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A importância do cuidador na retomada das histórias de vida do idoso

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Academic year: 2021

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A importância do cuidador

na retomada das histórias de vida do idoso

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Cinthia Lucia de Oliveira Siqueira

Resumo: As histórias de nossos antepassados são essenciais para a compreensão do mundo e de nós mesmos. Antigamente era comum o aglomerado de filhos e netos ao redor dos avós para ouvir as vivências. Os tempos mudaram e, na pressa do dia a dia, o idoso não tem mais espaço para partilhar lembranças. Com o desejo de possibilitar esse espaço, em agosto de 2010 iniciou-se uma oficina cujo objetivo era resgatar, preservar e valorizar o patrimônio histórico guardado nas histórias de vida dos mais velhos. Os encontros aconteciam duas vezes por semana e duraram seis meses. Nesse período, trabalhamos com fotografias e objetos pessoais que suscitassem lembranças. Todas as histórias foram videogravadas, transcritas e resultaram em um livro, em uma apresentação pública das histórias e inauguração de um espaço cultural na cidade, denominado “Casinha da Memória”. Percebeu-se que as participantes, ao partilharem as histórias de vida com um interlocutor interessado, deram novos significados às vivências e descobriram o valor do envelhecer para a sociedade. Fica claro que o cuidador deve ser o interlocutor privilegiado e propiciar o resgate das histórias de vida do idoso, atividade fundamental para sua vivificação e seu estar no mundo via lembranças.

Palavras-chave: histórias de vida; envelhecimento; identidade; cuidador.

Resumen: Las historias de nuestros antepasados son esenciales para la comprensión del mundo y de nosotros mismos. Antiguamente era común la reunión de los hijos alrededor de los abuelos para oír sus experiencias. Los tiempos cambiaron y en la prisa del día a día el adulto mayor no tiene más espacio para compartir sus recuerdos. Con el deseo de posibilitar este espacio, en agosto de 2010 se inició un taller cuyo objetivo era rescatar, preservar y valorizar el patrimonio histórico guardado en las historias de vida de los mayores. Los encuentros sucedían dos veces por semana y duraron seis meses. En este período, trabajamos con fotografías y objetos personales que pudiesen dar lugar recuerdos. Todas las historias fueron vídeo grabados, después transcritas y resultaron en un libro, en una presentación pública de las historias y en la inauguración de un espacio cultural en la ciudad denominado “Casita de la Memoria”. Se percibió que las participantes, al compartir sus historias de vida con un interlocutor interesado, dieron nuevos significados a sus vivencias y descubrieron el valor de envejecer para la sociedad. De esa forma, queda claro que el cuidador debe ser como este interlocutor privilegiado y propiciar el rescate de las historias de vida del adulto mayor, actividad fundamental para su vivificación y su estar en el mundo a través de los recuerdos.

Palabras-clave: historias de vida; envejecimiento; identidad; cuidador.

1 Trabalho apresentado no 1º Congresso Ibero-americano sobre os Cuidadores Informais de

Pessoas Idosas - caminhos de mudança. Organizado pelo Departamento de Educação – Universidade de Aveiro. Financiamento: Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

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Introdução

inha avó Francisca era filha de imigrantes italianos. Lembro-me de sua casa no Jaçanã, em São Paulo. Ali ela criava galinhas, cultivava horta, pomar. Seu quintal expunha a necessidade de adubar o alimento para garantir a sobrevivência. Herança da guerra. Meu avô era pedreiro e trabalhava duro para manter a família. Mamãe nos conta que à noite ela e seus sete irmãos se deliciavam com sopa de quirela de galinha... Era tudo.

Vó Ignácia nasceu no sertão do Nordeste. Ficou viúva aos 32 anos de idade, vendeu tudo o que tinha e veio para São Paulo com seis filhos pequenos e um na barriga. Abriu uma acanhada venda no Mercado Municipal e do comércio criou sua prole. Papai relata que, certa vez, perdeu o par do tênis e ficou meses indo à escola com um pé calçado e outro no chão.

As histórias que vivem dentro de mim pela narrativa de meus pais não as presenciei, mas elas me pertencem, me tornam indivíduo e, ao mesmo tempo, povo.

É inegável a importância que o contar histórias ocupa na sociedade. A narrativa oral cria imagem ao não vivido, ao que passou, ao que está por vir, ao que poderia ser. Possibilita o encontro com o desconhecido, com o inabitado, inatingível, fornece-nos a compreensão do mundo e de nós mesmos, ao mesmo tempo em que abre caminho para outras possibilidades.

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Narrar é atividade inerente ao destino do ser humano que não encontra vida onde não há história. A cultura e tudo o que sabemos não inauguramos, mas recriamos, refazemos. As correntes do passado desaparecem na aparência, mas são revividas num objeto, lugar, pessoa - resquícios de outras épocas. Aquilo que não conhecemos do mundo nos chegaria pela memória dos que já viveram. Detalhes do mundo perdido seriam recuperados pela narrativa oral de nossos antepassados.

As pessoas sempre contaram medos, anseios, crenças, viveres, fossem viajantes em frente à lareira, avós na cadeira de balanço, pais na beirada da cama, vizinhos na calçada, amigos na varanda. Desde muito tempo a narrativa oral permeia as relações pessoais, transmitindo e conservando a cultura dos antepassados. Daí a importância da narrativa oral - ela transmite a sabedoria dos povos, nos localiza no tempo e espaço, desvenda quem somos, de onde viemos e nos indica um caminho. A história do idoso aproxima as gerações e valoriza a importância do envelhecer para a sociedade.

Para Benjamin (1994), a arte de narrar está em vias de extinção, e são cada vez mais raras as pessoas que o sabem fazer devidamente. A arte de contar histórias decaiu porque decaiu a faculdade de intercambiar vivências, porque matamos a sabedoria. Neste mundo abreviado e provisório, em que os laços familiares e de amizade são instáveis, as moradas passageiras, os trabalhos temporários e todo o resto descartável, a narrativa oral – fonte de experiência, sabedoria e conhecimento - torna-se cada vez mais perda de tempo, ou “tempo perdido”.

As oportunidades de narrar estão desaparecendo. Foi-se o tempo em que o tempo não contava. O adulto está aprisionado em seu trabalho, a criança hipnotizada pela tecnologia, o jovem reside no mundo virtual e o idoso, fonte de onde jorra a essência da cultura, não encontra ouvidos atentos.

Os tempos mudaram e a figura do contador transforma-se no monitor. As interações são substituídas pelo isolamento e o novo, o urgente, atropelam o ancestral. O idoso passa a ser visto cada vez mais como ultrapassado e não há espaço para a voz madura. A sociedade do novo e do breve não vislumbra o valor intrínseco do envelhecimento, não tolera o velho, e este, afastado do sistema produtivo, não encontra oportunidades de convivência.

Meu pai escreve contos. Começou este afazer há poucos anos. Adoro ler seus escritos, eles falam de pessoas desconhecidas, sentimentos alheios, lugares imaginários. Mas é incrível como meu pai e seu passado se inscrevem naqueles textos. Num movimento irrefletido de resgate de si mesmo, ele resgata cada um de nós, seus descendentes. Imagino que se papai resolvesse escrever sua história, não a faria com tanta fidelidade como o fazem seus contos fantásticos.

Os pais envelheceram. Quanta bagagem eles carregam, quanta história carregaremos ao longo de nossa vida - histórias que desaparecerão se não

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forem transmitidas aos descendentes. Não há presente sem passado e não há fonte mais valiosa da história do que aquele que nela viveu.

Bosi (1994) diz que o velho tem uma espécie de obrigação social: lembrar, lembrar, lembrar, a religiosa função de unir o começo e o fim. O que foi a vida dos velhos é um constante preparo e treino para quem os substituirá. Para o adulto ativo memória é fuga, arte, lazer, contemplação; para o velho, é trabalho.

É essencial uma reflexão sobre a importância do cuidador informal do idoso ser interlocutor privilegiado das histórias de vida a fim de valorizar o envelhecer e o trabalho do velho.

Metodologia

Com a preocupação de conhecer, registrar e valorizar experiências vividas por idosos, em junho de 2010 foi apresentado um projeto à Secretaria Municipal de Cultura de Ourinhos, o qual tinha por objetivo a organização de uma oficina cultural de resgate das histórias de vida de sujeitos com mais de 60 anos. A partir de um edital de licitação de fomento a produções culturais, o projeto foi contemplado.

Na ocasião, conheci um simpático grupo de mulheres que já participavam de uma oficina cultural – “Para ler o mundo”, na qual aprendiam a escrever o próprio nome, receitas preferidas e remédios caseiros. Eram aulas regadas a afeto, chá, pipoca e muito riso.

Encantei-me por aquelas senhoras; estava interessada em suas histórias e experiências, no diamante bruto que guardavam e que precisava ser lapidado pelo espírito de outras pessoas.

Acostumadas à invisibilidade e à opressão, não compreenderam inicialmente o sentido da oficina que eu propunha. As histórias estavam acomodadas num lugar confortável e não havia por que mudar a poltrona de lugar; por que mexer em coisa velha? - Minha vida sofrida? Lembrar para quê? Eu não sei falar, eu não tenho história...

A oficina aconteceu em encontros de três horas, duas vezes na semana, durante seis meses. No início, investimos no vínculo de amizade e confiança que serviria de ambiente propício para as histórias fluírem. Nesse período eu insistia na importância e encanto de cada vida, porque era um patrimônio único. As participantes eram solicitadas a levar fotos e objetos antigos que tivessem significado, uma história. Devagar, começaram a se lançar. Sem pressa, as histórias apareciam.

Em outubro a pesquisadora iniciou o video-registro e a transcrição das falas das participantes, tal como pronunciadas, por sua melodia e beleza e porque

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revelam a cultura. O trabalho resultou em um livro2 contendo as histórias, uma apresentação pública das mesmas e a inauguração da “Casinha da Memória”, em Ourinhos, na qual há espaço para as pessoas deixarem videogravadas histórias de sua vida.

Análise e Resultados

As narrativas das participantes representavam fonte inesgotável de lembranças. Histórias que falavam de relações familiares, de trabalho, de hábitos, costumes, crenças, e nos permitiam penetrar em um tempo e espaço que não vivemos. Um mundo habitado por seres imaginários como lobisomem, saci, assombração e outros reais, como cobras peçonhentas. Seres que, se por um lado alimentavam o medo, por outro fortaleciam a fé e a coragem.

Interessante a presença da tradição oral na vida delas. Muitas histórias que ouviram contar narravam como se delas tivessem participado. Contavam os fatos com tanta comoção e detalhamento que talvez não soubessem mais precisar o ponto exato em que essas lembranças entraram em sua vida.

Ao recordarem, individualizavam as histórias e lembravam aquilo que para elas tinha ficado, porque havia significado. Escolheram o que gostariam que se perpetuasse na vida. Porém, ainda que cada uma tivesse a história singular, com o tempo uma única história coletiva se compunha. Eram mulheres nascidas na década de 40, filhas de lavradores ou de ferroviários, que vieram para Ourinhos em busca do ganha-pão. Nascidas no interior de Minas, Paraná e de São Paulo, viveram e trabalharam na roça desde meninas, moraram em casas de sapé, tomaram banho na gamela, destroncaram frango para comer e brincaram com bonecas de milho.

Abaixo, alguns trechos das histórias contadas pelas participantes a fim de ilustrar o comentado:

Então, a gente tinha uma situação, mai uma situação dessas uma memo! O quarto apertaaaado. Lá a gente comia assim, feijão com abróba, tinha dia que nem isso tinha e a gente ia trabaiando... Porque tinha muita seca. Então, vai escuitano... Minha mãe de veis em quando ela fazia broa de fubá e isso era um espetáculo sabe? (A.) Lá em casa nóis tomava banho de bacia né? E eu num sei o que acontecia que quando eu botava o pé na água quentinha eu fazia xixi. Aí chegava na hora do banho assim, meus irmão já falava:

- A Vi vai por úrtimo, sai pra lá sua mijona!

E eu chorava, ficava por úrtimo e só tomava banho na água suja.

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Eu tinha vinte e dois ano, mai já tava tudo guardadinho na bolsa. Eu tinha ói, era óleo de alecrim cum azeite, punhava assim no fumo bem fininho e uma tisorinha. Eu ficava de pé perto da cama, aí ficava dum jeitinho lá e eu só fazia mias devoção... Aí num precisava nem incostá a mão e a criança já nascia. Mai tamém, vinha tudo duma veis, vinha a criança e o resto. Aí, sozinha, tudo pra minha ideia, eu pensava... Se eu cortá aqui muito perto eu vô matá a criança! Então eu midia assim dois parmu e pensava... Eu vô cortá! Acho que num vai acunticê nada, eu tava pensano assim... Mai se eu cortá isso aqui será qui eu num vô matá essa minina? Eu dizia... Seja o que Deus quisé! Midía certinho e cortava, queimava assim, amarrava e quando dava ali trei dia o umbigu caía. Aí eu pensava assim... Graças a Deus dessa criança... Ficô livre! (V)

E o coração disparô! Dali a poco, aquela bateção das tampa que eu tinha colocado lá em cima da mesa. Aquilo jogava tampa pra todo lado. Bêim! Bêim! Bêim! Aquele baruio... Eu falei:

- É o lobisome fia que chegô! Aquilo ela começô a chorá e eu disse:

- Chiiiiu! Fica quieta, se chorá o lobisome vem aqui e vai subi aqui em cima do monte de mio e se ele vê a gente ele come a gente! (M)

Da berada da minha cama ali num catinho eu enxergava o fogão e eu ficava oiando ali... Puxava um pedacinho da coberta assim e oiava e cubria de novo. Daí, de repente eu escutei um baruiu lá na cozinha mexeno nas panela. Peguei, fiquei ali espiano, oiei assim e tava aquele clarão, a cozinha tava clara que nem o dia. Coisa que num ficava, era lamparina naquele tempo, aquelas lamparina de querosene sabe? Aí, quando eu fui pra levantá, que eu oiei pro lado do fogão... Eu vi! Um baita de um homi, num sei o que era aquilo lá! Bem arto assim, mai tinha um rabo bem grandão. Quando eu sentei na cama e oiei pra lá... Aquele coiso virô e veio pro meu lado, com uma corneta que naquele tempo eu num sabia nem o que era, um negócio grande assim na boca e uma boca grande e sopro um monte de faísca pra cima de mim. (L)

Ao final da oficina foi evidente a satisfação das participantes em apalpar as histórias registradas em livro e em contá-las a pessoas interessadas no que tinham de mais precioso – sua vida. Do anonimato à publicação, as experiências escaparam da extinção e tornaram-se imortais.

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Ao partilhar as histórias de vida, as participantes descobriram o valor das vivências e de si mesmas. Tiveram o trabalho de se lembrar, transformaram-se mútua e reciprocamente, e criaram uma nova realidade à sua volta. Saímos modificadas da oficina, banhadas de rica vivência que não seria possível sem a narrativa do outro.

As senhoras acanhadas e reservadas do início desapareceram sob o novo figurino costurado pela força, simplicidade e sabedoria das narrativas, e novas mulheres nasceram, mais coloridas, mais falantes, mais alegres. Muito além das histórias, a oficina resgatou pessoas.

Conclusão

As histórias aproximam gerações, fortalecem laços afetivos e aprofundam vínculos familiares; no entanto, em meio aos cuidados que o idoso requer com a higiene, alimentação e saúde, muitas vezes deixa-se de lado a essência do encontro.

O acúmulo de afazeres no dia a dia rouba das pessoas a capacidade de trocar experiências, e o idoso, fonte de conhecimento e sabedoria, não encontra mais um ouvido atento para partilhar aquilo que tem de mais precioso – as lembranças.

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Os mais velhos sentem-se cada vez mais deslocados, porque não acompanham os passos apressados da sociedade, não encontram um interlocutor interessado em seu trabalho de lembrar, e aos poucos desligam-se do mundo real. Ainda que estejam recebendo cuidados físicos, adoecem mental e psicologicamente, porque seus valores são esquecidos pelos demais e por eles próprios.

Aprisionados no aqui e agora, perdemos nossa identidade, porque junto com os mais velhos parte nossa história.

Fica claro que o cuidador deverá, além de desempenhar cuidados físicos, ser interlocutor interessado e privilegiado, propiciando a criação de “retomadas do passado” do idoso, fundamentais para a sua vivificação e seu estar no mundo via lembranças.

Referências

Benjamin, W. (1994). Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre a literatura

e história da cultura. (7ª ed). Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo:

Brasiliense.

Bosi, E. (1994). Memória e Sociedade – lembrança de velhos. (3ª ed). São Paulo: Cia das Letras.

Data de recebimento: 28/10/2013; Data de aceite: 18/11/2013.

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Cinthia Lucia de Oliveira Siqueira - Fonoaudióloga (USP), especialista em

Linguagem e mestre em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba. Atua na Prefeitura Municipal de Ourinhos - Secretarias de Saúde e Educação. Coordenadora das oficinas criativas de teatro, produção literária, fotografia e vídeo para crianças e idosos. Docente das Faculdades Integradas de Ourinhos. Colaboradora do jornal de Ourinhos na coluna “Cotidiano da Vida”. Email:

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