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Impacto da cooperação Angola-China na construção de infraestruturas e no desenvolvimento social e económico

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ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

IMPACTO

DA

COOPERAÇÃO

ANGOLA-CHINA NA CONSTRUÇÃO

DE

INFRAESTRUTURAS

E

NO

DESENVOLVIMENTO

SOCIAL

E

ECONÓMICO

Ana Mititi Manuel Pascoal

Orientação: Prof.ª Doutora Maria Raquel Lucas

Mestrado em Relações Internacionais e Estudos Europeus Dissertação

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ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

IMPACTO

DA

COOPERAÇÃO

ANGOLA-CHINA NA CONSTRUÇÃO

DE

INFRAESTRUTURAS

E

NO

DESENVOLVIMENTO

SOCIAL

E

ECONÓMICO

Ana Mititi Manuel Pascoal

Orientação: Prof.ª Doutora Maria Raquel Lucas

Mestrado em Relações Internacionais e Estudos Europeus Dissertação

Évora, 2013

(3)

Dedicatória

À memória do meu pai Lussengomona e da minha filha Gérsia, com todo amor, respeito e carinho. À minha mãe Ana, ao meu esposo Ambrósio, à minha filha Anaísia, e aos meus irmãos, com todo afeto e admiração.

(4)

Primeiramente agradeço á Deus pelo glorioso dom da vida.

Aos meus pais Lussengomona Manuel e Ana Fernando João Manuel, por terem feito crescer em mim a vontade de estudar e, por me incentivarem a dar sempre o melhor. Aos meus irmãos Fernando Manuel, Elizabeth Manuel, Cláudia Manuel, Georgina Manuel e, Alexandrina Manuel, aos meus sobrinhos Tchandiny Cunha, Cláudio da Cruz, Maria Madalena Garrett e José Maria Garrett, pelos momentos inesquecíveis que passamos juntos.

A minha filha Anaísia, pela companhia, cumplicidade e pelo incentivo que a sua alegria transmite para o meu coração. Amo você filha…

Ao meu esposo Ambrósio e a minha cunhada Tomásia pela vivência de todos os dias. Aos meus afilhados, porque a madrinha espera que vós sejais meus discípulos nos estudos.

As minhas queridas amigas Marquinha André, Filomena Ferreira, Florinda João, Sónia Manjenje, Selma Neto, Blandina Lando, Marinela Augusto, entre outros, pelo companheirismo de vários anos.

A professora Doutora Maria Raquel Lucas por me mostrar um caminho de luz e vitória. Jamais vou esquecer você professora!...

A Direção do curso de mestrado e ao coletivo de docentes, pela oportuna forma cientifica de dirigir este curso e, pelo grande acervo de conhecimentos transmitidos durante o meu percurso nesta universidade.

Agradeço ainda todos os órgãos públicos e privados, por terem facilitado a minha investigação para o fecho desta dissertação.

Agradecimentos em geral, por todos que direta ou indiretamente contribuíram para que este momento se tornasse realidade.

(5)

Pascoal, Ana Mititi Manuel (2013) – IMPACTO DA COOPERAÇÃO ANGOLA-CHINA NA CONSTRUÇÃO DE

INFRAESTRUTURAS E NO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÓMICO

Resumo

Após o conflito o Governo de Angola desenvolveu medidas de reestruturação visando a recuperação de infraestruturas básicas, particularmente através da cooperação com a China. Assim, importa saber se o contributo da China ajudou de fato ao desenvolvimento de Angola e consequentemente ao de África. O presente trabalho tem como objetivo principal procurar compreender a cooperação entre Angola e a China e as repercussões económicas e sociais geradas no desenvolvimento de infraestruturas no período de 2010-2011. Para a sua realização foi adotada uma metodologia de investigação de tipo qualitativo, com recurso a pesquisa documental e à entrevista a especialistas como técnica de recolha de dados primários. A análise da informação foi realizada em função do objetivo de estudo por meio de análise dos conteúdos. Os resultados demonstram a importância e os benefícios mútuos da cooperação Angola-China, fundamentalmente suportada no petróleo e o seu contributo para a criação de infraestruturas fundamentais ao desenvolvimento social e económico do país. Apesar das dificuldades e limitações da pesquisa, seja pela qualidade da informação estatística e documental recolhida, muitas vezes contraditória em função da fonte considerada, seja pela falta de experiência de investigação e falta de disponibilidade dos entrevistados, os resultados encontrados permitem retirar algumas conclusões assim como sugerir orientações e pistas de pesquisa futura.

Palavras-chaves: Angola-China, Cooperação, Desenvolvimento, Impacto, Reconstrução.

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Pascoal, Ana Mititi Manuel (2013) – IMPACT OF THE ANGOLA-CHINA COOPERATION IN INFRASTRUCTURE

CONSTRUCTION AND SOCIAL AND ECONOMIC DEVELOPMENT

Abstract

After the conflict the Government of Angola has developed restructuring measures aimed at the recovery of basic infrastructure, particularly through cooperation with China. It is therefore important to know whether the contribution of China actually helped the development of Angola and consequently to Africa. This work has as main objective to seek to understand the cooperation between Angola and China and the economic and social infrastructure development generated in the period 2010-2011. For it, a qualitative research methodology was adopted, using documentary research and interviews with experts to collecting primary data. The data analysis was performed according to the purpose of the study by analyzing the contents. Results show both, the importance and mutual benefits of Angola-China cooperation, supported on oil and, it contribute to the social and economic development. Despite the difficulties and limitations of the research, related with the statistical information quality and the documentation accessed and collected, the results allow some conclusions as suggest guidelines for future research and clues.

(7)

Índice

AGRADECIMENTOS ... II

RESUMO ... III

ABSTRACT ... IV

ÍNDICE ... V

LISTA DE FIGURAS ... VII

LISTA DE QUADROS ... IX

ABREVIATURAS ... X

CAPÍTULO I–INTRODUÇÃO ... 1

1.1 Enquadramento Geral ... 1

1.2 Tema e Objetivos de Investigação ... 3

1.3 Procedimento Metodológico ... 3

1.4 Estrutura e Organização do Trabalho ... 5

CAPÍTULO II–ENQUADRAMENTO TEÓRICO ... 7

2.1 A Cooperação Internacional ... 7

2.1.1 Conceito, Objetivos e Princípios Gerais ... 7

2.1.2 Teorias da Cooperação Internacional ... 10

2.1.3 Cooperação Internacional e Economia do Desenvolvimento ... 15

2.1.4 Cooperação Internacional e Relações Internacionais ... 20

2.1.5 Cooperação entre a China e África ... 26

2.2 A Cooperação Económica entre Angola e a China ... 31

2.2.1 História Recente de Angola ... 31

2.2.2 Cooperação Bilateral Angola-China ... 32

2.2.3 Linhas de Crédito e Projectos Financiados ... 35

(8)

3.2 Desenho Metodológico da Investigação ... 41

3.3 População e Amostra ... 45

3.4 Recolha de Informação ... 46

3.4.1 Desenho da Entrevista ... 49

3.5 Análise da Informação ... 53

CAPÍTULO IV–CONTRIBUTO E IMPACTO DA CHINA NO DESENVOLVIMENTO DE ANGOLA ... 55

4.1 Caraterização dos Entrevistados ... 55

4.2. Discussão dos Resultados ... 56

4.2.1 Importância da Cooperação Chinesa em Angola ... 57

4.2.2 Mecanismos de Cooperação com a China ... 58

4.2.3 Benefícios Mútuos da Cooperação com a China ... 60

4.2.4 Benefícios Mútuos de Outras Cooperações ... 61

4.2.5 Indicadores de Desenvolvimento Económico e Social ... 62

4.2.6 Futuro ... 63

4.3 Pontos Fortes, Fracos, Ameaças e Oportunidades ... 64

CAPÍTULO V–CONSIDERAÇÕES FINAIS... 67

5.1 Conclusões do estudo ... 67

5.2 Limitações ... 70

5.3 Recomendações e Perspetivas de Pesquisa Futura ... 71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 73

APÊNDICES ... 83

APÊNDICE A:GUIÃO DE ENTREVISTA ... 85

(9)

FIGURA 1–PIRÂMIDE DE BEM-ESTAR... 26 FIGURA 2–RELAÇÕES COMERCIAIS SINO-AFRICANAS E SINO-ANGOLANAS (M$USD) ... 37 FIGURA 3–ETAPAS DA PESQUISA QUALITATIVA ... 42

(10)
(11)

QUADRO 1–CONSENSUS DE WASHINGTON E CONSENSUS DE WASHINGTON COMPLETADO ... 24

QUADRO 2–NOVO CONSENSO:SÍNTESE DAS IDEIAS-CHAVE ... 25

QUADRO 3–PROCURA DE RECURSOS PELA CHINA EM ÁFRICA ... 30

QUADRO 4–PESQUISA QUANTITATIVA VERSUS PESQUISA QUALITATIVA... 40

QUADRO 5–FONTES DE RECOLHA DE INFORMAÇÃO:VANTAGENS E INCONVENIENTES ... 44

QUADRO 6–AMOSTRA SELECIONADA PARA A EXECUÇÃO DAS ENTREVISTAS ... 46

(12)

AMGI–ASSOCIAÇÃO MULTILATERAL DE GARANTIA DE INVESTIMENTO AID–ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO

BAD-BANCO AFRICANO DE DESENVOLVIMENTO

BCEAO–BANCO DA COMUNIDADE ECONÓMICA DA ÁFRICA OCIDENTAL BIRD–BANCO INTERNACIONAL PARA A RECONSTRUÇÃO E DESENVOLVIMENTO BM-BANCO MUNDIAL

BNA–BANCO NACIONAL DE ANGOLA

CAD–CENTRO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CEA–COMISSÃO ECONÓMICA PARA ÁFRICA DA ONU

CECEP-COMISSARIADO DE ESTADO DA COORDENAÇÃO ECONÓMICA E PLANO CEPAL–COMISSÃO ECONÓMICA PARA A AMÉRICA LATINA

CFA–COMUNIDADE FRANCÓFONA DA ÁFRICA

CIDAC–CENTRO DE INFORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO ANTI –COLONIAL (NA FUNDAÇÃO) OU CENTRO DE INFORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO AMÍLCAR CABRAL (APÓS –1974)

CILSS-COMISSÃO INTER ESTADOS PARA A LUTA CONTRA A SECA NO SAHEL

CNUCED–Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento COMECON–CONSELHO ECONÓMICO DE AJUDA MÚTUA

CWIQ-CORE WELFARE INDICATORS QUESTIONNAIRE

DENARP–DOCUMENTO DE ESTRATÉGIA NACIONAL DE APOIO À REDUÇÃO DA POBREZA EUA–ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ECA-Estatuto da Criança e do Adolescente FAO–ORGANIZAÇÃO PARA A AGRICULTURA E ALIMENTAÇÃO

FLING–FRENTE DE LIBERTAÇÃO PARA A INDEPENDÊNCIA NACIONAL DA GUINÉ FMI–FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL

FNUAP-FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA ATIVIDADES DA POPULAÇÃO FCFA–FRANCO DA CFA

HIPC-HEAVELY INDEBT POOR COUNTRIES

ICOF-INQUÉRITO AO CONSUMO E ORÇAMENTOS FAMILIARES IDA–Índice do Desempenho do Desenvolvimento IDH–ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

IDS–INSTITUTE OF DEVELOPMENT STUDIES IED-INVESTIMENTOS EXTERNOS DIRETOS ILJF-INQUÉRITO LIGEIRO JUNTO DAS FAMÍLIAS ILO–ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO IMF–INTERNATIONAL MONETARY FUND

INE–INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA DE PORTUGAL

INEC-INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA E CENSOS DA GUINÉ-BISSAU LSMS–LIVING STANDARDS MEASUREMENTS STUDY

NATCAP-NATIONAL AND TECHNICAL COOPERATION ASSESSMENT PROGRAM NEPAD–NOVA ESTRATÉGIA DE PARCERIA AFRICANA PARA O DESENVOLVIMENTO NLTPS-NATIONAL LONG TERM PERSPECTIVES STUDIES.

OCDE-ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO ONG–ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS

ONU–ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

OPEC–ORGANIZAÇÃO DOS PAÍSES EXPORTADORES DE PETRÓLEO OUA–ORGANIZAÇÃO DE UNIDADE AFRICANA

PAE–PROGRAMA DE AJUSTAMENTO ESTRUTURAL

PANUREDA–PROGRAMME D’ACTION DES NATIONS UNIES POUR LE REDRESSEMENT ÉCONOMIQUE ET LE DEVELOPPEMENT DE L’AFRIQUE

PASI-PROGRAMA DE AÇÃO SOCIAL E INFRAESTRUTURAL PEE–PROGRAMA DE ESTABILIZAÇÃO ECONÓMICA PIP–PROGRAMA DE INVESTIMENTO PÚBLICO

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PPC–PARIDADE DE PODER DE COMPRA RDC-REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO RSMS–REVISED MINIMUM STANDARD MODEL SDA–DIMENSÕES SOCIAIS DO AJUSTAMENTO SEE–SECTOR EMPRESARIAL DO ESTADO SFI–SOCIEDADE FINANCEIRA INTERNACIONAL UE–UNIÃO EUROPEIA

UGREP-UNIDADE DE GESTÃO DAS PRIVATIZAÇÕES

UNCTAD–CONFERÊNCIA DE COMÉRCIO E DESENVOLVIMENTO DAS NAÇÕES UNIDAS UNICEF–FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA

(14)

Capítulo I – Introdução

1.1 Enquadramento Geral

A cooperação como o ato de cooperar, existe desde há muitos séculos, praticamente desde o aparecimento de unidades políticas às quais se associa a noção de Estado. É através dessa cooperação que os países e nações formam laços de amizade e intercâmbio. Contudo, a noção atual da cooperação internacional, sobretudo no que se refere à ajuda ao desenvolvimento, é recente, quando da criação das Nações Unidas em 1945. Consequente da Segunda Guerra Mundial, foram criadas as condições para um novo ordenamento das relações internacionais, fundamentado na paz, na cooperação e na perspetiva de atuação coletiva na prossecução de interesses comuns (ONU, 1945).

Como um ator das relações internacionais, a cooperação revela-se em dois sentidos: o primeiro entre dois países ou Estados, designado de cooperação bilateral e, o segundo, mais abrangente porque relacionado a mais de dois países ou Estados, a cooperação multilateral. Embora as relações internacionais possam desenvolver-se de forma unilateral, bilateral, regional, pluralista, ou multilateral, no contexto da presente dissertação, apenas duas modalidades, a bilateral e a multilateral, são consideradas (Caetano, 2002).

No relacionamento com África, a China é um dos países que se tem conseguido impor como parceiro de desenvolvimento através de uma diplomacia que combina a não-interferência política com incentivos económicos, numa base de amizade histórica e benefícios mútuos. Essa cooperação teve início em 1956, com o Egito e intensificou-se a partir dos anos noventa, em novos moldes de cooperação, quando o país se tornou um importador líquido de petróleo, iniciando um conjunto de reformas económicas e de integração na economia global e o reforço das relações com a Europa e os Estados Unidos (Ferreira, 2010).

(15)

Esse novo formato de cooperação adotado pela China assentava em motivações pragmáticas e colocava a ênfase nas relações económicas e na satisfação das necessidades de recursos e energia. Segundo Ferreira (2010), os efeitos positivos do reforço do envolvimento chinês na economia dos países africanos são evidentes, embora difíceis de quantificar no que respeita à ajuda ao desenvolvimento. Ainda assim, existe um aumento exponencial dos fluxos da cooperação chinesa, das trocas comerciais e dos projetos de investimento, estimando a autora que este comércio e investimento sejam responsável por 1 a 2% do crescimento económico de África entre 2005-2010 (Ferreira, 2010). Em muitos países, como é o caso de Angola, o investimento chinês tem permitido o país dotar-se de infraestruturas básicas imprescindíveis ao desenvolvimento ou encetar processos de reconstrução mais rápidos (Ferreira, 2010).

Medidas de reestruturação, visando a recuperação de infraestruturas básicas e a reanimação económica como instrumentos de desenvolvimento do país, foram prioridade do governo de Angola, após o conflito e o restabelecimento da paz. Porém, dificuldades estruturais sintetizadas na escassez de recursos financeiros, na qualificação humana, na pobreza e na situação no quadro do mundo global, não lhes foram favoráveis. Daí o recurso à área de cooperação multilateral através do Clube de Paris e do Fundo Monetário Internacional (FMI) mas, fatores discordantes como a transparência na aplicação dos recursos provenientes do petróleo e a “boa governação” impediram a sua continuação. O estabelecimento dos acordos de cooperação bilateral para recuperação de infraestruturas, tendo como fator conjuntural o preço do petróleo enquanto responsável pela aproximação de Angola e da China, surgem neste contexto.

Desta forma, parece pertinente e oportuno investigar o contributo da China ao desenvolvimento de Angola e consequentemente ao de África, no período em causa. Apesar do relativamente importante crescimento económico do país nos últimos anos existe pouca investigação que o explique e valide. Neste contexto, quer em termos académicos, quer em termos empresariais ou nacionais, justifica-se estudar a temática da cooperação Angola-China, nomeadamente conhecer o contributo para o desenvolvimento do apoio que a China tem prestado em Angola, sendo esse o propósito do presente trabalho.

(16)

1.2 Tema e Objetivos de Investigação

A partir da opinião de alguns dos principais intervenientes, este trabalho tem como objetivo

principal conhecer as repercussões económicas e sociais geradas no desenvolvimento de

infraestruturas no período 2010-2011 da cooperação entre Angola e a China. Mas especificamente pretende-se conhecer o papel da China no âmbito da construção dessas infraestruturas e o seu impacto no processo de reconstrução de Angola. O tema justifica-se por justifica-ser um assunto pertinente para o país e também pelo justifica-seu interesjustifica-se internacional.

Constituem ainda objetivos específicos da investigação:

 Conhecer a intervenção chinesa na criação de infraestruturas na zona em estudo, nomeadamente os investimentos de reconstrução;

 Identificar as razões do investimento chinês em Angola: responder aos objetivos do governo ou captação de recursos para a China;

 Identificar a criação e/ou estabelecimento de empresas privadas em Angola resultantes do investimento chinês anteriormente mencionado;

 Identificar se o investimento chinês está associado à melhoria dos indicadores de desenvolvimento económico e social;

 Reconhecer as potencialidades e debilidades da cooperação Angola-China, assim como as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças.

1.3 Procedimento Metodológico

Para Sangreman (2009) não existe, a nível internacional, uma metodologia consensual de análise da cooperação internacional para o desenvolvimento, variando muito os métodos usados. Ainda assim o autor considera de desejável interesse ter uma metodologia unificada que permitisse uma análise comum de todos os atores/intervenientes quer numa ótica política quer técnica, aumentando a coesão entre eles.

(17)

Numa perspetiva académica, existe grande diversidade de procedimentos metodológicos disponíveis para a realização de um processo de pesquisa, tendo-se optado pela pesquisa aplicada e pela criação de conhecimentos direcionados para a solução de problemas específicos (Cervo e Bervian, 1983) e pela pesquisa exploratória e descritiva (Cervo e Bervian, 1983, Vergara, 2004), com corte transversal.

A pesquisa é exploratória porque o propósito do estudo é descrever e clarificar conceitos em cujo domínio existe pouco material bibliográfico. Embora seja um tema atual, não existe muita informação desagregada sobre o problema em estudo, sobretudo em Angola. São igualmente escassos ou nulos os estudos e as informações cientificamente produzidas que atendam às necessidades da investigação em causa.

Trata-se de uma investigação teórica e documental a complementar com um estudo empírico e recolha de dados. O trabalho será realizado na perspetiva de uma “pesquisa descritiva”, com o exame do estado atual na zona envolvente a estudar que é, mostrar a intervenção chinesa sobre a criação de infraestruturas e o seu impacto no desenvolvimento económico e social.

A pesquisa é de corte transversal uma vez que a recolha de dados ocorreu num determinado momento (prevalência) e não ao longo do tempo (incidência). Não houve a intenção de avaliar as variações com o decorrer do tempo.

Para a realização deste estudo foi adotada uma metodologia de investigação de tipo qualitativo, pois as suas características apontaram-na como particularmente adequada para a investigação que se pretendia realizar.

O instrumento de medida utilizado ou técnica de recolha de dados primários foi a entrevista aos principais intervenientes, nomeadamente, na cooperação, na criação de infraestruturas, na criação/angariação de empresas privadas mas também de outros responsáveis políticos, académicos e especialistas. A análise da informação foi realizada em função do objetivo de estudo por meio de análise dos conteúdos. Os resultados da análise das entrevistas são apresentados através de figuras e quadros e de explicações no contexto do estudo e as principais conclusões retiradas.

(18)

1.4 Estrutura e Organização do Trabalho

A dissertação está dividida em capítulos e subcapítulos, encontrando-se estruturado do seguinte modo:

Capítulo I – Introdução, onde se faz o enquadramento do tema, se definem os objetivos a atingir e, se apresentam resumidamente a metodologia utilizada e a estrutura e organização do trabalho.

Capítulo II – Enquadramento teórico, incidente quer no paradigma de cooperação internacional e nas escolas, pensamentos e discursos mais significativos da economia do desenvolvimento e das Relações Internacionais, quer, mais especificamente, na cooperação entre Angola e a China. Ou seja, é revisto o quadro teórico da cooperação para o desenvolvimento (teorias, períodos marcantes e preocupações para o século XXI) assim como comparadas as visões ocidental e chinesa e a cooperação entre a China e África. É ainda revista a história recente de Angola (movimentos de libertação e seu relacionamento com a China) assim como feitas as caracterizações económica e social do país e da cooperação bilateral Angola-China e a análise das linhas de crédito disponíveis assim como das potencialidades ao comércio e ao investimento privado.

Capítulo III – Metodologia Aplicada: neste capítulo descrevem-se as diversas fases que constituem o desenho da investigação, de modo a alcançar os objetivos propostos. Referenciam-se e caracterizam-se os processos de recolha de informação e o instrumento de investigação aplicado assim como o tratamento e análise dos dados realizados.

Capítulo IV – Contributo e Impacto da China no Desenvolvimento de Angola: neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos na investigação, nomeadamente o impacto social e económico da construção e recuperação de infraestruturas, o progresso registado na economia e na sociedade – na ótica dos benefícios económicos gerados e da redução da pobreza conseguida. Assim como efetuada uma comparação da perspetiva e da prospetiva com a realidade.

(19)

Capítulo V – Considerações Finais: neste capítulo são apresentadas as principais conclusões sobre o impacto da cooperação Angola-China na construção de infraestruturas e no desenvolvimento social económico, assim como as limitações e as recomendações de pesquisa futura resultantes do trabalho realizado.

(20)

Capítulo II – Enquadramento Teórico

Neste capítulo faz-se o enquadramento teórico da temática em estudo, fazendo referência quer à Cooperação Internacional, quer à cooperação Angola-China. Numa primeira parte, procede-se à caraterização do conceito e objetivos da cooperação internacional a que se segue a sua contextualização quer na ótica da economia do desenvolvimento e correspondentes teorias, quer na ótica das relações internacionais e correspondentes normativas. A segunda parte incide na cooperação económica entre Angola e a China.

2.1 A Cooperação Internacional

As relações internacionais amigáveis não se desenrolam apenas no quadro da reciprocidade (relações diplomáticas, consulares, diplomacia ad hoc), no qual os interesses de um Estado são satisfeitos pela conduta de outro Estado, e vice-versa. Desenvolvem-se também através da coordenação de seus esforços, sobretudo em matéria económica, social, cultural e militar (Caetano, 2002).

Com efeito, a necessidade de promover o desenvolvimento económico e social, de preservar a paz mundial, a luta pela pobreza, o trabalho forçado, as epidemias, o narcotráfico e, o analfabetismo, leva os Estados a desenvolver relações de cooperação, conceito que tem sido interpretado de várias formas.

A cooperação internacional com vista ao desenvolvimento representa o objetivo e o dever comum de todos os países. Ou seja, o bem-estar político, económico e social das atuais e futuras gerações, depende mais do que nunca, da existência entre todos os membros da comunidade internacional, de um espírito de cooperação baseado na igualdade soberana e, na supressão do desequilíbrio que existe entre eles. (Caetano, 2002, p.89).

2.1.1 Conceito, Objetivos e Princípios Gerais

A cooperação internacional é a parceria entre dois ou mais Estados em vários domínios com objetivo de ganhos e benefícios mútuos. Trata não apenas da política de ajuda

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económica ou cultural a países em vias de desenvolvimento, mas também do estreitamento de laços em vários domínios da vida económica, política, social, cultural, científica e tecnológica entre países, para a prossecução de objetivos comuns no quadro bilateral e multilateral. A cooperação é assim um meio para se chegar a um determinado fim e, não um fim em si mesma (Dougherty e Altzgraff, 2003).

A cooperação tem sido definida como um conjunto de relações que não estão baseadas na coação ou no constrangimento, mas legitimadas através do consentimento mútuo dos intervenientes. É com base nisto que os Estados podem desenvolver relações de cooperação em função dos seus interesses, circunscrevendo a sua participação em organizações internacionais ou em outras formas de cooperação que têm haver com os regimes internacionais, definidos como conjunto de regras, regulamentos, normas e processos de tomada de decisões consensuais, no seio dos quais os Estados procuram dirimir certas questões e em torno dos quais convergem as expetativas do ator (Dougherty e Altzgraff, 2003, p.642). A cooperação como ato de cooperar tem o objetivo de realizar um projeto ou acordo entre dois ou mais Estados.

Com o passar do tempo a política de cooperação económica foi aumentando e atualmente já é visível em diferentes países o desenvolvimento cada vez maior desta política. Angola, por exemplo, tem parceria com vários países e não só economicamente, mas em diferentes áreas. Em cada um destes países o governo angolano procura não só o benefício próprio, mas o benefício de ambas as partes.

De acordo com os fundamentos teóricos e ideológicos da cooperação, existem três princípios gerais da cooperação internacional que são: os princípios da igualdade, solidariedade e reciprocidade.

Princípio da Igualdade

Sob o ponto de vista do Direito Internacional Público e, de acordo com o artigo 2°, ponto 1, do capítulo I, sobre os princípios e objetivos das Nações Unidas, todos os Estados são iguais, mas na realidade o mundo é governado por desigualdades. Vários fatores estão na base dessas desigualdades dentre os quais se destacam os fatores

(22)

geográfico, demográfico, económico, tecnológico e, militar influenciando grandemente as relações entre Estados, tanto no âmbito bilateral como no multilateral.

A igualdade, que serve apenas para tornar as relações entre países mais credíveis, é vista em duas, a igualdade na independência política e, a igualdade das possibilidades económicas. Em relação a esta última, ela consiste em acordar os mesmos direitos e deveres a todos Estados sejam quais forem os seus poderes e riquezas (Katond, 1998).

Contudo, esta acepção tem sido interpretada de maneira diferente pelos países subdesenvolvidos, pois, estes acreditam que a mesma não toma em consideração a desigualdade material, acrescentando para tal algumas correções que levam a um tratamento diferenciado e mais favorável para aquele grupo de países, implicando uma discriminação positiva e, a ação afirmativa, que se traduz no sistema de dualismo de normas.

Este sistema que consiste em conceder algumas vantagens sem contrapartida, aparece assim como a expressão da vontade dos Estados em operar transformações nas normas que regem as relações internacionais e adapta-las á situação económica dos países em desenvolvimento.

Princípio da Solidariedade

Trata-se do complemento do primeiro, pois na cooperação é preciso que haja um sentimento de caminhar em conjunto, tanto no bem como no mal, ou em situações favoráveis ou desfavoráveis. A solidariedade implica uma espécie de progressão conjunta, apesar de muitas vezes haver uma solidariedade no sentido único. O essencial da filosofia que norteia este princípio está consagrado no artigo 1°, ponto 3, capítulo I, da Carta das Nações Unidas, sobre os princípios e objetivos, onde os membros comprometem-se a realizar a cooperação internacional, resolvendo os problemas internacionais de caráter económico, social, cultural ou humanitário, promovendo e estimulando o respeito pelos direitos do homem e, pelas liberdades fundamentais para todos sem distinção de raça, sexo, língua ou religião (ONU, 1945).

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Princípio da Reciprocidade

É mais um princípio meramente diplomático do que da cooperação, pois quando um ator entre em relação com o outro, o primeiro aguarda a mesma atitude do segundo. Nas relações de cooperação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, não existe reciprocidade em virtude de estarem em pé de igualdade, razão pela qual na maior parte das vezes tem existido na cooperação um desequilíbrio de vantagens em detrimento dos países em desenvolvimento, implicando assim uma relação de dependência, enquanto entre países ricos há um equilíbrio de vantagens (Katond, 1998).

2.1.2 Teorias da Cooperação Internacional

Para além da guerra, da fragmentação política e do conflito, outra das principais questões abordadas pela teoria da cooperação internacional é a cooperação, a integração e a paz. Como e porquê cooperam os Estados, desenvolvem processos de integração e relações pacíficas? Quais as razões que levam os Estados a juntarem-se em associações cooperativas do tipo das alianças e coligações? Quais são as condições que determinam momentos de avanço, mas também de retrocesso, em organizações regionais do tipo da União Europeia (Dougherty e Altzgraff, 2003, p.641).

A cooperação internacional pode ocorrer em resultado de ajustamento dos atores e em resposta, ou por antecipação das preferências de outros atores. A cooperação pode ser concertada num processo de negociação quer explícito quer tático. Ela pode resultar de uma relação entre um ator mais forte e um mais fraco. O poder hegemónico contribui assim para o comportamento cooperativo ao fornecer a base para a realização de vantagens mútuas sob a forma de mercados em expansão ou proteção militar. Aos Estados podem desenvolver relações cooperativas em resultado da sua participação em organizações internacionais e em outras formas de cooperação como os regimes internacionais, definidos como conjunto de regras, regulamentos, normas e processos de tomada de decisões consensuais, no seio dos quais os Estados buscam ultrapassar determinadas questões em torno dos quais não divergem as expetativas do ator.

A questão de saber como e porquê os Estados definem os seus interesses em termos que incluem a participação em instituições internacionais, coligações e alianças representa um vasto campo para a teorização. Dado que a cooperação internacional ocorre

(24)

necessariamente, num cenário descentralizado desprovido de instituições e de normas eficazes para regular as relações entre as unidades culturalmente diferenciadas e geograficamente separadas, torna-se essencial separar os problemas que resultam de uma inadequada troca de informações acerca das motivações e intenções das várias partes.

A repetição frequente das interações, o desenvolvimento de uma maior comunicação e transferência entre os estados sob a forma de intercâmbios de informação acerca dos objetivos da cooperação e o desenvolvimento das instituições em que tais padrões cooperativos podem ser materializados, constituem ingredientes de uma teoria da cooperação baseada no egoísmo dos interesses e no contexto de um sistema internacional anárquico (Dougherty e Altzgraff, 2003).

Para os realistas, os princípios morais universais não podem ser aplicados a situações específicas, ao contrário, a ação política tem de ser julgada em função do cumprimento do objetivo básico que consiste na garantia do interesse nacional, o que significa, em última instância, a sobrevivência do Estado. Para os utopistas, os padrões morais universais fornecem a base para a avaliação do comportamento do Estado.

As teorias de cooperação e integração internacional propõem-se a explicar o comportamento num contexto descentralizado em que os Estados enfrentam problemas que exigem soluções que ultrapassam o próprio Estado. Isto inclui os setores funcionais específicos como a política comercial, para a qual se acredita existir a necessidade de promover comportamentos cooperativos. Estas funções são tidas no sentido de transcenderem a capacidade de que o Estado-nação dispõe para chegar, unilateralmente a soluções satisfatórias. Desta forma, os Estados têm interesse nas relações cooperativas que conduzem a soluções aceitáveis por todos, para problemas comuns.

Para além da política comercial, a agenda de assuntos que apelam para ações cooperativas inclui por exemplo, o ambiente, as telecomunicações, a imigração, a saúde, o investimento, a política monetária e, a segurança das linhas aéreas. Em contrate com a política de segurança militar, aquilo que é tido como alta política e que, merece grande

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atenção por parte da teoria realista, diz-se que esta outra agenda é composta por assuntos que consistem a pequena política.

Em vez da questão da natureza do conflito numa sociedade anárquica, a atenção vai aqui para as circunstâncias que fazem com que os Estados optem pela cooperação funcional em assuntos específicos em relação aos quais partilham interesses comuns e que não podem ser resolvidos unilateralmente pelo Estado-nação se, se quiser que todos beneficiem.

A teoria da cooperação assenta em dois princípios fundamentais: o funcionalismo e o neofuncionalismo.

A teoria funcionalista da integração assenta num postulado utilitarista e é orientada essencialmente para a ação. Esta teoria considera que o caminho mais seguro para a integração e para a paz é, o da cooperação ao nível de certas tarefas funcionais de natureza técnica e económica e, não o da criação de novas estruturas institucionais no plano político. Nesta perspetiva, as organizações internacionais funcionais, adaptadas as necessidades constantes em mudança, estariam mais aptas do que os próprios Estados a desempenhar determinadas tarefas e, através da sua atividade, congregariam gradualmente as lealdades nacionais e afastariam qualquer suspeita do controlo supranacional. Para o funcionalismo, a cooperação baseada nas necessidades funcionais deveria permitir, a longo prazo, uma verdadeira unificação de natureza política.

A doutrina funcionalista articula-se em cinco princípios fundamentais que são:

1. Não-territoriedade da autoridade. Ao contrário das noções de política e de território que são entendidas no sentido de que a lei se dirige as populações de um dado território, o funcionalismo pretende dissociar a autoridade da audiência territorial. A autoridade é funcional, é concebida em função da atividade específica. A cooperação funcionalista da autoridade permite a sobreposição ou a intersecção de diversas autoridades: interesses comuns podem ser geridos a nível local (a navegação num rio internacional, por exemplo), a nível regional (a produção do carvão e aço, por exemplo), ou a nível mundial (a aviação civil, por exemplo) (Dougherty e Altzgraff, 2003).

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2. Separação entre as competências propriamente políticas (defesa, política externa) e, as competências técnico-económicas. A perspetiva funcionalista olha para as relações internacionais em termos de necessidades comuns ou de problemas a resolver em conjunto pela cooperação internacional. Alias, o conceito de necessidades socioeconómicas comuns é um conceito axial da doutrina funcionalista.

3- Carácter utilitário de obediência e, portanto o seu fracionamento possível. Este dogma funcionalista pretende que a obediência das populações se dirija para as organizações internacionais, que satisfarão melhor as suas necessidades materiais comuns. A lealdade da era funcionalista distingue-se da lealdade tradicional, que se concentra num determinado Estado.

4- Ramificação ou transferência de um domínio para o outro do hábito de cooperação intergovernamental. Conseguida num dado domínio, esta prática é suscetível de se propagar automaticamente a outros domínios da ramificação, que permite a passagem da cooperação em matérias políticas. Deste modo, parece contraditório com o princípio da separação das duas ordens de competências mas de facto não o é, por essa separação ser de ordem tática ou instrumental e o princípio da separação derivar de um princípio de simples prioridade (não de exclusividade) da cooperação internacional.

5- Procura de uma estratégia da paz internacional. Para o funcionalismo, a estratégia da paz internacional consiste em tirar o máximo proveito do potencial integrador das matérias socioeconómicas. Não se trata de construir a paz por uma relação de discussão, mas de suscitar a paz pela gestão comum ou internacional das necessidades técnico-sócio-económicas, pela criação de solidariedades internacionais crescentes, que se traduzirão numa erosão gradual das soberanias político-territoriais.

A teoria funcionalista da integração foi complementada com os trabalhos dos chamados neofuncionalistas, nos quais se consta uma tendência de aplicação empírica dos postulados funcionalistas, que levou ao reconhecimento da importância da dimensão política (e nomeadamente da escolha de decisões políticas), em todo o processo de integração e, por conseguinte, da ausência de uma passagem automática da cooperação e da organização funcional a integração política.

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A teoria neofuncionalista da integração foi desenvolvida essencialmente por Haas (1961) e Lindberg (1963). É a partir da experiência da comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), que Ernest Haas (1958) elabora a sua teoria da integração funcional. Para Haas (1961), a integração internacional é, o processo pelo qual os atores políticos de diferentes comunidades nacionais são levados a reorientar as suas lealdades, as suas aspirações e as suas atividades políticas para um novo centro, cujas instituições possuem, ou procuram possuir competências que sobrepõem as dos Estados nacionais preexistentes (Dougherty e Altzgraff, 2003). Ainda segundo Haas (1961), um dos principais teóricos do neofuncionalismo, a integração não são as questões técnicas que iniciam o processo de integração mas questões políticas e económicas, considerando haver quatro motivações principais para integração: segurança comum, desenvolvimento económico e bem-estar social, o controlo dos seus aliados menores por um Estado mais forte e, a vontade comum de unificar as sociedades.

Haas (1961) sustenta que a integração ocorre a partir de um núcleo central que avança com o aprofundamento do processo de integração, criando instituições supranacionais e a mobilização de outros atores as sociedade interessadas na cooperação. Ou seja, o autor introduz neste contexto, o conceito do spill over que através de um núcleo funcional provoca estímulos à integração de novos atores e setores no processo. Consequentemente, para haver sucesso da integração deve existir um compromisso ideológico que induz quer a partilha de valores e de interesses, quer, a transferência gradual de lealdades dos atores domésticos para uma Organização Internacional, com expetativa de benefícios futuros. Assim, a integração económica desencadeia um processo de politização gradual, onde as decisões tomadas pelas instituições centrais levam os diversos grupos a organizarem-se e, permitindo alargar progressivamente a dinâmica ascendente da integração a grupos não incluídos na origem, a outros setores económicos e políticos e, mesmo, a países terceiros. Chegado ao seu termo, o processo de integração pode conduzir à criação de um novo Estado.

Para Lindberg (1963 e 1971), a integração é o processo pelo qual os Estados renunciam ao desejo e a faculdade de conduzir independentemente uns dos outros a sua política

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externa, assim como as suas principais políticas domésticas e, procuram tomar decisões em conjunto ou delegar o processo de decisão a um novo órgão central.

A diferença entre o funcionalismo e o neofuncionalismo é manifesta. A primeira doutrina dilui as soberanias existentes esquartejando-as entre múltiplas organizações intergovernamentais, enquanto o neofuncionalismo mina as soberanias políticas existentes pela reconstrução de uma nova soberania a nível superior. Na doutrina neofuncionalista, a conceção do poder político é territorial, o objetivo é de recriar progressivamente um superestado com expressão territorial.

Os agentes motores dos processos de integração política pela via neofuncionalista são elites socioeconómicas, enquanto o funcionalismo tradicional dá ênfase ao desenvolvimento progressivo de uma lealdade universal popular as organizações de cooperação internacional. Por outro lado, se o fundamento da doutrina funcionalista é a satisfação das necessidades socioeconómicas comuns, a teoria neofuncionalista procura, pelo contrário, tirar partido da competição entre diversos interesses setoriais e das suas combinações sucessivas.

Os funcionalistas retomam do funcionalismo clássico os princípios da separação das duas ordens de competências e a prioridade das matérias socioeconómicas, bem como o princípio gradualista da engrenagem, mas enquanto a doutrina funcionalista pressupõe que a formação de uma comunidade política é uma consequência natural da cooperação técnica, os neofuncionalistas defendem que o aspeto necessita de ser articulado com a cooperação técnica mediante a criação de instituições centrais.

2.1.3 Cooperação Internacional e Economia do Desenvolvimento Para a economia do desenvolvimento o papel da cooperação internacional foi evoluindo conforme as teorias dominantes, das quais, as mais generalizadas são: a) a do pensamento de base dualista; b) a do desenvolvimento por etapas; c) a do desenvolvimento equilibrado/desequilibrado; d) as propostas neoclássicas; e) a teoria estruturalista; f) a escola da dependência; g) a teoria do sistema – mundo e, g) outras teorias e estratégias.

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Segundo Lerner (1968), a teoria da modernização pôs a tónica do desenvolvimento como parte integrante num processo de transformação da sociedade o qual não pode apenas ser analisado com base em variáveis económicas. Outros autores (Weber, 1864 – 1958, Redfield, 1897 - 1958, Eisenstadt, 1923 - ou Hoselitz, 1913 -) defenderam a sociedade ocidental (Europa e Estados Unidos da América) como modelo de desenvolvimento a seguir pelos países ainda não desenvolvidos (Sangreman, 2009). Neste contexto, a função da cooperação internacional seria dotar os países menos desenvolvidos de recursos para atingirem, num determinado período de tempo, o padrão ocidental.

Para a escola de tendências dualistas (Lewis, 1954, Mynt,1964, Higgins, 1959 e Harris, e Todaro, 1970) o desenvolvimento é entendido como um sistema com seções que funcionavam com cargos e a ritmos diferentes no provimento de capital, na mão-de-obra e nas poupanças. A cooperação internacional era responsável pelo fornecimento de capital para investimento através do aumento da poupança interna e das divisas necessárias para equilibrar as contas correntes com o exterior.

Em alternativa à teoria da história moderna de Karl Marx e pressupondo que viria a existir uma duradoura satisfação de bens de consumo, Rostow (1960), estruturava o desenvolvimento das sociedades nas seguintes fases: a) sociedade tradicional; b) existência de condições prévias para o impulso inicial (take-off); c) o impulso inicial (take-off); d) o caminho para a maturidade; e) a era do consumo em massa. O surgimento desta teoria, coincidindo com os processos de independência de muitos países africanos colonizados por belgas, inglesas e francesas, foi determinante do pensamento sobre as estratégias de cooperação internacional a seguir nesses países (Sangreman, 2009).

Anteriormente, a ausência de poupança e, em consequência, de investimento fora sustentada por Nurske (1953) para justificar a necessária intervenção externa em países menos desenvolvidos em virtude destes não conseguirem transitar para as etapas de desenvolvimento com base apenas nos seus recursos internos. Contudo, pela necessidade de capital implícita no investimento e sua escassez em países menos

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desenvolvidos, Hirschman (1958) crítica esta teoria apesar de considerar que não deve haver demasiadas diferenças na proporção de crescimento entre setores. Chenery et al. (1974) evidenciam preocupações sociais considerando que, na teoria económica, crescimento não é sinónimo de desenvolvimento equitativo. No crescimento económico associado à industrialização, o combate à pobreza e a promoção do bem-estar em geral são as estratégias preconizadas, para as quais contribuem a criação de emprego, a qualificação da mão-de-obra, o acesso a bens materiais, os direitos humanos e a maior participação das mulheres (Sangreman, 2009). A lógica dos projetos de ajuda setoriais e de estratégias como as de controlo de nascimentos, da introdução de tecnologias de alta intensidade de mão-de-obra, de atenção às atividades informais e à agricultura tradicional, de programas de desenvolvimento de bairros de acolhimento de migrantes rurais, de energia, de transportes, de infraestruturas, de telecomunicações e de projetos de desenvolvimento rural integrados, bem como de projetos de melhoria habitacional, saneamento, educação e saúde, entre outros, surgem no entendimento de um desenvolvimento equilibrado entre diferentes setores e os níveis de endividamento dos países em crescimento resultantes dos empréstimos externos de capital (Sangreman, 2009).

A crise da dívida externa e as subidas do preço do petróleo vieram modificar, de forma marcante o panorama então existente, fortalecendo as teorias neoliberais. Nestas, havia o entendimento da economia como a importante força impulsionadora do desenvolvimento e o equilíbrio macroeconómico e financeiro como um objetivo a atingir, cuja execução era feita através de programas e lógicas de funcionamento de organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM). O denominado Washington Consensus passa a determinar a matéria da cooperação internacional para o desenvolvimento (Sangreman, 2009), embora o autor da expressão, Williamson (1993), defendesse que, no atingir desse consenso, as questões sociais, pouco tinham sido consideradas. Afirmava ainda este autor a necessidade de reorientar o uso das despesas públicas para áreas prioritárias com mais rentabilidade económica e com mais potencial para melhorar a distribuição de rendimento, tais como cuidados de saúde primária, educação básica e infraestruturas Williamson (1993) e, questionando inclusivamente mais tarde, a eficácia do consenso Williamson (2002).

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Quer o pensamento de Friedman (1976) e Stigler (1982) da Escola de Chicago, quer as teorias neoliberais (Balassa, 1971, Krueger, 1974, Bauer, 1981, Little, 1982 e, Lal, 1985), defendem que a causa central do fraco crescimento dos países menos desenvolvidos e do agravamento das consequências económicas resultantes de falhas do sistema de mercado, está no excesso de intervenção estatal, face à distorção dos preços, por práticas de “rent seeking” (Krueger, 1974, Bhagwati, 1982 e Colander, 1985), ou de outras formas de apropriação de recursos por parte dos grupos sociais dirigentes do Estado (Sangreman, 2009). Registos de operacionalização destes conceitos são patentes nos programas de ajuda internacional do BM, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) em países como a Costa do Marfim, Senegal e o Quénia (1981-845), Guiné-Bissau, Gana, Senegal, Togo e Madagáscar (1984-1986), Camarões e Madagáscar (1986 até 1989/90) e, a partir de 1990/91, em muitos outros países africanos e com uma maior atenção às variáveis sociais. Até 1987, quer o FMI, quer o BM consideravam as questões sociais como resolúveis pela evolução das variáveis económicas (Sangreman, 2009).

A crise financeira na Ásia e os relatórios do BM e da UNICEF (The United Nations Children's Fund) ou de outras instituições demonstrando a manutenção ou aumento dos níveis de pobreza em países como a Indonésia, Tailândia ou Coreia do Sul, vem colocar em evidência a reduzida eficácia e sucesso da cooperação. Inclusivamente as avaliações mais positivas realizadas pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento - CNUCED (ONU, 2002), retiram conclusões que apontam também para o aumento da pobreza em alguns contextos. Tal situação sustenta a mudança conceptual de posicionamento da ajuda internacional do BM e FMI, que assumem iniciativas como o perdão da dívida aos países cujo pagamento desta comprometia o seu desenvolvimento e a luta contra a pobreza como o objetivo da cooperação internacional. Esta estratégia foi designada por Monterrey Consensus, mais tarde concretizados pela aprovação pela Assembleia Geral da ONU, de metas globais designadas por Objetivos do Milénio (ODM) e do correspondente financiamento.

Os Objetivos do Milénio (ODM), que obrigam a uma maior responsabilidade no estado que recebe a ajuda face aos compromissos que assumiu com a comunidade

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internacional, integram: a) o aumento das oportunidades dos pobres através do crescimento económico direcionado para os mais vulneráveis; b) a melhoria das capacidades dos pobres para aproveitarem essas oportunidades através de um maior acesso a ativos humanos, físicos e financeiros; c) o aumento da “voz dos pobres”, ou seja, que o imperativo ético do empowerment dos pobres seja claramente assumido; d) a redução da vulnerabilidade dos mais pobres pela construção de redes de segurança social; e) a ligação forte entre a boa governação e as políticas de desenvolvimento concebidas pelos países recetores com os modelos adaptados aos países como referencia; e, f) o condicionamento ex-post, ou seja, o financiamento da cooperação para o desenvolvimento fica dependente da execução das medidas que os próprios países aprovaram (Sangreman, 2009).

A globalização e a expansão das tecnologias de informação e comunicação vêm colocar a tónica da cooperação ao nível dos bens públicos à escala mundial e da controvérsia sobre o seu uso, escassez, transnacionalização e responsabilidade dos Estados. Cook e Sachs (2001) propõem mesmo uma lista de bens de apropriação coletiva que podem ser produzidos à escala regional: ambiente, saúde pública no que respeita a doenças infeto- contagiosas, a dimensão regional da regulamentação e estabilização dos mercados financeiros, a harmonização das políticas, a coordenação do controle de fronteiras, as telecomunicações, a energia elétrica, a investigação agrícola e a biotecnologia e, a Legislação sobre extradição. A paz, é um outro bem público com papel preponderante à qual o Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan tem vindo a dar grande relevo, sustentando a importância da existência de vontade política para ela existir. Daí que, muitos autores defendam que só deve existir cooperação internacional para o desenvolvimento se os regimes políticos dos países recetores funcionarem segundo regras e modelos democráticos, tais como, direitos de propriedade, legislação e aparelho judiciário transparente e honesto, governo eleito em eleições pluripartidárias livres e justas, respeito pelos direitos humanos e, liberdade dos órgãos de comunicação social (Sangreman, 2009).

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2.1.4 Cooperação Internacional e Relações Internacionais

Para as relações internacionais, cooperação significa a ação dos Estados, como atores unitários racionais numa ética de sobrevivência política. Em ausência de uma autoridade global, sejam os Estados mais fortes do ponto de vista militar, económico e financeiro ou menos poderosos num contexto internacional atomístico (ou anárquico), aceitam, desde o início do século XX e sobretudo após a II guerra mundial, instâncias de concertação multinacionais gerais, como seja a Liga das Nações, ou mais circunscritas setorialmente, como o GATT (The General Agreement on Tariffs and Trade). Enquanto Kehoane (1989) justifica a cooperação internacional como um cálculo de custos e benefícios, para Powell (1991), a justificação das ações de cooperação de cada país, assenta sobretudo na maximização dos seus interesses e da sua segurança em relação a outros países.

Quer Haas (1964), quer Mitrany (1976) e as já anteriormente mencionadas escolas funcionalista e neofuncionalista, suportam a cooperação internacional em organizações internacionais orientadas para aspetos não políticos, como sejam, as missões técnicas, de paz, saúde e promoção do bem-estar das populações, entre outros. Para Krasner (1985, citado por Cravinho, 2002), a cooperação internacional é habitualmente integrada na política externa, considerando Keohane (1989) que, para conseguir benefícios da cooperação internacional extensíveis a toda a população, os Estados procuram definir normativas e procedimentos internacionais que diminuam os custos de transação, dessa cooperação. Cravinho (2002) entende essas normas, assim como as distintas críticas aos autores das escolas funcionalista e neofuncionalista, as novas ideias nas Relações Internacionais e a evolução dos regimes como instrumentos para explicar o funcionamento e a evolução de todo o processo de cooperação.

Para os institucionalistas continuadores da visão de cooperação internacional da década de 80, como Keohane (1989), as instituições podem estimular a cooperação entre atores e modificar a relação custo/benefício, orientando-a para zero e distanciando-se da visão dos neo-realistas sobre a natureza do sistema internacional (Waltz, 1979), que considera sempre a procura dos Estados pela maximização dos ganhos. Neste contexto, as organizações orientadas por esta conceção de cooperação poderão ser a base da ordem

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internacional embora, as possibilidades de cooperação possam ser limitadas, a hipótese de formação de redes de instituições internacionais não mude a estrutura do sistema e, o problema da insegurança no sentido militar, se mantenha (Sangreman, 2009).

Embora O’ Neil (2005) considere pouco definidos os sinais de emergência de uma nova teoria de cooperação, outros autores, como Campbell (2002), atestam que esta está a evoluir num processo aberto de participação de múltiplos atores, de uma forma não linear, interdisciplinar e descentralizada, acreditando os mesmos não haver nesses atores apenas motivações racionais de procura de interesses próprios mas também outros motivos de origem mais transcendente, como as incluídas na tipologia de motivações de Sagasti (1999). Nesta tipologia incluem-se as geoestratégicas e de segurança, as políticas, as económicas e comerciais, as de combate a problemas do ambiente, do tráfico de drogas, do crime internacional, da SIDA e do terrorismo e, ainda, as altruísticas, éticas, humanitárias e de crenças religiosas. Por exemplo, não é necessário haver um país sustentado constitucionalmente na demarcação racial para que exista uma norma supranacional contra o apartheid (Klotz, 2002, citado por O’ Neil, 2005).

Atualmente o debate centra-se na relação entre as normas, as ideias e a prática política, havendo consenso no normativo constituído pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovado pela ONU em Dezembro de 1948 que veio, posteriormente, a inspirar a “Carta africana dos direitos humanos e dos povos” e que apenas não contempla as questões do ambiente. Uma interessante listagem das diferentes posições dos países financiadores e recetores da cooperação internacional para o desenvolvimento, pode ser revisto em Piron (2002), num estudo realizado sobre o direito ao desenvolvimento.

Normativas sobre o ambiente vieram a ser concretizadas nas Conferências Internacionais sobre o Financiamento do Desenvolvimento – o início do “Monterrey Consensus” – de Março de 2002 no México e a Declaração do Milénio de 2000, resgatado ou inspirado em Conferências como a do Rio, Cairo, Copenhaga, Paris, Cimeira Europa e Africa (Sangreman, 2009). Nestas conferências participaram ministros de diversos países, organizações financeiras multilaterais, da Organização Mundial do Comércio (OMC), do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento (CAD) da

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Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), dirigentes de empresas e de organizações da sociedade civil de países mais e menos desenvolvidos, sendo alcançado um consenso de medidas e regras práticas num contexto de globalização e de interdependência crescente. Por exemplo, em, 2005 foi produzido um pacto sólido entre países (desenvolvidos, em desenvolvimento e em transição) para aumentar a possibilidade de todos os países atingirem os Objetivos do Milénio aprovados no ano 2000 (Sangreman, 2009). As normas base são a justiça, equidade, democracia, participação, transparência, responsabilidade e abertura, liberdade, paz e segurança, estabilidade no interior dos Estados, respeito pelos direitos do homem, incluindo o direito ao desenvolvimento, um Estado de direito, a igualdade entre sexos, políticas concebidas a partir da economia de mercado e a vontade geral de criar sociedades justas e democráticas (Sangreman, 2009).

Os principais consensos ou paradigmas práticos da cooperação internacional, são, o “Paradigma dos projectos sectoriais”, o “Paradigma do ajustamento estrutural (ou Washington Consensus) ” e o Paradigma da eficácia da ajuda” (ou Monterrey Consensus). O primeiro, o paradigma dos projetos setoriais, assenta em teorias, políticas e modelos da anteriormente mencionada economia do desenvolvimento, em associação à certeza do Estado como única entidade interveniente dominante na cooperação nos países recetores da ajuda (Sangreman, 2009).

Até ao início dos anos oitenta do século passado, a cooperação para o desenvolvimento assentou essencialmente em doações e empréstimos de suporte a projetos de médio e de longo prazo. Contudo, problemas com a dívida externa de muitos Estados, como os da África Subsaariana, conduziram à substituição desta forma de cooperação, sendo adotado o entendimento neoclássico e o apoio através de empréstimos para ajustamento setorial e estrutural, de acordo com a definição do relatório de 1981 do Banco Mundial (Sangreman, 2009). Para além disso, os apoios financeiros estavam ainda condicionados ao acordo sobre um programa de estabilização, surgindo o ajustamento estrutural como apoio a essas transformações e o ajustamento setorial como a sua particularização a atividades e componentes estratégicas passíveis de serem operacionalizadas por essa via. Exemplos destas práticas com empréstimos condicionados a setores de atividade

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são apresentados por Sangreman (2009), na India, nos anos sessenta e na Zâmbia, Quénia e Tanzânia, nos anos setenta.

Segundo Sangreman (2009), o condicionamento é o conceito chave na forma de cooperação entre os atores dominantes (FMI e BM), por um lado e os dominados (Estados Africanos), por outro. Foi aprovado em 1952, por essas organizações, por imposição dos EUA, contra a opinião dos restantes membros e basicamente, consiste na prática de condicionar o acesso aos empréstimos a medidas de política económica aprovadas e executadas pelo Estado requerente. Embora o conceito tenha sido incluído nos estatutos do FMI em 1969, as diretivas que permitiram a sua aplicação real e normalizada são de 1979 (Sangreman, 2009).

Nas últimas décadas do século passado, os conceitos de estabilização e ajustamento estrutural foram amplamente debatidos, quer no seu essencial conteúdo para o desenvolvimento, quer para as políticas económicas e sociais. Após a desagregação da União Soviética, foi inclusivamente incluído no debate, um outro conceito, o de boa governação(Sangreman, 2009). O Washington Consensus que tinha até aí determinado a matéria da cooperação internacional para o desenvolvimento, passa a ser alvo de muitas críticas, inclusivamente pelo seu autor (Williamson, 1993) que questionava o quer o fato dos aspetos sociais terem sido pouco consideradas, quer, a eficácia do consenso (Williamson, 2002). O autor sustentava ainda a necessidade de reorientar o uso das despesas públicas para áreas prioritárias com mais rentabilidade económica e com mais potencial para melhorar a distribuição de rendimento, como sejam a saúde primária, a educação básica e as infraestruturas (Williamson, 19993).

As críticas e o debate internacional surgido, trouxeram a público as diferentes posições dos intervenientes e a competição entre eles, nomeadamente de um lado, o BM e o FMI e, do outro, as Organizações Não Governamentais (ONG) e os atores multilaterais como a agência das Nações Unidas para a promoção da defesa dos direitos das crianças (UNICEF) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Esse antagonismo permitiu a estes últimos ganhar poder e maior acesso aos fundos e, os primeiros (FMI e BM) perder capital social (Sangreman, 2009).

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Em consequência das críticas às regras e normativas da cooperação internacional patentes no Washington Consensus, surgiram diversas propostas de alteração, centradas sobretudo na necessidade financeira da ajuda e na metodologia a usar para melhorar a sua eficácia. O atual paradigma designado de Washington Consensus completado ou de Monterrey Consensus espelha os resultados alcançados (Quadro 1). O Quadro 2 sintetiza as ideias mais importantes do novo consenso.

Quadro 1 – Consensus de Washington e Consensus de Washington completado

Consensus de Washington original Consensus de Washington “completado”

Disciplina orçamental Boa governação nas empresas Reorientação das Despesas Públicas Luta contra a corrupção Reforma fiscal Mercado de trabalho flexível Liberalização das taxas de juros Adesão às normas da OMC

Formação concorrencial da taxa de câmbio Adesão aos códigos e standards financeiros Internacionais Liberalização do comércio Abertura “prudente” da conta capital Abertura ao Investimento Direto

Estrangeiro Taxa de câmbio livre

Privatizações Banco central independente/objetivo inflação Fim do máximo de regulamentações

Administrativas Redes de proteção social

Garantia do direito de propriedade Redução da pobreza em grupos alvo

Fonte: Adaptado de Rodrik, 2009 e Sangreman, 2009

De uma forma genérica, as alterações centram-se a dois níveis. Por uma parte, ao nível dos atores dominantes, ao nível mundial ou nacional, que cedem parte da sua posição a outros atores, sobretudo não estatais, que passam a ter mais poder. Por outra, nos países destinatários da ajuda e nos critérios da sua escolha, onde o criar bem-estar da população é um elemento fundamental (Figura 1).

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Quadro 2 – Novo Consenso: Síntese das Ideias-Chave

O quadro de orientação da intervenção dos agentes da cooperação internacional para o desenvolvimento são os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.

A segurança constitui um aspeto importante na cooperação para o desenvolvimento.

O objetivo principal a atingir até 2015 é o da redução da pobreza para metade (sendo a pobreza definida de acordo com o conceito do Banco Mundial, em que é pobre quem vive com menos de 1 dólar por dia).

O crescimento económico é o instrumento chave na redução da pobreza.

A melhoria dos níveis de educação e de saúde das populações contribui para a redução da pobreza e simultaneamente para o crescimento económico.

O comércio é um motor fundamental de crescimento e as economias necessitam por isso, de ser abertas.

As economias de mercado permitem atingir níveis de crescimento maiores e mais rapidamente. As infraestruturas dos setores produtivos, na água, educação, saúde devem constituir prioridades em termos de despesas públicas.

Os recursos públicos serão geridos de modo mais eficaz e eficiente por instituições transparentes, descentralizadas, responsáveis e orientada para resultados.

Focalização na pobreza e participação social.

A boa governação e boas políticas são fundamentais para crescimento económico e a boa utilização da ajuda ao desenvolvimento.

Para os países com piores desempenhos a ajuda internacional deve basear-se na ajuda humanitária e o apoio ao nível da segurança.

É necessário reforçar os níveis de ajuda ao desenvolvimento.

Parte dos recursos de apoio ao desenvolvimento devem ser destinados ao perdão da dívida dos Países em Desenvolvimento.

Devem ser promovidos outros instrumentos, como os Fundos Globais, para aumentar os níveis de ajuda.

A ajuda ao desenvolvimento deve ser focalizada nos problemas mais graves, a fome, o HIV-Sida e a educação.

A ajuda deve ser gerida preferencialmente pelas organizações multilaterais.

A ajuda ao desenvolvimento deve ser prestada preferencialmente através dos orçamentos nacionais, em vez de projetos individuais, no pressuposto de que os recursos são usados adequadamente. Os países mais ricos devem reduzir os subsídios e promover acesso aos seus mercados por parte dos Países em Desenvolvimento.

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Figura 1 – Pirâmide de Bem-Estar

Legenda: Recursos OAB = Arroz + Outros Alimentos e Bens; Recursos Públicos = Acesso a água, eletricidade, educação, saúde, justiça e direitos humanos; RSFER = Recursos Sociais Família/Etnia /Religião; Terra = Recursos de capital físico para além da Habitação; Empowerment = participação na vida coletiva em liberdade.

Fonte: Proença, 2003

2.1.5 Cooperação entre a China e África

O primeiro contato dos chineses em África começou com as missões diplomáticas da Dinastia Ming e as famosas sete viagens do navegador Zheng He entre 1405 e 1433, que procuravam o comércio e o reconhecimento em nome do imperador chinês em oposição à conquista ou ocupação, em oposição à exploração e conquista pelos europeus (Alden et al, 2008).

Mais recentemente, a importância de China por África pode ser atestada por dois fatos. Por um lado, a reunião promovida pela China no ano 2000, em Pequim, entre ministros africanos e autoridades chinesas para criar um fórum de cooperação China-África (FOCAC). Por outro, por ter realizado em Novembro de 2006, no ano considerado como o “ano da África”, a maior cimeira de sempre entre os dois blocos na capital chinesa onde estiveram presentes delegações de 48 dos 53 países que formam o continente africano (Chichava, 2010). Nesta cimeira, a China prometeu que, até 2009, o número de produtos africanos isentos de tarifas de importação no mercado chinês passaria de 190 para 440 (Harsch, 2007). Contudo, o nível de exportações de África

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Figura 1 – Pirâmide de Bem-Estar
Figura 2 – Relações Comerciais Sino-Africanas e Sino-Angolanas (M$USD)
Figura 3 – Etapas da Pesquisa Qualitativa

Referências

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