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Considerações sobre o estudo do futuro. - Portal Embrapa

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Academic year: 2021

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Considerações sobre

o estudo do futuro

D a n ilo Nolasco Cortês Marinho

Tarcízio Rego Quirino

“Aqueles que desejam ganhar o favor dos príncipes, geralmente o tentam oferecendo- lhes as coisas que eles próprios mais valori­ zam, ou aquelas de que os príncipes se agradam mais.”

Maquiavel (1469-1527)

Resumo, a idéia de futuro, como a conhecemos hoje, é recente na história da humanidade, mas nem adquirindo tanta importância que se tom ou m otivo de rejlexão institucionalizada. Os estudos do fu turo tiveram precursores antes do século XX, mas f o i a p a rtir da Segunda Guerra M undial qtie evoluíram para a atua! estruturação e fo co de interesse. Presentemente, fundamentam a tomada de decisão pelo setorptihlico e privado, mas em geral oferecem hases leórico-metodológicas obscuras ou nulas. Os paradigmas clássicos das ciências sociais, tais como se constituíram em to m o das obras de Marx, Durkheim e Weber, podem contribuir, cada um a seu modo, para fundam entar o estudo do futuro, o artigo examina também aspectos específicos de outras contribuições relevantes, tais como de Marcuse, Habermas e Mannheim, e os desafios recentes do pós-modemismo, concluindo pela vantagem de uma abor­ dagem heterogênea.

Danilo Nolasco Cortês Marinho c professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília

Tarcízio Rego Quirino é pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuá­ ria (Em brapa) e do Departamento de Sociologia Rural da Universidade de Wiscon­ sin, Madison (EUA).

liste artigo é resultado do projeto Embrapa-UnB-CNPq “O futuro hoje: as macroten- dências de interesse para a pesquisa agropecuária brasileira”. Beneficiou-se de sugestões e críticas a uma versão anterior feitas por Jo sé Bolívar Rocha, a quem registram os nosso agradecimento. A responsabilidade Final é tão somente dos autores.

Recebido para publicação em fe\'ereiro de 1995.

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I n t r o d u ç ã o ; a id é ia d e fu t u r o

M

u d a n ç a é, provavelm en te, u m a d a s prin cip ais características d o m u n d o c o n te m p o râ n e o . M ud an ças b a se a d a s n o cre scim en to d o c o n h e c im e n to cien tífico -tecn o ió g ico alteram d e m an eira in ten sa o e stilo d e vida d a s p>essoas. D e sd e a R evolução In dustrial, im p o r­ tan te s m u d an ça s p assaram a se co n fig u rar n o p e río d o d e um a g e ra ç ã o , p rin cip alm en te a q u e la s relacio n ad as a o s m eio s d e tra n sp o r­ te, d e c o m u n ica ç ã o e d ifu sã o d e in fo rm açõ es, a o co n tro le d a s d o e n ­ ç a s e a o c o n h e cim e n to d a n atu reza e d o universo.

A d in âm ic a d o s p r o c e ss o s d e m u d an ça e a d isse m in ação d a id éia d e p ro g re sso , a q u al re p re se n ta e ad v o g a o co n tro le cre scen te d a h u m a n id a d e so b r e a n atu reza p ara seu b en efício e con fo rto , levaram o h o m e m m o d e rn o a im agin ar um fu tu ro que. q u an to m ais d istan te n o te m p o , m ais se d iferen cia d o presen te, n o se n tid o d e cre scen te e cu m u lativ a c a p a c id a d e cien tífica e tecn o lógica. O tem p o p a sso u e n tã o a ter um n ovo sig n ific ad o além d a q u e le relacio n ad o a o s ciclo s d a n atu re z a e à s c o n o ta ç õ e s relig io sas.

A id é ia so b re c o m o se rá o fu tu ro é um a atividade h um an a com um , lig a d a à vida em so c ie d a d e . H istoricam en te, o hom em se m p re for­ m o u a lg u m a id éia p ro sp ectiv a d o futuro, em b o ra isso fo sse um a p r e o c u p a ç ã o se c u n d á ria níis so c ie d a d e s n ão in dustriais. N as so c ie ­ d a d e s tra d icio n ais e n o s a g ru p a m e n to s cam p o n ese s, cu ja c u ltu ra e m o d o d e vida estavam fo rtem en te lig ad o s a o s ciclos d a n atureza, o fu tu ro ap re se n tav a um a p ersp e ctiv a tão estável que, c o n se q ü e n te ­ m en te, n ã o co n stitu ía p re o c u p a ç ã o im portan te. E m bora se p e n sa sse em fu tu ro , e ste n ão era fu n d am en talm en te diferen te d o p resen te. A ntes d a R ev olu ção In dustrial, o fu tu ro era visto c o m o v in cu lad o às ex p e c tativ as d e realização inciividuais e m ágico-religiosas.^

A p ó s a R e v o lu ç ã o In d u stria l, u m a n o v a c o n c e p ç ã o d e fu tu ro foi in c o r p o r a d a à c u ltu ra o c id e n ta l, atrav é s d a id é ia d e p ro g re sso , Hsta iciéia p r e s s u p õ e um p r o c e ss o d in â ­ m ico, c o n tín u o e irreversível d e m u ­ d a n ç a t e c n o ló g ic a e, e n q u a n t o c o n q u ista d a h u m an id ad e em seu

co n ju n to , ev en tu alm en te con sid e- BarcoVelez. 1896.

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d e s c r iç ã o d e s se p ro c e sso , m as so b re tu d o su a s im p licaçõ es so b r e o fu tu ro e a s p o ssib ilid a d e s d e dirigi-lo d e m o d o favorável a o s in te re s­ s e s d a so c ie d a d e torn aram -se o o b jetiv o m esm o d a reflex ão d e g ra n d e s p e n sa d o re s, tais c o m o Sm ith (1723-90), R icardo (1772- 1 826), C o m te (1798-1827), Mill (1806-73), T ôn n ies (1 8 5 5 -1 9 3 6 ) e M arx (1 8 1 8 -8 3 ). O en te n d im en to d o recém -iden tificad o p r o c e sso so cia l d o p ro g re sso e a c o n sid e ra ç ã o d e su a s co n seq ü ên cia s, tanto em nível m acro sso c ial c o m o em nível individual, se torn aram um p ro b le m a in telectual d e tal fo rm a fascin an te e d esafiad o r, q u e a lg u ­ m a s d a s m elh o res in teligên cias d a é p o c a a ele se d ed icaram e d ele fizeram a b a se e o fo co d e e stu d o d e d u a s n ovas d iscip lin as in telec­ tu ais: a e c o n o m ia política e a so c io lo g ia .

A p artir d o sé c u lo XIX. a n ova p ersp e ctiv a d e futuro, q u e p arte d a p re m issa d e u m a b a se técnica em m u tação evolutiva, alcan ça g ran d e p o p u la r id a d e . O s ro m an ces d e Jú lio Verne (1828-1905), n a brança. e d e W ells (1 8 66-1946), na Inglaterra, con stitu em um bom e x e m p lo d a av aliaç ão d o futuro, tal c o m o era p e rc eb id o p elas co rre n te s d o m in a n te s d a so c ie d a d e d o sé c u lo p a ssa d o . E stes a u to re s galvan i­ zaram a im ag in ação d e to d a um a é p o c a, certam en te tran scen d en d o , n o im ag in á rio p o p u lar, a in fluên cia d o s g ra n d e s p e n sa d o r e s d a e c o n o m ia po lítica e d a so c io lo g ia .

N o sé c u lo XX, to d a p ersp ectiv a d e fu tu ro tem p o r b ase a e x p e c ­ tativa, p a ra m elh or ou para pior, d o s av an ço s d a C iên cia e T e cn o lo ­ gia. S p e n g le r (1880-1936), p o r ex em p lo , ch eg o u a p red izer q u e o p r o g r e s s o técnico, q u e havia levado a Iiu rop a à e x p a n sã o e à m atu ­ rid ad e, traria c o m o co n se q ü ê n cia a d e c ad ê n c ia e a m orte d a civiliza­ ç ã o o cid e n tal. C on trariam en te ã trad ição d o s p e n sa d o re s e u ro p e u s, d e sa lie n ta r prin cip alm en te o s a sp e c to s p o lítico s a o exam in ar o fu tu ro , o tra b alh o d e so c ió lo g o s e o u tro s cien tistas so cia is am e ric a­ n o s, e sp e c ia lm e n te o d e William F. O gb u rn (1886-1958), en fatizou a im p o rtân c ia d a C& T c o m o d eterm in an te d a fo rm a q u e o fu tu ro iria assu m ir, criou teo rias d e d ifu são , a n aliso u as im p licaçõ es so c ia is d a m u d a n ça tecn o ló g ica e p r o p ô s m é to d o s d e e x trap o laçã o d e ten d ên ­ cias e an álise d e in o v açõ es (M iles, 1993).

D e sd e a S e g u n d a (iu e rra M undial, o e sfo rç o intelectual d e s p e n ­ d id o p ara g e ra r re cu rso s técn ico s d iv e rso s d e p rev isão d o fu tu ro reflete a n e ce ssid a d e p rem en te d a s so c ie d a d e s in d u striais d e se p re p a ra re m p ara as tra n sfo rm açõ e s q u e o fu tu ro certam en te d e te r­ m in a e o rg an izarem as in certezas para m elh or plan ejar su a s aç õ e s.

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D esd e en tão , o av an ço d o co n h e c im e n to cien tífico e te c n o ló g ic o a c e le ro u -se em p r o g r e s s ã o g e o m é tric a e a m u d a n ça te c n o ló g ic a firm o u -se c o m o a p rin cip al variável n o d e lin e a m e n to d o fu tu ro . N e sse e sfo rç o , têm s id o c ria d o s v á rio s re cu rso s técn ico s, tais c o m o s o fistic a d o s m o d e lo s m atem ático s, c o m p le x o s ro te iro s d e c o n su lta a e sp e c ia lista s, m é to d o s rig o r o so s d e o rg an iz aç ão e h ie ra rq u iz a ç ã o d e variáveis d in âm ic as em in te ra ção n a m u d an ça so cia l.

O e stu d o d o fu tu ro , o u d a s variáveis o u fa to re s q u e p o ssa m in terferir em s u a c o n fig u ra ç ã o , to rn o u -se u m a a tiv id ad e siste m á tic a e in stitu cio n alizad a d e m u ito s p aíse s, o rg a n iz a ç õ e s in te rn a c io n a is e go v e rn am en ta is, assim c o m o d e e m p re sa s p riv ad as. D e sd e o p ro je to R esearch a n d D ev elo p m e n t (RAND) e o C lu be d e Rom a, p a s sa n d o p e lo s in stitu to s think-tank p ú b lic o s e p riv ados, até o s bestsellers fu tu ristas d e Alvin T o ffler (1 9 7 0 , 1981), Jo h n N aisbitt (1 9 8 2 ) e Peter D ru ck er (1 9 9 3 ), o e s tu d o d o fu tu ro torn o u -se u m a á re a científíco- a c a d ê m ic a co m d e b a te s te ó ric o s e m e to d o ló g ico s, c u r so s u n iv ersitá­ rio s d e d ife re n te s níveis, p e rió d ic o s e sp e c ia liz a d o s (p. ex., Futures, Futurihles, Futures Research Quarterly e Technological Forecasting a n d S ocial Change) e ev en tu alm e n te am p la c o b e rtu ra d a m íd ia in te rn acio n al e n acion al.

O rá p id o p r o c e ss o d e m u d an ça s p o r q u e p a s sa o m u n d o a tu a l­ m en te — n ã o s ó a s d e â m b ito cien tífico e tecn o ló g ico , c o m o tam b ém a s d o â m b ito e c o n ô m ic o , p o lítico e so cial, in clusive o s v a lo re s e a titu d e s h u m a n o s — tem lev ad o a um c re sc en te in te re sse p e lo fu tu ro . A a p ro x im a ç ã o d o fim d o sé c u lo e d o m ilên io tem p ro p o r c io ­ n a d o u m a atitu d e, ev en tu alm e n te m ística, a re sp e ito d e um p o n to d e in flexão n o cam in h o em d ire ç ã o a um a n ova e ra p a ra a h u m an i­ d a d e . E m b o ra n ad a h aja d e an o rm al n o cam in h o c ó sm ic o q u e o p lan e ta T erra e sta rá p e rc o rre n d o a o tra n sp o r o lim iar d o m ilên io , o se n tid o sim b ó lic o q u e a civilização ju d aico -cristã atrib u i à p a ssa g e m d o sé c u lo é su ficie n tem en te forte p ara c a u sa r im p acto n a s o c ie d a d e e n a s vidas d a s p e sso a s e, p o r isso, n ão p o d e ser d e sp re z a d o p ela ciên cia co m o um m ag n o even to d e p sico lo gia scx:ial. Rever o p a s sa d o e prever o futuro é, pois, um exercício q u e tende a aum entar d e im portân cia até o an o 2001, início d o terceiro m ilênio. É exatam en te e ste clim a d e p restação d e contas, deslum bram entci e incerteza a característica d o q u e se co n v e n cio n o u ch am ar d e “atm o sfe ra fin de siècle".

O re c ru d e sc im e n to d o in te re sse p o r e stu d o s s o b r e o fu tu ro re q u e r a rev isão d e a lg u n s a sp e c to s d a p ersp e ctiv a q u e a d o ta m e

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su sc ita a n ece ssid a d e d e reflexão so b r e as b ase s teórico -ep istem o ló - g icx s q u e o s fun dam en tam . O q u e se se g u e visa a co n trib u ir para tal revisão/co n stru ção . Prim eiro, faz um a recen são so b re o s p re c u r­ s o r e s e o e sta d o atual d o s e stu d o s d o futuro. Em seg u id a, d e p o is d e c o n sid e ra r as idéias d e tem p o e d e p r o g re sso c o m o d im e n sõ e s so c io ló g ic a s e culturais b ásicas p ara o e stu d o d o futuro, exam in a c o m o o s p arad igm as teó rico s d a s ciên cias so c ia is oferecem a b o r d a ­ g e n s d iscre p a n te s e co m o id éias d e p e n sa d o re s p ó s-c lássico s re p re ­ sen tam co n trib u içõ es e sse n c iais para lhe determ in ar a s p ersp ectiv as. M nalm ente, exam in a o s d e sa fio s recen tes a estas p o siçõ e s, c o n clu in ­ d o p o r um a ab o rd agem q u e se b en eficie d a d iv ersid ad e p a ra d ig m á ­ tica d a s ciên cias sociais.

Breve recensão sobre os estudos d o futuro

O s fu tu ró lo g o s n ão se p ro p õ e m a re sp o n d e r se M aria c a sa rá no final d a p róx im a safra, ou se d e te rm in ad o tim e d e fu tebol se rá o c a m p e ã o d o an o qu e vem. Ao con trário , eles buscam n ão se r c o n fu n ­ d id o s com adivin h os ou p ro fetas d e q u alq u er esp écie. Para isso , têm p o r p re m issa n ão se p re o cu p a r com o futuro d e um in d iv íd u o d e te rm in a d o e n ão p ro cu rar o s cam in h os d o d estin o , c o m o se fo sse m previam en te tra çad o s p o r algu m a en tid ad e su p ran atu ral. A b a se d o futurism o m o d ern o e stá n o co n h ecim en to d o s fato s h istó ­ ricos, ju n tam en te com um a b o a an álise d o p resen te e a utilização d o m elh o r con h ecim en to científictJ possível, a d icio n a n d o a isto o s v a lo re s e a im agin ação h u m an os. Lógica e ep iste m o io g icam en te, fu tu rism o n ão p o d e ser c o n sid e ra d o um a ciência, e m b o ra d e p e n d a larg am en te d a s ciências, com se u s m é to d o s e rigo res d e raciocínio, se u co n h ecim en to em p iricam en te testad o d e c o m o fu n cion am a n atu reza e a so cied ad e , se u s levan tam en tos d o p a ssa d o e d o p rese n te e su a in terp retação d a s p ersp ectiv as d o futuro.

P recu rsores

C o n sid era-se a Utopia (1 5 1 6 ) d e T h o m as M orus c o m o um d o s p rim e iro s e stu d o s futurísticos, q u e p o d eriam se r c h a m a d o s d e pré- m o d e rn o s. Entretanto, foi B aco n , com su a o b ra New Atlanlis (1 6 2 7 ), q u e p recon izo u a idéia d e q u e a co n tín u a e x p a n sã o d o co n h e cim e n to determ in aria m u d an ça s ge ra is n as relaç õ es h u m an as

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e n o c o n tro le d a n atu reza. D e sse m od o, an te cip o u a id é ia d e p r o g r e s­ so , tal c o m o se c o n su m o u n o m o to r d o d esen v o lv im e n to d o O cid en ­ te a p artir d o sé c u lo XV II!. C ab e m en cion ar ain da, n o s p rim ó rd io s d o fu tu rism o m o d ern o , a c o n trib u ição d e C o n d o rc e t (1743-94), c o n sid e r a d o o p io n e iro n a u tilização d e m é to d o s e x trap o iativ o s d e p re d iç ã o e n o u so d e p re d iç õ e s c o n d ic io n a is e altern ativas (C o rn ish , 1977). A teo ria d a e v o lu ç ã o d e C h arles D arw in (1809-82) re p re se n ta o u tr o c o n ju n to d e idéias, q u e c o n so lid o u a c o n ce p çã o m o d e rn a d e p r o g r e s s o e a cre n ça n o d e sen v o lv im e n to p erm an en te e cu m u lativo d o h o m em e d e seu d o m ín io crescen te so b re a n ature/a. Por o u tro lado, rh o m as R. M althus (1766-1834) e O sw ald Sp en gler (1880-1936) re­ presen tam a vertente pessim ista a res[Xíito d a s p o ssib ilid ad es h um a­ nas, in iciando um tipo d e previsão d e caráter ap<x'alíptico q u e vêm se to m a n d o freqüen te em algu n s estu d o s d o futuro.

Jú lio V e rn e é um e x e m p lo d o d e slu m b ram e n to d o sé c u lo XIX com o d e se n v o lv im e n to cien tífico e tecnok')gico. A ficção d e Verne, b a se a ­ d a n o c o n h e c im e n to cien tífico d isp o n í\ el em su a ép o ca, p o ssib ilito u n o táv e is a n te c ip a ç õ e s d e d esen v o lv im e n to s tecn o ló g ico s, c o m o foi o c:l s o d o su b m a rin o e d a viagem à lua, a p o n to d e alg u n s a u to re s c o n sid e ra re m q u e se u s u c e s s o c o m o fu tu ró lo g o d eco rreu d o fato d e q u e a lg u n s d e se u s le ito res reso lveram d esen v o lv er su a s p re v isõ e s.'

A P rim eira e a S e g u n d a (iu e r r a s iMundiais trou xeram p e ssim ism o a o s e s t u d o s d o futuro. N esse p e río d o au m en to u a p re o c u p a ç ã o com o c re sc im e n to d o p o d e r d e destruiçãcí nas g u e rra s em d e c o rrê n c ia d o p r o g r e s s o d a tec n o lo g ia m ilitar. A b o m b a atô m ica in au g u ro u um p e r ío d o q u e p o ssib ilita p re v isõ e s alarm an tes. Pela prim eira vez na h istória, o h o m em estav a em p o siç ã o d e frustrar, d e lib e ra d a ou acid e n talm en te, a p re m issa d e q u e o p r o g re sso seria in fin ito e irreversível. In iciou-se tam bém n e ssa é p o c a a p re o c u p a ç ã o com o s p ro b le m iis d o s g ra n d e s c e n tro s u rb a n o s e com a p o lu ição am b ien tal. N a d é c a d a d e 30 d esen v o lv eu -se d e m an eira ráp id a a ficção científica, q u e se m an ifesto u na literatura e n(3s m eio s d e com u n icação .^

Estudos contemporâneos

N o s H stados U n idos, a p ó s a S e g u n d a (iu e rra M undial, o s e stu d o s d o fu tu ro s e c o n so lid aram , se torn aram siste m á tico s e se in stitu cio ­ n alizaram . O prin cip al m o to r d o s e stu d o s d o futuro n aq u e le p aís foram a s d e m a n d a s re la c io n a d a s com a se g u ra n ç a n acion al e a

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cre sc e n te d isp u ta ideológica, po lítica e eco n ô m ica com o s p a íse s d o b io c o co m u n ista, q u e caracterizariam a (iu e rra Fria.^ A RAND C o r­ p o ra tio n su rg iu co m o um a o rg an ização privada vo ltad a a o s e stu d o s d o fu tu ro , criad a n o pós-guerra p elo gen eral H. H. Arnold, q u e teve c o m o p rin cip al cliente d e su a s p e sq u isa s o G overn o am erican o , fo rn ecen d o -lh e com presteza e p ro p rie d a d e o s e lem en to s e p e r sp e c ­ tivas p ara c o m p o r o q u ad ro d a s d e c isõ e s políticas a lo n g o prazo.^ O s u c e s s o d a RAND serviu d e m o d e lo para a criação d e o u tro s in stitu to s v o lta d o s a o s e stu d o s prospectivo s, d estacan d o -se o I lu d so n Institu- te. Hste in stituto teve lierm an Kahn c o m o figura p ro em in en te, o q u al, co m su a in teligência e criatividade, exerceu g ran d e in flu ên cia n as in v estig açõ es so b re o fu tu ro e teve o e.ssencial d e su a o b ra d iv u lg a d o p e lo s m eio s d e com u n icação d e m assa e assim ila d o in ter­ n acio n alm en te à s discu.ssões so b re o futuro.*

Na H uropa su rgiram tam bém , a partir d a d é c ad a d e 50. in d iv íd u o s e o r g a n iz a ç õ e s en volvidos com o e stu d o d(5 futuro, d e sta ca n d o -se R obert Ju n g k e Bertrand d e Jo u v en el (Jouvenel. 1968). A urélio Peccei. e m p re sá rio italiano, o rg an izo u em 1968 o (Hube d e Roma. S e u s m em b ro s eram cientistas, p lan e ja d o re s e h u m an istas in te re s­ s a d o s n o s problemiLs d o m u n d o d e um p o n to d e vista g lo b al, ('o m o resu ltad o , o C lu b e d e Roma an aliso u o s p ro b lem as d o fu tu ro d e um a [x;rspectiva diferen te d aq u elas tipicam en te a d o ta d a s p e lo s e stu d o s am erican o s, p o is co n sid e ro u exten sam en te a sp e cto s até e n tã o p ra ­ ticam en te in to cad o s. /Vssuntos q u e tornaram p io n eira a o b ra d o C lu b e d e Rom a foram a p o lu ição global, o e sg o tam e n to d a s reserv as n atu rais e a e x au stão d a terra para fins d e p ro d u ç ão d e a lim e n to s e fib ras em co n d iç õ e s e q u an tid ad es aceitáveis e su ficie n tes p ara ;is c re sc e n te s n e ce ssid a d e s hum aniis.

() trab alh o d o C lube d e Rom a (M eadow s ot al., 1974) é c o n sid e ­ ra d o o p o n to inicial d o s e stu d o s d o futuro d o p e río d o m ais recen te (M oll. 1993). O e stu d o ad o to u , pela prim eira vez d e m o d o c o n s e ­ q ü e n te e con vin cen tem en te d o cu m en tad o , um a p o stu ra in telectual b a se a d a na c o n ce p ç ã o d e q u e o s recu rso s d o plan eta T erra n ão sã o ilim itad o s nem inesgotáveis, e privilegiou, em co n seq ü ên cia , variá­ veis d e d isp o n ib ilid a d e d e recu rso s e variáveis d e c o n su m o d o s d e riv a d o s d e tais recurso s. H um e stu d o crítico, p o rq u e su a posiçãci .se ba.seia n a n ã(5 aceitação d e p rem issas em voga, tais c o m o a d e q u e o d esen v o lv im e n to ec o n ô m ico teria .sem pre e in co n testav elm en te

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um c a rá te r b en é fico e q u e as riq u ezas n aturais seriam in exauríveis (S lau g h te r, 1993b ).

A v isã o teó rica cio e s t u d o d o C lu be d e Rom a é a visão d e c a u sa li­ d a d e d a ciên cia clássica, in clusive d a s ciên cias so ciais, em q u e as leis d e re la ç ã o v igen tes n o p re se n te e n o p a ssa d o se aplicam igualm en te a o fu tu ro , d a d o q u e s e verifiquem as n ecessárias c o n d iç õ e s d e coeteris p a rih us. T odavia, s u a n ovid ad e principal é q u e leva c o e re n ­ te m e n te à s c o n se q ü ê n c ia s p ráticas a ad m issão d e q u e tais leis n ão s ã o n e c e ssa ria m e n te lin eares. O e m p re g o d e um a m atéria-prim a p ara g e ra r b e n s e c o n ô m ic o s e e x p an d ir o bem -estar social, por-exem p lo, n ã o p o d e s e r e x tra p o la d o ad infinitum, visto q u e su a e x a u stã o g ra d u a l m o d ifica o s te rm o s d a relação e gera um a nova situ a ç ã o em q u e a p re d iç ã o n ão m ais s e aplica. Assim, o m u n d o d o fu tu ro p a ssa a re q u e re r u m a v isão d e e sc a sse z e a d em an d ar açõ e s para en fren tar o p ro b le m a em nível m u n d ial, li p o r esta perspectiva q u e o e stu d o p o d e se r c o n sid e ra d o o p rim e iro “m an ifesto verde" d e repercu.ssão p o lític a e so cia l d e a b ra n g ê n c ia realm ente global. D ad o o caráter in cip ie n te d o tratam en to te ó ric o d e fen ô m en o s n ão lin eares p elas ciê n cia s so c ia is e a e sc a sse z d e tal ab o rd agem no nível d e p e sq u isa s e m p íric a s até o início d a d é c a d a d e 70 (Q uirino, 1980), a co n trib u i­ ç ã o d o C lu b e d e Rom a foi, a o m esm o tem po, clássica e in ovadora.

Um re su m o d a h istó ria co n te m p o rân e a d o s e stu d o s d o futuro foi p r o p o s t o p o r M asini e G iliw ald (1990), q u e a dividiram em três p e r ío d o s : 1) en tre o fim d a S e g u n d a (}uerra .Mundial e a d é c a d a d e 60, o s e s tu d o s d o fu tu ro fo ram d o m in a d o s p o r um a persp ectiv a técn ico -an alítica, ligad a a o s in te re sses m ilitares ou d a se g u ra n ça n acio n al; 2) d u ran te a d é c a d a d e 60 e o co m eço d a d é c a d a seg u in te, a p e rsp e ctiv a “ p e sso a l/in d iv id u a l” d o s eStu dos d o futuro gan h aram in flu ên cia, atrav és d e a u to r e s c o m o Toffler, Jo u v en el e ju n g k ; e 3) a p e rsp e c tiv a “o rg a n iz a c io n a l/so c ia l" é a m ais recente e e sta b e le ce a lig a ç ã o e n tre o s e stu d o s d o fu tu ro e as d ecisõ es, valores e o b je tiv o s d a s o r g a n iz a ç õ e s en vo lv id as.

N a A m érica la tin a , o s e stu d o s d o futu ro se desen volveram c o m o um in stru m e n to d e p lan eja m e n to , so b o patrocín io d o s g o v e rn o s n a c io n a is e d a s o rg a n iz a ç õ e s in tern acion ais in te re ssad o s em p r o m o ver o d e se n v o lv im e n to e c o n ô m ic o . De tal form a p lan eja m e n to e fu tu riçã o estiv eram ligad o s, q u e m u itos d o s “p la n o s ” d e go v e rn o fe ito s n a d é c a d a d e 6 0 eram m ais “ im agens d e fu tu ro ” d o q u e p ro g ram íis d e a ç ã o p ro p ria m e n te d ito s. Yero (1993) divide em d u a s

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fa se s O S e stu d o s d o fu tu ro n este con tin en te. Na p rim eira fase, q u e se inicia na m etad e d o p re se n te sé c u lo , d u a s e sc o la s rivais, a m arx ista e a fu n cion alista, fu n d am en tam co m su a s teo rias as p r o p o sta s, o p ­ ç õ e s e im ag en s d o fu tu ro e avaliam a s c o n se q ü ê n cia s e p o ssib ilid a d e s d e im p lem en tação d a s p r o p o sta s co n co rre n tes. N a s e g u n d a fase, a p artir d a “d é c a d a p e rd id a ” d o s a n o s 80, o s e stu d o s se caracteriz am p o r u m a ab o rd a g e m situ acio n al, lig ad a a o p lan e ja m e n to e stra té g ic o . Tal p o siç ã o re sp o n d e à id é ia n eo lib eral d a d o m in â n c ia d o m e rc a d o c o m o e stru tu ra m e d iad o ra n o s d iferen tes a sp e c to s d a v id a so cial, e à s d e m a n d a s para lidar d e m o d o m ais racion al com a in certeza p ro d u z id a p e la s recen tes c rise s d a d ív ida extern a e d a in te g ra ç ã o n a e c o n o m ia glob al, n a m u d an ça tec n o ló g ic a acele ra d a e n a c o m p e titi­ v id ad e in tern acion al.

O s e stu d o s d o fu tu ro n o B rasil e n a Am érica la tin a estiv eram in icialm en te lig ad o s a o p lan e ja m e n to estatal. Tiveram p o r o b je tiv o to rn ar p o ssív el o c]ue M erqu io r (1 9 9 2 ) caracteriza c o m o o “ bism ar- k ism o m itigad o d e K u bitsch ek ” n o s a n o s 50 e a m o d e rn iz a ç ã o a u to ritária q u e o se g u iu d u ra n te o regim e m ilitar in sta u ra d o em 1964.

R ecen tem en te tem a p a re c id o g ra n d e q u a n tid a d e d e e s tu d o s p r o s ­ pectivos, m u ito s d e le s fo c aliz an d o o h o rizo n te d o a n o 2 0 0 0 . D ife­ ren tem en te d o s an te rio res, e ste s e stu d o s n ão e stã o c o m p ro m e tid o s a p e n a s com o p lan eja m e n to e p o lítica adm in istrativa esta ta is. F.spe- c ialista s n as u n iv ersid ad es, g ra n d e s e m p re sa s in d u striais e fin an ce i­ ra s, a s s im c o m o c a t e g o r i a s d e p r o d u t o r e s têm p r o d u z i d o , in cen tiv ad o e p a tro c in a d o estudeis so b r e as p ersp e ctiv as e c o n ô m ic a s e so c ia is d o país, num m o m e n to em cjue, talvez c o m o n u n ca a n te ­ riorm en te, o fu tu ro se a p re se n ta h ip o tético e in d efin id o (V a sco n ce­ los, 1992). E sta n ova o n d a d e e stu d o s d o fu tu ro en fatiza, p o r um lado, a an álise p ro sp ec tiv a e a p rev isão e, p o r o u tro , a crítica e a ju stiç a so cial (Ilo y o s, 1992).

(fu rio sam en te , ex iste a m p lo c o n se n so so b re a in te rp re ta ç ã o d o p a s sa d o recente, o q u e d e n o ta u m a c o n v erg ên cia teó rica n o cjue an te s era um a p ro fu n d a d isc o rd â n c ia en tre in te rp re taç õ e s em c o m ­ p etição . O p aís e stá em um a e n cru zilh ad a d e c a m in h o s p o u c o d efin id o s, d e p o is d e ter pas.sad o p e lo e sg o ta m e n to d o m o d e lo d e su b stitu iç ã o d a s im p o rtaç õ e s. C om este, o p aís c o n se g u iu a im p la n ­ ta ç ã o d e um p o d e r o s o siste m a pro d u tiv o , m as em te rm o s q u e e stã o se n d o d e sc rito s c o m o d e “ m al d e sen v o lv im e n to ” . Em d e c o rrê n c ia.

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n o s a n o s recen tes tem sid o o b se rv ad a a q u e d a d a ren d a per capita e, p rin cip alm en te, a e x ac erb a ção d a s d e sig u a ld a d e s so cia is. íistes e s tu d o s e e sta co n v ergên cia d e in terp retaçõ es co m eçaram a viabili­ z ar a su p e r a ç ã o d a situ ação an terior, p o is perm itiram q u e a e le iç ão p re sid e n cia l d e 1994 se fu n d am en tasse na p ersp ectiv a d e um n ovo p r o je to n acion al. ILste, e m b o ra ain d a p o u c o preciso , c o n g re g o u em to rn o d e si um n ú m ero d e e le ito res jam ais c o n se g u id o e esv aziou , p e lo m e n o s p o r algum tem po, a p o ssib ilid a d e d e um a o p o s iç ã o b a se a d a em altern ativas radicalm en te diferen tes d e in te rp retação e d e p r o p o sta s.

A “crise d o s p arad ig m as" n as ciên cias sociais** tem. todavia, c ria d o um v á cu o d e in certeza con ceituai e teórica para o s e stu d o s d o futuro, cjue s e r á tra tad o m ais adian te. Por o u tro lado, o in te re sse em tais e s t u d o s p o r p arte d e o rg an iz aç õ e s in tern acion ais tais c o m o o ['u n d o d a s N açõ es U n idas para a Infância (IJnicef), o P rogram a d a s N açõ es U n id as para o D esen volvim en to (PNUD), o B an co M undial e a U n iv ersid ad e d a s N ações Unidas, tem ab erto e sp a ç o para tra b alh o s tecn icam en te m ais so fistic a d o s e para um a d iv u lg ação m ais ab ran ­ g e n te d o s se u s resu ltad o s. As ten d ên cias c o n trad itó rias, p o ré m ct)m- p le m e n tare s, d e u n id ad e e d iv ersid ad e q u e caracterizam o m u n d o c o n te m p o râ n e o reforçam , co n tu d o , a u tilid ade prática p ara as a n á ­ lise s c e n tra d a s n o futuro (M asini, 1993).

Provavelm en te, o q u e m elh or caracteriza o s e stu d o s d o fu tu ro atu a lm e n te é a h e te ro g e n e id a d e tanto n o q u e se refere à s prem i.ssas filo só fico -id e o ló g ic as, q u an to à e sco lh a d o s tem as, e ain d a a o s m é­ to d o s d e e stu d o . O s e stu d o s d o futuro tornaram -se um a d iscip lin a a c a d ê m ic a (lild red ge, 1975), um c o m p o n e n te n o p lan e ja m e n to d a s e m p r e sa s (B o ro u sh , 1980), um d ep artam e n to d e a g ê n c ias g o v e rn a­ m en tais (In ayatullah, 1994) e um e lo d e ligação en tre o s in te re sse s d a s n a ç õ e s h e g em ô n icas e o s g ra n d e s g ru p o s e c o n ô m ic o s (Sm ith. 1988).'*'

( ) futuro existe? A noção de tem po e progresso

O fu tu ro refere-.se a um p e río d o d e tem p o q u e ain d a n ã o foi atin g id o . P ortan to, rigo ro sam e n te, o futu ro n ão existe. Q u a n d o fin alm en te é c h e g a d o o porvir, ch ega-se a o presen te, e n ão a o futuro. lV)rtanto, o fu tu ro é um a perspectiva. c[ue só se realizará em term o s

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d e p rese n te. Assim , q u a n d o s e e stu d a o futuro, na v e rd a d e se e stu ­ d am a s id é ias a re sp e ito d o futuro. C o m o o m u n d o d o fu tu ro n ão ex iste, ele torn a-se d o m ín io d e n o sso s so n h o s, tem o res, d e s e jo s e in te re sse s, q u e sã o p la sm a d o s certam en te p ela n o ssa s ex p eriên cias d o p a s sa d o e d o presen te. E sta afirm ação n o s leva à ilaçã o d e q u e a c o n stru ç ã o d a id éia d e fu tu ro é um p ro d u to h istórico-cu ltural e, p o rtan to , in te re ssa ela p ró p ria à so cio lo g ia.

A p e rc e p ç ã o d o fu tu ro é um c o m p o n e n te im p o rtan te p ara d e te r­ m in ar a s a ç õ e s p re se n te s d e c a d a in divíduo. Ela n o s fo rn ece m otivos, o b je tiv o s e se n tid o p ara a ação . Assim, a n eg o ciaçã o , p r o d u ç ã o e d ifu sã o d a s im ag en s d o fu tu ro fazem p arte d o s m e c a n ism o s de c o n tro le so cial e x e rc id o s p ela so c ie d a d e so b re o s in d iv íd u os, d a a re n a d e lutas en tre o s in te re sse s d o s g ru p o s so c ia is e d o s m ecan is­ m os d e estabilização/desestabilização, e m otivaçüo/exclusão q u e tor­ nam po ssíveis as açõ es d a s coletividades e organizaçcx^ com plexas.

P lan ejar o cjue farem o s n as p ró x im as h o ras o u n o s p ró x im o s d ias n o s p arece in tuitivam en te razoável, p o is o q u a d ro d e m otiv o s se a p re se n ta ã m en te relativam en te c o m p le to e c o n fig u ra d o p ara su ­ p o rta r íis n o ssa s d e c isõ e s. J á o q u e farem o s d aq u i a um a n o o u m ais, en volve c o n je ctu ras a re sp e ito d e alg u m as p re c o n d iç õ e s in d isp e n sá ­ veis à s d e c isõ e s, e isso se to rn a m ais c o m p licad o , porc]ue envolve fa to re s q u e n ão sã o su scetív eis d e n o sso c o n tro le e, m u itas vezes, se q u e r d e n o sso co n h ecim en to prévio. Q u a n d o isso aco n tece , um a p o ssib ilid a d e d e en fren tar o im previsível, e p reen ch er, íissim , provi­ so ria m e n te o s m arco s au sen tes, m as in d isp en sáv eis d e n o s s o c am p o p ercep tiv o, é c o n je tu ra rm o s através d e altern ativas p o ssív e is, m as in certas. A ssim d iz e m o s que, se ac o n tece r A, e n tã o n o s d e c id ire m o s p o r C. Se ac o n te ce r B. e n tã o n o s d e c id ire m o s p o r D. Se p re te n d e r­ m o s p lan ejar n o ss:is a ç õ e s p ara dac]ui a vinte an o s, certam e n te o n ú m e ro d e in có gn itas c re sc e rá ain d a m ais, p o is in ú m e ra s p o s ­ sib ilid a d e s p o d e rã o o c o rre r e in ú m e ras in d a g a ç õ e s paSvSarão a fazer p arte d o acer\'o d e p o n to s in co m p letam en te m a p e a d o s d a c o n fig u ­ ração m ental q u e n o s fo rn ece a s c o o rd e n a d a s p ara a aç ão . A d im e n ­ s ã o tem p o ral é, p o is, fu n d am en tal para a criação d a im agem d o fu tu ro e a p ro b a b ilid a d e d e q u e e sta im agem “ re p re se n te ” um fu tu ro qu e, a o se to rn ar p resen te, com ela se asse m e lh e razoavelm en te.

O te m p o é o p r e ssu p o sto fu n dam en tal d a v isão d e fu tu ro . O h o m em se m p re se an te cip o u na prev isão d e ev en to s relacion acios co m a su a seg u ra n ç a, n e c e ssid a d e s alim en tares, p ro te ç ã o co n tra o

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clim a e in te m p é rie s; a so c ie d a d e c o n te m p o rân ea n ecessita, c a d a vez co m m a is freq ü ên cia, o rg an izar su a s prev isõ es p ara p e río d o s m ais lo n g o s d e t e m p o . O s p rin cip ais referen ciais para o se n tid o e a m e n su ra ç ã o d o tem po , esp ecialm en te o tem p o coletivo, isto é, a q u e le c u jo s e n s o d e e sc o a m e n to é co m p artilh ad o so cialm en te , sã o o s c ic lo s d a n atu re z a (d ia e noite, e sta ç õ e s d o an o, m arés e, em s o c ie d a d e s m ais so fisticad a s, o m ovim en to d o s a stro s). E stes sã o in d iv id u a liz a d o s atrav és d o ciclo tem po ral d o s p r o c e ss o s b io ló g ic o s (so n o , fom e, c a n sa ç o ) e d a n atu reza cíclica d a vida (d esen v o lv im en to b io ló g ic o , m a tu ra ç ã o e tem p o d e vida).

O te m p o é fo rm alm en te um d o s o b je to s d o e stu d o d o s físico s. F^ara a física co n te m p o rân e a, o tem p o é um a variável "relativ a" (1 law k in g, 1 9 8 8 ). A n o ção d a relatividade d o tem p o é c o n se q ü ê n cia d a s id é ia d e líin stein (1 8 79-1955) d e q u e tem p o e e sp a ç o n ão p o d e m s e r d is c u tid o s se p a ra d a m e n te , m as s ã o a sp e cto s d e um a única en ti­ d a d e , a q u e c h a m o u d e esp aço -te m p o (Clarke, 1970). Entretan to, o te m p o n a p e rsp e c tiv a d o s físico s n ão é útil para a análi.se d a s idéi;ts d e fu tu ro , tais ccim o as c o n ce b e m o s e praticam os hoje. Por se r o fu tu ro q u e n o s in te re ssa um a persp ectiv a cap az d e fo rn ecer fu n d a­ m e n to s p a ra a a ç ã o d a g e ra ç ã o q u e o con tem pla, a escala d e tem p o p riv ile g ia d a s e lim ita a algu m as d é c a d a s ou. q u a n d o m uito, cen tú rias. Por o u tr o lad o, s ã o im p o rtan tes para a idéia d e futuro as d ife re n te s m a n e ira s c o m o o te m p o é co n ce b id o p o r d iferen tes c o sm o lo g ia s ou p e rsp e c tiv a s so cio -cu ltu rais, o u m esm o o m o d o c o m o tal c o n c e p ç ã o e ste ja poi-ventura m u d a n d o em n o ssa p ró p ria c u ltu ra.”

N ã o o te m p o em si, m as o se n tid o d e tem p o é um "b em " cultural, o u se ja , a id é ia o u c o n ce ito d e tem p o e a p erc ep ç ão d e seu tra n sc u rso s ã o c o n str u íd o s so cialm e n te e p o d em ap rese n tar v ariação en tre g r u p o s c u ltu ra is d iferen tes. Assim, o tem po, em alg u m as culturas, tem c o m e ç o e fim ,'" em o u tra s se rep ete em ciclo s o u se m ove in fin itam en te em s u a rota. F.m alg u m as culturas, hom em , n atu reza e u n iv e rso in tegram a m esm a c o sm o v isão , já em o u tras, a h istó ria c o m e ç a co m o h o m em . E,m algum;LS culturas, o h om em é p arte d e um u n iv e rso h arm ô n ico , co eren te e já d efin id o em su a s circu n stân ­ c ias bílsicíLS. em o u tras, o h om em é ag en te d e seu d e stin o em um u n iv e rso d in â m ic o e m utante (Innayatullah,

1993)-N a s(X’ie d a d e m o d ern a, a n o ç ã o d e tem p o físico, c o n tín u o e d e p a s s o c o n sta n te , m arcad a pela ó rb ita d o s astros, pela m ecân ica d o p ê n d u lo d o s r e ló g io s o u pelo p u lsar d o q u artzo o u d a s p artícu las

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atô m icas, é o o rg an iz ad o r p o r excelên cia, p o rq u e rege o s e n c o n tro s e sp a ç o -te m p o ra is in tiispen sáv eis a o fu n cio n am en to d a s c o m p le x a s o rg a n iz a ç õ e s q u e tornam viável o siste m a d e p ro d u ç ã o m o d e rn o . O te m p o d e trabalh o (n egó cio, d o latim nec otium , o u se ja , a u sê n c ia d e ó c io ) é m arcad o com referên cia a o te m p o físico, d e m o d o a p erm itir q u e o capital, a m ão -de-o bra e a m atéria-prim a se e n co n trem n o m e sm o lugar, para d arem o rig e m a c o m o d id a d e s {com m odities) co m v alo r d e troca.

As cu ltu ras d a s so c ie d a d e s m ais lig ad a s à n atu reza co n c e b e m o te m p o c o m o um a rep etição d e c ic lo s d o s fe n ô m e n o s n atu rais e, p o rtan to , vêem o futuro c o m o u m a se q ü ê n c ia natural d o p rese n te. A se m e lh a n ç a en tre p resen te e fu tu ro n ão é um a o c o rrê n c ia a u to m á ­ tica e tem d e se r garan tid a pela so c ie d a d e p ara q u e o fu tu ro s e to rn e recon h ecível en q u a n to p ro je ç ã o e se q ü ê n c ia d o p rese n te. O siste m a d e v a lo re s e d e relaçõ es so c ia is g aran te e sse ccjn h ecim en to d o fu tu ro. im p o n d o lim itaçõ es ao co m p o rta m e n to d a s p e s so a s n o p re se n te e a d o ta n d o um a ética co n ser\'ad o ra, d e m o d o a evitar m u d a n ça s q u e ven h am a d escaracterizar a se q ü ê n cia (Jouven el, 1968). J á a s s o c ie ­ d a d e s o c id e n tais m od ern as, a partir d o p e río d o q u e cu lm in o u com a R ev olução Industrial, jun taram á su a n o ç ão d e te m p o u m a c re sc e n ­ te expectativa d e m udança, qu e in co rp ora em si a ncx;ão d e p ro g resso .

O p r o g re sso é um p r o c e sso q u e p o d e se r c o n c e b id o c o m o u m a se q ü ê n c ia d e m u d an ças b a se a d a s n o av an ço d o c o n h e c im e n to cien ­ tífico e tecn o ló g ico , no siste m a e c o n ô m ic o e na b a se p o lític a e cultural, A idéia d e p ro g re sso im plica u m a ex p ectativa favorável so b r e o s re su lta d o s d a s m u d an ças e a v alo rização d o s c o m p o rta m e n ­ to s in o v ad o re s. O s g re g o s e ro m an o s, d e a c o rd o com N isb et (1 9 8 5 ), já an tecip avam o se n tid o m o d e rn o d e p ro g re sso , q u a n d o a c re d ita ­ vam q u e o acréscim o d e co n h e c im e n to e o a p e rfe iç o a m e n to d a s a tiv id ad e s h u m an as levariam p au latin am en te a h u m a n id a d e á p len i­ tude, Entretanto, já n aq u e la é p o ca, c o m o atu alm en te, se q u e stio n a v a o se n tid o d o p ro g resso , p rin cip alm en te em su a s re laç õ e s ético-m o- rais.'^ Fara A rnold l oynbee, a relação en tre o p r o g r e sso te c n o ló g ic o e a d e c a d ê n c ia m oral é tão p ró x im a q u e o a p a re c im e n to d o p rim eiro pcxle se r u sa d o para prever a se g u n d a (N isbet, 1985).

P rin cip alm en te a partir d o sé c u lo XVIII, c o n so lid a -se n o O cid en te a c re n ça n a m archa in exorável d o p ro g re sso , d e um la d o p o r a q u e le s q u e viam n e ssa m archa o cam in h o p ara o a p e rfe iç o a m e n to am plcj e cu m u lativ o d o hom em , co m o , p o r ex em p lo , na v isão d e N ew ton,

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R obert Boyle, Franklin. C om te. 1 legel. Darwin, M arx e Sp en cer. Para e ste s p e n sa d o re s, o p ro g re sso d a h u m an idad e, e em b en efício d a h u m an id ad e, e ra tão real e ce rto c o m o q u alq u e r lei física. Por o u tro lad o . o u tr o s p e n sa d o re s em in en tes, tais c o m o lo cqu ev ille. N ietzs­ che, S c h o p e n h a u e r, W eber, So rel e Sp en gler, d esco n fiaram d o se n ­ tid o d o p r o g r e sso h u m an o o u o con testaram . Para algu n s, c o m o W eber (1 9 8 6 ) e Eliul (1 9 6 4 ), o progres.so, tal qual tem o c o rrid o n o s te m p o s m o d ern o s, é inevitável, en tretan to d a n o so o u in conven ien te p ara a h u m an id ad e.

iMax W eber, co m seu c o n ce ito d e “rac io n aliz ação ”, p ro cu ro u ca p ta r íis re la ç õ e s d o hom em m o d e rn o com o p ro g re sso técnico- cien tífico. Fm p rim eiro lugar, W eber distin guiu en tre o s c o n ce ito s d e rac io n a lid a d e in strum en tal {Zw eckralionalitül) e racio n alid ad e d e o b je tiv o {ZielralionalUcU), p o stu la n d o q u e .só o p rim eiro c o r­ re sp o n d e a o s v a lo res a d o ta d o s e c o m p o rtam e n to s e sp e ra d o s, pela .socied ad e, d o h o m em m od ern o . O .segun do tipo d e racio n alid ad e é re le g a d o a o fo ro p riv ad o d e cad a um . lím con.seqüência. a racion ali­ d a d e levou a o “d e se n c a n tam en to d o m u n d o", a o fim d o m ágico, d o s d eu.ses e d o s p ro fetas. O h om em m o d e rn o tornou-.se p re so ã g a io la d e a ç o d a razão, m as um a razão instrum ental, cjue p o d e s e n i r a q u a lq u e r e a n enh um ob jetiv o. Para Weber. o h om em racion al tornou-.se so zin h o , p risio n e iro d e s u íl s an gú stias e c o n tra d içõ e s.' '

Paradigm as teóricos e o estudo d o futuro

() e x e rc íc io in telectual d e fu tu rição e a prática d e in quirir so b i e o fu tu ro têm relação com di\'ers;Ls discip lin as, esp ecialm en te d a s ciê n c ia s so c ia is. A e co n o m ia, a ciên cia política, e prin cip alm en te a .so cio lo g ia s ã o as d iscip lin as c a p a z e s d e oferecer, d e m an eira m ais fe cu n d a e ab ran g en te, o c o n te xto teó rico para tal exercícici. (^ada u m a dessíLs di.sciplinas privilegia a sp e c to s se le c io n a d o s d a s relaçõ es so c ia is e s o b r e e la s d is p õ e d e te o rias com suíis h ip ó teses, técn icas d e p escju isa e re su lta d o s em p írico s d escritiv o s e ex p la n ató rio s rele­ v an tes p a ra o e s t u d ( jd o futuro. A fortun adam en te, o s p arad ig m as q u e d o m in a m c a d a um a d e la s ou as in fluen ciam .se esten d em para além d a s lin h as d iv isó rias (Ogilvy. 1994) e form am um c o n g lo m e ra d o q u e p o d e se r d e sb ra v a d o a partir d a s raízes clássicas d e q u e se nutrem . P ortan to, a an álise d o s p arad ig m as q u e inform am um a des.sas

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di.sci-plinas, n o c a so a so c io lo g ia , é indicativa d a s ten d ên cias q u e d a m esm a fo rm a in sp iram a s d em ais. Exam inar as p o siç õ e s so b r e o futuro e as ê n fa se s teó rico -p arad ig m áticas d e cien tistas so cia is in­ fluen tes n a so c io lo g ia c o n te m p o râ n e a é, p o is, um a p rim eira a p ro x i­ m ação q u e p arece so b re m a n e ira útil para icientificar o po ten cial d a s su a s c o n trib u iç õ e s p ara o e stu d o d o futuro.

As vertentes clássicas

P o d em o s in iciar u m a an álise d o p e n sam e n to so c io ló g ic o m o d e r­ n o so b r e a id éia d e fu tu ro a partir d e Marx. Para ele, o s h o m en s, ao estab elece re m íis re laç õ e s so c ia is d e a c o r d o com o d esen v o lv im en to d e su a p ro d u ç ã o m aterial, criam tam bém o s prin cíp ios, as id é ias e as ca te g o ria s d e c o n fo rm id a d e com su a s re laçõ e s so ciais. Portanto, e ssa s id éias e c a te g o ria s s ã o p r o d u to s h istó rico s e tran sitó rio s. (]o m o co ro lário , para M arx a s idéiíus d o m in a n te s em um a é p o c a sã o a s d a clas,se d o m in an te, in clu in d o-se a s id é ias so b re o futuro. D essa form a, as id é ias d o m in a n te s so b re o futuro n ão s ã o c o n c e p ç õ e s objetivas, p u ras o u neutnus, m as rev estid as d e id e o lo g ia (Marx, 1982). C o n tu ­ do , Mai-x acred itav a n a p o ssib ilid a d e lógica e p rática d a s ciên cias so cia is e, p o rtan to , n a id en tificação d e leis. Seu e sfo rç o intelectual d u ran te to d a a vida foi ex atam en te p ara co n se g u ir u m a in te rp retação da realid ad e q u e se b a se a sse n as leis d a d ialética e d o m aterialism o h istó rico e ftxsse. p o rtan to , in d ep e n d e n te d a id e o lo g ia d a s c lasse s d o m in an tes. Por ex em p lo , a s u p e ra ç ã o d ialética d o c ap italism o p elo so c ia lism o é um a d e d u ç ã o a q u e ele ch eg o u a partir d a s ten d ên cias "n atu rais ’ d a s c o n d iç õ e s q u e o b se rv o u n o siste m a capitalista. E n os Grundrisse (M arx, 1972) q u e m elh or ficou d o c u m e n ta d a su a c o n s­ tante b u sca d e c o e rê n c ia en tre se n tid o e fatos, en tre teo ria e em piria. Para Marx, um d o s e le m e n to s esse n c iais para a lib ertação d a s m assas o p rim id a s c o n sistia n a e la b o ra ç ã o d e um a id éia d e fu tu ro q u e fo sse in d e p e n d e n te d a s id e o lo g ia s d a s c la sse s d o m in an tes, fu n d am en tad a na in te rp retação m aterialista d a h istória e b a se a d a n as leis so ciais p o r e sta id en tificad as.

A p ersp e ctiv a m arxista teve p ro fu n d a in fluên cia n o e stu d o d o futuro. Por um lado, d e u su ste n ta ç ã o teó rica a o m ov im en to c o m u ­ n ista e a o p lan e ja m e n to estatal v o ltad o p ara a c o n stru ç ã o d o futu ro q u e d e le resu lto u (B estujev, 1968). Por o u tro , o fereceu u m a utopia, b a se a d a n a luta d e c la sse s e su a su p e raç ão , c ap az d e fu n d am en tar a

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crítica so cial e a c o n stru ç ã o d e altern ativas. E sta p e rsp e ctiv a d e fu tu ro se to rn o u g ran d e m e n te in flu en te n o s e stu d o s re fe re n te s a o s p a íse s d o terceiro m u n d o , c o m o já se viu.

() s e g u n d o p arad ig m a c lá ssic o a se r co n sid e ra d o se o rig in a d a p r o p o sta filo só fica d e A u gu ste C om te, q u e alcan çou d ifu sã o e p ro e ­ m in ência, prin cip alm en te atrav és d a o b ra d e seu brilh an te d isc íp u lo É m ile D urkheim (1 8 5 8 -1 9 1 7 ), n a França, e d e H erbert S p e n c e r (1 8 2 0 -1 9 0 3 ), na In glaterra e n o s E stad o s U nidos. O p o sitiv ism o d e C om te, cjue hauriu m u ito d e seu c o n te ú d o d o s id eais .socialistas d e Sain t-Sim o n (1 7 60-1825), o ferec eu u m a vi.são otim ista e “ n eu tra" d o fu tu ro . Para ele, o e stu d o d o s fato s h istórico-sociais, tan to q u a n to d o s fa to s físicos, d eve se r realizad o co m o v erd ad eiro e sp írito cien ­ tífico, isto é, com a u sê n cia d e m etas p reco n ceb id as, e com a n e u tra ­ lid ad e e o b je tiv id ad e p r ó p ria s d a ciên cia. O positivism o, n o c o n te x to d o s inten.sos p r o c e ss o s d e c re sc im e n to eco n ô m ico , d e se n v o lv im e n ­ to cien tífico e id e o ló g ico , e d e m u d an ça s p o líticas d o .século pas.sado. p artia d a prem is.sa d a e v o lu ção c o n stan te d a h u m an id ad e em d ire ç ã o a o “e sta d o cien tífico ou p o sitiv o ", através d o u.so d o c o n h e c im e n to cien tífico q u e p o ssib ilita ria tam b ém o cre.scente co n tro le e previ.são d o s fato s m ateriais e h u m an os.

A p ersp e ctiv a po sitivista in flu en ciou o s e stu d o s d o fu tu ro de, p e lo m en o s, d u a s m an eiras. Em p rim eiro lugar, através d a a b o rd a g e m estru tu ral-fu n c io n alista,’^ com ê n fase n o s a sp e c to s d e equilíl^rio e so b rev iv ê n cia d o to d o e d e co m p le m e n tarid ad e m ais o u m e n o s eq u iv alen te en tre su a s p artes. Em se g u n d o , através d a v isão d e um fu tu ro n e ce ssário , em q u e to d o s sa irã o g a n h an d o . N esta visão, o fu­ tu ro se rá m elh o r q u e o p re se n te n ão p e la vitória d o s intere.sses d e um g r u p o so cial so b re o rival, m as p e lo p ro g re sso q u e “n atu ralm e n ­ te" há d e vir e p e lo u so so cialm e n te “n eu tro " d o s c o n h e c im e n to s cien tífic o s e d o s av an ço s te c n o ló g ic o s. O c o n h ecim en to d a s ciên cia s .sociais p o d e ria se r u sa d o p o r to d o s, in clusive para reso lver p e n d ê n ­ cias e id en tificar o m o d o “c e rto " d e o rg an izar a .sociedade, ('o m o d e co rrê n c ia, se m p re seria p o ssív el a an álise “o b je tiv a” d a so c ie d a d e , isto é, c e n tra d a na fu n ção e na q u a lid a d e d e .seu d e se m p e n h o , a p re v isã o e o co n tro le d o futuro, p o is to d o s q u e d e le tives.sem “c o n h e c im e n to ” certam en te iriam ad e rir a su a co n stru ção .

A terce ira verten te teó rica d e in te re sse para o e stu d o d o fu tu ro e stá a s s o c ia d a à o b ra d e Max W eber e se o rig in a d a trad ição filo só fica p ó s-m arx ista e h istoricista alem ã. () p e n sam e n to d e W eber s o b r e a

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o b jetiv id ad e d o con h ecim en to científico tem sid o e rro n eam en te co n fu n d id o com o p en sam en to positivista. Para Weber, na b u sc a d a c o m p re e n sã o d a realidade, um gran d e esfo rç o teórico -m eto d o lógi- co é realizad o n o se n tid o d e sep arar as p referên cias p e sso a is (filo­ só ficas, étic as e p o líticas) d a objetividad e d o s fatos. Ele n ão ad m ite a ex istên cia d e um fato pu ro, neutro, o u um a o b jetiv id ad e axiologi- cam en te firm ada. Ao con trário, argum en ta q u e as “v isõ e s d e m u n d o ” an teced em , d ã o form a e con texto a o p en sam en to e, con seq ü en te-m ente, a c o te-m p re e n sã o d a realidade. Para Weber, a o b jetiv id ad e d o co n h ecim en to d ep en d e, antes, d o fato d e o em p iricam en te d a d o estar co n stan tem en te o rie n tad o p o r idéias d e valor q u e sã o as ú n icas a lhes co n ferir valor d e con h ecim en to (Weber, 1986).

B alão Brasil. 1873.

f\cer\/o Arquivo Nacional.

É im p o rtan te para a b u sca d a co m p re e n são teórica d o s e stu d o s d o fu tu ro a d isc u ssã o w eberian a acerca d a s p o ssib ilid a d e s d a o b je ­ tividade. S e n ão é possível o con h ecim en to ob jetiv o d o s fato s so ciais, entãcj, o q u e resta? O u en tão, p o r qu e buscá-lo? Tal p o ssib ilid a d e é, p o is, um a d a s b ase s ep iste m o ló gicas e pragm áticas d a s ciên cias s o c ia is e, atra v é s d e las, d o e stu d o d o fu tu ro . A b u sca d e c o ­ n h ecim en to s objetiv o s, calcad o s em fatos, torn ou -se p arte d e um a visão d o m u n d o p rep o n d eran te n o O ciden te m o d ern o . E ssa b u sca torna-se um im perativo d a ciência assim c o m o d a cultura: ela não é, ela deve ser. O cien tista social, no exercício d e su a tarefa d e an álise, reco rre a o s fato s p ara legitim ar su a an álise n o c o n texto d a v isão d e m u n d o d eriv ad a d e su a herança cultural. Entretanto, ele dev e ter em m en te q u e o s siste m a s valorativos (in cluindo-se in te re sses e c o n fli­ tos) e stã o im e rso s em su a análise.

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A c o n c e p ç ã o w eb erian a d a p o ssib ilid a d e d o e stu d o cio fu tu ro se b a se ia n a n e g o ciaçã o en tre d (jis d elim itad o res: a b a se em p írica n e ce ssá ria p ara a in te rp retação e a m old u ra cultural e d e v a lo res cjue d á se n tid o a c]ualc]uer o b se rv a ç ã o d a realidade.

Um a sp e c to prelim inar, p o rém , diz re sp e ito a o p ro b le m a d a p o ssib ilid a d e m esm a d e p re d iz e r o futuro. Para q u e se ja p o ssív e l prevê-lo, é n e ce ssário q u e o fu tu ro e ste ja d e a lg u m a form a d e te rm i­ n ad o . Além d isso , é n e c e ssá rio q u e algum in d icad o r de.ssa d e te rm i­ n a ç ã o s e ja a ce ssív e l a o c o n h e c im e n to h u m an o . W eber (1 9 6 7 ) m o stro u c o m o a c o n ce p ç ã o d e p red e stin aç ão para a .salvação indivi­ d u al e, a o m esm o tem po, a im p o ssib ilid a d e d e ter a c e sso a in d ica­ d o r e s in eq u ív o co s d a p re d e stin a ç ã o foram fato res es.sen ciais na g e ra ç ã o d e um a ética c o n d iz e n te com o trabalh o á rd u o p ara a m u ltip lica ção d a ricjueza (um sin al d o b en e p lácito divin o q ue. a.ssim, se to rn aria visível) e com a fru g a lid a d e para a ap licação d e sta em ben e fício d o c o n fo rto p e sso a l.

N o nível m acro sso cial, o s fato s n ão têm se n tid o sem o c o n te x to d o s valores. Hstes, p o r su a vez, sã o criad o s e m o d ificad o s so b o im p acto e a in fluên cia d(xs fatos. N o nível m icros.social, fatos e v a lo res sã o e x p r e sso s, a o m esm o tem p o , p e lo c o m p o rtam e n to d o s indiví­ d u o s, m as .sobre este ,se im p õ em e lhe d ã o se n tid o e origem . A o b ra teó rica e an alítica d e W eber m o stro u c o m o lidar com v a lo res n o contextcí d a s ciên cias so c ia is c]ue. em seu tem po, estavam e m a ra ­ n h ad a s n a luta en tre o b je tiv id ad e e su b jetivid ad e, en tre cientificida- d e e h u m an ism o . Su a c o n trib u ição ain d a h o je reverbera, c o m o v e re m o s adian te, através d a s c o n trib u iç õ es d e M annheim e d e p r o p o sta s m ais recentes.

/Vs três co rre n te s c lássica s d o pen.sam ento d a s ciên cias so c ia is o ferecem a o e stu d o d o fu tu ro ê n fa se s e en cju ad ram en tos te ó ric o s d iferen tes. () m arxism o atribui a o s a rran jo s d a p ro d u ç ã o ec o n ô m ic a a fo rça m otriz d a s m u d an ça s s(X'iais. Hstas p o d em se r a p r e ss a d a s e in flu en c iad as pela a ç ã o volitiva d e su b c o n ju n to s e stra té g ic o s d a so c ie d a d e , c o m o o p ro letariad o , m as o re su lta d o final d a s m u d an ça s se g u e a ló g ica d o siste m a e é um re su lta d o d ialético d o e m b ate d a s fo rças q u e o co m p õ e m d e s d e o m o m en to an terior, (^(instruir o fu tu ro é c o lo c ar-se a o la d o d a s fo rças p ro g re ssistas, isto é, d a s q u e e stã o c o n tra o s in te re sses d o m in a n te s d a fase atual d o d esen v o lv i­ m en to h istó ric o d o proces.so d e p ro d u ç ã o . C'olocar-se a o la d o d a s fo rças d o m in a n te s n o m o m e n to é o b sta r o c u rso d a h istó ria e

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retard ar se u d e sd o b ram en to . Além d isso , um a visão p ó s-clássica m ais atu alizada, d e Marx, en fatizaria a s m u dan ças m ais n atu rais" d e g lo b a liz a ç ã o e in clusividade d o sistem a capitalista, q u e a o s p o u c o s vai s e e ste n d e n d o a to d o s o s recan to s d o glo b o , cada vez p e n e tran d o um m aio r n ú m ero d e x sp ecto s d a s relaçõ es so ciais e tran sform an d o- a s em relaçõ es eco n ô m icas cap italistas.

() fu n cio n alism o n ão privilegia um d eterm in ad o :Lspecto da e stru tu ra .social co m o g e ra d o r d o s d em ais, m as en fatiza a com ple- m en ta rie d ad e en tre eles. q u e .se de.senvolve so b a in fluên cia d o bem c o le tiv o e d a n ece.ssidade d e so brev ivên cia. O av an ço d a C&T d e se m p e n fia pap el fun dam en tal n o con h ecim en to e c o n stru ç ã o d o futuro, p o is perm ite q u e “to d o s" se beneficiem d o s re su lta d o s e ad iram às g ran d e s m etas d a .sociedade em benefício d o p rogi esso ,

A (:)erspectiva w eberian a o ferece m ais e sp a ço para a in terferência d o hom em , d e .seus ideais e valores culturais na c o n stru ç ã o cio futuro. Mas. além d o s valores co letiv o s qu e disciplin am as v o n tad es in d iv id u ais em su a direção, su rgem d a ação racional e fe ito s não a n te c ip a d o s q u e d ã o form as in d e se jad as e prod uzem c o n d iç õ e s p re ju d iciais a o s intere.s.ses d o s in divíduos e am e aç ad o ras à so c ie d a ­ d e. N ov os valores e g ru p o s hegemc')nicos d arão .sequência às m u d an ­ ças e à histc')ria."*

C()>itrihuiçõcs pós-clássicas

D entre o s estudio.sos cjue recen tem en te influenc iaram o p e n sa ­ m en to sociolc')gico, três exigem destacjue p elo m o d o c o m o concelie- ram o p r o b le m a d a s r e l a ç õ e s e n t r e o r g a n i z a ç ã o s o c i a l e co n h ecim en to . .Suas p ro p o sta s sã o cap azes d e in fluenciar d ireta e p ro fu n d a m e n te o e stu d o d o futuro. S ão eles Marcu.se. I laiierm as e M annheim .

/Vs id éias d e M arcuse a resp e ito da p ro d u ção cio con h ecim en to, in clu in d o o cien tífico e tecnolcigico, sã o im po rtan tes para d eterm i­ n ar a s p ersp ectiv as e o s lim ites d o e stu d o d o futuro. Para ele. a ciên cia m od ern a .se desen v olve so b um a p rio ri recnol(')gico, c|ue e n fo c a a n atu reza c o m o instrum entaliclade potencial, o b je to cie c o n tro le e o rg an ização . O a p rio ri tecnolc')gico é um a p rio ri político, na m ed id a em c|ue a tran sfo rm ação d a n atureza supc')e a transform a- ç a o d o hom em e as criaçc')es d o hom em su rgem em um co n texto .social e retornam a ele (M arcuse. 19^2). I laberm as ( 19^2) con tin u a

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a lin h a d e a n á lise d e M arcuse. Para ele, ciên cia e te cn o lo g ia transfor- m aram -se em u m a id eo lo gia, to rn an d o -se tam bém fo rça le g itim a d o ra d e um siste m a d e d o m in a ção . 1 lab erm as c o n sid e ra q u e ciên cia e te c n o lo g ia a ssu m e m o papel d e v e rd ad eiras fo rças pro d u tiv as, sem a s cjuais o c re scim e n to eco n ô m ico , d e n tro d o q u a d r o d e referên cia d o c a p ita lism o , n ão p o d e ria se r m an tido. Para e ste s au to res, o c o n h e c im e n to cien tífico e te cn o ló g ico é p ro d u z id o em um co n te x to id e o ló g ico , incluindíKse aí as con jetu ras "cientificas" so b re o futuro, e .serv'indo c o m o forç-as legitim adoras d e um sistem a d e dom inação.

iM annheim. p o r su a vez, o fereceu im p o rtan te c o n trib u ição para a a n á lis e so c io ló g ic a d a s co n je tu ras so b r e o futuro. Para ele. o hom em , a o p e n sa r o futuro, o faz id e o ló g ica o u u t o p i c a m e n t e . A idéia u tó p ic a, na c o n c e p ç ã o d e iVlannheim. tem um a c o n o ta ç ã o revo lu cio­ n ária, n o se n tid o d e p ro p o r um a nova co n fig u ração para a realid ad e c o n c re ta d o m o m e n to .'" Portanto, para M annheim , q u a n d o .se pen- ,sa além d o p rese n te, ou .seja. n o futuro, c|uando se p ro p õ e m u d ar a o rd e m d a s c o is a s no p resen te e q u a n d o esta p ro p o sta prcn o ca m u d a n ç a d e c o n d u ta já no presen te, aí tem o s um a utopia.

A c o n trib u iç ã o fun dam en tal d e .Mannheim n ão tem sid o c o n sid e ­ ra d a n a s a n á lise s e avaliaçõ es so b re o s e stu d o s d o futuro."' lím bora d ic o tô m ic a , a persp ectiv a d e M annheim d e q u e o fu tu ro ê se m p re c o n stru íd o id e o ló g ic a ou u to p icam en te p o d e .ser útil para se ter um a v isã o m ais crítica d o s e stu d o s .sobre o futuro. Assim, a c o n stru ç ã o d o fu tu ro é d e se n v o lv id a c o m o um a ex tra p o la ç ã o d o presen te, o u seja. o c o r r e r ã o m u d an ças, p rin cip alm en te tec n o ló g icas o u m ateriais, m as s e m a n te rã o o s in te re sses d o m in a n te s d o presen te, ou en tão, cons- trói-.se o fu tu ro im aginando-.se m u d an ças c]ue alterem a o rd em d o s in te re sse s d o pre.sente — é a c o n stru ç ã o utóp ica d o futuro.

lí c e rto q u e alg u m as id éias acerca d o futuro p o d em n ão se e n q u a d r a r c o m o id e o ló g icas o u u tó p icas, m as es.sa p ersp ectiv a de M an n h eim .sei-ve p ara alertar o e stu d io so d a s id éias acerca d o futu ro .sobre a m e d id a d a con ven iên cia d e s sa s id éias a o s in te re sses tlomi- n an tes. E ste n d e n d o a c o n c e p ç ã o d e M annheim , seria p o ssí\e l co n ­ sid e r a r q u e u m a u to p ia p o d e se r d eriv ad a d e um a id e o lo g ia (n o .sen tid o s o c io ló g ic o m ais am p lo d a palavra) o u id e o lo g icam e n te e sta b e le c id a . Assim , o hom em p o d e ter id éias e m etas q u e tran scen ­ d am o p re se n te , e m b o ra e ssa s id éias d esid erativ as n ão con flitem com o stalus quo, m as, c o m o to d a u topia, p o d em m ob ilizar v o n tad es e, c o n se q ü e n te m e n te , m o d ific a ra r e a lid a d e .''

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Dcterm inaçao e aleatoriedade: os clássicos e pós-clássicos

lístu d ar o futuro, refletir so b re o q u e p o d e rá ac o n tece r ad ian te n o te m p o é um e m p reen d im e n to d e racion alização. A idéia d e fu tu ro terá tan to mai.s valor q u an to m ais aju d ar o f\om em a en fren tar o s ac o n te c im e n to s, a se .sobrepor a ele s e d e le s tirar prov eito o u , ain d a m elh or, a p ro v o cá-lo s e a.ssim co n stru ir o futuro para seu ben efício. O ra. s ó é p o ssív el u sar a vi.são d o futuro para d e algum m o d o con stru í-lo . .se for possível e n te n d e re m algu m a p ro p o rçã o , m e sm o p o r p e q u e n a e in satisfató ria q u e .seja. o s proce.s.sos d e co n v e rsão d o p a s sa d o /p re se n te em p resen te/fu tu ro . Um m u n d o so cial to talm en te a le a tó rio n ão seria a m atéria-prim a a p ro p ria d a para o e stu d o d o fu tu ro . A reflex ão so b re um m u n d o d e s se tip o p o d eria trazer algu m valor estético , m as .sem com prom is.so com o p ossível e o provável. 1’o d e r ía m o s d e se n h a r um futuro su rrealista, d e p o is o b s e n a r n o ssa c o n c e p ç ã o e atim irá-la. haurir d ela algu m a e m o çã o estética, m as n ão p o d e ría m o s usá-lo c o m o m otielo para in spirar a ação.

O s p ro b le m a s e p iste m o ló g ic o s d o e stu d o d o futuro são . em p rin cíp io , o s m esm o s d a s ciên cias so cia is e d a ciên cia em geral. O e stu d o d o fu tu ro se fun dam en ta em p o siç õ e s teóricas e hum anística.s q u e en volvem o grau tie certeza possível d e atin gir hoje a re sp e ito d e e v e n to s iju e s() irão aco n tecer n o p o n ir. I'al grau d e certeza \aria d e s d e o inesca(-)á\'el até o pro v á\el. o p ossível e o de.sejá\el {shall. can. niiqbl, oii^ht). (Quanto m ais rig o ro so s forem o s p re ssu fio sto s ló g ic o s d e cien tificid ad e d as ciên cias so ciais, m ais se ten d erá a a.ssum ir um a p o siç ã o d e in escap ab ilid ad e .sobre o futuro.

/Vs vi.sões d e (À)mte e d e Vlara .se ap ro xim am des.se p o n to d e vista, p o is a m b o s p ro p õ e m a p o ssib ilid a d e d e leis .sociais q u e tornam prev isíveis a s fo rm as d e o rg an izaç ão so cial c|ue vão reger o s a c o n te ­ c im e n to s n o fu tu ro próxim o. !’o d a \ ia. nenhum d o s d o is acred ita c|ue as ciên cias .síxiais d e seu te m p ) tives.sem o desenvolvim ento necess;irio para prever o futuro de m(Klo efetivo, l-m res[X)sta. a u la um d eles a ssu m iu o p ro g ram a intelectual d e desen volvê-las nes.sa d ireção .

Por o u tro latio. a visão d e W eber n ão faz c o n c e ssã o a um a d e te rm in a ç ã o [ireci.sa. m as lam enta t|ue. n o m u n d o m otiern o. o h o m em e ste ja se n d o d e s p o ja d o d e su a c ap ac id ad e d e racion alizar .seus o b je tiv o s finais. I.s.so co lo ca su a p o siç ã o en tre o provável e o p o ssív e l. M annheim . p o r su a vez. reivindica um a atitu d e o n d e a

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uujpia é possível, o n d e o hom em se coloca, em su a s previsões, entre o possível e o desejável. M arcuse e Ifaberm as enfatizam mais o esp aço entre o provável e o possível, visto que as p róp rias criações d o hom em sã o con cebidas so b a restrição d as forças produtivas e deco rren tes legitim ações ideológicas.

D esafios recentes

(,on trariam en te ao que pro p õ e Mannheim, a idéia de que a so cied ad e d o futuro será não ideológica tem-se tornadci um d o s tem as dom inantes d as discu.s.sões mais recentes. Já na décad a de 60, Bell (1973) prop un h a que a organização d a so cied ad e estava cam i­ n han do para a terciarização ,'' em que as id eologias seriam su perad as p o r n ão m ais existirem g ru p o s so ciais com in te re sse s n ece s­ sariam ente conflitantes que as u.sassem com o instrum ento de ar- regim entação e luta. A regulam entação con.sensuai faria o aju s­ tam ento entre o s interesses d o s grupos, ('om a c|ueda d o m uro de Berlim e a derrocad a d o s regim es com unistas d o com p lexo soviético, o argum en to foi rep o sto por rukuyam a (1992). A vitória inec|uívoc;i d o liberalism o dom inante traria com o ccínsequéncia o fim da histó­ ria, ou seja, d as lutas d e cia.s.ses ideologicam ente en gajad as na luta jielo poder, l-.sta p ro p o sta causou vivos debates t|ue ain da movimen­ tam o s esp ecialistas ((3azes, 1992; Buikler, 1993; Bíewett, 1994: (ioon atilake, 1993; 1'ukuyama, 1993).

Alguns p en sad ores têm ch egado à crítica da id eologia e a postular seu desaparecim en to, p o ro u tro tipo de argum en tação (Zhao. 1993). O próp rio con ceito d e ideologia estaria su p erad o teoricam ente, \isto c]ue seria inexistente a dicotom ia entre o d iscu rso e os ob jeto s exteriores a que ele se refere, ['„sta posição epistem ológica. levada às últim as consec]úências, não deixaria base para um a distin ção entre con hecim en to e realidade, visto que todo con hecim en to seria inde- (lendente tia realidade e b asead o apenas nas expre.ssões e racionali­ zações d o s interes.ses e p o n tos de \ ista particulares. Nes.se caso, o con ceito d e ideologia se tornaria l edun dan te e sem sen tid o especial, p o is id eologia explicaria tudo e, portanto, nada.

O gilw (1992) d efen de um posicionam ento qu e apresen ta funtla- m entos ep istem oló gico s e [proposta m etodológica diferente. T.le parte d a p o sição crítica de que a ciência positivista n ão d á conta de fundam entar o s estutios d o futuro, porciue a m elhoria d as técnicas

Referências

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