• Nenhum resultado encontrado

Como inserir a espiritualidade no processo terapêutico

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Como inserir a espiritualidade no processo terapêutico"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

A ESPIRITUALIDADE NO

-PROCESSO TERAPEUTICO

JOÃO

MANUEL GALHANAS MENDES

ProfessorCoordenador naEscola SuperiordeEnfermagemde S.JoãodeDeus - Évora. Doutorando em Enfermagem na Universidade Católica Portuguesa.

A d

i

mensão esp

i

ri

tu

a

l

é

u

ma d

i

mensão da ex

i

s

t

ência humana que se torna o núcle

o

c

entral da sua existência

, en

volvendo a

r

elação consigo mesmo, com

os

outros

,

com

um Ser Supremo (Deus),

ou a Vida ou a Na

tu

reza

e

com o ambiente na sua

globa-li

dade

.

A espirit

uelidedc

envolve sen

ti

men

t

os

,

significados e propósitos para a

exis-tência do hom

e

m ao longo do se

u

trajecto de

v

ida.

A sociedade

e

spera dos profissionais

da área da saú

d

e

qu

e

esta dimensão

d

o

homem seja abordada

c

om profiss

i

ona

l

ismo

.

Verifica-se

h

oj

e

q

u

e as relações entre

espiritualidade

e cuidados d

e

saúde estão na ordem do d

i

a das pesquisas

nes

ta

área do conhecimen

t

o.

Textodeapoio queestevena base daComunicação apresentada noXIXEncontro Nacional da Pastoral da Saúde,no dia 24de Novembro de2005 emFátima.

RESUMO

INTRODUÇÃO

A dimensão espiritual do homem está hoje no centro das atenções dos profissionais de saúde. A vivência da espiritual idade continua a ter uma ver-tente comunitária contudo, porque estamos num mundo de forte tendência individualista onde cada um tem a sua verdade, aprocura do transcendente torna-se também individual e singular, Mas o que importa referir como questão de partida é que o ser humano, apesar de todos os avançosdaciência e da

tecnologia, tem necessidade constante dedar respos-ta

à

pergunta milenar do sentido para avida. Qual é o sentido da minha vida?

Estainterrogação é colocada por cada um de nós como prestadores de cuidados e é colocada pelas pessoas que atravessam percursos de doença na sua história devida. Assimonosso olhar profissional para uma pessoa doente não é nunca um acto inocente ou indiferente, nem simplesmente técnico, mas tribu-tário de uma visão mais vasta do mundo e do homem. Por isso faz-nos todo o sentido dar também

(2)

mundo, o fundamentalismo religioso como guia orientador .da vida em sociedade.

Sabemos

ta

m

b

é

m

que areligião é um meio para aprocura dadimensão datranscendência, contudo não éo único' dado que há formas de espiritual id a-de laicas, paralelas e alternativas

à

religião.

Consideroque éimportante termos consciência

que o espiritual está na moda e vende-se bem.

Hoje há um culto

à

moda e como o espiritual é moda - apela-se ao espiritual, consome-se o es pi-ritual e aparecem os mercenários do espiritual. Os profissionais de saúde não podem ignorar este aspecto, porque apublicidade dos

"

m

e

str

es es

piri-t

u

a

i

s

,

astró

l

ogos

espi

r

it

u

a

li

stas

,

c

i

e

nti

s

t

as

es

pi

r

i

-tueis

"

é apelativa, agressiva e surte efeito e os ga bi-netes destes estão cheios de pessoas cujo objectivo é

ã

ida ao encontro de alguém que asescute. igual importância

à

dimensão espiritual do

homem quando estamos em situação de processo de cuidados.

Quando sefala de espiritual idade somos levados a pensar que se trata da ligação da pessoa a uma determinada religião. Por isso espiritual idade seria sinónimo de religiosidade, contudo se paraalgumas pessoasa sua dimensão espiritual está muito inte r-ceptada pela dimensão da religiosidade para outras provavelmente estarámuito pouco.

Porque o termo espiritualidade sepropicia auma grande ambiguidade, é necessário esclarecer-se o seusignificado rigoroso (muito embora sesaibata m-bém que não é possível fazê-lo com facilidade).

Na bibliografia ligada

à

filosofia e

à

teologia o conceito pode ser encontrado de formas muito distintas. Não há uma corrente única ou uma

dogmática sobre o espiritual, o que permite o

desenvolvimento de perspectivas muito amplas, correndo-se o risco de uma multiplicação dos discursos e de uma saída do assunto para aes fe-ra do relativismo (Torralba e Roselló, p. 8) .

É

possível constatar a emergência deste co n-ceito em algumas correntes de natureza socio -lógica que encontraram um esgotamento do sentido da vida numa sociedade pos-materialis -ta, surgindo alguns sintomas, especialmente nas

novas gerações, de um cansaço ede um esgota

-mento deste modelo de sociedade materialista

-um dos sintomas éaprocura e o desejo do esp

i-ritual (Torralba e Roselló, p. 8).

Vivemos claramente na emergência do esp i-ritual mas em claro tom sincrético e vivemos

também esta emergência debaixo de um tom

interreligioso e ecuménico. O tratamento do

espiritual na sociedade pos-moderna não obe -dece aos esquemas da sociedade cristã ocide n-tal, em que o espiritual estava ligado ao religio -so e ao religioso de uma religião predominante.

Há hoje uma procura de pontos de união e de

convergência entre as distintas tradições

cultu-rais e religiosas (Torralba e Roselló, p. 8).

Contudo também sabemos que se mantém com

muita visibilidade, em algumas partes do

SERVIR-VOL. N.O54-N.o 4

O(S) CONCEITO(S)

DE

ESPIRITUAlIDADE

O queéa espiritual idade?Qual éo conceito de espiritual idade? Como tem evoluído este conceito ao longo do tempo? Elizabeth Taylor no seu Livro

Sp

i

r

itu

a

l

Care.

N

u

rs

in

g

th

eo

r

y

,

resea

r

c

h

a

nd pr

a

ti

ce

,

2002

,

aponta uma interessante evolução doconce i-to de espiritual idade, referindo-se aos autores que foram escrevendo sobre estatemática, no entanto considera esta como a dimensão do ser humano que integra, motiva, dá energia e influencia todos

os aspectos da vida do homem.

Vaillot

(

1

970

)

defende que

"

Esp

in

t

u

e

li

dede é a

q

u

a

li

dade das forças que

n

os to

rn

am act

i

vos

,

ou

q

u

e

são o pr

in

cíp

i

o esse

n

cia

l

q

u

e nos

in

f

l

ue

n

c

i

a.

Esp

iritu

a

li

da

d

e

n

ão

si

g

nific

a

n

e

ces

sa

ri

a

m

e

n

te

r

e

li

-g

i

osidade

;

ta

m

bém

in

c

lui

a com

p

o

n

e

n

te

p

s

i

co

l

óg

i

-ca.

O espiri

t

u

a

l

é oposto ao b

i

o

l

óg

i

co

e

ao

m

ecâ

n

i-co

,

c

u

ja

l

e

i

pod

e

m

od

it

icsr

"

,

Existe nesta definição a tentativa de diferencia -ção entre o conceito deespiritual idade e o conce i-to de religiosidade, eexiste ainda de forma expl íci-ta uma ligação da dimensão espiritual

à

dimensão

(3)

psicológica e a evidente separação da dimensão

biológica da pessoa.

No entanto Colliton (1981) refere que

"

E

s

piritu

a

-!id

a

de

é

o

prin

c

ípio de

v

ida qu

e

s

e

pr

o

pa

ga à

tot

a

li-d

a

de d

o s

er hum

a

n

o,

inclui

a

s dim

e

n

s

ões d

a

von

ta

-d

e

pr

ó

pri

a

,

em

oc

i

o

n

a

l

,

m

o

r

a

l

e é

ti

ca,

int

e

le

c

tu

a

l e p

s

i-co

l

óg

i

ca

e

ge

r

a

a

c

ap

acida

d

e

p

a

ra f

o

rma

ção

de

va

l

o-r

es

tr

a

n

sce

nd

e

n

tes

"

.

Ecitando Amenta (1986) que

"0

espi

r

itual

é

o

própri

o

ou

o

e

u

,

a

e

ssê

nci

a

da p

e

r

-so

nalid

a

d

e

,

a in

te

riori

da

d

e

di

v

in

a

,

da

part

e q

u

e está

em

c

o

munh

ão

com o

t

ran

sc

end

e

nt

e

.

É

a

p

a

rt

e

d

e

ca

da indi

v

ídu

o

qu

e

no

s c

onduz

à co

n

sc

i

ê

nci

a

de n

ós

pr

ó

prio

s, à

s fin

a

lidad

es,

val

o

r

es,

b

e

l

ez

a

,

r

e

l

a

cion

a

-m

e

nt

o

com

os o

u

t

r

os

e

à

int

egr

idad

e

"

.

As duas definições anteriores revelam aimpo

r-tância da dimensão espiritual ao incluir muitos

outros aspectos da vida do homem, centrando-se

a essência dos conceitos na formação de valores

que nos colocam em comunhão com os outros e com o transcendente.

Acrescenta Stoll (1989) que 'A

Espiritu

a

lid

a

d

e

e

n

vo

l

ve

uma

d

im

e

n

são ve

rti

ca

l

,

i

sto é

,

o re

l

a

ci

o

n

a-m

e

nt

o e

ntre

a

p

essoa e

D

e

u

s

,

o

tr

a

n

sce

nd

e

nt

e

,

os

va

lore

s s

upr

e

m

os e

um

a

dim

e

n

são

h

o

ri

zo

n

ta

l

,

i

s

t

o é,

qu

e

r

e

fl

ec

te

e ex

teriori

z

a a

ex

peri

ê

n

c

i

a

supr

e

ma

da

n

ossa

r

e

l

ação co

m D

e

u

s a

t

ravés

d

as c

r

e

n

ças

,

va

l

ores,

est

ilo

de v

ida

,

q

u

a

lid

ade de vid

a

,

e

in

te

r

acções co

n

-n

osc

o pr

ó

pri

os, co

m

os o

ut

ros e co

m

a

n

a

tur

eza

"

.

Nesta definição são bem evidentes as duas

componentes relacionais da espiritual idade, uma

relação vertical com Deus, com o transcendente e

uma relação horizontal com o próprio, com os outros e com a natureza, surgindo um novo e le-mento que

é

aqualidade de vida.

Um autor um pouco mais recente, Red (1992),

aponta que a

"

E

s

p

i

ritu

a

lid

a

d

e é

a

p

red

i

s

p

os

i

ção

p

a

ra a

t

in

g

ir si

g

nificad

os

atr

a

v

és

do

se

ntid

o

de r

e

l

a

-ção co

m dim

e

n

sões

q

u

e t

r

a

n

sce

nd

e

m

o

p

pr

io

,

de

t

a

l m

a

n

e

ir

a q

u

e

lh

e t

ran

sm

it

e

um

po

d

e

r

q

u

e

n

ão

desva

l

or

i

z

a o

indi

víd

u

o

. E

sta re

l

ação

p

o

d

e se

r e

x

p

e

-riment

a

d

a

intr

a

pess

oa

lmente

(

com

o

um

a c

onn

ec

-ção a

tr

avés de ca

d

a

um

)

,

e i

nt

er

p

essoa

lm

e

nt

e

(

n

o

co

n

texto dos o

u

t

r

os e

n

o a

m

b

i

e

nt

e

n

at

ur

a

l

)

e

tr

a

n

s

-pessoa

lm

e

n

te

(

r

e

f

er

in

do-se a

um

se

nti

do de

r

e

l

a-ç

ão p

a

r

a

o

oc

ulto

,

Deus

, o

u um pod

e

r maior d

o

qu

e os

no

ssos

pr

ó

p

r

i

os

r

ec

ur

s

o

s

n

at

ur

a

i

s)

"

.

Verifica-se nesta definição uma referência a

três tipos de relações que transcendem apessoa, a

relação intrapessoal, a relação interpessoal e a

relação transpessoal, cujos sentidos produzem na

vida relações individuais, colectivas ou com um

Ser Transcendente.

O

conceito seguinte refere-se

à

espiritual idade como um caminho que

é

percorrido deforma sin

gu-lar por cada um de nós,nestesentido Fowler (1997)

refere que

"

Espiritu

a

lidad

e é

o

ca

minh

o a

tra

vés d

o

qual a p

e

ss

oa c

omp

ree

nd

e

e

viv

e

livrem

e

nte c

o

n

s

i

-de

r

a

n

do-se

o

se

u

sig

nific

ado

últim

o

,

as c

r

e

n

ç

a

s

e

os

va

lor

es.

É

a

uni

f

i

cação e o as

pe

c

t

o da

in

teg

r

ação

da

v

id

a da

p

ess

o

a e

qu

a

nd

o v

i

ve

in

te

n

c

i

o

n

a

lmen

te

,

é

e

xp

e

ri

e

nciad

a

como

um pro

c

esso d

e

cr

es

cimen

to

e

d

e

m

at

ur

ação.

Int

eg

r

a,

uni

fica e a

nim

a

p

o

r

c

om

pl

e

-to a

n

a

rr

a

ti

va o

u h

istó

r

ia

d

e ca

d

a

p

essoa

,

pe

n

e

t

ra

n

a

p

a

rt

e

m

a

is

ce

ntr

a

l d

a s

ua id

e

nti

dade, esta

b

e

l

ece

05

fund

a

mento

s

bási

cos

par

a

uma relação individu

a

l

co

m

os

ou

t

r

os e co

m a

soc

i

e

d

a

d

e

,

in

c

lu

i o se

n

t

i

d

o

d

e

tr

a

n

sce

nd

e

nt

e

,

e

é

a

l

e

nt

e de

int

e

rp

re

t

ação atr

a

-vé

s

da

qual

a

p

e

s

soa vê o

mund

o.

É

o es

sen

c

i

a

l

pa

r

a

a

comunida

de

porqu

e é

n

a e

spiritualid

a

d

e

qu

e n

ó

s

ex

p

e

r

i

m

e

n

ta

m

os

o

u

co

-p

a

r

tic

ip

a

m

os

n

a

r

e

p

a

rt

i

d

a

co

n

d

i

ção

hum

a

n

a.

P

o

d

e o

u n

ão se

r

exp

r

essa

o

u

ex

p

e

ri

e

n

c

i

ada

em

categ

ori

as re

l

ig

i

osas)

"

.

Narayanasamy (1999) aponta aespiritual idade como parte constituinte de todos os seres huma

-nos, que semanifesta sob aforma de sentimentos

e

é

razão para aexistência do homem. Assim diz

que aespirtiualidade

"

é uma p

a

r

te

da

co

nstru

çã

o

da espé

ci

e

hum

a

n

a

e

es

t

á

pr

ese

n

te

em

t

o

d

os o

s

se

r

es

hum

a

n

os

p

o

d

e

nd

o

m

a

ni

fes

t

a

r-

se co

m

o

u

m

a

p

a

z i

n

te

ri

o

r

e

um

a c

or

age

m

q

u

e

d

e

r

iva

d

a per

-ce

p

ção

da r

e

laç

ão

com

um D

e

us

/

tr

a

n

s

cen

den-te

/

um

a

r

ea

lid

a

d

e

últim

a

,

se

j

a

qu

a

l fo

r o e

nt

e

i

nd

i

-v

idu

a

l qu

e se co

n

si

der

e

co

m

o se

r

sup

r

e

m

o.

A

d

im

e

n

o

esp

iritu

a

l impli

ca a

pr

ese

n

ça

de se

n

ti-ment

os

qu

e

r

e

vel

a

m a

ex

i

s

tên

c

i

a

do

a

m

o

r,

da

f

é

,

da espe

r

a

n

ça

,

d

a co

nfi

a

n

ça

,

d

o p

r

o

fun

do res

p

e

i

t

o

,e

d

a ins

oir

eçêo

.

Através de

l

a e

m

e

r

ge

o

s

i

g

ni

f

i

cad

o

e a

r

azão

p

ara

a

ex

i

stê

n

c

i

a

"

.

(4)

Projecção no futuro (esperança);

- "Eusinto-me desesperado - ninguém me pode aj u-dar a resolver o problema" -

Necessidade de ajuda;

- "Verifico como é'importante para mim ter a mi-gos e mi-gostar que eles me ajudem." -

Necessidade

de suportar

em "coping" as transições da vida;

- "Eu não queria ser um peso para a minha família quando for velho" -

Ne

c

essidade

de adaptação a

novas dependên

c

ias;

- "Desejaria ser capaz de poder encontrar uma solução quando me surgem os problemas"

-Necessidade

de transcender mudanças d

e

vid

a

;

- "Eu quero que as pessoas respeitem mais a minha privacidade" -

Necessidade de dignid

ade

p

e

ssoal;

- "Será que o senhor me quer ouvir agora?"

-Necessidade

de expressar sentimentos;

- "Tenho medo de morrer" -

N

ece

s

sidad

e

de acei

-tar

e

preparar

a

morte;

- "Sou chamado a participar no meu grupo de

ajuda todos os meses" (vencer e viver- âncora

-etc.) -

Necessidade

de participar em gr

u

pos;

- "Eu tento ajudar outros que como eutêm cancro

da mama" -

Necessidade

de amar e se

r

vir os

outros;

- "Eu queria dizer aomeu pai, quanto arrependido estou do que lhe fiz" -

N

ecessidade

de me ar

r

e

-pender e de ser perdoado;

- "Senti-me traído mas sei que a raiva me prejudi -ca" -

Necessidade

de perdoar;

- "Os meus filhos abandonaram-me masnão posso deixar de pensar neles" -

Necessidade

de lidar

com a falta de amor de outros significativos;

- "Será que Deus existe? Como podemos ter a

cer-teza que existe uma força poderosa que faz mover este universo? -

Necessidad

e

de ter

a

cer

-teza que existe Deus ou u

m p

oder t

r

anscend

en-te no Universo;

- "Acredito que posso sentir Deus presente - como um amigo" -

Necessidade

d

e

exp

e

r

i

m

e

ntar

a

presença de Deus;

- "Vou àIgreja ajoelho erezo sempre em frente ao Sacrário" ou "Vou à sinagoga eretiro o chapéu,

para receber o amor de Deus" -

Necessidade

de

servir e ado

r

ar Deus;

Dois autores de 2000, Dosseye Guzzetta, refe -rem que a espirtualidade

"

é

uma força unifi cado-ra da pessoa; aessência do ser que permite tudo na vida e manifesta-se em cada um de nós, na capacidade saber

e

de fazer; ainter-conexão com

o

próprio, com os outros, com a natureza

e

com Deus/Vida/ Força/Absoluto/Transcenden te".

Emsíntese podemos referir que a espiritualida -de é uma dimensão importante do homem que, a par da dimensão biológica, intelectual, emocional e social, constitui aquilo que écada ser humano e

que oajuda a diferenciar do outro ser humano.

Verificamos que esta dimensão implica uma expressão de sentimentos e uma vivência indiv i-dual, uma interacção com o meio ambiente, com os outros ecom um Ser Supremo.

É

através da espi-ritual idade que se manifesta o sentido para a vida.

COMO PODEMOS

IDENTIFICAR AS

NECESSIDADES ESPIRITUAIS?

No contacto com o doente ecom afamília, na entrevista de acolhimento ou no decurso de um processo de cuidados podemos encontrar nos dis

-cursos dos doentes particularidades que são reve- . ladoras de necessidades espirituais.

É

predomi -nantemente no diálogo com os doentes que me parece que podemos encontrar com muito rigor a expressão das suas necessidades espirituais, co n-tudo na bibliografia sobre estatemática podemos encontrar muitos processos de apreciação de necessidades espirituais (Mauk e Schmidt, 2004; Taylor, 2004; Fitchett, 2004).

Seguem-se alguns excertos de discursos de doentes e a referência ànecessidade espiritual que lhe corresponde tal como Taylor sugere:

- "às vezes interrogo-me sobre o sentido que tem a minha vida" -

Necessidade

de dar significado

e

sentido à

vida;

- "Parece que nunca ninguém precisa de mim"

-Necessidade

de se sentir útil;

-

"

É

duro pensar que não há nada mais que eu possa fazer neste mundo" -

Nec

e

ssidade

de

SERVIR-VOL. N.O54-N.o 4

(5)

duo ou grupo apresenta ou está em risco para apresentar um distúrbio no sistema de crenças e valores que proporciona força, esperança e signi -ficado para a vida.

a)

E

v

id

e

n

c

i

ada

pel

a

i

nca

p

ac

i

dade

para pratic

ar

os

rit

os

e

s

piritu

a

i

s;

b

)

Re

l

ac

i

o

n

ada a co

n

f

li

tos e

ntr

e c

r

e

n

ças re

li

gi

o

-sas o

u

es

pi

r

i

t

u

ais e

r

eg

im

e de sa

ú

de

p

rescri

t

o;

c)

Re

l

a

ci

o

nad

a

com a

c

r

i

se

d

e doe

n

ça/

s

ofr

i

-me

n

to

/

m

orte

.

- "Gosto de ler a bíblia todos os dias, ajuda-me a compreender melhor o mundo" -

Necessid

a

d

e

de

a

prend

e

r

a pa

r

t

ir

dos escritos inspirados por Deus;

- "Individualmente posso fazer alguma coisa, mas em grupo posso mudar o mundo" -

Necessidade

d

e

r

ec

onh

e

cer

o

pod

e

r

que pod

e

mos

ter de

mudar positivamente

a soci

e

dade,

qu

e

r indivi

-dualment

e

qu

e

r

e

m grupo;

-"Pertenço ao grupo de ... amigos do Hospital. .. a um grupo que luta pela procura de melhores co n-dições de vida oude tratamento dos que estão opri -midos" (ex. grupo dasfamílias numerosas, grupos de cidadãos estrangeiros, associações de doentes)

- Nec

es

s

idad

e

de s

e

r r

e

s

pe

itado

e valorizado

(Taylor, 2004 p. 17-20).

Existem muitas outras expressões que encontra -mos todos os dias nos nossos contactos com os doentes que poderão ser indicadores destas e de outras necessidades espirituais.

Alguns dos excertos dos discursos anteriormente referidos são indicadores de que há necessidades espirituais sobre asquais, num processo de cuidados de enfermagem, temos que intervir, isto é, ajudar a darresposta,porque é importante que estasnecess i-dades que fazem parte da nossaexistência humana sejam cabalmente satisfeitas a fim de que sepossam prevenir os problemas daídecorrentes.

Existem também outros instrumentos de recolha de dados(questionários, escalas, etc.)que a bibliogra -fia sobre esta temática aconselha para a fasede apre -ciação, num processode cuidados de enfermagem.

OS DIAGNÓSTICOS

DE

ENFERMAGEM RELACIONADOS

COM A DIMENSÃO

DA

ESPIRITUALlDADE

Existem alguns diagnósticos de enfermagem já estudados, testados e a aceites pelas comunidades científicas de enfermagem.

A Assoc

i

ação A

m

er

i

ca

n

a

Pa

r

a os

Di

ag

n

óst

i

cos

de E

n

fe

rm

age

m

def

in

i

u

os seg

uinte

s d

i

ag

n

óst

i

cos

:

-

Angústia Espiritual

-

Estado em que o indiv

í--

Distr

e

ss

E

spiritu

a

l

(

ou ris

co

)

-

incapacidade para experimentar e integrar o sentido e a finalidade da vida através das relações consigo mesmo, com os outros, com a arte, música, literatura ou

um poder sobrenatural (Carpenito, 1977). Na Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem na Classificação dos Fenó-menos de Enfermagem no Eixo A: Foco da Prática de Enfermagem, estão definidos alguns

conceitos que são essenciais para a construção dos diagnósticos de enfermagem segundo este

sistema classificativo, como por exemplo:

-

Bem-estar

Espiritual

é um tipo de Bem-estar

com ascaracterísticas específicas: imagem men -tal de estar em contacto com o princípio da vida que impregna todo o ser e que integra e trans -cende a natureza biológica e psicossocial de

cada um;

- Amargura Espiritual

é um tipo de Amargura com

as segui ntes características específicas: des -membramento daquilo em que a pessoa acredi -ta da vida, questões acerca do significado da vida, associado ao questionar do sofri mento, separação dos laços religiosos e culturais, mudança nos sistemas de crenças e valores, sen -timentos de intenso sofrimento e zanga contra a divindade;

-

Cr

e

nça Espiritual

é um tipo de Crença com as características específicas: convicção e disposi -ção pessoal para reter e abandonar acções tendo em conta os princípios de vida que impregnam, integram e transcendem a natureza biológica e psicossoc}al de cada um (ClPE, versão 1).

(6)

OS PRESSUPOSTOS E OS

PRINCíPIOS

DE UM QUADRO

DE REFERÊNCIA PARA UMA

PRÁTICA DE ENFERMAGEM.

Conhecidos alguns diagnósticos de enfermagem relacionados com esta dimensão humana, coloca-se

a qu~stã(y.Qu~ int~rv~nçãopor part~ dos

profissio-nais de enfermagem? Que respostas podemos dar?

Não sendo possível apresentar uma intervenção específica porque essa deriva sempre de uma apre-ciação de uma pessoa concreta, citando Taylor (2004), aponto alguns aspectos de um provável qua-dro de referências para a prática de enfermagem:

(Pressuposto) - Cada pessoa tem uma dimensão

espiritua

l

.

(Princípio) - Numa situação de cuidados

à

pes-soa a sua natureza espiritual deve ser considerada tal como as restantes dimensões (mental, emocio-nal, física).

(Pressuposto) - Numa sociedade

multicultural

,

a natureza

espiritua

l

de cada

pessoa

pode ser

expressa pela religião ou crenças filosóficas e

prá-ticas que diferem substancialmente,

dependendo

da raça, do género, do estatuto socia

l

, da religião,

da etnia e da experiência

de cada um

.

(Princípio) - As situações de cuidados espirituais não são simples em sociedades multiculturais e são necessários muitos tipos de recursos.

(Pressuposto)

- A espiritual idade tem muitas

facetas,

e emerge e expressa-se

por formas

for-mais e inforfor-mais ou ligadas ou não a uma religião.

(Princípio) - A identificação das necessidades espirituais pode ser realizada de muitas formas. (- Entrevista ou podemos usar ainda alguns questio-nários que são propostos na bibliografia sobre esta temática ...).

(Pressuposto)

- O ambiente

pode facilitar ou

dificultar a expressão da espiritual idade.

(Princípio) - Os cuidados de enfermagem devem fomentar situações que facilitem a expres-são individual ou comunitária da espiritualidade.

(Pressuposto

)

- Os utentes podem ter resolvido

ou desencadeado

a resposta

a uma necessidade

SERVIR-VOL. N.O 54-N.o 4

espiritual de forma satisfatória e autónoma.

(Princípio) - As escolhas dos utentes para a

satis-fação

das suas necessidades espirituais devem ser valorizadas.

(Pressuposto)

- As necessidades

espirituais dos

utentes podem variar no decurso da situação de

doença.

(Princípio) - Os enfermeiros devem estar alerta para a variação das necessidades que poderão estar expressas nas diferentes fases da doença.

(pressuposto) - As necessidades espirituais podem

surgir a qualquer momento e em qualquer dia.

(Princípio) - O ambiente de cuidados deve ter em conta que a qualquer momento há necessidade de se dar início a um trabalho para dar resposta a uma ou várias necessidades espirituais.

(Pressuposto)

- O ser humano

tem

crenças

diversas, diversificados conhecimentos

e um nível

diferenciado

de desenvolvimento

espiritual.

(Princípio) - Os enfermeiros podem ajudar os doentes a compreender melhor o seu sistema de crenças e a interpretação que fazem desse sistema de crenças.

(Pressuposto) - Os utentes e os seus familiares

podem

ter

divergentes

crenças

espirituais

e

podem não estar conscientes

dessas diferenças.

(Princípio) - Os enfermeiros devem estar cons-cientes das diferenças e das respectivas dificulda-des, que a expressão da espiritual idade pode pro-vocar no interior da família.

(Pressuposto)

- Os utentes nem sempre estão

conscientes,

sabem ou desejam manifestar

proble-mas relacionados

com as necessidades

espirituais.

(Princípio) - Os enfermeiros têm que ter sensibi-lidade para o facto do doente não pretender mani-festar com ele as suas necessidades e providenciar recursos para que o utente possa expressar ou comunicar com outros os seus problemas espiri-tuais (Taylor, 2004 p.25-27).

CONCLUSÃO

A dimensão espiritual

é

uma dimensão impor-tante da existência humana, no entanto a

(7)

espiritua-lidade em si mesma é um conceito abstracto que

envolve muitas facetas e é usado muitas vezes

incorrectamente e substituído pelo termo religião.

Espiritualidade é o núcleo central do ser humano e normalmente refere-se a uma experiência que

envolve a percepção das relações de cada pessoa

com um sersupremo (como por exemplo Deus), ou

com um grande poder, com os outros e com o

ambiente. Espiritualidade envolve sentimentos,

sig-nificados e propósitos para a existência do homem

ao longo do seu trajecto devida.

A sociedade esperados profissionais da área da saúde que, nasua relação com aciência, a dimen-são espiritual seja abordada honestamente e se de s-mistifique o sentido do charlatanismo que por vezes lhe está associado.

Embora as relações entre espiritual idade e c

ui-dados de saúde já estejam na ordem do dia das pe

s-quisas nesta área,existe ainda um longo caminho a

percorrer.

No entanto, tal como sugere Angerami-Camon (2002), éimportante que tomemos consciência que a espiritual idade deve entrar nanossa prática

profis-sional sendo necessário aumentarmos os recursos

deque dispomos no dia a dia, para que essamesma

prática profissional esteja mais de acordo com as

necessidades das pessoas que servimos. Contudo também é importante que estejamos conscientes

que é necessário analisarmos o nossopróprio

senti-do da vida, para que as convicções pessoais sobre

o mundo e sobre o homem que defendemos este

-jam em consonância com o corpo deconhecime

n-tos que sustentaa nossaintervenção profissional.

REFERÊNCIAS

BIBLIOGRAFIA

AMENTA, M. O. (1986). Spiritual concerns (Chapter 9,

pp. 115-161). In M.O. Amenta & N. Bohnet (Eds.), Nursing care of the terminal/y il/. Boston: Little, Brown.

ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto. (2002). Novos rumos na psicologia da saúde. S. Paulo: Pioneira Thomson Learning Itda.

CARPENITO, Lynda lual . (1997). Diagnósticos de enfer -magem. Aplicação à prática clínica. 6" ed. Porto

Alegre: Artes Medicas.

COLLlTON, M. (1981). The spiritual dimenson of nu r-sing. In I. Beland &

J

.

Y.Passos(Eds.), Clinical Nursing (4th ed.). New York: Macmillan.

CONSELHO INTERNACIONAL DEENFERMEIRAS(2006).

Classificação internacional para a prática de enfermagem

(ClPElICNP): Versão 1. Lisboa:Ordem dos Enfermeiros. DOSSEY,B. M. &GUZZETTA, C. E. (2000). Holistic nur

-sing practice (Chpter 1). In B. M. Dossey, L. Keegan, & C.E! Guzzetta (Eds.), Holistic nursing: A handbook for practice (3rd ed., pp. 5-26). Rockville, MD: Aspen. FOWLER, M.; PETERSON, B.S.(1997). Spiritual themes

in clinical pastoral education. Journal of training and supervision in ministry, 18, 46-54.

FITCHETT, George. (2002). Assessing spiritual needs. A guide for caregivers. Lima: Academic Renewal Press.

MAUK, L. kristen; SCHMIDT, K. Nola. (2004). Spiritual care in nursing pratice. Philadelphia: Lippincott

Williams & Wilkns.

NARAYANA~AMY, a. (1999). ASSET: A model for actio

-ning spirituality and spiritual care education and trai

-ning in nursing. Nurse Education Today, 19,274-285.

REED,P.G. (1992). An emerging paradigm for investig a-tion of spirituality in nursing. Research in Nursing and Health, 15, 349-357.

STOLL, R. I. (1989). The essence of spirituality, InV. B. Carson (Ed.), Spiritual dimensions of nursing practice (pp. 4-23). Philadelphia: Saunders.

SHELLY,Iudith Allen. (2000). Spiritual Care. A Cuide for Caregivers. Illnois: InterVarsity Press.

STANWORTH, RacheI. (2004).Recognizing spiritual needs in people who are dying. New York: Oxford University Press.

TAYLOR, Elizabeth. (2002). Spiritual care. Nursing theo -ry,research and practice. New Iersey: Prentice Hall.

TORRALBA e ROSELLO, Francesco (2004)

Necessidades espirituales dei ser humano. In Labor Hospitalaria, n°271, (1).

VAILLOT, M. C. (1970). The spiritual factors in nursing. Journal of Practical Nursing, 20, 30-31.

Referências

Documentos relacionados

Neste trabalho avaliamos as respostas de duas espécies de aranhas errantes do gênero Ctenus às pistas químicas de presas e predadores e ao tipo de solo (arenoso ou

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla

17 CORTE IDH. Caso Castañeda Gutman vs.. restrição ao lançamento de uma candidatura a cargo político pode demandar o enfrentamento de temas de ordem histórica, social e política

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

Por isso, quando a quantidade de Oxigênio Dissolvido na água diminui, os peixes não conseguem compensar esta.. Diminuição, ficando prejudicados e,

Equipamentos de emergência imediatamente acessíveis, com instruções de utilização. Assegurar-se que os lava- olhos e os chuveiros de segurança estejam próximos ao local de

Tal será possível através do fornecimento de evidências de que a relação entre educação inclusiva e inclusão social é pertinente para a qualidade dos recursos de

Luiz é graduado em Engenharia Elétrica com ênfase em Sistemas de Apoio à Decisão e Engenharia de Produção com ênfase em Elétrica pela PUC/RJ e possui Mestrado