UNIVERSIDADE
FEDERAL
DE sANTA CATARINA
CENTRO
DE
CIÊNCIAS
DA
EDUCAÇÃO
' Í
PROGRAMA
DE
POS-GRADUAÇÃO
CURSO
DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
I~
E
AS
RELAÇOES
CRECHE
-FAMÍLIAS:
AUM
ESTUDO
DE
CASO
MARIA
APARECIDA
MAIS
TRO
ORIENTADORA:
Prof.
Dr“.
Carmen
Silviade
Arruda«Andaló
CO-ORIENTADORA:
Prof. Msc.
Eloisa
Acires
Canüal
Rocha
ILHA
DE
SANTA
CATARINA
uN|vERsiDADE
FEDERAL DE
SANTA
CATARINA
CENTRO
DE
CIÊNCIAS
DA
EDUCAÇÃO
PROGRAMA
DE
Pós-GRADUAÇÃO
CURSO DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
“AS
RELAÇÕES CRE
CHE-FAMÍLIA
-Um
estudode
caso”.Dissertação submetida ao Colegiado
do
Curso de Mestrado
em
Educação do
Centro de Ciências daEducação
em
cumprimentoparcial para a obtenção
do
título de Mestreem
Educação.APROVADO
PELA
COMISSÃO
EXAMINADORA
em
26/05/97Läm
/'R" \.zProfa. Dra.
Carmen
Sil 'a de Arruda Andaló (Orientadora)Protšfbra. /Maria Cáií/Rg)/ss-1\ ° Ferreira (Examinadora)
Profa.
D
Regina CéliT
aso Mioto (Examin dora)W
~%v
-Prof. Dr. Selvino José
smann
(Suplelàe)MARIATRO
ll
MARIA
APARECIDA
MAIS
TRO
AS
RELAÇÕES
CRECHE-FAMÍLIAS:
UM
Esruno
DE
cAso
Dissertação
apresentada ao
Curso
de
Mestrado
em
Educação da
Universidade
Federal de Santa Catarina
como
_ requisito parcial à
obtenção do
títulode
Mestre
em
Educação,
tendocomo
orientadora aProfí
Dr”.Carmen
Silviade
Arruda
Andaló.
ILHA
DE
SANTA CATARINA
iv
A GRÁDECIMEN
TOS
À
Carmem
e Eloisa, orientadoras e amigascom
quem
aprendi que seja qualfor a vereda escolhida, a vida é
sempre
desafiante.À
minha
família,em
especial àminha
mãe
Maria do Carmo,
meu
ninho emeu
cais,
pouso
e porto seguro.À
Bea,amiga
ímpar, queme
ajuda a ver o quantosomos
dia e noite aomesmo
tempo.Ao
Cauê
pela convivência e afeto constante.À
família Cerisaraque
mora
no
meu
coração.Ao
Sérgioque
voa comigo
em
terra firme.Ao
Ademir
queme
apresentou a históriado
guerreiro.À
Teresa, Denises, Carol e Luciana por teceremcomigo fios
de diferentesamizades.
Ao
Anahiá,meu
anjo.Aos
meus
colegas de mestrado,em
especial ao Paulão, queme
ajudaram a atravessar a rua.V
À
Cristina porme
ajudar amontar o
“quebra-cabeça”do
quem
é quem...Às
profissionaisda
creche e às famílias entrevistadasque
me
“abriram as portas” para a realização deste trabalho.Ao
pessoaldo Núcleo
de Pesquisaem
Educação
Infantil,em
especial aoJosué, pelo apoio e o espaço de conhecimento e parceria.
À
Prefeitura Municipal de Florianópolis - Frente Popularque
liberou-me paraeste
desafio
eem
especial aoGrupo
da
Divisãode
Educação
Pré-Escolar, pela solidariedade ecompanherismo no
final destas “gestões”.vi
RESUMO
Este trabalho tem como tema central as relações Creche e Famílias - sendo
resultados de minha atuação há algum tempo, junto a instituições públicas desta natureza, onde percebia a existência de
um
distanciamento e deuma
ausência de parceria no seu diaa dia, muitas vezes permeado por conflitos e até
mesmo
por trocas de hostilidades.Com
vistas a contribuir para esclarecer alguns aspectos deste dificil relacionamentono meio do qual,
como
mediadora se coloca a criança das classes populares, tenteiconhecer os sentimentos e as significações tecidas na relação entre a creche e as farinhas.
Desta fonna escolhi realizar
uma
pesquisa de natureza qualitativa, que permitisseapreender a partir de dentro a perspectiva das duas instituições envolvidas,
em uma
Creche da Rede Municipal de Florianópolis, onde venho trabalhando.Os dados foram colhidos através de observações de momentos onde ocorria 0
contato entre a Creche e as Famílias e de entrevistas semi-estruturadas realizadas
com
alguns profissionais da instituição e algumas familias. Procurou-se deliberadamente variar,
tanto a categoria profissional dos funcionários da Creche,
como
os tipos de famílias que utilizam a instituição investigada.Neste trabalho, através de
um
conjunto de observações e de depoimentos demembros das duas instituições foi possível detectar alguns aspectos significativos como:
uma
variedade de posturas e perspectivas;uma
falta de diálogo que não favorece aexplicitação e o confronto das diferentes expectativas sobre o papel da Creche, tanto
para as profissionais
como
para as famílias; apesar dos esforços feitos por elementos deambas as partes no sentido de maior integração, o que predomina é
um
clima de distanciamento, onde a creche detemuma
situação de poder, quando não dedesconfiança e até de animosidade
com
relação às famílias atendidas; a persistência deuma
noção idealizada de família nuclear predominante no “sensocomum”
que,associada a
uma
perspectiva preconceituosacom
relação às classes subaltemas, levam asprofissionais a
uma
visão das famílias predominantemente negativa, no sentido “do que elas não são” frente ao “que elas deveriam ser”.Esta pesquisa pretendeu ver as profissionais não
como
as responsáveis pelosproblemas existentes,
uma
vez que também estão sujeitas e acabam aprisionadas, de forma não deliberadanem
consciente, à visão fragmentada e preconceituosa típica do sensocomum. Ficou evidente
uma
definição precária dos papéis e funções da creche e de suasprofissionais.
Esta investigação reconhece que as soluções ou respostas para os problemas da creche nas suas relações
com
as farnílias atendidas, são complexas. Investigando parte dossentimentos e significações tecidas pelos sujeitos; pretendeu levantar algumas
possibilidades 'para a realização de
um
trabalho coletivo que aponte novas perspectivaspara
um
projeto político-pedagógico na crecheem
particular e na educação infantilem
geral., vii
ABSTRACT
This study has as central theme the relationship between Day Nurseries and
Families. It is consequence of the author's working at Public Institutions of this nature for
some time. In this experience it was observed the existence of a certain distance and the
absence of partnership in their daily life, many times permeated by conflitcts and even
hostilities.
In order to contribute for the elucidation of some aspects of this difficult
relationship, where children of popular classes are mediators, the author tried to
understand the feelings and the significations entwined in the relations between the
Day
Nurseries and the Families. So, the decision was to conduct a qualitative research which perrnited to apprehend the perspective of these two institutions involved at one specific
Day
Nursery of the Municipal System of Education of Florianópolis.The data was obtained through observations of moments where the contact
between the
Day
Nursery and the Families occured and from semi-structured interviewsmade with some professionals of the institution and some families.
A
deliberated variationwith the professional category of the employees at the
Day
Nursery and with the differenttypes of families that utilize the investigated institution was proceeded.
In this study, through a set of observations and reports of members from the two institutions it was possible to detect some important aspects 1 a variety of postures and
perspectives; a lack of dialogue that does not favor the explicitation and the confrontation of the different expectations about the role of the
Day
Nursery for the professionals and forthe Families; in spite the effort made by elements of both parts in a sense of more
integration, predominated an atmosphere of distance where the
Day
Nursery had a powerstatus. It was frequent also a climate of distrust and even animosity in relation to the
attended families; the persistence of an idealized notion of nuclear family, predominant in
the
“common
sense”, associated with a prejudiced perspective toward the subaltemclasses, conduct the professionals to a predominantly negative vision of the families, in the
sense of “what they are got” compared to “what they should be.”
This investigation did not intend to realize the professionals as being responsible for
the present problems, once they are also submited to and imprisoned, neither deliberatly
nor consciously, to a fragmented and prejudiced vision, typical of the
common
sense. Thus,is a precarious definition of the roles and fimctions of
Day
Nurseries and their professionals became evident.This study recognizes that the solutions or answers to the problems of
Day
Nurseries and their relation with the attended families are complex. Investigating part of
the feelings and significations entwined by the subjects, it intended to come up some
possibilities for the accomplishment of a colective work that indicates
new
perspectives fora politic-pedagogic project at Day Nurseries in particular and for the education of children in general.
Vlll
SUMÁRIO
I
-INTRODUÇAO
... ..o111
-ASPECTOS
METQDOLÓGICOS
... ..1o111-
DA
REDE
MUNICIPAL
À
CRECHE
3.1.
A
rede municipal de
ensino e 0atendimento à população de
0 a6
anos
... ..17'
3.2.
O
bairro ... ..223.3.
A
creche -uma
fotografianarrada
... ..31IV-
As FAMÍLIAS
4.1.
Família
-Um
conceitonada
natural. ... ..384.2.
As
famíliasna
visãodas
profissionais ... ..43V-
A
CRECHE
5.1.
A
crechena
sociedade ... ... ..645.2.
O
papel
da
crechepara
as profissionais e famílias ... ..71V1-
As
RELAÇÕES
CRECHE-FAMÍLIAS
A
6.1.
Aproximações
em
tomo
do
tema
... ..956.2.
A
criançanas
relações creche-famílias ... ..100'
6.4.
Afinações
e desafinações - as relaçõescreche
e famíliasc0Ns11›ERA
ÇÕES
FINAIS
... ..REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
... .._,;¿É¿J.._.,H.z~¬,.¢,..-z_¿._v A Í. __ ¿._ ;¿- ;__;_;,;¡-›- -- ,, , ,,,,,,..
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2
Caminhos
e tropeçosna
trajetória profissionalNo
caminho do
trabalho social junto aalgumas
crechesda
Rede
Municipal
de
Florianópolis, atuando diretamentecom
os profissionais de crechel e familias das crianças que as utilizam, muitosforam
os "tropeços".Cada
um
deles continha incertezas, críticas e auto-críticas,sentimentos de impotência, gerando muitas inquietações,
que
secentravam
principalmenteem
tomo
da
relação existente entre a creche e afamília. Parecia existir
um
certo "nó" entre estas duas instituições, o quede certa
forma
ajudava a emperrar(mesmo
que, muitas vezes, implicitamente) o desenvolvimento dos trabalhos que buscavadesenvolver.
As
cenasque
se apresentavam maisfieqüentemente eram
de trocasde hostilidades, e
mesmo
deuma
certa ausência de parceria entre acreche e a família.
Por
mais que tentasse entendero
porquê destemovimento
e encontrar altemativas de trabalho para superar essa situação, as soluçõeseram
temporárias.O
isolamento entre creche e farinhaocupava novamente
seu posto - cada qual parecia ter suas "verdades",defendendo
seumodo
de pensar e interpretar a realidadecomo
o maisválido.
Práticas
de "sobrevôos"
-A
escolhado
objetoA
inquietude foi se transformandoem
desejo,em
necessidade demergulhar profundamente nesta temática:
As
Relações
Creche-Famílias.Até
então, as intervenções quepude acompanhar deixavam
a desejar,¡O termo utilizado "profissionais de creche”, diz respeito a todos os que atuam na instituiçào infantil-
_
3
apesar
da
seriedade edo compromisso
com
o
trabalho por parte deprofissionais envolvidos.
Estas práticas frequentemente
correm
sérios riscos de cairem
"soluções" limitadas. Um&delêJs passa pela “naturalização desta relação”,
entendendo que
não há
contradiçãoalguma
entre estas duas instituições,ou
seja,que
tudo écomo
pode
e deve ser eque o
futuronão pode
serdiferente
do que
é. Isso significaria "tapar o solcom
a peneira" e "fazer deconta"
que
creche e famíliavivem
em
perfeita hannonia.Outro risco é
o
depermanecer na
"constatação e sistematizaçãodo
óbvio",ou
seja, fazer análises viciadas desta realidade, identificando a existência de conflitos e contradiçõesno
cotidiano destas instituições,sem
conseguir extrapolar o nivel
da
constatação,chegando
mesmo
àimpotência frente à complexidade
do
problema.Representações cristalizadas sobre o cotidiano de tais instituições
não têm
permitido chegar a Lunamaior
clareza dos múltiplosmecanismos
que geram
ecompõem
estefenômeno, permanecendo
rundesconhecimento de
como
sedão
suas relaçõescom
o
contexto sócio-político-econômico
que
o determinanum
dado
momento
histórico,impossibilitando
uma
práticaque tome
como
referênciauma
realidade "nua" e "crua",ou
seja, desvelada.Desafio a
um
détour :Neste exercício de "inventariar"
minha
trajetória profissional,percebo
que
me
aproprio maisum
pouco do
meu
objeto de pesquisa, e do quanto este foium
desafio nada
fácil,nada
tranqüilo, porém, tentador enecessário.
Digo
necessário,não no
sentido de pensar que tal pesquisa4
4
vez que
"a verdadedo
conhecimento éuma
procura enão
uma
posse".(Japiassu, l991:86).
Refiro-me
ao sentido de buscar apreendermelhor
a realidade destasduas instituições
em
sua totalidade concreta.De
acordocom
Kramer, "...oreal imediatamente acessível ao
homem
é caótico e obscuro, paraconhecê-lo é necessário o desvio
da
teoria,um
détour: acompreensão
darealidade coincide
com
ocaminho
percorrido entre a caótica representaçãodo
todo e a rica totalidade de múltiplas determinações e relações"(1993:34).Diante disto, esta pesquisa pretendeser mais
um
percurso queum
ponto dechegada
- ela éum
movimento,
pois:"
(...) para que se faça urna articulação dos múltiplos
elementos que
compõem
a realidade é preciso nãoperder de vista a perspectiva histórica de análise
do
real quetoma
os sujeitosem
sua historicidade que aofazerem a história, se
fazem
nela. Portanto,nem
imagem
refletida,nem
peça
de engrenagem,mas
movimentos,
mudanças,
interações, trocas, partilhasentre aspectos
que
são distintos,mas
fundamentalmente complementares". (Cerisara,
1993:23).
Fazer este "détour", foi necessário para
marcar
o eixo destapesquisa -
Como
situar as relações creche-farnílias?Como
olhá-las?Como
compreender,tomar
mais visível a diferença entre o que delasfalamos,
ou o que
para elas falamos. Portanto fazia-se necessário conhecer5
"Estar"
pesquisadora:"Desejo é
o
infinitoque
trabalha ointerior das paixões e
da
razão.É
oDesejo que
leva o ver a se transformarem
ação de ver,dando
às paixões e aointelecto
movimento
infinito".(Novaes, 1988118)
Quero
aqui refletir a respeito destenovo
papelque
vivencieiintensamente - o de "estar pesquisadora".
Não
pretendo falar propriamentedo
meu
objeto de pesquisa,mas
sim criarum
espaço para exporminhas
idéias, assim
como
trazer alguns autoresque
me
fizeram
refletir sobreelas.
Afinal, o que é “estar pesquisadora”? Pretendi que este espaço
pudesse
aproximar-me mais dos canaisda
razão e dos sentimentos,sem
dicotomizá-los apesar das dificuldades que isso implica,
assumindo
que é intenso, sofiido e bonito aomesmo
tempo.Segundo
Lévi Strauss,na
evoluçãodo pensamento
científico, porvolta dos séculos
XVII
eXVIII
com
Bacon, Descartes eNewton, tomou-
, .
S3 I1€C€SSaI`lOI
"levantar-se e afinnar-se contra as velhas gerações de
pensamento
mítico e místico, e pensou-se entãoque
aciência só podia existir se voltasse as costas ao
mtmdo
dos sentidos, omundo
que vemos,
cheiramos,saboreamos
e percebemos,o
mundo
sensorial éum
mundo
ilusório, ao passoque
omundo
real seriaum
mundo
de 'propriedades matemáticas que sópodem
ser descobertas pelo intelecto e
que
estãoem
contradição totalcom
o testemunho dos sentidos ".i
ó
Desta
forma, o dualismofilosófico
do
séculoXVII
pregavauma
enorme
distância euma
ruptura entre a vida cotidiana e o pensamento.Não
é possível negarque
naquelemomento
essemovimento
deruptura foi imprescindível para
que
opensamento
científico encontrassecondições de se auto-constituir. Atualmente,
no
entanto, a ciênciacontemporânea
tenta recuperaro
significado dosdados
dos sentidos e asua verdade, e assim explicar o vínculo entre a
mente
humana
e a experiência. ParaSena
(1990:43),"um
processo de aquisição intelectualdesvinculado
da emoção,
dos sentimentos eda
paixãopode
levar aoconhecimento
deuma
humanidade
abstrata e estranha",ou
seja, auma
visão de
homem
e demundo
fragmentada,que
perdeu sua unidade, namedida
em
que
adimensão
objetiva ("científica") se encontra divorciadada dimensão
subjetiva ("não científica"). _O
processo de conhecimento, enquanto objeto de desejodo
homem,
implicauma
relação de paixãodo
sujeitocom
seu objeto de estudo.E
nesta relaçãoo
prazer e a dor estão interligados,acompanhados
deuma
clarezade que
esse desejonunca
será inteiramente satisfeito,uma
vez quea verdade e o conhecimento são nutridos pela conquista pennanente.
Assim
sendo, a completude deambos
serásempre
inatingível./
-Nesta
perspectiva, a tentativa de superar a dicotomia entre a razão eemoção
significatambém
o reconhecimento dos limitesda
ciência e a suaimpossibilidade de
um
dia estar pronta e acabada, até porque nas ciências sóhá
conclusões transitórias,que
seconstroem
e se reconstroemnuma
permanente
abertura.Nada
se encerra definitivamente e é a "totalidade"dessas
dimensões
que permite a construção deum
discurso decientificidade sui generis. Isto significa, entender a aventura científica,
conforme
aponta Kramer,como
"continuidade de rupturas, 'perpétua_ 7
constante
um
distanciamento entre as respostasque
a ciência está habilitada a dar e as novas questõesque
essas respostas provocarão.Apropriar-se destas reflexões é
um
processo complexo, pois cadadia
que
passao caminho
de "estar" pesquisadora vai se revelando e seenovelando ao
mesmo
tempo. Lidarcom
estas limitações, quevão
ficando
cada vez mais
evidentes, é algoque
assusta e até amedronta. Vale a penatambém
trazer algrms devaneios, queforam
registradosem
diferentesmomentos
de inquietude ao tentarcompreender
um
pouco
este papel depesquisadora.
Estranho é que
mesmo com
um
discurso que se pretende"dialético" e flexível, geralmente o pesquisador ingressa
na
investigação "seguro de si",com
um
olhararmado
em
suas verdades...Mas
do
que adiantatamanha
armadura, se a cada diaque
passa, as certezas, o olhar,vão sendo
absorvidos por muitas interrogações, desafios, medos,estranhezas,
que
se transformamem
novas reflexões? 'Digo
isso, porquena
verdade,um
medo
gigante de errar foiincorporado
em
todos nós e nos faz desejarsem
que o
percebamos, urnapesquisa linear,
que
confinne
as verdades estabelecidas, mantendo-nos noaconchego da
ilusão. Por isso, muitas vezes se prefereromper
com
estecaminho
repleto de des-caminhos, cheio de curvas, buracos, pedrinhasmiúdas que
atrapalham eprovocam
dores acada
passo.Japiassu
confirma
tais dificuldadesao
dizer que:"(...) o processo de estabelecimento de
uma
verdadefilosófica
ou
científica é infindável. Neste domínio, a evidência sópode
serum
engano ou
um
dogma.
E
a certeza sópode
ser credulidadeou
cegueira. Apoiar-senuma
verdadecomo
num
absoluto é realizaruma
censura cuja legitimidade
não
conseguimos fundamentar.Toda
verdade absoluta converte-seem
superego opressor e castrador,
vendo
em
todo erro8
a gênese
da
verdade residesempre
num
verdadeiroarrependimento intelectual, vale dizer,
no
lirnite dasilusões perdidas" .(1 981 :42)
SÓ
estandono
dia-a-dia,assumindo que
se está completamente “nu”, que o olhar antes focalizadonuma
mira determinada, aospoucos
vai sendo envolvido por
uma
paisagem de
incertezas.É
como
estarcontemplando o
mar, olhar seus contornos,ondas que
sãosempre
uma
surpresa,
algumas que
ameaçam
quebrarcom
toda força enão
quebram,formando
um
breve berçoque
embala. Outrasdão
a impressão de teremdesistido de
serem
ondas,mas
lána
beirinha, arrependidas, aindaprovocam
uma
pequena
ondulação, inesperada aos olhos dos banhistas,pequenos ou
idosos,que
a esperavam.Há
algumas que
arrebentam diantedos
olhos de todos e osengolem
com
voracidade, arrastando-os até a beirada
praia,onde 'ficam
desajeitadamentesem
ação.Da
mesma
forma,não
adianta querer interpretar a realidadecomo
se ela fosse repleta de verdades, cheia de "adições e subtrações"que
se poderia calcular.Japiassu corrobora esta perspectiva ao
afirmar
que,do
ponto de vista espistemológico, a categoria "verdade"sempre
apareceucomo:
"Ócimento de
toda e qualquer teoriado
conhecimento".E
prosseguedizendo que:
"
(...) o
fimdamental
em
nossos dias,não
é tantosubstituir essa categoria por outra,
mas
tomarconsciência de que
no
mundo
p1ural.emque
vivemos, simplesmentenão
existe mais verdade,mas
verdades.E
E,
assimmesmo,
por maisfilosóficas ou
científicasque
sejam,nunca
são dadas,mas
sempre
produzidas e elaboradas dentrode
um
contexto e deum
dinamismo
de processualidade.Em
outros termos,_
9
Montar
as "peçasde
um
quebra-cabeça",ou
melhor, organizar ospensamentos
que estãono
momento
fragmentados, desarticulados,enfim,
desembaçar
olhares viciados,não
éuma
tarefa fácil. Implica entrarem
conflito
com
algumas idéias, cujo sentidonem
aomenos
se sabeexatamente, o que desperta
uma
sensação de impotência, de achar quenão
se consegue sair
do
mesmo
lugar.i
No
terreno da pesquisa, ascaminhadas
oscilam duramente -há
momentos
em
quepredominam
a objetividade e a segurança emomentos
de
muita angústia, poishá
horasem
que
se acredita ter encontrado ocaminho,
mas
de repente, estecaminho toma-se
questionável, o olharmuda
eacabamos
por ficar“sem
chão”.Compreender
que o processo de conhecimento estáem
permanenteruptura e descontinuidade, e
que
ésempre
provisório e inacabado, éum
caminho
inseguro e dificil, cheio de curvas, de idas e vindas. Contudo, éimportante ressaltar que este processo
não impede
a possibilidade deconstrução
do
conhecimento.O
que
pretendi foi apenas reconhecer quetodo
o
saber é datado, é historicamente construído, ecomo
tal carrega aslimitações
do movimento
edo
próprio pesquisador, poiscomo
lembraBenjamim:
~
"(...) a história é o objeto de
uma
construçao cujolugar
não
étempo homogêneo
e vazio,mas
um
tempo
saturado de 'agoras' ".( apud, Kramer, I993: 33 )
Foi nesta perspectiva
que
busquei desenvolver esta investigação etratar os conceitos
que
estão contemplados nela,como
o de, família, decreche
e o lugarda
criança nestes doismundos.
Antes de tratar diretamente de tais conceitos 'faz-se, entretanto, necessário esclarecer o percurso
da
pesquisa e seus aspectos` ::‹ .:=:;
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(ll
grande
desafio
ao se realizaruma
pesquisaem
educaçãoestá
em
interrogar a realidade aiticuladamente e definir recursos metodológicosque
possam
aprofundar e construir explicações quepermitam
captar o real, levandoem
contavárias de suas dimensões e seu
movimento, de
modo
a evitar cairem
análises
que
resultemem
nada
maisque
"pseudo-soluções" e fragmentos.Consciente deste
desafio
e dos limitesque sempre
podem
advirnesta
aproximação do
real, optou-se por realizarum
estudode
caso, tendoem
vista que, sua finalidadenão
é a pesquisada
causalidade,mas
acompreensão
demn
caso particularem
sua complexidade.De
acordocom
Stake, "a iinportância de algumas conclusões,ou
resultados
não
dependem
da
possibilidade de generalizá-la auma
população
(conjunto) de casos, o casopode
também
não serrepresentativo,
mas
o estudo aprofundado deum
problema
escolar localpode
ser iluminativo, isto é, esclarecedor, para os educadores em_outras escolas eem
outros países". (apud, Rabitti, 1994: p.XXXVII).
Este tipode pesquisa, por vezes considerado
como
"menos
ambicioso", devecontudo ser reconhecido
como
um
doscaminhos
férteis e maisconseqüentes
em
termos de subsídios para refletir e intervirna
realidade.Neste
sentido, para Stake, pode-se falarda
possibilidade degeneralização,
na medida
quenão
se tratada
"generalização científica", constituída e organizada atravésda
experimentação e da indução. Estedefine o
“estudo de casocomo
“generalização naturalística°,onde o
pesquisador primeiro e o leitor sucessivamente, encontram analogias e diferenças relativas a sua própria experiência.
E
como
experiências epessoas são diferentes, as generalizações
também podem
sê-lo, razão pela qual seimpõe
a necessidade de,no
relato, fornecerum
material rico e particularizado”. (apud, Rabitti,1994
p.XIX
-XX).
_12
Foi nesta perspectiva que optei por realizar a pesquisa
numa
abordagem
qualitativa, restringindo a abrangênciado
universognalisagloem
favordo
aproftmdamentoda
análise. _A
investigação foi desenvolvidaem uma
das creches daRede
Municipal de Florianópolis, tendo
em
vistaque
esta possuio maior
índicede
atendimentoem
educação infantilno
município,como também
pelo fatoda
trajetória profissional da pesquisadora situar-se nesta realidade.Os
instrumentos utilizadosforam observações
e entrevistas semi- dirigidas de caráter individual.As
observações (roteirono
Anexo-1),tinham
por objetivo conhecerno
cotidiano, as relações existentes entre a creche e as famílias.Os
registros das observações
foram
concentradas semanalmente, nos períodosem
que
algum
dosmembros
das famílias das crianças aslevavam
ebuscavam.
Outrosmomentos
sederam
nas reuniões de pais e nas paradaspedagógicas. Procurou-se anotá-los
num
"diário decampo",
interferindoou
participandoo
mínimo
possível das situações observadas.A
entrevista se constituiunum
instrumento para obter infonnes atravésda
fala dos atores sociais.Não
se
tratava deuma
conversadespretensiosa e neutra,
uma
vez que
foi elaboradoum
roteiro de acordocom
oque
se pretendia investigar.Na
seleçãode
sujeitos, escolheu-se aquelesque pudessem
oferecerdados
significativos para o estudo.Foram
incluídos profissionaiscom
categorias diferenciadas - professoras, auxiliares
de
sala e equipe dedireção (todas
do
sexo feminino, pornão
haverhomens
atuando nareferida unidade)
além
de pais emães
das criançasque
utilizavam ainstituição2. '
2 No decorrer do trabalho todos os nomes são ficticios, sendo preservadas as funções originais das profissionais.
413
Vale salientar
que
se buscou,na
medida
do
possível, construir algims critérios baseadosna
diversidade,ou
seja, os recortesforam
feitosem
funçãoda
possibilidade de ver/analisar se as diferentes formas de constituição profissional, familiar, formação cultural e situação sócio-econômica, interferem
ou não
nas relações entre a creche e a família.No
decorrer
do
trabalho procurou-se identificar se haviaou não
diferenças significativas relacionadascom
estes aspectos.Neste sentido, as entrevistas
(com
10 famílias eO7
profissionais),tiveram
como
objetivo principal, conhecer e analisaro
entendimento dopapel que, tanto a creche
como
as famílias atribuemuma
à outra,em
relação à
educação
das crianças. Para facilitar a coleta, foi elaboradoum
pequeno
roteiro (Anexo-2),que
serviu apenascomo
apoio, demodo
queas intervenções
não
tolhessem a espontaneidade dos sujeitos' ei suasnarrativas.
Os
depoimentosforam
gravados e transcritos literalmente,buscando
preservar as expressões de cada entrevistado e os fatos relatadospelos “atores”, enquanto sujeitos-objeto, que vivenciavam
uma
determinada realidade
que
estava sendo focalizada.As
entrevistascom
as profissionaisforam
sendo realizadasconcomitantemente
com
as observações.Com
as famílias,foram
feitasapós o término das primeiras. Tal escolha se
deu
em
fimção
deuma
melhor
definição dos critérios, etambém
porque
as entrevistas seriamrealizadas a domicílio,
o
que implicou buscar horários de acordocom
a disponibilidade detempo
decada
família.Desta
fonna, algumas foramefetivadas
em
finais de semana, sendoque
apenas duas delas foramrealizadas
na
própria creche devido à faltade
um
horário disponível dasmães
entrevistadas.É
importante assinalar que,como
técnica complementar, organizou- seum
diário decampo
eum
pequeno
quadro geral dedados
de cada,z
. _14
profissional e de cada família. Neste diário
de
campo
foram
registradas descrições e observações sobre as situações de entrevista, sobre osinformantes,
bem
como
sobre os relacionamentos estabelecidos e os locaisonde
se realizaram os encontros.Nele
também
constam
devaneios,emoções
da
descobertaque
"eu" faziado
"outro",que
pertence aum
mundo
social concretomas
que, de certa fonna,refletem
também
minha
própria história de vida, antes
como
criança,ontem
como
profissional decreche e hoje
no
lugar de pesquisadora.As
análises dosdados
foi sendoempreendida
durante o trabalho decampo
e a coletado
material, o que pennitiumodificações no
decorrerdo
processo,
provocados
pelo contatocom
a realidade vivida pelos sujeitos.Segundo
Frigotto:'
"A
análise dos dados representa o esforço
do
investigador de estabelecer as conexões, mediações e contradições dos fatosque
constituem a problemática pesquisada.Mediante
este traballio,vão
se identificando as determinações fundamentais e secundáriasdo
problema.É
no
trabalho de análise quese
busca
superar a percepção imediata, as impressõesprimeiras, a análise
mecânica
e empiricista, passando- se assimdo
plano pseudo-concreto ao concreto que expressa o conhecimento apreendido da realidade" (199l:89).Nesta
perspectiva, a flexibilidadedo
esquema
de
trabalho foium
aspecto detemiinante
na
escolhado
método, jáque
pennitiaum
trânsitoconstante entre a observação e a análise, entre a teoria e a realidade, possibilitando a ampliação e
emiquecimento
das reflexões teóricas.'
No
desenvolvimento desta investigaçãonão
se pretendeutransformar os
dados
obtidosem
conceitos generalizantes,nem
adaptá-losmeramente
a grades conceituais pré-existentes,mas
promover
a15
Nesse
sentido, osfenômenos
e processos singularesforam
abordadoscomo
partede
uma
totalidademaior
que os detennina e que é,em
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3.1-
A
rede municipal
de
ensino e
o
atendimento
à
população de
0
a
6
Anos
tuahnente são diversas as fontes que
permitem
traçarum
panorama
sobre asituação
da
população de 0 a 6 anosno
Brasil,
em
seus Estados e Municípios.Apesar
de ainda existirem problemas nas coletas realizadas nacionalmente,
sobretudo quanto à delimitação
da
faixa etária e tipos de serviçoseducacionais formais e
não
fonnais, já sepode
ter claros indicativos daatuação
da
educação nesta população específica.Segundo
o relatório de pesquisafi deRocha
e Silva Filho,além
doslevantamentos realizados pela
PNAD4
em
1989, e fundamentahnente peloCenso
Demográfico
de 1991do
IBGE,
é possível contarcom
oslevantamentos
do
próprio Ministério deEducação
(Serviço de Estatísticas)realizado via
Censo
Educacional. Este último, "quetambém
apresentaproblemas
por basear suas fontes apenas nos serviços consideradosformais,
ou
seja, pertencentes aos sistemas de ensino,pode
ser usadocomo
referencial para efeitosde
cruzamento ecomplementação
deinformações". (1995 114)
`
No
que
diz respeito à população de 0 a 6 anosem
Santa Catarina, oúltimo censo (ano 1991) atingia
15,5%
da
população totaldo
Estado (4.541.994),ou
seja, cerca de704 000
crianças.3 Relatório de Pesquisa do Núcleo de Estudos da Educação de 0 a 6 anos - " Creches e Pré-escolas:
Diagnóstico das Instituições Educativas de 0 a 6 anos em Florianópolis", CED/UF SC, dez. 1995. 4 Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar
18
O
próprioPNAD
(1989) mostracomo
o modesto
crescimento derenda
do
paísna
década de80
e sua distribuição desigual, teveconsequências prejudiciais à população, principalmente às crianças e
adolescentes,
que
em
1990 atingiam indicesde 58,2%,
em
situação, depobreza.
"Os
resultados desta situação depobreza
têm
efeito direto sobrea vida das crianças nos seus aspectos mais fundamentais: saúde, nutrição e
educação". (apud.
Rocha
e Silva Filho, 1995: 15).Nesta
mesma
década de 80, o atendimento a crianças de 0 a 6 anossofreu
uma
expansão que alcançounão mais
de17%
delas freqüentandoalguma
crecheou
pré-escola,com
níveis bastante diferenciados para cadauma
das modalidades:5%
de 0 a 3 anos e32%
das crianças de 4 a 6 anos(em
1982
o índice era de2,3%
e24,9%,
respectivamente). Vale aindaressaltar que, até 1989, além deste reduzido atendimento,
eram
as famíliasde maior
renda asque
mais tinham acesso e freqüentavam as creches epré-escolas
no
Brasil.É. importante observar ainda que,
em
relação à situação geral,quanto maiores as crianças, maiores são os índices de atendimento.
No
nível nacional, as
denominadas
pré-escolas (queantecedem
a la. sériedo
1o. grau),chegam
a atenderem
média
mais de50%
da
população de 5 a 6anos de idade. Já
em
Santa Catarina,numa
estimativa de cerca de 701.693crianças
na
faixa de 0 a 6 anos,22,23%
(155 .954)da
população estavana
unidade infantil
em
1994, (apud,Rocha
e Silva Filho, 1995116); sendo que destas,47,64%
(200.244)possuíam
entre 5 a 6 anos.Vale
salientar que o município de Florianópolis é a capitaldo
paísque
apresenta a maior taxa de atendimento à população infantil de 0 a 6anos
de
idade -40,04%, ou
seja, das 34.090 criançasda
capital, 13.651estão matriculadas
em
alguma
instituição. Entre as crianças de 5 a 6 anos,66,58%
(10.027), estãona
pré-escola de acordocom
o
MEC/CPS/SEEC
19
O
censo de 1991 apresentou os seguintesdados
sobre a:População de
0
a 6anos no Município de
Florianópolis:IDADE;
OANOS
IANO
ZANOS 3ANOS 4ANOS 5ANOS'6ANOS
TQTAL
§g§UL*'§§Ê2A 4.606 4.653 5.021 4.879 4.904 5.059 4.953 34.090
ETÁRIA
FONTE: IBGE/CENSO
1991A
tabelaque
segue mostra a relação entre ademanda
da
população infantilpor escolas e a oferta das
mesmas
no
município deF
lorianópolisígm: 2 `
9259
27,2705
7,6% 0,0% 2,5% 2,7% 0,9%
0,4%
zm;900
29,0Ê3505
35,40,0%
19,97,9% 6,0% 0,8%
az J> LDÊ
oä
of :'n< °°14931 43,8
8605
57,614,6%
26,75,7% 9,5% 0,3%
o o_2o
A
análise desta tabela evidenciauma
baixa cobertura,em
Florianópolis, (7,6%) à população de O a 2 anos, feita principahnente porescolas municipais e particulares (5,2%).
Este indice sobe bastante
em
relação à faixa etária de 2 a 4 anos(35,4%),
onde
a rede mtmicipal se sobressaicomo
a principal oferta(18,9%).
O
mesmo
ocorrecom
a população infantil de 4 a 6 anos,(57,6%),
na
qual amesma
rede se destacacom
26,7%
do
atendimento.De
acordocom
a tendência nacionalque
delega aos mimicípios aresponsabilidade pelo atendimento de crianças
com
idade entre zero a seisanos, a
Rede
Municipal atende, atuahnente,um
total deaproximadamente
4.583 crianças
em
duas modalidades de instituição educativa: Creches eNúcleos
deEducação
Infantil (NEI).A
creche caracteriza-se,primordiahnente pelo atendimento de crianças
na
faixa etária de zero aseis,
em
período integral.O
NEI,
ao contrário, atendeem
período parcial (períodos matutino e vespertino), preferencialmente crianças de quatro aseis anos.
No
total aRede
possui cinqüenta e sete unidades de educaçãoinfantil, das quais vinte e três
(40%)
sãodo
tipo creches.É
importante ressaltarque
tanto as Creches quanto os NEI's estãosob a coordenação administrativa
da
Secretaria Municipal de Educação.Tal
dado
tem
relevância pelo fato de que,no
âmbito nacional, esta não é aregra, sendo
comum
encontrara
creche vinculada às Secretarias deBem
Estar Social,da
Família,Promoção
Social e congêneres e a Qré-escola(instituição
da modalidade do
NEI)
vinculada às Secretarias de Educação.Segundo
Ostetto, "a dependência administrativa traz consigoimplicações de caráter
filosófico
e pedagógico para oencaminhamento do
trabalho
no
interiorda
instituição" (l995:O3),ou
seja, o fato das pré-escolas estarem ligadas às Secretarias de
Educação
caracteriza, até pelasua denominação,
um
espaçode
preparação para a escolarização regular. 5Dados quantitativos da Divisão de Educação Infantil - SME/PMP para 1996.21
Por
outro lado, a vinculação das creches às Secretarias decunho
socialsugere
uma
política educacional de caráter assistencialista.22
3.2.
O
Bairro
creche Arco-Írisfi,
onde
foi realizada esta pesquisa, se encontranum
determinadotempo
e espaço urbano que sesitua
no
bairroVerde Mar.
O
bairro possuiuma
distânciade
aproximadamente
12km
do
centro de Florianópolis,capital
do
Estado de Santa Catarina, e reúne pelomenos
trêsagrupamentos
sociais visivelmente distintos: os conjuntos habitacionaisconstruídos pela
COHAB
(Companhia
de Habitação) -Verde
Mar
quedeu
o
nome
ao bairro e ParqueCéu
Azul
e as casas situadas nosmorros
quecontomam
o bairro. ~Uma
questão se faz presente eopomma
para omomento
-Afinal, 0
que
é
um
bairro?Segundo
Leser,não
se trata deuma
questãomeramente
geográficaou
administrativa, pois:"envolve a 'fixação'
de
pessoasno imenso
tecidourbano,
quando
nem
as pessoas são 'fixas',mas
movimentam-se
todo otempo,
e aurbe
também
semodifica
permanentemente"(l990:
18).De
acordocom
esta autora, a resposta a esta pergtmtatem
que:"(...)
buscar
sua substânciamaior
no âmbito
dasrelações
dos
indivíduoscom
a coletividadepróxima,
no
lugarque
habitam,
compreendendo
oespaço
fisicoonde
estas, relaçõesocorrem
e,sobretudo, a
sua transformação
num
espaçosignificativo, a
apropriação
humana
desteespaço".(l990:18).
23
Pode-se, portanto, dizer
que não
se tratameramente
deuma
propriedade
mas
de algonada
uniformeou homogêneo,
e sim diverso.Para H. Lefebvre, trata-se do:
"
(...) processo pelo qual
um
indivíduoou
um
grupo seapropria, transforma
num
bem
próprio algiuna coisaexterior, de tal
modo
que
podemos
falar deum
tempo
ou
deum
espaço urbano apropriado pelo grupo quedeu forma
à cidade" (apud, Leser, revista Travessia,agosto 1990).
Segundo
os estudos realizado por Castells e Paulilo7, o conjuntoVerde Mar,
foi construídona década
de70
ecomeçou
a ser habitadoem
1980. Foi logo prejudicado por enchentes sucessivas
dada
à insuficiênciado
canal construído para darvazão
às águas das chuvas. Para as pesquisadoras, tais fatos e a distribuição de casascom
fins
especulativos,ocasionou a
venda
e o aluguel dasmesmas,
gerandomudanças
significativas
na composição
inicialdo
bairro.Assim
sendo, apesar deste conjimto ter sido planejado para famíliasque
recebiam de três a cinco salários mínimos, atuahnente sua rendamédia
é mais alta (1990:02).O
conjunto Habitacional ParqueCéu
Azul, depois de sua construção,ficou
4
anossem
serocupado
em
fimção
de muitos problemasde infra estrutura, o
que
fezcom
que suaocupação
só se desseno
inicio de1986.
As
casas situadasno morro
quecontomarn o
conjunto habitacionalVerde Mar, pertencem
aum
assentamento espontâneo, mais antigo queeste conjunto,
embora
mais precárioem
infra-estrutura, equipamentos e serviços.Às
margens da
antiga estrada, espinha dorsaldo
distrito, foram7 Este estudo, chamado "Prograrnas de Alimentação Popular:
A
visão dos usuários", é parte dorelatório final da pesquisa "Avaliação Econômica e Social dos Programas de Alimentação Popular na Região da Grande Florianópolis" - Boletim de Ciências Sociais do Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social e Sociologia Política, Departamento de Ciências Sociais, CFI-I - UFSC, (55/56)- janeiro a julho de 1990.
-24
se construindo casas esparsas, igrejas, escolas, vendas,
conformando
assim os típicos
povoados da
ilha.O
Conjunto Verde
Mar
O
bairro apresentauma
imagem
contrastante entre o Conjunto propriamente dito e as casasdo
morro. Castells e Pauliloapontam
que, "o primeirotem
uma
urbanização aprimorada: ruas todas pavimentadas eem
estado aceitável de conservação.As
casas,possuem
uma
área de42
ou 48
metros quadrados,
dependendo do
número
de
quartos e são feitas dematerial.
Os
lotespossuíam dimensões que
permitiram a localização daunidade
com
espaço suficiente para garantir: quintal, jardim ecrescimentos futuros" (1990:03). Atuahnente, quase todas as quatrocentos e trinta casas
do
conjunto jápassaram
poralguma
reformaou
crescimento,duplicando, às vezes, sua área.
No
que
diz respeito aosmoradores
deste Conjunto, verifica-seuma
frequência expressiva de trabalhadores ligados à administração pública eórgãos de segurança (motoristas de
govemo,
polícia militar...), sendomenos
expressivos os trabalhadoresautônomos
(barbeiro, mecânico...)ou
empregados
(balconistas, promotoresde
venda). Entretanto,também
existem algtms
desempregados
ou
aposentadoscom
baixos niveis derenda,
mas
estesnão
se constituemem
um
quadro referencialpredominante
no
bairro.Os
trabalhos infonnaisou
"bicos"também
sãouma
prática cominn.O
nível das reformas das casas,bem
como
aconstrução de garagens para carro
em
quase todos os casos deaumento da
área construída,