Anticoagulação na gestação:
profilaxia e terapêutica
Anticoagulação na gestação: profilaxia e terapêutica
• A gestação é um estado de hipercoagulabilidade: Maior risco de eventos trombóticos
20% de eventos arteriais e 80% venosos
Risco de TEV é 4-5 vezes maior durante a gestação
Risco de TEV é 20-100 vezes maior durante o puerpério
80% dos eventos de TEV correspondem à TVP e 20-25% TEP As TVPs são mais proximais, de grande porte e à esquerda Tromboses venosas pélvicas ocorrem em 10-12% dos casos de
TEV gestacionais
2% dos eventos trombóticos são de MMSS
Anticoagulação na gestação: profilaxia e terapêutica
• A maioria, senão todos, dos casos de TEV representa a
convergência de predisposição genética subjacente e eventos adquiridos precipitantes
Provavelmente todos os pacientes com TEV têm um fator genético predisponente, com hipercoagulabilidade de base individualmente determinada pelo tipo(s) e número de
trombofilias
Provavelmente todos os episódios de TEV têm um fator adquirido desencadeante
Fatores de risco adicionais para TEV
na gestação e puerpério
• Pré-existentes:
Idade > 35 anos Obesidade (IMC> 30 kg/m2) Paridade ≥ 3 Veias varicosas de grande calibre Paraplegia
Anemia falciforme Tabagismo
Técnicas de reprodução assistida Doenças inflamatórias
Doenças mieloproliferativas
Fatores de risco adicionais para TEV
na gestação e puerpério
• Específicas para TEV puerperal:
Cesareana (especialmente se em trabalho de parto) Trabalho de parto prolongado
Imobilização após parto
Fatores de risco adicionais para TEV
na gestação e puerpério
• Recentes ou transitórios:
Síndrome de hiperestimulação ovariana Hiperemese
Desidratação Infecção grave Viagem longa
Imobilização (repouso no leito > 4 dias) Pré-eclampsia
Hemorragia/Transfusão de sangue
Procedimento cirúrgico na gestação ou puerpério
OR para fatores de risco individuais para TEV
Fator de risco paraTEV
OR
TEV prévio 24,8 Imobilização 10,8-7,7 Condições clínicas 8,7-2,0 Transfusão 7,6 Pré-eclampsia + RCIU 5,8 IMC > 30 5,3-4,4 Reprodução assistida 4,3 Cesareana 3,6 Pré-eclampsia 3,1 Tabagismo 2,7 Gemelaridade 2,6 Hiperemese 2,5
Risco de TEV associada à gestação em mulheres
com trombofilia hereditária
Defeito trombofílico
RR
Fator V Leiden - heterozigose 8,32 Fator V Leiden - homozigose 34,4 Mutação do gene da protrombina -
heterozigose 6,8
Mutação do gene da protrombina -
homozigose 26,4
Deficiência de proteína C 4,76 Deficiência de proteína S 3,19 Deficiência de antitrombina 4,69
Anticoagulação na gestação: profilaxia e terapêutica
• Teratogenicidade da varfarina: Transferência placentária
Durante o período de organogênese, seu uso se associa até a 30% de anomalias congênitas: hipoplasia nasal e calcificações epifisárias em pontos
Risco de abortamento entre 14,6 a 56% Sangramento fetal e parto prematuro
Lesões cerebrais descritas quando usada no 2º e 3º trimestres
Anticoagulação na gestação: profilaxia e terapêutica
• As heparinas não cruzam a placenta e são seguras durante a amamentação
• Poucos trabalhos comparativos, durante a gestação, avaliando heparina de baixo peso com a heparina clássica
• Vantagens potenciais das heparinas de baixo peso: menos sangramento, resposta mais previsível, menor risco de
plaquetopenia induzida pela heparina, meia-vida mais longa e menor perda óssea
Anticoagulação na gestação:
terapêutica
Tratamento do Tromboembolismo Venoso
Durante a Gestação
TEV agudo na gestação
• Diagnóstico clínico:
muitos dos sinais e sintomas de TEV estão comumente presentes numa gestação normal (edema de membros inferiores e dispnéia) a acurácia do diagnóstico clínico é de 8% para TVP e de 5% para TEP
• Diagnóstico por imagem: US Doppler, Rx tórax,
cintilografia pulmonar e TC tórax
• D-dímeros: aumentados durante a gestação e no
período puerperal. Discordâncias entre a ESC e
RCOG
Anticoagulação na gestação: terapêutica
• Investigação de trombofilia hereditária e adquirida durante a gestação:
Proteína S: redução da concentração plasmática
Resistência a proteína C ativada: positiva pelo aumento dos fatores de coagulação
Anticorpos antifosfolípides: estabilidade ou oscilação
• Interferência do diagnóstico de trombofilia no tratamento anticoagulante atual? NÃO
Anticoagulação na gestação: terapêutica
• Para as mulheres grávidas com TEV agudo, recomenda-se
tratamento com heparina de baixo peso ou heparina clássica, em doses terapêuticas, mantida por toda gestação
• Desde que a dose da heparina de baixo peso molecular seja ajustada pelo peso da gestante, não haveria necessidade de controle da atividade anti-FXa, porém considerar outros fatores
• Nos casos com maior risco hemorrágico ou de osteoporose, após 4 semanas de tratamento com doses plenas pode-se reduzir para doses intermediárias ou 75% (sem trabalhos adequados)
• No pós-parto a anticoagulação deve ser mantida por no
mínimo 6 semanas ou por um tempo total de tratamento de 6 meses (CHEST) ou 3 meses (RCOG)
Anticoagulação na gestação:
profilaxia
Profilaxia do Tromboembolismo Venoso
Durante a Gestação
Anticoagulação na gestação: profilaxia antitrombótica
em mulheres com passado de TEV
• Para as mulheres grávidas que tiveram evento trombótico associado a fator de risco transitório e não mais presente e sem trombofilia, recomenda-se observação clínica durante a gestação e profilaxia anticoagulante no pós-parto
• Se for usada heparina profilática, trabalhos com enoxaparina 40 mg/d ou dalteparina 5.000 UI/dia ou dose ajustada pata anti-Xa de 0,2-0,6 U/mL ou heparina não fracionada 10.000 UI 2x/d
• Se o fator de risco transitório for gestação ou relacionado com estrogênio, durante a gestação é uma alternativa o uso de heparina em dose profilática ou intermediária
Anticoagulação na gestação: profilaxia antitrombótica
em mulheres com passado de TEV
• Para gestantes com trombofilia laboratorialmente confirmada e com um único evento prévio de TEV primário e sem uso atual de anticoagulantes, heparina em dose profilática ou
intermediária e anticoagulação no pós-parto
• Se a trombofilia for presença de anticorpos antifosfolípides, deficiência de AT, heterozigose composta para FVLeiden e mutação G20210A do gene da protrombina ou homozigose dessas mutações, sugere-se heparina profilática ou
intermediária durante a gestação
• Se a gestante teve mais de um evento de TEV e está sem uso de anticoagulantes, é sugerida heparina profilática,
intermediária ou terapêutica durante a gestação e anticoagulação no pós-parto
Anticoagulação na gestação: profilaxia
antitrombótica em mulheres portadoras
assintomáticas de trombofilia hereditária
• Para gestantes com trombofilia laboratorialmente confirmada e sem passado de TEV, é sugerida profilaxia antitrombótica quando for deficiência de antitrombina
• Para aas outras trombofilias hereditárias, é sugerido acompanhamento clínico ou profilaxia com heparina e anticoagulação no período puerperal
Anticoagulação na gestação: profilaxia antitrombótica
em mulheres sob uso prévio de anticoagulantes
• Para as mulheres que engravidam enquanto sob tratamento anticoagulante oral, recomenda-se a substituição da varfarina pela heparina clássica ou heparina de baixo peso molecular em dose terapêutica (ou dose ajustada) ou heparina de baixo
peso molecular em 75% da dose ou dose intermediária
• Para as mulheres com próteses valvares mecânicas é sugerido o uso de heparina em dose terapêutica (clássica ou de baixo peso molecular) por toda gestação ou até a 13ª semana
gestacional, com substituição por varfarina, com reintrodução da heparina próximo do parto
• Em casos de próteses valvares de alto risco trombótico (próteses de gerações antigas em posição mitral ou com passado de TEV), é sugerido o uso da varfarina
Anticoagulação na gestação: profilaxia
• Para as mulheres com risco aumento para TEV após cesárea é sugerida profilaxia farmacológica antitrombótica ou
profilaxia mecânica (meias de compressão gradual ou
compressão pneumática intermitente de MMII) enquanto internadas
• Se a paciente é considerada com risco mais elevado após cesárea é sugerida a associação de tromboprofilaxia
mecânica com farmacológica
• Para pacientes selecionadas com risco elevado e com
persistência dos fatores de risco após o parto, a profilaxia é sugerida por até 4-6 semanas de pós-parto
Alterações da coagulação na gestação
• Aumento das concentrações dos fatores VII, VIII, X, FVW e fibrinogênio
• Estabilidade dos fatores II, V e IX
• Redução das concentrações da proteína S livre
• Aumento das concentrações do PAI-1 (5x) e PAI-2 (3º trimestre)
• Aumento das concentrações do F1+2 e TAT
• Essas alterações têm início com a concepção e podem não se normalizar até mais de 8 semanas de pós-parto