CENTRO
SÓCIO-ECONÔMICO
DEPARTAMENTO
DE
CIENCIAS
DA
ADMINISTRACAO
COORDENADORIA
DE
ESTÁGIOS
FUNDANIENTOS
DO
ESTRUTURALISMO
NA
TEORIA
ORGANIZACIONAL
Elementos para
a críticado
estudo estruturalista das organizaçõesROBERTO MÁRIO
SCHRAMM
JR.
CENTRO
SÓCIO-ECONÔMICO
DEPARTAMENTO
DE
CIÊNCIAS
DA ADMINISTRAÇÃO
COORDENADORIA
DE
ESTÁGIOS
FUNDAMENTOS
DO
ESTRUTURALISMO
NA
TEORIA
ORGANIZACIONAL
Elementos para
a críticado
estudo estruturalista das organizaçõesAUTOR:
ROBERTO MÁRIO
SCHRAMM
JR.
ORIENTADO
POR:
PROF.
JOSÉ
NILSON REINERT
ÁREA
DE
CONCENTRACÃOz
TEORIA ADMINISTRATIVA
graduação
no Curso
de Administração na Universidade Federal de Santa Catarina, pelaBanca
Examinadora
que atribuiu nota ao acadêmico RobertoMário
Schramm
Jr.,
na
disciplina Estágio II-
CAD
5401.Banca
Examinadora:Professor José Nilson Reinert
Presidente
da
Banca
Professor Sinésio Stefano Dubilela Ostroski
Membro
da
Banca
Professora Eloise
Helena
Livramento DellagneloMembro
da
Banca
IN
MEMORIAN:
Ademar
Dias de Oliveira(1920
~
2000)Nec
Spe,Nec Metu
(U) as colunas
da
ordem
eda
desordem.Murilo
Mendes
(1930)RESUMO
... ..6 1.INTRODUÇÃO
... .. 7 1 . 1 APRESENTAÇÃODO
ESTUDO . . . . . . . . . . ..7 1.2 JUSTIFICATIVA ... .. ... .... _.9 1.3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ... .. 10 2.ESTRUTURA
E
ESTRUTURALISMO
... .. 132.1 “ESTRUIURA” E
O MODELO
LINGUÍSTICO ... .. 132.1.1
O
“corte” sassureano ... .. 132.1.2
A
importação do modelo 14 2.2A
NOÇÃO
“TRADICIONAL” DE ESTRUTURA ... .. 172.3 ESTRUTURA E DIFERENÇAZ
O
ESTRUTURALISMOCOMO
MÉTODO
COMPARATIVO ... .. 192.4 ESTRUTURAVS. ORGANIZAÇÃO ... ...20
2. 5 PENSAMENTO ESTRUTURAL NAS ORGANIZAÇÕES COMPLEXAS ... .. 21
2.5. 1
O
campo da teoria organizacional ... _. 22 2.5.2A
abordagem estruturalista da teoria organizacional... 232.5.3 Sincronia, diacronia e teoria organizacional ... .. 25
2.6 TENDÊNCIASDOPENSAMENTOESTRUTURAL ... _. ...27
2.6.1 Estrutura, modelo, dialética e significação ... 27
2. 6.2 Tendências do pensamento estrutural na teoria das organizações... 29
3.
ESTRUTURA,
MODELOS
E
ANÁLISE
ORGANIZACIONAL
... .. 333.1ESTRUTURAEMODELOS ... ... ..33
3.1.1Estruturalismo 33 3. 1.2 Estruturalismo “concreto ” ... .. 36
3 .2 CRÍTICA ESTRUTURALISTA DOS MODELOS DE ANÁLISE ORGANIZACIONAL ... .. 37
3. 2. 1 As etapas da análise organizacional ... 38
3.2.2 Crítica dos modelos formais de análise organizacional ... .. 39
3. 2. 3 Crítica dos modelos informais de análise organizacional ... .. 42
3.3
A
ABORDAGEM
COMPARATIVA: ESTRUTURALISMO EA
CONSTRUÇÃO DE MODELOS DE ANÁLISE ORGANIZACIONAL ... .. 463. 3. I “System models ” ... .. 46
3.3.2 Grupo de modelos: a abordagem comparativa... 48
3.3. 3
O
modelo de Etzioni ... ... .. 504.
ESTRUTURALISMO
FENOMENOLÓGICO
E
ESTRUTURALISMO
DIALÉTICO
NA
TEORIA DAS
ORGANTZAÇOES
... .. 574.1 ESTRUTURA, FENOMENOLOGIA E “ESTRUTURALISMO WEEERIANO” ... .. 59
4.1.1 Estrutura e significação ... .. 59
4.1.2 Estrutura, significação e 0 estudo das organizações complexas ... .. 60
4.1.3
A
releitura estruturalista do “estruturalismo ” weberiano ... 624.2 ESTRUTURA, DIALÉTICA E CONFLITO ORGANIZACIONAL ... .. 65
4. 2. I Estrutura e dialética ... .. 65
4.2.2
A
dialética do conflito ... 674.2.3
O
estudo estruturalista do conflito organizacional ... .. 704.2.4
A
síntese estruturalista ... ._ 74 5.CONSIDERAÇÕES
FINAIS ... .. 77O
presente trabalhotem
como
fim
empreender
um
estudo exploratório, de carátereminentemente
teórico, acerca dos fundamentosdo
estruturalismona
teoriaorganizacional, tendo
em
vista reunir elementos parauma
críticado pensamento
estrutural
no
estudo das organizações. _O
trabalho se iniciacom
as origensdo
estruturalismoem
lingüística edescreve a importação deste
modelo
para o âmbito dasdemais
ciênciasdo
homem,
o
que
implicaem
um
novo
posicionamento frente ao objeto de estudo dessasdisciplinas,
que
se traduzem
termosda
predominância dos aspectos sincrônicos.A
partir disso, descreve-se o itinerárioda
evoluçãodo
sentidoda noção
de estrutura, queculmina na noção
propriamente estruturalista deum
conjunto interrelacionado, de caráter sistêmico e analisadoem
função de suas diferenças.Todos
esses aspectos sãoconfrontados
com
aabordagem
estruturalista da teoria organizacional,afim
deverifica-los e contextualizá-los neste
campo
específico.Após
isso, o estudocomeça
a analisar o estruturalismona
teoriaorganizacional
em
função das articulaçõesque determinam
as principais tendênciasde aplicação
do
método. Istotoma
forma, primeiramente,com
a análise dasarticulações entre as noções
de
estrutura e modelo.Sob
essa perspectiva, apresenta-se essa articulação nos tennos geraisdo
método
estruturalista para,em
seguida, apresentar a crítica estruturalista aosmodelos
de análise organizacional-
construídoscom
vistas auma
noção
tradicional de estrutura-
e descreverum
modelo
de análise comparativade
organizaçõescomplexas
proposto por Etzioni.Por
fim
o trabalho passa a considerar as articulações entre as noções deestrutura e as de significação e dialética
tomadas
conjtmtamentecomo
uma
tendência de
cunho
filosófico,em
oposição aocunho
matemáticodo
“estruturalismode modelos”.
No
escopo dessa análise percebe-se a forte presençada
dialéticano
pensamento
estruturalistada
teoria organizacional.1. 1
Apresentaçao
do
estudo
A
abordagem
estruturalistada
teoria das organizaçõesocupa
uma
posiçãode
destaquena
históriado pensamento
organizacional edo
estudoda
administração.Fruto de
uma
convergência das muitas disciplinashumanas
e sociaisno
estudo dasestruturas inconscientes
que condicionam
a realidade empírica, esta escola apresentoucontribuições de extrema relevância para
uma
compreensão
totalizante dosfenômenos
organizacionais; inseridanum
momento
históricono
qual:“A sociologia e
a
psicologia sãochamadas a
se tornar sabereseficazes
no
próprio seioda
empresa,no quadro da
religiãonova
dosanos
50:a
modernidade. Elas devem,como
a
música,adoçar
oscostumes, evitar os conflitos eventuais
no
mundo
do
trabalho,desenvolvendo
ao
máximo
as taxas de produtividade.Aparece
uma
estrutura técnica
que tem
necessidade deum
novo
saber, saber essealimentado pelas ciências sociais nas escolas especializadas
em
administração que, entao, se multiplicam ” (Dosse, 1994:107).
Originária das pesquisas acadêmicas dos sociólogos franceses e norte-
americanos a
abordagem
estruturalista se manifestou contra a parcialidade e a insuficiência das escolas clássica e de relações humanas,no
sentidoem
que
essas abordagensdefendiam
visões aparentemente contraditórias e incapazes de descrever arealidade das organizações
modemas
em
seus aspectos mais essenciais.Os
estruturalistas
propuseram
uma
abordagem
múltipla que englobava as determinaçõesdas escolas precedentes; introduzia a
noção
deum
corrflito estrutural entre osinteresses
da
organização e dos indivíduos que dela participam; e abordavaa
organização sobuma
perspectivaque
implicavana
descrição e críticade
seufuncionamento.
As
contribuições advindas desta escola são bastante conhecidas.Tendo
em
vista
o
apreçoda
escola clássica pelos aspectos formaisda
organização, e a orientaçãocontrária
da
escola humanista, dirigida aos aspectos dos grupos infonnais; osestruturalistas
tomaram
a organizaçãocomo
um
todo e se dedicaram a analisá-la sobtodos estes aspectos, simultaneamente.
O
estruturalismona
teoria organizacional, contudo, foi apenasum
entreantropologia, a psicologia, a etnologia, a
economia
e a sociologia.O
estiuturalismofoi, neste sentido,
um
método
essencialmente universalno
âmbito das ciênciashumanas
e sociais-
uma
linguagemcomum
compartilhada pelas ciênciasdo
homem,
fundamentada
poruma
noção
(relativamente)comum
de
estrutura.É
essa perspectivaque costuma
se perderna
análise conjunta das diversasabordagens
da
teoria organizacional.Sob
esse ponto de vista, a tendência é consideraro
momento
estruturalistacomo
uma
etapa jácumprida da
evolução dosmodelos
de análise organizacional, demodo
que
o seu estudo dá-se, freqüentemente, através deuma
análise das contribuiçõesda
escola para o estudo e a práticada
administração.Este tipo de estudo, porém, tende a deixar de lado os fundamentos
do
estiuturalismo, as condições pelas quais
o método
propiciouuma
nova
ótica para aabordagem
de organizações dasmais
diversas naturezas.São
estes fundamentos, contudo,que permitem
caracterizar a realdimensão da
escola estiuturalistana
teoriaorganizacional, assim
com
a desconsideração destes fundamentos dificultauma
tomada
de posição efetiva quanto à validade destas contribuiçõesna
conjuntura atuale
impede
uma
revisão críticado
estruturalismo por forçade
equívocos, imprecisões ereduções analíticas advindas
da
contabilização superficial dos avanços da escolaem
seu
momento
históricomais
significativo.Tendo
issoem
vista, o presente trabalhotem
como
objetivo discutir essesfundamentos
do
estruturalismona
teoria organizacionalem
funçãoda noção
deestrutura e das noções de modelo, dialética e sígnzficação,
na
medida
em
que
estasúltimas se articulam
com
a próprianoção de
estrutura para definir as tendências deaplicação
do
método
estruturalista neste contexto. Essa abordagem, por sua vez,busca reunir os elementos
que
devem
permitiruma
críticaampla do
estudo e daconcepção
estruturalista das organizações complexas, a serempreendida
em
estudosfuturos.
Este trabalho, portanto,
tem
como
base a evoluçãodo
sentidoda noção de
estrutura, partindo de sua acepção etimológica até o sentido estrito
do
estruturalismode
Claude
Lévi-Strauss,Roland
Barthes, Jean Piaget,Michel
Foucault edemais
expoentes desta linha depensamento
quedominou
ocampo
da
idéias nesta segundametade do
séculoXX.
Destemodo,
o presente trabalhotambém
se propõe-
em
tennos específicos-
a definir o itinerário desta evolução, contextualizando as origensdo programa
estruturalista eda
disseminaçãodo método
sob a perspectiva de suaprópria interdisciplinaridade; correlacionar esses fundamentos
com
osda
abordagem
estruturalista
da
teoria organizacional; e definir as tendências de aplicaçãodo
método
-
segundo
as determinações das referidas noções de modelo, dialética e significação-
no
estudo dosfenômenos
organizacionais.Tendo
definido
estes aspectos, o trabalho seguecom
a descriçãopormenorizada dessas articulações e
com
a análise dos pressupostosda abordagem
estruturalistano
campo
das organizações frente aos fundamentosdo
método; demodo
a
compreender
osmecanismos do pensamento
estruturalem
função de suas noçõesfundamentais.
Convém
acrescentar que,confonne
a direção estabelecida por essa propostade análise, o presente estudo
não
se pretende urnaabordagem
de caráter introdutório.A
presente discussão dosfimdamentos
do
estruturalismo, neste sentido, preocupar-se-á
menos
com
a descriçãoda
escola estruturalistada
teoria das organizações,de
seusprincipais autores e de suas contribuições
do que
com
amecânica intema
do
pensamento
estruturalno
contextodo
estudo das organizações.1.1
Justíficativa
O
presente estudo se justificaem
diversos níveis. Primeiramente,em
vista desua revisão
do programa
estruturalista na teoria organizacional, ele se insereem
um
movimento
de reavaliaçãodo paradigma
estruturalistacomum
a várias disciplinas. Neste sentido, este trabalho pretende contribuir para estemovimento
com
elementosconcretos para essa avaliação, a partir
de
sua discussão dos fundamentosdo
método
no
âmbitoda
teoria organizacional.Em
segtmdo lugar, pretende-se, igualmente, desfazer certos equívocoscom
relação à
abordagem
estruturalista das organizações, principalmentecom
relação asuas principais tendências.
O
aprofundamento
dissopode
ser significativamentebenéfico
para abordagens posterioresdo
estruturalismo neste contexto.Um
outro nívelda
relevância dessa discussão dosfundamentos do
estluturalismo
na
teoria organizacional refere-se auma
maiorcompreensão
da noção
mesma
de estrutura,no
âmbitodo
estudo eda
administração de organizações.O
amplo
estudo destanoção fimdamental,
conjuntamentecom
as referidas noçõesque
a ela se articulam, permitirá Lunatomada
de posiçãomais
precisa quanto anoção de
estrutura, pennitindo
que
se contemple sobuma
nova
óticaum
conceitoamplamente
utilizado nas ciênciasda
administração. ,Este último particular permite
que
o estudo se justifiquetambém
do
ponto de vistada
prática administrativa.O
estudo danoção
de estrutura deve revelaruma
sériede elementos
que
não
costumam
ser levadosem
contano
planejamento eno
desenhodas estruturas de poder nas organizações. Levando-se
em
consideração as necessidades atuais por estruturasmais
flexíveis, tais fatorespodem
serde
suma
importância para a eficácia de tais ações.Por
fim,
os conteúdos discutidos neste estudopodem
fomecer
parâmetros paraa crítica de “novos”
modelos
de gestão e de análise organizacionalna
medida
em
quetais
modelos
semostrem
vinculados amodelos
participantes deuma
lógica intema semelhante aosmodelos
tradicionais, criticados pelos estruturalistas.1.2
Aspectos Metodológicos
No
que se refere a sua natureza, seguindo a taxinomia proposta por Vergara(1990), pode-se classificar
o
presente estudo quanto a suas finalidades e quanto aosmeios
utilizados para atingir-se esses fins.No
que diz respeito ao primeiro critério, o presente estudo deve serclassificado
como
exploratório.Segundo
Gil (1987:45-46) são exploratórias as pesquisasque
sepropõem
a proporcionarmaior
familiaridadecom
o problema,com
vistas a toma-lo mais explícitoou
a construir hipóteses. ParaCervo
&
Bervian (1983:56) a pesquisaexploratória descreve precisamente
uma
determinada situação afim
de descobrir asrelações entre os elementos
que
compõem
essa situação. Neste sentido, ela requer“(...)
um
planejamento bastante flexível para possibilitar a consideração dosmais
diversos aspectos de
um
problema
ou
deuma
situação” (Cervo&
Bervian, op.cit.:56).Neste sentido, levando-se
em
consideração seus objetivos, qualifica-se o estudo pretendidocomo
exploratório devido a sua pretensão de levar a termouma
revisão rigorosa
da
literaturano
sentido de aprimorar o conhecimento acerca dosfundamentos
do
estruturalismona
teoria das organizações e levantar elementos paraestudos posteriores que
pretendam
levar a termouma
abordagem
críticado
Quanto
aosegundo
critério, que édefinido
por Gil (1987:48)como
0
agrupamento
de projetos de pesquisa deacordoicom
os procedimentos técnicosutilizados; o presente trabalho se constitui
em
uma
pesquisa bibliográfica.Segimdo
o autor,"A
pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado,constituído principalmente de livros e artigos científicos" (Gil, 1987: 48).
Este estudo, neste sentido, trata-se de urna pesquisa bibliográfica porque,
conforme
definição deCervo
&
Bervian (l983:55), procura explicaro problema
dos fundamentosdo
estruturalismona
teoria administrativa através deum
referencial teórico já previamente estabelecido e publicado.O
estudo pretendido tevecomo
fontes,além
das obras de leitura correntenecessárias para a revisão crítica
da
bibliografia, a literatura de referência informativae remissiva disponível.
Tendo-se
em
vista essa definição tipológicado
estudo pretendido,cumpre
quese estabeleça
também
os procedimentos e técnicas a serem utilizadosna
coleta dasinformações. Estas técnicas se referem aos processos específicos
de
leiturainformativa, devido ao caráter
eminentemente
bibliográfico e exploratóriodo
estudoaser realizado.
A
leitura informativa é definida porCervo
e Berviancomo
aquelaque
é feita:“(..)
com
vistasà
coletade dados
ou
informaçõesque
serão~
utilizados
em
trabalhospara
respondera
questoes especificas.Deve
sesempre
ter presente o objetivoda
pesquisa, caso contrárioa
leiturainformativa torna-se distrativa
ou passatempo
” (1983 2 85).Os
autoresdefinem
quatro fases principais para o processo de leitura informativa(Cervo
&
Brevian, Op.cit.:85).São
estas fases a leiturade
reconhecimento e pré-
leitura; a leitura seletiva; a leitura crítica
ou
reflexiva; e a leitura interpretativa.A
abordagem do
referencial teórico disponível baseou-seno
processoque
tais fases implicam, a saber:0
Levantamento da
bibliografia disponível;0 Seleção das obras
mais
relevantes para os objetivosdo
trabalho;0 Análise crítica dos conteúdos
do
referencial selecionado; e0 Interpretação e correlação dos textos.
Neste estudo,
em
face de seu caráter exploratório, optou-se por obrasestmturalismo, buscar
uma
perspectivaadequada
para a discussão de seusfundamentos no
contexto da teoria das organizações e definir as concepções dominantes acercado
tema.A
partir disso, o desenvolvimentodo
estudopôde
definirum
elenco de autores significativos. Posteriormente a análise destes autores,procurou-se retomar a leitura inicial dos aspectos principais
do
estruturalismo sobuma
perspectiva crítica, elaborando urnanova
síntese,da
qual resultou aforma
ñnal2.1
“Estrutura” e
o
modelo
lingüísticoO
método
estruturalista,em
seus primórdios e anoção
mesma
de estruturacomeçam
atomar
uma
posição centralno pensamento
moderno
menos
em
função daintrodução
de novos
elementosno
conjunto de pressupostos quefundamentam
aschamadas
ciências sociais,do que
a partir deuma
nova
postura dianteda
inserçãotemporal
do
objetode
uma
ciência socialem
particular.O
novo
posicionamento de Ferdinand de Sassureno
âmbito das ciências lingüísticasfomeceu
um
paradigma
metodológico rigoroso aos cientistas sociais da segimdametade do
séculoXX,
bem
como
os elementos teóricos necessários' parauma
nova abordagem da noção
de estrutura, partindo deuma
noção
etimológicaou
“tradicional” eculminando na
instauração deum
programa
nitidamente estruturalista-
preocupado
menos
com
os termos constituintes de seu objetodo que
com
asrelações entre estes termos (Simonis, 1979222-23).
Não
interessa ao presente estudouma
revisão detalhada destenovo
corteno
âmbitodo
estudo dosfenômenos
lingüísticos. Entretanto, é fundamentalque
seexponha
aqui a natureza dessenovo
posicionamento, eque
se esclareça o seu papelna
construção deum
método
efetivamente estruturalista.As
origensdo
estmturalismoremontam,
necessariamente a esta contribuição de Sassure para a lingüísticamodema.
Paracompreender
os tennosda
importação dessanova
metodologia faz-se necessárioaveriguar os elementos principais
do
modelo
lingüístico.2.1.1
O
“corte”sassureano
O
caráter revolucionáriodo
corte sassureano se refere,em
grande parte, a Lunanova
abordagem da
percepção dos elementos constituintes deuma
determinada linguagemno
tempo,o que
resultouna
introdução dos termos sincronia e diacronia.Segundo
Lepargneur:“A
sincronia éa
leide
coexistência dos elementosque
seenterdeterminam mutuamente.
Ela
faza
abstraçãodo tempo
por
sesituar
num
determinado instante.A
diacronia éa
lei de sucessãono
tempo de
um
sistema; correspondeà
sua evolução histórica" (1972:Sassure,
no
entender de Lepargneur (Op.cit.:16-17), encontrouuma
ciênciada
linguagem
marcada
pelo estudo diacrônico dosfenômenos
lingüísticos, preocupadacom
a evolução das línguas; e propôsuma
abordagem
sincrônica, voltada para osestudos dos sistemas de sons
ou
palavras e das leis de suascombinações
em
um
determinado
momento.
As
implicações destanova abordagem foram
didaticamenteexpostas pelo próprio Sassure, através
de
uma
analogia de seucampo
específicocom
o jogo
de
Xadrez.Segundo
Sassure:“O
fatode
ele terpassado da
Pérsiaà
Europa
éde ordem
externa; interna, pelo contrário, tudo o
que
diz respeitoao
sistema eàs suas regras.
Se eu
substituopeças de madeira
por
peças de
marfim,a
mudança
é indiferentepara
o sistema;mas
seeu
diminuirou
aumentar
onúmero
de
peças, essamudança
atingeprofundamente a
gramáticado jogo
” (in Lepargneur, op. cit.:17).Com
o
advento destanova
postura diante de seu objeto, a lingüísticacomeça
a se interessar, sobretudo, pela descrição deuma
certa fase deuma
determinada língua(Lepargneur, op.cit.:17),
no
sentidodo
seu sistemade
relações internas.Em
suma,trata-se de investigar as estruturas
da
linguagem e descobrir as regrasdo
“jogo”.2.1.2
A
importação
do
modelo
lingüísticoSegundo Dosse
(1992:33), a transposição dosmétodos da
lingüística estrutural para outras disciplinas sociais foi efetuada pela primeira vez pelo etnólogo francêsClaude
Levi-Strauss,na
ocasião de seu estudo acerca das estruturas fundamentais dossistemas de parentescos nas sociedades ditas primitivas.
De
acordocom
Simonis (1979:16-17), Lévi-Strauss teria se interessado pelorigor e profundidade
do
método
sassureano. Para o etnólogo, aabordagem
estruturaldo
modelo
lingüístico-
se aplicadano
estudo dosfenômenos
sociais-
poderiafomecer
resultados participantes de graus de confiabilidade, representatividadeobjetiva e precisão similares aos das ciências exatas.
O
problema
foi expresso porLévi-Strauss
da
seguinte maneira:“Pode
o sociólogo, utilizandoum
método
análogo quantoa
forma
(senão quantoao
conteúdo)ao
introduzido pela fonologia, fazer cumprirà
sua ciênciaum
progresso análogoao
queacaba de tomar
lugar nas ciências lingüísticas? ” (1973 1 49).
Este
“método
análogo” a que o autor se refere diz respeito ao corte sassureano,"(..)
a
fonologiapassa do
estudo dosfenômenos
lingüísticosconscientes
ao
da sua
infi'a-estrutura inconsciente; ela se recusaa
tratar os termos
como
entidades independentes, tomando,ao
contrário,como
basede
sua análise as relações entre os termos;introduz
a noção de
sistema (..); enfim, visaà
descoberta de leisgerais (..). Assim, pela primeira vez,
uma
ciência social consegueformular
relações necessárias " (Lévi-Strauss, op. cit. 2 48).Com
a publicaçãode
Les Structures Elementaires de la Parenteem
1947,Lévi-Strauss prova
que o
modelo
lingüístico possui livre trânsito nas ciências sociais.Partindo de
uma
“invaiiante estrutural” -‹ a proibiçãodo
incesto, tida pelo autorcomo
o impulso
fimdamental
a socialização (Lévi-Strauss,1967
:15- 29)-
comum
a todos ossistemas de parentesco das sociedades estudadas,
o
etnólogo francês estuda a “infra-estrutura” inconsciente
que
condiciona as relações de parentesco de diversosagrupamentos;
expõe o
sistema de relações subjacente a estefenômeno;
eacaba
por demonstrar as leis geraisdo
parentesco, deduzidas a partirda
formulação das“relações necessárias”,
em
um
estudo comparativo de diferentes sistemas deparentesco.
Com
esta obra, Lévi-Strauss consolida a importaçãodo modelo
lingüístico e
impõe
anoção
estruturacomo
o
centro das preocupações de cientistas sociais dasmais
diversas orientações _e disciplinas.Les
Structures (..)marca o
nascimento
do
estruturalismocomo
método
de uso universal das ciênciashumanas
esociais.
Para Simonis, a
adoção do
modelo
lingüístico teveum
impacto sobre osestudos dos sistemas de parentesco semelhante ao
do
corte sassureanona
fonologia:“A
situaçãodo
estudo dosproblemas de
parentesco,como
oda
lingüística antigamente, centrava-se
numa
relação diacronia-sincronia,
onde a
diacronia devia, quase só,dar
conta dosfenômenos
sincrônicos
ou
estruturais.Com
o aparecimentoda
ƒonologia,a
relação inverte-se e é
a
sincroniaou
aspecto estruturaldosfenômenos
gue
torna intelígívelo
seu aspecto diacrônico (grifo nosso) ”(Simonis, op. cit. : 18).
Com
isto, percebe-seque
esteprograma
estmturalista emergentenão
exclui apossibilidade de estudar a diacronia de
um
detenninado objeto,embora
condicioneesse estudo aos aspectos sincrônicos de sua estrutura intema de relações. Neste
sentido, segundo Lepargneur:
“O
estruturalismo nasceuda
perspectiva sincrônica,por
serem
mais
simples suas leis nesta abstraçãodo
tempo. (..)a noção
deBeneviste,
a
análise diacrônica 'consisteem
colocarduas
estruturassucessivas e explicar suas relações
mostrando que
partesdo
sistemaanterior
foram
atingidasou
ameaçadas, ecomo
sepreparava a
~
soluçao realizada
no
sistema posterior 'I, o
que
subordina claramentea
análise sincrônicaà
análise diacrônica ” (Op.cit.:l8).Seguindo essa linha de raciocínio, a idéia de que a importação
do modelo
lingüístico teria contribuído defonna
superficial para a construção deum
método
positivo para as ciências sociais se mostra imprecisa.Mais do
queuma
simplestransposição de certos conceitos, Lévi-Strauss operou a importação
do método que
orientava a aplicação destes conceitos.
Não
se trata, portanto de adotar gratuitamenteas noções de sincronia e diacronia,
mas
de estudar profundamente as estruturasde
relações imanentes aos
fenômenos
sociais sob essanova
perspectiva de subordinaçãodo
diacrônico ao sincrônico. Trata-se,em
suma, segundo o próprio Lévi-Strauss (Op.cit.:57), de considerar as relações entre os tennos e
não
os termosem
si.Embora
a utilizaçãoda
terminologia e dos conceitos estabelecidosno
modelo
lingüístico- como
notouRoland
Barthes-
indique efetivamente a presençado
paradigma
estruturalistano
desenvolvimento deum
determinado estudo,não
sepode
dizerque
os conceitos por trás desta terminologia caracterizem por si própriosum
programa
estruturalista. Para tanto, é necessárioque
se estude anoção
mesma
de
estrutura, tendoem
vista ser esta anoção que
designa os sistemas de relações quecondicionam
osfenômenos
sociais. Este estudo, por outro lado, deve ser abordado demodo
a evidenciaruma
evoluçãodo
termoem
direção aum
conceito de estruturaprópria
do
programa
estruturalista.Este estudo diacrônico
da
próprianoção
de estrutura devetambém
estar,subordinado às finalidades
do
presente trabalho, tendoem
vistaque
este processo de evoluçãodo termo que
se pretende caracterizar deverá serretomado
em
funçãoda
teoria organizacional.Sendo
assim,cumpre
que se apresenteuma
definiçãodo
próprio estruturalismo
que
observe os seguintes quesitos:0 Ofereça subsídios que caracterizem o estruturalismo
em
funçãoda noção
de estrutura;0 Apresente
uma
abordagem
destanoção que
seja- como
queriamRoland
Barthes eRoger
Bastide~
diversada noção
“tradicional”, compartilhada por outrosmodos
de
pensamento,ou
mesmo
que
estabeleçaum
conceitode
estrutura especificamente estmturalista; e0 Correlacione esta
noção ou
conceito de estruturacom
anoção
de organização,no
sentido geral de
uma
determinada característica de conjuntos organizado eno
sentido particular de agrupamentos deliberadamente constituídos para
detenninados fins. '
2.2
A
noção
“tradicional”de
estrutura
Estes quesitos são satisfatoriamente contemplados por
um
estudo de JeanPouillon, publicado originalmente
na
edição de n.°246
deLes
T
emps
Modernes2,em
1966. Este texto possui a
vantagem
acessória de constituir-seem
um
clássicoda
teoria
do
estruturalismo,amplamente
referidoem
tentativas posteriores de apresentaçãodo problema da
definiçãodo programa
estruturalistaem
função de seusfimdamentos.
Segundo
Pouillon (l967:3), pode-se identificaruma
noção
“tradicional”de
estrutura utilizada ostensivamenteno
âmbitoda filosofia
e das ciênciasque
antecede aabordagem
estruturalista. Estanoção
refere-se ao seu significado etimológico expressoadequadamente
por enciclopédias e dicionários3.Nesta acepção, estrutura diz respeito à maneira pela qual
um
edificio éconstruído, assim
como -
por extensão-
aomodo como
as partes deum
todo sãodispostas entre si. Neste sentido, acrescenta-se a idéia de solidariedade entre os
elementos constitutivos deste todo. Seguindo essa linha etimológica, Pouillon
define
a acepção etimológicaou
tradicionalda noção
de estruturacomo:
“(...) aquilo
que
nos revelaa
análise interna deuma
totalidade:elementos, relações entre os elementos e 0 arranjo, 0 sistema dessas
mesmas
relações. (..) Esta [a estrutura, neste sentido estrito] é,em
suma, o arcaboiço, o esqueleto
do
objeto ” (Pouillon, op.cit.:3).Uma
definição
semelhantepode
ser expressa peloque
Lepargneur entendecomo
“formulação clássica”,onde
anoção de
estrutura designa“(...)um
conjunto de elementos entre os quais existem relações,de forma que
toda amodificação de
um
2
Esta edição foi totalmente dedicada a problemática do estruturalismo.
3 Segundo
elemento
ou de
uma
relação acarreta amodificação
dos outros elementos e relações”(Lepargneur, op.cit. :4-5).
A
estrutura, nesta acepção, nãopode
ser aprioristicamente consideradacomo
o elemento chavedo programa
estruturalista.Como
notou Bastide, a noção tradicional de estruturanão
apresentanenhuma
diferença significativacom
relação àsnoções vizinhas de sistema, forma,
ou
organização.Não
caracteriza, portanto,nenhuma
orientação específica deum
pensamento
estrutural.A
noção
tradicional de estrutura não está, tão pouco, circunscrita ao âmbitodas ciências
humanas
e sociais.Um
estruturalismo deduzido a partir destanoção
tradicional dificilmente sustentar-se-ia enquanto “escola”
ou método
específico deum
certocampo
do pensamento
científico.Nessa
visão tradicional, segundoLepargneur:
“(...)
o
estruturalismo e' velho; os víventesque
os naturalistas~
estudam
sao estruturas,a
moléculaque
os químicosestudam
éestrutura,
a
sociedadeque
os sociólogos e politólogosestudam
estrutura. ” (Lepargneur, op.cit.: 4);wx
e, todavia, para
o
mesmo
autor, “(...)No
seu sentido específico atual, o estruturalismoabrange
somente
pesquisasem
campos
daschamadas
“ciênciashumanas”
” .(Lepargneur, op.cit.: 4).
Uma
definição altemativa, extraída deLOGOS
- enciclopédia luso-brasileirade filosofia, já levando
em
conta a contribuição estruturalista, oferece indíciosconcretos
da
evoluçãodo
termo:“Uma
estrutura éum
todo constituído porum
conjunto de entidades entre si relacionadas por relações ao
mesmo
tempo
desemelhança ou
identidade e dedifereng
(grifo nosso)” (1990:565).O
destaque conferido a natureza destas relações é fundamental. Barthes(l967:l9) já advertia
que
o estruturalismonão pode
ser consideradoum
programa
coerente simplesmente pelo uso de
um
termo já exaustivamente utilizadoem
outrosdiversos contextos, fato
que
foi observadono que
diz respeito ao conceito tradicionalde estrutura.
Segundo
Pouillon, anoção
tradicional de estrutura,que não
levaem
contaesse caráter de diferença e identidade simultâneas entre as relações intemas
do
todo,sentido
moderno.
Para ele:“Ê
necessárioque a
estruturapossa
ser postaem
questão,que
a
extensão destanoção
ea
realidade que ela designapossam
sercontestadas,
para
que
o estruturalismo tenha sentidocomo
teoria ecomo
método
”. (Op.cit.: 4).2.3
Estrutura
e
diferença:
o
estruturalismo
como
método
comparativo
Pouillon
argumenta que
a primeira definição deum
programa
estruturalistaem
ciênciashumanas
ocorre por oposição ao sentido “atomista” danoção
tradicionalde estrutura,
que
implicano
isolamento de elementosem
um
conjuntoformado
pormera
justaposição. Neste sentido,o
estruturalismo se dedica a “(...) procurar asrelações que
dão
aos tennos que elasunem
um
valor “de posição”num
conjuntoorganizado,
em
apreender conjuntos que a sua articulaçãotoma
significantes”.(Pouillon, op.cit.:6).
O
estruturalismocomeça,
segundo o autor (Pouillon, op.cit.:6),com
a
ênfasenas idéias de totalidade e de interdependência.
A
“inspiração inicial”da
correnteestruturalista seria, portanto, a criação de
um
método
aomesmo
tempo
analítico etotalizante.
Contudo, este sentido ainda
não
caracteriza oprograma
estruturalista propriamente dito. Este só setoma
efetivoquando
~
no
entender de Pouillon-
conjuntos diversos
podem
seraproximados
em
decorrência de suas diferenças. Neste sentido:“O
método
consiste (..)em
reconhecer, entre os conjuntosorganizados, diferenças
que
não
sejam alteridadespuras
mas
queindiquem
a
relaçãocomum
segundo
as quais elas se definem. Consisteem
seguida, (...)em
ordenar essas diferenças de talmaneira que
osconjuntos considerados
apareçam como
variantes uns dos outros, eo
conjunto desses conjuntoscomo
0 produto deuma
combinatória.(grifonosso) ” (Pouillon, 1967: 8).
Esta
nova
definiçãomerece
um
comentário. Para Lepargneur:“Jean Pouillon diz
bem
que
o estruturalismocomeça quando
seadmite
que
conjuntos diferentespodem
utilmente ser confrontados ,não a
despeito,mas
em
virtudede
suas diferençasque
procuram, entao, ordenar. Distinguir, comparar, classificar, situar, ésempre
perceber diferenças significativas e organizar
fenômenos ou
seresem
Neste ponto, pode-se vislumbrar
uma
orientação metodológica própria aocampo
de estudo dos cientistas sociais,no
sentidoem
que-
pormeio
da noção de
estrutura-
osfenômenos
sociaispodem
ser situados e organizadosem
tipologiasem
função de suas diferenças. Aqui, jánão
é possíveluma
sujeiçãodo
caráter sincrônicode
uma
detenninada relação social à sua evolução diacrônica-
embora
esse aspectodiacrônico,
como
foi visto, ainda possa ser estudadoem
temos
da
sucessão temporalde quadros sincrônicos. Inverteu-se, contudo, a relação anterior de diacrônica-
sincrônica, para sincrônico-diacrônica.
Essa orientação metodológica culmina
na
caracterizaçãodo
estruturalismocomo
método
comparativo; tendoem
vista esta particularidade dos conjuntosorganizados,
que
implicaem
diferentes configurações aparentes condicionadas pordiferentes sistemas de relações imanentes.
Segundo
Lepargneur:“O
estruturalismo e' metodologia de estudo comparativo,porque
só acreditaem
diferenças.O
método
consistirá, então,em
verificar as diferençasque
sepresumem
significativaspor
uma
hipótese
de
trabalho, eque
devem
sercomparadas
como
tais noequacionamento
das observações ” (Op.cit.:10).Neste sentido, dois conjtmtos organizados
podem
constituir-seem
simplesvariações de
uma
determinada estrutura de relações, pormais
diferentesque
suasconfigurações aparentes
possam
se mostrar ao observador: dessa forma, a poder-se-áinvestigar a natureza
da
estrutura condicionante atravésda comparação
dos conjuntosaparentes.
De
forma
semelhante, dois conjuntos aparentemente semelhantespodem
apresentar diferentes estruturas de relações intemas, prestando-se igualmente a
um
estudo comparativo
que
permita revelar as diferentes estruturas, permitindoum
conhecimento mais
consistente dos objetos, e construir critérios de tipificação maisprofundos.
~
2.4
Estrutura
Vs.Organizaçao
Neste ponto, toma-se fundamental a distinção entre as noções de estrutura e
organização. Para Pouillon (Op.cit:155) a noção de organização diz respeito a
superñcie,
ou
seja, aum
conjuntode
elementos deordem
fatualque
toma-sedefinida.
A
estrutura, portanto, éum
elemento subjacente quenão
se confundecom
aorganização, e
que
condicionao
seu funcionamento.Neste sentido, segtmdo Pouillon o estruturalismo consiste
em
descobrir sob os fatos observadosem
uma
determinada organização as razões ocultasde
sua aparência,levando-se
em
contaque
a estrutura-
jáem
sua acepção propriamente“estruturalista”
~
ultrapassa estanoção
de organização, estabelecendo-acomo “uma
simples variante cujas transformações ela explica (...)” (Pouillon, Op.cit.:13).
Sendo
assim, a estrutura é
ao
mesmo
tempo
uma
realidade~
no
sentidoda
organizaçãoconcreta
que
ela “descobre”-
euma
“categoriaou
instrumento intelectual” (Op.cit.:l3)
~
referindo-se a leida
variabilidadeda
Organização.Uma
relaçãopode
ser “estrutural” , portanto,em
dois sentidos distintos:°
No
sentido “de seu papel determinanteno
seio deuma
dada Organização”(Pouillon, op.cit.:13)
definido
pelo adjetivo structurelna
língua francesa; e0
No
sentidode
uma
realização potencial de várias maneiras diferentes edeterminantes
em
várias Organizações,conforme
se expressano
adjetivo francêsstructural.
Em
suma,o
estruturalismo enquanto teoria emétodo
de aplicação universalno
âmbito das ciências
humanas
e sociais refere-se a análise totalizante das estruturas derelações subjacentes às organizações sociais
em
seus diversos contextos e variantes.Resulta
do
divórcio entre as noções de estrutura e organização, e se preocupacom
asrelações ftmdamentais
que condicionam
as relações aparentes; construindo tipologiase estabelecendo
comparações
entre organizações e suas respectivas estruturasimanentes,
em
uma
perspectivapredominantemente
sincrônica, inseridano campo
das ciências sociais. Foi nessa acepção
que
oprograma
estruturalistamarcou
asegunda
metade do
séculoXX,
de
modo
a “(...)denubar
as barreiras entre asdisciplinas vizinhas e
promover
entre elasuma
verdadeira colaboração” (Lévi-Strauss,l976:18).”
2.5
Pensamento
estruturalnas
organizações
complexas
Até o presente
momento,
os aspectos tratadosno
âmbito deste estudo,no
que diz respeito à caracterização e definiçãodo
estruturalismoem
funçãoda
evoluçãoda
noção
de estrutura,fonna
tratadosno
seu sentido amplo; tendoem
vista caracterizarciências
humanas
e sociais. Neste sentido, privilegiou-se os princípioscomuns
a todasestas ciências,
afim
de
que se saliente esse caráter interdisciplinar.É
necessário, entretanto,que
se retome esses esforços de caracterizaçãodo
método
universal,bem
como
o próprio itineráriodo
estudoda
evoluçãodo
sentidoda
noção
de estrutura, tendoem
vista correlacionar estes elementoscom
0campo
específico das organizaçõescomplexas
e as peculiaridades destecampo
no
sentidoda
orientação das metodologias de análise organizacional.
Com
isso espera-seestabelecer os princípios
que
regem
o estudo das organizações e verificar ascondições gerais
da
instauraçãodo programa
estruturalista nos processos de análiseorganizacional
Para tanto,
cumpre
que
se estabeleça:0
O
conceito de organização, eno que
as organizações se diferenciamde
outrostipos de agrupamentos sociais;
0
A
abordagem
dos estruturalistas deste conceito,bem
como
do
arcabouço teórico eanalítico
que
o envolve;0
O
referido itinerárioda
evoluçãodo
sentidoda noção
de estruturana
teoriaorganizacional; e
0
A
abordagem
dos sistemas teóricos voltados para a análise dosfenômenos
organizacionais
em
função das noções de sincronia e diacronia.2.5.1
O
campo
da
teoria organizacionalUma
rápida revisãoda
literaturaem
busca deuma
definição para asorganizações
complexas
procedente dos principais autores ligados àabordagem
estruturalista revela alguns elementos básicosque
estão presentesem
praticamentetodas as definições verificadas.
O
primeiro destes elementos se refereao
modo
pelo qual as organizações sãoformadas. Neste ponto, percebe-se
que
as organizaçõesnão
são-
ou
muito raramenteo
são-
constituídas por razões fortuitasou
por puro acaso.O
primeiro elemento paraa definição das organizações se refere ao seu caráter deliberado: existe, portanto, urna
intenção expressa dos fundadores
em
constituirum
agrupamento
social,com
atribuições e hierarquia já formalmente estabelecidas, de
modo
a distinguir-se deorganização social
que
aparecesempre que
sereshumanos
vivem
juntos, existem organizações estabelecidas, deliberadamente, paramn
certofim”
(1970: 17).O
segundo elemento se refere justamente aosfins
a queBlau
&
Scott sereferem,
no
tocante a esta constituição deliberada.As
organizaçõesnão
sãoum
fim
em
simesmas,
mas
antesseguem
uma
diretriz pré-detenninadaque
orienta seucampo
de ação,
ou mais
precisamente, são comtituídas para alcançarum
objetivopreviamente determinado.
Segundo
Parsons:“(...)
Como
ponto
analíticoformal de
referência,a
prioridadeda
atençãopara
a
consecução deuma
meta
especifica é considerada característica dedefinição de
uma
organização, distinguindo-ade
outros tipos
de
sistemas sociais " ( 1978244).Neste sentido, pode-se definir as organizações
como
um
agrupamento
social~
constituído deliberadamente para alcançar
um
determinado objetivo.A
noçao
deagrupamento
social admite, segundo Viet (1978:l54-155) a existênciade
grupos sociaisnão
organizados,mas
exclui tais agrupamentosdo
universo de preocupações deuma
teoria organizacional4.2.5.2
A
abordagem
estruturalistada
teoria organizacionalPara contextualizar a
abordagem
estruturalistada
organização~
conforme
adefinição apresentada
-
edo
corpo teórico dedicado a sua análise, é necessário que seretome, inicialmente, os esforços de definição
do pensamento
estruturalistade
Pouillon.
Para Faria (1978:2) a já discutida definição é
amplamente adequada
para oestudo
da abordagem
estruturalistana
teoria das organizações. Este autorretoma
a4
A
noção de agrupamento socialfoi exaustivamente trabalhada por Gurvitch. Embora a teoria organizacional se refira apenas ao
tipo especifico de agrupamento social em que se constituem as organizações complexas (para ETZIONT), ou formais (para BLAU
&
SCOTT), a própria noção de agrupamento social é relevante para os objetivos do estudo pretendido: segundo Viet, “Areferência aos agrupamentos (___) permite levantar o pano de fundo sobre o qual vai se destacar o estudo estrutural das organizações
complexas” (op. cit. : 155).
A
noção de agrupamento social também será bastante útil no estudo pretendido devido a uma questãoterminológica. Utilizar-se-á o termo correspondente esta noção, no âmbito do estudo pretendido, como equivalente ao terrno
organização social proposto por Blau
&
Scott (Op. cit. : 14 - 15). Isso permitirá o emprego generalizado do termo organização nosentido especifico de agrupamentos sociais constituídos para determinados fins.
A
razão disso tudo é evitar possiveis confusõesdecorrentes do emprego generalizado dos terrnos organizações complexas, organizações formais, ou ainda organizações
burocráticas, freqüentemente utilizados de forma mutuarnente exclusiva por autores importantes para o estudo que se pretende
efetuar.
A
opção é justificada: se utilizássemos de forma universal os termos organização formal ou burocrática, esse empregocausaria problemas na análise dos modelos propostos por Etzioni, pois o termo empregado poderia sugerir um entendimento do
conceito de organização voltado para o modelo burocrático de Weber. .Tá a utilização do termo organizações complexas ~ como
querem Etzioni e outros autores - cornprometeria o entendimento do modelo de análise de Blau
&
Scott, que emprega acomplexidade como uma variável, como advertern os próprios autores (Op. cit. : 19 -20). Portanto, o emprego termo organização
na acepção referida nos parece suficientemente neutro e capaz de dar conta dos dois modelos; além de amplamente aceito pela
definição
precedente, extraindo os seguintes elementos, que consideraparticulannente significativos:
0
O
caráter analítico, comparativo e totalizantedo
método
estruturalista, que teriase
mostrado
atrativo para os autores ligados a teoriada
organizaçãoque
aderiram aoparadigma
estrutural, e0
A
possibilidade de integrarcom
sinergia a influênciamútua
e recíproca doselementos atuantes nos ambientes externo e interno das instituições.
Segundo
Faria, os autores ligados aabordagem
estruturalistaforam
atraídospela idéia básica de “(...) integração dos fatos
da
vidanmna
totalidade” (Viet inFaria, 197813), idéia
que
também
estaria relacionadacom
a posteriorabordagem
sistêmica.O
autor admiteuma
vinculação entre os tennos sistema e estrutura, assimcomo
no que
se refere às idéias vizinhas de plano, método,ordem
e organização.Contudo, o autor
não
trata todos esses termoscomo
sinônimos enão
rompe
com
adiferenciação epistemológica entre organização e estrutura estabelecida por Pouillon.
Pelo contrário, para Faria:
~ ~
“O
novo,na
suaconcepçao
atual, éa
contestaçaoda
atitudeprecedente: aquilo
que
confunde estrutura e organização interna deum
conjuntoque
faz construiro
tipode reagrupamento
de traçosrecorrentes
em
um
certonúmero
de organizações, cujas diferenças sãoeliminadas
como
não-essenciaisou
são retidassomente
como
indicandoum
limite” (Op. cit. : 4).A
atitude precedente aque
o autor se refere consisteno
tipo idealda
burocracia, proposto por
Max
Weber,
e tidocomo
paradigma de racionalidade pelasprimeiras abordagens
da
teoria organizacional; o que tevecomo
conseqüência aconcepção
anatomistada
escola clássica. Estas concepçõesremetem
aos aspectosformais
da
organização,no
sentido das disposições hierárquicas formalmenteestabelecidas
no
modelo
ideal de burocracia proposto pelo sociólogo alemão. Nestaconce ão, as
no
ões de or aniza Ção
e de estrutura são ainda e fluivalentes , fato esteque
impossibilita a aplicação daabordagem eminentemente
comparativado método
estruturalista.
Por outro lado, o
“novo”
aque
se refere Faria diz respeito à própriaabordagem
estruturalista, que situa as organizaçõescomo
sistemas abertos, dependentesdo meio onde
atuam, objetivando o equilíbrio entre os seus elementosformais e informais. Esta
nova
concepção é claramenteum
viésdo pensamento
estrutural, e supera as limitações dos
modelos
anterioressde
análise organizacional,no
sentidoem
que
pressupõeuma
diferenciação entre a organização aparente-
definida
por suaconfiguração
formal de hierarquia, regras e procedimentos-
e a estrutura fundamentalque
condiciona o funcionamento e as regras de variação destesconjuntos. Neste âmbito toma-se perfeitamente possível a aplicação
do
método
estruturalista, através
do
qual as diferenças entre os conjtmtos de organizações -tidascomo
“disfunções”em
relação ao tipo ideal,na
óticado modelo
-
deixam
de seconstituir
em
elementos irrelevantesou
limítrofes, epassam
a ser parâmetros para aconstrução teórica
de
tipologias e para a prática comparativa dosfenômenos
observados
na
realidade empírica;o
que se constituina
finalidade últimada
análiseestrutural.
Em
suma,no paradigma
estruturalista, anoção de
estrutura, longe de seconfundir
com
a organização a que se refere, determina que:“(..) as unidades
componentes
tenham alguma
relação entre sí,que o
todo sejamaior do que a
soma
de suas partes, eque
as relaçõesentre as unidades
tragam
elementos novosa
situação, configurandoa
sua essência e
definindo
as característicasque
individualizam oconjunto. ” (Blau
&
Scott in Faria, 197 8:5).Trata-se de
mn
novo
conceito de estrutura,em
sintoniacom
o paradigmaestruturalista
em
ciênciashumanas
e sociais, onde:“A
mesma
estruturapode
serapontada
em
diferentes áreas.A
compreensão
das estruturas fundamentaisem
algunscampos
de
atividade permite 0 reconhecimento das
mesmas
estruturasem
outroscampos
” (Chiavenato, 19763237).2.5.3 Sincronia, diacronia
e
teoria organizacionalSegundo
Viet-
autor quefundamenta
essa última afirmativa de Chiavenato-
estanova
perspectiva é,mais
do que
adequada, necessária para a análise dasorganizações. Para ele:
“Que
as organizações complexasdevem
depender de
uma
pesquisa de tipo estruturalista, isto
parece
evidente.Parece
bem
evidente
que o agrupamento
organizado, enquanto precisamente eleé5
organizado, Qferece
uma
tomada de
escolhaà
análise estrutural (grifos nossos) ” (Op. cit. : 155).Essa
tomada
de escolha não é fortuita. Ela decorredo
caráterpredominantemente
sincrônico dos sistemas teóricos voltados para a análise das organizações.Como
se demonstraráno
decorrerdo
presente estudo, desde os primeirosmodelos
elaborados por Taylor, a principal preocupação da análise organizacionalsempre
foicom
estruturasde
relações voltadas para a realizaçãode
determinadas tarefasem
um
detenninadomomento.
Os
problemas de produtividade, por exemplo,são necessariamente estudados
em
uma
perspectiva sincrônica-
sendoque
dificilmente se poderia imaginaruma
abordagem
altemativa, de caráterpredominantemente
diacrônico, parao
estudo utilitário dos problemasde
produtividade e eficiência organizacional.
Evidentemente,
sempre
houve
espaço para o estudo diacrônico dosfenômenos
organizacionais, principalmente
no que
se refere a avaliaçãoda
eficiênciaorganizacional,
em
nívelda
utilização e alocação dos recursos.Mas
estes estudosestarão submetidos a
uma
perspectiva geral sincrônica.De
fato,no
momento
em
queum
analista financeiro estudauma
sucessão de demonstrações contábeis referentes avários períodos de
tempo
distintos,afim
de avaliar a saúde financeirada
organizaçãoou
estudar sua rentabilidade, elenão
esta preocupadocom
a evolução dosfenômenos
em
simas
com
a busca de padrões de ruptura e descontinuidades que lhepermitam
identificar
uma
possível disfunçãono
quadro atualda
organizaçãoou
levantarelementos
que
lhepermitam
prever a configuração esperada de sua estruturafinanceira.
A
preocupação dominante, portanto, écom
a sucessão de quadrossincrônicos designados por balanços patrimoniais, índices financeiros
ou
quaisqueroutros
modelos
e métodos.A
instauraçãodo paradigma
estruturalno
âmbitodo
estudo estruturalista deorganizações complexas, neste sentido, dá-se
menos
em
função deuma
nova
relaçãodos pontos de vista sincrônico e diacrônico