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Palácio das Artes - Fábrica de Talentos

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Academic year: 2021

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Pedro Mendes

2º Ciclo de Estudos em História da Arte Portuguesa

Palácio das Artes – Fábrica de Talentos

2013/2014

RELATÓRIO

Classificação: Ciclo de estudos:

Dissertação/relatório/ Projeto/IPP:

(2)

“A imaginação é mais importante do que a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro”.

(3)

AGRADECIMENTOS

À Dra. Paula Cardoso, responsável pelo projeto das Feiras Francas, pela partilha e apoio que sempre me prestou.

À Dr.ª Alexandra Pinheiro, Diretora do Palácio das Artes Fábrica de Talentos, pelo precioso conhecimento que me transmitiu e pela forma atenciosa com que me recebeu na sua equipa de trabalho.

À equipa da Fundação da Juventude, pela simpatia com que me apoiou no decorrer dos trabalhos e das deslocações para levantar os despachos e o correio do Palácio das Artes – Fábrica de Talentos. À Designer Filipa Paiva pelos momentos divertidos e de debate sobre o funcionamento das Feiras Francas.

À minha tia Matilde, tio José e primo Tiago pelo apoio e o auxílio prestado no decorrer da minha formação.

À madrinha Joaquina e ao padrinho Cipriano pelas palavras sábias.

À Dr.ª Isabel Pereira Leite e ao Dr. João Leite pelos almoços que partilhamos e pelas conversas saborosas que tivemos.

À D. Paula pelos sorrisos e gargalhadas no Guipaul Bar.

À equipa da Pastelaria de S. Domingos pela simpatia com que ouviu os meus desabafos e pelas risadas nas horas de descontração.

À Dr.ª Joana Guimarães, neurologista do HSJ, pela sua tranquilidade e competência e por tão sabiamente me atender e cuidar de mim.

Ao avô José por toda a sua sábia calma e por ter acreditado em mim.

Um agradecimento muito especial aos meus Pais, pelo acompanhamento e pelo amor de sempre. Ao meu irmão José Carlos pelos momentos que partilhei com ele.

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RESUMO

O presente relatório aborda uma experiência na área da assessoria cultural, centrada em atividades desenvolvidas durante as Feiras Francas (30ª,31ª e 32ª edições), que decorrem no Palácio das Artes – Fábrica de Talentos (PAFT). O estágio curricular desenvolveu-se de acordo com o que está legalmente estipulado e seguiu um programa devidamente orientado.

As Feiras Francas realizadas no Palácio das Artes passaram a ser o objeto de estudo deste estágio, centrado por um lado na tentativa de compreender os procedimentos relacionados com a gestão e a assessoria cultural, e por outro na aspiração de conhecer de perto o público que acorre às realizações e eventos que têm lugar no PAFT. Neste contexto, a abordagem feita ao Palácio das Artes – Fábrica de Talentos, incluindo uma breve caracterização do centro histórico do Porto, foi diversificada e visou desde a análise de públicos ao acompanhamento de artistas; do estudo do edifício antigo à problemática da sua recuperação, uma vez que está inserido numa área de classificação da UNESCO como Património da Humanidade.

Palavras-chave: Feiras Francas/ Palácio das Artes/ Jovens Artistas/ Assessoria Cultural/ Porto-Centro Histórico/ Convento de S. Domingos (Porto)

(5)

ABSTRACT

This report is a cultural experience in counseling regarding Feiras Francas held at Palácio das Artes-Fábrica de Talentos wich is part of Fundação da Juventude. The three Feiras Francas described in this report (30th, 31st and 32nd editions) became a case study mainly to experience what had been tought

in theory. The traineeship period was focused on the study of the cultural advisory procedures learned and practiced both outside and inside the universe of Fundação da Juventude. A wide range of activities, from the analysis of the public attending the events to the study of the building and its surroundings, are presented as being of major importance to achieve the purposes established.

The building in wich most of the training period occurred is located in Centro Histórico do Porto, an area classified as World Heritage by UNESCO.

Keywords: Feiras Francas/ Palácio das Artes/ Young artists/ Cultural Advisory/ Oporto-World Her itage/ Convento de S. Domingos (Oporto)

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ÍNDICE 1. Introdução 8 1.1. Objetivos 8 1.2. Metodologia de apresentação 9 2. A Ordem de S. Domingos 10

2.1. O Despontar da Ordem de S. Domingos 10

2.2 Os Dominicanos em Portugal 13

3.As Ordens Mendicantes no Porto 15

4. Palácio das Artes – Fabrica de Talentos (PAFT) 17

4.1. Convento de S. Domingos 17 4.2. Salvaguarda e requalificação do Palácio das Artes – Fábrica de Talentos 19

5. Caracterização da Fundação da Juventude 26

(7)

5.2. Missão/Atividades

28

6. Atividade do estagiário 32

7. Impacto do Palácio das Artes-Fábrica de Talentos (PAFT) 69

8. Reflexão 71

9. Conclusão 73

10. Índice de imagens, gráficos e tabelas 75

11. Bibliografia 76

(8)

1. INTRODUÇÃO

1.1. Objetivos

Durante o 2º ano do mestrado em História da Arte Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto decorre o estágio curricular numa instituição externa, escolhida pelo mestrando, com o objetivo de pôr em prática os conhecimentos lecionados e apreendidos nas unidades curriculares que compõem o plano de estudos. O presente relatório final de estágio tem o intuito de desenvolver, de forma escrita, as experiências práticas obtidas no decurso do estágio.

O estágio teve início no dia 26 de outubro de 2012 e terminou a 2 de fevereiro de 2013, com a duração total de 500 horas, de acordo com o previsto no Regulamento de Estágios em vigor para o ano letivo de 2012/2013.

A instituição de acolhimento foi a Fundação da Juventude e o estágio foi desenvolvido no Palácio das Artes – Fábrica de Talentos (PAFT), incidindo nas Feiras Francas (FF). As Feiras Francas são um certame de tradição secular, anteriormente realizada pelos Dominicanos no seu claustro; num alpendre, a Ordem de S. Domingos organizava as Feiras Francas e acolhia as reuniões comunitárias e concelhias.

Estava previsto que o estágio se realizasse no Museu de Serralves, mas, por constrangimentos de última hora, foi-o na Fundação da Juventude, local que se veio a revelar um desafio diário, contribuindo para um inesquecível e constante enriquecimento do estagiário.

(9)

De todas as possibilidades existentes na Fundação da Juventude, o estagiário elegeu como público-alvo os jovens artistas, profissionais de sucesso e artistas emergentes ou consagrados, não só pela sua relevância, mas também pelo interesse da própria instituição pelas tradicionais Feiras Francas.

O Palácio das Artes e as Feiras Francas vêm, de algum modo, dar ênfase às origens da cidade do Porto e proporcionar o retorno de um hábito passado. Será que as Feiras Francas encontraram no Palácio das Artes – Fábrica de Talentos as condições necessárias para recuperar algumas das antigas iniciativas promovidas, na Idade Média, pelos frades da Ordem de S. Domingos, em moldes, naturalmente, muitíssimo diferentes, tais como as que pretendiam atrair a comunidade do burgo e eram realizadas pelos Dominicanos no extinto alpendre do Convento de S. Domingos? Haverá espaço

para o sucesso de todos os jovens talentos e dos artistas emergentes, ou seja, artistas em início de carreira nas Feiras Francas? Como se devem posicionar estes face às Feiras Francas? Qual a real importância das Feiras Francas?

Enquanto procura respostas para estas questões, com o presente relatório o estagiário sintetiza uma experiencia de estágio que constitui um momento de auto avaliação fundamental para a aprendizagem e desenvolvimento das competências inerentes ao exercício da prática profissional de um mestre em História da Arte Portuguesa.

1.2. Metodologia de apresentação

No que diz respeito ao contexto de estágio e às atividades desenvolvidas, o presente relatório encontra-se estruturado da forma seguinte:

Inicialmente, são abordados dois pontos essenciais. O primeiro incide no conhecimento da instituição, estabelecendo-se o seu enquadramento teórico e prático desde a origem do edifício-sede até à sua recente requalificação. Recorre-se, assim, à informação que o estagiário pesquisou como um elemento de orientação para compreender a realidade e o contexto do Palácio das Artes – Fábrica de Talentos. Este conhecimento serviu também como uma orientação para uma caracterização do ponto de vista artístico e histórico do Convento de S. Domingos, o que se revelou fundamental para acompanhar o desenrolar não só da história deste, mas também da história do edifício que hoje é o PAFT.

(10)

A parte seguinte é dedicada à caracterização institucional da Fundação da Juventude e do Palácio das Artes – Fábrica de Talentos, antigo Convento de S. Domingos e a explorar a requalificação e salvaguarda do convento de S. Domingos (atual PAFT).

Por fim, desenvolvem-se as vivências da experiência de estágio, integrando-se uma abordagem do que foi feito: o auxílio no planeamento, a execução e divulgação das tarefas, recorrendo à análise estatística dos dados relativos aos visitantes das FF, além da menção às diferentes áreas de atuação dos jovens artistas (jovens com formação na área artística), dos criativos de sucesso (pessoas com ou sem formação na área artística) e dos artistas emergentes (jovens com ou sem estudos na área, que criam arte para sobreviver ou que, por mero acaso, se tornam agentes culturais).

O próprio estagiário questionou os novos paradigmas na divulgação das Feiras Francas, sendo esta uma das questões abordadas.

2. A ORDEM DE S. DOMINGOS

2.1. O despontar da Ordem de S. Domingos

O ascetismo que emerge no sul da Europa, por volta do ano mil, reaparecerá com força em todo o Ocidente nos dois séculos seguintes. As vocações crescem rapidamente, entre monges, clérigos e laicos, mas também entre as mulheres. É por esta razão, em 1º lugar, que em relativamente pouco tempo o número dos que professam se eleva, e ordens diversas, como precisamente os Dominicanos, vão nascendo e crescendo, expandindo-se.

“A Ordem dos Pregadores – Ordo Praedicatorum – designação que se aplica aos frades

dominicanos, foi fundada, em 1215, por S. Domingos de Gusmão, admitida por Inocêncio III e confirmada solenemente pela Bula Religiosam Vitam Eligentibus, dada por Honório II, a 22 de dezembro de 1216”1

“Segundo as Constituições da Ordem, a vida inteira do religioso devia ser consagrada à salvação

das almas: orações, penitências, estudos, pregações, trabalhos, privações, tudo convergindo para o mesmo fim”2 Entre o frade que guerreava e o monge que contemplava esbatem-se as diferenças, até

porque é missão do monge partilhar com o bispo algo que até então era exclusivo deste último – 1 Dicionário Histórico (2010), 138

(11)

evangelizar pregando. “Deviam-no fazer de modo colegial e comunitário, apoiados num profundo

trabalho teológico, no sentido de procurar compreender e explicar a palavra de Deus e a experiência humana.”3

S. Domingos de Gusmão nasceu por volta de 1170 em Caleruega, na província espanhola de Burgos, pertencendo a uma família notável e profundamente religiosa. Especialista no conhecimento das Sagradas Escrituras, veio, em 1203, na companhia do Bispo D. Diogo de Azevedo, a atravessar o sul

da França, testemunhando o avanço dos cátaros na região, vivendo, então, num ambiente violento de guerra. Aproveitaram, naturalmente, para se dedicar à pregação, pregação essa que começou a dar os seus frutos. “Depois de uma curta estada em Roma, reuniram alguns companheiros e juntaram-se

aos legados de Inocêncio III na luta contra a heresia [no sul de França]. Com a clara noção de que para esse combate era necessário voltar ao modo de viver e de pregar dos primeiros apóstolos, praticando a pobreza evangélica, todos adotaram uma vida profundamente apostólica, vivendo de esmolas e renunciando a toda a comodidade.”4

Mas S. Domingos também se apercebeu de que era necessário um clero culturalmente preparado que através da pregação pudesse comunicar com as pessoas e por isso insistia no ensino e na pregação. Fundou colégios e seminários abertos igualmente ao clero secular. Os Dominicanos, cedo espalhados por toda a Europa, eram conhecidos também por um outro interessante nome: “Cães de Guarda do Senhor” que lhes foi atribuído por causa do termo “dominicanus” que em latim significa “cão do senhor”5.

S. Domingos esteve presente no Concílio de Latrão, em 1215, altura em que conheceu S. Francisco de Assis. “Criaram-se laços de amizade entre os fundadores, cujas propostas se distinguiam das

anteriores, ao sublinharem mais intensamente o espírito de pobreza, conceito que os levava a rejeitar, até, a posse de propriedade comum, dependendo apenas, na sua origem, da caridade diária dos vizinhos.”6

3 Ibidem 4 Idem, 14

5 DOWLEY (1977), 271

(12)

Segundo o “Opúsculo sobre as origens da ordem dos pregadores” escrito pelo Beato Jordão da Saxónia depois de ter sido aprovada a Ordem Dominicana, os seus membros obtiveram privilégios especiais como, por exemplo, o de poderem pregar em toda a parte e ministrar os sacramentos sem estarem sujeitos à autorização do Bispo local. Tendo começado com seis companheiros, S. Domingos, que entretanto lhes pediu para se espalharem, viu a ordem que fundara crescer. Na altura em que morreu, os Dominicanos rondavam os 300.7

Com o passar dos tempos, “a dispensa dos rigores primitivos da Regra atingiu os Frades

Pregadores” e Frei Luís de Sousa relata mesmo que “trocaram o antigo rigor por vida descansada, solta e livre”. No último quartel do s. XV, os Dominicanos deixaram de ser uma ordem

exclusivamente mendicante, como tinham sido nos primórdios, facto que tornou possível que se dedicassem ao desenvolvimento da arte, sobretudo criando grandes escolas.8

Os Dominicanos adotam uma estrutura de tipo piramidal: na base dessa estrutura encontra-se o convento governado por um Prior, responsável pela comunidade erigida em Capítulo. No vértice dessa pirâmide está um Mestre Geral vitalício, estabelecido em Roma, eleito pelos representantes das províncias reunidas em Capítulo Geral. Entre a base e o vértice situa-se a Província à frente da qual está um Prior Provincial escolhido pelos delegados dos conventos reunidos em Capítulo Provincial. Os Dominicanos são muitíssimo eruditos e por isso são também conhecidos como Ordo Doctorum. Esta designação prende-se com o facto de sempre terem atribuído muita importância aos estudos em que ainda hoje se notabilizam, até porque dedicando-se a espalhar a Palavra de Deus, necessitavam de possuir uma base sólida no que respeita especialmente ao conhecimento da Bíblia e da Teologia.9

Atendendo ao que já foi exposto, pode-se dizer que os Dominicanos foram, portanto, e ao longo de séculos, extraordinariamente relevantes na conversão ao Cristianismo. São, assim, uma Ordem religiosa católica com uma intervenção notória em todos os contextos: da evangelização ao ensino, e da política à arte e à cultura, não esquecendo os aspetos da ação social.

7 Opúsculo (1987), 35

8 Dicionário Histórico (2010), 143 9 Idem, 147

(13)

Os frades da Ordem de S. Domingos eram considerados não só pelo que foi já dito acima mas também porque ao desenvolverem o seu trabalho social, pastoral, escolástico e missionário, ajudaram ao progresso de algumas áreas das ciências como, por exemplo, a medicina, uma vez que sempre trataram dos doentes, em especial durante as epidemias medievais 10

2.2. Os Dominicanos em Portugal

Será Frei Soeiro Gomes quem, em 1217, virá a fundar o 1º convento Dominicano em Portugal, na Serra de Montejunto, perto de Alenquer, convento este que passará para Alenquer, em 1225. Tanto Dominicanos como Franciscanos tiveram, no nosso país, uma grande aceitação entre os séculos XIII e XV, apesar dos vários problemas que ocorreram, concretamente na cidade do Porto, por altura da sua instalação. Há um crescimento exponencial do nº de conventos, a par de um desenvolvimento enorme da importância e da intervenção das Ordens Mendicantes na Europa, o que vem corroborar essa aceitação. Como viviam muito próximos da população, junto de quem levavam a cabo a sua ação evangelizadora e pedagógica, os Dominicanos foram recebendo o apoio dos sucessivos monarcas, até também porque a sua influência era tida como bastante relevante pela própria Igreja Católica. Frei Soeiro Gomes tinha mesmo um papel notório junto de D. Sancho II, chegando ”a fazer decretos em

matéria civil, promulgando leis penais, cujo número, disposições e aplicação quase por completo se ignoram”11

Em Portugal, entre 1218 e 1699, foram fundados 26 conventos de frades Dominicanos e entre 1246 e 1680, 18 de religiosas Dominicanas. Quando, em 1237, o Bispo do Porto, D. Pedro Salvador, solicita aos frades Pregadores que fundem um convento na cidade, Fortunato de Almeida associa este pedido ao facto de o Bispo ter entrado em profundas desavenças com os Franciscanos que se tinham instalado no burgo, e cita Frei Luís de Sousa, segundo o qual “os frades foram recebidos com

entusiasmo”, mas pouco depois é o próprio Bispo que lhes retira o apoio, “provavelmente porque o clero se sentia prejudicado pela preferência que os fiéis davam aos religiosos.” Para resolver os

problemas, será necessária a intervenção do Papa.12 Mais adiante serão mencionados alguns destes

acontecimentos. 10 DOWLEY (1977), 271

11 Dicionário Histórico (2010), 144 12 Ibidem

(14)

Os Dominicanos eram pregadores muito eficientes, mas muitas vezes entravam em conflito com o clero local. Os sermões que pregavam eram diferentes por frequentemente conterem alusões com sentido humorístico, por utilizarem versos rimados e referirem muitos exemplos da vida quotidiana. “Os seus livros de piedade, os seus comentários da Escritura na linguagem local e a sua poesia

religiosa ainda hoje transmitem a mensagem de Cristo.”13 Ao longo dos séculos, os frades Dominicanos foram-se notabilizando cada vez mais, não só no ensino, como foi o caso da Universidade de Coimbra, mas também na corte, onde foram confessores de alguns dos nossos reis.

D. João I entregou o Mosteiro da Batalha à Ordem de S. Domingos, em 1388, o que demonstra bem o apreço real.

A Província Dominicana Portuguesa é criada em 1418, por Bula do Papa Martinho V. A época gloriosa dos Dominicanos em Portugal corresponde ao séc. XVI. Esta foi “uma época

particularmente brilhante para os Dominicanos em Portugal. Frei António do Rosário dá conta de 2689 frades nos seus vários conventos, espalhados por todo o reino, onde a pregação e a escrita eram tarefas intrinsecamente unidas.”14

Os conventos tornaram-se num enorme benefício para o cristianismo medieval, principalmente em 2 aspetos, sobretudo em Portugal – no nosso país foram importantes centros de sabedoria e de cultura, por um lado, e por outro, centros de desenvolvimento e preparação da missionação. “Mas […] foram

sempre, até certo ponto, uma fonte potencial do que numa época posterior seria chamado não-conformismo mas que, devido às conotações especiais deste termo é preferível descrever como atitudes religiosas alternativas à da religião sacerdotal e papal autoritária.” 15

Nos séculos XVIII e XIX a importância dos Dominicanos foi decrescendo de um modo geral. Em Portugal não foi diferente. Só praticamente no início do séc. XX é que os Dominicanos começam a recuperar o seu prestígio e a poder exercer a sua missão com o reconhecimento e a aceitação que

13 DOWLEY (1977), 275

14 Dicionário Histórico (2010), 145 15 LING (1994), 233

(15)

tinham perdido, embora nunca mais com a mesma importância. É indiscutível a relevância que os Dominicanos, chamados Frades Pregadores, tiveram no nosso país.

3.AS ORDENS MENDICANTES NO PORTO

De uma forma muito sucinta, assente nas palavras dos autores citados neste capítulo, aqui se tenta expor o ambiente citadino na época em que Dominicanos e Franciscanos se instalaram no burgo portuense.

“Habitações destruídas, constituição de fações clericais e laicas, intervenção real, um bispo prisioneiro no seu palácio e refém de uma cidade que sucessivamente interditou. Dos relatos da revolta contra D. Martinho depreende-se a urgência urbana de uma época de profundas transformações.” 16 “As profundas transformações na cidade que crescera e aliciara populações rurais,

são demonstradas nos testemunhos de revolta contra D. Martinho”17. “Todavia, D. Afonso II, em

diversas alturas manifestou-se contra a atuação dos Dominicanos, por entender que se excediam e desafiavam outros poderes, como o do próprio monarca, ao intervirem em matérias que não lhes competiam, ou seja, em matéria civil.”18 “É neste ambiente de agitação social, económica,

administrativo e espiritual que se enquadra a instalação das ordens mendicantes: Franciscanos e Dominicanos. A sua chegada agrava os conflitos latentes, uma vez que o poder era tripartido entre o Rei, a Sé e o Concelho”19

Quer os Franciscanos quer os Dominicanos opunham-se ao clero secular local e os frades recorriam às altas autoridades eclesiásticas e à Santa Sé. Além disso, a obra espiritual foi iniciada rapidamente e o apoio da população nunca lhes foi negado. Contudo, o facto de os frades apoiarem a existência de rebeliões que divergiam dos poderes instituídos, contribuiu para a desagregação do poder senhorial urbano.20 16 AFONSO, Ferrão (2000), 29 17 Ibidem 18 RODRIGUES (2001), 37 19 MATTOSO (1985), 332-333 20 Ibidem

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O facto de se verem envolvidos em contextos de conflito não significa que a sua aceitação e importância não tenha sido notória, inclusivamente na esfera do poder político, pela sua proximidade relativamente à corte.

No capítulo seguinte é apresentado o Convento de S. Domingos, o qual tem uma longa história e está intimamente ligado com o espaço onde decorreu o estágio: Palácio das Artes/ Fábrica de Talentos.

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4. PALÁCIO DAS ARTES – FÁBRICA DE TALENTOS (PAFT) 4.1. Convento de S. Domingos

Os Franciscanos, e os Dominicanos estabeleceram-se numa zona fora das muralhas, ou seja, nas zonas de fixação populacional que se localizam próximo de alguma porta principal das muralhas e de terrenos férteis. Estas condições são fundamentais para o desenvolvimento das ordens mendicantes. Verifica-se o aumento da malha urbana em redor do convento, com a criação de novos acessos e espaços como praças e terreiros. Estas mudanças urbanísticas, que acontecem com a chegada das Ordens Mendicantes e a implantação dos seus conventos, foram uma estratégia para o desenvolvimento do burgo fora das muralhas primitivas, estendendo-se a sua implantação às imediações da zona da ribeirinha e do vale do Rio da Vila, com cercas adjacentes a terrenos pertencentes à Mitra portucalense21.

O Convento da Ordem de S. Domingos, como já foi dito, é fundado sendo bispo D. Pedro Salvador, que enviou em 1237 uma carta ao concílio dominicano de Burgos, solicitando a instalação dos frades na cidade22. As orientações espaciais do Convento Dominicano estruturavam-se da seguinte

forma: no sentido nascente-poente, é de realçar a existência de 2 (dois) eixos que separam o edifício em 4 (quatro) partes: no sentido norte-sul, unia a porta do Olival à Alfândega e ao postigo do Terreiro, na proximidade da linha fluvial; por sua vez a outra, é perpendicular a esta, na orientação nascente-poente, conectava o postigo da Cordoaria Velha à Sé. As linhas orientadoras dos mendicantes demonstram a sua vocação citadina e o seu compromisso com os núcleos populacionais de elevado índice de crescimento populacional23

21 AFONSO, Braz (2012), 74-75 22 Idem, 74

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Os métodos de evangelização eram inovadores e verificam-se nas zonas de fixação dos Dominicanos, anteriormente identificadas. Aqui fixavam os seus estabelecimentos de auxílio. Optavam pela sua implantação nas periferias dos núcleos urbanos, pois uns e outros encontravam ligação às vias e

trilhos que aí se cruzavam. A implantação dos Dominicanos foi, porém, complicada, pois a diocese portucalense levantou entraves. No entanto, a Ordem procurou a proteção real de D. Sancho II para solucionar os problemas de fixação na urbe, intervenção esta de grande importância para o seu estabelecimento na cidade.24

A Igreja dominicana era ampla e o seu interior foi profundamente alterado; de uma forma geral, contudo, manteve o seu aspeto primitivo exteriormente até ao 2º quartel do séc. XVIII. A Igreja primitiva tinha 3 (três) naves divididas em 4 (quatro) tramos por arcos quebrados, assentes em pilares. A nave central desta Igreja era de cota mais elevada, porém as naves colaterais eram de cota mais baixa. A iluminação era feita através do clerestório. No espaço dos absidíolos colaterais, edificaram-se duas capelas: a da Santíssima Trindade e a de Santa Catarina Mártir. A primeira foi doada, em 1469, pelos Dominicanos ao mercador Fernando Alvares Baldaia e em 1450 a outra torna-se uma doação que os frades pregadores fazem a Aires Pinto, fidalgo da Casa Real.25 Nela encontrava-se um

túmulo, envolvido por um arco quebrado, na parede onde estava sepultado26. A Igreja, na sua fachada

principal, possuía um pórtico em arco quebrado rematado por um óculo sulcado para iluminar o coro.27 A reconstrução do claustro conventual ocorreu após 1357. É de realçar a descoberta, nos anos

40 do séc. XX, de um arco gótico que pertenceu a esse conjunto arquitetónico28.

A edificação de um adro alpendrado por parte do Dominicanos, foi concluída no ano de 1320, preenchendo parte do que é atualmente o Largo de S. Domingos e do extremo sul da rua Ferreira Borges, aberta no século XIX. O alpendre era, entre outras funcionalidades, usado frequentemente para as reuniões do Concelho do Porto, instituição que concedeu aos Dominicanos apoio financeiro para a recuperação desta infraestrutura29

24 Ibidem 25 FREITAS (1939), 56-57 26 Idem, 64 27 AFONSO, Braz (2012), 75 28 Idem, 78 29 BASTO (1937), 248-249

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Em 1832, o convento sofreu um incêndio, no decorrer dos bombardeamentos do Cerco do Porto, durante a guerra civil ganha pelos liberais, ou seja por D. Pedro. Do edifício foi poupada ao incêndio

a imponente fachada, esta orientada para o Largo de S. Domingos. Este incidente coincidiu com a extinção das ordens religiosas.

O edifício entretanto abandonado e tornado pertença do Estado, foi cedido, em ruínas, ao Banco de Lisboa, atualmente Banco de Portugal. Esta instituição projetou e realizou a reconstrução do imóvel aproveitando em particular algumas estruturas antigas, como paredes mestras e outros elementos do antigo edifício.

A última ocupação do imóvel foi feita pela Companhia de Seguros Douro, em 1934, sendo ainda na atualidade conhecido por Edifício Douro.

A Companhia Seguros Douro interveio na infraestrutura para um pequeno ajuste arquitetónico30.

O espólio do edifício e o próprio edifício foram incorporados na lista dos bens nacionais.

4.2. A Salvaguarda e requalificação do Palácio das Artes – Fábrica de Talentos

A dupla de arquitetos Alfredo Ascensão e Paulo Henriques entende que era incontornável a oportunidade de devolver o devido valor ao edifício, restituindo-lhe a sua dignidade histórica e artística. Considerando os aspetos volumétricos, era de registar que o edifício se afirmava claramente no seu tecido urbano, devido à sua imponência no espaço e à sua relação com a envolvência, sendo razoável o estado de conservação da fachada. O interior não correspondia à necessidade pretendida pelo programa, pois as alterações feitas pelo anterior proprietário eram de fraca qualidade arquitetónica e não favoreciam a qualidade do espaço interior. Foi considerado importante reformular essa questão.

Com esta situação em mãos, o grupo de arquitetos decidiu intervir sobretudo no interior do edifício, procurando reabilitar os elementos construtivos da composição genuína, mantendo o que era de interesse patrimonial, como a entrada principal, a escadaria principal, o espaço precedente ao piso nobre, os elementos estruturais de relevo para a sua manutenção e necessários à estabilidade da

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cobertura e da fachada. Em contrapartida, acharam necessária a eliminação de tudo o que envolvia a ultima intervenção da Companhia de Seguros Douro, elementos executados em betão, lajes de pisos intermédios, baterias de escadas e elevadores, obras entendidas como de “qualidade arquitetónica duvidosa”.

O entendimento dos arquitetos, depois de uma analise prévia, considerando novas intervenções, foi o de optar por usar estrutura metálica, tanto ao nível de novos pavimentos como ao nível de escadas, com pretensão clara de assumir a contemporaneidade das mesmas, procurando usufruir da sua leveza e respeitando os vãos exteriores, criando um contraste com o que existia no anterior edifício, com lajes em betão a cortar os vãos da fachada.

Entrevista

A entrevista feita aos arquitetos Alfredo Ascensão e Paulo Henriques, os autores e responsáveis pelo projeto de reabilitação, foi a melhor solução encontrada para o entendimento da salvaguarda e requalificação do edifício. As respostas obtidas são um importantíssimo contributo para esclarecer as dúvidas levantadas sobre as escolhas usadas para a realização da reabilitação.

As abordagens desta entrevista proporcionam, como objeto de estudo, contributos vários: um resumo da descrição do edifício para um melhor entendimento da leitura das plantas, bem como uma análise profissional que os próprios fazem do seu projeto de salvaguarda e recuperação.

Na ausência do arquiteto Paulo Henriques, foi o arquiteto Alfredo Ascensão quem respondeu.

1. Pedro Mendes - Tiveram em consideração a vertente histórico-artístico do edifício na sua reabilitação?

(21)

Alfredo Ascensão - Claro que sim. Antes de mais um pequeno àparte, pois eu, Alfredo Ascensão, sou coautor do projeto com o meu colega Paulo Henriques.

Sim, isso foi tido em conta. A recuperação de um edifício é sempre uma questão pluridisciplinar. Nós não trabalhamos sozinhos na reabilitação, antes pelo contrário, trabalhamos sempre com arqueólogos, historiadores de arte, engenheiros e outros profissionais da área de reabilitação. Esta questão tem a ver com o edifício a recuperar, pois não é um edifício usual, é um edifício classificado e que tem uma história por detrás muito significativa, ou seja, é o local original do convento de S. Domingos, que foi um convento que ardeu completamente em 1832 nas invasões francesas, no Cerco do Porto. E com esse incêndio o edifício ficou completamente destruído. E foi reconstruido sob as ruinas do convento. O edifício apresenta-se com um ar Neoclássico, reaproveitando parte das estruturas do antigo convento. Qualquer intervenção no edifício tinha um peso histórico muito significativo que era necessário ter em conta. Nesse sentido, antes do inicio da intervenção realizou se um levantamento arquitetónico e um estudo histórico espacial em que foram identificadas as varias fases de construção do convento de S. Domingos e as diferentes épocas de construção.

2. PM - Qual o princípio por detrás da reabilitação? Manter o traçado original/introduzir novos elementos? Houve alguma característica especifica que se tentou manter e/ou explorar?

AA – Não, Acreditamos em princípios teóricos generalistas que orientem as obras de recuperação e reabilitação de edifícios. Cada caso é um caso e deverá ser analisado por uma equipa pluridisciplinar que oriente de forma correta a intervenção de forma a garantir um resultado final satisfatório. No caso particular do Palácio das Artes, deparámo-nos com um edifício monumental que tinha vindo a ser profundamente alterado pelas suas diferenciadas ocupações desde 1832.

O principal sentido orientador da intervenção foi repor, sempre que possível, a forma original dos espaços que tinham sido profundamente alterados nos anos 40/60 com intervenções em betão armado que seccionaram quase todos os pisos do imóvel, sem qualquer respeito pelas pré-existências e pela sua escala. Quando tal não foi possível, encontraram-se soluções inovadoras com a utilização de linguagens materiais e tecnologias contemporâneas com capacidade de resolver os problemas funcionais do novo programa.

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3. PM - Na análise do projeto, verifico que existe respeito pelo edificado. Porém, houve algum elemento que quisesse manter sem que tivesse sido possível devido ao seu estado de degradação?

AA- O Palácio das Artes foi edificado sob as ruinas do antigo Convento de São Domingos que ardeu durante o "Cerco do Porto" em 1832. Parte das estruturas daquele monumento ainda são visíveis no interior do imóvel.

A intervenção efetuada colocou à luz do dia novos elementos do antigo edifício que foram sendo integrados no conjunto edificado e obrigaram à alteração de alguns dos projetos durante a empreitada. Assim, a questão que se levantou foi precisamente ao contrário da questão colocada, uma vez que, para além dos elementos pré-existentes, foram integrados alguns elementos de grande valor arqueológico para a compreensão do imóvel.

4.PM - Voltando aos critérios históricos e à localização do edifício, sabendo que este é um edifício com um testemunho na cidade e um elemento distinguido como património classificado pela Unesco, foi um desafio?

AA - A recuperação de um edifício desta qualidade e importância no contexto da cidade e da área protegida pela UNESCO, para além de um desafio foi uma responsabilidade. Ao cuidarmos do nosso património edificado, estamos a cuidar de uma herança cultural inestimável para as gerações futuras31

Excertos da Memória Descritiva do Projeto:

Com uma imagem limpa e renovada, as escadas ganham um novo valor, relembrando o que elas eram antes, e ao mesmo tempo, contendo elementos contemporâneos.

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As escadas de serviço, sendo novas e construídas de “raiz”, mostram por completo um ar do seu tempo, com uma relação interessante de luz artificial, e degraus que parecem transparentes, criando um jogo de luz sombra.

A fachada foi restaurada, com intuito claro de manter as suas características, sendo apenas alteradas as caixilharias localizadas ao nível do embasamento de pedra, nomeadamente os vãos de ligação à via pública, para os tornar mais transparentes, e devolver o valor da arcada que outrora foi um mercado. Houve, também, intenção de salvaguardar os elementos espaciais de qualidade, como os magníficos tetos em gesso, claraboias e outros elementos manifestamente qualificados.

A fachada mantem-se igual ao que era, sendo unicamente alterada a cor dos elementos não em pedra, para branco, cor essa que o torna neutro e limpo e ao mesmo tempo lhe dá um ar de novo, digno do que é, imperando no espaço urbano com o qual convive.

Tendo em atenção o programa, era necessário ter em consideração a conciliação dos espaços de trabalho para os artistas, com a própria Fundação, pelo que a estratégia dos arquitetos passou por permitir que ambos funcionassem autonomamente, mas complementando-se, para que as duas partes tenham a sua privacidade. A separação física da imponente escada de acesso ao piso nobre, que corta a relação entre as duas alas do edifício nos pisos térreos, foi a solução, permitindo com isto que haja uma dialética entre ambos os espaços. Mas tornou necessária a viabilização de novas ligações verticais em ambas as alas, o que possibilitou a criação de espaços para inclusão de um ascensor.

Este novo acesso com o intuito de ser diário e principal, foi implementado no nº21, deixando a entrada nobre, o nº 19, destinada a eventos especiais.

Tendo em conta a relação direta do edifício com o largo de S. Domingos, reservou-se o rés-do-chão para atividades com a sua própria autonomia, podendo ser exploradas pela Fundação. Na ala poente, foram reservados dois espaços para o comércio, enquanto na ala nascente foi dedicado um espaço para o “Café das Artes” e o restaurante (Restaurante Rui Paula-Dop), aproveitando a ligação privilegiada do edifício com o espaço exterior e a proximidade dele de outros edifícios de destaque na

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cidade, mas garantindo também a ligação do interior do edifício com os mesmos, para salvaguardar a relação destes espaços com o “Café das Artes” (Restaurante Rui Paula-Dop).

A receção, a zona de espera e o vestíbulo de entrada do “Palácio das Artes” ficaram localizados junto à entrada, que funciona também como área distribuidora para os espaços de exposição/comerciais contíguos. Também tem acesso pelo exterior, e dá acesso à escada e elevador e á zona dos sanitários de apoio ao piso. É por este espaço que os utentes do “Palácio das Artes” terão acesso ao restaurante e “Café das Artes”. Destaca-se essencialmente pelo branco e pela madeira, com o balcão da receção quase escultórico. É um espaço agradável com linhas simples, misturando-se ao fundo com as linhas originais do edifício.

Tal como no resto do edifício, predomina a cor branca, num jogo interessante com o interior que se divide num espaço de pé direito amplo, e outro como se fosse uma varanda interior para a loja.

- Arranjo Exterior

Com intenção de ordenar a envolvente do edifício, o passeio do largo de S. Domingos foi ampliado em 4 metros, alterando também o material do pavimento para lajeado de granito, no intuito de distanciar o trafego automóvel e conferir uma certa dignidade ao edifício. Com esta intervenção, foi possível garantir uma entrada de nível para o restaurante proposto e salvaguardar o edifício.

- Ateliers, salas de formação e salas de exposição

O Palácio das Artes – Fábrica de Talentos, procura proporcionar à cidade do Porto e aos seus jovens artistas, um espaço polivalente permanente para a dinamização de novos valores da arte; um espaço que albergue jovens artistas, criadores e designers, dispondo de ateliers para o início da vida profissional dos mesmos.

Constituído por 15 espaços (4 no piso 1, 7 no piso 2 e 4 no piso 3) com áreas compreendidas entre 25 m2 e 60 m2, destina-se aos desenvolvimentos de atividades dos frequentadores do palácio, para

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sessões de formação, exposição e atelier dos profissionais que o Palácio alberga. Contiguas a estes espaços estão áreas comuns como uma oficina, uma sala de apoio logístico e serviços, baterias sanitárias de apoio a todo o espaço de circulação.

Estes espaços compreendem-se entre o antigo e o novo, num jogo interessante em que se mostra a estrutura da cobertura renovada, e ao mesmo tempo onde convive o presente com linhas simples, e o mobiliário integrado no desenho das paredes32.

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5.CARACTERIZAÇÃO DA FUNDAÇÃO DA JUVENTUDE

5.1 História da Fundação da Juventude

Criada a 25 de setembro de 1989 33 a Fundação da Juventude é constituída por um conjunto de 21

instituições públicas e privadas34 As entidades que formam o conselho de fundadores são:

Águas do Douro e Paiva, SA

Associação dos Jovens Agricultores de Portugal Associação Empresarial de Portugal

Associação Industrial Portuguesa

Associação Nacional de Jovens Empresários Brisa - Autoestradas de Portugal, SA

Câmara Municipal do Funchal Câmara Municipal de Gondomar Câmara Municipal da Maia Câmara Municipal de Matosinhos Câmara Municipal do Porto

Câmara Municipal de Santa Maria da Feira Câmara Municipal de Tavira

Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia Casa da Cultura da Juventude do Porto Companhia de Seguros Fidelidade, SA Companhia de Seguros Império Bonança, SA

Companhia Geral da Agricultura e Vinhas do Alto Douro, SA Companhia Portuguesa Rádio Marconi, SA.

EDP, Eletricidade de Portugal, SA. Finibanco, SA

Fitor, Companhia Portuguesa de Têxteis, SA

33 Ato de reconhecimento da Fundação da Juventude (Anexo 10) 34 Ato de constituição da Fundação da Juventude (Anexo 9)

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Focor, Produtos Químicos, SA.

Fundação Minerva (Universidade Lusíada) Fundação Para a Ciência e a Tecnologia Galp Energia, SGPS, S A

Grupo BCP

Instituto de Apoio às PME e ao Investimento Instituto do Emprego e Formação Profissional Instituto Português da Juventude

Interlog – Informática SA.

Multitema - Produções Gráficas, SA Oni, SA

Philips Portuguesa, SA Porto Editora, Lda Refrigor, Lda

Renault Portuguesa - Sociedade Industrial e Comercial, SA Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

Sociedade de Construções Soares da Costa, SA

Sumolis, Companhia Industrial de Frutas e Bebidas, SA

Atualmente são 40 as instituições representadas no Conselho de Fundadores.

De âmbito nacional, a Fundação da Juventude tem sede na cidade do Porto, contando com delegações nas Regiões de Lisboa e Vale do Tejo, Algarve e Região Autónoma da Madeira. Há 3 anos, a Fundação da Juventude deixou de ter a sua delegação na Madeira.

A Fundação da Juventude, tendo sempre como finalidade a empregabilidade dos jovens, desenvolve projetos e programas adequados à formação e necessidades de cada público-alvo. Um fim comum para uma população heterogénea, ditou uma atuação multifacetada logo nos primeiros anos de existência, característica que a Fundação vem revigorando há 23 anos. No sentido de alcançar os seus objectivos, a instituição definiu vários focos de atuação:

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1. Formar, (Re)Integrar e promover ações para um melhor emprego dos jovens; 2. Promover e apoiar o espírito empreendedor e de iniciativa na juventude;

3. Incentivar e premiar o gosto pela ciência e tecnologia, para além da investigação e da inovação;

4. Apoiar e promover o desenvolvimento e a integração social dos jovens, visando inibir ou contrariar situações de exclusão ou marginalização, criando ações específicas de promoção de uma cidadania mais ativa;

5. Criar mecanismos de informação, pesquisa e divulgação das necessidades dos jovens; 6. Promover a cultura, a animação e a aprendizagem intercultural na área da juventude;

7. Dinamizar redes de intercâmbio e de troca de experiências/boas práticas, através de parcerias nacionais e internacionais.

A Fundação da Juventude, para além da sua sede nacional e das suas delegações no país, conta também com diferentes equipamentos: na área social, a Comunidade de Inserção Eng. Paulo Vallada atualmente “Associação Acolher e Cuidar para a Cidadania”; Centro de Apoio a mães adolescentes e jovens grávidas; na área artístico-cultural, o Palácio das Artes – Fábrica de Talentos35 (labora numa

das áreas de maior capital de crescimento a nível nacional e internacional: a cultura e a criatividade, difundindo e apoiando jovens artistas); e na área da formação e promoção do emprego, o Centro de Aquisição de Competências Vasco Faria, que apoia jovens e adultos ativos e/ou desempregados ou à procura do primeiro emprego, bem como o Ninho de Empresas, cujo objetivo é fomentar o apoio ao empreendedorismo jovem.

5.2. Missão / Atividades

O Palácio das Artes – Fábrica de Talentos apresenta-se como um “centro de excelência, de inovação e arte” que trabalha junto de jovens criadores com o objetivo de apoiar a sua inserção na vida ativa. Para a concretização desta premissa, esta organização procura a criação de pontes entre a escola e o mundo profissional, envolvendo, ao mesmo tempo, diversos agentes da sociedade, tais como artistas, decisores políticos e empresas. Este trabalho em rede proporciona condições para o desenvolvimento

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dos projetos destes jovens, promovendo a ligação do setor cultural, artístico e criativo com outros setores de atividade.

- Visão

O Palácio das Artes – Fábrica de Talentos ambiciona ser um centro de criatividade e inovação de excelência a nível nacional e internacional, promovendo profissionalmente os jovens criadores. Assume-se como um ponto de referência das indústrias culturais e criativas da Região do Norte, realizando parcerias com entidades públicas e privadas.

- Objetivos

• Ser o pólo dinamizador do centro histórico, enquanto cluster natural das artes e das indústrias criativas, com o objetivo de atrair potenciais turistas;

• Contribuir para a revitalização urbana do Centro Histórico da Cidade do Porto, através das indústrias culturais e criativas;

• Impulsionar o crescimento económico da região, através da inovação, cultura e criatividade, como elementos fundamentais para a criação de emprego e de riqueza.

- Projetos desenvolvidos

O Palácio das Artes - Fábrica de Talentos promove diversas atividades com vista à concretização dos seus objetivos, anteriormente mencionados. As “Feiras Francas”36 são um bom exemplo entre as suas

realizações culturais. Ao ser iniciado o estágio, fixou-se a presença do estagiário para o 1º sábado de cada mês, porém esta presença passou a ser bimensal. Cedo se percebeu que permanece a procura da recuperação de uma tradição portuense: a realização das Feiras Francas no antigo convento de S. Domingos. Esta atividade, que contribui para a manutenção da memória coletiva dos portuenses, fortalece o comércio, envolve a comunidade residente e os agentes culturais e criativos e impulsiona o

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turismo na cidade. Os trabalhos dos jovens criadores de várias áreas são exibidos nessa mostra, que funciona também para o desenvolvimento de contactos entre o PAFT e os diversos intervenientes.

Criação  Produção  Distribuição

Etapas dos artistas de sucesso ou residentes PAFT

As Residências Artísticas destinam-se ao acolhimento (pré-incubação) de jovens criadores no Palácio das Artes – Fábrica de Talentos.

Os projetos são desenvolvidos através da disponibilização de espaço, meios, formação constante e troca de experiências entre artistas e convidados, nomeadamente professores e investigadores, empresários e empreendedores das Indústrias Criativas e setores paralelos, galeristas, entre outros. As Residências, para além da oferta especializada, pretendem combater algumas ausências existentes no apoio às indústrias criativas:

• Dando formação para o desenvolvimento de um projeto criativo, nas seguintes áreas: operação

e gestão; finanças; comunicação; marketing e gestão da tecnologia

• Desenvolvendo linhas de financiamento específico no sentido de apoiar os jovens criadores,estabelecendo uma rede de parceria – networking - resultante de uma rede de parceiros nacionais e internacionais, que vai para além do espaço físico do edifício

• Envolvendo a comunidade local, as instituições académicas, o setor público e privado, dinamizando em particular os Centros Históricos

Nas Residências Artísticas são desenvolvidos projetos selecionados, que permanecem unicamente o tempo necessário à sua execução.

- Atividades

No seu interior, acolhe 11 salas multidisciplinares abertas a workshops, ações de formação, reuniões empresariais, exibições de moda, exposições, concertos e/ou outras manifestações artísticas esporádicas (Feiras Francas, residências artísticas, industrias criativas), que podem ou não ter apoio

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de catering. Dispõe, também, de equipamento audiovisual. Bem no centro histórico, o Palácio das Artes – Fábrica de Talentos tem estacionamento próximo e encontra-se ao lado de excelentes pontos de atração turística e cultural - bares, restaurantes, lojas de artesanato, o bairro na Ribeira, o Palácio da Bolsa, a Casa do Infante, o Instituto do Vinho do Porto, o Mercado Ferreira Borges ou a Igreja de S. Francisco.

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6.ATIVIDADE DO ESTAGIÁRIO

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O centro urbano do Porto é sem dúvida a área de atuação do estagiário, razão pela qual é mencionado na descrição das atividades levadas a cabo. O mapa apresentado ilustra, portanto, esse propósito. O projeto do estagiário consistiu em divulgar as Feiras Francas no centro urbano, aproximando a população envolvente, os habitantes da cidade e os turistas ao PAFT, mais precisamente às Feiras Francas.

A prestação do estagiário na divulgação das FF foi essencialmente feita através da divulgação do cartaz do certame em formato A3 e A4.

O círculo vermelho representa a zona onde normalmente o Palácio das Artes-Fábrica de Talentos faz a divulgação dos seus eventos, e o amarelo a área de atuação do estagiário. A maneira de divulgar anteriormente as Feiras Francas era muito limitada, pois era feita muito circunscritamente, quer isto significar que a divulgação não passava da zona envolvente ao PAFT.

A área de alcance do estagiário foi maior, pois implicou uma estratégia diferente referente ao PAFT e uma expansão de divulgação da realização dos eventos como, por exemplo, locais de interesse turístico, zonas culturais, académicas e bibliotecas. O alargamento da zona envolvente ao PAFT inclui, para além do que era comum, diversos cafés e bares, a Escola Superior Artística do Porto, mais lojas comerciais, integrando uma área central de atuação mais vasta.

Afixação dos cartazes das Feiras Francas

Locais

Quantidade

Hostel Ribeira 2

2 cafés junto à gare das camionetas – Batalha 2

5 locais_Lobo Taste 5

Armazém do Café 1

Biblioteca Municipal do Porto 1

Buzilis 1

Café Paris – S. Lázaro 1

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Cantina ESAP 1

CDRN 1

Centro de camionagem da Batalha 1

Cidade das Profissões 2

Dois cafés Batalha 2

ESAP 1

Faculdade de Belas Artes 1

Farmácia das Flores 1

FAUP – Faculdade de Arquitetura do Porto 1

FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do

Porto 2

Fnac Sta Catarina 1

Hard Club Porto 2

Hostel Douro – Ribeira 1

Hotel da Bolsa 1

Hotel Meridian 2

Hotel Ribeira 1

Hotel Ribeira 1

Hotel Oporto 1

Instituto do Vinho do Porto 1

Instituto Nacional Ricardo Jorge – Batalha 1

Lobo Taste no PAFT 2

Loja Douro Azul 1

Mercearia das Flores 1

Papelaria Araujo & Sobrinho 1

Papelaria Araujo & Sobrinho - Campo Alegre 1

Papelaria S. Domingos 1

Pastelaria Leblon- Campo alegre 1

Pastelaria Tupi 1

Pastelaria, padaria S. Domingos 1

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Quiosque S.Bento 1

Restaurante O Cantinho 1

Santa Casa da Misericórdia do Porto 1

Take Away Porto 1

Tea Point 1

2.Tabela do nº de cartazes das FF e locais onde foram afixados

As zonas de intervenção para divulgação escolhidas pelo estagiário demonstraram ser uma aposta valida, pois captaram-se novos visitantes, descobriram-se novos jovens talentos criativos e novas promessas empreendedoras.

O conhecimento adquirido ao longo do 1º ano de mestrado foi colocado em prática. A divulgação de um evento cultural como as Feiras Francas é uma prova disso. A média das visitas anterior a novembro era de 1000 visitantes no máximo. Verifica-se, através dos gráficos, que o nº de visitantes se torna relativamente maior. A área de divulgação foi crescente.

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Relativamente ao estabelecimento de parcerias com os transportes públicos que servem a cidade, de modo, inclusivamente, a tornar mais acessível a vinda de interessados ao espaço onde se realizam as feiras francas, foram realizadas tentativas com os STCP, o Metro do Porto e a CP, porém, por constrangimentos vários, não foi possível expandir esse plano em tempo útil de estágio.

Uma atuação de relevo para a divulgação das Feiras Francas, foi um dos desafios apresentados ao estagiário. Sendo um dos seus objetivos, os números mostram de que forma foi atingida.

Contudo, da divulgação não vivem unicamente as Feiras Francas. No universo da gestão cultural, o estagiário teve de auxiliar, por exemplo, na programação das performances e na submissão de propostas para remeter a futuros mecenas. Também interveio na organização e disposição do espaço no Palácio das Artes – Fábrica de Talentos nas diversas ocasiões em que foi necessário dividir e distribuir criteriosamente esses espaços confiados a jovens artistas, profissionais de sucesso e artistas emergentes ou consagrados presentes nos certames.

A Gestão Cultural é um diverso e multidisciplinar universo que engloba desde a gestão financeira ao planeamento de projetos. Segundo uma publicação do Instituto para a Qualidade na Formação, editado em 2006, a propósito do setor das atividades artísticas, culturais e de espetáculo, sobre o qual será feita uma reflexão mais adiante, “o Gestor Cultural tem como principal função definir e

implementar a estratégia e coordenar a programação e a organização de uma instituição cultural, assegurando o seu bom funcionamento em termos artísticos, técnicos, financeiros e humanos.

Este profissional deve ter competências para trabalhar em autarquias locais, nos pelouros e departamentos afetos à cultura e/ou turismo cultural, em museus, centros culturais, orquestras ou outras instituições de cariz musical, em companhias de teatro, fundações e outras instituições de índole cultural.

A par da gestão de qualquer organização em geral, ao gestor cultural é exigida uma enorme responsabilidade, no que diz respeito a cumprimento de prazos, o que pode gerar bastantes situações de elevado stress físico e mental. Pode exigir deslocações frequentes e grande flexibilidade em termos de horários de trabalho.

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De um ponto de vista operacional este profissional deve ter um conhecimento profundo sobre o meio artístico através de uma recolha de informação constante e atualizada. É ele que decide as linhas estratégicas da política de programação da instituição cultural onde trabalha ao mesmo tempo que concebe a programação artística e cultural da instituição tendo em vista os seus públicos-alvo. Participa, igualmente, na conceção das linhas programáticas da organização juntamente com os programadores/assessores artísticos das diferentes áreas. Controla o orçamento e a distribuição do mesmo pelas várias áreas e coordena e controla a fase de execução e produção das várias atividades e projetos previstos no orçamento, podendo intervir em diferentes níveis de tomada de decisão. Define e coordena a política de marketing da instituição, bem como a política de comunicação da instituição. As várias equipas, áreas e departamentos funcionais existentes são liderados por este profissional que coordena também a transmissão da informação interna dentro da instituição.

Analisa a composição dos públicos, assistindo aos eventos ou analisando os registos de bilheteira, de forma a reorientar a política de programação. Pode promover a intervenção de especialistas do setor/domínio da conservação e restauro para a elaboração de projetos e respetiva implementação de programas e planos nas áreas da preservação da conservação e do restauro.

Pode reunir com decisores políticos estatais e outras entidades tais como mecenas, bem como com produtores, artistas, autores e outros programadores em encontros formais e/ou informais para avaliação de projetos, conceção de programas e de parcerias.

O trabalho deste profissional é diversificado, mas só é conduzido de forma eficaz com o apoio de assessores culturais devidamente especializados e de outros profissionais culturais como produtores e programadores.

Este profissional deve ser detentor de conhecimentos profundos nas áreas da economia e gestão da cultura, da organização e gestão de eventos, da programação cultural e artística, da comunicação e marketing para além de sólidos conhecimentos de história, história das artes e da cultura, de produção de atividades culturais, de orçamentação e contabilidade, de relações interpessoais e

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liderança e, por último, conhecimentos fundamentais de salvaguarda, preservação e valorização de património artístico e cultural”37.

A partir das boas práticas enunciadas na obra citada, há que perceber de que forma, ou formas, poderão ser entendidas e implementadas no plano da gestão e assessoria cultural.

De acordo com Paulo Cunha e Silva, uma programação cultural deve ser também a oportunidade para propor um novo humanismo na relação com a cidade. Na topografia das cidades, há espaços fáceis e espaços difíceis, espaços que esperam todos os espetáculos, e espaços que não esperam qualquer espetáculo. Espaços onde a programação acontece e espaços onde a programação não acontece porque, simplesmente, não são programáveis. Os lugares são encontros de gerações, onde se cruzam formações e percursos variados e diversos meios de expressão, por isso, também, a cidade, enquanto espaço de circulação, passa para o centro de discussão quando consideramos a gestão cultural. Por isso sobre o mapa da cidade real se desenha o mapa da cultura no qual deve sobressair a articulação entre as instituições. O papel do gestor cultural e o do curador são fulcrais.38

No PAFT, como instituição-espaço, existem hoje condições para que se desenvolva uma programação cultural perfeitamente integrada na conceção apresentada por Paulo Cunha e Silva. O facto de existirem condições físicas, não significa, por si só, que seja possível concretizar ideias e projectos. Tanto os recursos humanos, como os recursos financeiros são incontornáveis e se não existirem no plano necessário, qualquer programação corre o risco de se tornar inviável. Em algumas ocasiões, foi possível ao estagiário constatar que não se puderam implementar determinadas actividades precisamente por falta desses recursos.

No que se relaciona com o papel do gestor cultural/artístico/administrativo em articulação direta com a programação, Margarida Veiga afirma que “a definição de uma estratégia cultural virada para a

conceção de programas de qualidade artística funciona como linhas orientadoras dos conteúdos e

37 O Setor das Atividades Artísticas (2006) 38 PEREIRA (2007), 137-140

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são fundamentais para a gestão cultural e artística da programação. Penso que a gestão cultural e artística estão a montante, fazem parte das linhas estratégicas dos conteúdos que estão a ser definidos e que depois vão conduzir á gestão cultural e artística consentânea com a gestão definida à partida, como um conceito mais global. São, de facto, bastante diferentes, ou seja, a gestão cultural e artística está vocacionada para o trabalho direto com os artistas, com os intervenientes ao nível da criação e da produção e até á realização final dos projectos. A gestão administrativa está no acompanhamento, desde a conceção inicial do que é o projecto, seguindo, fazendo, por de perto, as várias fazes de execução do mesmo. Portanto, aqui existem dois papéis que são distintos, mas que, de alguma maneira, se interligam e se complementam para a feitura de um projecto ou da gestão cultural.” 39

Ao refletir sobre o que Margarida Veiga afirma, não se pode ignorar a complexidade do papel do gestor cultural, até pelas múltiplas interligações que pressupõe, nomeadamente com os vários intervenientes nos projetos. Mas, na quase generalidade, não são estas, mas sim as dependências administrativas as que mais condicionam o papel do gestor cultural. Se as instituições são instituições de direito privado, estes problemas são muito mais facilmente resolvidos. Mas se pertencem ao estado, isto é se dependem do governo central ou das autarquias, torna-se mais difícil concretizar e gerir esses projetos.

Segundo Pedro Costa e Elisa Pérez Babo, é essencial que exista uma visão territorializada das políticas sectoriais para a cultura, evidenciando a importância que os recursos culturais, materiais, imateriais e simbólicos representam no quadro dos processos de desenvolvimento local e regional. A atuação do gestor cultural integra-se, assim, em contextos muito próprios que deve conhecer e em que vai desenvolver a sua acção. Não deve ignorar o interesse que a extensão do âmbito cultural a outras actividades relacionadas com a comunicação, os conteúdos e a criatividade, assim como com o seu potencial de alargamento associado ás novas tecnologias da informação e comunicação têm no quadro de novas estratégias de competitividade e inovação. O gestor cultural tem, ainda, que atuar

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conjugando três dinâmicas: a dinâmica empresarial e de emprego; a dinâmica de oferta artística e cultural e a dinâmica de investimento público e privado.40

A experiência do estagiário no PAFT foi, relativamente à conjugação destas três dinâmicas, muito proveitosa. O contato com artesãos; artistas amadores; artistas emergentes; artistas já com alguma implantação conseguida no meio artístico e cultural; artistas que já se afirmaram nos circuitos comerciais, entre outros, permitiu descobrir um meio com um dinamismo próprio, em que a diversidade se estende desde a oportunidade procurada para o estabelecimento de um contato empresarial que possa ser o primeiro passo para a criação de uma parceria economicamente viável, até á oportunidade para expor uma obra de um artista de renome que a cedeu, sem encargos financeiros para a instituição, em determinada altura.

As Feiras Francas e as Residências de Artistas são ocasiões muito específicas em que a dinâmica de oferta artística e cultural sobressai especialmente. É muito importante que se invista na criação de oportunidades para que as manifestações artísticas e culturais possam ter visibilidade e o público lhes tenha acesso fácil. Esta foi uma vertente que o estagiário acompanhou de perto. Podendo participar, devidamente orientado, na organização das FF, constatou que a relação entre artesãos/artistas e os membros da equipa do PAFT, em vários casos uma relação que já vinha de anteriormente á 30ª FF, se baseava na compreensão, de parte a parte, do que era o papel de uns e de outros. Isto significa que os primeiros sempre compreenderam que tipo de oportunidade lhes era oferecida (sobretudo visibilidade) e que os segundos sempre apoiaram a realização dos eventos, nunca esquecendo que sem a adesão dos artesãos/artistas não seria possível realizá-los.

Quanto à dinâmica de investimento público e privado, o estagiário participou ativamente no processo de procura de investidores que pudessem, com o seu contributo, estabelecer junto do PAFT algum tipo de mecenato. Este processo revelou-se demorado, não tanto pela falta de adesão de mecenas, embora o seu número e o seu contributo não tenham atingido um patamar muito relevante, mas mais pela burocracia administrativa que não pode ser ignorada e torna os processos mais lentos.

Sara Barriga e Susana Gomes da Silva afirmam que “as instituições culturais são elementos

fundamentais para a construção das representações e identidades das comunidades. Marca de vitalidade e diversidade cultural, elas promovem e reflectem simultaneamente a mudança, o

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dinamismo e a transformação permanentes que caracterizam as sociedades em crescimento e mutação.” 41

Por sua vez, Margarida Lima de Faria realça a importância que tem o conhecimento e análise dos públicos que integram os eventos culturais, tanto como participantes, como assistentes, de modo a conhecer as suas experiências nas mais diversas situações e a contribuir para uma melhor adequação dos objectivos aos resultados esperados. 42

Quanto a este tópico, o estagiário teve oportunidade de não só constatar de perto de que forma a equipa do PAFT considera importante a recolha de informação e tem em consideração a opinião tanto dos artesãos/artistas presentes nas FF, como do público visitante, mas também, ele próprio, de elaborar os seus questionários de avaliação e os gráficos sobre os participantes nas três edições das FF que acompanhou. Uns e outros fazem parte deste relatório.

Sendo imprescindível, o Plano de Avaliação deverá assumir a configuração de um projeto a apresentar às hierarquias. Trabalhado em equipa, deverá ser elaborado de uma forma sucinta e sistemática, seguindo uma lógica: Apresentação do projecto/ Objetivos gerais e específicos/ Equipa envolvida/ Metodologias aplicadas/ Orçamento/ Calendarização/ Apresentação dos resultados.43

É certo que o que mais se deseja é o êxito de qualquer intervenção que se faça. A aproximação à esfera cultural é feita por patamares de ligação que tendem a atrair camadas da população tradicionalmente afastadas tanto do campo da produção, como da receção cultural, sobretudo das formas culturais mais exigentes do ponto de vista da sua descodificação, mas também a construir uma relação de fidelidade sem a qual nenhuma política que vise a dinamização cultural poderá sobreviver. Só assim se poderá promover a desejada democratização cultural.44

O PAFT espelha bem de que forma pode ser implementada uma política que conduza, por via da cultura/arte, ao desenvolvimento coletivo. O presente estágio poderá ser integrado no plano da

41 BARRIGA (2007), 9 42 Idem, 67

43 Idem, 70

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assessoria cultural, embora o estagiário não tenha experimentado, no programa que lhe foi definido, uma grande variedade de atividades. No entanto, dentro dos condicionalismos existentes no PAFT, a orientação e aprendizagem que lhe foram facultadas tiveram um impacto significativo.

O estagiário participou em três Feiras Francas realizadas em 24 de novembro de 2012, 15 de dezembro de 2012 e 5 de janeiro de 2013, para além de ter tido pequenas intervenções noutras atividades, como, por exemplo, nas Tertúlias do Palácio e contacto com artistas residentes. No entanto, durante todo o período de estágio, foi às Feiras Francas que se dedicou, uma vez que assim foi definido internamente.

Relativamente a estas, a divulgação do evento na rua, baseada na afixação de cartazes na zona envolvente do Palácio das Artes - Fabrica de Talentos e também numa área bastante mais alargada foi crucial, dada a necessidade de o fazer fora da chamada “zona de conforto”, ampliando-a de forma a proporcionar uma maior divulgação, participação e visita às Feiras Francas. Na verdade, tornou-se mais percetível a sua importância, sobretudo junto dos estudantes das Faculdades de Belas Artes, Arquitetura e Letras. A entrega de flyers no dia do evento foi de similar importância. A distribuição de um simples flyers é um meio fácil de cativar potenciais visitantes, sejam estrangeiros de passagem, sejam residentes na cidade.

A componente de assessoria aplicou-se especialmente em alturas coincidentes com a receção dos expositores no palácio, consistindo em informar os interessados sobre o local destinado à montagem das bancas. Porém, a assessoria cultural não ficaria por aqui. O acompanhamento no dia da feira foi fundamental para o seu funcionamento. A interligação entre os expositores e a organização foi efetuada pelo estagiário de uma maneira previamente planeada. O estagiário interveio igualmente na orientação de artistas e performers. A receção e acompanhamento dos artistas, as indicações sobre os locais onde podiam ser preparados os espetáculos e sobre os espaços destinados às atuações foram igualmente tarefas a cargo do estagiário.

A receção e acolhimento do público, feita junto aos primeiros degraus da escadaria do Palácio das Artes – Fabrica de Talentos foi sempre acompanhada da entrega do jornal correspondente à respetiva edição da feira.

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Do jornal do PAFT constam vários elementos: uma planta do Palácio, os nomes dos jovens criativos patentes no certame, a localização espacial de cada entidade participante, a par de indicações sobre as diferentes áreas de interesse em que o espaço está organizado e sobre as performances programadas.

A programação das performances encontra-se logo na 1ª página, numa coluna do lado esquerdo, com indicação do horário e dos intervenientes. No verso, surgem fotografias ilustradoras da Feira Franca anterior, dados estatísticos de assiduidade do público e um breve resumo do que aconteceu durante essa feira. Inclui, também, uma agenda de atividades organizadas por parte da Fundação da Juventude e do Palácio das Artes – Fábrica de Talentos. Na contra capa, há sempre uma mensagem de saudação da diretora geral, Dra. Maria Geraldes, a receber os visitantes e a contextualizar o certame introduzindo-os, ao mesmo tempo, na temática da Feira Franca. A indicação da localização geográfica do edifício e de como chegar até ele encontra-se, ainda, no jornal, incluindo a sugestão dos meios de transporte de que se pode usufruir para chegar até ao PAFT.

A capa do jornal é normalmente confiada a um jovem artista, apresentando os logotipos de patrocinadores, parceiros, apoiantes e organizadores.

Referências

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