Departamento
de
Ecologia
Universidade
de
Évora
O
Sistema
Família
no
"
Microecossistema"
Cuidados
Intensivos
PATRÍCIA
DA SILVA
MENDES
Professor Orientador: Françoise Lopes
Professores
Co-orientadores:
José
Manuel
de
Mascarenhas
Manuela
Oliveira
Mestrado
em
Ecologia Humana
2008
Um
espaço gerador de sÍressjamais
podená supoÍtaÍo
bem-estar, a recuperaçãodos
doentesou
o
desempenhodos profissionais
de
saride,pois
todos
os
pÍocessoscognitivos
e
psicológicos
nomeadamentea
prcepção,
a
utilização,
a
ocupação(tenitorialidade),
a
socialização versusi privacidade,a
identidade (pessoal, socialou
aum lugar),
a vinculação aum lugar,
a participação,a
satisfação,e
a motivação, estão alterados.Os doentes são um grupo vulnenível do ponto de
üsta
fisico
e psicológico (me,lrospoder e saber), num ambiente estranho, o que pÍovoca sEess. E os familiares paÍtilham do mesmo estatuto.
Figueiredo,2005
Departamento
de
Ecologia
Universidade
de
Évora
O
Sistema
Famílio
no
"Microecossistemo"
Cuidados
Intensivos
PATÚCIA
DA SILVA MENDES
Licenciada
em
Enfermagem
Escola
Superior
de
Enfermagem
São
João
de
Deus
Dissertação Apresentada para Obtenção do Grau
de
Mestre em
Ecologia
Humana
R§
't
Professor
Orientador: Françoise
Lopes
)ó1 U
U
Professores Co-orientadores:
José
Manuel
de
Mascarenhas
Manuela
Oliveira
ll
RESIIMO
O
Sistem.aFamília
no
"Microecosststema" Cuidados IntenstvosEstudo
exploratóriodescritivo
quantiqualitativo
em
torno
da
problemáticainternamento numa unidade de cuidados intensivos
(UCI)
e as implicaçõesno
sistema família- Te,lrdo como pano de fundo aUCI
doCento
Hospitalar do BarlaventoAlgarvio
(CIIBA),
appulação
em estudo é afamília
dos doentes internados.O
objecüvo passapor
determinar as emoções que este ambiente despoleta nosfamiliares
do pacie,lrte- Osinstnrmentos de colheita de dados seleccionados são a entrevista semi-estnrturada
e
oquestionário. Os resultados revelam'nos que os familiares pensam que a
UCI
é umlocal
onde se intemam os doentes em risco de vida" consideram-no ttm
local
seguro ese'lrtem-se bem face ao apoio prestado
plos
enfermeiros. Quando interagem comaUCI
sentem interesse, medo ansiedade etisteza
Concordam com oshoúrios
e tempos de visita masnecessitam de expücações clínicas, sobre o espaço fisíco e sob forma de preparação para entrar no novo ambiente.
Palavras
chave: Ambiente Cuidados Intensivos;SistemaFamíliq
Emoções eSentimentos.
ABSTRACT
The
Family
System inttrc
"Microecosystem" Interuive CareUnit
Exploratory-descriptive and quanti-qualitative study
úout
the hospitalar admissionin
aIntensive Care
Unit
(IC[D
subject and
the
social
ecosystemimplications over
the patient,sfamily.
It
will
fall
over the patient'sfamily
atCento
Hospitalar do BarlaventoAlgaryio,s (CHBA's) ICU.
The
studymain
objectiveis
to
determinatewhich
are the triggered emotions abovethe patient's
farnily
druingthe
admission.The
selected datacollection insúuments
are
the
semi-shuctured
interview
and
the
questionnaire.According
to the study results, thefamily
membersthink
that theICU
is a place wherethe
endangered patients areadmittd
a
safe place andthey feel
comfortablewith
the nuÍses,supporl
Dlring
the
interfacefamily/ICU,
theyfeel cruiosity,
fear, anxiety and sadness.They
agreewith
the
schedúedvisit perio4
howeverthey
need someclinical
explanations about thepatien!
aboÚ physical §pace and how to prepare the entrancein
úe
new environment.Key-
words:
ICU Environmen! Family
system; Emotions uo6 pg€lings.AGRADECIMENTOS
Para conseguir realizar este trabalho e todas as acüvidades a ele inerentes
foi
imprescindível
o
apoio
por parte de
algumasFssoas.
Quero
agradecera
todas
aspessoas que directa ou indirectamente possibilitaram
aralizaiao
deste trabalho.Não posso deixar de agmdecer a todos os familiares dos doe,lrtes inteÍnados na
UCI
do
C[{BA
pela disponibilidade que demonstaram ao
permitir
a
realização dasenüeüstas e no preenchimento dos questioniários.
Agradeço
tamEm
à Arlminisüação doCHBA
por terpermitido
auúliza$o
daUCI
para
rcatizaro
trabalhode
camp.
E
claro,
aoEnfermeiro
Chefe desta unidade, FernandoAleixo,
não só por terpermitido
a aplicação dos instnrmentos de colheita dedados na
UCI,
mas também, por tudoo
que me tem ensinado. Agradeço aindaatodaa
equipa
de
enfermagem
da
UCI
pela
importante
colaboração
na
entrega
dos questionários. Sem avossa ajudatudo teria sido mais complicado!Agradeço aos
meui
Pais, Lena e Joaquim, pois sem vocês nada distoteria
sidopossível. Agradeço ao meu irmão, Nuno, pela preciosa ajuda na
leitura final.
Agradeçoa todos os meus amigos que me apoiaram e ajudaram, em
espcial
à Joana e ao Pedro.Quero agradecer a todos os Professores do MesEado de Ecologia Humana em
especial aos megs co-orientadores Manuela
Oliveira
e José Mascarenhasplas
dicas queme deram.
E
como não poderia deixar de ser, agradeço à minha orientadora FrançoiseLopes pela paciência, boa disposição, orienÍação,
crítica,
dispnibilidade,
pela atenção que sempre me demonstrou e pela força interior e coÍagem que me fian§mitirr.Obrigada
a
todos!
ÍN»rcn cERAL
Índice
de Quadros...Índice
de X'iguras...r-TNTRODUÇÃO...
II _REVISÃO DA LITERATT]RA
I
-
O «Microecossistema' Cuidados
Inúensivos1.1
-
O "MicÍoecossistema" Cuidados Inte,nsivos no Ecossiste,ma Hoqpital.1.2
-
O Microambiente Cuidados Intensivos.1.3
-
O Microambiente Cúdados Inte,nsivos doCIIBA.
2-O
SistemaFamllia..
2.1-
AFamília
como Sistema.... 2.3-
AFamfl ia Doente...3
-
Emoção, Sentimento eAmbiente...
3.1.
-
Da Emoção ao Sentimento 3.2-
O Carácter das Emoções..."... 3.3-As
Emoções e o Ambiente4
-
As Emoções do SistemaFamflia
no'Microecossi§tema'
Cuidados
Intensivos
M -TTÉTODOS
EMATERIAIS...
I
-Tipo
deEstudo
2
-População
eAmostra..
J
-
rnstrumentos
deColheita
de Dados.. 3.1-
A
Entrevisüa-3.2-
O Questionário... 4-
Tratamento
de Dados... 4.1-
Estudo Qualitativo 4.2-
Estudo Quantitativo...tv -
RESI]LTADOS...
I
-Caracteizaçáo
daAmostra
1.1-
Amosta
do EstudoQualitativo
vn
vlu
1 8 9 10t4
23 28 29 34 404l
51 s9@
707l
73 74 74 75 79 79 84 86 87 87v
1.2
-
Amostra do Estudo Quantitativo.... 2-
Significado
deCuidados Intensivos
2.1
-
Ltgar
Onde a Tecnologia e EficáciaHtica
Predominam 2.2-Espap
Fechado e Regulado pelos Profissionais de Saúde 2.3-Lugar_ Onde se Internam os Doentes em Risco deVida....
2.4
-Lugu
Seguro...lBmoções
Sentidas Face aoAmbiente Cuidados Intensivos
3.1-Medo..
3.7
-
Indiferença
4 -
Opinião
doFamiliar
acerca doAmbiente
daUCI
doCHBA
4.
I
-
Prestação dos Enfermeiros...4.2-
Ambrente Físico.a3
-
Preparação para Entrar na Sala de Cuidados Intensivos-.----.-...---.--.-..-4.4 -HoráLÍto daVisita
e lnformaçãoV
_DISCUSSÃO E CONCLUSÃO...
apÊx»rcr,s...
Apêndice A
-
Planta daUCI
doCHBA.
Apêndice
B-
Guia de Acolhimento aos Famiüares,daUCI
doCIIBA-....-Apêndice
C - Guião da EntrevistaSemi-Estnrturada-Apêndice
D-
Questioniário...Apêndice.E
- Autorização paraAplicação de Instumentos de Colheitade dados.Apêndice
X'-
Transcrição dasEntevistas
Apêndice
G-
Estaüsticas Descriüvas EscalaESEFACI49
87 90 90
9l
93 94 96 96 99 100 102 103 104 104 106t07
108 109ill
114t23
124 126 129 131 138 140 156 159RETERÊNCIAS BIBLIOGNÁTTCAS.
vi
ÍN»rcB
DE
euADRos
4.1 - Consistência Interna das Escalas
PANAS
eESEFACI49""""""
5.1 - Grau de Parentesco do Familiar com o doente Intemado na
UCI....-5.2 - Estatísticas Descritivas Relativas: Dias de Internamento do Doente noHospital e
UCI
e Nrimero de Visitas Efectuadas peloFamiliar
àUCI...
5.3 - Esüatísticas Descritivas Relativas ao Ambiente Tecnológico
daUCI"'
5.4 - Estaüsticas Descritivas Relaüvas aos Honários e Tempo de Permanência eContacto com o Doente
naUCI...-5.5 - Estafisticas Descritivas Relativas aos Sentimentos Vivenciados Face ao Intenamento na UCI...
5.6 - Estatísticas Descritivas Relativas
àUCI
como umLocal
Seguro"""
5.7 - Estatísticas Descritivas daEscala
PAI'IAS
5.8 - Estafisticas Descritivas Relativas ao Medo...
5.9 - Estaüsticas Descritivas Relativas à
Ansiedade""""""""
5.10 - Estatísticas Descritivas Relativas à
Tristeza.
5.11 - Estaüsticas Descritivas Relativas à Raiva-.... 5.12 - Estaffsticas Descritivas Relativas à Aversão'
5.13 - Médias e Dewio-padrão
daEscalaESEFACI'
5.14 - Estafisticas Descritivas Relativas à Pre§tação dos
Enfermeiros"""""'
5.15-
Estaüsticas Descritivas Relativa§ ao Ambiente Físico...5.16 - Esatísticas Descritivas Relativas à Preparação para Entar na Sala de Cuidados Intensivos.
5.17 -Estatísticas Descritivas Relativas ao Horário das
visitas..
85 89 89
9t
92 94 95 97 98 100 101 103t04
106 108 109lll
tt2
vu
hrorcp
DE
rrcuRAs
4.1
-
Grelha de categorias e zub+ategorias definidas àpriori
5.1
-
ftfico
dos géneros da amosEaquantitativa
5.2
-
G,ráfico da disüibuição por escalões etários da amoshaquanütativa
5.3
-
trfico
da" habilitaçoes litenárárias da amostraquantitativa
84 88 88 88
capÍrwor
INTRODUÇAO
O Homem é o único mamífero que não desfruta de
um
ambiente especifico para a sua espécie, estruturado pela organização dos seus próprios instintos. Desdeo inicio
da civilização
que
ele
reorganizao
ecossistemanatural,
medianteuma interven$o
conscienteo mede, controla e usa
o
espaço eo tempo' atribuindo
valores às dimensões que percebe, segundo padrões culturais determinados pelo seu grupo social. E obedece aexigências básicas,
como
a
disponibilidade
de
alimentos, exigênciasde
seguÍança eexigências físicas e químicas que possibilitem a sua sobrevivência através da adaptação da sua constituição orgânica ao ambiente envolvente.
O
Homem adaptouo
alrrbiente às suas necessidades e adaptou-§e ao arrbiente.Criou
um meio ambiente hurnano que detém características qualitativase
quantitativas determinadas pelas mesmas necessidadesvitais,
adaptado àsmais
diversas realidadesgeográficas
e
culturais.
A
lógica
destas adaptaçõesé
deterrrinada pelas
exigênciashumanas e configurada segundo a percepção que cada cultura tem do ambiente. Há uma
estreita ligação entre o corpo humano, e cultura na percepção do arnbiente'
O Homem toma corüecimento de si próprio e relaciona-§e com o mundo e com
os
outros
atravésdo
corpo.O
corpo humanoé
composto pelos aparelhos locomotor,circulatório,
respiratório e digestivo; pelos sistemas endócrino e nervoso; pelos órgãos dos sentidos, comandados pelo cérebro-
complexo formado por mais de dezoito biliõesde
células
nervosas,que mantêm entre
si
biliões de
conexõescuja
capacidade de previsão supera a de um computador. Através do sistema nervoso, o homem mantém-se informado sobre tudo o que acontece no exterior e no interior do seu organismo.É através do corpo que o Homem exterioriza os seus sentimentos e emoções na diversidade das suas expressões: alegria, tristezao bem-estar,
raiva,
medo, ansiedade, surpresa e embaraço. Mas o Homem é muito mais do que um mero corpofísico:
capta o mundo exterior, interioriza tudoo
queo
rodeia e tradu-lo num mundointerior,
dando-lhe
significado humano.
O
ambiente gue
o
rodeia
é
o
que
é
apreendidopor
ele,determinando
o
seu comportamento. Os lugares onde vivemos, trabalhamos' onde nosdivertimos ou
recuperamos deuma
enfermidademoldam
as nossas maneirasde
ser e agir, e nós constituímo-nos nas relaçõe§ que com estes espaço§ mantemos.Cada ambiente exerce uma influência particular sobre o comportamento humano,
ilustrando assim uma frase de
Winston Churchill:
"Nós moldamos o§ nossos ambientese eleso por sua vez, moldam-nos a nós"
Hall
(1966, citado por Fischer,1994:L0)'O
ambiente sobreo
qual nos vaÍnos debruçar-
o hospital-
influencia de formadirecta
e
indirecta os
seus utilizadores, prestadoresde
cuidados, utentese
familiares 2(nos quais considerámos os amigos). Enquanto instituição, o hospital tem que responder
às necessidades de quem o
utiliza;
às vezesdifíceis
decompatibilizar
devido às normase
regulamentosque
o
orientam,com
vista à
suafunção
terapêutica. Fisicamente, ohospitat
é
um
sistema espacial
complexo
que
tem
de
responder
às
diferentescompetências técnico-científicas,
à
evolução
tecnológica,
à
organização,
àacessibilidade, à funcionalidade e à
flexibilidade
de acordo com quem outiliza.
Assim, a estrutura hospitalar não deve centraÍ-se na funcionalidade e produtividade masdiluir-se
com
as necessidades dos doentese
dos seusfamiliares.
As
opções ater
acerca dasinstalações, decoração, core§, iluminação, temperatura, climatização, ruído, unidade dos
doentes
e
sala
de visitas em
cada serviço
de um hospital
são
condicionadas peloobjectivo terapêutico desse mesmo serviço.
Figueiredo (2005) salienta que a arquitectura para as organizações prestadoras de
cuidados de saúde tem de ser funcional, manter um ambiente seguro e atender à relação custo/benefício, mas a prática demonstra que a sensibilidade dos doentes e familiares ao
espaço
que
os
acolhe
produz
uma
boa
ou má
imagem que influencia
os
seuscomportamentos e, consequentemente, repercute-se na recuperação da doença.
Esta é uma das razões pela qual a Ecologia Humana preconiza
o
e§tudo não sódas relações entre seres humanos, como também as deste com
todo
o
ambiente que orodeia,
considerandoquer
a
acçãodo
Homem
sobreo
ambiente,guer
a
acção do ambiente sobre o Homem.Assim,
sabendo queo
sistemaHomem
e
o
sistemaAmbiente
seinfluenciam
mutuamente
e
que a respostado
Homem ao Ambiente éfeita
através da culnrrae
dasorganizações,
é
departicular
interesse que a basede
estudo seja as comunidades daspopulações humanas e as organizações complexas que o Homem êcapazde construir.
O
Homemvive
organizado em populações, adapta-se aomeio
ambiente, cresceem tamanho e complexidade e
evolui
através da interacção dinâmica das novas formasde
informação
e
coúecimento,
permitindo-lhe
diversificar as
Íespo§tasdas
suasorganizações ao meio envolvente
(Hawley,
1999).'
O
Homem éum
ser social que integra grupos quepor
sua vez se organizam em sistemas sociaismais
vastos. Destaforma,
o
compoÍamento
humanona
§ua relaçãocom
o
ambiente
só
pode
ser
percebido
atravésda
análise
de todos os níveis
de organrzaçáo social (B arracho, 200 1 ).Daqui decorre a importância do estudo, na área da Ecologia Humana, não só do ambiente que acolhe
o
doente como pessoaindividual,
mastamMm
do
ambiente que acolhe o sistema Famflia.De
acordo
com Lamy
(1993),
é
necessárioclarificar
o
que se
entende porAmbiente, através da compreensão
do
conceito de envelope ecológicodo
Homem, ouseja, através das diferentes camadas ecológicas, que vão desde o meio aquático
(líquido
amniótico), comum à origem da vida no planeta Terra e à génese do Homem enquanto
ser
biológico,
até aos envelopes ecológicos globais dos seresvivos
e do próprio Homem (água, atmosfera,litosfera
e a
biosfera), passandopelos
envelopesindividuais
(pele, vestuário) e envelopes sociais (casa, família, trabalho, hospital).Para contextualizar
o
que determinou a abordagem desta problemática interessa salientar dois aspectos. Por um lado, sendo a enfermagem a nossa área de estudo, e paraa
qual
se pretende transportarcontributos e
conceitos daEcologia
Humana, toma-se agradável e vantajoso debruçar o estudo, também, no ânrbito desta disciplina.A
enfermagemtem como
objectivo
prestar cuidadosde
enfermagemao
serhumanoo são
ou
doente, aolongo do
ciclo vital,
e
aos grupos sociaisem
que ele estáintegrado, de forma a que mantenham, melhorem e recuperem a saúde (Lopes, 1999). Por outro lado, o facto de nos encontraflnos actualmente a desempenhar funções de enferrnagem numa
UCI,
onde todo o ambiente émuito
específico e onde as relações que os doentes e famflia estabelecem com o espaço e profissionais de saúde são tambémmuito
própriase
diferentes das que sevivem
noutros serviços, ainda quena
mesma organização hospitalar.Os
cuidadosintensivos,
de
acordo
com
Thelan
et
al.
(1996), são
cuidadoscríticos a doentes altamente instáveis, em elevado risco, e cujas condições de saúde não variam dia-a-dia, mas minuto a minuto. Nos cuidados intensivos existe equipamento de alta tecnologia, como monitoreso ventiladores, bombas infusoras, lintras centrais, drenos
torácicos, tubos endotraqueais, toda
uma
panópliade material
que confereà
sala umambiente muito específico.
A
escolhado
tema
'âs
Vivências
do
SistemaFamflia
no
MicroecosistemaCuidados Intensivos"
foi
indiscutivelmente influenciadapela
experiência profissional. Porque no processo de saúde/doença afamflia
é a primeira célula social, §e um dos seusmembros é afectado, a estabilidade de que desfrutam sofre alterações, obrigando todos
cuidados intensivos
leva
a
uma
barreira
física
e
psicológica ne§ta
interacçãofamflia/doente. Este distanciamento tem repercussões para ambos e, de
forma
indirecta,influencia negativamente todo o sistema famflia.
por
outro lado, a aquisição de novos conhecimentosno
âmbito da Psicologia doAmbiente,
ao
longo
do
curso
de
mestrado
de
Ecologia Humana,
alertou-nos
eestimulou-nos a vontade de aprofundar conhecimentos nesta área para obter contributos
também a
nível
profissional e, assim, melhor compreender comportamentose
atitudesdos familiares que diariamente interagem com o espaço
UCI'
Tendo por base o estado actual da arte e a observação directa da realidade, neste
Eabalho proctpamos dar resposta à seguinte pergunta: Quais as emoções sentidas pela
famflia
do
doente internadoem
cuidados intensivos,no
encontrocom
este ambiente(Um
casoparticular
daUCI
do
CIIBA)?
Reflectindo sobre estudos de alguns autoÍes que se têm debruçado sobre este tema, como Sánchez (L996), que refere que afarnília
vive um
aumento dos níveis de ansiedade durante todoo
intemamentodo
seufamiliar'
relacionado
com a
evoluçãodo
processo de doençae com
afalta
de contacto directocom o doente. E
Albísnr
et.al.
(2000) concluiu qteTTVo das famflias expressam que aUCI "é um
lugar
onde se internam os pacientesem risco
devida",
que l4Vovê
este espaçocomo
um lugar
angustiante,e
que outros consideram-noum lugar
caótico
eagressivo. Podemos
inferir
que o primeiro encontro com o ambiente cuidados intensivos gera emoções negativas nofamiliar
do doente aqui internado.Em
Portugal
a
maioria dos
trabalhos
efectuadosno
âmbito dos
cuidadosintensivos preocupam-se com os pÍestadores de cuidados de saúde e os níveis de stress
que estes vivenciam. Mas
Velez
(2002\ realizouum
estudo exploratorio-descritivo, naUCI do
Hospital de
SantaMarta, com
o
innrito de identificar qual
o
apoio
esperadopelos
familiares por
parte dos enfermeiros. Também amaioria
dos estudos efectuadosao nível
intemacional que
se
preocupam
com
os
familiares,
estudam
as
suasnecessidades e o grau de satisfação face aos profissionais de saúde, dos quais referimos:
Azoulay
etat.
(2OOl), Cárdenas etal.
(zOM),
Zaforteza etal.
(2004) e Bueno (2003). Daí, pretenderÍnos com este trabalho saber as emoções §entidas pelos familiares face aoambiente
da
UCI,
pois
parece-nosque
o
impacto emocional deste ambiente
nosfamiliares
carece de ser estudado.Uma vez
queo
significado
do
ambiente resulta doimpacto emocional que este
tem
sobre
o
indivíduo
e
afecta
as
suas
atitudes,Neste contexto, pretende-se com o estudo analisar o ambiente da
UCI
do CTIBA enquanto variável independente das emoções vividas pelo sistemafamflia,
o queimplica
o
recursoa
instrumentos decolheita
quepermitam identificar
essas emoçõesface
aoarnbiente
físico
e à
equipa
multidisciplinar. Os
instrumentosde
colheita
de
dadosseleccionados
foram
a
entrevista semi-esrunuada que será tratada qualitativaÍnente eserá
feita
triangulaçãocom
a
abordagemquantitativa de
um
questionário efecnrradotambém aos familiares dos doentes intemados em cuidados intensivos.
Para uma melhor organização e percepção do trabalho desenvolvido, resolvemos apresentar esta dissertação
de
acordocom o
regulamento dos serviços académicos daUniversidade de
Évora e
também sob orientação das nounasde
elaboraçãode
te§esoeditadas pela Universidade Católica (Azevedo, 2003).
E
estruturamos a dissertação em cinco capítulos.Depois desta inuodução, segue-se o segundo capítulo que se constitui
por
quatro partes nas quais o objecto de estudo se delimita pela sua progressiva constnrção teórica.Na
primeira parte
apresentamoso
ambiente
onde
se
desenrola
o
estudo
-
omicroecossistema
cuidados intensivos
-
descrevendoas
característicasfísicas
doespaço, assim como as relações existentes entre o espaço e os comportamentos de quem
o utiliza.
Contempla aindaa
abordagema
diversos conceitos imprescindíveis para acompreensão da Ecologia Humanao para além de situar o tema da dissertação
no
âmbitoda disciplina em
que este se insere.A
segunda parteé
dedicadaao
sistema Família, onde abordamos o conceito de Família como envelope ecológico do Homem e contexto da doença. Na terceira pârte, faz-se uma abordagem teórica aos conceitos, sentimentos eemoções na perspectiva dos principais autores que abordam esta temática. Finalmente a
quarta parte pretende agrupar os conceitos específicos explicitados nas partes anterioreso concluindo-se assim a construção teórica do nosso objecto de estudo.
O
terceiro capítulodo
rabalho
é
constituídopor
questões relacionadascom
opercurso
metodológico
seguidona
investigação, ondetem lugar
a
catactenzação dapopulação, a caracterização do desígn, são apresentados os instrumentos de medida para
as variáveis dependentes e
feita
a explicitação dos procedimentos efectuados para a suaaplicação.
No quaÍo
capítulo apresentamos os resultados, fazendo uma análise descritiva dos mesmos, através da comparação dos dados qualitativos com os dados obtidos pela análise estatística.A
discussão eprincipais
conclusões constituemo
objectivo do quinto
eúltimo
capítulo, onde os resultados obtidos são confrontados com os dados da revisão teórica efectuada. São ainda apresentadas algumas justificações paÍa os resultados
e
sugestões quanto àutilidade futura
desta investigação. Finalmente, as referênciasbibliográficas
etodos
os
documentosque viabilizaram
a
realizaçáo destatese
de
dissertação estãoclpÍrur,o
Il
1
-
O'oMcroecossistema"
CuidadosIntensivos
O que é específico em relação aos doentes tratados numa UCI é o sentimento de ameaça à vida
ou a perda de funções. Para uma abordagem completa do doente é necessário considerar uma
complexa rede de relações entre: o ambiente, o tratamento, a doença e o doente.
Gipson, 1991 (citado por Castro, 1998)
A
saúdefísica e moral do
homem actual
sãoa
preocupaçãoecológica
maisimportante,
oõ
não
devemos nunca esquecerque
o
ambiente começaem primeiro
lugar na nossa casa e
no local
de trabalho, locais ondeo
indivíduo
passa mais de 807odo seu tempo.
O habitat é entiÍo o primeiro biótopo do homem, é com este que forma a unidade ambiental de base,
o
ecossistema. Sendo por isso a casa sinónimo de conforto, de bem-estar,de
aconchego contra as agressões que possamsurgir do exterior.
A
casa que o homem constrói para si e para os seus traduzo
seu ambiente quotidiano, aquele que ele geÍe com amor(Lamy,
1993).Mas
quando surge a doença grave que conduzo
indivíduo
ao internamento nohospital,
este
passaa
ser
o
seu
novo invólucro
ecológico
social,
encontrando-seprotegido
e
apoiado.O
hospital
é
agorao
seu ecossistema(social)
que engloba doisconjuntos:
o
biótopo
e
a
biocenose,que
interagempara
dar origem a
um
sistema organizado e funcional.A
razáo de serdo hospital
éo
seu Internamento. Etimologicamente, a palawa hospital advém da palawa latina hospitalis, que deu origem a hospital. O significado é aestadia, a permanência do doente. Pode definir-se intemamento hospitalar como o local
do hospital
onde
o
doente permanece acamadototal ou
parcialmente durante uma estadia superior a?4horus (Caetano, 2002).Neste capítulo
o
conceito que se pretende explorar éo
de cuidados intensivos. Sendo estaa
áreaem
queincide
a
investigaçáo,é
um
conceitoteórico
essencial ao enquadramento do nosso objecto de estudo e da questão de partida.O
primeiro ponto
deste
capítulo
pretende
definir
o
conceito
de
cuidados intensivos enquanto "microecossistema",isto
é, pretende-se enquadrar a problemáticaem
estudono
ânrbitoda disciplina
deEcologia
Humana. Nesse sentido, aolongo
dotexto
define-seEcologia
Humana,para além
de
se
abordarum
pouco da história
eevolução desse mesmo conceito, como também se abordam outros conceitos essenciais
O
segundo ponto é dedicado aos objectivos propriamenteditos
de umaUCI,
e também descreve como deve ser constituídoo
ambiente cuidados intensivos, com baseem
diversos
autores,mas dá maior relevo às linhas
orientadoraspublicadas
pelaDirecção Geral de Saúde
(DGS)
e pela Societyof Crttical
Care ofMedicine
(SCCM).Este ponto pretende
facilitar
a
compreensão das interacções que §e estabelecem num contexto hospitalar específico-
umaUCI
polivalente.O
terceiro ponto constitui-se pela desctição espacial daUCI
do
CIIBA,
assimcomo
foca a
dotação de recursos humanose
estatísticas de internamento. Este pontosurge como
o
afunilardo
anterior,ou
seja,facilita
a percepção das interacções que seestabelecem no ambiente em estudo - os cuidados intensivos do
CIIBA.
1.1
-
O "Misroecossistema" Cuidados Intensivos no Ecossistema HospitalUm hospital não é apenas um somatório de serviços.
Ptitsep, 1979 (citado por Figueiredo, 2005)
O
ambiente hospitalarinfluencia
directa e indirectarnenteo
bem-estar de todosos
que
lá
vivem
diariamente: médicos, enfermeiros, auxiliares
de
acção
médica,familiares
e
visitas.
O
objectivo
é
estudara
forma como os familiares dos
doentes intemados no hospital interagem com este ambiente: como percepcionam e interpretamos
§eus sinais,como se
§entem, Se mOvimentam Ou se compoÍtam,porque
é
neStesistema espacial complexo que
os
seus entes queridos se encontram actualmente. Deuma outra forma,
o
que se pretende éo
esfudo das interacções entre os organismos ougrupos de organismos e o ambiente que os rodeia. Daí este trabalho se inserir dentro da
disciplina de Ecologia Humana.
A
palavra Ecologia deriva das palawas gegasoilas,
que significa casa, e logia, quesignifica
teoria; e provémde
logos: estudo.É,
portanto,o
esnrdo dos organismosnos
meios onde
vivem, "em
Suacasa"
(Odum,
2OO4),É
a
"ciência
que
estuda ascondições de existência dos seres
vivos
e as interacções de toda e qualquer natureza que existem entre esses seres vivos e o seumeio" (Lamy,
L993:20).A
ecologia é um conceito que surge em 1866 num estudo sobre as plantas; onde Ernst Haeckelutilizou
o termo eo definiu
como"o
estudo das relações entre o§ seresvivos
e
o
meio natural
queos rodeia".
A
basecientífica
em
quese
§ustentava e§teestudo ter-se-á desenvolvido
a partir
de uma
publicaçãode Darwin,
A
Ortgem
dnsEspécies,
em
1859.
É
com
o
desenvolvimento
da
Ecologia Vegetal, tendo
sidopublicado
o
primeiro
manualem
1.895, que surgea
Ecologia
Animal
sustentada emalguns conceitos da anterior, assistindo-se também a
um
desenvolvimento da EcologiaHumana igualmente baseada na complexidade da ecologia animal
(Lawrence,2003:31)-A
ecologia
consiste
no
estudo
dos
ecossistemas,conceito intoduzido
por Tansley, sendo um ecossistema"o
conjunto dos organismosvivos
e das substâncias não vivas, interactuandono
sentido de produzirem uma troca de substâncias entre as partes vivas e nãovivas"
(Odum, 2001:11).Um
ecossistema engloba portanto dois conjuntos:o
biótopo
e a
biocenoseque
interagem paradar origem a
um
sistema organiz-ado efuncional.
Biótopo
advém das palavras"bíosu
e"topo§",
quesignificam
respectivamente vida elocal, ou
sejalocal
devida.
Diz
respeito, portanto, ao facto de a natureza reunirdeterminados seres
num
dado
lugar.
O
biótopo
é
caracterizadoe
definido por
umconjunto de parâmetros geológicos, geográficos e climáticos,
isto
é,pelo
conjunto dos factores ecológicos físico-químicos, designadospor
factores abióticos(o
ar,a
água, osolo,
o clima, ahtz
a temperatura, etc.). Neste habitat encontram-se organismos vivosque
vivem
em
comunidades, designando-sepor
biocenose(bios,
quesignifica vida
etambém
do
grego, l<oinos quesignifica
comum), que consisteno
conjunto de animais, plantas e microorganismos quevivem
num biótopo.O biótopo
e a biocenose realizamum
ecossistema desde que severifique
homogeneidade e estabilidade(Frontier,
2001).Na Ecologia Humana faz-se referência ao homem,
logo
não se trata de uma biocenosecomo comunidade de diferentes espécies,
Dffi
sim
uma comunidade formada §omentepor
um
conjunto de homens e mulheres que convivem num mesmo lugar e que formama população humana
-
objecto de estudo da ecologia humana (Cortés, 2002).Num
ecossistemahá
circulação
de
energia através
das
actividades
dosorganismos, fenómeno
este que
diz
respeito
às
cadeiastróficas
ou
alimentares, constituídas pelos produtores, consumidores e decompositore§.Caracteriza-se
pelo
conjunto das
interacções,
interdependências,acasos
eincertezas
e
por
uma
auto-oÍganizaçáo espontânea.Nele
criam-se
e
recriam-seequilíbrios
e estabelecem-se regularidades.Tal
como nas sociedades humanas, em queas hierarquiaso os conflitos e as relações de solidariedade fazemparte dos fundamento§ e
do
sistema organizado, a competiçãoe
o
ajustamento contÍrm-se entre os fundamentosPerante
estâ
nova definição, as
ciências
da vida
passarama
considerar
o ambiente como um ecossistema integrador e não apenas comoum
meio selectivo e nasciências
sociais
desmoronou-sea
visão da
naturezaamorfa
e
desordenada(Morin,
1973).Um ecossistema é como que um organismo
vivo
que respira, se alimenta, cresce, amadurece e morre quando deixa de estar em equilíbrio.O
modo como as
diferentes
comunidadesse
organizam
no
seu habitat
ésemelhante à forma como
o proprio
Homem se organiza. Para a Ecologia,o
Homem éapenas mais
um
servivo
quese
organiza normalmente em grupos da mesma espécie, ocupando uma determinada área e reproduzindo-se entre si. As populações (conjunto deindivíduos
da mesma espécie)convivem
numa determinada áreae
mantêm diferentestipos de relação entre
si,
formando comunidades. Mas pela complexidade das relaçõeshumanas
com
o
seumeio
envolvente, torna-se necessfuio quea
Ecologia
investigueestas questões para tentar
coúecer e
compreender melhoro
próprio
ser Humano eminteracção com o meio envolvente.
Foi
em !921,
na cidade de Chicago, que surgiu a expÍessão Ecologia Humanaona
obra
Uma introd.uçã.oà
ciência
da
Sociologia de
Ernest Burgesse
Robert
Park.Acontece que uma espécie é colocada de lado, passando a seÍ
um
gupo
de referência,sendo esta espécie
a
queinclui
o
Homem
e
esta auto-ecologia (quando §e estuda arelação de uma rÍnica espécie
com o meio)
antropocêntrica.A
partir
daqui, a Ecologia Humana tem-sevindo
a desenvolver comoum
importante ramo no âmbito das ciênciassociais, evoluindo segundo
um
impulso
propiciado querpor
Quinn, Duncan, Hawley,Diaz Nícolás entre ouEos.
A
Ecologia Humana considera todas as peculiaridades do Homem e entende queeste
como
organismo tambémleva a
caboo
seu processo adaptativoao meio,
masdevido às suas particularidades, que o tornam diferente dos restantes organismos,
o
seuprocesso
adaptativorealiza-se
em função
dessas mesmas particularidades.A
suaadaptação ao
meio é
efectuada deforma
colectiva, sendo queo
objecto de estudo daEcologia Humana não é o
individuo
isoladamente, mas sim um grupo humano, pois nosgrupos
encontram-setodas
as
variáveis
e
parâmetrosda
vida
colectiva;
assim,
oecossistema
humano
como
colectividade
que
é,
considera
as
relações
que
seestabelecem entre os indivíduos para conseguir essa
dita
adaptaÉo e é interminável onúmero
possível de condutas queno
seu seio se podem gerar, para além de todos ostipos de interacção que o ecossistema estabelece com o meio e as consequências que as
As
espécies consideradas emEcologia
eram muitas vezes agrupadasde
modo geográfico, mas o homem é um animal nómada e cosmopolita, que se encontra nos maisvariados ambientes.
A
sua presençamodifica
os ecossistemas naturais, desütrindo osseus equilíbrios normais, dependendo, é claro, da densidade e cultura humana.
A
acção do Homem sobre ele mesmo pode não seÍ uma acção consciente, comopoderá ser a modificação voluntária do património hereditrário. Mas a evolução técnica e
à
organiTação social constituem um novo ambiente que por sua vez actua sobre a nossaBiologia.
Estenovo
ambientepoÍ
vezes substituia
natuÍezae
noutros casos provoca efeitos negativos que devem ser analisados.A
Ecologia Humana éo
estudo quer da acção do Homem sobre a natureza querda acção da natureza sobre
o
Homem, considerando-o na sua totalidade. Ocupa-se dascondições de
vida,
da saúde, doequilíbrio,
dos malefícios da poluiçãoo assim como de agressões diversas. Está estritamente associada à demografia, àfisiologia,
à sociologia,à higiene
e à
medicina
preventivae
igualmenteà
defesada
natureza.Por
isso,
temimplícita
uma perspectiva defuturo
na qual se exigempostuas
e atitudes de cidadania responsável e opções quotidianas.O
objectivo é apreender a complexidade davida
na Terrao sugerindo novÍrs formas de agir preventivamente, de modo adiminuir
ou resolveros efeitos da acção humana sobre
o
ambiente, comvista
à promoção da qualidade devida.
SegundoDéoux
&
Déoux
(1996), a Ecologia Humana devidamente percebida eintegrada é mais do que uma ciência, não se limitando à veneração da nattrreza mas sim tornando-se numa
forma
de sabedoria.Assim,
para os investigadores,em
ecologia sóponderando
o
homemno
seu microambienteé
que os problemas humanos podem sercompletamente percebidos ou eficazmente conúolados.
Como
já
tem vindo
progressivamentea
ser
constnrído,
faz
parte
do
nossoobjecto de
estudoo
arnbientehospital.
Sendo que dentro deste ambiente se pretendeanalisar
especificamente
o
microambiente cuidados intensivos,
chamamos-lhe 'omicroecossistema" cuidados intensivos,pois
consideramosque
este ambiente rerÍne característicasmuito
própriase
diferentes das que constituemo
restante ecossistema hospital. Portanto, tendo em conta os objectivos delineados, nãofaria
sentido estudar oecossistema
Hospital como
um
todo,
apesarde
estarmosde
acordo
com
GraçaCarapinheiro
(2005:33)
quandocita
Ferreira(1958)
afirmando que"o
hospital
nasce, age e morre como um todo".Os
primeiros hospitais eram
constituídospor
longas enfermariasonde
eramdespensa (Caetano, 2}O2).Actualmente, os hospitais são organizações complexas, onde as suas funções se encontram repartidas
por
departamentos. São instituiçõescom um
sistema
médico
e
de
enfermagem organizado,
com
instalações permanente§ queproporcionam suporte a
um conjunto
de serviços médicos,cinírgicos e
terapêuticos aindivíduos que requerem cuidados diferenciados de saúde em regime
de
internamento(Ferreira, 1990 citado por Figueiredo, 2005).
O
"microecossistema"cuidados intensivos
insere-sedentro
do
ecossistema hospital e é parte dele, tem uma localizaçáo e função específicas e interage com ouEos "microecossistemas".As
suas estruhrras e dinâmicas dependem umas das outras, logoneúum
é
isolável, sendo que se isolarmosum, modificamo-lo.
É do
conjunto
destes"misroecossistemas"
e
do
conjunto das
suas interacçõesque
emergeo
ecossistemahospital,
com uma
estrunlra,
propriedadese
dinâmica diferente§
em
relação
aosanterrores
L.2
-
O Microambiente Cuidados Intensivos. .
.
associa-se à palavra intensivo a tecnologia de monitorização e consequentes intervenções, mas tumUem se pode associar à deterrrinação física e mental de todo o pessoal de saúde em não ser derrotado pela doença, a necessidade doenferrto
delutar
contra a doença e resistir às intervenções para monitorização e tratamento. Gipson,
l99l
(citado por Castro, 1998)Uma
UCI
é
um
serviço
capacitado
de
instalações,recur§os humanos
eequipamentos capazes de assegUrar
um
üatamento efrcaz a doentes em perigo devida
iminente,
e
que nãoé
possível efectuá-lo noutros serviçosdo
hospital.É um
serviço para doentes com patologias potencialmente recuperáveis, onde é possível beneficiaremde
uma
observaçãopennanente
e
detalhada.E
tem
como principais
objectivos:proporcionar ao doente em estado
cítico
umamelhor
assistência, disponibilizadapor
pessoal diferenciado
e
apoiadopor
tecnologia avançada;retirar
os doentes em estadocritico
das unidadesde
internamentoou
serviço
de
observação,a
fim
das mesmasproporcionarem
uma
assistênciamais
homogénea aos queaí
permanecem;reduzir
amortalidade e morbilidade nos doentes de médio e alto risco; prevenir as incapacidades
dos
doentes;melhorar
o
nível
de
cuidados hospitalares diferenciados;permitir
aohospital utilizar com
a
maior
eficiência possível
o
pessoalmais
especializadoe
oequipamento
de
customais
elevado. Portanto,é
necessário concentrar competências,saberes
e
tecnologiasem
áreas específicas dotadasde
modelos
organizacionais emetodologias que as
tornem
capazes decumprir
aquelesobjectivos.
É
neste conceitoque assenta a definição de
UCI
(DGS, 2003).A
UCI
define-se
e
recoúece-se em
função
de
três critérios:
a
prática,
aavaliação e a investigação.
A
prática assenta nam continuum de acções e procedimentostanto
humanos
como
instrumentais
de
monitorização,
avaliação, diagnóstico
etratamento, assegurados
24hpor
dia, em função das necessidades do doente; a avaliaçãoresulta da harmonia
da função
aribuída a
cadaUCI,
aüavésda
análisede
variáveiscomo a natureza dos doentes admitidos, a
to(a
de sobrevida e a capacidade de socorreràs necessidades, são definidos os recursos necessários para cada
UCI;
e a investigaçãoadvém
do
"estudo"
de
cada
um
e
da
totalidade
dos
doentes,
num
contextomultidisciplinar,
e
que se
pretendetransdiciplinar,
de
diagnóstico
e
avaliação
dos resultados, levando a umamelhor
compreensão da doençae
ao enriquecerde
saberesque
têm como
objectivo
promover
a
qualidadedos
desempenhos organizacionais(DGS,2003).
O
conceito de unidade de cuidados intensivos surgiu nosE.U.A.,
num
períodocompreendido entre 1948
e
1960, apartir
dacria$o
de salas de recobro-
recuperação pós-anestésica(Kinney,
1983).Foi
com
o
aparecimento da epidemia dapoliomielite,
entre
1940
e
1950,
que
se deu
o
maior
impulso (Santos, 1983).
Com
a
evolução tecrrológicaa
que assistimosentre
1960e
L972, dá-seinício à
construção dasUCI.
Criadas
para dar
respostaa
um
serviço
em
exclusivo,
isto
é,
cuidados
intensivoscirúrgicos,
coronários, neonatais, etc., eram unidades de pequenaou média
dimensão(Kinney,
1983).Ao
longo dos tempos foram surgindo outro tipo de unidades concebidas para a manutenção de funçõesvitais,
como as unidades de tratamento respiratório, quesurgiram
com
a
evolução
dos
aparelhos
de
ventilação
mecânica, unidades
dehemodinâmica
ou
unidades
de
técnicas
dialíticas (Kinney, 1983).
Posteriormentesurgiram
UCI
polivalentes,
cujo
objectivo
é
cuidar dos
diferentestipos de
doentesatravés
de
distintas técnicas invasivas,
terapêuticas
e
meios
de
diagnóstico, rentabilizandoo
espaço, a tecnologia e os recuÍsos humanos. Serpolivalente
significa ser capaz de assegurar, em colaboração, os cuidados integrais para com os doentes quese é responsável
@GS,2003).
Actualmente
o
número
de
UCI
polivalentes
tem
vindo
a
aumentaÍprogressivamente quer
devido
à
ampliaçãodo
lequede
indicações para admissão dedoentes,
quer pela melhoria
da
eficácia dos
recursos
assistenciaisintra
e
üanspoÍte
do
doentecrítico),
coÍno também
devido à
evolução
de
ouüas
áreas damedicina que necessitam
do
apoio
da medicina intensiva (manutenção de dadores deórgãos por exemplo) @GS, 2003).
A
localizaçãodo
o'microecossistema" cuidadosintensivos dentro
do
hospitalconstitui
um
factor
de
extrema importância.Os
cuidados intensivos deverãoter
um espaço geograficamentedistinto
e, se possível, com entrada controlada. O acesso àUCI
deverá serfácil
e rápido, parafacilitar
a transferência dos doentes para outros serrriços ou parao
exterior e vice-versa. Normalmente aUCI
deve sifuar-se perto ou possuir um elevador directo parao
serviço de urgência,bloco
operatório, serviço deimagiologia'
laboratório
e
farmácia,
os
designadosserviços
de
suporte.
Mas não deve
havercirculação directa
entre
departamentos.
A
circulação
do
fornecimento
e
dosprofissionais deve ser independente da entrada dos visitantes
(SCCM'
1995)'Tal
como
em
outros
aspectosda
estruturada
unidade,
isto
pode
ser
uma realidade em unidades construídas recentemente, mas nas unidades antigas poderão tersido
tomadas soluções menos correctas.É
que muitas
destas unidadessurgiram
da recuperação de áreas hospitalares originalmente concebidas para outrosfins
epor
isso pouco adequadas em termos de localização e estruttua física'Relativamente à estrutura
física
dasUCI,
actualmente são construÍdas deraiz
edevem
por
issotomaÍ
umaforma
que Se considere adequada, de modo a beneficiar oimpacto
do
espaçofísico
no
comportamentodos
doentes,profissionais
de
saúde evisitas.
Foi
neste contexto queem
1988,a
SCCM
desenvolveuum
guia de
norrras orientadoras para a concepção dasUCI.
Segundo esta entidade, a equipa de design daUCI
deve ser constituída por uma equipamultidisciplinar
consistente, tendo em conta aopinião
não
só de
arquitectos,
engeúeiros,
designers
de
interiores,
médicos
eenfermeiros
a
exercer funçõesem
cuidados intensivos,como
outrosprofissionais
desaúde de outros departamentos que trabalhem com a
UCI,
assim como também devemser ouvidos os doentes e as famflias, para se assegUrar que o design se enconÚa com a
sua função pretendida. Este
guia
foi
concebido como
objectivo detomar
o
ambientedas
UCI,
menos preocupadoe
com
o
equipamentomais
humanizado,funcional
e amigável.A
planta e o d.esign geral daUCI
devem ser baseados nos padrões de admissão dos doentes, nos padrões de tráfego da equipa e visitas, na necessidade de instalações deapoio
como
as
centrais
de
enfermagem,
aÍmazenamento, espaçosde
eScritório, requisitos administrativos e educativos, e nos serviços de suporte.A
decisão sobreo
tamanhoda
UCI
e do
númerototal
de
camastem de
ser tomada relativamente à distribuição espacial das camas e das suas relaçõescom
outros aspectos. O númerototal
de camas deverá ser proporcional aotamaúo
e capacidade deffabalho
do
hospital e/ou
distrito
para
o
qual
a
unidadefoi
destinada.Nas
ríltimas décadas,a
evolução
tem
levado
os
hospitais
a
dedicarem
cadavez mais
carnas acuidados intensivos.
Há
duas décadas atrás, os hospitais dispensavam cercade
L%o datotalidade das suas camas,
isto
nos hospitais pouco diferenciados, sendo queos
maisdiferenciados
dispurüam cerca
de
ZVoa
2,5Voda
sua lotação
total, para
cuidadosintensivos (Caetano, 2002).
O
númeroideal
de camasé de
6
a 8,
e nunca maisde
12,é o
quea
SCCM(1995) considera melhor numa perspectiva funcional, alegando que assim as relações de
cooperago no trabalho
entre enfermeiros, médicos, doentes,famflia ou
comunidade, sãomais
próximas, mais familiares
e
mais
funcionais,
salientandoainda que
umaunidade
maior
conduz
à
desorganiz-açáoe
uma unidade mais
pequenatem
poucosrecursos humanos paÍa a entreajuda nos momentos de apuros. Caetano (2002) refere que
no
casodos hospitais
gerais,distritais, pouco
diferenciados,com
n
camas,a
UCI
polivalente deve
utilizar
2.nllO}
a
3.nll00
caÍnas,em
função
de
outros
factoresinfluentes.
No
que concerne aum
hospital geral de pequenas dimensões, defende ummÍnimo de quatro cÍLmas, paÍa seÍ
viável
aUCI
polivalente, quer em termos de custos deinvestimento, quer em relação aos recuÍsos humanos e físicos.
De
acordocom
a DGS(2003) citando um levantamento efectuado em 1990, por Reis Miranda e colaboradores,
em hospitais com mais de 400 camas, revela que há variações do número de camas em
UCI,
quevão
de
2,6 a
4,17o
das camasdo
hospital.
Neste documento está tambémreferenciado que a maioria dos autores defende que seis é
o
númeromínimo
de camaspara a
UCI
ser
consideradarentável, contudo não
há
consensoquanto
ao
númeromáximo recomendado, que varia entre 12 e 16.
Relativamente ao
tipo
de
design dasUCI
estas geralmente classificaln-se emunidades abertas, unidades fechadas
ou
unidades mistas(Hoyt
et
al.,
1995). Sendo aunidade
aberta,tal
como
o
nome indica,
constituídapor um
espaçoamplo,
com
a§camas dispostas lado a lado, à volta do contorno da sala, não existindo divisões entre a§
camas, encontÍam-se geralmente separadas
por
cortinas.A
unidade dotipo
fechada ou unidadede
quartos privados, contrariamenteà
anterior,é
constituídapor
quartos ou pequenas salas com uma ou mais camas, as quais estão dispostas em volta da central deestrutura), reúnem os dois
tipos
descritos,isto
é, uma unidade aberta comum
ou mais quartos individuais.Todos os tipos de estruturas têm vantagens e desvantagens.
No
quediz
respeito às unidades comum
tipo
de estruturaabeÍa,
umaúnica
salacom
as camas separadaspor
cortinas, permitem umamelhor
observaçãopor
parte dos prestadores de cuidados,como uma melhor
rentabilizaçáo
dos
recursoshumanos,
facilitando
a
gestão
dosmesmos
no
espaço, proporcionando aindauma maior
paÍilha
de
experiênciase
umimportante centro de formação
e
aprendizagem. Contudo, existeum pior
controlo
aonível
da infecção, assim comodiminui
a privacidade do doente e suas visitas(Kinney,
1983).Quanto às unidades fechadas, estas
têm
as vantagens deminimizuÍ o
risco
deinfecções cruzadas, assim como proporcionam mais privacidade aos doentes e famflia.
No
entanto, deterioram a observação prestada aos doentes, exigindo ummaior
número de pessoas na prestação dos cuidados, e diminuem a frequência de interacção entre osprofissionais de saúde, prejudicando o trabalho em equipa
(Kinney,
1983)-As
unidades mistas reúnem as vantagens e desvantagens das unidades abertas efechadas.
É
o
tipo
de estrutura mais concebido actualmente e recomendado pela DGS(2003), organismo que indica que cada
UCI
polivalente deve sempre contemplar algunsquartos para isolamento, aconselhando que numa unidade de seis camasi devem
existir
dois quartos. Assim, os doentes potencialmente infectados ou infectados são acolhidos nestes quartos, diminuindo o risco de infecção dos ouEos doentes internados.
Relativamente às unidades dos doentes, estas deverão estar situadas de
forma
aque a visualização directa ou indirecta (por monitores) dos doentes seja permanente
por
parte dos
prestadoresde
cuidadosde
saúde.De
acordocom
asnoÍmas
da
SCCM(1995),
o
design ideal dasUCI
deverápermitir
uma visão directa entreo
doentee
acentral onde permanecem os prestadores de cuidados.
A
unidadedos
doentesdeve ser
concebidapara
apoiar todas as tarefas doscuidados
de
saúde.
A
Joint
Commission
on
the
Accreditation
of
HealthcareOrganizations
(JCAHO) exige que
o
espaçopara
cada cama seja suficiente
para acomodar todoo
equipamento e pessoal necessário para satisfazer as necessidades doscuidados ao doente
(SCCM,
1995).As
unidades que se encontam dentro da sala abertadevem possuir cerca
de
20m2
por
cama
e
os
quartos
individuais
deverão
ter aproximadamente 25,5m2, de modo a suprir as necessidades dos diferentes utilizadores, quer do ponto de vista físico como psicológico.Recomendações da
SCCM
(1995) sugerem que a estaSo cenEal de enfennagem deverá seruma
áreaconfortável
e
com
dimensão suficientepara
acomodar todas asfunções necessárias à equipa
multidisciplinar.
NumaUCI
modelo, cada subestação de enfermagem deve sercapv
de
fornecera maioria,
se não todas as funções,de
uma estação central.Deve haver uma
luz
adequada paraos
cuidados geraise
outra
para deterrninadas tarefas especÍficas. Uma parede com um relógio actualizado.As
folhas deregisto
dos
doentesdevem
ser
facilmente
acessíveis.Uma
adequadasuperfície
de espaçoe
cadeiraspara
a
realizaçãode
registos
clínicos
devem ser
fomecidos
aosmédicos e enfermeiros. Prateleiras, armários e outros arquivos para arÍnazenamento de
forrrulários
de registoclínico
devem estar localizados de modo a estaÍem prontamente acessíveis a todo o pessoal que necessita da sua utilização.A
área de secretariado podeestar fora da sala, mas deve ser facilmente acessível.
Outras áreas de trabalho
e
de apoio, como salas deúabalho
para enfermeiros,salas de aÍnazenamento de materiais, salas de equipamento, copa,
etc.,
deverão estar situadas dentro ou em áreas imediatamente adjacentes àUCI.
É ainda importante que osespaços de trabalho, se forem de estrutura fechada, terúam as paredes ou meias paredes em
vidro,
de forma apermitir
a visualização dos doentes durante o desenvolvimento dasactividades.
Nas
UCI
recentes deverá aindaexistir,
dentroou
perto da unidade, quartos deprevenção, sala de conferências e espaços de descanso paÍa o pessoal que proporcionem
um ambiente com alguma privacidade, confortável, tranquilo e relaxante. Estes espaços deverão ainda estar munidos de sistema de intercomunicadores, telefones e dispositivos de alarmes sonoros para as situações de emergência.
A
UCI
deve
possuir
também
uma
sala
de
espera
para
as
visitas,preferencialmente dentro da unidade.
O
acesso dos visitantes deve ser controlado pelarecepcionista.
Uma
a
duas
cadeiraspor
cada cama são
recomendadas. Telefonespúblicos (preferivelmente com cercos de privacidade) e facilidades nas refeições devem
estar disponíveis aos visitantes. Televisão e ou música devem ser fornecidas. Casas de banho públicas e
facilidade
emadquirir
água devem encontrar-se dentro desta sala ou imediatamente adjacente. Cores quentes, alcatifas, iluminação suave indirecta e janelas,são desejáveis. Materiais educativos,listas de senriços do hospital e de base comunitária
e recursos a serviços de apoio devem existir. É também recomendada uma sala separada para consulta e diálogo com a famflia em privacidade.