Dos
BANCOS
UNIVERSITÁRIOS
Aos
PÁTIOS
EscOI.AREs:
DA
FORMAÇÃO
INICIALÀ
PRÁTICA
PEDAGÓGICA Dos
PROFESSORES
DE
EDUCAÇÃO
I=ísIcAROGÉRIO OOSTA WUROIG
FLORIANÓPOLIS
-sc
Dos BANcos
uN|vERsiTÁR|os
Aos`PÁT|os Escoi.AREsz
DA
|=oR|v|AçÃo |N|ciAi.À
PRÁT|cA
PEDAGÓG|cA
Dos
PRoi=EssoREs
DE
EDucAçÃo
|=is|cARogério Costa Würdig
Dissertação apresentada
como
requisito parcial para obtenção do grau
de Mestre
em
Educação naUniversidade Federal de Santa
Catarina, sob a orientação da profa. Dra. Maria das Dores Daros.
i=i_oRiANÓPo|.|s -
so
PROGRAMA
DE
Pós-GRADUAÇÃQ
cuRso
DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
“D
os
BA
Ncos
UN1VERs1TÁR1os
A os
PÁT1os
EscoLA
RES.-da
formação
inicialà
práticapedagógica dos
professoresde
Educação
Física”.Dissertação submetida ao Colegiado
do
ÔÍÍr's'o de Mestrado
em
Educação do
Centrode Ciências da
Educação
em
cumprimentoparcial para a obtenção
do
título de Mestreem
Educação.APROVADO
PELA
COMISSÃO
EXAMINADORA
em
16/12/98Dra. Maria das Dores Daros (Orientadora)
~«ñ
Dra. Maria Isabei daCunha
éí/%'׿ff/"
Dr. Eienor
Kunz
‹Q4¬->,
Dra. Leda Scheibe (Suplente)
O _--P|"Ofl. Effl W” rm Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação CED/UFSC - Portaria 0464/GR/93 .
-
3
Ro
ério Costa Würdlggratidão o
tempo
em
que
convivemos juntos eque
certamente,marcou
aminha
história pessoal e profissional.À
Rita, amigaque
ajudou-me a ser rigoroso e disciplinado paracom
osmeus
estudossem
perder a paixão e alegriade
amar
as pessoasque
me
cercavam.
/
À
Solange,que
acompanhou
os primeiros escritos eque
me
ensinou aolhar para os lados, erguer a cabeça e lutar pela vida.
Aos amigos
Zinho e Verinha,que
carinhosamente nos receberamem
Florianópolis e
com
os quais compartilhei alegrias, tristezas, churrascos e muitos passeios na bela ilha.À
Cecília, Rosalba e Rosa, colegas que logo transformaram-seem
amigas e parceirasde
estudos,de
discussões,de
utopias ede
sentimentos.
4
À
amiga
Cecília Borges, pelas leituras iniciaise
pelos diálogos interurbanos.À
Bernadete, porme
ajudar a refletir sobre aminha
vida profissional epessoal.
Ao
meu
irmão Jairo, pelo incentivo e pela infraestrutura.À
minha
mãe, por terme
possibilitado estudar e por ter cedidocom
carinho, paciência e dedicação
um
espaçona sua
casa paraque
instalasse o computador, os livros, os papéis e o
meu
complicado jeito deAo
vô Bilau e à vó Regina,que
nos ajudaram a suportar a distância,que
cuidaram e
amaram
muitoa
minha turma e porquem
tenhoum
enorme
carinho.
Aos
professores da Práticade
Ensinodo
cursode
Pedagogiada
FaE/UFPel, pelo apoio
e
compreensão
durante às minhas ausências.Aos
professoresdo
Departamento de Ensinoda F
aE/UFPel, pelo apoioe
pela liberação
de
minhas atividades docentes.À
CristinaThomaz,
pela acolhida e pelo estímulo frente às dificuldades.À
Magda, que
entendeu omeu
pedido e elaborou o abstract.À
Zilda, bibliotecáriada
FaE/UFPeI,que
revisou as referênciasbibliográficas.
À
CAPES,
pelo apoio financeiro.À
Pro?
Dra. Maria dasDores
Daros, orientadora que,mesmo
à distância,mostrou-se atenta e disponível,
compreendendo
as minhas crises eincentivando-me a concluir a dissertação.
Às
duas professoras eao
professor, que abriram espaços nas suas vidaspara
que
essa pesquisa fosse realizadae que
cotidianamente vivem aen una
revistade
Moscú. Elpoder
burocrático, dice el autor,hace que
jamás
se encontren los actos, las palavrasy
/os pensamientos: los actosquedan en
el lugarde
trabajo, las palabrasen
las reunionese
lospensamientos
en
la almohada.Buena
partedela
fuerza delChe
Guevara, pienso, esa misteriosaenergia
que
vamucho
más
alláde su
muertey
sus errores, vienede un
hecho
muy
simple: él fue un raro tipoque
decía loque
pensaba
y
hacia loque
decía. .Eduardo
Galeano1.1
O
periodo anterior a formação inicial: as primeiras marcasda
docência ... ._
27
1.2
O
contextoda
formação inicial ... ._ 321.3
A
formaçãode
professoresde Educação
Física: da militarizaçãoàs escolas superiores
de Educação F
ísica ...33
1.4
O
curso universitário:uma
formaçãohomogênea?
... ._45
1.5
As
experiências mais marcantes: aulas, professores,dificuldades
e
relaçãocom
oespaço
escolar ... _.56
1.6
O
ingressono
curso e o direcionamento para o magistério ... ._72
2.
SEGUNDA
PARTE
-OS CONTEXTOS DA
FORMAÇÃO
CONTINUADA
... ._83
2.1
A
Educação
Fisica Escolar:acercando-me
dosaspectos históricos ... ._
85
2.2 Quatro estudos sobre a prática dos professores:
das tendências pedagógicas
ao
saber docente ... _. 1002.3
Duas
contribuições da sociologia:das facetas
da
prática aos contextosda
prática ... _. 1172.4
As
escolas públicas:uma
formação heterogênea? ... ._ 1312.5
As
experiências reveladas no exercícioda
docência ... ._ 1392.5.1
A
professora 1 ... _. 1392.5.2
A
professora 2 ... ._149
pensar a formação de professores" ... ._
compreender
como
os professores constroem as suas práticaspedagógicas articulando-as
com
a formação inicial.Tendo
como
referências principais
Gimeno
Sacristán (1991) e Perrenoud (1993) procuro discutir os aspectos presentes na formação inicial e na formaçãocontinuada,
tomando
como
elementos centrais as facetas da prática (arotina,
a
improvisação, a transposição didática e o tratamento dasdiferenças) e os contextos
da
prática ( base socialdo
professor, a função socialdo
professor, a indefiniçãoda
profissionalidade e as regulaçõestécnico-pedagógicas). Considerando as experiências e as situações
marcantes na formação inicial, a
opção
pelo magistério e pelaEducação
Física Escolare o
contextoda
formação continuada foi possívelcompreender
a organizaçãodo
trabalhodos
professores, caracterizaro
espaçoe
as condiçõesde
trabalho, identificar as rupturas e continuidadesem
relação a formação inicial e destacar os indicadores da prática pedagógicaque
podem
ser incorporadosna
formação inicial.through the articulation of such practices with their initial training.
Based
woinly on the work of Sacristán (1991) and Perrenoud (1993), l try todiscuss aspects of both initial
and
in-service training taking, as main topics, different aspects of teachers' practices (routines, improvising, didactic transpositionand
dealing with differences)and
the contexts ofpractice (teacher's social base, teacher's social role, professional
indefinition and techno-pedagogic regulations). Taking into consideration
their experiences and most significant situations during the initial training,
their option of becoming
a
techer, their option of working with PhysicalEducacion in schools,
and
context of their in-service training, itwas
possible to understand the
way
teachers organize their work. ltwas
alsopossible to duracterize their space and work conditions, to identify
continuities and discontinuities point out the indicators of the pedagogic
pratictice that can be incorporated into the initial training of Physical
formação e prática pedagógica - leva-me a mergulhar nas lembranças do
meu
próprio processode
formação de professorde Educação
Física, naminha
prática pedagógicano
magistériode
1° grau e na universidade,onde
trabalhocom
a formação inicial e continuadade
professores.Ao
ingressar na universidade,no
início dadécada
de 80(1983-1985), no curso
de Educação
Físicada
Universidade Federal dePelotas (UFPel), buscava
apenas
aprender a ensinar aEducação
Físicana escola, ser
um
professor “legai”,amigo
eque
seempenhasse
em
fazer os alunos aprenderem
sem
preconceitos e discriminações.Acredito
que
esta escolha foi muito motivada pelas minhasexperiências
com
um
grupode
colegasque jogavam
voleibol nos finaisde
semana, pela minha curtapassagem
pelo atletismo no 2° grau técnicona
Escola Técnica Federalde
Pelotas (ETFPel) e, fundamentalmente,por não ter aprendido a jogar nas aulas
de Educação
Física durante aminha trajetória escolar.
Esta simples e difícil intenção (de ser
um
professor legal) foiatropelada pelo contexto histórico-social pelo qual passava o Brasil. Este período foi muito marcante e definidor para a minha trajetória pessoal e
profissional. Aprendi
que
todo ato pedagógico éum
ato político eque
precisava
me
posicionar, falar, pensar, lutar.Não
podia ficar inerte dianteda
reorganização dos partidos políticos, dos movimentos populares,sindicais e estudantis
que
explodiam por todo país. Era preciso lutar pelo fim da ditadura militar, pela democracia, pelas eleições diretasem
todos os níveis e graus, pela liberdade ampla e irrestrita, pela justiça social eHavia
uma
constante articulação entre as greves, as passeatas, as manifestações, as reuniões, os debates, os seminários e asala
de
aulaonde
discutíamoscom
os professores a transformaçãoda
sociedade,da
universidade, da escola e da prática dos professores.Ao
tomar partido, optando pela
mudança,
passei a perceberque
a universidade era tão autoritária quanto a própria sociedade brasileira,ambas
eram
fruto domesmo
processo.Uma
não mudariasem
outra e aí foisendo
germinado o sonhode
serum
professor "revolucionário",engajado
e
comprometidocom
as transformações sociais,com
uma
novasociedade,
com uma
nova escola.Ao
questionar a estrutura social e as suas diferentesinstituições e
mecanismos
depropagação
da ideologia dominantenão
podíamos
deixar de questionara Educação
Física, a sua história,a
prática até então desenvolvida pelos professores nas escolas, o curso
de
formação e seus respectivos professores. Este foium
momento
de
intensa contestação, de muitas dúvidas e poucos caminhos diferentes
do
até então estabelecido.As
críticas atingiamuma
dimensãomacro no que
se refereà
sociedade capitalistae
a sua organização iniusta,discriminadora, classista, opressora e excludente,
bem
como
uma
dimensão
micro, noque
se refereà
escola, à sala de aula, à práticapedagógica
do
professor.Em
relação àEducação
Física havia a visão deque
a suaprática era mecanicista, robotizada, repetitiva, autoritária, tecnicista, dualista, comportamentalista, esportivizada, discriminadora, seletiva e
excludente. Diante de tantas criticas era bastante difícil construir
elementos
que fundamentassem
uma
nova prática para aEducação
Física Escolar. Dentre os professores
do
curso de Licenciatura Plenaem
Educação
Física e Técnico Desportivo poucosousavam
pensar e agirdiferentemente durante as suas aulas. Havia
uma
ausênciade
livros,de
artigos,de
revistas e pesquisasque
indicassem novos caminhos, novasA
formação esportivizada eeminentemente
técnica, distanteda realidade escolar, acrítica e descontextualizada, frágil teoricamente e
excessivamente centrada
na
performance eno
rendimento atléticoacentuava as contradições entre a teoria e a prática, entre a universidade e a escola, entre o professor e
o
técnico, entre o aluno e o atleta.Para ser
um
professor deEducação
Física era precisopraticar muito, executar
com
perfeição as provas atléticas, memorizar asregras dos desportos, demonstrar os
fundamentos
pedagógicos para padronizar os gestos e corrigir os prováveis erros.A
reflexão acercado
papel do professor
na
escola eda
sua contribuiçãona
formação dosalunos diante
de
uma
sociedadede
acentuadas contradições e imensosconflitos sociais era
quase
inexistente.Agindo pela pressão
do
contexto fuibuscando
ampliarmeus
horizontes e
me
envolvicom
osmovimentos
dos estudantes deEducação
Fisica a nível estadual e nacional. Esta foiuma
daspossibilidades
de
ter acessoao
que
estavasendo
produzido epensado
no
resto do pais. Tinhasede de
ler, discutire
entender a história daEducação
Fisica para'compreender
a prática dos professores.O
contexto da formação inicial foium
dos determinantesda
minha práticapedagógica na escola.
Com
tantas informações e idealizações necessitavada
prática, de provar para os
meus
professores formadoresque
poderia agirdiferente
com
osmeus
alunos . Para tanto, duranteo
curto periodoque
estive na universidade,
pude
exercera
docência antesdo
estágio final,ao
participar de três projetosde
extensão,sendo
doisna
escola eum
numa
associaçãode
moradores.Da
primeira experiência docente realizadanuma
escolaassistencial, na periferia
da
cidadede
Pelotas - RS, guardo algumasmais marcante
é
de que
não podia ser autoritário, precisava respeitar edialogar
com
os alunos.Além
dissonão
deveria ensinar o movimento padronizadodo
desporto e sim favorecer o movimento espontâneo,criativo. Havia
uma
forte ligação entre a padronização do gestos, oaperfeiçoamento
dos
movimentos euma
postura autoritária edisciplinadora
do
professor. Opor-se a isso significaria buscaruma
~
educaçao
mais democrática.Na
segunda
experiência realizada junto às associações de moradores e entidades comunitáriaspude
trabalharcom
as classespopulares através
do
Programa Esporte para Todos. Apesar deste serum
projeto financiado pelo Ministérioda Educação
e Cultura ecom
nítidocaráter assistencialista, procurávamos superar essa intenção e
conscientizar as
pessoas
da necessidadede
reivindicarem seus direitos(moradia, educação,
saneamento
e lazer). Esta foi a primeira experiênciacom
educação
popular a qual permitiu-me tomar contato e passar a ler,ainda
que
superficialmente, Paulo Freire e Carlos Rogrigues Brandão1.Conscientização, participação e democratização
eram
as palavrascentrais
do nosso
trabalho.Da
convivênciacom
esse grupo ecom
oprofessor coordenador
do
projeto incorporei os princípios desolidariedade,
de
justiça social,de
comprometimento políticocom
as classes populares,de
liberdade ede
democracia social.Na
terceira experiência, no últimoano do
curso, retorneiao
ambiente escolar, só
que
agoranuma
escolada
rede municipal deensino, nas séries iniciais através
da
Psicomotricidadez. Acreditávamosque
a soluçãoda Educação
Física na escola era auxiliar naAlfabetização, através
da
Psicomotricidade, desenvolvendo algumas das noções necessárias para a aprendizagemda
leitura e da escrita. Era1 Na época estes eram os autores que trabalhavam com Educação Popular e eram respeitados no meio acadêmico. Mas suas experiências estavam mais restritas ao espaço extra-escolar porque a
escola ainda estava fechada para o desenvolvimento destas propostas.
preciso trabalhar o corpo, vencer a concepção dualista
de
homem
etrabalhar de forma integral. Espontaneidade, criatividade, não-
diretividade e possibilitar
o
brincar livre ede
forma natural foram incorporadoscomo
elementos necessários à práticado
professor.Quando
chegueina
Práticade
Ensino tinhaacumulado
algumas
experiênciasque
poderiam auxiliar nomomento
consideradodecisivo
do
curso. Era no estágioque
provaríamos ter aprendido a serprofessor de
Educação
Fisica.Mas
qual professor?Com
que
perspectiva?
Como
atuarianuma
escola tendoque
desenvolver osconteúdos, relacionar-me
com
os alunos, apresentar asminhas
idéias,valores e visão de mundo,
de
sociedade,de
homem
e de Educação
F
ísica?Esta experiência permitiu-me, de certa forma, fazer algumas
modificações
em
relaçãoao
tratamentocom
os alunos,com
osconteúdos e
com
a formade
abordar aEducação
Fisica na escola.Buscava
respeita-los, incentivando a participaçãode
todos,questionando as discriminações, valorizando suas experiências
anteriores, discutindo as diferenças e procurando desenvolver a
criatividade através da expressão corporal e da sensibilização e o
desporto
de
forma mais lúdica emenos
competitiva. Dialogarcom
osalunos tornou-se fundamental, pois isto significava não ser autoritário.
Ao mesmo
tempo
em
que
propunhauma
outra formade
ensinar aEducação
Física na escola, devia cumprircom
o ritual formal ede
nítida conotação tecnicista do estágioque
enfatizava a separaçãoentre a forma e conteúdo, valorizando muito mais a forma.
Tudo
era controlado: o rigido planode
aulacom
os objetivos comportamentais, adivisão da aula
em
temposque
deveriam ser cumpridosa
risca,a
corretaordem de
desenvolvimento dos exercícios, a explicação, ademonstração, a execução e a correção do movimentos.
O
perfildo
controlar os alunos
e
fazê-los executarem os movimentos padronizadosdos desportos.
A
ênfase era no rendimento esportivo, na performancemotora.
A
lenteque
enxergava os estagiários ainda estava muito ligadano modelo
de técnico desportivo enão
node
professor.Após
concluir o cursopude
identificar algumas das suaslacunas.
Uma
delas era a ausênciada
pesquisa. Era restrito o acesso àspesquisas e as experiências produzidas
no
paísque apontassem
novasperspectivas para a prática do professor na escola que
superassem
omodelo
tecnicistade Educação
Fisica.Além
dissocomo
não
pesquisávamos,
quase
não ficaram registros destas experiências produzidasao
longodo
curso. Estas experiências poderiam ter fornecidoindicadores para a prática pedagógica
do
professor.E
mesmo
vivendo asexperiências intensamente, não
conseguíamos
teorizar sobre o ocorrido.Creio
que
nem
tínhamos elementos para tal atitude. ~Avalio
que
a minha formação profissional foi ricaem
debates, discussões e idealizações,
mas
muito pobreem
possibilidadesde
prática pedagógica. Faltram estudos mais sistemáticos, registros regulares e altemativasque
norteassem a práticaque
iríamos realizar naescola. Havia
uma
expectativaem
relaçäo aoque
realmenteenfrentaríamos
ao
trabalharmos na escola, diante das complicadascondições
de
trabalho dos professores. Possivelmente essa lacunaé que
tenha impulsionado-me a pesquisarcomo
os professores que viveramessa
formação inicial e tiveram determinadas experiências,puderam
concretizar as suas práticas.Entre
1986
e 1991, periodoque
antecede a minha entradacomo
professorna
Universidade Federalde
Pelotas (UFPEL), passei a exercer profissionalmente a docência.Em
1986, enquanto especializava-me em
Educação
Psicomotora na Escola Superiorde Educaçäo
Físicada
Universidade Federal do RioGrande do
Sul(ESEF-UFRGS)
comeceiEducação
Física ser considerada maisum
atrativo parachamar
os paisna perspectiva da
educação
integral enquanto objetivo daPsicomotricidade
pude
ver omeu
trabalho valorizado pela direção daescola e pelos colegas de trabalho.
Discursava e agia
em
buscade
uma
relação aberta,democrática, afetiva, carinhosa
que
permitisse a valorização edesenvolvimento dos movimentos espontâneos e naturais,
da
criatividade.A
Educação
Física deixavade
lado o rendimento, o gestotécnico para dar lugar a brincadeira,
ao
teatro,ao
movimento expressivo,ao movimentos
naturais. Era preciso brincarcom
as crianças, deixá-las fazer descobertas por si próprias,uma
grande influênciado
não-diretivismo de Rogers3,
bem
como
de
Le Bouch4. Este sucesso na formade
encaminhar a prática exigia muito estudo e despertava muitosconflitos, pois havia a necessidade
de
cada vez mais fundamentar aquiloque
eu fazia. Havia ofantasmado
esteriótipo do professorde
Educação
Física
que não
pensa, não estuda,que
larga os alunos no pátioe
que
sótem
músculos na cabeça.No
entantoquando
isto foisendo amenizado
com
os constantes encontroscom
colegasque estudavam
e trabalhavamna pré-escola, surgiu o primeiro
embate
com
a direção da escolano que
3 Carl Rogers defende uma educação não-diretiva, centrada no aluno, preocupada com o
processo e não com o produto.
O
professor enquantoum
facilitador deveria criar uma ambienteque possibilitasse a aprendizagem significativa, dentro de
um
clima de confiança, respeito aoslimites pessoais, de incentivo a livre expressão e a participação ativa do aluno. Nessa perspectiva
como não cabia ao professor julgar os alunos e sim compreendê-los, estes fariam uma auto- avaliação da sua própria aprendizagem.
O
pensamento do autor defensor de idéias liberais pode ser encontrado nos livros Liberdade para Aprender (1978) e Tomar-se Pessoa (1980). Na Educação Física uma das obras que mais se identifica com Rogers é Educação Física Humanistade Vitor Marinho de Oliveira (1985).
4 Le Boulch foi
um
dos autores que mais difimdiu a Psicomotrocidade no Brasil durante a década de 70 e 80. Ao tecer uma crítica ao dualismo da Educação Física, ao rendimento motorea especialização do gesto apresentava uma proposta de Educação pelo movimento que, associada a outras técnicas pedagógicas, poderia favorecer a aprendizagem da leitura e da escrita ( tarefas
fundamentais da escola), para evitar possiveis distúrbios (dislalia e disgrafia). Ao seguir o desenvolvimento psicomotor da criança procurava favorecer a questão central da personalidade:
o esquema corporal. Propimha através de
um
trabalho não diretivo valorizar as experiência individuais e de grupo e a livre expressão afim
de tomar a aprendizagem significativa. Dentreas obras de Le Boulch destacam-se
O
Desenvolvimento Psicomotor (1982) eA
Educação pelose referia aos salários
pagos
aos professores eao
movimentode
sindicalização.
A
corda rebentou no lado mais fraco epude
compreender a relação desiguale
opressora entre patrãoe
empregado, entre oprofessor e o
dono da
escola. Aquicomeçou
a surgiu a idéia do contexto escolar e das condiçõesde
trabalhocomo
outro determinante da práticae isto eu
não
havia aprendido na universidade.Entre
1987
e 1991 exerci a docênciano
magistério público municipal e estadual. Finalmente haviachegado na
escola pública, localque
havia optado por trabalhar ecom
o qual sentia~me muitocomprometido. Neste
espaço
estudavam os filhos das classestrabalhadoras
com
as quais identificava-mee
voltariao
meu
trabalho, ouseja, para os excluídos e oprimidos da sociedade capitalista brasileira.
lniciei o trabalho após ter apresentado
uma
proposta àSecretaria Municipal
de
Educação, no municípiode
Capão
doLeão
(próximoao
municípiode
Pelotas). Aprendi a registrar as minhas aulas e a fazer observações reflexivas.O
alvo inicial foram os alunos, pois erapreciso ensiná-los
a
convivercom
mais liberdade,sem
rigideze
autoritarismo. Istonão
foinada
fácil diantede
um
grupode
professoresbastante tradicionais
e
um
tanto quanto presos as suas práticas jáconsolidadas.
Em
relação àEducação
Física a tarefa parecia mais difícil jáque
apresentavauma
aulaonde
todos deveriam jogare
se movimentar,onde ninguém
poderia ser desrespeitado eque
cadaum
tinhaexperiências diferentes
e
mesmo
assim poderiam aprender.A
tarefade
desfazer posições e valores cristalizados
que
favorecem a discriminação,a
comparação e
a seleção, diante deuma
sociedadeque
reforça esta perspectiva, pareciaquase
impossível.Com
o passardo
tempo, já no magistério público estadualno município
de
Pelotas - RS, fui investindo nos colegas tanto dacoletivo representava a possibilidade de atingir
um
grupo maiorde
professores e alunos.Ao
tomar posição nas reuniõesda
escola eao
trazer situações
da
minha prática pedagógica para o grupode
professores fuisendo
mais respeitado, ouvido eacompanhado
em
muitas das ações desenvolvidas na escola.A
cada espaço surgido na escola procurava discutir a minha prática e dividir as minhas angústias.Nem
sempre
isso tinhauma
resposta positiva,mas
não desanimava.Uma
das primeiras coisasque
foram repensadas na escolafoi a separação entre sexos nas aulas
de Educação
Fisica. Procureidiscutir
com
os professores e a direção da escola sobre a necessidadede
rompercom
essa perspectiva discriminadora. Defendiaque essa
postura fortalecia
uma
concepção
deEducação
Física esportivizada,que
buscava rendimento e performance motora e que atribuia
ao
homem
maior capacidade , contribuindo para fortalecer a idéia
de
inferioridadena
mulher. Este eraum
conceito culturalmente construído eque
precisava ser revisto dentrode
uma
nova perspectivade educação e de
sociedade.A
cada
início deano
deparava-mecom
a dificuldadede
estabelecer os conteúdos, de organizá-los dentro
de
uma
propostaalternativa.
O
desporto continuavasendo
prioridade e muitas reuniões ediscussões foram desenvolvidas
com
os alunos para decidirmos osconteúdos.
Não
era possivel trabalhar deum
só jeito.Ao
decidircom
osalunos o
andamento da
disciplina encontrava muita dificuldade para serrespeitado e compreendido.
Como
não queria ser autoritário,acabava
por angustiar-mecom
as indecisões,com
a ausênciade
limites ecom
aquestão da disciplina. '
A
disciplina foi tão presenteque
viroutema da minha
monografia
de
especializaçãono
cursode
Pós-graduaçãoem
Educação
na Faculdade
de Educação da
Universidade Federalde
Pelotas -Esta monografia permitiu-me refletir
com
maior profundidade a minhaprópria prática pedagógica, tendo
como
contexto a escola na qualtrabalhava
e
as práticas desenvolvidas pelos professores - colegas detrabalho. Esta foi a primeira tentativa de fazer
uma
pesquisa, aindaque
bastante limitada diante das circunstâncias colocadas naquele momento.Cabe
falarque a busca
pelo Pós-graduaçãoem
Educação,na
área do ensino, foiuma
das
formas encontradas parame
aproximarteoricamente
de
todauma
discussão sobreeducação que
ocorria naFaculdade
de Educação e não
na Escola Superiorde Educação
Física(ESEF). Neste curso fui estudar filosofia, antropologia, sociologia,
história da educação, teorias
do
ensino e do conhecimento.Na
verdade,fui procurar aquilo
que não
foi ofertado pelomeu
cursode
formação inicial.Enquanto trabalhava e estudava fui
amadurecendo
ecompreendendo
o quanto se acentuava a desvalorizaçãoda
profissãodocente, o quanto tornava-se dificil implementar
mudanças na
práticapedagógica
sem
pensar nasmudanças
mais amplas.Cada
vez mais educação, economia, politica, cultura estavam mais imbricadas. Salários baixos, muitas aulas e'pouco
tempo de
estudo não favoreciam a reflexãosobre a prática.
Nunca
esquecique
era preciso continuar participando de congressosque
me
permitissem discutircom
outras pessoas, trocarinformações, conhecer
como
os outros faziam suas práticas, quais asdificuldades e quais as alternativas para
a Educação
Físicana
escola.Na
maioria dos encontros aEducação
Fisica tecnicista, mecanicista eautoritária era duramente criticada e poucas experiências inovadoras
apresentadas. Havia
sempre
a dúvida de qual trabalho estava, afinal,desenvolvendo. Faltava mais estudo, mais esclarecimento, mais
tempo
Afinal,
o que
os
professores faziamnas escolas?
Como
faziam?
De que
forma?
Tinham
conseguido
construiralgumas
altemativas?
O
que
pensavam
sobre as
suas
práticas?Como
organizavam o seu
trabalho?Quais
as contribuições eos
limitesda
formação
inicialna
práticapedagógica?
As
novas propostas,quando
surgiam, não tinham muito econa
Escola Superiorde Educação
Física, na Secretaria Municipalde
Educação (SME)
e na Sa Delegacia de Ensino (DE). Aindapredominava
na
universidadeuma
formação mais técnica.Poucos
pesquisavam sobrea prática dos professores e a nível
de
SME
e 5aDE
não
havia preocupaçãoem
discutiruma
proposta curricular paraEducação
Física,apesar
de
já haver sido desenvolvidoem
outros estadosalgumas
experiências nesse sentido (por exemplo:Pernambuco
eSão
Paulo).Em
1991, duranteuma
longa greve do magistério público estadual, prestei concurso e ingressei na Universidade para trabalharna
Faculdade Educação, no Departamento
de
Ensino.Assumi
aresponsabilidade pelas disciplinas
de
Metodologia do Ensinode
1°e
2°graus e Prática de Ensino de 1° e 2° graus no curso de Licenciatura
Plena
em
Educação
Física.Além
dessastambém
assumi,num
primeiromomento,
a disciplinade
Metodologiade Educação
Física no cursode
Pedagogia e, posteriormente, passeia
trabalharcom
uma
equipe interdisciplinarde
professoresna
Prática de Ensino de 1° grau - SérieIniciais no curso
de
Pedagogia.A
minha entrada na universidade foi motivada pelapossibilidade
de
trabalharcom
a formação inicial e continuadade
professores, pelo espaço de estudos permanentes (mestrado, projeto
de
pesquisa e extensão) e pelas melhores condições de trabalho e melhor
salário.
A
mudança
do magistériode
1° grau para o magistériode
3° graufoi muito impactante.
Ao
mesmo
tempo
em
que
se
abriamnovas
O
maior impacto ocorreu no curso de Licenciaturaem
Educação
Fisica e Técnico Desportivo para qual retornava, após6
anosafastado,
na
qualidadede
professorda
disciplinade
Práticade
Ensino(2° semestre de 1991). Este
começo
foi turbulentoem
funçãoda
grevedo
professores universitários e dos professores estaduais, da(re)organização da Prática
de
Ensino, das primeiras aproximaçõescom
os professores da
ESEF
e das intensas divergências mantidascom
osestagiários
em
relaçãoao
curso, àconcepção
de Educ-:ação Física e as suas práticas desenvolvidas nas escolas públicas.Iniciei esse trabalho muito solitário e
pouco
aberto para opensamento
divergente tantoem
relação aos alunos,como
em
relação aprofessora
da
ESEF
que
também
trabalhava comigo na Práticade
Ensino.
Aos
poucos, fuipercebendo
que
era preciso entender a formação inicial destes alunos, as suas experiências anteriorescom
aEducação
Fisica, as suas expectativas quantoao
curso, a permanênciapredominante do enfoque técnico-esportivo centrado na aprendizagem
do
gesto motor difundido pela maioria dos professores daESEF,
aausência
da
escola na formação profissional, o desconhecimento daspropostas mais criticas para o ensino
da Educação
Física Escolar, oconhecimento superficial acerca
da
história daEducação
Física,uma
grande ingenuidade e, talvez,
um
pensamento de
sensocomum
sobre oser professor, a profissão docente, suas condições de trabalho e salários
diante
do
papel social da escolana
sociedade capitalista brasileira.Além
disso passei a valorizar a experiência de trabalho dessa professora
da
ESEF
que, posteriormente, seriauma
das grandes parceiras defensorasdo espaço da
escola e do professor no cursode
licenciatura.Acrescido a tudo isso havia
um
desinteresse pelo trabalhona escola e todo
um
direcionamentodo
Curso, dos professores ede
uma
grande parcela de alunos pelo
espaço não
formalda
academia, dosclubes, das clínicas, do treinamento.
O
estágio, no final do curso, eramecânica)
numa
escolacom
uma
turmade
alunos. Era só aplicarumas
“aulinhas” e concluir o curso. Diante disso procuramos construir
uma
outra perspectiva
de
Práticade
Ensino,que
superasse a idéiade
uma
prática desprovida de fundamento ede
reflexão eque
não fosse a soluçãode
todos os problemas dos curso.Nos
semestres seguintes passei a articular as disciplinas deMetodologia
do
Ensino e Prática de Ensino, tendocomo
referênciacentral a análise, a compreensão, a reflexão
da
prática concreta desenvolvida pelos professores na rede escolar. Prática, esta,que
énão
desprovida
de
intenções,de
valores, de idéias, contradições e conflitos.Para levar adiante tal proposta procurei aproximar os alunos dos
professores através
de
encontros,de
debates, de observações das suasaulas. Era fundamental trazer a prática escolar
permanentemente
paradentro
da
universidade e,ao
mesmo
tempo, instrumentalizar os alunospara
que
pudessem
compreender
a dinâmica das práticas, as suasdeterminações
e
inter-relaçõescom
a estrutura social. lsto implicavaem
estudar,em
pesquisar,em
debater,em
posicionar-se,em
produzir textos,painéis
que
poderiam favoreceruma
postura critica e levantar possibilidadesde
trabalhocom
aEducação F
ísica.O
desenvolvimento destas duas disciplinas foi consolidadocom
a construçãode
um
projeto de ensino paraEducação
Fisicaque
iniciava na Metodologia
do
Ensino e terminava, provisoriamente naPrática de Ensino.
A
origem deste projeto surgiudo
contatocom
osprofessores
que atuavam
na rede pública envolvidoscom
a Práticade
Ensino
que
tinham dificuldadede
sistematizaruma
proposta de ensinocoerente
com
a sua prática pedagógica.A
grande maioria haviaconcluído o curso
sem
uma
instrumentalizaçáoque
os possibilitassemsubstituir o formal planejamento.
A
idéia do projeto poderia auxiliar na reflexão sobre asistematizassem os conhecimentos construídos
ao
longodo
semestre parauma
situação a ser vivida na escola durante a prática de ensino e na sua vida profissional.Os
projetos,dependendo das
circunstâncias,eram
organizados individualmente e coletivamente, sendo, às vezes,apresentados pelos alunos
e
debatidoscom
os professores nas escolascampo
de estágio.Nem
todos os alunos perseguiam o projeto, pois esteseram
direcionadores enão
“enjauladores”. "Contudo é bastante difícil inverter a lógica linear da
formação tradicional a
que
os alunos são submetidosao
longo do curso.Romper
com
a idéiado
conhecimento prontoe acabado que
deve sermemorizado
e depois devolvidonum
únicomomento
- descolado dassituações concretas vividas pelos professores - exigiu
algumas
opções eestratégias
que
foramsendo
decididas e descobertasao
longo da minhacaminhada
enquanto professor.Ao
mesmo
tempo que
buscava "inserir"a
realidade escolarna
realidade acadêmicada
universidade e vice-versa, preocupava-mecom
as sistematizações dos conhecimentos ecom
a reflexão teóricaacerca
do
que
estava produzido na salade
aula.Os
alunosao
teremque
produzir
um
texto coerente, consistente, problematizador e fundamentado teoricamente,expressavam
o quanto ainda estava ligadosna
mera
reproduçãodo
conhecimento, consideradocomo
inquestionável.Sentiam dificuldades de expressar os seus pensamentos, de se
posicionarem e
de
falarem, muitas vezes, pelonão
exercício destashabilidades
ao
longo das suas vidas,bem
como
por receiode
seoporem
a
proposta defendida pormim
na
sala de aula, nos corredores, nasreuniões, nos intervalos.
Durante e ao final
do
semestre letivo procurava realizaravaliações da minha prática,
da
formacomo
encaminhava
as aulas, decomo
me
posicionava, decomo
enfrentava as divergências ecomo
refletir coletivamente a
minha
prática pedagógica. Por pensar assim ecom
o propósitode
difundir o trabalhoque
era realizado na Prática deEnsino
é
que
implementamos, ao final do semestre,o
Seminárioda
Prática
de
Ensino.Neste seminário cada aluno apresentava
um
tema,originário
da
sua prática,que
havia sido anteriormente organizado sob a formade
um
artigo, para ser socializado e discutido pelos outrosparticipantes
da
disciplina,bem
como
com
os professores das escolasenvolvidas e
com
professoresda
ESEF
e da Faculdadede Educação
-FaE.
Esta tentativa, até certo ponto, mobilizou alguns
professores
da
ESEF
que
se permitiram ouvircomo
os alunos' estavamchegando ao
final do Curso e quais as críticas e consideraçõesque
teciam a respeitoda
formação,da Educação
Física,da
escola, das suas dificuldades e impasses. Alguns destes professores ingressaram no grupoque
coordenava a Prática de Ensino, levando essas discussõespara as suas disciplinas.
Porém
a grande maioria dos professores doCurso manteve-se distante, tanto do seminário
como
da
Prática de Ensino.Em
relação aos professoresda
rede foram poucos osque
se envolveram no seminário.Além
da dificuldadeem
serem
liberadospelas escolas
em
funçãodo
excessode
aulas ministradas, haviaum
certo confronto entre
algumas
das propostas implementadas pelosestagiários
em
relação às práticas desenvolvidas por estes professores nas escolas. Este confronto expressava ameu
ver, dentre outras coisas,uma
desarticulação entre o trabalhodo
professor edo
o estagiário edestes
com
a escola, dificultava a reflexão sobre as práticaspedagógicas,
a
valorizaçãoda
experiência docente eum
possível salto qualitativoem
termosde
prática pedagógica.Ao
perceber esse distanciamento entre aacademia
e aescola, entre o estagiário e o professor e
com
a
perspectiva decompreender
e valorizar aquiloque
é diariamente construído peloprofessores na escola, desenvolvi
um
projetode
extensão junto aosprofessores da rede pública estadual
e
municipal, priorizando aquelesque
estavam envolvidoscom
a Prática de Ensino.O
objetivo desteprojeto era organizar princípios norteadores para
uma
proposta curricularpara o ensino da
Educação
Física no 1° grau.As
discussões, os debates e os relatos realizados pelos professores que participavamdo
projeto revelavam a necessidadede
serreorganizado o trabalho
com
a disciplina deEducação
Físicana
escolapública. Assim, a prática concreta
na
escola permaneciasendo
o pontode
partida das discussões desenvolvidascom
os professorese
paraonde
retornariam as primeiras "conclusões".Os
temas das discussõesabarcavam
a organização dosconteúdos, as formas de ensinar e avaliar, o planejamento, a
organização dos alunos e a autoridade do professor, o caráter e
objetivos
da
disciplina deEducação
Física na escola, o estabelecimentode
princípios norteadoresda
prática docente, as dificuldadesda
prática,a problemática do espaço físico e material disponível, as condições de
trabalho, baixos salários, os
compromissos
e possibilidadesdo
trabalhador do ensino, a (de) formação universitária,...
Estes elementos indicados pelos professores participantes
do
projeto poderiam favorecer a compreensão, reflexão e reorganizaçãodas
suas práticas.Porém
a realidade nas escolas indicavaque
outrosprofessores de
Educação
Fisicanão
conseguiam rompercom
a apatia eo
com
desânimo,com
a "aula livre",com
o jogar a bola e virar as costas,com
a aula de fazer tudo enão
fazer nada,com
a aulaque pode
ser oespaço
para estudar outras matériase
para caminhar pelo pátio,com
a aulaque
éum
eterno começar,com
a
aula quenão
tem conteúdo eque
pode
ser omomento
de
e›<travazar energias, angústias e a repressãogeral da escola.
As
situações vividas pelos professores exigiamum
estudomais sistematizado, articulado e intensivo e
que
viesse a suprir algumasdessas lacunas
que
envoiviam a prática pedagógica do professorde
Educação
Física.E
foi pensando nissoque
me
encaminhei para omestrado
com
o propósito de entender a prática pedagógica doprofessor, seus limites
e
possibilidades.E
desta preocupação resultou apesquisa
que deu
origem a esta dissertação.Procurei investigar
como
o professor deEducação
Fisicaconstrói a sua prática pedagógica, considerando as experiências e as situações marcantes
da
formação inicial, aopção
pelo magistério e pelaEducação
Física Escolar.A
partir da relação entre a formação inicial e aformação continuada foi possível
compreender
a organização do trabalho, caracterizaro
espaço e as condiçõesdo
trabalho do professore identificar as
mudanças
e continuidadesna
práticaem
relação àformação inicial.
'
Uma
das razões pelas quais este tipo de pesquisa sejustifica é a necessidade de conhecer
como
essas práticas seconcretizam,
que
tipode
influências sofrem eque
desdobramentos essas questõestem
no contexto escolar.Pesquisar sobre o cotidiano escolar,
numa
abordagem
qualitativa
é
buscar aproximaçõescom
a realidade escolar ecom
acircunstância
que o
professor está vivendo.Minha
históriacom
esse tipode
pesquisatem
doismomentos
que antecedem essa
dissertação.O
primeiro resultou na monografiade
conclusãodo
cursode
especializaçãoem
educação, sobre a qual jáme
referi. Neste ensaiointitulado "Disciplina:
um
elemento da prática pedagógica" investiguei opapel e os princípios norteadores da disciplina
na
escola.Tomei
como
pedagógica,
bem como
as avaliações dos alunos sobre as aulase
sobre o trabalhodo
professor, as anotaçõesdas
reuniões administrativas-pedagógicas dos professores e
o
regimento interno da escola.Num
segundo
momento
trabalheicom
um
colegada
Faculdade
de Educação do
Departamentode Fundamentos e
com uma
bolsista
de
iniciação científica,num
projetode
pesquisaque
investigavaas
concepções
e práticas de disciplina existentesnuma
escola públicada
rede estadualde
ensinono
municípiode
Pelotas - RS. Nestapesquisa
o
trabalhode
campo
exigiu entrevistascom
as professorasde
séries iniciais e observação de suas aulas; entrevistas
com
os alunos;observações
de
recreios, de entrada e saídade
alunos; análisede
documentos,
enfim
um
amplo contatocom
os sujeitos envolvidoscom
asconcepções e
práticasde
disciplina na escola. Apesarde
não
terpermanecido
no
trabalho até a sua fase final, pude perceber aimportância
e
a necessidadeda
pesquisa sobre o cotidiano escolar.Seguindo e aprofundando a trajetória desenvolvida nas duas experiências anteriores, utilizei nesta dissertação
uma
abordagem
de
pesquisaque
enquadra-se nos estudosde
casodo
tipo etnográfico. Isso significaque a
aproximação entrea
realidade estudada e oinvestigador insiste nos aspectos compreensivos. Para tanto vale-se
de
descrições pormenorizadas, detalhamentos e sobretudo
do
exaustivoregistro das situações, dos eventos e dos depoimentos dos sujeitos
envolvidos.
Essa
metodologia, por permitir focalizar processos particularesda
realidade, favoreceu o objetivode compreender
como
osprofessores
de Educação
Física constroem as suas práticas pedagógicasarticulados
com
a formação inicial. Partindodo
princípiode que
ao
sefazer
um
recortedo
caso, não sepode
desconectá-lodo
contexto no qualestá
sendo
produzido, foi preciso investigar alguns aspectosde
caráterpermeados
pela históriada Educação
Física Escolar e mais precisamente, o período históricoem
questão.Porém
uma
das
limitações da pesquisa, ao focalizarsituações singulares
de
uma
realidade, diz respeito à generalização dosresultados obtidos
com
o estudo de caso.De
acordocom
Lüdke eAndré
(1986, p.23), "ageneralização
do que
foi aprendidonum
tipode
contexto para outroscontextos semelhantes
dependerá
muitodo
tipode
leitor ou do usuáriodo
estudo".Cabe
aos
leitores ou pesquisadores questionar se as conclusões daquele casopodem
ounão
confirmar-se ou aplicar-seem
sua situação.
Como
contribuição fundamentaldesse
tipo de trabalhoencontra-se a possibilidade
de
acumular conhecimentos sobre osprofessores e sua formação, as escolas e o cotidiano vivido e recriado
nesse espaço
da
sociedade. Perguntar-se sobre a realidadede
professores e alunostem
sido alvo de inúmeros trabalhos deabordagem
etnográfica
desde
osmeados
dadécada
de oitenta.Os
trabalhosde
André
e outros ( 1987, 1988) , Kramer e outros (1984) foram inspiraçõesimportantes para diversos pesquisadores.
Minha
trajetórianão
foidiferente e até hoje encontro nessas autoras referências para a
consecução
domeu
estudosob
o pontode
vista metodológico.A
pesquisa entendida enquanto atividadehumana
e socialexpressa valores, princípios, opções
que
norteiamo
trabalhodo
investigador.
A
suaconcepção
demundo
e os fundamentosempregados
paracompreender e
explicar estemundo
éque
definem aabordagem
da pesquisa (Lüdke ie André,1986). Portanto,o
pesquisador e oconhecimento produzido
na sua
investigaçãonão
são
neutros.Segundo
André
(1995, p.29) a investigação do tipoetnográfico caracteriza-se por atribuir ao pesquisador
a
tarefa centralde
preocupar-se
com
o significado,"...com a maneira própriacom
que
as pessoasvêem
a simesmas,
as suas experiências e omundo
que
as cerca"; por envolverum
trabalhode
campo
onde
o investigadorpermanece
duranteum
determinadotempo
descrevendo e analisandopessoas, as situações, os depoimentos, os diálogos
buscando
formularconceitos, teorias para
compreender
a realidade.Esse
tipo de pesquisa requer"...
um
plano de trabalho aberto e flexível,em
que os focosda investigação vão sendo constantemente revistos, as
técnicas de coleta, reavaliadas, os instrumentos,
refonnulados e os fundamentos teóricos, repensados”
(André: 1995,p.30).
Para aproximar-me
do
professorde Educação
Física' a fimde
investigarcomo
este constrói a sua prática pedagógica articuladocom
a formação inicial utilizeia
observação participante,a
entrevista semi-estruturada, a análise documentaI5 e a discussãode
grupo.Os
sujeitos dessa pesquisa são três professores - 2professoras e 1 professor -
de Educação
Físicaque
trabalham nasescolas públicas da rede municipal de Pelotas - RS, formados
na
EscolaSuperior
de Educação
F ísica -ESEF
da
Universidade Federalde
Pelotas-
UFPEL
entre 1985 e 1990.Esse
período foi escolhido por serum
período
de
intenso debate, discussões e indagações a respeitodo
papelda Educação
Física e de seus professores na escola, de reorganizaçãocurricular nos cursos de formação,
de
fortalecimento domovimento dos
estudantes e dos professores ede
aumento
significativode
publicações5 "A observação é chamada de participante. porque parte do princípio de que o pesquisador tem sempre
um
grau de interação com a situação estudada, afetando-a e sendo por ela afetado. As entrevistas têm a finalidade de aprofundar as questões 'e esclarecer os problemas observados. Osdocumentos são usados no sentido de contextualizar o fenômeno, explicitar sua vinculações mais
na
áreacom
preocupaçõesque
buscavam
superar o discurso e a práticaeminentemente técnica-desportiva.
Para definir quais sujeitos seriam escolhidos procedi da
seguinte maneira: a partir
de duas
listagens -uma
oriundada
ESEF
eoutra
da
Secretaria Municipalde Educação
- encontrei 30 professoresem
exercícioque
haviam concluído o curso entre 1985 e 1990. Estes estavam lotadosem
diferentes regiõesda
zona urbanada
cidade dePelotas.
Num
primeiromomento
selecionei a regiãoque
concentrava omaior
número
de professores formados no período pré-definido. Depoiscontactei
com
as respectivas direções das escolas, definindo onúmero
de
professores para realizaruma
aproximação inicial.Após
essa etapacinco professores se dispuseram a participar
da
pesquisa,sendo que
destes defini très
em
funçãodo
períodoem
que concluíram o curso:um
professor
em
1989,uma
professoraem
1988 e outra professoraem
1986.
Os
dois professores excedentestambém
haviam concluído nosanos
já definidos.Realizei
uma
primeira entrevista individualtomando
como
roteiro aspectos ligados à escola,ao
ambientede
trabalho,aos
colegas,à comunidade, ao ingresso na rede pública, à organização
das
aulas (oupara as aulas), às dificuldades encontradas
no
trabalho e outroselementos decorrentes destes aspectos.
Quanto
às observações foram realizadas,em
média, trezepara
cada
professor e duravam,cada
uma, cerca de cinqüenta minutos.Tinham
um
caráter descritivo, procurando focalizar o desenvolvimento das aulas, incluindo aspectos ligados à organização, à relação professor- aluno,ao
material,ao espaço
físico eao
conteúdo e outros elementos emergentes dosdados
coletados.A
análise documental priorizou o projetode
ensinoda
redemunicipal -
Educação
Física, os planos bimestrais dos professores,bem
Física
da
UFPel.A
análise documental teveum
caráterde
complementaridade, pois foram as entrevistas e as observações
que
me
forneceram maiores pistas para osmeus
achados.Após
um
ano
de trabalho, na organização dosdados
coletados, senti necessidade
de
voltar a campo.Um
questionamentoficou
em
suspenso:que
instrumento utilizar para buscar mais elementossobre a formação inicial?
Na
verdade nas primeiras entrevistas algunsaspectos vinculados à formação inicial já se antecipavam,
mas
eu,com
pouca experiência
em
pesquisa ainda fiquei restritoao
roteiro preparado.Diante disso busquei no referencial teórico ligado à metodologia
da
pesquisa
um
recurso possivel para o tipode
pesquisaque
me
propus arealizar.
Minayo
(1993:129) apresenta a discussão de grupocomo
uma
"função complementar à observação participante e às entrevistasindividuais".
Segundo
a autora"Essa estratégia de coleta de dados é geralmente usada
para: a) focalizar a pesquisa e fonnular questões mais
precisas; b) complementar infonnações sobre
conhecimentos peculiares a
um
grupoem
relação acrenças, atitudes e percepções; c) de desenvolver
hipóteses de pesquisa para estudos complementares. (Minayo:129)
No
meu
estudo de caso foram as argumentações a) e b)que
me
levaram a utilizar esse instrumento.A
discussãode
grupo considerou as experiências e situações marcantes do curso, os principaistemas e autores debatidos ao longo
do
curso, aabordagem dada
àescola, a
opção
pela profissão e pela escola,bem
como
aspectosda
prática pedagógica
que
indicassem a continuidade ou a rupturacom
a formação inicial.A
análisedos
dados,obedecendo
aos critériosda
pesquisaqualitativa e aos aspectos
do
estudode
caso de natureza etnográfica, foirealizada a partir
da
leitura edo
registro contínuodo
material coletadoem
campo.Algumas
dificuldades vinculadasao
referencial teóricoimpuseram-se
como
obstáculosao
desenvolvimento mais articulado dapesquisa. Esses
momentos
foram superados pelo retorno acampo
e pelabusca
de
novos referenciais.Foram
osdados
que
me
forneceram pistasa respeito
do
enfoqueda
temática desenvolvida nessa dissertação.Meus
estudos acerca da formação do profissional reflexivoô e
que
inicialmenteme
apareciamcomo
grandesachados
foram substituídos pelas contribuições ligadas à prática pedagógica, à formação e àprofissionalização _
Como
eixosde
análise defini os contextos da formaçãoinicial e os contextos
da
formação continuada.O
primeiro trazendoelementos da instituição formadora,
da
relação dos sujeitoscom
essaformação e da
opção
pelo magistério (educação física escolar).O
segundo
englobando aspectosda
prática pedagógica: o espaço detrabalho, organização
do
trabalhodo
professor, aconsecução da
aula,os dilemas da profissão e as rupturas e continuidades
em
relação àformação inicial.
Para organizar esses eixos estruturei este estudos
em
duaspartes.
Na
primeira parte -Os
contextosda
formação inicial -procuro abordar os aspectos referentes
ao
período anterior a formaçãoinicial resgatandoça relação dos professores
com
aEducação
Física na sua experiência escolar.Em
seguida discuto os aspectos históricos da formação dos professoresde
Educação
Fisica, caracterizando o curso daESEF-UFPEL.
Posteriormente revelo as experiências vividas pelos6 Os trabalhos de Donald Schön (1992), Zeichner(1992; 1994), Perez Gomez (l992,1994) têm se
professores ao longo
do
curso de licenciatura evidenciando suasdificuldades e o distanciamento da escola. Por último abordo as
diferentes influências
que
sofreram esses professoresem
relação a suaopção
pelo magistério e pelo exercício da docência na escola.Na
segunda
parte -Os
contextosda
formação continuada -busco inicialmente situar a trajetória histórica da
Educaçäo
Física escolare
de
seu protagonista principal: o professor.Logo após
resgato quatro importantes estudos sobre a prática pedagógica a partir das tendências pedagógicas (no âmbitoda
educação eda educação
fisica),da
epistemologia do professor e do saber docente. Depois apresento as
duas
contribuiçõesda
sociologia que tornaram-se fundamentais pararealização desta pesquisa e que
me
permitiramcompreender
os contextos e as facetasda
prática. Posteriormente caracterizo as escolasonde
trabalham os professores sujeitosda
pesquisa e revelo asexperiências
que
estes foram construindono
exercicioda
docência.Finalmente abordo os aspectos que
emergem
dessas experiências eque
favorecem o entendimento do processo
de
construção da práticapedagógica. _
Nas
considerações finais procuro sintetizar os indicadoresdas práticas das