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Pirâmide de infrações penais: desenvolvimento sequencial do crime

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

RAFAEL SOARES RIBEIRO

PIRÂMIDE DE INFRAÇÕES PENAIS: DESENVOLVIMENTO SEQUENCIAL DO CRIME

NATAL/RN 2019

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PIRÂMIDE DE INFRACÕES PENAIS: DESENVOLVIMENTO SEQUENCIAL DO CRIME

Dissertação apresentada ao Programa de Pós – Graduação em Ciência, Tecnologia e Inovação da Escola de Ciência e Tecnologia – EC&T, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte- UFRN, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre Mestre em Ciência, Tecnologia e Inovação.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Alexandre Camargo de Abreu

NATAL/RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Ribeiro, Rafael Soares.

Pirâmide de infrações penais: desenvolvimento sequencial do crime / Rafael Soares Ribeiro. - 2019.

100f.: il.

Dissertação (Mestrado)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Escola de Ciência e Tecnologia, Programa de Pós -

Graduação em Ciência, Tecnologia e Inovação, Natal, 2019. Orientador: Dr. Carlos Alexandre Camargo de Abreu. Coorientador: Dr. Efrain Pataleon Matamoros.

1. Segurança Pública - Dissertação. 2. Segurança do Trabalho - Dissertação. 3. Mineração de Dados - Dissertação. 4. Pirâmide de Bird - Dissertação. 5. Tolerância Zero - Dissertação. I. Abreu, Carlos Alexandre Camargo de. II. Matamoros, Efrain Pataleon. III. Título.

RN/UF/BCZM CDU 004.62

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PIRÂMIDE DE INFRAÇÕES PENAIS: DESENVOLVIMENTO SEQUENCIAL DO CRIME

Dissertação apresentada ao Programa de Pós – Graduação em Ciência, Tecnologia e Inovação da Escola de Ciência e Tecnologia – EC&T, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte- UFRN, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ciência, Tecnologia e Inovação.

Aprovada em: 29 de Abril de 2019.

________________________________________________ Dr. Carlos Alexandre Camargo de Abreu

Orientador

Universidade Federal do Rio Grande do Norte ________________________________________________

Dr. Efrain Pataleon Matamoros Co-Orientador

Universidade Federal do Rio Grande do Norte ____________________________________________

Dr. Gláucio Bezerra Brandão Membro interno

Universidade Federal do Rio Grande do Norte _____________________________________________

Dr. Zulmara Virginia de Carvalho Membro interno

Universidade Federal do Rio Grande do Norte _____________________________________________

Dr. João Batista da Silva Membro externo

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Primeiramente, agradeço aos professores que, lá no início da seleção, fizeram-me sentir realizado por estar participando de um processo seletivo tão inovador. O incentivo foi fundamental para conquistar a aprovação.

Agradeço ao professor Dr. Carlos Alexandre Camargo de Abreu, por me aceitar como orientando e ter emprestado a visão de medição de custos de todos os processos, tanto das empresas privadas como das organizações públicas; à professora Dra Zulmara, por me abrir os olhos para as questões interdisciplinares; ao prof. Dr. Gláucio Bezerra Brandão, pela motivação e incentivo para não desistir e não ter medo da mudança; ao prof. Dr. Herinque Rocha de Medeiros, pela paciência e divisão de conhecimento na área de estatística, item essencial neste trabalho; e ao Prof. Dr. Efraim Pataleon Matamoros que, com nossas conversas, me fez ver uma luz no fim do túnel e enxergar a pirâmide de infrações penais.

Agradeço a todos os oficiais da PMRN, em nome do Comandante Geral, Cel PM Osmar José Maciel de Oliveira, por terem contribuído de alguma forma para a realização deste trabalho. Também, ao Capitão Reinaldo Amim Abdalla Barroso, por ter contribuído grandemente com os conceitos do Direito, um dos corações deste estudo; aos melhores, Atílio e Oliene, abençoados; e aos amigos sempre presentes, Panda e DT, conhecido como cabeça de minhoca.

À minha mãe, Nora Ney, minha primeira orientadora: desculpem-me, senhores, mas ela é PhD em me fazer melhorar. Ao meu irmão querido, a Guga e até a Yana. Ao meu pai que, mesmo distante, sei que me apoia. A toda minha família, àqueles primos e primas mais queridos e àqueles que nem tanto, porque cada um vive em um lugar e só tem contato através das redes sociais.

A Sergio Roberto, pela motivação diária para nunca pensar em desistir e por sempre me acompanhar nas aventuras. Ao funil, uma entidade secreta de amigos verdadeiros, eternos e confidentes.

À minha amiga Helainy Daline, por me ensinar a ter metas e pensar em voar alto. Inclusive, foi por ter acontecido algo com ela que decidi mudar totalmente meu projeto e querer estudar segurança pública. Além disso, não posso esquecer a minha amiga Gisa Carvalho, quem me acompanha desde a minha primeira tentativa de contribuir com a ciência do Brasil.

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O Brasil mata mais que a guerra da Síria e, com mais de 60 mil homicídios no ano de 2018, lidera o ranking dos crimes violentos letais intencionais apesar dos investimentos crescentes em segurança pública, desde a criação da Secretaria Nacional de Segurança Pública, em 1997. O país também é líder em outros tipos de crimes, de todas as gradações: tanto os crimes menores quanto os hediondos. Buscou–se, no presente trabalho, analisar a existência de correlação entre crimes hediondos, contra vida e de maior potencial ofensivo com infrações, que são os mais comuns e rotineiros, além daqueles de menor potencial ofensivo, como a perturbação do sossego alheio, com o uso de mineração de dados e Business Intellegence (BI). Foi encontrada a proporção de 1:15:45:415 indicando que, a cada 415 infrações de desordem, ocorre um crime contra vida, dado que reforça a teoria das Janelas Quebradas de Wilson e Kelling (1982), a qual mostra a existência de um desenvolvimento sequencial do crime, uma interligação entre a desordem e o crime mais grave, de modo que cada comunidade tem seu desenvolvimento próprio de ocorrências policiais, sendo necessária, portanto, a análise individual do processo local da sequência de desenvolvimento do crime.

Palavras-chave: Segurança Pública. Segurança do Trabalho. Mineração de Dados. Pirâmide de Bird. Tolerância Zero.

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Brazil kills more than the Syrian war, with more than 60,000 homicides in 2018, leading to the ranking of intentional lethal violent crimes, despite growing investments in public security, from a creation of the National Public Security Secretariat in 1997. His country also leads with other types of crimes from all grades, from the smallest to the most heinous crimes. The present study aimed to analyze the correlation between heinous crimes, against life and greater offensive potential with infractions, which are more common and routine, those of less offensive potential, such as the disturbance of the rest of the rest, with the use of data mining and Business Intelligence (BI). A ratio of 1: 15: 45: 415 was found, which is each 415 reports of disorder, a crime occurs against life, reinforcing the theory of Broken Windows by Wilson and Kelling (1982), which talks about the existence of a sequential crime project, an interconnection between disorder and crimes more serious. Where his own research comes from, the process of inquiry is a process of analysis of the individual.

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Figura 2- Conceito de Churchman ... 23

Figura 3 – Pirâmide de Heirich ... 24

Figura 4 – Pirâmide de Bird ... 25

Figura 5 – Pirâmide da Insurance Company of North America ... 25

Figura 6 – Sistema empresa de Cicco e Fantazzini, conceito de Churchman e de retroalimentação ... 27

Figura 7 – Sistema comunidade ... 28

Figura 8 – Infrações penais e seus gêneros... 32

Figura 9 – Organização das infrações penais de acordo com a gravidade ... 33

Figura 10 - Gravidade das infrações penais... 34

Figura 11- Analogia da Pirâmide de Bird com infrações penais ... 34

Figura 12- Danos sociais e suas classificações ... 36

Figura 13- Pirâmide das infrações penais ... 37

Figura 14 - Processo de descoberta do conhecimento ... 43

Figura 15 – Processo CRISP ... 44

Figura 16 – Processo modelado a partir do KDD e CRISP ... 45

Figura 17 – Sub-fases do Pré-processamento ... 47

Figura 18 - As máquinas de kernel são usadas para computar funções não linearmente separáveis em uma função linearmente separável, de dimensão mais alta ... 53

Figura 19– Exemplo fictício 1 de modelo criado pelo algoritmo SMOreg ... 54

Figura 20 – Exemplo fictício 2 de modelo criado pelo algoritmo SMOreg ... 55

Figura 21– Exemplo fictício 3 de modelo criado pelo algoritmo SMOreg ... 56

Figura 22 – Pirâmide de Infrações penais ... 58

Figura 23 – Entidade Dano Social e seus atributos, com destaque para Vtr e Tipificação ... 59

Figura 24 – Entidade “tipo” e seus atributos ... 60

Figura 25 – Entidade “viatura” e seus atributos ... 61

Figura 26 – Modelo entidade – relacionamento Dano Social, tipo e viatura ... 62

Figura 27 – Diagrama de Classes ... 63

Figura 28 – Tabela com 97 atributos (colunas) e 60 instâncias (linhas) ... 64

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Figura 32 – Seleção de atributos da classe homicídio, com destaque nos atributos

escolhidos ... 74

Figura 33 – Modelo proposto a partir do algoritmo SMOreg da classe “homicidio", com destaque para o modelo e o coeficiente de correlação ... 75

Figura 34 – Seleção de atributos da classe “lesao corporal grave”, com destaque nos atributos escolhidos ... 76

Figura 35 – Modelo proposto a partir do algoritmo SMOreg da classe “lesao corporal grave”, com destaque para o modelo e o coeficiente de correlação ... 77

Figura 36 – Seleção de atributos da classe “ameaça", com destaque nos atributos escolhidos ... 78

Figura 37 – Modelo proposto a partir do algoritmo SMOreg da classe “ameaça", com destaque para o modelo e o coeficiente de correlação ... 79

Figura 38– Seleção de atributos da classe “lesão corporal leve”, com destaque nos atributos escolhidos ... 80

Figura 39 – Modelo proposto a partir do algoritmo SMOreg da classe “lesão corporal leve”, com destaque para o modelo e coeficiente de correlação ... 81

Figura 40– Seleção de atributos da classe “lesao corporal leve”, com destaque nos atributos escolhidos ... 82

Figura 41 – Modelo proposto a partir do algoritmo SMOreg da classe “perturbacao", com destaque para o modelo e o coeficiente de correlação ... 83

Figura 42 – Gradação das infrações penais na pirâmide de infrações penais... 85

Figura 42 – Escalada de um subsistema do crime na pirâmide de infrações penais ... 87

Figura 43 – Cone de danos sociais ... 89

Figura 44 – Super sistema comunidade ... 89

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Gráfico 1 – Histograma do conjunto de dados ... 67 Gráfico 2 – Estimativa das Quse infrações penais com o uso da linha de tendência/regresssão exponencial ... 70

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(F-1)- Função Heurística ”Mérito” ... 49 (F-2) -Coeficiente de Correlação de Pearson ... 50 (F-3) – Coeficiente da Pirâmide de infrações penais ... 86

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Tabela 2 – Intervalo de valores das magnitudes do coeficiente de Pearson proposto por Cohen (1988) ... 51 Tabela 3 – Intervalo de valores das magnitudes do coeficiente de Pearson, proposto por Dancey e Reidy (2006) ... 51 Tabela 4 – Classificação do Algoritmo SMOreg...53 Tabela 5 – Gradações das infrações entre os de 2013 a 2017, no estado do Rio Grande do Norte ... 65 Tabela 6 - 19 tipificações que representam 20% das infrações penais analisadas com a quantidade por mês/ano, do ano de 2013 a 2017, no estado do Rio Grande do Norte ... 65 Tabela 7 – Proporções das gradações das infrações penais entre os anos de 2013 e 2017, no estado do Rio Grande do Norte ... 69 Tabela 8 – Matriz de correlação de infrações de menor potencial ofensivo com crimes de maior potencial ofensivo entre os anos de 2013 e 2017, no estado do Rio Grande do

Norte ... 71 Tabela 9 – Média das correlações das infrações por tipo penal entre os anos de 2013 e 2017, no estado do Rio Grande do Norte ... 72 Tabela 10 – Resumo dos resultados da mineração de dados de ocorrências policiais entre os anos de 2013 e 2017, do estado do Rio Grande do Norte ... 85 Tabela 11 – Coeficiente da Pirâmide de infrações penais das ocorrências policiais entre os anos de 2013 e 2017, do estado do Rio Grande do Norte ... 86

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Central de Diárias Operacionais - CDO

Centro Integrado de Operações em Segurança Pública da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do estado do Rio Grande do Norte - CIOSP/SESED

Companhia Independente de Proteção Ambiental - Cipam Crimes violentos letais intencionais - CVLI

Cross-Industry Standard of Data Mining - CRISP-DM Diretoria de Políticas – DPSP

Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte - FIERN Ministério da Justiça - MJ

Operação das Nações Unidas e da União Africana em Darfur - UNAMID Organização Mundial da Saúde - OMS

Organizações da Nações Unidas - ONU Polícia Militar - PM

Quartel do Comando Geral - QCG Rio Grande do Norte - RN

Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social - SESED Secretaria Nacional de Segurança Pública - Senasp

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - Senac Sistema Único de Segurança Pública - SUSP

Teoria Geral dos Sistemas - TGS

Termo Circunstanciado de ocorrências - TCO Unidade federativa - UF

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2 INTRODUÇÃO ... 17

3 EMBASAMENTO TEÓRICO ... 20

3.1 Teoria geral dos sistemas ... 21

3.2 Do prevencionismo ao surgimento da Engenharia de segurança de sistemas ... 24

3.2.1 Sistemas e a Engenharia ... 26

3.2.2 O sistema comunidade ... 28

3.3 Infrações penais: os danos à comunidade ... 29

3.3.1 A quebra da moral e as regras sociais: o menor dano ... 35

3.4 Polícia comunitária e a interconexão dos crimes ... 38

4 METODOLOGIA E FERRAMENTAS DE ANÁLISE DE DADOS CRIMINAIS . 40 4.1 Mineração de dados ... 40

4.2 Waikato Environment for Knowledge Analysis – WEKA ... 41

4.3 Processo de descoberta do conhecimento em banco de dados ... 42

4.3.1 Entendimento dos negócios e dos dados ... 45

4.3.1.1 Princípio de Pareto e a seleção de dados ... 46

4.3.2 Pré-processamento ... 47

4.3.2.1 Seleção de atributos com CFsSubsetEval no WEKA... 48

4.3.3 Modelagem: tarefas ... 49

4.3.3.1 Regressão Linear Simples e Múltipla ... 50

4.3.3.1.1 Coeficiente de correlação de Person ... 50

4.3.4 Métodos ou técnicas ... 52

4.3.5 SMOreg - Regressão por SVM (Support Vector Machine) no WEKA ... 53

5 RESULTADOS - A PIRÂMIDE DE INFRAÇÕES PENAIS DO RIO GRANDE DO NORTE ... 57

5.1 Processo de descoberta do conhecimento ... 57

5.1.1 Entendimento dos negócios e seleção dos dados... 57

5.1.2 Entendimento dos dados ... 59

5.1.3 Pré-processamento ... 60

5.1.3.1 Integração ... 62

5.1.3.2 Limpeza dos dados ... 63

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5.1.4.2 Mineração de dados: desvendando a base da pirâmide de infrações penais ... 72

5.1.4.2.1 Classe “homicídio” ... 73

5.1.4.2.2 Classe “lesão corporal grave” ... 76

5.1.4.2.3 Classe “ameaça” ... 78

5.1.4.2.4 Classe “Lesão corporal leve” ... 80

5.1.4.2.5 Classe “perturbação” ... 82

5.1.5 Interpretação e Conhecimento - Desenvolvimento sequencial do crime ... 84

5.1.5.1 Sistemas, Super Sistemas, Sub sistemas e trans sistemas de danos sociais ... 88

6 CONCLUSÃO ... 90

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1 APRESENTAÇÃO E EVOLUÇÃO DO CINO

Rafael Soares Ribeiro é biólogo licenciado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (2011), Oficial da Polícia Militar (PM) do Rio Grande do Norte, com ingresso na PM em 2007, no curso de formação de oficiais da Academia Militar Coronel Milton Freire da PMRN, e formando com o título de bacharel em segurança pública (2009). Tem cursos técnicos na área de desenvolvimento de software pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), além de outros diversos cursos nas áreas de segurança, processos e biologia.

Com uma vida dual, dividindo seu tempo entre os estudos da biologia e os trabalhos na Polícia Militar, de alguma maneira, sempre tentou conciliar as atividades. Na PMRN, atuou no policiamento ostensivo de Natal/RN, na zona sul, por seis anos ininterruptos, em um batalhão de polícia comunitária: o 5º Batalhão da PMRN, Batalhão Câmara Cascudo. Passou um ano na Companhia Independente de Proteção Ambiental (Cipam) atendendo à população principalmente em casos de crimes envolvendo barulho e perturbação do sossego, sendo um dos criadores de uma campanha de prevenção e repressão dos ilícitos em questão, chamada de “Em baixo e em bom som”.

Ademais, atuou no Quartel do Comando Geral (QCG), principal unidade tomadora de decisão da PMRN, auxiliando em áreas relacionadas a finanças, desenvolvimento de sistemas e análises de dados. Participou da criação da Central de Diárias Operacionais (CDO), responsável por informatizar o processo de pagamento de horas extras a policiais militares e, ainda hoje, é referência na informatização dos processos da segurança pública no estado do Rio Grande do Norte (RN).

Na capital federal, Brasília/DF, em 15 de janeiro de 2018, começou a atuar na Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do então Ministério da Justiça (MJ) e Segurança Pública, na Diretoria de Políticas (DPSP/Senasp), onde analisou dados de segurança pública, contribuiu e acompanhou a criação do Sistema Único de Segurança Pública e, de perto, viu como se dá o processo de definição de políticas públicas brasileiras. Atualmente, está atuando na Operação das Nações Unidas e da União Africana em Darfur (UNAMID), no Sudão, continente africano, como policial das Nações Unidas, UNPol.

Na seleção para o mestrado profissional em Ciência, Tecnologia e Inovação, apresentou o pré–projeto de um programa para computadores e dispositivos móveis, com a finalidade de aumentar a demanda real de visitantes do turismo interior, promover o aumento de oferta de bens e serviços do mercado turístico, além de contribuir para a criação de

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destinos turísticos inteligentes, DTI, no estado do Rio Grande do Norte, chamado de “Desbravador: todos os destinos possíveis”. Porém, em 12 de outubro de 2017, a ideia transformou-se em um projeto da área de segurança pública, o Compass.

O Rio Grande do Norte, naquela época, figurava como a unidade federativa com a maior taxa de crimes violentos letais intencionais (CVLI) do país e, no Brasil, o sangue derramado era de mais de 60 mil vítimas, sendo o cenário que motivou a mudança do projeto (RIO GRANDE DO NORTE, 2017). Além disso, mesmo a vida dual já não estando tão fácil, estudar o turismo do Rio Grande do Norte possibilitou destacar a importância dos serviços turísticos para o estado potiguar. Também, fez voltar olhares para conceitos da área de cidades inteligentes, intimamente relacionados com segurança pública. Afinal, turismo não existe sem segurança.

A proposta do Compass ainda era de desenvolvimento de um software peer to peer para cadastro, controle e emprego do efetivo Policial Militar do Rio Grande do Norte, através de despesa de custeio e horas extras, o qual auxiliaria os gestores públicos na tomada de decisão por meio da integração de sistemas da PMRN e da Secretaria Estadual de Defesa Social e Segurança, os quais ainda estavam em desenvolvimento. Porém, devido à atuação na Senasp, em Brasília/DF, a ideia tornou-se inviável.

Nesta conjuntura, percebeu-se a necessidade de dar um passo para trás. Então, sair do chão de fábrica da segurança pública e ir atuar na Senasp, mais precisamente na Diretoria de Políticas Públicas, possibilitou uma visão macro da segurança nacional. Assim, nas aulas de Estratégia Competitiva e Inovação, destacaram-se os conceitos de nível estratégico, o nível tático e o nível operacional, além da utilização de ferramentas de medição de eficiência.

As aulas de metodologias e ferramentas e de gêneros discursivos de inovação, as quais trouxeram luz para a aplicação de diversas ferramentas e construção de conceitos basilares, ajudaram no passo a ser dado: e, na verdade, não foi para trás, mas sim um passo anterior; uma vez que o foco passou a ser a análise da origem dos delitos.

No decorrer do mestrado, as ideias basilares debatidas eram no campo conceitual de diferenciação básica entre ciência, tecnologia e inovação. Então, viu-se que, quando se pensava em inovação, vinha logo à mente a questão de tecnologias mais recentes, a criação de softwares e o uso de ferramentas de última geração. No entanto, foi observado que, no decorrer da história, a inovação tem ligação próxima com a simplicidade.

Neste sentido, basta ficar atento à elegância simplista da seleção natural de Darwin que, de tão lógica, é aplicada em campos diversos como a economia, como fez Joseph Schumpeter. Desta forma, inovação é a novidade evolutiva, a ideia que deu certo ou que foi

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passada de geração a geração. Ainda, na história, nas aulas sobre inovação, viu-se que as novas ideias que dão certo são formadas por diversas outras ideias, como peças de um quebra cabeça, muitas vezes de áreas diferentes da originalmente aplicada.

Então, após uma conversa com o Professor Dr. Efrain Pantaleon Matamoros sobre segurança do trabalho e a partir de experiências anteriores na área de segurança pública, relacionadas ao enfrentamento de crimes de menor potencial ofensivo com a lavratura do termo circunstanciado de ocorrência, além de ideias do curso de biologia acerca dos sistemas biológicos, foi concebido o rascunho de uma pirâmide de crimes, semelhante a pirâmides de segurança do trabalho nas quais desenha-se uma proporção entre incidentes fatais com pequenos acidentes em indústrias, os quais são interligados; a fim de verificar se o mesmo padrão era possível ser observado em uma área de atuação da Polícia Militar.

O passo anterior, então, seria definir a proporção de crimes, criar um processo básico e flexível de atendimento de ocorrências, que poderia ser usado em qualquer comunidade para prevenir o crime e, ainda, destrinchar se a correlação era factível. Para tanto, foi implementado um processo de descoberta de conhecimento, com uso de ferramentas de mineração de dados, de criação de painéis de dados, dashboards, a partir da disponibilização de dados de ocorrências da Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (SESED). Assim, viu-se a necessidade de aprofundar estudos em campos anteriormente não pensados: o Direito e a Moral.

O resultado foi uma produção pluridisciplinar na qual várias disciplinas analisaram o mesmo objeto de maneira interdisciplinar, de modo que métodos foram transferidos de uma disciplina para outra em busca de resultados; e, quiçá, transdisciplinar, pois as todas disciplinas contribuíram de forma integrada para a concepção do trabalho, reconhecendo a existência de vários níveis de realidade, regidos por lógicas diferentes (EDUCAÇÃO..., 2000).

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2 INTRODUÇÃO

O Brasil figura como um dos países mais violentos do mundo. Para fins de comparação, no período de 2000 a 2013, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a taxa mundial de homicídios é de 8,2 mortes por 100 mil habitantes e, no Brasil, no mesmo período, é de 27,13 mortes por 100 mil habitantes (FORUM BRASILEIRO DE SEGURNAÇA PUBLICA, 2018).

No ano de 2016, o Brasil atingiu uma marca histórica de 30 mortes por 100 mil habitantes, com um total de 62.517 vidas perdidas, consolidando o patamar na ordem de 60 a 65 mil homicídios por ano e distanciando-se do cenário anterior, dos anos de 2000 a 2013, quando atingia a marca de 50 a 58 mil mortes por ano.

As causas e consequências dessas mortes, por sua vez, são verificadas na saúde, na dinâmica demográfica, assim como no processo de desenvolvimento social e econômico do país (DIAGNÓSTICO..., 2015). Desta forma, é possível constatar que jovens do sexo masculino, com idades entre 15 e 29 anos, correspondem a mais de 50% das mortes. Isto é, é uma geração perdida.

A unidade federativa (UF) do Rio Grande do Norte (RN), estado da região nordeste conhecido pelas belezas naturais e por ser um dos expoentes do turismo nacional devido às praias de águas quentes o ano inteiro, destaca-se neste cenário com a maior variação de taxas de homicídios entre os anos de 2006 e 2016, cujo valor de 256,9% é o maior do país (FORUM BRASILEIRO DE SEGURNAÇA PUBLICA, 2018).

No ano de 2017, o referido estado atingiu a marca de 68/100 mil habitantes, somando 2.836 mortes (FORUM BRASILEIRO DE SEGURNAÇA PUBLICA, 2018). “Corpos estão empilhados no paraíso”, dizia a manchete de um jornal internacional (LOS ANGELES TIMES, 2017), enquanto a organização não governamental mexicana, Consejo Ciudadano para la Seguridad Pública y Justicia Penal A.C. (2017), emitia um relatório das 50 cidades mais violentas do mundo e Natal, a capital do RN, era considerada o município mais violento do país e o 10º do mundo.

A resposta ao derramamento de sangue vivido no Brasil nos últimos anos e à escalada de crime, foi a criação e implementação do Ministério da Segurança Pública pelo governo federal em 2018, além da publicação da lei nº 13.675, em 11 de junho do mesmo ano, que institui o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e criou a Política Nacional de Segurança Pública (BRASIL, 2018). Vale ressaltar que, anteriormente, a segurança pública nunca figurou como área estratégica do governo federal brasileiro, apesar do impacto social e

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econômico que o crime pode provocar, uma vez que é uma responsabilidade dos governos estaduais de acordo com aConstituição Federal de 1988 (CF88).

No parágrafo 5º, do Art. 144 da CF88, são detalhadas as responsabilidades de cada instituição de segurança pública, definindo também as atribuições a nível federal e estadual. Em cada UF, existem duas polícias: uma polícia militar, com o papel de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública, cuja missão principal é a prevenção do crime; e uma polícia civil, responsável pela investigação de crimes. O papel das polícias estaduais é ser linha de frente do sistema de segurança pública dos estados, cabendo o enfrentamento sistemático de crimes e contravenções penais (BRASIL, 1988).

As duas instituições supracitadas são responsáveis pela segurança pública em cada estado brasileiro e, consequentemente, pelo atendimento ao cidadão que solicita auxílio em crimes menores, como a perturbação do sossego, ou em crimes mais graves, no caso dos homicídios. Nesta perspectiva, as polícias estaduais potiguares têm muito trabalho, pois os números de ocorrências policiais ultrapassaram mais de um milhão de registros entre os anos de 2013 a 2017 e, mesmo sendo uma maioria de crimes de menor potencial ofensivo e contravenções, entende-se que a ordem pública é ameaçada todos os dias, durante as 24 horas (RIO GRANDE DO NORTE, 2017).

As forças policiais precisam responder às solicitações da sociedade diuturnamente. Contudo, de acordo com os últimos dados, o aumento de homicídios fez acender uma luz vermelha para os processos de policiamento: As ações policiais estão falhando? O que controla o aumento do crime? A prevenção é o melhor caminho? Falta efetivo policial? O modelo policial é eficaz e eficiente? Como melhor atender à sociedade? Qual a solução para o derramamento de sangue no Brasil e, mais especificamente, no Rio Grande do Norte?

Assim, o presente trabalho não tem pretensão nenhuma de conseguir responder às perguntas acima, porém pretende lançar uma luz na metodologia de processos de atendimento a ocorrências policiais. O caminho traçado por este pesquisador está relacionado com a área de segurança dos sistemas, empoderando-se de conceitos e aplicando-os na segurança pública.

Profissionais da área de segurança dos sistemas, preocupados com a morte de funcionários em empresas (na verdade, estavam preocupados com o seguro pago pelas empresas), analisaram incidentes em indústrias e encontraram proporções que direcionaram a soluções que diminuíram fatalidades no ambiente de trabalho, criando as pirâmides de incidentes.

Os estudos de Heinrich, em 1931, foram os primeiros a delinear uma pirâmide que guardava consigo uma proporção entre pequenos incidentes de trabalho e acidentes graves de

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funcionários no ambiente profissional de modo que, para cada lesão incapacitante, ocorreram antes 300 acidentes sem lesão. Deu-se um crescimento no estudo de processos, de partes interligadas, não se ignorando as relações de eventos. Em complementação, a teoria geral dos sistemas de Von Bertalanffy caiu como uma luva no entendimento de sistemas e processos únicos ou interdependentes.

Logo, no sistema de segurança pública existe uma mesma proporção de crimes? As sociedades funcionam como um sistema? O que pode ser aplicado da área de segurança de sistemas no policiamento ostensivo? Desta forma, o presente estudo tem como objetivo criar uma pirâmide baseada em dados de ocorrências criminais atendidas pela Polícia Militar do Rio Grande do Norte, seguindo o modelo de pirâmides de incidentes proposto por Heinrich.

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3 EMBASAMENTO TEÓRICO

A queda da bastilha, evento central da Revolução Francesa em 1789, inaugurou o início da idade contemporânea com o lema de liberdade, igualdade e fraternidade. Iniciada no século 18, esta nova concepção reverbera ainda hoje e, todos os dias, acontece uma revolução. O impacto por ela causado pode ser percebido tanto em obras clássicas quanto em produções mais contemporâneas relacionadas a determinados assuntos, nas quais se nota semelhanças no discurso. Assim sendo, significa que grandes mudanças demoram, não são pontuais e não se limitam a um evento no espaço e tempo.

Neste contexto, apresenta-se o embasamento teórico com autores de diversas épocas e campos, os quais servem de pano de fundo para uma análise pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar de crimes. A esclarecer, pluridisciplinaridade é o estudo de um objeto por várias disciplinas com a possibilidade da ocorrência de relação entre elas, como o estudo do crime pelo direito, pela matemática e pela sociologia, por exemplo.

Além disso, a interdisciplinaridade é a transferência de método de uma disciplina para outra como, por exemplo, o uso de cladogramas e árvores de descendências de espécies como ferramentas de desenvolvimento de produtos, ou ainda lógicas de áreas de engenharia para segurança pública. A transdisciplinaridade, por sua vez, tem o objetivo de compreender o mundo presente e está entre as disciplinas, não se limitando a uma, mas sim buscando a unidade de conhecimento (EDUCAÇÃO..., 2000).

O crime será o objeto analisado na visão plural e o uso de métodos de algumas disciplinas em outras caracterizará a interdisciplinaridade. No primeiro momento, apresenta-se a ideia de Von Bertalanffy e outros autores sobre a Teoria Geral dos Sistemas (TGS), expondo os conceitos principais da teoria. Na abordagem seguinte, Cicco e Fantazzini utilizam metodologias de outras áreas para abordar, no prevencionismo, os conceitos de sistemas e retroalimentação, por exemplo. Para complementar, o Direito e o campo da Moral contribuem na conceituação de crime e sua evolução histórica, finalizada na aplicação de uma metodologia de Engenharia de Segurança do Trabalho no campo do Direito e da Moral.

Por fim, apresenta-se o artigo que reforça a visão de interconexão de crimes com desordem: “Teoria das janelas quebradas”, além de outros trabalhos de segurança pública sobre polícia comunitária e seus conceitos básicos. Ademais, o embasamento teórico abrange a descrição das ferramentas utilizadas e princípios seguidos no presente trabalho, que vão desde clássicos, como o Princípio de Pareto de 1982, até os algoritmos de mineração de dados.

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3.1 Teoria geral dos sistemas

A sociedade é formada por entidades, como escolas, grupos comunitários, empresas, igrejas e associações diversas que, juntas, formam um elemento vivo e dinâmico, semelhante a um organismo: o sistema circulatório conduz os nutrientes para todo o organismo, o sistema muscular permite a locomoção do ser vivo e o sistema nervoso promove as tomadas de decisão e controle. Ou seja, assim como um organismo, a sociedade é formada por elementos e constituintes interdependentes, os quais compõem um sistema total (MANNIN, 1967 apud VON BERTALANFFY, 2016).

No primeiro momento, a visão acima não traz nenhuma novidade, visto que o conceito de sistema invadiu todos os campos da ciência, ocupou o pensamento popular e os meios de comunicação de massa (VON BERTALANFFY, 2016) e, hoje, é usado de forma corriqueira, denominando sistemas de saúde, educação e segurança pública, bem como ajudando a compreender o funcionamento de complexos programas de computadores e máquinas industriais, sendo fala frequente também nas plataformas políticas.

Entre os anos de 1950 e 1968, os trabalhos do biólogo austríaco Ludwig Von Bertalanffy deram origem à Teoria Geral dos Sistemas (TGS) e, desde então, a abordagem sistêmica começou a ganhar campo, implicando uma reorientação do pensamento científico. Assim, as diversas disciplinas da ciência clássica, que tentaram isolar os elementos do universo observado, se renderam à teoria geral dos sistemas e começaram a analisar também as inter-relações dos objetos estudados, como os problemas de organização, fenômenos que não se resolvem em acontecimentos em uma localidade ou interações dinâmicas de entidades de vários níveis (VON BERTALANFFY, 2016).

Além dos objetos de estudo observados por essas ciências, os quais interagem e se aglutinam em sistemas, também é observado um padrão nas leis científicas em diferentes campos que, muitas vezes, são idênticas ou possuem a mesma forma. Inclusive, leis gerais dos sistemas parecem existir, de modo que se aplicam a qualquer sistema, independente da natureza dos elementos que os compõem e das relações ou forças existentes entre eles. Von Bertalanffy (2016) indica ainda os principais propósitos da teoria geral dos sistemas, a saber:

1. Há uma tendência geral no sentido da interação entre as várias ciências, naturais e sociais;

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3. Esta teoria de sistemas pode ser uma maneira mais abrangente de estudar os campos não físicos do conhecimento científico, especialmente as ciências sociais;

4. Esta teoria de sistemas, ao desenvolver princípios unificadores que atravessam verticalmente os universos particulares das diversas ciências envolvidas, aproxima-nos do objetivo da unidade da ciência;

5. Isto pode levar a uma integração muito necessária da educação científica. Outro resultado da TGS foi o surgimento de novos campos como a cibernética, que se baseia em conceitos de retroalimentação para análise de problemas gerais dos sistemas (VASARHELYI; MOCK, 1974), sendo o conceito central da teoria da informação, exatamente, o controle e a retroação (VON BERTALANFFY, 2016). Este reflexo de surgimento de áreas, ou disciplinas, é considerado também um fenômeno da interdisciplinaridade (EDUCAÇÃO..., 2000).

Por sua vez, o modelo de retroação é constituído por um receptor, um aparelho de controle e um efetuador. A mensagem transcorre todo o sistema e retroage ao receptor, influenciando, negativamente ou positivamente, e autorregulando o sistema (Figura 1).

Figura 1 - Modelo de retroalimentação

Fonte: Von Bertalanffy ( 2016).

Nas ciências sociais, como na administração, a utilização dos conceitos de retroalimentação, exemplificados na imagem acima, é implementada para a compreensão de fenômenos dinâmicos do processo administrativo, ou dos sistemas administrativos. Sem os estudos sobre retroalimentação, não é possível compreender estes fenômenos, pois é necessário o exame constante dos resultados e reavaliação para adequar a execução, devido à complexidade dos processos e dos sistemas (VASARHELYI; MOCK, 1974).

Além da área da administração, aréas como economia, sociologia, ciência política, antropologia e direito também são consideradas ciências dos sistemas sociais, pois são

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campos afins da sociologia e seus inúmeros objetos de estudo, a saber: grupos ou sistemas humanos, família, equipe de trabalho, empresas, conglomerados industriais, estados e países, a partir dos quais formulam conceitos que, muitas vezes, são elaborações de sistemas ou sinônimos destes (VON BERTALANFFY, 2016).

Então, afinal, o que é um sistema? Churchman propõe cinco considerações básicas para a descrição de um sistema: objetivos, componentes, recursos, meio ambiente e administração. Os objetivos definem os limites de um sistema; os componentes são elementos essenciais para seu funcionamento; os recursos são os insumos; o meio ambiente é o contorno do sistema, os limites; e, finalmente, a administração engloba métodos, pessoas e componentes (1968 apud VASARHELYI; MOCK, 1974).

Figura 2- Conceito de Churchman

Fonte: Churchamn (1968 apud VASARHELYI; MOCK, 1974).

Os conceitos supracitados podem ser encontrados em outros campos além dos já citados. No campo das engenharias, por exemplo, nota-se o uso dos conceitos de sistemas e retroalimentação para analisar danos, medir riscos e resolver problemas. O prevencionismo, campo da Engenharia de Segurança dos Sistemas, é um exemplo da aplicação detalhada a seguir.

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3.2 Do prevencionismo ao surgimento da Engenharia de segurança de sistemas

O prevencionismo surgiu a partir da necessidade de prevenir danos às pessoas decorrentes de atividades no trabalho. Para tanto, o Seguro Social realizava ações assegurando o risco de acidentes e o risco de lesões. Entretanto, os estudiosos H. W. Heinrich e Roland P. Blake identificaram necessidades mais importantes em seus estudos: a prevenção dos acidentes (CICCO; FANTAZZINI, 1979).

Em estudos realizados entre os anos de 1931 e 1990, as concepções de sistemas impactaram de forma relevante o prevencionismo. Os estudos de Heinrich, em 1931, revelaram uma relação entre acidentes sem lesão, lesões não incapacitantes e lesões incapacitantes, de modo que, a cada 300 acidentes sem lesão, resultaria uma lesão incapacitante no ambiente de trabalho. Seus resultados apresentaram, pela primeira vez, danos à propriedade (acidentes sem lesão) relacionados a lesões incapacitantes (CICCO; FANTAZZINI, 1979).

Figura 3 – Pirâmide de Heirich

Fonte: Cicco; Fantazzini (1979).

Segundo Cicco e Fantazzini (1979), no ano de 1966, Frank Bird Jr analisou 90.000 acidentes ocorridos em uma empresa metalúrgica americana, a Lukens Steel, Company, durante um período de 7 anos, encontrando a seguinte proporção: a cada 100 lesões não incapacitantes e 500 acidentes com danos à propriedade, ocorria uma lesão incapacitante, como mostra a pirâmide abaixo.

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Figura 4 – Pirâmide de Bird

Fonte: Cicco; Fantazzini (1979).

Prosseguindo com a análise dos estudos realizados, a Insurance Company of North America analisou 1.753.498 casos em 297 empresas, ocorridos com 1.750.000 trabalhadores, chegando a uma relação mais precisa que a de Bird (CICCO; FANTAZZINI, 1979).

Figura 5 – Pirâmide da Insurance Company of North America

Fonte: Cicco; Fantazzini (1979).

Os resultados obtidos mostraram uma relação que, para cada acidente com lesão grave ou morte, havia 10 acidentes com lesão leve, 30 com danos à propriedade e 600 quase acidentes. Com estes estudos, em 1970, John A. Fletcher prosseguiu com a obra de Bird e propôs a criação de programas de “Controle de perdas”, objetivando reduzir ou eliminar todos os acidentes capazes de interferir ou paralisar um sistema. Os programas incluíam ações de prevenção a lesões, danos a equipamentos, instalação de materiais, incêndios, contaminação do ar, entre outras (CICCO; FANTAZZINI, 1979).

Lesão Incapacitante

Lesões não incapacitantes

Acidentes com danos a propriedade

Bird - 1966

Acidente com lesão grave

Acidentes com lesão leve

Acidentes com danos à propriedade

Acidentes sem lesão ou danos visíveis (quase acidentes)

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A partir de 1972, fundamentado nos trabalhos de Willie Hammer, especialista em Segurança de Sistemas com experiência na Força Aérea e nos Programas espaciais norte-americanos, permitiu-se a aplicação de diversas técnicas na indústria, dando bons resultados na proteção de recursos humanos e materiais de sistema de produção (CICCO; FANTAZZINI, 1979).

Os estudos trouxeram algumas conclusões, como a de que as diferentes proporções encontradas denotaram que cada ambiente de trabalho é único, visto que sofre influências de fatores diferentes, é constituído de subunidades diversas, além de o ambiente no qual está inserido possuir características próprias. Por isso, é necessário um estudo particular de cada um, considerando todas as variáveis possíveis.

No decorrer dos estudos, foram agregados mais fatores às análises do que antes era um objeto isolado. Assim, conclui-se que tudo se tratava de um sistema com necessidade de diversas ações interligadas para evitar perdas ao sistema de produção. A fim de englobar não só fatores internos de um sistema analisado, mas também os elementos externos, o conceito evoluiu abrangendo progressivamente um número maior de fatores e atividades, desde as ações iniciais de reparação até a total prevenção de qualquer situação geradora de efeitos indesejados no trabalho, ou seja, que afetasse o objetivo (CICCO; FANTAZZINI, 1979).

As proporções encontradas também denotaram que os esforços de prevenção e controle de riscos devem ser concentrados tanto em acidentes com lesão grave, como também em acidentes com bens materiais, os quase acidentes, pois qualquer um pode ser fator determinante para uma lesão grave ou morte (CICCO; FANTAZZINI, 2003) e, consequentemente, eles consideraram que tudo seria um sistema.

3.2.1 Sistemas e a Engenharia

A Engenharia de Segurança de Sistemas, originada a partir dos estudos supracitados, tinha como objetivo criar lastro na necessidade de segurança total. Em sua construção, é perceptível a apropriação de alguns conceitos, como a concepção de sistemas que, segundo Cicco e Fantazzini (1979), é um arranjo ordenado de componentes inter-relacionados, que atuam e interatuam com outros sistemas para cumprir uma tarefa ou função (objetivos), num determinado ambiente, conceito bem semelhante ao proposto por Churchman (1968 apud VASARHELYI; MOCK, 1974) e ao de retroalimentação da cibernética, adaptados ao de uma empresa, sugerindo o modelo a seguir:

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Figura 6 – Sistema empresa de Cicco e Fantazzini, conceito de Churchman e de retroalimentação

Fonte: Cicco; Fantazzini (1979).

A figura 5 guarda uma semelhança com o modelo de retroalimentação já mencionado na teoria da informação (Figura 1), assim como também tem semelhança com o conceito de Churchman (1968 apud VASARHELYI; MOCK, 1974). Nesta perspectiva, Cicco e Fantazzini (1979) afirmam que os sistemas são quaisquer tipos de configurações que permitam distinguir vários subsistemas.

Neste modelo, o sistema empresa interage com outros sistemas, como energia, governo, fornecedores e comunidade, uma vez que o objetivo da empresa é atender ao mercado que, por sua vez, retroalimenta a empresa, incentivando a produzir mais e a prestar um serviço mais amplo ou melhor. Logo, a fronteira da empresa não é algo físico ou estático, é onde flui a interação e o relacionamento com outros sistemas: a comunicação.

Com o estudo de modelos de sistemas, a Engenharia de segurança de sistemas procura prevenir perdas materiais e, principalmente, humanas dentro de empresas. A análise de riscos é a ferramenta utilizada para evitar ou minimizar sinistros em uma empresa, desde pequenos incidentes ou quase acidentes, até lesões graves em funcionários ou perda de vida humana.

(Objetivo) (recursos)

(meio ambiente)

(componentes)

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3.2.2 O sistema comunidade

Como já mencionado, um sistema é um arranjo ordenado de componentes inter-relacionados, que atuam e interatuam com outros sistemas para cumprir uma tarefa ou função (objetivos), num determinado ambiente. A partir de um sistema social, como uma comunidade formada por diversas entidades, a saber: escolas, grupos comunitários, empresas e igrejas, e considerando que as relações e as forças existentes entre os elementos desse sistema se comportam de maneira semelhante aos de uma empresa, pode-se construir o seguinte modelo:

Figura 7 – Sistema comunidade

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

O sistema comunidade pode ser tratado como um país, um estado, uma cidade ou um bairro, dependendo do nível em que está sendo analisado. Ele interage com outros sistemas, como o sistema de saúde, o sistema de segurança, educação, empresas e, mais uma vez, dependendo do nível, pode se relacionar também com outros países, cidades, bairros, etc.

Qual seria o objetivo do sistema comunidade? O objetivo da comunidade é a convivência em harmonia, a paz social, livre de conflitos, com segurança total, de acordo com o que está expresso no artigo 3º da Constituição Federal de 1988, elencando os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional;

Comunidade

Sistema de saúde Empresas Sistema de segurança pública Educação Iniciativa Fronteira Feedback (retroalimentação) Art 3º da CF 88

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III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).

Assim como nas empresas, onde danos, acidentes ou quase acidentes podem prejudicar o objetivo do sistema, o objetivo do sistema comunidade pode ser acometido por algum dano. Então, a quais riscos o sistema comunidade está exposto? Quais danos o sistema comunidade, ou as partes que integram a comunidade, pode sofrer? Esses danos, como nas pirâmides de Bird, têm uma proporção? Antes de responder às perguntas, será apresentada uma breve explicação sobre terminologias de danos à comunidade: as infrações penais.

3.3 Infrações penais: os danos à comunidade

A linhagem dos hominídeos, provavelmente, originou-se há cerca de 5 milhões de anos e características como aumento do cérebro, mudança nas mandíbulas e dentes, bipedalismo e mudanças no comportamento social e cultural de nossos ancestrais os levaram a abandonar as florestas e habitar as savanas. Porém, é a vivência social e cultural a principal diferença entre humanos e outros macacos, e o surgimento da linguagem, a inovação mais significante da cultura humana (RIDLEY, 2006).

Segundo Beccaria (2015), os primeiros homens, até então selvagens, se viram forçados a reunir-se em sociedades. Contudo, a formação de hordas de várias sociedades imperou um estado de guerra contínuo e, com o aprimoramento da linguagem, as leis foram criadas para se ter condições de reunir os homens sobre a terra, os quais antes eram independentes e isolados. Esta organização das relações na sociedade era preciso, pois a violência era absurda e limitava a liberdade de todos.

Cansado, o homem abriu mão de uma parte de sua liberdade para usufruir daquilo que sobrou. Então, criou leis para servirem de condição, dando origem à soberania, e um soberano para depositar as liberdades, bem como cuidar e administrar as relações. O delito e a pena surgiram a partir do momento em que o conjunto de todas as pequenas porções de liberdade foi depositado na mão de um soberano ou governo (BECCARIA, 2015).

Desta forma, o bem jurídico, que é o interesse de alguém protegido por leis, ou seja, o objeto de proteção da norma penal, necessitou do direito para ser defendido; necessitou de uma tutela, a norma que, por sua vez, moldou o castigo, tendo a pena como consequência (NUCCI, 2017).

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A centralização do poder fez nascer uma forma de vingança pública, com base no critério de talião: “olho por olho, dente por dente”. No que diz respeito ao uso desse critério, o corpo de leis que merece destaque é o código de Hamurabi, datado do século XXIII a.C e concebido às margens do rio Eufrates, na Babilônia (NUCCI, 2017).

Sabe-se que, desde a Mesopotâmia, muita coisa mudou. Assim, o conjunto de normas evoluiu e, por esta razão, tinham que se adequar para melhor classificar as infrações penais, além de punir o infrator. No ano de 1764, na época das luzes, Marques de Beccaria publicou Dos delitos e das penas, principal obra da fase do direito penal humanitário (NUCCI, 2017), discutindo temas como pena de morte, tortura e roubo, sendo ainda hoje o centro de polêmicas devido ao seu embasamento humanista.

No Brasil, antes da chegada da dominação portuguesa, o que prevalecia era a lei da selva ditada pelos indígenas, seguindo o critério de talião (NUCCI, 2017). Após 1500, por um longo período,vigoraram as ordenações do Reino; e, a partir de 1603, as Ordenações Filipinas vigoraram por 200 anos, sendo um conjunto de normas sem característica humanista, as quais mesclava crimes de menor potencial ofensivo com os mais graves, com penas excessivas e cruéis. A história não se repete, mas rima (MARK TWAI, 1910 apud DAWKINS, 2009).

Somente após a independência, em 1822, e a constituição brasileira de 1824, as ideias iluministas embarcaram no Brasil, consagrando os princípios da legalidade, vedação da retroatividade das leis, liberdade de pensamento, dentre outros. Na época, considerado como “a lei mais perfeita e completa que temos”, Camargo só teceu elogios ao código criminal brasileiro de 16 de dezembro de 1830 (apud NUCCI, 2017). Ele foi decretado por D. Pedro que, usando a “Graça de Deus, e fez saber todos os súditos”, definiu crime como toda ação ou omissão contrária às leis penais (BRASIL, 1830).

No ano de 1890, com a república já proclamada e considerando urgente a reforma penal do Brasil, o General Deodoro da Fonseca atualizou o código penal brasileiro; porém, com defeitos e falhas, o que motivou a edição de várias leis esparsas (NUCCI, 2017). No decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890, foi inserido o conceito de violação penal, sendo também considerado uma ação ou omissão contrária às leis; além da inserção do termo contravenção (BRASIL, 1890).

Desta forma, o crime consistia em violar a lei penal e a contravenção, por sua vez, seria a violação de outras leis e regulamentos (BRASIL, 1890), como descrito nos artigos a seguir:

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Art. 8º Contravenção é o facto voluntario punível que consiste unicamente na violação, ou na falta de observância das disposições preventivas das leis e dos regulamentos.

O decreto-lei nº 3.914, que é a Lei de introdução ao Código Penal da Lei das Contravenções Penais, conceitua o crime e a contravenção penal no seu Art. 1º:

Art. 1º Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente (BRASIL, 1941a).

Assim, o lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940, o Código Penal, o decreto-lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941, e a decreto-lei de Contravenções são as normas que descrevem as condutas relacionadas aos crimes e contravenções (BRASIL, 1941b).

No ano de 1995, a Lei nº 9.099, de 25 de setembro, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, trouxe o conceito de infração de menor potencial ofensivo que, para os efeitos da lei supracitada, são as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa, de acordo com o artigo Art. 61 (BRASIL, 1995). Contudo, por força da tradição, o uso do termo crime é corrente, podendo abranger também a contravenção em textos legais, embora o termo correto seja infração penal (Figura 7).

A infração penal possui três conceitos: o material, o formal e o analítico. O conceito material consiste na vontade da sociedade de criminalizar certa conduta, a fonte, a essência material do crime. A formalização da conduta é o conceito formal que, inclusive, pode ocorrer um descompasso com o conceito material quando, por exemplo, a sociedade almeja que uma determinada conduta seja criminalizada, mas não há tipo penal. Quando o conteúdo do conceito formal é analisado, extrai-se o conceito analítico, no qual o crime é uma conduta típica, ilícita e culpável, uma concepção tripartida, majoritária na doutrina e jurisprudência (NUCCI, 2017).

Segundo Beccaria (2005), a verdadeira medida dos delitos é o dano causado à sociedade. No entanto, no decorrer da história, outra preocupação do legislador foi a definição de uma medida do delito, a qual reflete diretamente na pena: ou seja, quanto mais grave o delito, maior a punição (NUCCI, 2017).

Neste contexto, ressalta-se que o termo infração penal, sendo bifurcado em crime e contravenção, assim como sendo graduado em menor potencial ofensivo e maior potencial

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ofensivo, mesmo que o último não tenha menção no texto legal, é apenas uma diferença que se restringe ao campo da pena, uma vez que é a vontade do legislador de atribuir gravidade ao fato (NUCCI, 2017).

Na legislação brasileira, atualmente, além das infrações penais definidas como crime e contravenção, pode-se subdividir ainda em infrações de menor potencial ofensivo e crime de maior potencial ofensivo, sendo o crime hediondo considerado o mais grave. Para ilustrar, criou-se o seguinte diagrama:

Figura 8 – Infrações penais e seus gêneros

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Com o temor da mudança do comportamento criminoso mais acentuado, ainda na década de 80, o legislador propôs uma lei para combater crimes considerados mais graves, a lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, que trouxe a classificação de crimes hediondos. O termo hediondo, em seu significado semântico, é algo abjeto, depravado, sórdido, repulsivo, pavoroso, medonho e, como exemplo, tem-se latrocínio, estupro e homicídio com qualificação, crimes considerados hediondos (BRASIL, 1990). Desta forma, o legislador reagiu aos anseios da população na expectativa da repressão à criminalidade (CRUZ; CRUZ, 2008).

Neste sentido, no Brasil, as infrações penais obedecem a uma escala que se inicia em infrações de menor potencial ofensivo, crimes de maior potencial ofensivo e crimes hediondos, de acordo com o dano causado à sociedade, ou gravidade do fato, como se pode ver no diagrama abaixo:

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Figura 9 – Organização das infrações penais de acordo com a gravidade

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Os princípios do direito penal, que são as normas predominantes e abrangentes, servem de instrumento para integração, interpretação, conhecimento e aplicação do direito positivo (NUCCI, 2017), destacando-se o princípio da dignidade humana e o devido processo legal como princípios regentes. Logo, a dignidade humana é a preservação do ser humano, desde o nascimento até a morte; e o bem jurídico, como já mencionado, é o interesse de alguém protegido por leis, a razão e existência da norma penal, ou seja, o objeto que deve ser protegido por ela.

Sendo a vida o bem jurídico mais importante para a sociedade (MONTEIRO, 2017), os crimes de homicídio não qualificados, classificados como de maior potencial ofensivo, são tão indesejados quanto qualquer crime hediondo. Por coerência, trata-se de uma classificação mais condizente com os anseios sociais, de modo que venha a atender à exigência social de proteger o bem maior da pessoa: a vida.

No entanto, não convém graduar somente uma parte dos homicídios como os mais graves, os qualificados e os praticados em atividade típica de grupo, e não incluir os demais homicídios ou qualquer crime contra vida. Nesta perspectiva, além dos crimes hediondos, os crimes contra vida também estão no topo da gradação das infrações penais, conforme as análises deste trabalho.

Gravid

ad

e

-

+

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Figura 10 - Gravidade das infrações penais

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Analogicamente com a teoria da engenharia de segurança de sistemas, o conceito de infração penal pode ser associado ao de dano que, neste caso, seria um sistema social. Assim, dano social é um fato social que afeta negativamente o objetivo de um sistema social, a exemplo das infrações penais. Porém, vale ressaltar que o objetivo da sociedade, definido na constituição de 1988, é a convivência em harmonia, a paz social. Logo, nem todo dano social é infração penal, mas toda infração penal é um dano à sociedade.

Nesta lógica, ao se comparar a pirâmide da Insurance Company of North America, de 1969, com a gradação das infrações penais, observa-se o seguinte:

Figura 11- Analogia da Pirâmide de Bird com infrações penais

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Gravi dade

+

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Assim sendo, o acidente com lesão grave ou morte causa um grave dano ao sistema e, por isso, é comparado ao crime hediondo e ao crime contra vida. O acidente com lesão leve é comparado aos crimes de maior potencial ofensivo, com exceção dos crimes contra vida. O acidente com dano à propriedade é comparável às infrações de menor potencial ofensivo. E, por fim, quanto aos quase acidentes, sugere-se a comparação com as “quase infrações penais”.

Então, o que seriam as quase infrações penais? O campo da Moral pode dar um conceito sobre o que seria esse dano, assim como o Direito fez com as infrações penais. Vale ressaltar que Moral e Direito são campos distintos, embora não exista tema mais repisado do que a contraposição e harmonização entre Moral e Direito (VENOSA, 2016).

3.3.1 A quebra da moral e as regras sociais: o menor dano

A moral orienta a conduta dos indivíduos da sociedade, pois é uma construção histórica e indica regras de conduta para o bem-estar e aperfeiçoamento da sociedade, sendo constituída de uma série de condutas, construídas no decorrer da histórias para cumprir com determinada função (VENOSA, 2016), por meio das quais a sociedade procura atingir seu objetivo. Didaticamente, Venosa (2016) expõe a Moral dividida em várias matizes: a moral familiar, sexual, profissional, etc. Também, faz uma analogia com uma linha reta de comportamento, de modo que qualquer desvio representa uma transgressão à regra moral.

Além das regras morais e jurídicas, existe ainda um terceiro elemento imposto pela vida em sociedade: as regras sociais ou de cortesia. Um bom dia, um boa noite, aperto de mãos ou abraço são exemplos de regras sociais diárias. Ademais, impõe um padrão de vestimenta, postura e comportamento, dependendo do local e do nível social. Trata-se de simples regras de convivência, cujo objetivo é tornar a convivência em sociedade mais agradável; e gozam também de sanção, que se traduz em uma reprovação social (VENOSA, 2016); mesmo que ninguém possa ser obrigado a ser cortês, diferentemente do Direito, em que as leis devem ser seguidas por todos.

Então, qualquer desvio do comportamento moral, ou ainda a quebra de alguma regra social, pode ser considerado um dano à sociedade, mesmo que seja ínfimo. Por fim, para fins conceituais, o termo “quase infração penal” fica compreendido como um dano social que golpeia a sociedade e afeta seu objetivo, a paz social, em uma diminuta gravidade.

Delimitando todos os níveis e gravidade da pirâmide de infrações que abrange o universo do Direito, da Moral e das regras sociais (Figura 11), para alguns autores, as regras sociais não formam um terceiro elemento, e estariam ligadas à Moral. Porém, um simples ato

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de não dizer um bom dia ou boa noite não quer dizer que seja algo imoral, por exemplo. Porém, “o desrespeito às regras, que não tocam diretamente a Moral ou o Direito, mas pode se relacionar com eles, acarreta o desajuste social perante o grupo” (VENOSA, 2016). Assim, a relação entre o Direito, a Moral e as Regras Sociais está representada graficamente a seguir:

Figura 12- Danos sociais e suas classificações

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

No diagrama acima, nota-se os três campos separados, embora com uma fronteira através da qual se tocam e interagem. Todos os desvios dentro das áreas são danos sociais, ou seja, afetam o objetivo do sistema e provocam alteração da dinâmica social. Destaca-se que cada sociedade ou grupo possui suas próprias regras de convivência ou regras sociais, que seguem seus próprios princípios morais e, de uma forma mais ampla, a nível de países por exemplo, possui seu próprio ordenamento jurídico. Neste sentido, a referida classificação deve ser aplicada de forma regional e temporal.

Um exemplo curioso sobre relativização de regras sociais, Moral e Direito ocorre em estádios no Brasil. Em jogos de futebol, é comum ouvir xingamentos e palavras de baixo calão contra os juízes e jogadores apesar de existir no código penal, no seu Art. 140, a previsão do crime de injúria que consiste em injuriar, insultar alguém, ofendendo-lhe a dignidade e o decoro. Essa relativização ocorre especificamente dentro do estádio de futebol, uma questão geográfica local bem específica, e em um contexto temporal, pois algumas posturas, atualmente, já não estão sendo aceitas dentro das grandes arenas.

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Desde o ano de 2014, existem os Relatórios de Discriminação Racial no Futebol, que também abordam outros incidentes dentro dos estádios, como xenofobia, LGBTfobia e machismo (OBSERVATÓRIO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO FUTEBOL, 2017). O que antes era relativizado ou ignorado dentro dos estádios, hoje, é enfrentado e não mais aceito pelo grupo social, o que só reforça a questão de uma análise geográfica e temporal dos danos sociais.

Figura 13- Pirâmide das infrações penais

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Um adendo ao conceito fato social, em As regras do método sociológico, Durkheim (2007) define fato social como toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, sendo uma ação que possui existência própria, independente de manifestações individuais. O referido sociólogo não isenta o indivíduo de suas ações nem defende a inocência, auma vez que considera a ação de punir como um fato social.

Neste contexto, ele relata uma ilusão vivida pelo ser humano, isto é, a crença de que elabora ou executa algo por vontade própria, porém este algo lhe é imposto. Em uma democracia, muitas pessoas se consideram livres, mas não conseguem sair do sistema: precisam votar, pagar impostos ou viver uma rotina de trabalho que lhe é submetida todos os dias. Logo, declara-se livre, contudo não consegue ir à esquina de casa sem sair do sistema.

Agora, resta saber se os fatos sociais causadores de danos à sociedade são interligados assim como no sistema empresa (Figura 12), proposto por Cicco e Fantazzini em 1979, no qual a prevenção de quase acidentes diminui os acidentes mais graves, ou seja, o prevencionista atua na base da pirâmide para evitar o acidente mais grave. Além disso, para o direito, aplica-se o princípio dos vasos comunicantes: não há fenômeno social que possa ser tratado isoladamente (VENOSA, 2016); uma interligação também abordada em um artigo da década de 80, A teoria das janelas quebradas, de Wilson e Kelling (1982), detalhado a seguir.

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3.4 Polícia comunitária e a interconexão dos crimes

Como é na comunidade onde ocorre o crime, o dano social, ela deve ser foco para se entender a base dos sistemas sociais, assim como é a palavra chave para o entendimento da base do policiamento moderno: o policiamento comunitário, uma filosofia que vem ganhando destaque nos últimos anos entre os gestores policiais de grandes cidades do mundo todo e tem como pilar a confiança entre os policiais e a comunidade, com a ressalva de que confiança só existe no que se conhece e só se conhece quando ocorrendo interação.

Então, o que caracteriza o policiamento comunitário? Skolnick e Bayley (2002) delimitaram o conceito de policiamento comunitário em 4 elementos básicos: 1- organizar a prevenção do crime tendo como base a comunidade; 2- reorientar as atividades de patrulhamento para enfatizar os serviços não emergenciais; 3- aumentar a responsabilização das comunidades locais; e 4- descentralizar o comando.

Uma vez que a comunidade é a principal afetada pelos danos sociais, ouvi-la e entendê-la é o principal elemento de uma filosofia de polícia comunitária. Assim, conhecer o conjunto de regras morais que constrói a comunidade policiada, bem como as infrações penais mais recorrentes, é um exercício obrigatório do gestor policial daquela área. Além disso, a comunidade, por sua vez, tem que se ver parte do processo e do sistema, visto que a construção do bem-estar é responsabilidade de todos, embora seja obrigação das instituições de segurança pública, como expresso no artigo 144 da CF88.

As polícias estaduais, principalmente a Polícia Militar, atua no atendimento de ocorrências policiais. É uma ação reativa. O dano social ocorre, a vítima entra em contato com a central de atendimento para acionar uma viatura policial que, por sua vez, se desloca até o local onde o crime ocorreu. No entanto, se o perpetrador do dano não se encontra no local, o que resta a fazer é registrar o fato para prevenir, talvez, uma nova ação no mesmo local, ou recuperar o item que sofreu o dano, se possível.

Por esta razão, é preciso mudar a concepção para que a polícia não execute apenas esse tipo de serviço, ou seja, não ser somente um apoio emergencial. Assim, manter contato com a população antes de o crime ocorrer, tornando-se uma atividade rotineira, que faça parte dos processos diários da comunidade, é outro elemento importante do policiamento comunitário, bem como é uma ação para prevenir a infração penal ou o dano social.

Por fim, descentralizar a gestão das unidades policiais e devolver autoridade aos policias que estão no serviço diário em contato com a população é o último elemento do policiamento comunitário apresentado por Skolnick e Bayley (2002). Desta forma, o policial

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