Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Rua Dr. Roberto Frias, s/n 4200-465 Porto PORTUGAL
MESTRADO EM ENGENHARIA DE
SEGURANÇA E HIGIENE OCUPACIONAIS
Tese apresentada para obtenção do grau de Mestre
Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Isabel Patrícia Teixeira Pinheiro
Orientador: Professor Doutor Miguel Tato Diogo
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Co-orientador: Mestre Joana Cristina Cardoso Guedes
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Arguente: Professora Doutora Ana Cristina Meira Silva Castro
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Presidente do Júri: Professor Doutor João M. A. dos Santos Baptista ______________________
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
2011
Conforto Térmico e Bem-Estar
numa Superfície Comercial
AGRADECIMENTOS
As minhas palavras de agradecimento são dirigidas aos meus familiares e amigos que me apoiaram
nas diferentes fases de elaboração do presente trabalho, os quais de forma directa e indirecta
contribuíram para a realização do mesmo.
De forma destacada, quero agradecer ao meu orientador, Professor Doutor Miguel Tato Diogo e à
minha co-orientadora, Mestre Joana Cristina Cardoso Guedes, pela total disponibilidade, apoio e
dedicação prestada nas diferentes fases do trabalho.
Um agradecimento especial à Mestre Aura Rua Albergaria pela paciência e disponibilidade total
demostrada. Bem como à Gerência da Cliwork, pelo apoio, disponibilidade e fornecimento de todo
o equipamento para a realização das medições.
Agradeço ainda a todos os profissionais da Superfície Comercial Isolada, em especial à Sandrine
Rodrigues, ao Jonathan Augusto e ao José Novais pelo apoio prestado e a todos os que de algum
modo contribuíram para a realização do meu trabalho.
RESUMO
A justificação da escolha deste tema de estudo, prende-se com o facto de ser cada vez mais
importante a avaliação das questões relativas à Segurança, Higiene e Saúde no trabalho, visto que,
no exercício da actividade laboral, existem numerosos perigos associados ao ambiente térmico do
local de trabalho e diversas variáveis que o influenciam, o que torna imperioso o cumprimento dos
requisitos legais e normativos, no sentido de assegurar a protecção da segurança, saúde e
bem-estar do trabalhador. A influência do ambiente térmico nos trabalhadores é um assunto que já foi
alvo de diversos estudos. Verifica-se no entanto, que desses, poucos são aqueles que incidiam
sobre trabalhadores das superfícies comerciais, pois devido ao seu crescimento exponencial entre
1981 e 2007, com a abertura de aproximadamente 2329 Superfícies Comerciais e com o
crescimento exponencial de Superfícies Comerciais, levou à criação de novos postos de trabalho,
empregando cerca de 100 000 trabalhadores, de acordo com o estudo efectuado em 2007 pelo
Instituto Nacional de Estatística.
O presente trabalho tem como objectivos gerais analisar as condições de conforto térmico dos
trabalhadores de uma Superfície Comercial Isolada e determinar os indicadores ambientais e
pessoais de conforto térmico e os parâmetros de influência sobre o bem-estar dos trabalhadores.
A metodologia de desenvolvimento do presente trabalho foi numa primeira etapa, realizar uma
pesquisa bibliográfica, aprofundando os conceitos científicos e técnicos Numa segunda fase
efectuar a componente prática do trabalho, realizando-se medições e preenchimento de
questionários para obtenção de dados, caracterizando a SCI sobre o ponto de vista de conforto
térmico ambiental e os factores individuais dos trabalhadores. E em última fase, foi executar o
tratamento dos resultados obtidos e uma análise integrada dos dados de forma a analisar o
trabalho da “moda/actual” e respectivo conforto térmico da população de trabalhadores.
O presente estudo, através da aplicação do Questionário Individual de Avaliação do Conforto
Térmico no PT, permitiu assim obter uma percepção real de uma amostra padrão de
trabalhadores, do conforto térmico no posto de trabalho percebendo o seu distanciamento em
relação à realidade evidenciada pelas medições e caracterização do espaço, permitida a partir da
aplicação da Lista de Verificação do Conforto Térmico no PT, e destas com os índices de conforto
térmico estabelecidos normativamente pela ISO 7730:2005, através do cálculo dos índices de PMV
(Voto Médio Previsível) e PPD (Percentagem Previsível de Insatisfeitos). Após a análise dos
resultados obtidos pelo preenchimento da Lista de verificação do Conforto Térmico do PT e pelas
medições efectuadas que conduziram ao cálculo dos índices de PMV, em que os resultados obtidos
de PMV se encontram fora do intervalo desejável (-0,5 a +0,5), estabelecido pela Norma ISO
7730:2005, consequentemente a PPD acompanha os valores de PMV, deparando-se com valores
de PPD superiores a 10%. Sendo plausível concluir que os requisitos legais devem ser cumpridos a
100% para obter um Índice de Avaliação de Conforto Térmico dentro do intervalo normativo,
classificando o ambiente como confortável.
A solução para resolver/minimizar a inconformidade, associada aos parâmetros psicométricos do
ambiente de trabalho passa essencialmente por uma intervenção sobre as medidas construtivas,
nomeadamente, no reforço da ventilação de modo a garantir a renovação de 30m
3por hora por
trabalhador, bem como, manter o sistema de ventilação e de climatização operacional nas horas
do dia de maior temperatura exterior e/ou maior ocupação do espaço, como na alteração do
lay-out da SCI tendo em atenção as tarefas desempenhadas, com possibilidade de alteração da
posição das condutas de ventilação e ar condicionado. Considera-se ainda pertinente uma
protecção mais eficaz das superfícies envidraçadas (com elevada exposição solar), de modo a
reflectir uma parte do calor radiante e diminuir a incidência solar.
O presente estudo não se assume como concluído e conclusivo no conjunto de matérias que
aborda, constituindo antes um ponto de partida para trabalhos subsequentes e complementares,
envolvendo novos estudos e avaliações quantitativas, com a intervenção de vários profissionais e
tendo por base o presente trabalho.
ABSTRACT
The choice of this subject of study relates to the fact that it is increasingly important the evaluation
of questions related with Safety, Hygiene and Health at work, since in the pursuit of employment,
there are many dangers related with the thermal environment of the workplace e many variables
that influence it, which makes imperative the accomplishment of the legal and regulatory
requirements, in a way to assure the protection of safety, health and welfare of the worker. The
influence of thermal environment on workers is an issue that already has been focus of many
studies. However, only a few of these are the ones who are focused in workers of stores, because
due of its exponential growth between 1981 and 2007, with the opening of approximately 2339
stores and with the exponential growth of stores, it led to the creation of new jobs, which
employed about 100 000 workers, according to the study made in 2007 by the National Institute of
Statistics.
The present work has as general objectives to analyze the thermal comfort of workers in an
Isolated Surface Commercial (SCI) and to determinate the environmental and personal indicators
of thermal comforts and the parameters of influence that affect the welfare of workers.
The development methodology of this work was, in a first step, perform bibliographical search,
deepening the scientific and technical concepts. In a second phase, to make a practical component
of work, accomplishing measurements and filling up of questionnaires to obtain data,
characterizing the SCI in the point of view of thermal comfort and individual factors of workers. In
a final stage, it was made the treatment of the results obtained and the integrated analysis of data
in a way to analyze the work of “fashion/present” and respective thermal comfort of population of
workers.
The present work, through the application of the Single Assessment Questionnaire of Thermal
Comfort in PT, allowed the acquisition of a real perception of a standard sample of workers,
thermal comfort at work realize in that way its distance from the reality shown in the
measurements and characterization of space, permitted by the application of Checklist of Thermal
Comfort in PT, and those with the indexes of thermal comfort normatively established by ISO
7730:2005, by the calculation of indexes of PMV (Predicted Medium Vote) and PPD (Predicted
Percentage of Dissatisfied). After analyzing the results obtained by the filling of Checklist of
Thermal Comfort in PT and by the measurements that led to the calculation of the PMV indexes,
where the results obtained are out of the desirable range (-0,5 to +0,5), established by ISO
7730:2005, consequently PPD attends the values of PMV, faced with values of PPD above 10%. It
is plausible to conclude that legal requirements must be accomplished in 100% to obtain an
Assessment Index of Thermal Comfort Evaluation inside the normative range, classifying the
environment as confortable.
The solution to resolve/minimize the disagreement, associated to the psychometrical parameters of
the work environment passes essentially by an intervention about the constructive measures,
namely, in the reinforcement of the ventilation to ensure the renewal of 30m3 per hour per
worker, as well as maintaining the ventilation and air conditioning system operating in the hours of
the day’s biggest outdoor temperature and/or bigger occupation of space, such in changing the
layout of SCI taking into account the assignments performed, with possibility of change the
position of the air conducts and air conditioning. It is also relevant more effective protection of the
glass surfaces (with high sun exposure), to reflect a part of the radiant heat and reduce the solar
incidence.
This study does not take as complete and conclusive in the set of subject that approach,
constituting rather a starting point to further and additional works that involve new studies and
quantitative assessments, with the intervention of various professionals based on this present
work.
ÍNDICE
RESUMO ... iii
ABSTRACT ... v
ÍNDICE DE FIGURAS ... ix
ÍNDICE DE TABELAS ... xi
GLOSSÁRIO/ABREVIATURAS ... xii
1
INTRODUÇÃO ... 1
2
OBJECTIVOS E METODOLOGIA ... 3
2.1
Objectivos da Tese ... 3
2.2
Metodologia de Desenvolvimento ... 3
3
ESTADO DA ARTE ... 5
3.1
Enquadramento Legal e Normativo ... 5
3.1.1 Legislação ... 5
3.1.2
Normas ... 6
3.2
Referenciais Técnicos ... 7
3.3
Conhecimento Científico ... 7
3.3.1 Balanço Térmico e Transferências de Calor ... 9
3.3.2 Factores que Influenciam a Sensação de Conforto Térmico ...12
3.3.3 Avaliação do Ambiente Térmico ...15
3.3.4 Principais Efeitos das Temperaturas Extremas sobre o Organismo ...20
3.3.5 Controlo do Ambiente Térmico ...22
3.3.6 Referenciais Científicos ...23
4
MATERIAIS E MÉTODOS...25
4.1 Materiais ...25
4.2 Métodos ...28
4.2.1 Registo de dados ...32
5
TRATAMENTO E ANÁLISE DE DADOS ...33
5.1
Tratamento de Dados ...34
5.2
Análise de Dados...50
6
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...61
7
CONCLUSÕES ...65
8
PERSPECTIVAS FUTURAS ...67
9
BIBLIOGRAFIA ...69
ANEXOS ...
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 – Metodologia de Desenvolvimento da Tese ... 3
Figura 2 – Rendimento térmico: corpo humano / motor térmico ...10
Figura 3 – Esquema do balanço térmico do corpo humano, segundo Wenzel ...11
Figura 4 - Área corporal em função da altura e do peso, segundo Dubois e Dubois (1916) ...12
Figura 5 – Algumas actividades humanas medidas em met. ...13
Figura 6 – Somatório de índices de resistência térmica de peças de vestuário [clo] ...14
Figura 7 - Escala Sensação – PMV ...16
Figura 8 – PPD – PMV ...16
Figura 9 – Método de estudo para a Avaliação do Conforto Térmico na SCI...28
Figura 10 – Ilustração do Ponto de Medição 1 ...30
Figura 11 – Ilustração do Ponto de Medição 2 ...30
Figura 12 – Distribuição das Idades dos Trabalhadores Inquiridos ...34
Figura 13 – Distribuição da Escolaridade dos Trabalhadores Inquiridos ...34
Figura 14 – Distribuição dos Trabalhadores por Ano de Admissão ...35
Figura 15 – Distribuição dos Trabalhadores Inquiridos por Função ...35
Figura 16 – Distribuição dos Trabalhadores Inquiridos por Universo ...35
Figura 17 – Carga Horária Diária dos Trabalhadores Inquiridos ...36
Figura 18 – Classificação das Respostas à Questão nº. 1 do Questionário Individual ...36
Figura 19 – Classificação das Respostas à Questão nº. 2 do Questionário Individual ...36
Figura 20 – Classificação das Respostas à Questão nº. 3 do Questionário Individual ...37
Figura 21 – Classificação das Respostas à Questão nº. 4 do Questionário Individual ...37
Figura 22 – Classificação das Respostas à Questão nº. 5 do Questionário Individual ...37
Figura 23 – Classificação das Respostas à Questão nº. 6 do Questionário Individual ...38
Figura 24 – Classificação das Respostas à Questão nº. 7 do Questionário Individual ...38
Figura 25 – Classificação das Respostas à Questão nº. 8 do Questionário Individual ...38
Figura 26 – Classificação das Respostas à Questão nº. 9 do Questionário Individual ...39
Figura 27 – Classificação das Respostas à Questão nº. 10 do Questionário Individual ...39
Figura 28 – Análise da Percentagem de Conforto no Ponto 1 e 2 ...41
Figura 29 – Número Total de Clientes nos 14 Dias de Medição por Universo ...42
Figura 30 – Distribuição do Número de Clientes por Universo por Dia de Medição ...43
Figura 31 – Distribuição do Número de Clientes durante a Medição por Dia de Medição ...45
Figura 32 – Variação da velocidade do Ar no Dia 16-05-2011 ...46
Figura 33 – Variação da Temperatura do Globo no Dia 16-05-2011 ...46
Figura 34 – Variação da Temperatura do Ar no Dia 16-05-2011 ...46
Figura 35 – Variação da Humidade Relativa no Dia 16-05-2011 ...47
Figura 37 – Variação da Temperatura do Globo no Dia 25-05-2011 ...48
Figura 38 – Variação da Temperatura do Ar no Dia 25-05-2011 ...48
Figura 39 – Variação da Humidade Relativa no Dia 25-05-2011 ...48
Figura 40 – Variação da temperatura do Ar (a) e da Humidade Relativa (b) nos Pontos de Medição
1 e 2 ...49
Figura 41 – Variação do PMV nos dias de Medição no Ponto 1 ...50
Figura 42 – Variação do PPD nos dias de Medição no Ponto 1 ...51
Figura 43 – Variação do PMV nos dias de Medição no Ponto 2 ...51
Figura 44 – Variação do PPD nos dias de Medição no Ponto 2 ...52
Figura 45 – Variação da Velocidade do Ar e da velocidade do Vento no dia 25-05-2011 ...52
Figura 46 – Variação da Velocidade do Ar e da velocidade do Vento no dia 16-05-2011 ...53
Figura 47 – Variação da humidade Relativa Interior e Exterior no dia 16-05-2011 ...53
Figura 48 – Variação da humidade Relativa Interior e Exterior no dia 25-05-2011 ...54
Figura 49 – Variação das Temperaturas Interior e Exterior no dia 16-05-2011 ...54
Figura 50 – Variação das Temperaturas Interior e Exterior no dia 25-05-2011 ...55
Figura 51 – Variação da Temperatura Interior, Exterior e do PMV no dia 16-05-2011 ...55
Figura 52 – Variação da Temperatura Interior, Exterior e do PMV no dia 25-05-2011 ...56
Figura 53 – Variação da Temperatura Interior, Exterior e da PPD no dia 16-05-2011 ...56
Figura 54 – Variação da Temperatura Interior, Exterior e da PPD no dia 25-05-2011 ...57
Figura 55 – Analise normativa e legislativa do Ponto 1 ...57
Figura 56 – Analise normativa e legislativa do Ponto 2 ...58
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 – Requisitos de Temperatura e Humidade definidos pelo D.L. nº. 243/86 de 20/08. ... 5
Tabela 2 – Requisitos de Temperatura e Humidade definidos pela Portaria n.º 987/93 de 06/10. .. 6
Tabela 3 – Listagem das normas relacionadas com o estudo do ambiente térmico ... 6
Tabela 4 – Referenciais técnicos do presente estudo... 7
Tabela 5 – Transferências de calor entre o Homem e o Ambiente ...11
Tabela 6 - Valores de metabolismo para várias actividades ...13
Tabela 7 – Resistência térmica de algumas peças de vestuário, segundo Fanger ...14
Tabela 8 – Valores para aplicação do Índice de PMV ...17
Tabela 9 – Combinações de temperatura ambiente, humidade relativa e velocidade do ar, segundo
Yaglou ...17
Tabela 10 – Valores limite aconselháveis de temperatura efectiva corrigida (ºC) em função do
metabolismo e do estado de aclimatação ...18
Tabela 11 – Interpretação do índice de stress térmico - HSI ...18
Tabela 12 – Critérios de despistagem de uma situação de stress térmico (valores de WBGT em ºC)
...19
Tabela 13 – Valores limite de WBGT (ºC) em função do metabolismo e do estado de aclimatização
...19
Tabela 14 – Correcções dos valores de WBGT para alguns tipos de vestuários ...20
Tabela 15 – Medidas preventivas para ambientes frios ...22
Tabela 16 – Medidas preventivas para ambientes quentes ...22
Tabela 17 – Referenciais científicos de estudos de ambiente térmicos em diferentes contextos
laborais ...23
Tabela 18 – Finalidade/Nota Explicativa dos itens de avaliação do Questionário Individual de
Avaliação do Conforto térmico no PT ...25
Tabela 19 – Tipo de Evidência de cada item de avaliação da Lista de Verificação do Conforto
Térmico do PT ...26
Tabela 20 – Valores para aplicação do Índice de PMV ...29
Tabela 21 – Calendarização das Medições - Maio 2011 ...29
Tabela 22 – BABUC A – Sensores e Variáveis de Medição ...31
Tabela 23 – Evidências Objectivas da Lista de Verificação no Ponto 1 e 2 ...40
Tabela 24 – Distribuição do Nº. de Clientes por dia de medição, por período de Medição e por
Universo ...42
GLOSSÁRIO/ABREVIATURAS
Aclimatização: é o estado resultante de um processo de adaptação fisiológica que aumenta a
tolerância do indivíduo quando é exposto a um dado ambiente por um período suficientemente
longo;
Ambiente Térmico: é o conjunto de variáveis térmicas do posto de trabalho que influenciam o
organismo do trabalhador, sendo assim um factor importante que intervém, de forma directa ou
indirecta na saúde e bem-estar do mesmo e na realização das tarefas que lhe estão atribuídas;
Ambiente Neutro: é um ambiente que permite que a produção de calor metabólico, se equilibre
com as trocas de calor (perdas e/ou ganhos) provenientes do ar à volta do trabalhador;
ASHRAE: American Society of Heating Refrigeration and Air Conditions;
Comércio a retalho: toda a pessoa física ou colectiva que, a titulo habitual e profissional, compra
mercadorias em seu próprio nome e por sua própria conta as revende directamente ao consumidor
final;
Comércio por grosso: toda a pessoa física ou colectiva que, a titulo habitual e profissional,
compra mercadorias em seu próprio nome e por sua própria conta e as revende, quer a outros
comerciantes, grossistas ou retalhistas, quer a transformadores, quer ainda a utilizadores
profissionais ou grandes utilizadores;
Conforto Térmico: é um estado de espírito que expressa satisfação com o ambiente que envolve
um individuo;
D.L.: Decreto - Lei;
GSC: Grande Superfície Comercial;
SCI: Superfície Comercial Isolada;
Homeotermia: Manutenção da temperatura interna do corpo;
INE: Instituto Nacional de Estatística;
ISO: Internacional Organization for Stardantization;
PMV: é o voto Médio Previsível (Predicted Mean Vote), índice baseado na previsão do valor médio
dos votos expressos por um grupo significativo de pessoas com base numa escala de sensação
térmica de -3 a 3. O PMV corresponde à sensação térmica calculada em função do balanço térmico
entre o corpo e o ambiente;
PPD: é a percentagem previsível de insatisfeitos (predicted Percentage of Dissatisfied), estabelece
uma previsão da percentagem de pessoas que poderão expressar a sua insatisfação num dado
ambiente térmico;
1 INTRODUÇÃO
A Segurança e Saúde dos trabalhadores, relativamente às suas actividades profissionais, têm
merecido uma progressiva atenção dos Sistemas Nacionais de Saúde e dos Organismos
Internacionais como a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Organização Internacional do
Trabalho (OIT) e as Comunidades Europeias.
A Comunidade Europeia prevê que o Conselho das Comunidades Europeias adopte, por meio de
Directivas, as prescrições mínimas para promover a melhoria do ambiente de trabalho, de forma a
garantir um melhor nível de protecção, de segurança e saúde dos trabalhadores.
Neste sentido, foi elaborada a Directiva-Quadro nº. 89/391/CEE do Conselho Europeu de 12 de
Junho (alterada pela Directiva nº. 2007/30/CE, do Conselho, de 20/06), relativa à aplicação de
medidas destinadas a promover a melhoria da segurança e saúde dos trabalhadores no trabalho, a
qual foi transposta para a legislação nacional originando a Lei nº. 102/2009 de 10/09, a qual
estabelece o regime jurídico da promoção da segurança e saúde no trabalho, de acordo com o
artigo 284º do Código do Trabalho no que respeita à prevenção. A questão central do regime
jurídico da Segurança e Saúde no Trabalho, reside no estudo e na intervenção sobre o problema
das relações entre o trabalho e a saúde, bem como, na actuação adequada e atempada sobre os
riscos profissionais, os quais variam com o tipo e condições de desempenho da actividade
profissional.
As tecnologias associadas às novas condições de realização do trabalho são responsáveis por
condições muitas vezes gravosas para os profissionais. Neste enquadramento, as perspectivas de
intervenção em Segurança e Saúde no Trabalho, centram-se normalmente na definição de
procedimentos de ingerência baseados na tipificação dos perigos ou dos factores de risco e
convergem em soluções predefinidas para os problemas diagnosticados.
Para uma correcta gestão de riscos dever-se-á ter um conhecimento aprofundado dos perigos
inerentes, entendendo-se por perigo a fonte ou situação com um potencial para o dano em termos
de lesões ou ferimentos para o corpo humano ou danos para a saúde, danos para o património,
danos para o ambiente do local de trabalho, ou uma combinação destes.
A identificação de perigos é considerada o ponto fulcral de toda a segurança, pois através desta é
possível avaliar os riscos, priorizar intervenções e enunciar medidas de prevenção e correcção
adequadas e adaptadas ao evento perigoso.
Apesar destes procedimentos serem eficazes, apresentam problemas decorrentes do facto de
muitas vezes considerarem o Homem como o “actor” principal de uma situação de trabalho. Muitas
situações de trabalho são prejudiciais à saúde e ao bem-estar dos trabalhadores, levando à
ocorrência de acidentes. O calor em excesso pode, por exemplo, afectar o desempenho
profissional, causar inquietação, perda de concentração. A humidade provoca desconforto,
sonolência e aumento do suor. Essas e outras perturbações que ocorrem, sem a mínima
percepção, causa aquilo que a ciência chama Stress Térmico e depois de um certo tempo
provocam, nos trabalhadores, doenças mais complexas (do foro psicológico, cardiovascular entre
outras) que constituem uma importante causa de absentismo e de incapacitação para o
desenvolvimento eficiente do trabalho. Essas situações podem ser atribuídas ao mau projecto e ao
uso inadequado de equipamentos/sistemas de ventilação e climatização.
O Ambiente Térmico pode ser definido como o conjunto das variáveis térmicas do posto de
trabalho que influenciam o organismo do trabalhador, sendo assim um factor que intervém, de
forma directa ou indirecta, na saúde e bem-estar do mesmo e na realização das tarefas que lhe
estão atribuídas.
Fanger (1972) já havia mostrado a importância ergonómica do estudo do ambiente térmico. Desde
este trabalho, as investigações do estudo do conforto térmico têm sido frutíferas e caracterizadas
por uma grande multidisciplinaridade, nomeadamente, na Meteorologia, na Medicina, na
Arquitectura, na Ergonomia, entre outras.
O estudo do conforto térmico tem uma forte importância económica. O controlo de parâmetros
meteorológicos permite a optimização do ambiente térmico e consequentemente um incremento
nos níveis de produção e satisfação. Várias pesquisas realizadas em laboratório e em campo têm
sido desenvolvidas de forma a demonstrar a relação entre o conforto térmico e o desempenho do
trabalhador.
A influência do ambiente térmico nos trabalhadores é um assunto que já foi alvo de diversos
estudos. Verifica-se no entanto, que desses, poucos são aqueles que incidem sobre trabalhadores
de Superfícies Comerciais. As Superfícies desta tipologia tiveram um crescimento exponencial entre
1981 e 2007, com a abertura de aproximadamente 2329 Superfícies Comerciais, como se verifica
no Anexo A que contempla o estudo sobre Unidades Comerciais de Dimensão Relevante, efectuado
pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em 2007. Este crescimento levou à criação de novos
postos de trabalho, empregando cerca de 100 000 trabalhadores (Fonte: INE, 2007), tornando-se
o trabalho da “moda/actual” dos portugueses.
As Superfícies Comerciais Isoladas são estabelecimentos de comércio a retalho, de comércio por
grosso ou de prestação de serviços isoladamente considerados, isto é, não integrados em
conjuntos comerciais (centros comerciais).
A actividade em estudo neste Trabalho – Conforto Térmico e Bem-Estar numa Superfície Comercial
Isolada – apresenta algumas especificidades, uma vez que a estuda entre os quais, os factores
ambientais, a informação, relações entre o postura e os movimentos corporais, bem como os
cargos e as tarefas. A conjugação adequada desses aspectos é que permite a projecção de
ambientes seguros, saudáveis, confortáveis e eficientes.
O objectivo principal do presente trabalho é analisar as condições de conforto térmico dos
trabalhadores de uma Superfície Comercial Isolada e determinar os indicadores ambientais e
pessoais de conforto térmico e os parâmetros de influencia sobre o bem-estar dos trabalhadores.
2 OBJECTIVOS E METODOLOGIA
2.1 Objectivos da Tese
O presente trabalho tem como objectivo geral analisar as condições de conforto térmico dos
trabalhadores de uma Superfície Comercial Isolada e determinar os indicadores ambientais e
pessoais de conforto térmico e os parâmetros de influência sobre o bem-estar dos trabalhadores.
Como objectivos específicos o presente estudo pretende: avaliar do ponto de vista ocupacional a
Superfície Comercial Isolada como local de trabalho confortável termicamente; determinar e
classificar os diferentes parâmetros ambientais que influenciam o conforto térmico, temperatura do
ar, humidade relativa e velocidade do ar; analisar a variação diária dos parâmetros ambientais nos
pontos de medição escolhidos; caracterizar o Índice de Conforto térmico, através do Índice do
Voto Médio Previsível (PMV) e da Percentagem Previsível de Insatisfeitos (PPD); comparar a
percepção de sensação térmica através de colocação de questionários aos trabalhadores e os
valores determinados analiticamente através da Percentagem Previsível de Insatisfeitos (PPD)
baseada na Norma ISO 7730:2005.
2.2 Metodologia de Desenvolvimento
Para cumprir os objectivos propostos dividiu-se o presente trabalho em várias etapas, como se
ilustra no esquema da Figura 1.
Na primeira etapa, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, aprofundando os conceitos científicos e
técnicos de ambiente térmico e grandes superfícies comerciais, de forma a preparar a metodologia
adequada aos objectivos supracitados.
Numa segunda fase foi efectuada a componente prática do trabalho, realizando-se medições e
preenchimento de questionários para obtenção de dados, caracterizando a Superfície Comercial
Isolada sobre o ponto de vista de conforto térmico ambiental e os factores individuais dos
trabalhadores.
Em última fase, foi executado o tratamento dos resultados obtidos e uma análise integrada dos
dados de forma a analisar o trabalho da “moda/actual” e respectivo conforto térmico da população
de trabalhadores das Superfícies Comerciais Isoladas.
Figura 1 – Metodologia de Desenvolvimento da Tese
• Estudo de Caso, 2011 "Avaliação das Condições de
Conforto Térmico Grandes Superficies Comerciais - Norte
de Portugal"
1ª Fase
Pesquisa Bibliografica
•Aquisição de dados
•Tratamento e Análise de
dados
2ª Fase
Componente Prática
• Conforto Térmico do Trabalhador de uma SuperficieComercial Isolada