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Exposição das crianças ao fumo ambiental do tabaco em casa e no carro

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Academic year: 2021

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EXPOSIÇÃO DAS CRIANÇAS AO FUMO AMBIENTAL DO TABACO

EM CASA E NO CARRO

JOSÉ PRECIOSO 1 ANA CAROLINA ARAÚJO 1

CATARINA SAMORINHA 1 JOSÉ MACHADO 2 ELISARDO BECOÑA 3 SOFIA BELO RAVARA 4 PAULO VITÓRIA 4 MANUEL ROSAS 5 JORGE BONITO 6 HENEDINA ANTUNES 7

1 Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga – Portugal. (e-mail: precioso@ie.uminho.pt; carol_lla@hotmail.com; catarinasamorinha@gmail.com) 2 Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, Braga – Portugal. (e-mail: jcmachado@ics.uminho.pt) 3 Unidad de Tabaquismo, Universidad de Santiago de Compostela – España. (e-mail: elisardo.becona@usc.es)

4 Medicina Preventiva, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade da Beira Interior – Portugal. (e-mail: sbravara@gmail.com; paulo.vitoria@phmais.pt) 5 Divisão da Promoção da Saúde - Câmara Municipal de Viana do Castelo – Portugal. (e-mail: manuelalvesrosas@gmail.com) 6 Universidade de Évora – Portugal. (e-mail: jbonito@uevora.pt) 7 Departamento Pediátrico, Hospital de Braga, Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde, Escola de Ciências da Saúde, Universidade do Minho ICVS/3B’s – Laboratório Associado, Braga/Guimarães – Portugal

(e-mail: henedinaantunes@gmail.com)

Resumo

Introdução: A exposição das crianças ao Fumo Ambiental do Tabaco (FAT) está associada a graves problemas para a sua saúde, tais como maior risco de infeções agudas das vias aéreas inferiores, maior probabilidade de infeções respiratórias de repetição, risco acrescido de infeções nos ouvidos, indução e exacerbação de asma e enfisema pulmonar. A exposição ao FAT é especialmente grave para as crianças asmáticas. Esta exposição ocorre, na maioria dos

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casos, quando os pais e/ou outro convivente fumam no domicílio e/ou no carro.

Objetivos: 1) Determinar a prevalência de crianças expostas ao FAT, em casa e no carro; 2) Determinar a prevalência de crianças asmáticas expostas ao FAT, em casa; 3) Caracterizar o comportamento tabágico dos pais e/ou outros conviventes em casa e no carro; 4) Identificar fatores sociodemográficos associados ao consumo de tabaco em casa.

Metodologia: Estudo observacional descritivo transversal: aplicação de um questionário de auto-preenchimento a 513 alunos do 4.º ano de escolaridade (8-11 anos de idade) do Concelho de Braga no ano letivo de 2010/2011.

Resultados: Estão expostas ao FAT: 27,5% das crianças em casa e 25,1% das crianças que usam o carro. Fumam em casa: 69,8% das mães e 56,8% dos pais fumadores. Fumar em casa é mais frequente nos pais com menor nível socioeconómico (p < 0,01).

Conclusão: A exposição das crianças ao FAT é elevada. Os pais/mães fumam frequentemente em casa e no carro, o que justifica uma intervenção preventiva eficaz, que deverá ser uma prioridade de educação para a saúde, na escola e por parte dos profissionais de saúde.

Palavras-chave: fumo passivo; fumo ambiental do tabaco; hábitos tabágicos; fatores sociodemográficos.

Abstract

Introduction: Children's exposure to Environmental Tobacco Smoke (ETS) is associated with serious problems to their health, such as increased risk of acute lower airway infections, greater likelihood of recurrent respiratory infections, increased risk of ear infections induction and exacerbation of asthma and pulmonary emphysema. Exposure to ETS is especially serious for children with asthma. This exposure occurs in most cases when parents and / or other cohabitant smoke at home and / or in the car.

Objectives: 1) to determine the prevalence of children exposed to ETS, at home and in the car; 2) to determine the prevalence of asthmatic children exposed to ETS at home; 3) to characterize the smoking behavior of parents and / or other cohabitant at home and in the car; 4) to

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identify socio-demographic factors associated with tobacco use at home.

Methods: An observational cross-sectional study was developed: administration of a self-report questionnaire to 513 students from the 4th grade (8-11 years old) in the

municipality of Braga during the academic year of 2010/2011. Results: Exposure to ETS at home was found in 27.5% of children; exposure to ETS in the car was found in 25.1% of children who use the car. Among the smoking parents, 69.8% of mothers and 56.8% of fathers smoke at home. Smoking at home is more common among parents with low socioeconomic status (p < 0,01).

Conclusion: Exposure of children to the ETS is high. Fathers and mothers usually smoke at home and often in the car. These data justify an effective preventive intervention, which should constitute a priority for health education in schools and for health professionals.

Keywords: passive smoking; environmental tobacco smoke; smoking habits, socio-demographic factors.

Introdução

As crianças são particularmente vulneráveis ao Fumo Ambiental do Tabaco (FAT) pois apresentam um menor desenvolvimento das vias respiratórias superiores/inferiores e um sistema imunitário mais imaturo (California Environmental Protection Agency: Air Resources Board, 2005; Pestana et al., 2006). As crianças expostas ao FAT apresentam uma maior taxa de sintomas crónicos relacionados com doença respiratória (tosse, pieira e dispneia) (Lieu & Feinstein, 2002; Pestana et al., 2006), maior risco de infeções das vias aéreas inferiores (pneumonia e bronquite), assim como maior risco de terem crises asmáticas e de ver agravadas as crises pré-existentes (California Environmental Protection Agency: Air Resources Board, 2005; U.S. Department of Health and Human Services [USDHHS], 2006). Estas crianças também apresentam maior frequência de otites médias recidivantes (California Environmental Protection Agency: Air Resources Board, 2005; Pestana, 2006; USDHHS, 2006). Os recém-nascidos, tal como os filhos de mães que fumaram durante a gravidez, apresentam um risco de síndrome de morte súbita infantil cerca de duas vezes superior em comparação com os recém-nascidos não expostos (American Academy of Otolaryngology, 2011; IARC, 2002; Lovasi et al., 2010; USDHHS, 2006; WHO, 2007).

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Um estudo recente, apoiado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), estima que morrem todos os anos no mundo mais de 600 000 não fumadores devido à exposição passiva ao FAT e que 28% destas mortes são crianças (Oberg et al., 2011). O mesmo estudo calcula que a carga da doença causada pelo tabagismo passivo ascende aos 10,9 milhões de Anos de Vida Ajustados por Incapacidade (AVAI’s; Disability Adjusted Life Years - DALYs), dos quais 61% são em crianças (Öberg et al., 2011).

Para além de grave, a exposição de crianças ao FAT é um problema muito prevalente. A OMS estima que cerca de metade das crianças existentes no Mundo (700 milhões) respirem ar contaminado pelo fumo do tabaco, especialmente nas suas casas (Winickoff et al., 2009).

Para além da exposição domiciliar, muitas crianças estão também sujeitas ao fumo passivo no carro. Os veículos motorizados são microambientes onde os passageiros podem estar expostos a elevadas concentrações de FAT se alguém fumar no seu interior (Sly et al., 2007, Jones et al., 2009). A quantidade de partículas nocivas do fumo de tabaco presentes no interior das viaturas varia consoante as características no veículo, tais como a posição das janelas, os níveis de ventilação/ar condicionado e a velocidade de circulação (Ott, Klepeis & Switzer, 2007), bem como o número de cigarros fumados no seu interior (Jones et al., 2009). Um estudo efetuado na Nova Zelândia em 2006, no qual foi medido o nível das partículas perigosas no interior do carro quando uma pessoa aí fumava, revelou que a qualidade do ar dentro do automóvel, é similar ao nível de partículas encontrado num típico bar onde é permitido fumar (Edwards, Wilson & Pierse, 2006). A exposição ao FAT em veículos tem sido associada a um risco superior de pieira (Sly et al., 2007), a níveis mais elevados de sintomas de dependência à nicotina em crianças (Belanger et al., 2008) e a mais incidência de sintomas respiratórios em adultos jovens (Lee et al., 2008). Apesar de todas estas evidências, apenas um reduzido número de países, estados e municípios adotaram medidas para banir o FAT dentro dos veículos (Knapp, 2007).

Um estudo realizado em Portugal, no ano letivo de 2002/2003, numa amostra de 1141 alunos de 12-15 anos de idade, revelou que 38% dos alunos estavam expostos diária ou ocasionalmente ao FAT, originado pelo fumo dos seus familiares mais próximos (pai, mãe ou irmãos) (Precioso, Calheiros & Macedo, 2005; 2006). Dados de um estudo mais recente, de 2006/2007, numa amostra de 237 casais, indicam uma exposição diária ao FAT por 8,7% das mães e 21,3% dos pais (Campos, Precioso, Pereira, & Samorinha, 2008). Apesar da gravidade do problema, em Portugal não existem estudos publicados sobre a exposição das crianças ao FAT no interior das viaturas. Para que medidas de prevenção da exposição de crianças ao FAT sejam estabelecidas e implementadas eficazmente no nosso país é fundamental conhecer a

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realidade sobre a prevalência de crianças portuguesas expostas ao FAT no domicílio e no meio de transporte privado, bem como conhecer os hábitos tabágicos dos principais responsáveis por esta exposição.

Neste artigo são apresentados dados parcelares do projeto de investigação “Prevenção da exposição de crianças ao Fumo Ambiental de Tabaco (FAT) no seu domicílio” (PTDC/CPE-CED/098281/2008), no que respeita à cidade de Braga.

Objetivos: 1) Determinar a prevalência de crianças expostas ao FAT, em casa e no carro; 2) Determinar a prevalência de crianças asmáticas expostas ao FAT, em casa; 3) Caracterizar o comportamento tabágico dos pais e/ou outros conviventes em casa e no carro; 4) Identificar fatores sociodemográficos associados ao consumo de tabaco em casa.

Metodologia Amostra

Participaram no estudo 511 alunos, dos quais 257 (50,3%) são do sexo masculino e 254 (49,7%) do sexo feminino. A média de idades é de 9,2 anos (D.P.= 0,5 anos, Mínimo = 8 e Máximo = 11). Trata-se de uma amostra representativa das crianças escolarizadas do 4.º ano dos Agrupamentos de escolas do ensino básico do Concelho de Braga, selecionada por amostragem estratificada, proporcional e aleatória.

Cerca de 86% da amostra vive em família nuclear (pais e irmão/s ou só pais) (tabela 1). Dos participantes que referiram a escolaridade dos pais, cerca de 56% indicaram que o pai estudou até ao 9.º ano. Também a escolaridade até ao 9.º ano é mais prevalente nas mães (56,4%). Cerca de 72% dos participantes pertencem ao nível socioeconómico mais baixo (classes C e D). Verifica-se que a maior parte dos participantes vivem em cidades (74,6%).

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Tabela 1. Caracterização sociodemográfica da amostra (N=513) Masculino Feminino f % F % NR* % Total % Sexo 257 50,3 254 49,7 2 0,4 511 100,0 Idade (anos) 17 3.3 8 2 100.0 0 0.0 2 9 186 47.7 204 52.3 390 10 54 55.7 43 44.3 97 11 4 57.1 3 42.9 7 0.4 78.6 19.6 1,4 Tipo de Agregado Familiar 2 0,4 Família Nuclear 220 50.0 220 50.0 440

Apenas com a mãe 27 46.6 31 53.4 58

Apenas com o pai 1 100.0 0 0.0 1

Só com outros membros

da família 7 70.0 3 30.0 10 Institucionalizado 2 100.0 0 0.0 2 86.1 11,3 0,2 2.0 0,4 Escolaridade do pai 207 40,4 Até ao 9.º ano 84 49,1 87 50,9 171 Superior ao 9.º ano 81 60,0 54 40,0 135 55.9 44.1 Escolaridade do mãe 169 32,9 Até ao 9.º ano 99 51,0 95 49,0 194 Superior ao 9.º ano 84 56,0 66 44,0 150 56.4 43.6 Nível socioeconómico da família 34 6,6 Classe A e B 59 46.8 67 53.2 126 Classe C e D 174 50.4 171 49.6 345 Estudante 0 0 1 100.0 1 Desempregado/a 5 71.4 2 28.6 7 26.3 72.0 0,2 1,5

Tipo de localidade onde vive 5 1,0 Aldeia 45 40.9 65 59.1 110 Vila 8 42.1 11 57.9 19 Cidade 204 53.8 175 46.2 379 21,7 3,7 74.6 *NR - Não responderam. Tipo de estudo

Estudo observacional transversal descritivo, baseado na aplicação de um questionário de auto-preenchimento.

Instrumento

Foi utilizado um questionário construído e validado para este estudo, constituído maioritariamente por questões de resposta múltipla e quatro de resposta aberta, que pretendem medir as seguintes variáveis:

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- Variáveis sociodemográficas:

• Idade – Variável intervalar, definida em anos;

• Sexo - Variável nominal, definida como sexo masculino ou feminino;

• Tipo de agregado familiar - Variável nominal, podendo assumir as seguintes categorias: “família nuclear”, “vive apenas com o pai”, “vive apenas com a mãe”, “vive só com outros membros da família” ou “vive numa instituição”;

• Escolaridade dos pais - Variável ordinal, definida como o grau de ensino mais elevado atingido pelos pais, com as seguintes categorias: “nunca estudou”, “até ao 4º ano”, “até ao 6º ano”, “até ao 9º ano”, “até ao 12º ano”, “ensino superior” ou “não sei”;

• Nível socioeconómico - Variável ordinal, podendo assumir as categorias: “classe superior” (A), “classe média mais instruída” (B), “classe média menos instruída” (C), “estrato operário e rural” (D), “estudante”, “doméstico(a)”, “reformado(a)” ou “desempregado(a)”. Esta varável foi deduzida através da escolaridade e da profissão dos pais, com base no quadro de posições sociais desenvolvido pelo Grupo de Sociologia da Educação do Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho;

• Tipo de localidade onde vive - Variável nominal, com as seguintes categorias: “aldeia”, “vila” ou “cidade”.

- Exposição das crianças ao FAT no domicílio:

• Fumadores do agregado familiar - Variável nominal, podendo ter uma das seguintes categorias: “não fuma”; “sim, por vezes”; “sim, todos os dias” ou “não sei/não tenho”;

• Permissão de fumar em casa onde vivem as crianças, em relação aos elementos do agregado familiar e às visitas - Variável nominal, podendo ter uma das seguintes categorias: “não fuma”; “sim, todos os dias”; “sim, por vezes” e “não fuma dentro de casa” ou “não sei/não tenho/não vive na minha casa”;

• Compartimentos da casa onde se fuma - Variável nominal, podendo ter uma ou mais das seguintes respostas: “não fuma ou não fuma em casa”; “em varandas ou em jardins da casa ao ar livre”; “à janela ou perto de portas abertas para o exterior”; “cozinha”; “sala de jantar”; “sala de estar”; “casa de banho” e “quartos”;

• Regras relativas a fumar dentro de casa - Variável nominal, podendo ter uma das seguintes respostas: “não se pode fumar em nenhuma divisão dentro de casa”; “pode-se fumar em algumas partes/divisão da casa”; “pode-se fumar em qualquer parte/divisão da casa” e “pode-se fumar apenas em ocasiões especiais”.

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- Exposição das crianças ao FAT no carro:

• Frequência do transporte da criança - Variável ordinal, podendo assumir as seguintes categorias: “mais de 1 hora por dia”; “de 30 minutos a 1 hora por dia”; “de 15 a 30 minutos por dia”; “menos de 15 minutos por dia”; “não costumo andar de carro” e “não sei”;

• Regras sobre fumar dentro do carro - Variável nominal, sendo as categorias: “sim, pode-se fumar”; “sim, pode-se fumar se eu não estiver dentro do carro”; “não, é proibido fumar dentro do carro”; “não costumo andar de carro” e “não sei”;

• Frequência da exposição da criança ao FAT - Variável ordinal, podendo ser: “sim, sempre”; “sim, algumas vezes” e “não fumam quando estou dentro do carro”.

- Sintomatologia respiratória relacionada com a exposição ao FAT:

• Foram colocadas questões relativas à presença de diagnóstico de asma e de sintomas de asma/rinite, assim como relativamente à utilização de medicação para a asma e recurso aos serviços de saúde - variáveis nominais, tendo como respostas possíveis: “sim”; “não” ou “não sei”.

Procedimento

Seleção das escolas, dos participantes e consentimento

As escolas que integraram este estudo foram selecionadas aleatoriamente de uma lista fornecida pelo Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação do Ministério da Educação. Após autorização prévia da Direção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação e do respetivo Diretor dos Agrupamentos, foram contactados os professores coordenadores dos estabelecimentos de ensino e fornecidas indicações sobre o processo: entrega e recolha das autorizações dirigidas aos encarregados de educação e aplicação do questionário em sala de aula.

Aplicação do questionário

Os questionários foram aplicados em contexto de sala de aula, por professores com formação para o efeito ou pela bolseira do projeto de investigação no qual este estudo se enquadra, de acordo com um protocolo que incluía instruções práticas.

Tratamento dos dados

A informação recolhida foi analisada através do programa Statistical Package of Social Sciences, versão 19.0 para Windows. Foram utilizadas frequências, tabelas de contingência e testes de qui-quadrado por se tratar de variáveis de categoria. Na análise

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da relação entre o nível de escolaridade dos pais e mães e o consumo de tabaco no domicílio, a variável “escolaridade” foi dicotomizada (“até ao 9.º ano” e “pelo menos com 10.º ano”). O mesmo procedimento foi adotado para a variável “posição social”, agregando as posições sociais mais altas (A e B) e as posições sociais mais baixas (C e D).

Resultados

Comportamento tabágico dos pais

Constata-se que 17,6% dos alunos da amostra percecionavam que a mãe fumava, 38,3% que o pai era fumador e 11,3% dos participantes afirmaram que ambos os pais são fumadores (Tabela 2). Em 43,6% das famílias, pelo menos uma das figuras parentais fumava.

Tabela 2. Prevalência de mães e pais fumadores, declarada pelos alunos da amostra

Consumo de tabaco no domicílio, na amostra total

Verifica-se que 27,5% dos participantes estavam expostos ao FAT no domicilio, diária (12,5%) ou ocasionalmente (15%), devido ao consumo de tabaco em casa de pelo menos um dos membros do núcleo familiar. Os alunos percecionavam que 10,5% das mães e 19,2% dos pais fumavam diária ou ocasionalmente no domicílio (Tabela 3).

Fumador Não fumador

Familiar n f % IC (95%) f % IC (95%)

Mãe 499 88 17,6 (14,3-20,9) 411 82,4 (79,1-85,7)

Pai 494 189 38,3 (34,0-42,6) 305 61,7 (57,4-66,0)

Mãe e Pai 505 57 11,3 (8,5-14,1) 448 88,7 (85,9-91,5)

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Tabela 3. Prevalência de fumadores regulares e ocasionais no domicílio, declarada pelos alunos da amostra Fuma diariamente no

domicílio ocasionalmente no Fuma domicílio

Não fuma ou não fuma no domicílio

Familiar n f % IC (95%) f % IC (95%) f % IC (95%)

Mãe 488 19 3,9 (2,2-5,6) 32 6,6 (4,4-8,8) 437 89,5 (86,8-92,2)

Pai 478 41 8,6 (6,1-11,1) 51 10,7 (7,9-13,5) 386 80,8 (77,3-84,3)

Irmão(s) 384 5 1,3 (0,2-2,4) 8 2,1 (0,7-3,5) 371 96,6 (94,8-98,4)

Mãe ou pai ou irmão ou outra pessoa com quem vive

506 63 12,5 (9,6-15,4) 76 15,0 (11,9-18,1) 367 72,5 (68,6-76,4)

Outra pessoa que vá a casa

328 24 7,3 (4,5-10,1) 71 21,6 (17,1-26,1) 233 71,0 (66,1-75,9)

Consumo de tabaco no domicílio, entre os pais fumadores

Analisando apenas os dados dos participantes cujos pais e mães são fumadores (Tabela 4), verificamos que 69,8% dos filhos de mães fumadoras percecionava que a mãe fumava em casa: 26,0% diariamente e 43,8% ocasionalmente.

Relativamente aos pais, 56,8% dos alunos filhos de pais fumadores percecionavam que o pai fumava em casa, diária (25,3%) ou ocasionalmente (31,5%).

Constata-se que a percentagem de mães fumadoras que fuma em casa (69,8%) é superior à dos pais (56.8%). O facto de as mães estarem mais tempo em casa do que os pais poderá ajudar a explicar estes resultados.

Tabela 4. Prevalência de mães e pais fumadores, que fumam no domicílio, declarada pelos alunos da amostra Fuma diariamente no

domicílio Fuma ocasionalmente no domicílio Não fuma no domicílio

Familiar n f % IC (95%) f % IC (95%) f % IC (95%)

Mãe 73 19 26,0 (15,9-36,1) 32 43,8 (32,4-55,2) 22 30,1 (19,6-40,6)

Pai 162 41 25.3 (18,6-32,0) 51 31,5 (24,3-38,7) 70 43,2 (35,6-50,8)

As crianças referiram como locais mais frequentemente utilizados para fumar, quer por ambos os pais, quer pelos outros conviventes, a cozinha e zonas próximas de janelas ou de portas abertas para o exterior (Tabela 5).

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Tabela 5. Locais do domicílio mais frequentemente utilizados para fumar

Mãe Pai Irmão(s) Outra pessoa com quem

vive Visitante n f % IC (95%) f % IC (95%) f % IC (95%) f % IC (95%) f % (95%) IC À janela ou perto de portas abertas para o exterior 82 11 28,2 18,5-37,9 36 51,4 40,6-62,2 4 50,0 39,2-60,8 8 61,5 51,0-72,0 23 45,1 34,3-55,9 Cozinha 111 30 76,9 69,1-84,7 41 58,6 49,4-67,8 3 37,5 28,5-46,5 5 38,5 29,4-47,6 32 62,7 53,7-71,7 Sala de jantar 20 4 10,3 0,0-23,6 9 12,9 0,0-27,6 2 25,0 6,0-44,0 3 23,1 4,6-41,6 2 3,9 0,0-12,4 Sala de estar 34 6 15, 4 3,3-27,5 18 25,7 11,0-40,4 2 25,0 10,4-39,6 2 15,4 3,3-27,5 6 11,8 1,0-22,6 Casa-de-banho 20 5 12,8 0,0-27,4 6 8,6 0,0-20,9 2 25,0 6,0-44,0 4 30,8 10,6-51,0 3 5,9 0,0-16,2 Quartos 18 4 10, 3 0,0-24,3 10 14,3 0,0-30,5 1 12,5 0,0-27,8 2 15,4 0,0-32,1 1 2,0 0,0-8,5

Exposição das crianças asmáticas ao FAT, na amostra total

Constata-se que 25,7% dos alunos que declararam ser asmáticos estavam expostos ao FAT no domicílio, diária ou ocasionalmente, devido ao consumo de tabaco em casa de, pelo menos, um dos conviventes (Tabela 6). Verifica-se, ainda, que 23, 8% dos alunos que usam inalador e 26,7% dos que usam medicação para a asma estão expostos. Esses valores estão muito próximos dos que se registam para os alunos que não são asmáticos ou que não tomam medicamentos para a asma.

Tabela 6. Prevalência de crianças asmáticas expostas ao FAT, de pelo menos um dos conviventes em casa.

Pelo menos um dos conviventes fuma em casa

Sim Não Diagnóstico de asma n f % IC (95%) f % IC (95%) p Sim 70 18 25,7 (15,5-35,9) 52 74,3 (64,1-84,5) Não 363 97 26,7 (22,1-31,3) 266 73,3 (68,7-77,9) 0,978 Uso de inalador Sim 63 15 23,8 (13,3-34,3) 48 76,2 (65,7-86,7) Não 394 111 28,2 (23,8-32,6) 283 71,8 (67,4-76,2) 0,570 Uso de medicação Sim 86 23 26,7 (17,3-36,1) 63 73,3 (63,9-82,7) Não 384 106 27,6 (23,1-32,1) 278 72,4 (67,9-76,9) 0,978

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Constata-se que 21,4% dos alunos que declararam ser asmáticos estavam expostos ao FAT no domicílio, diária ou ocasionalmente, devido ao consumo de tabaco em casa de pelo menos um dos pais (pai ou mãe ou ambos) (Tabela 7). Verifica-se, ainda, que 20,6% dos alunos que usam inalador e 25,9% dos que usam medicamentos para a asma estão expostos. Esses valores estão muito próximos dos que se registam para os alunos que não são asmáticos ou que não tomam medicamentos para a asma.

Tabela 7. Prevalência de crianças asmáticas expostas ao FAT por pelo menos um dos pais, em casa

Consumo de tabaco no domicílio por pais fumadores, em função da escolaridade e da posição social

O consumo de tabaco no domicílio não parece estar associado aos anos de escolaridade da mãe (p = 0,525) ou do pai (p = 1,000) (Tabela 8).

Tabela 8. Associação entre fumar no domicílio e a escolaridade dos pais. Consumo de tabaco em casa

Fuma em casa Não fuma em casa

Familiar Escolaridade n f % IC (95%) f % IC (95%) p

Até ao 9. º ano 24 17 70,8 (52,6-89,0) 7 29,2 (11,0-47,4)

Mãe

Pelo menos 10 º ano 27 19 70,4 (53,2-87,6) 8 29,6 (12,4-46,8) 1,000

Até ao 9 º ano 55 35 63,6 (50,9-76,3) 20 36,4 (23,7-49,1)

Pai

Pelo menos 10º ano 40 22 55,0 (39,6-70,4) 18 45,0 (29,6-60,4) 0,525

Pelo menos um dos progenitores fuma em casa

Sim Não Diagnóstico de asma N f % IC (95%) F % IC (95%) p Sim 70 15 21,4 (11,8-31,0) 55 78,6 (69,0-88,2) Não 36 1 79 21,9 (17,6-26,2) 282 78,1 (73,8-82,4) 0,473 Uso de inalador Sim 63 13 20,6 (10,6-30,6) 50 79,4 (69,4-89,4) Não 39 1 88 22,5 (18,4-26,6) 303 77,5 (73,4-81,6) 0,866 Uso de medicação Sim 85 22 25,9 (16,6-35,2) 63 74,1 (64,8-83,4) Não 38 2 83 21,7 (17,6-25,8) 299 78,3 (74,2-82,4) 0,493

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Relativamente à posição social (Tabela 9), verificamos que os pais pertencentes a classes sociais mais baixas (C e D) fumam mais no interior do domicílio (62,8%) do que aqueles que pertencem a classes sociais mais elevadas (A e B) (37,5%), sendo as diferenças estatisticamente significativas (p <0,05).

Tabela 9. Associação entre fumar no domicílio e a posição social dos pais. Consumo de tabaco em casa

Fuma em casa Não fuma em casa

Familiar Posição social n f % IC(95%) f % IC(95%) p

Classes A e B 10 4 40,0 25,2-54,8 6 60,0 38,0-82,0 Mãe Classes C e D 51 38 74,5 61,3-87,7 13 25,5 5,9-45,1 0,057 Classes A e B 26 10 38,5 28,0-49,0 16 61,5 49,7-73,7 Pai Classes C e D 121 72 59,5 48,9-70,1 49 40,5 28,6-2,4 0,080 Classes A e B 32 12 37,5 27,9-47,1 20 62,5 51,2-73,8 Mãe e Pai Classes C e D 137 86 62,8 53,2-72,4 51 37,2 26,0-48,4 0,016

Proibição de fumar no carro

A maioria das crianças referiu ser proibido fumar dentro do carro (Tabela 10). Esta proibição está, significativamente, associada com o facto de os pais serem ou não fumadores (p < 0,001). Cerca de 90,2% dos pais fumadores permite que se fume dentro do carro, sendo que 64,2% autoriza que se fume sem a presença do filho/a. Apenas 9,8% dos pais não fumadores permite que se fume dentro do automóvel e, destes, cerca de 35,9% autoriza que se fume sem a presença do filho/a.

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Tabela 10. Proibição de fumar dentro do carro (filhos de pais fumadores e não fumadores)

Dos participantes que costumam viajar de carro, 25,1% afirmaram estar expostos ao fumo de tabaco na viatura onde costumam ser transportados (Tabela 11).

Tabela 11. Consumo de tabaco no carro, declarado pelas crianças que costumam andar de carro

Consumo de tabaco no carro n % IC (95%)

Não fumam dentro do carro 343 74,9 70,3-79,5

Fumam dentro do carro 115 25,1 16,6-32,2

Discussão

O presente estudo é dos poucos realizados em Portugal a avaliar a prevalência da exposição das crianças escolarizadas (4.º ano do ensino básico) ao FAT no domicílio e o primeiro a avaliar essa mesma exposição no carro, descrevendo o comportamento dos pais, outros familiares e conviventes em relação às regras e restrições de fumar nos ambientes privados citados. É também o primeiro estudo que utilizou uma amostra representativa da população alvo portuguesa, sendo que os resultados apresentados apenas incluem uma sub-amostra do estudo correspondente ao concelho de Braga, e um dos primeiros sobre a prevalência de crianças asmáticas expostas ao FAT no seu domicílio.

A prevalência do consumo de tabaco nos pais, relatada pelas crianças, é elevada, sendo significativamente mais elevada nos pais do que nas mães (38,3% dos pais e 17,6% das mães são fumadore/as diário/as). Constata-se que 27,5% dos alunos estão expostos diária ou ocasionalmente ao FAT, pelo facto de pelo menos um dos membros do núcleo familiar fumar em casa. Um estudo desenvolvido no ano

Filhos de fumadores Filhos de não fumadores

n f % IC (95%) f % IC (95%) p

Proibido fumar dentro do carro 298 91 30,5 40,3-60,9 207 69,5 85,0-93,4

Pode-se fumar quando o/a

filho/a não está no carro 53 34 64,2 5,7-32,1 19 35,9 0,0-20,5

Pode-se fumar 61 55 90,2 18,4-42,8 6 9,8 0,0-15,3

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letivo de 2006/2007, com crianças da mesma faixa etária (Precioso et al., 2010) e avaliando esta mesma variável, apurou uma prevalência de exposição de 38,0%, sugerindo-se que se assiste em Braga a uma diminuição da prevalência de fumadores regulares e ocasionais no domicílio. No entanto, esta diminuição poderá não corresponder a um efeito real, tendo em conta diferenças de amostragem nos dois estudos.

Constata-se que: a) 25,7% dos alunos que declararam ser asmáticos; b) 23, 8% dos alunos que usam inalador e 26,7% dos que usam medicamentos para a asma estavam expostos ao FAT no domicílio, diária ou ocasionalmente, devido ao consumo de tabaco em casa por pelo menos um dos conviventes. Esses valores estão muito próximos dos que se registam para os alunos que não são asmáticos ou que não tomam medicamentos para a asma. Este é um dado relevante, tendo em conta a vulnerabilidade específica e agravada destas crianças (USDHHS, 2006).

Segundo as perceções das crianças, a prevalência de mães fumadoras que fumam diária ou ocasionalmente em casa é superior à que se verifica nos pais. Comparando estes dados com os obtidos num estudo com uma metodologia similar, realizado em Braga, no ano letivo de 2006/2007 (Precioso et al., 2010), verifica-se que a prevalência do consumo de tabaco em casa desceu, em ambos os pais. A tendência para uma prevalência superior de mães a fumar no domicílio, comparativamente aos pais, mantém-se.

Relativamente aos compartimentos da casa, a cozinha é o local mais utilizado para fumar pelos pais/mães fumadores.

Estes resultados são preocupantes e confirmam que o tabagismo dos progenitores e outros conviventes é o determinante mais importante da exposição das crianças ao FAT. Por outro lado, o comportamento tabágico dos pais e a imposição da proibição de fumar ou, pelo contrário, a permissão deste comportamento nos espaços privados da vida familiar modela as atitudes e as crenças normativas das crianças em relação ao tabagismo e é um fator preditor muito importante do comportamento tabágico dos jovens.

Não foi observada uma relação entre o consumo de tabaco no domicílio pelo pai ou pela mãe e a sua escolaridade. Estes resultados são concordantes com os obtidos no estudo realizado no ano letivo de 2006-2007 (Precioso et al., 2010).

Considerando a posição social do casal, verificamos que existe uma associação significativa entre o consumo de tabaco no domicílio pelo casal e a sua posição social. Casais pertencentes à classe social mais baixa (C e D) fumam mais dentro de casa. Este resultado contraria os dados encontrados no estudo realizado no ano letivo de 2006-2007 (Precioso et al., 2010), que colocou em evidência a inexistência de

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diferenças significativas nos hábitos tabágicos no domicílio em função da escolaridade ou da posição social.

Considerando apenas os alunos que costumam viajar de carro, cerca de 25% dos participantes declararam estar expostos ao FAT nesse meio de transporte. Verifica-se que a permissão de fumar no interior das viaturas, sem restrição, é mais prevalente entre os filhos de pais fumadores do que nos filhos de pais não fumadores ou na amostra total.

Conclusão

A exposição das crianças ao FAT em casa e no carro é elevada e está associada com a prevalência de consumo de tabaco pelos pais, com o facto de habitarem com fumadores e com o nível socioeconómico dos pais. Apesar de haver regras para o comportamento de fumar em casa e no carro, estas não evitam a exposição das crianças ao FAT. Especialmente grave é a prevalência de crianças asmáticas expostas. O estudo de Pargana et al., (2001), com vista a determinar a influência da exposição ao FAT e à exacerbação das crises de asma infantil, revelou que o comportamento tabágico dos pais é um relevante fator de risco na saúde das crianças.

Ainda que a natureza do estudo não nos permita concluir a existência de uma relação causal entre asma e a exposição, a prevalência de consumo de tabaco na presença destas crianças é um dado de relevante importância.

Face a estes resultados, é relevante implementar medidas eficazes de controlo de tabagismo, promovendo a adoção de comportamentos que evitem a exposição das crianças ao FAT em casa e no carro, prevenindo a iniciação do comportamento tabágico e apoiando a cessação do comportamento em adultos jovens.

A diminuição da prevalência do tabagismo dos pais será um fator muito importante na prevenção da exposição das crianças ao FAT. As políticas de controlo de tabagismo deverão privilegiar as medidas integradas e dirigidas aos grupos sociais mais vulneráveis. Campanhas de educação para a saúde focando os malefícios da exposição ao FAT e a vulnerabilidade das crianças devem constituir-se como uma prioridade. Neste âmbito, torna-se relevante discutir falsos mitos e crenças associados à exposição, como por exemplo: “fumar no carro, quando a criança não está presente, evita a contaminação pelo FAT” ou “fumar na cozinha ou à janela não expõe a criança ao FAT”. A escola, a comunidade e os profissionais de saúde deverão atuar proativamente e colaborar para que este objetivo seja alcançado.

A nível de políticas de saúde, considera-se imperioso que o legislador proíba o ato de fumar no interior de um automóvel pessoal, tal como já acontece nos transportes públicos.

(17)

A prevenção do consumo de tabaco passa também pela criação e implementação de programas preventivos, como o programa Domicílios Sem Fumo, desenvolvido em Braga, e que está a ser melhorado no âmbito do projeto de que este estudo faz parte. O Domicílios Sem Fumo é um programa de prevenção da exposição das crianças ao FAT, inspirado numa intervenção desenvolvida pela U.S. Environmental

Protection Agency: The ABCs of Secondhand Smoke – Training Module for Child Care

Providers (2004). Tem como principal finalidade aumentar o número de pais/mães que

não fumam e/ou não permitem que se fume em casa e no carro, capacitando os alunos a protegerem-se desta agressão, sendo estes os promotores da mudança de comportamento dos pais. O programa foi desenhado para ser aplicado em contexto escolar, na sala de aula, pelos professores, que recebem formação prévia para o efeito e é constituído por cinco sessões:

1. Pequena abordagem aos perigos do fumo ativo e passivo do tabaco (foi fornecida aos professores uma apresentação sobre o tema);

2. Elaboração, pelas crianças, de pequenos trabalhos (cartas, desdobráveis e fundamentalmente um dístico de não fumador) para a escola enviar aos pais fumadores;

3. Exercícios de role-playing, em díades de alunos, nos quais um representa o papel de criança e outro de pai/mãe, onde a criança tenta convencer o pai ou mãe a não fumar em casa;

4. Envio de um desdobrável aos pais sobre fumo ativo e passivo;

5. Assinatura de uma declaração entre pai e filho, em que o primeiro se compromete com a criação de um domicílio sem fumo.

No que respeita aos profissionais de saúde, como defende a pediatra Henedina Antunes (Antunes, Campos & Precioso, 2011), “o papel do pediatra é dedicar tempo a falar com os pais (…) e ajudá-los a adoptar estratégias para não fumarem no domicílio e no carro, ou idealmente, não fumarem” (p. 178). É fundamental abordar este tema nas consultas, assim como se abordam outros fatores de risco, pois trata-se de momentos-chave de intervenção breve. Os profissionais de saúde (médico de família, pediatra, obstetra, pneumologista, entre outros), enquanto agentes privilegiados de educação e promoção da saúde, devem ter um papel preponderante na sensibilização dos pais para que não fumem, pelo menos em casa, devendo as escolas de formação incluir no seus curricula, como estabelece a lei, a temática da prevenção e do tratamento do uso e da dependência do tabaco.

Limitações do estudo

Tratando-se de um estudo observacional, estes dados permitiram uma descrição da exposição das crianças de uma cidade de Portugal ao FAT. Seria importante utilizar

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uma medida gold-standard como, por exemplo, a medição de níveis de cotinina no sangue ou na urina – um excelente biomarcador do FAT – para comparar com estes dados obtidos por auto-relato.

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Recebido: 14 de fevereiro de 2012.

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Tabela 1. Caracterização sociodemográfica da amostra (N=513)      Masculino  Feminino  f  %  F  %  NR*  %  Total  %  Sexo  257  50,3  254  49,7  2  0,4  511  100,0  Idade (anos)              17  3.3  8  2  100.0  0  0.0  2  9  186  47.7  204  52.3  390  10
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