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UMA LEITURA DE O INDIVIDUALIMO E O MENTAL DE TYLER BURGE 1

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YLER

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URGE1 WALDOMIRO J. SILVA FILHO (UFBA, CNPQ)

1.A REFERÊNCIA

Burge, Tyler (1979). “Individualism and the Mental”. In: Midwest Studies in Philosophy, n. 4, pp. 73-121; reimpresso em P. Ludlow and N. Martin, Externalism and Self-knowledge. Stanford : CSLI Publications, 1998, pp. 21-83; reimpresso em T. Burge, Foundations of Mind. Oxford : Oxford University Press, 2007, pp. 100-1502.

2.OESQUEMA DO TEXTO

I. Questões Terminológicas II. Um Experimento Mental IIa. Primeiro Caso IIb. Mais Exemplos

IIc. Expansão e delineação do Experimento mental

IId. Independência dos verbos factivos (Factive-Verb) e dos Paradigmas de Referência Indexical (Indexical-Reference Paradigms)

III. Reinterpretações IIIa. Metodologia

IIIb. Entendimento Incompleto e os Casos Típicos de Reinterpretação IIIc. Quatro Métodos de Reinterpretação do Experimento Mental IIId. Argumentos Filosóficos a favor da Reinterpretação

IV. Aplicações

V. Modelos do Mental

3.OARGUMENTO

*A distinção entre ocorrências de termos oblíquos e termo não-oblíquos em “expressões frases” (“orações subordinadas”) [“sentential expressions”] (p. 101)

O discurso intencional é o discurso mentalístico com expressões oblíquas.

“O discurso mentalista contendo expressões em ocorrência oblíqua tem sido tradicionalmente chamado discurso intencional. (...) Ocorrências claramente oblíquas

1 Há alguns anos, numa dessas buscas na internet, encontrei um roteiro de leitura do “Individualism and

the mental” que foi muito útil. Porém, perdi aquele roteiro. Esta breve “leitura” a seguir está inspirada naquele roteiro, mas, para meu infortúnio, não tenho como identificar seu generoso autor e lhe dar o devido crédito.

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no discurso mentalista têm algo a ver com a caracterização da perspectiva epistêmica de uma pessoa – como as coisas lhe parecem, ou, num sentido informal, como estão representadas para essa pessoa. (...)” (p. 103-4)

3.1 O experimento mental e suas consequências: “Artrite” em 3 passos

Com o experimento mental somos levados a considerar uma situação contrafactual parecida com o mundo real (“actual” em ingles), mas que os usuários autorizados da lingua (e.g., “médicos, lexicógrafos e leigos informados”) usam “artrite” para se referir a uma doença que ocorre não apenas nas articulações (p. 106)

Primeiro passo: devemos imaginar um sujeito S, de modo geral competente na sua língua (neste caso, o inglês), racional e inteligente, tem um grande número de crenças que lhe são normalmente atribuídas por meio de frases de conteúdo onde aparece a palavra “artrite” em ocorrência oblíqua do tipo S acredita que p. Esse sujeito acredita corretamente, por exemplo, “a artrite nos meus pulsos e dedos é mais dolorosa que a artrite nos meus tornozelos”, “o enrijecimento das articulações é um sintoma de artrite”. Mas S também acredita, mas acredita equivocadamente, que desenvolveu artrite na coxa. S, então, descobre que sua crença é falsa quando seu médico lhe fala que artrite é especificamente uma inflamação nas articulações e que qualquer dicionário iria lhe dizer o mesmo – “O paciente fica surpreso, mas desiste da opinião, e então pergunta o que pode estar errado com sua coxa” (p. 105);

Segundo passo: devemos imaginar uma situação contrafactual onde um sujeito S tem, desde o nascimento até o relato ao médico, a mesma história de eventos físicos da situação original (descrita no primeiro passo), a mesma história fisiológica, as mesmas doenças, as mesmas ocorrências físicas internas. O mesmo se aplica à sua relação com expressões lingüísticas para explicar como ele adquiriu a palavra “artrite”. A diferença, porém, está no fato de que na situação contrafactual, pois agora médicos, lexicógrafos, e leigos bem-informados usam “artrite” não apenas para artrite, mas para várias outras moléstias reumatóides, incluindo o uso desviante feito por S. Assim, a palavra “artrite” na situação contrafactual difere na definição do dicionário e na extensão em relação à situação original;

Terceiro passo: na situação contrafactual, S não tem as crenças que são normalmente atribuídas por meio de frases de conteúdo onde aparece “artrite”. Assim, S não pensa nem acredita que tenha artrite na coxa, que tenha artrite há anos e assim por diante. Ou seja, não podemos imputar corretamente nenhuma sentença de conteúdo que contenha uma ocorrência oblíqua do termo “artrite” da situação original já que na situação contrafactual, a palavra “artrite”, de fato, não significa artrite – ou seja, os conteúdos das crenças na situação diferem dos seus conteúdos da situação original. A conclusão de Burge extrai desse experimento é que os conteúdos mentais de S diferem, enquanto sua história física e sua história mental não-intencional, tomadas isoladamente de seus contextos sócio-linguístico, permanecem idênticas: a diferença está “fora” (“outside”) de S e devem ser atribuídas a diferenças em seu entorno social e linguístico.

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“However we describe the patient’s attitudes in the counterfactual situation, it will not be with a term or phrase extensionally equivalent with ‘arthritis’. So the patient’s counterfactual attitude contents differ from his actual ones.

The upshot of these reflections is that the patient’s mental contents differ while his entire physical and non-intentional mental histories, considered in isolation from their social context, remain the same.” (p. 106)

[“Seja como for que descrevamos as atitudes do paciente na situação contrafactual, não será com um termo ou com uma locução extensionalmente equivalente a ‘artrite’. Então, os conteúdos da atitude contrafactual do paciente diferem dos seus conteúdos reais.

O resultado destas reflexões é que os conteúdos mentais do paciente diferem, enquanto sua história física e sua história mental não-intencional, completas, tomadas isoladamente de seus contextos sociais, permanecem idênticas.”]

Burge apresenta algumas situações onde nós entendemos incompletamente certos termos (a tese do entendimento incompleto é essencial para casos nos estilo-artrite).

“... um falante que seja em geral competente terá provavelmente muitas palavras em seu repertório, até mesmo palavras comuns, que ele de algum modo interpreta erradamente. Muitos desses erros de interpretação não vão impedir a imputação normal de subordinadas-que que envolvam, em ocorrência oblíqua, os termos que foram dominados incompletamente. Por exemplo, pode-se imaginar um adulto, racional e de modo geral competente, que tenha uma grande quantidade de atitudes que envolvam a noção de sofá – incluindo as crenças de que aqueles (alguns sofás) são sofás3, que alguns sofás são bege, que seus vizinhos têm um sofá novo, e que ele prefere passar uma hora sentado num sofá e não num banco de igreja.”

Ponto Principal: Burge argumento que nosso entorno e nossa comunidade linguística parcialmente determina não apenas o que nossas palavras significam (este é um ponto amplamente aceito), mas também que o conteúdos dos estados mentais em nos encontramos (cf. nota de página n. 2).

“We have to take account of a person’s community in interpreting his words and describing his attitudes—and this holds in the foreign case as well as in the domestic case.

The reversal of the thought experiment brings home the important point that

even those propositional attitudes not infected by incomplete understanding depend for

their content on social factors that are independent of the individual, asocially and non-intentionally described. For if the social environment had been appropriately different, the contents of those attitudes would have been different.” (p. 113).

3

O exemplo do “sofá” será muito importante nos desdobramentos do tema do “entendimento incompleto”, sobretudo no artigo “Intellectual Norms and Foundations of Mind” (In: The Journal of

Philosophy, vol. 83 (1986), pp. 697-720 e reimpresso em T. Burge, Foundations of Mind. Oxford :

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[“Temos de levar em conta a comunidade de uma pessoa ao interpretar suas palavras e descrever suas atitudes – e isso se dá tanto no caso do estrangeiro como no caso doméstico.

A inversão do experimento mental nos faz compreender a importante observação de que mesmo aquelas atitudes proposicionais que não estão contaminadas

por compreensão incompleta dependem, quanto ao conteúdo, de fatores sociais que são

independentes do indivíduo, tal como seria descrito socialmente e não-intencionalmente. Uma vez que, se o ambiente social fosse adequadamente diferente, os conteúdos daquelas atitudes seriam diferentes.”]

• Sobre o anti-individualismo:

“Approaches to the mental that I shall later criticize as excessively individualistic tend to assimilate environmental aspects of mental phenomena to either the factive-verb or indexical-reference paradigm. (Cf. note 2.) This sort of assimilation suggests that one might maintain a relatively clearcut distinction between extra-mental and mental aspects of mentalistic attributions. And it may encourage the idea that the distinctively mental aspects can be understood fundamentally in terms of the individual’s abilities, dispositions, states, and so forth, considered in isolation from his social surroundings. Our argument undermines this latter suggestion. Social context infects even the distinctively mental features of mentalistic attributions. No man’s intentional mental phenomena are insular. Every man is a piece of the social continent, a part of the social main.” (p. 116)

[As abordagens ao mental que criticarei mais tarde como excessivamente individualistas tendem a assimilar aspectos ambientais dos fenômenos mentais a um verbo factivo ou a um paradigma de referência indexical (cf. a nota 2). Tal tipo de assimilação sugere que se poderia manter uma distinção relativamente nítida entre os aspectos mentais e extra-mentais das atribuições mentalistas. E poderia encorajar a idéia que os aspectos distintamente mentais poderiam ser compreendidos fundamentalmente em termos das habilidades, disposições, estados, etc., do indivíduo, considerado de modo isolado de seu entorno social. Nosso argumento enfraquece esta última sugestão. O contexto social contamina mesmo as características distintamente mentais das atribuições mentalistas. Nenhum fenômeno mental intencional de pessoa alguma é uma ilha. Todos os homens são parte do continente social, da terra firme social.]

3.2 Reinterpretações, críticas, defesa

Burge acredita que o exemplo da artrite pode ser criticado de várias maneiras; então formula objeções e apresenta defesas do experimento.

Objeção 1:

“In fact, there is a line of resistance that is second nature to linguistically oriented philosophers. According to this line, we should deny that, say, the patient really believed or thought that arthritis can occur outside of joints because he misunderstood the word ‘arthritis’. More generally, we should deny that a subject could have any attitudes whose contents he incompletely understands.” (p. 118)

[“De fato, existe uma linha de resistência que é como uma segunda natureza para os filósofos de orientação lingüística. De acordo com essa linha, deveríamos negar que,

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digamos, o paciente realmente acreditava ou pensava que a artrite poderia ocorrer fora das articulações, porque ele compreendeu mal a palavra ‘artrite’. De modo mais geral, deveríamos negar que o sujeito pudesse ter qualquer atitude cujos conteúdos ele compreendesse de modo incompleto.”]

Resposta de Burge 1:

“But even our brief discussion of the matter should have suggested the beginnings of generalizations about differences between cases where reinterpretation is standard and cases where it is not. A person’s overall linguistic competence, his allegiance and responsibility to communal standards, the degree, source, and type of misunderstanding, the purposes of the report—all affect the issue. From a theoretical point of view, it would be a mistake to try to assimilate the cases in one direction or another. We do not want to credit a two-year-old who memorizes ‘e=mc2’ with belief in relativity theory. But the patient’s attitudes involving the notion of arthritis should not be assimilated to the foreigner’s uncomprehending pronunciations.” (p. 120-1)

[“Mas não são mais salientes do que os casos de atribuição direta de crenças em que o sujeito compreende incompletamente alguma noção que faz parte do conteúdo de crença que lhe é atribuído. Acho que qualquer impulso para dizer que a prática comum é

simplesmente inconsistente deveria ser evitado (na verdade, desprezado). Não podemos

esperar que uma tal prática siga rigorosamente princípios gerais. Mas mesmo a nossa breve discussão do assunto deveria ter sugerido o ponto de partida para generalizações acerca das diferenças entre os casos em que a reinterpretação é padrão, e os casos em que não é. A competência lingüística geral de uma pessoa, sua adesão e fidelidade aos padrões comunitários, o grau, a origem, e o tipo de incompreensão, os propósitos da descrição – tudo afeta a questão. De um ponto de vista teórico, seria um erro tentar assimilar os casos numa ou noutra direção. Não queremos atribuir a crença na teoria da relatividade a uma criança de dois anos de idade que tenha memorizado ‘e=mc2’. Mas as atitudes do paciente que envolvem a noção de artrite não deveriam ser confundidas com os enunciados que o estrangeiro pronuncia sem compreender.”]

As objeções 2-5 são objeções baseadas na possibilidade de que podemos atribuir conteúdo em situações nas quais o sujeito entende incompletamente os termos.

Objeção 2:

O sujeito tem um atitude (verdadeira) de re que é caracterizada equivocadamente pela palavra “artrite”. (p. 121)

Resposta de Burge 2:

“The subject will probably have such a belief in this case. But it hardly accounts for the relevant attributions. In particular, it ignores the oblique occurrence of ‘arthritis’ in the original ascription. Such occurrences bear on a characterization of the subject’s viewpoint. The subject thinks of the disease in his thigh (and of his arthritis) in a certain way. He thinks of each disease that it is arthritis. Other terms for arthritis (or for the actual trouble in his thigh) may not enable us to describe his attitude content nearly as well.” (p. 121-2)

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[“O sujeito vai provavelmente ter uma crença assim, em tal caso. Mas isso dificilmente dá conta das atribuições relevantes. Em particular, ignora a ocorrência oblíqua de ‘artrite’ na imputação original. Tais ocorrências dizem respeito à caracterização do ponto de vista do sujeito. O sujeito pensa acerca da doença em sua coxa (e acerca da sua artrite) de um certo modo. Ele pensa acerca de cada uma das doenças que ela é artrite. Outros termos para artrite (ou para o problema real na sua coxa) podem não nos permitir descrever tão bem o conteúdo de sua atitude.”]

Objeção 3:

O conteúdo do sujeito é indefinido (p. 122) Resposta de Burge 3:

“… in the case I have cited, common practice lends virtually no support to the contention that the subject’s mental contents are indefinitive. The subject and his fellows typically know and agree on precisely how to confirm or infirm his beliefs – both in the case where they are unproblematically true (or just empirically false) and the cases where they display the misconception. Ordinary attributions typically specify the mental content without qualification or hesitation.” (p. 122)

“...nos casos que citei, a prática comum não empresta virtualmente nenhum apoio à afirmação que os conteúdos mentais do sujeito sejam indefinidos. O sujeito e seus companheiros tipicamente conhecem e concordam acerca de precisamente como

confirmar ou desconfirmar suas crenças – tanto nos casos em que elas são verdadeiras

sem problemas (ou apenas empiricamente falsas) quanto nos casos em que elas exibem a compreensão errônea. Atribuições ordinárias tipicamente especificam o conteúdo mental sem qualificações ou hesitações.”

Objeção 4 e 5 andam juntas:

4: Usar uma noção que apenas captura a compreensão errônea, desse modo substituindo os conteúdos que são aparentemente falsos devido à compreensão errônea, por conteúdos verdadeiros (e.g., ‘chofá’). (p. 122)

5: Considerar o erro do sujeito como puramente metalingüístico (p. 122)

Resposta de Burge 4 e 5:

a. Nós não fazemos esses movimentos quando o sujeito entende incompletamente um termo, mas o que fazemos normalmente é descrever como uma crença verdadeira, por exemplo, que ele tem artrite no seu pulso;

b. Não está claro como podemos re-interpretar uma crença; c. Quando corrigido, normalmente o sujeito muda sua crença;

d. As objeções 4 e 5 podem ser verdadeira, mas isso não nega que o sujeito pode acreditar que ele tem artrite na coxa4

4 Num outro texto, Burge escreve: “Uma pessoa está legitimada (entitled) a aceitar como verdadeiro algo

que é apresentado como verdadeiro e que é inteligível para ela, a menos que haja razões mais fortes para não fazer assim.” (Burge, “Content Preservation”. In: The Philosophical Review, Vol. 102, N. 4, pp. 467).

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“Existem vários contextos nos quais podemos ser indiferentes quanto a atribuir uma atitude metalingüística ou uma atitude correspondente ao nível do objeto. Enfatizei que, freqüentemente, embora nem sempre, podemos atribuir ambas. Ou poderíamos considerar que os conteúdos diferentes estão descrevendo o que contextualmente “equivale à mesma atitude” (cf. seção I). Mesmo esta última expressão permanece compatível com o experimento mental, desde que ambos os conteúdos sejam igualmente

atribuíveis na descrição “da atitude”. Na etapa contrafactual do experimento mental, o

conteúdo metalingüístico (digamos, que poltronas largas e muito estofadas são chamadas “sofás”) ainda será atribuível. Mas isso, nessas circunstâncias, contextualmente “equivale à mesma atitude” que uma atitude ao nível do objeto cujos conteúdos não sejam, em nenhum sentido, equivalentes a, ou “o mesmo que”, o conteúdo original, ao nível do objeto. Pois eles têm valores de verdade diferentes. Assim, assumindo que os conteúdos metalingüísticos e ao nível do objeto sejam igualmente atribuíveis, permanece informalmente plausível que as atitudes da pessoa sejam diferentes entre as etapas real e contrafactual do experimento mental. Este igualamento contextual dos conteúdos metalingüístico e ao nível do objeto não é, entretanto, geralmente aceitável, mesmo ao se descreverem atitudes não-ocorrentes, e muito menos as ocorrentes. Existem contextos em que o sujeito, ele mesmo, pode dar evidência de estar fazendo a distinção.” (p. 128)

As objeções 6-8 são argumentos filosóficos favoráveis à revisão do discurso ordinário ou a favor de dar-lhe uma leitura não-literal (p. 128)

Objeção 6:

“One holds that the content clauses we ascribed must be reinterpreted so as to make reference to words because they clearly concern linguistic matters—or are about language.” (p. 129)

[“Sustenta-se que as orações de conteúdo que imputamos têm de ser reinterpretadas de modo a fazer referência a palavras, porque elas claramente dizem respeito a questões lingüísticas – ou são acerca de linguagem.”]

Resposta de Burge 6:

“Even if this argument were sound, it would not affect the thought experiment decisively. For most of the mental contents that vary between actual and counterfactual situations are not in any intuitive sense ‘linguistic’. The belief that certain armchairs are sofas is intuitively linguistic. But beliefs that some sofas are beige, that Kirkpatrick is playing a clavichord, and that Milton had severe arthritis in his hands are not.” (p. 129) [“Mesmo se esse argumento fosse correto, não afetaria decisivamente o experimento mental. Pois a maioria dos conteúdos mentais que variam entre a situação real e a contrafactual não são, em nenhum sentido intuitivo, “lingüísticos”. A crença que certas poltronas são sofás é intuitivamente lingüística. Mas crenças que alguns sofás são bege, que Kirkpatrick está tocando um clavicórdio, e que Milton tem artrite severa nas mãos não o são.”]

Objeção 7:

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Resposta de Burge 7:

“There is nothing irrational or stupid about the linguistic or conceptual errors we attribute to our subjects. The errors are perfectly understandable as results of linguistic misinformation.” (p. 129)

[“Não há nada irracional ou estúpido nos erros lingüísticos ou conceptuais que atribuímos aos nossos sujeitos. Os erros podem ser perfeitamente compreendidos como resultado da má informação lingüística.”]

Objeção 8:

O falante pode querer dizer, com a palavra mal-entendida, algo diferente do que nós queremos dizer com ela. (p. 130)

Resposta de Burge 8:

“Não se segue, da suposição que o sujeito pensou que uma palavra significa algo que ela não significa (ou que ele aplica erradamente a palavra, ou tem a propensão para explicar erradamente seu significado), que a palavra não possa ser usada numa descrição literal de seus conteúdos mentais. Não se segue, da suposição que uma pessoa tenha em mente algo que a palavra não denota ou não expressa, que a palavra não possa ocorrer obliquamente (e ser interpretada literalmente) nas orações-que que fornecem alguns de seus conteúdos mentais. Como apontei na seção IIIb, há uma variedade de casos em que geralmente reinterpretamos as palavras que a pessoa compreendeu de modo incompleto, com a finalidade de atribuição de conteúdo mental.” (130)

3.3 Caracterização do Individualismo [Platão, Descartes, Russell]

“I mean this term [individualism] to be somewhat vague. But roughly, I intend to apply it to philosophical treatments that seek to see a person’s intentional mental phenomena ultimately and purely in terms of what happens to the person, what occurs within him, and how he responds to his physical environment, without any essential references to the social context in which he or the interpreter of his mental phenomena is situated.” (132-3)

[“Tenho a intenção de que este termo seja um tanto vago. Mas, sem entrar em pormenores, tenho a intenção aplicá-lo aos tratamentos filosóficos que tentam ver os fenômenos mentais intencionais de alguém, em última análise, e unicamente, em termos do que acontece com a pessoa, o que ocorre em seu interior, e como ela reage ao ambiente físico, sem qualquer referência essencial ao contexto social no qual ela ou o intérprete de seus fenômenos mentais estão situados.”]

Em contraste, Burge afirma que o experimento mental mostra que certas verdades lingüísticas que foram freqüentemente consideradas como indubitáveis podem ser postas em dúvida:

“… a person’s thought content is not fixed by what goes on in him, or by what is accessible to him simply by careful reflection. The reason for this last point about ‘accessibility” need not be that the content lies too deep in the unconscious recesses of the subject’s psyche. Contents are sometimes “inaccessible” to introspection simply because much mentalistic attribution does not presuppose that the subject has fully mastered the content of his thought.” (pp. 134-5)

(9)

[“... o conteúdo do pensamento de alguém não é fixado por aquilo que acontece dentro da pessoa, ou por aquilo que está acessível à pessoa simplesmente por meio de reflexão cuidadosa. A razão para esta última observação sobre [p.63] “acessibilidade” não precisa ser que o conteúdo repousa muito profundamente nos recessos inconscientes da psique do sujeito. Conteúdos são às vezes “inacessíveis” à introspecção simplesmente porque grande parte das atribuições mentalistas não pressupõe que o sujeito tenha dominado completamente o conteúdo de seu pensamento.”]

3.4 Sumarizando o argumento:

“Crudely put, wherever the subject has attained a certain competence in large relevant parts of his language and has (implicitly) assumed a certain general commitment or responsibility to the communal conventions governing the language’s symbols, the expressions the subject uses take on a certain inertia in determining attributions of mental content to him. In particular, the expressions the subject uses sometimes provide the content of his mental states or events even though he only partially understands, or even misunderstands, some of them.” (p. 147)

[“Para dizer de um modo não muito preciso, sempre que o sujeito alcançou a competência em vastas partes relevantes de sua língua e assumiu (implicitamente) uma certa responsabilidade ou fidelidade em relação às convenções comunitárias que governam os símbolos da língua, as expressões que ele usa adquirem certa inércia na determinação de conteúdo de suas atribuições mentais. Em particular, [p.78] as expressões que o sujeito usa fornecem, às vezes, o conteúdo de seus eventos e estados mentais, mesmo que ele apenas parcialmente compreenda, ou mesmo compreenda erroneamente, algumas delas.”]

Referências

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