras mais velhas prever eventos futuros com maior precisão. Também, em situações de grande complexidade da tarefa, onde a pressão temporal é constante, a exatidão e a capacidade de antecipação são afetadas, sendo as jogadoras mais velhas as que apresentam as melhores performances. A experiência desportiva parece ser, igualmente, importante no processamento da informação, em particular na rápida reação aos estímulos, e na consequente tomada de decisão. Efetivamente são as jogadoras mais velhas que, através de um processamento de informação mais eficaz, conseguem antecipar futuras situações de jogo com uma maior precisão.

No terceiro estudo pretendeu-se identificar quais as habilidades percetivas e cognitivas que melhor discriminam jogadoras de andebol de elite, de acordo com o escalão etário a que pertencem. A amostra utilizada foi a mesma dos dois anteriores estudos. Aplicaram-se os seguintes testes: Teste de Figuras Idênticas de Thurstone, Teste de Atenção de Toulouse-Piéron, Teste de Estilo Atencional e Interpessoal para avaliar capacidades percetivas, polireaciómetro para Windows - PRWin (Sobreiro e Alves, 2005) para avaliar o processamento de informação, e uma aplicação informática para avaliação da precisão na antecipação (Biscaia e Santos, 2011), utilizando o

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sugerem que o escalão etário de “Seniores” é discriminado, relativamente ao de “Talentos”, através de melhores tempos de reação, melhor perceção e melhor atenção, nomeadamente na capacidade de integrarem, simultaneamente, vários estímulos e na capacidade de melhor anteciparem eventos futuros de forma mais acertada.

Este modelo discriminante em conjunto com os resultados dos outros dois estudos, podem ajudar os treinadores na escolha dos seus critérios de recrutamento de jogadores assim como na melhoria dos programas de treino psicológicos, específicos ou inseridos no treino global.

Palavras-chave: expertise, atenção, perceção, antecipação, tomada de decisão, andebol feminino

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RESUMO ...IX ÍNDICE ...XIII ABREVIATURAS ... XV LISTA DE FIGURAS ... XVII LISTA DE QUADROS ... XIX LISTA DE GRÁFICOS ... XXI

1.INTRODUÇÃO ... 23 2. REVISÃO DA LITERATURA ... 31 2.1. A Expertise no desporto ... 33 2.1.1. Introdução ... 33 2.1.2. Apontamentos históricos ... 34 2.1.3. Investigação em expertise ... 39

2.1.4. Âmbito de estudo da expertise ... 44

2.1.5. Medidas de performance ... 46

2.1.6. Intervenientes fundamentais para o desenvolvimento da expertise ... 48

2.2. Aspetos percetivos e cognitivos da performance das habilidades motoras ... 50

2.2.1 Introdução ... 50

2.2.2. A atividade percetivo-cognitiva: variáveis mediadoras... 54

2.2.2.1. Perceção ... 54

2.2.2.2. Atenção ... 56

2.2.2.3. Memória ... 61

2.2.2.4. Antecipação ... 67

2.2.3. Processamento de informação e tomada de decisão ... 71

2.3. Expertise vs desenvolvimento das habilidades ... 79

2.4. O treino percetivo-cognitivo ... 81

3.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS GERAIS ... 89

3.1. Caracterização da amostra ... 91

3.2. Identificação e definição operacional das variáveis ... 92

3.3. Descrição dos instrumentos e procedimentos de aplicação ... 95

3.3.1.Teste de perceção visual - Teste de Figuras Idênticas (FI) ... 95

3.3.2. Teste de Atenção e Estilo Interpessoal (TAIS) ... 96

3.3.3.Teste de atenção concentrada (TP) ... 96

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3.4. Procedimentos estatísticos ... 103 4. ESTUDO 1 ... 105 4.1.Introdução ... 107 4.2. Método ... 108 4.2.1. Instrumentos e procedimentos ... 108 4.2.2. Estatística ... 109 4.3. Resultados ... 109 4.4. Discussão e Conclusões ... 112 5. ESTUDO 2 ... 121 5.1.Introdução ... 123 5.2.Método ... 126 5.2.1. Instrumentos e procedimentos ... 126 5.2.2. Estatística ... 126 5.3.Resultados ... 126 5.3.1. Análise comparativa ... 126 5.3.2. Análise correlacional ... 129 5.4.Discussão e conclusões... 130 6. ESTUDO 3 ... 135 6.1. Introdução ... 137 6.2. Método ... 139 6.2.1. Instrumentos e procedimentos ... 139 6.2.2. Estatística ... 139 6.3.Resultados ... 140 6.4.Discussão e conclusões... 143

7. DISCUSÃO GERAL E RECOMENDAÇÕES ... 149

8. CONCLUSÕES... 157

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BET – Atenção ampla-externa BIT – Atenção ampla-interna

CEPE – Centro de Estudos Psicométricos do Exército DP – Desvio padrão

E – Exatidão ex. - exemplo

FI – Teste de Figuras Idênticas i.e. – isto é

JDC – Jogos Desportivos Coletivos M - Média

NAR – Atenção com foco estreito n - número

OET – Atenção com sobrecarga externa OIT – Atenção com sobrecarga interna PA – Precisão na antecipação

ProtAnde - Protocolo de vídeo para jogadores PRWin – Polireaciómetro para Windows s/d – sem data

RC – Respostas certas RE – Respostas erradas

RED – Atenção com foco reduzido RO – Respostas omitidas

TA – Tempo de antecipação

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TRS – Tempo de reação simples

TRE2 – Tempo de reação de escolha a dois estímulos TRE4 – Tempo de reação de escolha a quatro estímulos TR2ex – Exatidão a dois estímulos

TR4ex – Exatidão a quatro estímulos VE – Velocidade de execução

VP – Velocidade percetiva vs - versus

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Figura 1- Comparação do número de fixações do olhar e o tempo entre

experts e principiantes 57

Figura 2 - Esquema representativo da capacidade de fixação da atenção

de um jogador de basquetebol que realiza três tarefas em simultâneo 59

Figura 3 - Modelo da performance humana 74

Figura 4 – Compromisso velocidade/exatidão da resposta

78 Figura 5 – Processo de treino da tomada de decisão tendo por referência

a competição 86

Figura 6 - Output do protocolo de vídeo para os peritos 101 Figura 7 - Output do protocolo de vídeo para as jogadoras 102

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Quadro 1 - Idade e anos de prática em cada grupo etário 91

Quadro 2 - Caracterização do painel de peritos 100

Quadro 3 - Estatística descritiva e nível de significância para as

habilidades percetivas e cognitivas dos escalões etários. 109 Quadro 4 - Teste post hoc de Scheffé para diferença de médias 110 Quadro 5 - Estatística descritiva e inferencial entre os escalões em cada

variável.

127

Quadro 6 - Teste post hoc de Scheffé para diferença de médias 128

Quadro 7 - Matriz de correlação entre as variáveis escalão, processamento da informação e antecipação

129

Quadro 8 - Media e desvio padrão das habilidades percetivo-cognitivas em função do escalão etário

140

Quadro 9 - Análise discriminante para as habilidades percetivo-cognitivas

em função do escalão etário 141

Quadro 10 - Matriz de classificação das jogadoras com base na função da

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Gráfico 1 - Perfil atencional dos cinco grupos etários 111

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A expertise em desporto tem sido definida como a capacidade de evidenciar, de forma consistente, uma performance desportiva superior (Janelle & Hillman, 2003; Starkes, 1993) sendo a mesma facilmente percetível a um observador. Contudo, as habilidades percetivas e cognitivas que lhe estão associadas são bastante mais difíceis de observar do que as restantes. De acordo com os autores acima citados, aquelas envolvem a capacidade de identificar e captar informações do contexto onde se desenrola a atividade e de as integrar com o conhecimento já existente de forma a emitir respostas adequadas.

Nos Jogos Desportivos Coletivos, e particularmente no caso do andebol, é sobejamente conhecida a importância das componentes física, técnico-tática sendo a componente psicológica, por vezes, relegada para um plano secundário. Contudo, esta última, na qual se inserem as habilidades percetivas e cognitivas, deverá ser olhada com mais atenção pois essas habilidades são um dos fatores determinantes na expertise desportiva (Abernethy, 1993; Starkes, 1993; Williams, Davids, & Williams, 1999) .

As maiores diferenças entre atletas expert e não expert verificam-se ao nível das habilidades percetivas nomeadamente no reconhecimento de padrões e na antecipação (Abernethy, 1990; Alves, 2004) e na tomada de decisão (Ripoll, 2009). Ainda de acordo com Williams e Reilly (2000), são precisamente as habilidades percetivas e cognitivas que melhor permitem diferenciar os atletas expert dos não expert, sendo essa diferenciação, ao mais alto nível, mais difícil de fazer nas habilidades físicas e técnicas.

Nos Jogos Desportivos Coletivos e mais especificamente no andebol, os jogadores são constantemente confrontados com contextos de jogo complexos em rápida mudança a cada instante, e têm de recolher informações provenientes da posição da bola, dos colegas de equipa e adversários para poderem emitir rápidas

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constrangimentos, como as habilidades físicas e técnico-táticas, as estratégias da equipa ou as reações do público, e têm de ser tomadas debaixo da pressão daí derivada e da provocada pelos adversários, tentando restringir o tempo e espaço para que aquelas ocorram (Williams, 2000), pondo à prova as habilidades acima referidas.

Entre as habilidades percetivas e cognitivas encontram-se a procura visual, a atenção, o processamento da informação, a antecipação e a tomada de decisão. A procura visual e a atenção orientadas para as pistas adequadas, ou seja, essencialmente para as informações externas ou de contexto, permitem a facilitação da resposta motora em desportos de confronto (Ripoll, 2009), como é o caso do andebol.

Por outro lado, a antecipação é considerada uma das características que mais distingue a performance dos jogadores experts dos não expert (Alves, 2004; Williams, 2000). Porém, para Baker, Coté e Abernethy (2003a) a característica mais importante subjacente à performance expert em desportos com bola é a tomada de decisão.

Nas recentes décadas, uma grande quantidade de investigadores tentaram identificar os fatores que contribuem para a performance expert. Tradicionalmente, estas investigações, utilizam uma abordagem que permite identificar os atletas expert que competem a nível nacional ou internacional comparando-os com os não expert (Williams & Ford, 2008). Contudo, vários autores propõem outras abordagens. Assim, Ward e Williams (2003) referem que a contribuição das habilidades percetuais e cognitivas para a expertise desportiva ao longo da última fase da infância, adolescência e fase inicial da idade adulta tem recebido pouca atenção por parte dos investigadores. Também Abernethy (1991) refere que são necessárias mais investigações, para além das que habitualmente são realizadas entre expert e principiantes, de forma a melhor conhecer as bases da perceção em diferentes níveis de habilidades e em diferentes estádios do desenvolvimento com a finalidade de obter programas de treino mais adequados às diferentes necessidades dos vários jogadores. Estes aspetos assumem um papel ainda mais importante quando se sabe que, no andebol, os jogadores terminam a carreira em

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idades relativamente avançadas. As etapas de formação deverão, assim, ser devidamente planeadas, nas várias áreas, para que os jogadores atinjam a sua performance máxima na idade ideal e não abandonem precocemente a modalidade.

Relativamente aos treinos percetuais e cognitivos, alguns estudos (Poplu & Baratgin, 2003; Williams & Ward, 2003) referem melhorias significativas na performance dos atletas quando foram utilizadas situações simuladas em vídeo ou mesmo esquemas a três dimensões. A este propósito alguns autores (Ward & Williams, 2003; Williams, et al., 1999) sugerem que aqueles podem ser integrados, desde cedo, no treino geral pois os jogadores têm já capacidade de utilizar e integrar informação contextual, podendo vir a beneficiar dos mesmos e desenvolvendo habilidades de leitura de jogo.

É importante, por isso, conhecer os fatores percetivos e cognitivos que caracterizam os vários escalões etários, para que se possam definir estratégias de aprendizagem a implementar durante o percurso desportivo.

No presente estudo, tendo em consideração a importância reconhecida daquelas habilidades, pretende-se conhecer as especificidades percetivo-cognitivas mais influentes no desenvolvimento de jogadoras de andebol de elite. Tal conhecimento poderá permitir caminhar no sentido da definição de designs de programas de treinos percetivo-cognitivos mais adequados aos vários escalões etários.

Definição do problema e objetivos

Hoje em dia vivemos numa sociedade em que a busca da expertise nas várias atividades humanas é uma constante diária. Se bem que a investigação na área da expertise tenha começado em meados do século XX, com estudos pioneiros no xadrez e mais tarde na música, a procura de um desempenho de excelência no desporto tem motivado, por parte da Psicologia do Desporto, uma crescente investigação.

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desportivo, em várias modalidades desportivas. Contudo, no âmbito do andebol, os estudos são escassos, na literatura internacional, com exceção para Schorer, Baker, Fath, & Jaitner (2007), Schorer e Baker (2009), acontecendo o mesmo, também, na literatura nacional (Alves & Sacadura, 2011; Júlio & Araújo, 2005; Sá, 2009). Neste contexto, caracterizar as capacidades percetivas e cognitivas no andebol feminino poderá servir como referência para outras investigações e fornecer um contributo, para o desenvolvimento da modalidade.

Outra das razões que consolida o interesse por este tema relaciona-se com o facto de os estudos sobre as habilidades percetuais e cognitivas para a expertise desportiva, ao longo da última fase da infância, adolescência e fase inicial da idade adulta, terem recebido pouca atenção por parte dos investigadores (Ward & Williams, 2003). Este tipo de abordagem difere do tradicionalmente usado em estudos deste tipo, nos quais se identificam os atletas expert, que competem a nível nacional ou internacional, comparando-os com os não expert (Williams & Ford, 2008).

Esta investigação pretende, por isso, contribuir para a melhoria do conhecimento sobre as habilidades percetivas e cognitivas na expertise desportiva, ao longo da adolescência e fase inicial da idade adulta mas também ocupar um espaço onde a investigação no andebol, particularmente no andebol feminino de elite, é escassa.

Neste contexto o presente estudo tem como objetivos:

Estudar a evolução e contribuição, relativa, das capacidades percetivas e cognitivas, nomeadamente perceção, atenção, e antecipação, na expertise desportiva;

Perceber a forma como se realiza o processamento da informação e a consequente tomada de decisão;

Determinar que variáveis melhor discriminam as jogadoras nas habilidades cognitivas, percetivas e de tomada de decisão;

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Analisar e sugerir, de acordo com os resultados, o seu contributo para a definição de novos designs de programas de treino percetivo-cognitivos no contexto global ou específico do andebol feminino.

Estrutura do trabalho

A primeira parte deste trabalho é de natureza concetual e teórica efetuando-se uma revisão da literatura sobre a expertise no desporto. Na mesma contextualizaram-se aspetos relativos à sua evolução e investigação e, de seguida, procurou-se explanar a temática do desenvolvimento da expertise, através de perspetivas distintas, ao longo da formação desportiva.

Algumas questões relativas aos aspetos cognitivos e percetuais da performance das habilidades motoras na aquisição da expertise, são igualmente esclarecidas, assim como do seu treino.

A segunda parte, de cariz experimental, inclui o estudo transversal da evolução das capacidades percetuais e cognitivas, envolvidas na aquisição da expertise, subdividido em três partes. Na primeira, pretende-se perceber a evolução e contribuição das capacidades percetivas e cognitivas na expertise desportiva, nomeadamente a da perceção, atenção e antecipação. Na segunda, estuda-se a forma como se realiza o processamento da informação e a consequente tomada de decisão. Na terceira, pretende-se analisar quais das variáveis em estudo mais discriminam as jogadoras entre escalões de acordo com os grupos etários.

No final pretende-se, retirar contributos das informações obtidas, no sentido de as transferir para o treino, ao logo de uma linha temporal que se inicia aos onze anos, tendo em vista o alto rendimento.

Por último, analisam-se as implicações que o estudo realizado pode fornecer para a teoria, investigação e prática.

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2.1. A Expertise no desporto

2.1.1. Introdução

O desporto é um fenómeno que, ao ter uma linguagem comum, consegue unir em seu torno pessoas do mundo inteiro, independentemente da sua raça, país e convicções políticas ou religiosas. Exemplo disso são os grandes espetáculos desportivos, vistos por milhões de pessoas em todo o mundo, que elevam o desporto a um fenómeno planetário possuidor de uma linguagem universal. Quem acompanha este fenómeno não é alheio, certamente, às performances dos desportistas que admiram, seguem e apoiam. Contudo, na maior parte das vezes, quem observa, não tem noção do tempo que cada desportista dedicou, ao longo dos anos, à modalidade nem dos momentos mais difíceis que teve de ultrapassar, relacionados com lesões e respetivas recuperações, para chegar à sua performance mais elevada. Por outro lado, a performance desportiva exige proficiência nas tarefas, as quais envolvem movimentos realizados com grandes constrangimentos de tempo e espaço, e interações frequentes com objetos e oponentes em movimento. As exigências podem ainda diferir de acordo com o tipo de desporto ou do papel a desempenhar pelo indivíduo, quer seja como jogador, treinador ou árbitro.

De acordo com Starkes (2003), poucas são as áreas da vida humana em que se dedica tanto tempo, energia, recursos e esforço apenas com o objetivo de se ser o melhor possível. É através do estudo de como os atletas chegam e se mantêm no auge da sua performance que os investigadores vão identificando os fatores que contribuem para a expertise e expert performance no desporto.

Uma revisão aos dicionários envia a palavra expert para o significado de experto, isto é, “alguém muito experimentado ou que tem grandes conhecimentos em determinada área do conhecimento; especialista ou perito” (Dicionário online Priberam da Língua Portuguesa, 2010). É este tipo de performance superior, associada a uma

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determinada tarefa e numa determinada área, que Ericsson (2006a) designou por expert performance.

Por sua vez a expertise refere-se às características, habilidades e conhecimentos de uma pessoa (i.e, expert) ou de um sistema, através dos quais distingue os principiantes dos mais experientes. Em muitos domínios existem medidas objetivas de desempenho, capazes de distinguirem os experientes dos principiantes: os jogadores de xadrez quase sempre vencem os jogos contra os que o fazem apenas por lazer; especialistas médicos têm maior probabilidade de diagnosticar corretamente uma doença.

Em desporto, a expertise tem sido definida como a capacidade de evidenciar, de forma consistente, uma performance desportiva superior (Janelle & Hillman, 2003; Starkes, 1993) sendo a mesma facilmente percetível a um observador. Contudo, as habilidades percetivas e cognitivas que lhe estão associadas são bastante mais difíceis de observar do que outras também envolvidas.

A investigação que tem sido realizada para identificar os fatores chave que estão subjacentes à aquisição da expertise na performance motora, tem-se desenvolvido de forma acentuada nos últimos anos (Côté, Baker, & Abernethy, 2003; Durand-Bush & Salmela, 2002; Ericsson, 2003; French & McPherson, 2004; Janelle & Hillman, 2003; Salmela & Moraes, 2003; Starkes, Helsen, & Jack, 2001; Tenenbaum, 2003; Thomas, Gallagher, & Thomas, 2009; Ward & Williams, 2003; Wrisberg, 2001) em várias modalidades desportivas

.

2.1.2. Apontamentos históricos

Desde o início da civilização ocidental tem havido um interesse particular pelos conhecimentos e habilidades superiores exibidas pelos indivíduos expert na sua área de expertise. O corpo de conhecimento associado à área da expertise, no qual a pessoa é expert, reconhece uma particular e importante diferença entre experts e outros

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indivíduos. Foi com o intuito de compreender de que forma as habilidades percetivas e cognitivas influenciam a performance em geral que, no século passado, começaram a ser feitas investigações na área da expert performance.

Assim, durante o século XX, vários estudos começaram por tentar compreender as diferenças entre indivíduos que revelavam performances superiores e os que não revelavam. Os estudos iniciais centraram-se na avaliação, através de testes psicométricos, de habilidades como a velocidade mental, memória e inteligência. Contudo, os pressupostos teóricos iniciais, de que os indivíduos com uma performance superior também revelariam melhores resultados nos testes psicométricos, não se verificaram. Os resultados de um estudo, realizado em 1927 (Djakow, Petrowski, & Rudik) com jogadores de xadrez, mostraram que a superioridade da memória nos jogadores expert apenas estava relacionada com o jogo e movimentação de peças (jogadas) e não com outras tarefas, acontecendo o mesmo, num outro estudo de xadrez, quando se avaliou a inteligência (Doll & Mayr, 1987). Estes estudos concluíram que a vantagem demonstrada pelos jogadores expert apenas se evidenciava na sua área específica de expertise.

Entre os anos 50 e 70 do século XX foram realizados vários estudos empíricos sobre o pensamento que, em laboratório, eram combinados com modelos do processo de pensamento humano os quais podiam reproduzir a performance observável. Neste período de tempo podem ser consideradas três etapas (Feltovich, Prituela, & Erickson, 2006):

1. Usando o protocolo de análise verbal, estudou-se o pensamento onde era solicitado aos participantes que “pensassem alto” enquanto resolviam problemas do dia-a-dia (Dunker, 1945). Aos expert era pedido que também “pensassem em voz alta” enquanto faziam movimentações no jogo de xadrez (De Groot, 1965; Ericsson, 2006a);

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2. Uma outra corrente desenvolveu a investigação do julgamento e tomada de decisão, na qual os investigadores comparavam o julgamento dos expert com o dos modelos estatísticos (Yates & Tschirhart, 2006);

3. A corrente mais importante foi a inspirada pela descrição da performance humana com métodos computacionais, em particular, métodos implementados como programas de computador (Newell, 1972; Newell & Simon, 1976; Reitman, 1965)

Num estudo em condições laboratoriais controladas, De Groot (1965) demonstrou a possibilidade de estudar o processo de pensamento em jogadores de xadrez. Durante o estudo, os jogadores tinham de “pensar alto”, enquanto selecionavam as movimentações a realizar, em situações de jogo fornecidas por treinadores de xadrez expert. O estudo mostrou que os jogadores expert selecionavam melhores movimentos de peças por oposição a jogadores não expert, contudo também de elevadas capacidades. Este facto foi associado ao grande conhecimento e longa experiência dos jogadores expert. De Groot (1965) encontrou ainda evidências de que a elite de jogadores de xadrez não diferia, no que respeitava à velocidade de pensamento ou memória, de outros jogadores também com capacidades elevadas. Estas descobertas deram um contributo fundamental para o aparecimento da primeira teoria da expertise.

Apareceu assim em 1973, através de Simon e Chase, a primeira teoria geral da expertise que se baseava na teoria do processamento da informação humana desenvolvida por Newell & Simon (1976). A mesma preconizava que a capacidade de memória a curto prazo e outras características dos processos cognitivos básicos não diferiam entre adultos normais e saudáveis. Em estudos realizados no xadrez, Simon e Chase (1973) descobriram que é através da vasta experiência acumulada que os jogadores expert adquirem complexos padrões de movimentação de peças (jogada) aos quais recorrem, posteriormente, em situações semelhantes. Na sua teoria argumentam ainda que, para um jogador poder vir a vencer internacionalmente, é necessário que o mesmo acumule um vasto reportório desses padrões e os associe à memória de longo

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prazo, pelo menos durante dez anos de prática intensa na modalidade e em atividades relacionadas.

Com base nas descobertas de De Groot (1965), Simon & Chase (1973) criaram um novo paradigma para o estudo das complexas representações da memória nos indivíduos expert. Na sua teoria argumentam que a capacidade dos jogadores de xadrez recordarem complexos padrões de movimentação de peças (jogadas) está limitada pela memória a curto prazo e que, neste ponto, não existem diferenças para os jogadores não expert. A diferença encontra-se na memória a longo prazo, onde é armazenado um vasto vocabulário de complexos padrões de movimentação de peças e que, sempre que necessário, são recuperados. Simon e Chase (1973) argumentam ainda que o vasto reportório dos complexos padrões de movimentações dos jogadores expert de xadrez, e o conhecimento que lhe está associado, são adquiridos passo a passo contribuindo, de forma muito significativa, para o aumento da sua experiência.

Pensando que alguns dos pressupostos teóricos da teoria de Simon e Chase (1973) levantavam algumas dúvidas, nomeadamente a melhoria da performance devido à acumulação gradual de complexos padrões através da experiência, e o paradigma associado ao estudo das diferenças de memória entre expert e não expert, alguns investigadores colocaram em questão estas descobertas (Ericsson, 1996; Ericsson & Kintsch, 1995; Ericsson, Krampe, & Tesch-Römer, 1993; Vicente & Wang, 1998).

Como consequência disso os anos de 1970 viram surgir novos autores e novas investigações. Por tal facto, de acordo com Hodges, Starkes e MacMahon (2006), a partir desta altura podem ser novamente consideradas três fases.

Numa primeira fase, entre os anos de 1970 e 1980, muita da investigação utilizou paradigmas tendo como suporte a Psicologia Experimental e Cognitiva. Paradigmas como o da recordação e reconhecimento, oclusão temporal e espacial, da informação e antecipação foram também bastante utilizados (Abernethy, 1993; Starkes,

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Spilichs, & Voss, 1979; McPherson, 1993). A investigação típica, nesta altura, envolvia investigação com atletas mais talentosos, menos talentosos ou jovens atletas.

Já no final dos anos 80, início dos 90 do século XX, o uso da gravação e análise do movimento dos olhos (Goulet, Bard, & Fleury, 1989; Vickers, 1992a) e de dados cinestésicos (Carnahan, 1993), possibilitou examinar o movimento dos olhos de atletas expert em comparação com atletas não expert para determinar o foco da visão e o padrão de movimento dos olhos (Starkes, et al., 2001; Williams, et al., 1999). A abordagem até aos anos 90 foi largamente percetivo-cognitiva e centrada na determinação das diferenças entre atletas expert e jovens atletas num desporto em particular.

Para a investigação em desporto, numa segunda fase, viria a ser fundamental o trabalho desenvolvido e publicado por Ericsson e Smith (1991). Dentro desta fase também se podem destacar três estádios (Hodges, et al., 2006):

a) O primeiro, onde foram delineados aspetos relacionados com a performance expert, na relação experts vs principiantes numa área específica;

b) O segundo, onde foram desenvolvidos desenhos de tarefas laboratoriais que permitissem avaliar os aspetos mensuráveis e reproduzíveis da performance expert, com o objetivo de determinar os mecanismos que lhe estão subjacentes; c) O terceiro e último, onde foi desenvolvido, de forma generalizada, uma teoria para

a expert performance.

Por esta altura, o modelo da prática deliberada de Ericsson, Krampe, & Tesch-Romer (1993) teve um impacto significativo na investigação em desporto e, devido a ele, entrou-se nesta segunda fase. O objetivo da investigação passou da mera descrição das diferenças expert vs principiantes e não expert, para o desenvolvimento de tarefas de laboratório que esclareçam os mecanismos subjacentes à performance expert em desporto (Starkes, 2003).

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Nos últimos anos tem-se observado a emergência de novos paradigmas, que se pode caracterizar como a terceira e mais recente fase da investigação (Hodges, et al., 2006) na performance expert em desporto.

A Psicologia Ecológica (ou ambiental), a Teoria dos Sistemas Dinâmicos, com várias técnicas associadas, são alguns dos exemplos que se espera que venham a ter um papel importante na compreensão da performance em desporto (Huys, Daffertshofer, & Beek, 2004). Até ao presente apenas existem alguns estudos a usar estas técnicas. Hodges e colegas (2006) referem que a maior vantagem destes paradigmas é considerarem a ação e a perceção como intimamente interligadas e enfatizarem a contínua dependência do tempo nas atividades desportivas.

Embora as teorias anteriores ofereçam excelentes explicações para os comportamentos expert, existe, no entanto, ainda uma longa distância a percorrer antes das características dos atletas expert e a aquisição da performance serem totalmente compreendidas.

2.1.3. Investigação em expertise

Desde o clássico estudo de De Groot (1946/1978) no xadrez, a compreensão acerca do que é necessário para se ser um expert aumentou.

Uma evidência, aparentemente controversa, que levou à investigação inicial em expertise foi a constatação de que crianças mais novas numa determinada categoria de conhecimento, utilizavam estratégias mais sofisticadas do que seria esperado para a sua idade e as quais apenas seriam esperadas em crianças mais velhas ou mesmo em adultos (Thomas, et al., 2009). Isto contrariava aquilo que, seria de esperar do ponto de vista empírico, isto é, o conhecimento só devia aumentar à medida que a idade e experiência também aumentavam. Estudos conduzidos com base na teoria do processamento da informação, evidenciaram resultados consistentes onde mostram que

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aprendizagem e à experiência (Thomas, et al., 2009). Também outros autores começaram a investigação sobre a expertise precisamente devido a estas observações. (Chase & Simon, 1973a; Chi, 1976; Chiesi, et al., 1979).

Uma das visões de desenvolvimento é baseada no pressuposto de que as crianças desenvolvem as suas habilidades e capacidades durante a infância e podem atingir o seu potencial inato desde que enquadradas em condições favoráveis. Defende o pressuposto que o potencial individual está sujeito às capacidades biológicas inatas que, em última instância, limitam o nível que a criança poderá vir a atingir. Esta perspetiva, baseada na de Galton (1869/1979), onde os fatores inatos têm um papel importante na limitação da performance, teve um grande impacto no que diz respeito à expertise. Também outras teorias da aquisição de skills (Anderson, 1983; Fitts, 1966) são consistentes com os pressupostos gerais de Galton, acerca das capacidades gerais, as quais não são passíveis de modificação durante o decurso do desenvolvimento geral profissional.

Numa perspetiva tradicional de aquisição de skills, Fitts e Posner (1966) propõem que, para as tarefas diárias poderem ser realizadas com um nível funcional aceitável, se podem considerar três fases:

1. Durante a primeira fase da aprendizagem, os indivíduos tentam entender as exigências da atividade e concentram-se em movimentos gerais enquanto tentam evitar erros grosseiros;

2. Na segunda fase da aprendizagem, com a aquisição de experiência, os erros vão decrescendo e a performance torna-se mais fluida não tendo os indivíduos necessidade de se concentrarem tão intensamente na própria performance para manterem um nível aceitável. Durante um período de tempo e experiência, frequentemente menos de 50 horas para a maioria das atividades, como escrever à máquina ou conduzir um carro, um nível aceitável de performance parece ser atingido;

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3. Na última fase os skills tornam-se automatizados, e a performance do indivíduo torna-se ainda mais fluida e pode ser realizada com um esforço atencional mínimo.

Como consequência da automatização os indivíduos perdem capacidade de controlar a execução desses skills e as correções e modificações intencionais tornam-se difíceis (Hill & Schneider, 2006). Na fase automática da aprendizagem a performance atinge um nível estável e não se observam novas melhorias (Galton, 1869/1979) do limite da performance.

Considerando que uma performance aceitável, para as tarefas profissionais e do dia-a-dia, pode ser atingida em semanas ou meses, atingir um elevado nível de performance a nível desportivo, por exemplo, parece requerer muito mais tempo.

Newell e Simon (1972), tentando perceber a performance expert, descobriram que a resolução de problemas e a performance numa determinada área eram influenciados, inicialmente, por domínios específicos, padrões adquiridos e ações associadas. Domínios específicos de habilidades e conhecimento foram também considerados como influentes nas habilidades cognitivas básicas. Os mesmos investigadores descobriram que o conhecimento adquirido numa determinada área estava associado a mudanças no processamento cognitivo. Apresentando algumas evidências mostraram que os indivíduos do estudo, quando confrontados em laboratório, com materiais que não lhe eram familiares, demonstravam uma baixa performance. Em contraste, quando testados com materiais e tarefas das suas atividades diárias, os indivíduos exibiam melhores performances. Da mesma forma a performance dos expert é superior à dos principiantes e de outros indivíduos não expert quando as tarefas são representativas das atividades do seu dia-a-dia (Feltovich, et al., 2006).

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sobre como reagir em determinadas situações semelhantes, através do armazenamento de memórias de ações passadas. Assumem, portanto, que a performance melhora como consequência da experiência contínua. As investigações de Chase e Simon (1973a, 1973b) prolongaram o trabalho pioneiro realizado por De Groot (1946/1978) e demonstraram que, após uma breve observação de um tabuleiro com várias peças distribuídas, os xadrezistas expert conseguiam recordar uma maior número de posições do que os não expert. Argumentaram, então, que os jogadores expert teriam que ter adquirido cerca de 50000 padrões de reconhecimento para serem capazes de relembrar a movimentação mais adequada a determinada situação de jogo.

Perante estes resultados, alguns cientistas (Chi, Glaser, & Farr, 1988; Hoffman, 1992) começaram a considerar a possibilidade da expertise ser uma consequência da quantidade de experiência acumulada. Passaram, por isso, a considerar como expert indivíduos com mais de dez anos de experiência numa determinada área. Consideraram ainda, como critérios básicos para identificar um expert, a reputação social, uma educação completa e uma grande quantidade de experiência acumulada numa determinada área sendo esta no mínimo de 10 anos.

Segundo Abernethy, Farrow e Berry (2003), a perspetiva que mais influenciou a investigação na expertise motora, em geral, e na desportiva, em particular, foi a avançada por Ericsson e colegas em 2003. Esta tem sido influente em duas frentes principais fornecendo, por um lado, uma descrição de uma abordagem geral para o estudo sistemático da performance expert (Ericsson & Smith, 1991) e, por outro, apresentando um quadro teórico integrado para explicar a performance expert (Ericsson, 1988, 1996, 2001). A questão central do quadro teórico tem sido a noção de prática deliberada (Ericsson, et al., 1993), sendo esta considerada como o fator que limita a performance expert. Tal facto tem provocado uma intensa pesquisa e um grande debate nos anos recentes.

Ericsson e Smith (1991) propuseram que não se deveria tomar como referência os expert reconhecidos socialmente mas antes os indivíduos que exibam uma

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performance superior reproduzível em tarefas representativas na sua área de intervenção.

Estudos iniciais e outros posteriores realizados com indivíduos de elite nas áreas da arte, música, ciência, matemática, xadrez e desporto (Ericsson, 1996; Ericsson, et al., 1993; Hodges & Starkes, 1996; Howe & Davidson, 1998; Salmela & Moraes, 1994; Singer, Cauraugh, Chen, Steinberg, & Frehlich, 1996) forneceram importantes indicadores acerca dos mecanismos que levam à aquisição das respetivas performances expert.

Os estudos comparativos entre experts e principiantes pretendem avaliar quais as características que diferenciam os atletas que se encontram em níveis extremos do processo de aprendizagem desportivo, para descobrir quais as habilidades que devem ser trabalhadas em atletas principiantes afim destes alcançarem o mesmo nível de performance apresentado pelos expert (Alves, 2005; Bloom, 1985; Ericsson, et al., 1993; Hagemann, Strauss, & Canal-Bruland, 2006; Iglesias, Ramos, Fuentes, Sanz, & Villar, 2003; Júlio & Araújo, 2005; Rezende & Valdés, 2003; Tenenbaum, Sar El, & Bar Eli, 2000).

Investigadores como Ericsson (2006a, 2006b) referem que, na ciência da expertise, o primeiro passo requer que os cientistas sejam capazes de capturar, com testes estandardizados, a performance superior reproduzível de alguns indivíduos expert e que depois sejam capazes de examinar essa performance com métodos laboratoriais.

Esta linha de investigação surge como consequência de uma das críticas feitas por Ericsson e Kintsch (1995) aos complexos padrões de reconhecimento de Simon e Chase (1973), que consideram inadequados para explicar um vasto leque de fenómenos e características da performance expert, nomeadamente as capacidades de antecipação, planeamento e avaliação.

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Ericsson (1995) centrou-se na captura da performance expert utilizando, em laboratório, tarefas representativas do desporto em questão e na forma como esta performance superior é adquirida com o treino realizado através da prática deliberada, surgindo daí a teoria da prática deliberada.

Contudo, ainda de acordo com este autor, a necessidade da prática de milhares de horas para se chegar à performance expert não prova que este é o único aspeto importante. Defende que a aquisição de uma performance superior vai também para além da acumulação de conhecimentos, que é importante analisar a microestrutura deste tipo de treino e provar que a prática deliberada específica melhora aspetos fundamentais da performance. Por outro lado, existe uma grande diferença entre aprender/desenvolver uma performance por si mesmo e fazê-lo sob a orientação de um indivíduo expert.

2.1.4. Âmbito de estudo da expertise

De acordo com Chi (2006), a expertise estudada no âmbito da Psicologia pode ser diferenciada em duas abordagens: absoluta e relativa. A expertise absoluta é normalmente estudada no contexto de indivíduos excecionais e para identificar a sua performance é necessário encontrar algum tipo de medida para a mesma. Assim, para a sua identificação, os investigadores recorrem frequentemente a algum tipo de medida de desempenho como, por exemplo, classificações de torneios, provas oficiais ou apenas medidas de como a performance excecional é realizada. Estas poderão posteriormente ser consideradas como referência para definir a expertise. Para isso a avaliação feita deverá ser bastante rigorosa já que o objetivo é entender a performance excecional. Em determinadas áreas existem critérios muito objetivos para encontrar indivíduos expert, que sejam consistentes com uma performance superior em determinadas tarefas e áreas (Ericsson, 2006a).

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Relativamente ao estudo da expertise relativa, Chi (2006) refere que esta é feita através da comparação dos expert com indivíduos mais novos e com outros não expert. Esta abordagem relativa assume que a expertise contém um nível de proficiência que os indivíduos mais novos também podem atingir. O objetivo é entender como se podem levar pessoas menos experientes ou habilidosas a tornarem-se mais capacitadas do ponto de vista de habilidades e capacidades, assumindo-se simultaneamente que a expertise é algo que pode ser atingido pela maioria dos indivíduos envolvidos em determinado domínio de ação.

As pessoas com melhores skills/habilidades tornam-se expert devido a adquirirem progressivamente conhecimento numa área como, por exemplo, através da aprendizagem e estudo (Chi & Bassok, 1989) e da prática deliberada (Ericsson, et al., 1993).

Assim sendo, o objetivo de estudo da expertise relativa não é apenas descrever e identificar a forma como os indivíduos se tornam expert, mas sim também perceber como atingem esse patamar, para que outros possam aprender e melhorar as suas capacidades e conhecimentos.

A maioria das investigações centraram-se na forma como os expert desempenham a sua performance superior, quer seja em contexto absoluto ou em comparação com indivíduos mais novos e com pouca experiência, isto é, em contexto relativo (Chi, 2006). Atualmente, as teorias e os vários estudos permitem uma riqueza e uma diversidade alargada de ideias. Para além da compreensão das diferenças entre expert e principiantes, cada vez há também mais estudos que se centram na forma em como tornar um principiante num expert (Rikers & Paas, 2005). Por outro lado, é também importante perceber a forma como falham porque conhecendo-a, bem como a forma como atingem a expertise, será possível obter uma caracterização mais completa acerca da expertise.

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O estudo da expertise desportiva apresenta pelo menos dois outros desafios (Hodges, et al., 2006; Williams & Ford, 2008). Teoricamente, levanta a questão de como os atletas expert conseguem contornar as limitações de processamento de informação quando desempenham tarefas motoras complexas; metodologicamente, coloca o desafio de como desenvolver medidas válidas e objetivas para avaliar as diferenças expert vs principiantes (Moran, 2009).

Na Psicologia Cognitiva do desporto tem havido, nas passadas duas décadas, uma proliferação na investigação dos processos mentais dos atletas (Abernethy, Maxwell, Jackson, & Masters, 2007; Moran, 1996). Esta situação manifesta-se através da abundância de estudos recentes no processo cognitivo e na antecipação, (Salvatore, Paola, Michela, & Cosimo, 2008), na atenção (Milton, Solodkin, Hlustik, & Small, 2007), na expertise (Müller, Abernethy, & Farrow, 2006), na análise e tomada de decisão (Bar-Eli & Raab, 2006), na memória (Katinka, MacMahon, & Mine, 2008) e na perceção (Memmert & Furley, 2007).

2.1.5. Medidas de performance

Tem havido um progresso considerável nas medidas adequadas para avaliar a performance. De acordo com vários autores (Ericsson & Smith, 1991; Ericsson & Ward, 2007; Williams & Ericsson, 2005) a sua abordagem poderá ser realizada através de três tarefas principais.

A primeira tarefa é capturar a expert performance de forma objetiva usando o laboratório (ex: vídeos projetados em grande écran) e técnicas de campo (ex: análise de jogo). A segunda é usar uma variedade de medidas como a tecnologia eye-tracking ou relatos verbais, num esforço para identificar possíveis mecanismos subjacentes à expertise (Williams & Ericsson, 2005). Apesar de todas estas medidas não avaliarem diretamente o processo da expertise podem, no entanto, fornecer inferências acerca do que os atletas atingem ou pensam, na sua área específica, ao serem abordados

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problemas reais ou eventuais simulações. A última tarefa é perceber como a expertise é adquirida e modificada através da aprendizagem e da prática.

Todavia, para chegar a estas questões, são necessários estudos longitudinais em atletas de elite. Das tarefas atrás referidas, a mais relevante, para o estudo da expertise é a que se refere aos mecanismos cognitivos subjacentes à mesma.

Atualmente a tecnologia eye-tracking tem sido bastante útil para identificar as diferenças expert vs principiantes na perceção visual em desporto (Hodges, et al., 2006). De uma forma geral, os estudos comparam o comportamento visual entre duas amostras de participantes envolvidos em performances simuladas num determinado desporto. Estas amostras são formadas por atletas experts ou atletas principiantes e consequentemente menos experientes. De acordo com Moran (2009), usando este paradigma de comparação, os investigadores descobriram que, de uma forma geral, os atletas expert tendem a evidenciar estratégias de busca mais eficientes do que indivíduos mais novos e menos experientes quando observam contextos de ações dinâmicas, como no futebol (Vaeyens, Lenoir, Williams, Mazyn, & Philippaerts, 2007), assim como em atividades mais estáticas como o putting no golfe (Campbell & Moran, 2005). De uma forma geral, os atletas expert tendem a fazer menos fixações visuais do que os principiantes mas estas fixações são frequentemente de maior duração. Existem também, entre aqueles grupos, diferenças qualitativas consistentes no comportamento visual com os expert a fixarem-se em áreas que contém informação mais pertinente e rica (Hodges, et al., 2006). Estes resultados sugerem que os atletas expert têm uma base de conhecimento mais refinada e que fazem um uso mais eficaz das informações obtidas do campo visual do que os seus colegas mais novos e menos experientes (Williams & Ford, 2008). O que não é ainda claro, é a forma como os expert adquirem, refinam e atualizam o seu conhecimento específico ao longo do tempo.

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2.1.6. Intervenientes fundamentais para o desenvolvimento da expertise

Estudos, tendo como objetivo perceber outros fatores importantes para o desenvolvimento da expertise, evidenciaram o papel importante dos pais (Bloom, 1985; Côté, 1999; Soberlak & Côté, 2003), dos treinadores (Côté, Salmela, Trudel, Baria, & Russell, 1995; Salmela, 1996; Salmela, Marques, Machado, & Durand-Bush, 2006) e dos pares (Abernethy, 2002; Weiss, 1989).

Tais estudos foram enquadrados no percurso temporal de formação desportiva dos atletas expert que, de acordo com Côté (1999), são os “anos de experiência”, “anos de investimento” e “anos de especialização”.

Bloom (1985) evidenciou a grande influência da família nos diferentes estádios de desenvolvimento do talento das crianças na arte, ciência e atletismo. Mais recentemente Côté (1999) estudou o ambiente familiar de atletas juniores de elite ao longo do seu desenvolvimento sugerindo que a influência dos pais muda, desde um papel de maior liderança na fase “anos de experiência” para um papel de apoiante na fase “anos de investimento”. Durante a fase ”anos de experiência” a crença dos pais, de que o desporto é importante para o desenvolvimento dos seus filhos, resulta no assumir um papel de líder e, por isso, encorajam os seus filhos a envolverem-se em atividades desportivas com um carácter ainda muito lúdico. Ainda de acordo com o autor, durante os “anos de especialização” os pais tornam-se apoiantes comprometidos da decisão dos seus filhos / atletas quando estes optam e se envolvem num número mais restrito de atividades. O papel de seguidor e apoiante torna-se mais evidente nos “anos de investimento”, quando os pais fazem sacrifícios nas suas vidas pessoais e da família para permitirem aos seus filhos / atletas as melhores condições de treino.

Soberlack e Côté (2003), utilizando o mesmo procedimento de Côté (1999) com a entrevista estruturada, fizeram uma avaliação do papel dos pais de jogadores profissionais de hóquei no gelo à medida que estes evoluiam da fase “anos de experiência” até à fase de “anos de investimento”.

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De acordo com Côté e colegas (2003), uma característica comum retirada dos estudos de Bloom (1985) e Côté (1991) tem a ver com o papel dos pais que varia ao longo das três fases temporais da evolução da expertise. De uma forma geral, os pais parecem ter um envolvimento direto nas atividades desportivas dos seus filhos na fase “anos de experiência”, a qual consiste, principalmente, em treinar e jogar / brincar com os seus filhos. O envolvimento direto passa para indireto quando surgem as fases seguintes. Durante a fase ”anos de investimento” o papel dos pais consiste em ser um espetador da competição e o de proporcionar ao seu filho condições para que se possa envolver em atividades de “prática deliberada”.

Também o papel dos treinadores varia à medida que mudanças, cognitivas, físicas e emocionais, ocorrem nas crianças e jovens. Os treinadores devem ajustar a sua atuação e apoio de acordo com as várias alterações dos seus atletas nos vários estádios de participação. De uma forma geral, os treinadores têm sido caracterizados como sendo capazes de providenciarem recursos físicos e sociais para superar o esforço e os constrangimentos sociais associados à “prática deliberada” (Salmela, et al., 2006).

Finalmente, alguns estudos relativos à motivação dos jovens para o desporto, indicam os pares como uma das principais razões pelas quais aqueles participam no desporto (Weiss, 1989). Num estudo com quinze atletas de elite australianos, Abernethy e colegas (2002) descobriram que na fase “anos de experiência” todos os atletas evidenciaram ter um grupo de amigos envolvidos no desporto. Durante a fase “anos de investimento” os atletas referem a importância de terem amigos fora do desporto mas também amigos / atletas. De uma forma geral os atletas expert foram principalmente influenciados por pares que também estiveram envolvidos no desporto durante a infância e adolescência. Este tipo de relação permitiu-lhes passar uma considerável quantidade do seu tempo livre a praticar desporto. Ainda de acordo com o estudo, à

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intensifica-se e preenche as necessidades motivacionais e emocionais que, por sua vez, podem facilitar o envolvimento em atividades de “prática deliberada”.

De acordo com Côté e colegas (2003), características como diversificação desportiva, grandes quantidades de “jogo deliberado”, crianças centradas nos pais e treinadores e rodeadas por pares que também estejam envolvidos no desporto, parecem ser essenciais no ambiente das crianças mais novas pelo que devem estar sempre presentes. Tais características irão encorajar o seu investimento, anos mais tarde, em atividades de “prática deliberada”.

2.2. Aspetos percetivos e cognitivos da performance das habilidades

motoras

2.2.1 Introdução

Hoje em dia já existe um conhecimento considerável acerca da natureza da expertise desportiva e das habilidades percetivo-cognitivas que lhe estão associadas. Este interesse está relacionado com o crescimento da investigação em expertise (Ericsson, 1996; Starkes, 1993; Williams & Reilly, 2000).

Segundo Alves (2011), o contributo das habilidades percetivo-cognitivas difere entre desportos com baixa exigência estratégica (ex: atletismo e natação) e os desportos de elevada exigência estratégica (ex: desportos coletivos). Nestes últimos, como é o caso do andebol, aquelas habilidades são mesmo determinantes pois o atleta tem de primeiro saber o que fazer (componente cognitiva) e posteriormente executar (componente físico-motora). Nos primeiros, as capacidades físicas interagem com as habilidades motoras na obtenção da performance.

O processo cognitivo intervém na realização do movimento, como o faz para qualquer tipo de habilidade ou conhecimento que tenha de ser adquirido ou desempenhado. Mas, de acordo com Thomas e colegas (2009), os movimentos são diferentes pelo menos numa coisa: saber e fazer não estão necessariamente correlacionados, isto é, se a criança sabe como resolver um problema de matemática a

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solução estará em princípio correta. Todavia, saber como executar determinado movimento não está, muitas vezes, relacionado com a habilidade necessária para executar a solução (movimento). Por isso, quando se fala de cognição e execução de um movimento, deve-se ter em consideração que não são a mesma coisa (Thomas, 1994).

De acordo com a literatura, é atualmente aceite que a superioridade percetual dos atletas expert relativamente aos principiantes é devida ao reforço da estrutura de conhecimento específica adquirida através de anos de prática deliberada e intencional (Ericsson, 1996; Ericsson, et al., 1993). Os atletas expert têm um conhecimento mais acessível e refinado como resultado de um processamento de informações, estratégico e reforçado proveniente da tarefa.

Ao evidenciarem aquela superioridade existem alguns atributos que distinguem os atletas expert dos principiantes. Essa superioridade só se verifica, predominantemente, na sua área de intervenção específica (Abernethy, Neal, & Koning, 1994; Helsen & Starkes, 1999; Starkes, 1987b) e inclui:

A capacidade de reconhecer e recordar padrões complexos (Allard & Burnett, 1985b);

A capacidade de antecipar eventos baseados em pistas avançadas (Abernethy & Russell, 1987);

A capacidade de produzir padrões de movimento consistentes e adaptáveis (Sakurai & Ohtsuki, 2000) e;

A capacidade de controlar movimentos de forma eficaz e automática como evidenciado pela performance superior em tarefas simultâneas (Rowe & McKenna, 2001).

A capacidade dos indivíduos expert serem capazes de “ler” padrões, na sua área específica de intervenção, de forma superior, relativamente a indivíduos menos

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desportivos (Abernethy, Baker, & Côté, 2005) assim como na performance de outras áreas como no xadrez (Chase & Simon, 1973b), bridge (Charness, 1979), diagnóstico médico (Patel, Groen, & Arocha, 1990), programação de computadores (Barfield, 1986) e leitura de mapas (Howard & Kerst, 1981).

Esta vantagem acontece quer os padrões apresentados sejam estáticos (Allard, Graham, & Paarsalu, 1980) ou dinâmicos (Borgeaud & Abernethy, 1987), se o modo de apresentação é visual (Starkes, 1987a) ou auditivo (Weber & Brewer, 2003) ou se os elementos a serem recordados são as posições dos adversários numa equipa (Allard & Burnett, 1985b). Todavia, esta superioridade só se verifica se for na área específica de intervenção do indivíduo. Vai diminuindo ou mesmo perdendo-se quando o envolvimento não é específico (Abernethy, et al., 2005).

Neste âmbito, Williams e Ward (2003) fizeram uma recolha de várias evidências que identificaram um leque de discriminadores percetuais e cognitivos relativos à expertise:

Superior capacidade de recordação e reconhecimento de padrões específicos de jogo (Allard, et al., 1980; Starkes & Deakin, 1984; Williams & Davids, 1995b); Mais rápida deteção e reconhecimento de objetos, como a bola, no campo visual

(Allard, et al., 1980; Williams & Davids, 1998);

Comportamentos de busca visual mais eficientes e apropriados (Abernethy, 1990; Vickers, 1992a; Williams, Davids, Burwitz, & Williams, 1994);

Habilidade reforçada para recolher pistas visuais avançadas, particularmente através da orientação postural dos oponentes (Abernethy & Russell, 1984; Jones & Miles, 1978; Williams & Burwitz, 1993);

Maior precisão na expectativa de acontecimentos prováveis baseados no uso elaborado de probabilidades situacionais (Allain & Proteau, 1980; Ward & Williams, 2003);

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Processos percetuais que são mais robustos às mudanças nos estados emocionais, como a ansiedade (Williams, et al., 1999).

Contudo, os discriminadores percetuais e cognitivos relativos à expertise são sujeitos a constrangimentos de vária ordem entre os quais o elevado grau de incerteza característico das atividades desportivas. Assim, de acordo com Rippol (2008, 2011) existem constrangimentos espaciais, que estão relacionados com aquilo que está para além do campo de visão do indivíduo, temporais, relacionados com as respostas a dar em curtos espaços de tempo, e de incerteza, inerentes à própria natureza do desporto. No caso do andebol, estes constrangimentos, são criados pela ação dos oponentes.

De acordo com o mesmo autor, no sentido de ultrapassar os vários constrangimentos com que são confrontados e para um tratamento mais eficaz da informação, os atletas desenvolvem automatismos que facilitam a execução das ações libertando, desta forma, os recursos de atenção, que levam a uma economia de meios. Aqueles automatismos podem ser ativados rapidamente e sem grande esforço cognitivo consumindo pouca energia. Desta forma, quando um atleta expert é confrontado com uma determinada situação tática, coloca em ação os seus automatismos, com base no conhecimento e experiência acumulados, podendo dar uma resposta rápida. Um principiante tem que comparar a situação com os seus conhecimentos teóricos pelo que consome mais energia e demora mais tempo a responder.

Neste contexto, a investigação sugere que a expertise no desporto está mais dependente dos aspetos percetivo-cognitivos (“software” como por exemplo antecipação, concentração e conhecimento de base) do que das características físicas e percetivo-motoras (“hardware”) (Moran, 1996).

Imagem

Figura 1 - Comparação com o número de fixações do olhar e o tempo entre  expert e principiantes (Fonte:
Figura 2 - Esquema representativo da capacidade de fixação da atenção de um jogador de basquetebol que  realiza três tarefas em simultâneo (Fonte: Williams et al., 1999)
Figura  5  –  Processo  de  treino  da  tomada  de  decisão  tendo  por  referência  a  competição  (Fonte:  Araújo,  2005)
Gráfico  2 - Distâncias dos centróides dos grupos

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