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A arte de Marie Laurencin em circulação no Brasil: mercado, imprensa e conexões globais 1

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A arte de Marie Laurencin em circulação no Brasil: mercado,

imprensa e conexões globais

1

Letícia Asfora Falabella Leme(Unicamp)

Mulher entre vanguardas e forasteira delas, a artista francesa Marie Laurencin marcou

passagem no Brasil em um passado recente porém nebuloso, apesar de ter sido alvo claro de

inúmeras críticas, louvores, reflexões e propagandas na imprensa nacional entre as décadas de

1940 e 1950. A memória acerca da intensa circulação de suas obras e do interesse por sua

persona em meados do século XX, conservada em documentos arquivísticos de museus,

bibliotecas, e galerias no país, proporcionou a possibilidade de revisitar e refletir sobre a

recepção de seu trabalho em território nacional, além de pensar sobre os discursos vinculados

à sua imagem e de compreender sua inserção no contexto artístico brasileiro, em diálogo com

a produção e circulação da arte moderna em termos globais.

Inserida inicialmente no contexto das vanguardas francesas no início do vigésimo

século e marcada pelo interesse acerca da retratística feminina, Marie Laurencin enfrentou

desafios e foi alvo de rotulações em seu percurso artístico, ao longo do qual, mesmo em pleno

ambiente de quebra de paradigmas gerado pela modernidade, a experiência e a interpretação

acerca do trabalho feminino ainda eram definidas pelos estereótipos de gênero. As narrativas

acerca de sua vida e obra esbarram quase sempre nas relações sociais estabelecidas pela

artista desde cedo em Paris, principalmente com os “grandes homens” entorno da vanguarda

cubista.

A professora e pesquisadora Ana Paula Simioni reconhece que “Casos como os de

Suzanne Valadon, Marie Blanchard e Marie Laurencin são paradigmáticos das possibilidades

de ingresso no mundo artístico inauguradas com os circuitos modernistas das quais todas

fizeram, ativamente, parte.”, e salienta que “suas inserções foram pautadas pelo signo da

ambiguidade.”2 No caso de Laurencin, apesar do reconhecimento - por ela mesma - da

incapacidade de produção criativa efetiva durante o tempo onde a artista se viu influenciada

1 44º Encontro Anual da ANPOCS. ​GT28 - Narrativas, disputas e representatividade no sistema das artes:

abordagens multidisciplinares.

2SIMIONI, A. P. C. A difícil arte de expor mulheres artistas.​ ​Cad. Pagu​, Campinas , n. 36, p. 375-388, June

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por estes homens3​, deles partiram discursos sobre sua arte que seriam perpetuados

historicamente na acepção de uma identidade plástica definida por características formais

tipicamente “femininas”. Esta visão, atenta muito mais às vozes masculinas do que à obra da

artista de fato, se sustentou ao longo do século XX e é retomada frequentemente quando se

trata do estudo da artista, de sua obra e de suas relação com os pintores e escritores

modernos. Não obstante, esse foi o caso de inúmeras outras artistas mulheres, que viram por

muito tempo seus trabalhos reféns de interpretações masculinistas dentro dos territórios

histórico e historiográfico. É essencial, portanto, ao compreender um estudo sobre a artista,

ter sempre em mente o contexto relativo ao gênero na vanguarda e no mercado de arte.

Bridget Elliot aponta que “denying the importance of gender effaces the particularity of

various historical and systemic discriminations women experience, while insisting upon their

femininity leads to marginalization.”4

A recepção crítica e midiática de artistas franceses no Brasil não é nem de longe uma

novidade inaugurada pelos modernistas, pelo contrário, desde a missão de Debret no início do

século XIX a vinda e a circulação de obras de pintores, escultores, gravuristas e literatos do país francófono esteve presente no cotidiano artístico brasileiro em exposições, vendas, nos

ateliês, nas Academias e na imprensa, onde eram registradas as críticas e divulgações de seus

trabalhos.5

É justamente da imprensa, esta que se torna uma plataforma seminal para a

disseminação do modernismo no país, que parte este trabalho. Após a descoberta de um

material extenso na Hemeroteca Digital Brasileira sobre a artista - inesperada, dado o

silenciamento sobre sua obra no país - que soma no total, entre 1930 e 1989, mais de 680

referências à Laurencin em periódicos nacionais, se tornou latente a necessidade de um

estudo que contemplasse as nuances de sua recepção em território brasileiro. Destas 680

referências, 452 se situam entre as décadas de 1940 e 1950, período auge da circulação de

suas obras na imprensa e em exposições no país. Compreender o aumento do interesse pela

artista nesse período no país, assim como os motivos da queda drástica de atenção ao seu

trabalho a partir da década de 1960, foi o primeiro objetivo estabelecido pela pesquisa. 3 Laurencin enuncia, em entrevista à Gabrielle Buffet, que “As long as I was influenced by the great men

surrounding me I could do nothing.” BUFFET, G. Marie Laurencin. In: ​The Arts​ vol. III nº6, june 1923, New York, p. 394

4RECLAIMING female agency: feminist art history after postmodernism​. Edição de Norma Broude, Mary D

Garrard. Berkeley, CA: University of California Press, c2005. 478 p., il. ISBN 0520242521 (broch.) p. 281

5Destaca-se o recente trabalho da professora Elaine Dias, que apresenta um dossiê completo com a passagem de

artistas franceses pelo Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX. DIAS, Elaine (org.). ​Artistas

franceses no Rio de Janeiro (1840-1884). Das Exposições Gerais da Academia Imperial de Belas Artes aos ateliês privados. Fontes primárias, bibliográficas e visuais. Prefácio: Jacques Leenhardt. Guarulhos: EFLCH-UNIFESP, 2020.

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Annateresa Fabris aponta para a conquista, dos modernistas, “do espaço público mais influente, o jornal. O Correio Paulistano e o Jornal do Comércio são as principais tribunas da

pregação modernista, incansável no combate ao passado e na defesa de seu ideário, guiada

por um desejo pedagógico: conquistar o público para a causa da arte nova.” 6​. A imprensa se

torna uma instituição de disseminação e defesa do modernismo que nasce no Brasil na

primeira metade do século XX, e dialoga com outras instâncias de legitimação artística que

formam as redes de consagração da arte moderna. Bourdieu também destaca a importância da

imprensa, ao reconhecer seu desenvolvimento enquanto “um indício, entre outros, de uma

expansão sem precedente do mercado dos bens culturais.”7​. Sobre a compreensão deste

mercado enquanto sistema, o autor afirma que

a estrutura e a função do campo de produção e do campo de difusão só

podem ser inteiramente compreendidas se levarmos em conta a função

específica que, em seu conjunto, o sistema das relações constitutivas do

campo de produção, de reprodução e de circulação dos bens simbólicos,

deve à especificidade de seus produtos.8

Ao nos defrontarmos com a pretensão de uma análise que compreende um sistema múltiplo

de relações, o de difusão da arte moderna no mundo, vê-se necessário ampliar o olhar para as

redes de circulação globais da arte produzida pelos modernistas, que se tornou terreno para a

consagração desta. Beatrix Joyeux-Prunel e Catherine Dossin alegam a importância desta

abordagem para os estudos artísticos:

Writing a history of modern art through a study of circulation allows for an

escape from the dead-end of hierarchization and exclusion on which the

modernist story is traditionally built. It creates a new story through a lens of

a global, here in the sense of inclusive, history based on the study of

trajectories of individuals, exhibitions, artworks, and information within the

international art field.9

Nessa esteira, as autoras, ao adotarem uma abordagem sociológica da vanguarda,

vêem necessário entender enquanto objeto uma ideia Bourdieusiana que compreende os

“international field of arts; that is to say, the social, transnational space polarized and

regulated by values and institutions accepted or contested within the field, as well as the

discourses—in the Foucauldian sense—that populate and define it.”10​. É necessário portanto

6MODERNIDADE e modernismo no Brasil.​ Organização de Annateresa Fabris. Campinas, SP: Mercado de

Letras, 1994. 160p. (Arte. Ensaios e Documentos). ISBN 8585725036 (broch.).

7PIERRE, Bourdieu. ​As regras da arte​: gênese e estrutura do campo literario. 2. ed. São Paulo, SP: Companhia

das Letras, 2005. 431p p. 70

8BOURDIEU, Pierre. ​A economia das trocas simbólicas.​ Coautoria de Sergio Miceli. 6. ed. São Paulo, SP:

Perspectiva, 2005. 361 p. (Estudos, 20). ISBN 9788527301404 (broch.). p. 118

9KAUFMANN, T.; DOSSIN, C.; JOYEUX-PRUNEL, B., eds., ​Circulations in the global history of art.

Routledge, 2016, NY. p.​ 189

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reconhecer a importância da necessidade identificada por Pierre Bourdieu no que tange o estudo dos processos de legitimação de bens culturais. Bourdieu afirma que

Os bens culturais possuem (...) uma economia, cuja lógica específica tem

de ser bem identificada para escapar ao economicismo. Neste sentido,

deve-se trabalhar, (...) para descrever, por um lado, as diferentes maneiras de apropriação de alguns desses bens considerados, em

determinado momento, obras de arte e, por outro, as condições sociais da

constituição do modo de apropriação, reputado como legítimo.11

Compreendemos que o enfoque na investigação acerca das instâncias de

legitimação e apropriação artística abre caminhos para o entendimento das dinâmicas

estabelecidas entre a arte e o meio social, ampliando as capacidades de atuação da história

da arte. São estas perspectivas metodológicas, de circulação e consagração da arte

moderna a partir de suas instâncias de legitimação, que fornecem ferramentas para refletir

sobre as perguntas apontadas pelos documentos da imprensa brasileira acerca da Marie

Laurencin: em que consiste o interesse brasileiro pela artista nas décadas de 1940 e 1950?

Porque esse interesse se interrompe de maneira abrupta na passagem para os anos de

1960? Quais são as instâncias de legitimação da arte moderna no Brasil e como elas atuam

no caso de Laurencin? Qual é o papel da imprensa nesse contexto? Como articular estes

documentos em diálogo com a conjuntura internacional?

1. Laurencin em Circulação Global: redes de disseminação da arte moderna

Marie Laurencin nasce em Paris em 1883 e inicia seus estudos artísticos na École de

Sèvres, onde a atenção à decoração de porcelanas a manteria dentro da gama de ofícios

cabíveis a uma mulher burguesa. Contudo, logo essa pretensão - postulada por sua figura

materna - se vê comprometida a partir de seu contato com Georges Braque na Academie

Humbert, que a incentiva a se aventurar na pintura de telas e a introduz ao círculo social que

formaria a vanguarda parisiense no início do século XX, em especial o cubismo desenvolvido

por Braque e Picasso em Paris. Apesar da aparente liberdade artística trazida por essa nova

fase - afastada de aspirações burguesas e focada em sua pintura -, segundo Elizabeth Kahn,

“ela era um sujeito feminino no ainda masculinista conjunto construídos de regras sociais, que

operava ainda em espaços impróprios como o banquete da vanguarda ou o café boêmio” 12​.

Apesar das diferenças significativas entre o lugar do homem e a inclusão de Laurencin

enquanto mulher no grupo, “não diferente de alguns outros membros masculinos da 11BOURDIEU, P.​ A distinção:​ crítica social do julgamento. São Paulo, SP; Porto Alegre, RS: Edusp: Zouk,

c2006​ p.9

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vanguarda, ela parece ter aproveitado da expansão do mercado para a arte modernista, e em

termos mais críticos, foi consumida por ele.”13​. Consumida pois, ao inserir-se no mercado

moderno, sua arte seria moldada para agradar a clientela, e aproveitado pois, como destaca

Marie-Jo Bonnet, Marie Laurencin adquiriu uma rica clientela que a permitiu viver de sua

arte14​.

O sucesso de vendas de suas obras em Paris e, posteriormente, em escala global,

transparece a consolidação precedente de uma estrutura mercadológica moderna, respaldada

pela ação de sujeitos interessados na valorização de uma arte antes rejeitada pelos

compradores. Porém, apesar de inserida na vanguarda, Bridget Elliott ressalta que “in the

long term, her success has been rather more popular than avant-garde or academic” 15​. A partir

destes sujeitos são formadas redes de disseminação do modernismo, que se legitima

principalmente a partir de seu alcance fora de Paris. Segundo Joyeux-Prunel, sobre a

movimentação da vanguarda, “A aparição de críticos de arte, de revistas e de comerciantes

favoráveis à arte inovadora encorajava esses borbulhamentos. Ela criava um público para a

arte(...) decidido a fazer a vanguarda ser aceita pelas sociedades contemporâneas.” 16​. A autora

aponta duas instâncias que, em conjunto, se tornaram seminais para a valorização de

Laurencin no mercado francês: a imprensa, abastecida pelas publicações dos críticos de arte, e

os comerciantes, conhecidos pelo seu nome em francês, ​marchands​.

Impulsionada pela figura dos críticos, a imprensa se torna uma grande arma na

empreitada modernista, e as publicações de escritores ligados aos grupos de artistas abrem

espaço para a discussão, disseminação e, aos poucos, aceitação do valor - cultural e comercial

- das obras modernas. Guillaume Apollinaire, escritor e poeta italiano, se torna, talvez, o

maior aliado e responsável pela crítica da arte desenvolvida em prol do grupo cubista. Em

Chroniques d’art17​, compilado de textos publicados pelo autor em jornais e revistas franceses,

fica claro seu interesse em legitimar a importância dos artistas do ​Bateau Lavoir para a arte

contemporânea francesa. Decerto, devido ao seu relacionamento amoroso com Apollinaire

desde 1907, Marie Laurencin logra um lugar privilegiado em seus escritos nas ​Revues​. ​Os

apontamentos de Apollinaire acerca da arte cubista, recebidos com notoriedade na mídia

13Idem

14BONNET, M. ​Les Femmes artistes dans les avant-gardes,​ Odile Jacob, 2006.

15RECLAIMING female agency: feminist art history after postmodernism​. Edição de Norma Broude, Mary D

Garrard. Berkeley, CA: University of California Press, c2005. 478 p., il. ISBN 0520242521 (broch.).

16JOYEUX-PRUNEL, B.​ Les avant-gardes artistiques 1848-1918.​ Une histoire transnationale, Paris, Gallimard,

Coll. Folio Histoire, 2016 p. 392

17APOLLINAIRE, Guillaume.​Chroniques d'art​: 1902-1918. Coautoria de L. C Breunig. Paris: Gallimard, 1996.

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francesa, se dedicam à consagração de outros artistas como Picasso, Braque, Juan Gris, Metzinger, Gleizes, e Duchamp, e se mostram devotos à artista.

Os escritos de Apollinaire ajudariam a construir um rótulo incessantemente difundido

e reproduzido a posteriori sobre a artista, que permeou a acepção de sua obra em vida e os

escritos sobre sua pintura na historiografia modernista. É recorrente e quase indissociável da

figura da artista para Apollinaire uma ligação com o estigma da feminilidade, que se repete

nos discursos do, agora, crítico de arte. Para Elliot, “​it cannot be denied that the signs of

Laurencin’s seemingly inexhaustible femininity were indeed mobilized by many writers”, que

“wanted to reaffirm that women’s art—even when produced within twentieth-century

avant-garde circles—belonged to a separate (and marginal) artistic sphere” 18​. Com uma

perspectiva similar, especificamente sobre a atuação de Apollinaire, Ana Paula Simioni

aponta que

O modo com que Apollinaire julgou Marie Laurencin como uma típica

representante de uma arte moderna "feminina" é esclarecedor; exemplifica

uma tendência interpretativa geral que prevalecia na primeira metade do

século XX mesmo no interior dos circuitos modernistas.19

Apesar disso, a consolidação de uma narrativa que ligava sua arte à essência feminina

consagrou seu sucesso entre os compradores. Como destaca Gill Perry, “na busca de ganhar a

vida como mulher artista, Laurencin procurou capitalizar o sucesso dessa forma de

feminilidade”, onde a “construção de uma imperturbada imagem do ‘feminino’ na arte e na

vida a ajudou a ganhar tanto a atenção da crítica quanto recompensas financeiras”20​.

Junto aos críticos, na missão de valorizar a arte modernista, entra em destaque a figura

do ​marchand​. Comprador, negociador, vendedor de obras de arte e muitas vezes colecionador

vinculado pessoalmente aos artistas, este é, de fato, o principal responsável pela criação das

estratégias comerciais que levaram ao desenvolvimento e à estruturação de um mercado de

arte moderna global. Segundo Joyeux-Prunel, “a formação desse meio de amadores e

comerciantes teve consequências fortes sobre a estruturação da vanguarda ​”​21​. ​O alemão

Wilhelm Uhde, o mexicano Marius de Zayas e o francês Paul Rosenberg, que se consagraram

como alguns dos mais importantes negociantes no período, foram os principais marchands de

Marie Laurencin durante sua carreira, e estabeleceram eventualmente contratos de

18​RECLAIMING female agency: feminist art history after postmodernism​. Edição de Norma Broude, Mary D

Garrard. Berkeley, CA: University of California Press, c2005. 478 p., il. ISBN 0520242521 (broch.). ​p. 281/2

19SIMIONI, A. P. C. A difícil arte de expor mulheres artistas. ​Cad. Pagu​, Campinas , n. 36, p. 375-388,

June 2011.

20PERRY, G. ​Women Artists and the Parisian Avant-Garde:​ Modernism and Feminine Art, 1900 to the late

1920's. Manchester: Manchester University Press, 1995. p.110

21JOYEUX-PRUNEL, B.​ Les avant-gardes artistiques 1848-1918.​ Une histoire transnationale, Paris, Gallimard,

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exclusividade com a artista. Em Paris, a patronagem de Rosenberg no período entre guerras,

segundo Gill Perry, “ajudou a garantir a Laurencin um lugar dentro dos relatos da história da

arte moderna Francesa escrita após a Segunda Guerra Mundial” 22​. O historiador ainda aponta

que, no período, segundo as listas de vendas do Hôtel Drouot, uma das maiores casas de

venda de arte em Paris, os preços das obras de Laurencin subiram firmemente ao longo dos

anos de 1920.

Pierre Bourdieu destaca a importância do estabelecimento destas personagens na

modernidade, onde se torna essencial a “ ​constituição de um público de consumidores virtuais

cada vez mais extenso, socialmente mais diversificado”, que poderia “propiciar aos produtores de bens simbólicos não somente as condições mínimas de independência

econômica mas concebendo-lhes também um princípio de legitimação paralelo”23​. Para o

autor, a “constituição de um corpo cada vez mais numeroso e diferenciado de produtores e

empresários” resultaria na “multiplicação e a diversificação das instâncias de consagração

competindo pela legitimidade cultural.” Essa diversificação se daria, entre outras coisas, a

partir da democratização do acesso à educação e à alfabetização e o aumento do acesso ao

consumo cultural, de mulheres, por exemplo, o que no caso de Laurencin seria um ganho

significativo, dado seu apelo ao público feminino.

Bridget Elliot explora o interesse feminino - e geral - pela obra de Laurencin, que

“have been figured as the feminized bodies of commodified mass culture—bodies that are

highly visible, easily accessible, attractively packaged, and available at (relatively) affordable

prices.”24​. Elliot aponta que o sucesso de vendas de Laurencin foi “more than media hype. By

1925, Laurencin had sold enough work to purchase not only a large, comfortable, and

well-appointed Paris apartment on the rue Savoran but also a country house at Champrosay.

Her works sold extremely well.”25

Esse sucesso passa também pela ação de Rosenberg. Laurencin explora um pouco de

sua relação com o ​marchand em conversa com René Gimpel, que registra em seus diários:

“Rosenberg a deixa livre para fazer retratos, aquarelas, gravuras, desenhos, sem pedir para ela

alguma comissão”26​. O trecho demonstra uma das vantagens de ter um ​marchand na época, a

22PERRY, G. ​Women Artists and the Parisian Avant-Garde​: Modernism and Feminine Art, 1900 to the late

1920's. Manchester: Manchester University Press, 1995. p. 111

23BOURDIEU, Pierre. ​A economia das trocas simbólicas.​ Coautoria de Sergio Miceli. 6. ed. São Paulo, SP:

Perspectiva, 2005. 361 p. (Estudos, 20). ISBN 9788527301404 (broch.).​ p. 109

24​RECLAIMING female agency: feminist art history after postmodernism​. Edição de Norma Broude, Mary D

Garrard. Berkeley, CA: University of California Press, c2005. 478 p., il. ISBN 0520242521 (broch.). ​p. 278

25Idem p. 278

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suposta liberdade artística onde a produção não estaria submissa às regras do mercado, que no

caso de Laurencin não a impediu de investir em uma arte popular entre os compradores. Este

se tornou um questionamento colocado de maneira frequente na crítica e na historiografia

acerca da artista, que por muito tempo desprezaram seus trabalhos ao alegarem que não se

tratariam de expressões plásticas inovadoras, mas sim de reproduções mecânicas lucrativas,

que garantiriam seu espaço no mercado mas não sua consagração no cânone. O crítico

brasileiro ​Mário Pedrosa, no Correio da Manhã de 1947, refletiria sobre a influência do

mercado e da economia na produção da artista. “Não cremos que Marie Laurencin se

entregue, vai para mais de vinte anos, a fazer as mesmas caras-máscaras porque sua

organização psíquica a tanto a obriga.”. Para Pedrosa,

As condições comerciais que envolvem todas as atividades sob o regime

econômico atual, criam muitas vezes terríveis situações para os artistas. (...)

São muitos os pintores que fazem a mesma coisa, o mesmo quadro, a vida

toda. Na realidade não está ele obedecendo a uma espécie de imutabilidade

biológica, mas simplesmente atendendo às conveniências de ter um público

seguro para a sua produção. Faz ele, então, obra em série.27

Marie Laurencin, tomada enquanto um exemplo dessa confusão entre personalidade e

conveniência para o crítico, encontra na retratística feminina um lugar seguro e lucrativo

dentro do mercado moderno. Essa busca pode ser encaixada no princípio da distinção

enunciado por Bourdieu, que aponta que “quanto mais o campo estiver em condições de

funcionar como o campo de uma competição pela legitimidade cultural, tanto mais a

produção pode e deve orientar-se para a busca das ​distinções culturalmente pertinentes​”, ou

seja, a “busca dos temas, técnicas e estilos que são dotados de valor na economia específica

do campo por serem capazes de fazer existir culturalmente os grupos que os produzem.” 28​.

Marcelle Auclair comenta a esse respeito na revista argentina de vanguarda Martin Fierro, em

1926 “Marie Laurencin tenía en su arte una originalidad espontánea suficiente para lograr

asombrar sin buscarlo con esfuerzo; en cuanto a chocar, era bien distinto.”.29

Elliot aponta que “​Furthermore, Laurencin was lured by the financial prospect of

extending her market beyond the rather limited confines of the avant-garde.” 30​.​As exposições

de Laurencin promovidas em Paris por Rosenberg teriam repercussões na imprensa

internacional. Em 1921, a revista alemã Der Querschnitt publica: “A Galeria Paul Rosenberg

27PEDROSA, M. ​Artes Plásticas. Personalidades?. ​Correio da Manhã​(RJ), 1947, ed 16160

28BOURDIEU, Pierre. ​A economia das trocas simbólicas.​ Coautoria de Sergio Miceli. 6. ed. São Paulo, SP:

Perspectiva, 2005. 361 p. (Estudos, 20). ISBN 9788527301404 (broch.).​ p. 109

29 AUCLAIR, M. Marie Laurencin.​ Martin Fierro​, 1927. Buenos Aires, Año 4 núm 37. p. 297

30​RECLAIMING female agency: feminist art history after postmodernism​. Edição de Norma Broude, Mary D

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mostrou os últimos trabalhos de Marie Laurencin, que trouxeram à artista grande triunfo ​.”​31​,

triunfo este que estaria ligado à rede de contatos estabelecida entre o cenário parisiense e o

público estrangeiro. ​D​estaca-se entre a lista dos marchands que tiveram relações comerciais

com a artista a presença de estrangeiros em um número muito maior do que o de franceses.

Joyeux-Prunel aponta que “Esses estrangeiros se engajaram em um empreendimento coletivo

de promoção da arte de vanguarda, à escala internacional, do qual a paisagem museal e a

história da arte contemporânea são ainda herdeiros”32​. Ainda, a autora destaca que os

estrangeiros obtinham mais fortunas, um conhecimento maior de história da arte, e estavam

mais abertos à inovação do que os franceses. A presença destes em Paris, e em diálogo com

artistas e compradores, colaborou para a ​criação de um mercado de arte internacional, que

aliava as novas ambições plásticas que se desenvolviam entre os artistas ao desejo destes de se

estabelecerem na cena global. Joyeux-Prunel e Dossin rememoram, no estudo de circulações,

uma proposição de Apollinaire sobre a importância do estrangeiro “The foreign detour,

revealed by the study of the circulation of exhibitions, gave Cubism a foreign legitimization,

such that Guillaume Apollinaire, a friend of the Cubists, would conclude that “no one is a

prophet in his own country.”33

A internacionalização é tida como estratégia comercial, de fato, pela primeira vez,

com Daniel-Henry Kahnweiler, ​marchand alemão e principal representante de Picasso e

Braque, que bate em retirada do mercado parisiense em 1909. Logo, a rede de contatos

estabelecida pelo​marchand​, aliada à já reconhecida presença de compradores estrangeiros em

Paris, teria resultados no processo de internacionalização das obras de Laurencin. A amizade

entre Kahnweiler, Wilhelm Uhde e Alfred Flechtheim, de acordo com Joyeux-Prunel 34​, foi

fundamental para a introdução do cubismo na europa central. Em 1912, na cidade de Colônia

na Alemanha, com a contribuição das galerias dos três ​marchands foi organizado o

Internationale Kunstausstellung des Sonderbundes Westdeutscher Kunstfreunde und Künstler

(Exposição Internacional de Arte da Associação Especial de Amantes de Arte e Artistas do

Oeste da Alemanha). O evento reuniu obras de artistas presentes em vários grupos, e incluiu

trabalhos de Laurencin. Conhecido como ​Sonderbund, a mostra é considerada até hoje uma

das maiores exibições de arte moderna na Alemanha.

31AUSGABEN der Galerie Flechtheim. ​Der Querschnitt​, 1.1921, Jahresband p. 105 Disponível em:

https://www.arthistoricum.net​ Acesso em: 15 jun 2020 p. 104

32JOYEUX-PRUNEL, B.​ Les avant-gardes artistiques 1848-1918.​ Une histoire transnationale, Paris, Gallimard,

Coll. Folio Histoire, 2016, 964 p. 483

33KAUFMANN, T.; DOSSIN, C.; JOYEUX-PRUNEL, B., eds., ​Circulations in the global history of art.

Routledge, 2016, NY. p.​ 190

34JOYEUX-PRUNEL, B.​ Les avant-gardes artistiques 1848-1918.​ Une histoire transnationale, Paris, Gallimard,

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Flechtheim, colaborador do ​Sonderbund​, foi um dos principais aliados de Marie

Laurencin na circulação de suas obras na Europa. Também, é um dos primeiros a comprar

uma de suas obras, 'La Toilette des jeunes filles' (1911), cuja relação de aquisição eventual se

transforma em acordo em 1913. A partir de dezembro daquele ano, com a exposição ​Beiträge

zur Kunst des XIX. Jahrhunderts und unserer Zeit​, suas obras seriam frequentemente expostas

no flat do comerciante em Berlim e em suas galerias ao redor da Alemanha. Durante a grande

guerra, em 1914, telas de Laurencin integram a exibição de verão; em 1917, a exibição de

pinturas modernas; e em 1919, a exposição de reabertura da Galeria Flechtheim em

Dusseldorf.

Flechtheim ainda organiza, anos depois, em Londres, duas exposições exclusivas da

artista, uma em 1934, na Galeria Fred Mayor, denominada “ ​Flower Paintings​”, e outra em

1936 na Galeria Geoffrey Agnew. Segundo Joyeux-Prunel35​, as atividades do ​marchand

alemão não se restringiram ao âmbito comercial, mas contribuíram teórica e ideologicamente

na legitimação do cubismo na Europa. ​Ao escrever sobre uma exposição de Laurencin em

Londres, Elliot destaca que “R. H. Wilenski suggested that Laurencin’s art would attract even

those who normally found modern art “inscrutable” because it “speaks to us in the pictorial

language of our day.” 36 ​Em relação ao gosto, Bourdieu afirma que “​os juízos mais pessoais

que se podem fazer a respeito de uma obra, mesmo que seja a própria obra, constituem

sempre juízos coletivos”37​, uma vez que se tornam “tomadas de posição referidas a outras

tomadas de posição tanto de maneira direta e consciente como de maneira indireta e

inconsciente por intermédio das relações objetivas entre as posições de seus autores no

campo.”38​.

Do outro lado do atlântico, também ​fica clara a importância dos ​marchands para a

consolidação tanto da arte moderna quanto da arte de Laurencin. Lá, Laurencin teria uma

grande estréia com ​sua participação no The Armory show em 1913. A exposição, considerada

até hoje uma das maiores de arte moderna no país, contou com 7 obras da artista, como

indicado pelo catálogo: ​Portrait ​(Watercolor); ​Desdémona ​(Water color); ​Girl with fan

(Drawing); ​Still life​; ​The toilet of the young girls​; ​The poetess; ​e ​Young girl​ 39​. John Quinn, um

35JOYEUX-PRUNEL, B.​ Les avant-gardes artistiques 1848-1918.​ Une histoire transnationale, Paris, Gallimard,

Coll. Folio Histoire, 2016, 964 p.

36​RECLAIMING female agency: feminist art history after postmodernism​. Edição de Norma Broude, Mary D

Garrard. Berkeley, CA: University of California Press, c2005. 478 p., il. ISBN 0520242521 (broch.). ​p. 277

37BOURDIEU, Pierre. ​A economia das trocas simbólicas.​ Coautoria de Sergio Miceli. 6. ed. São Paulo, SP:

Perspectiva, 2005. 361 p. (Estudos, 20). ISBN 9788527301404 (broch.).​ p. 164

38Idem

39Catalogue of international exhibition of modern art, Association of American Painters and Sculptors ​. Armory

(11)

dos maiores patrocinadores da exposição se tornaria um grande colecionador da pintura de

Laurencin na década de 1920. Hyland e Mcpherson revelam uma das origens do interesse do

comprador pela artista: “Uma das coisas que eu gosto sobre Marie Laurencin é que ela pinta

como uma mulher”40​. Aqui, retoma-se a narrativa de Apollinaire desenvolvida na imprensa

francesa, que seria difundida pelo globo.

Além de Quinn, Walt Kuhn e Marius de Zayas organizaram exposições de seus

trabalhos nos Estados Unidos. Entre elas destaca-se a de 1917, quando de Zayas apresentou

uma coleção de seus desenhos e pinturas na Modern Gallery em Nova Iorque. Frank

Crowninshield, jornalista e crítico de arte e teatro, além de colecionador de suas obras,

escreve sobre o trabalho de Laurencin. ​Crowninshield, que já havia trabalhado no Armory

Show em 1913, teve um papel ainda mais determinante na consolidação da importância da

pintura da artista no ambiente modernista americano. Editor da Vanity Fair, revista que

recebeu inúmeras publicações de Alfred Barr e esteve ligada diretamente ao projeto moderno

americano, o jornalista passa a utilizar sua influência no jornal para advogar a favor da arte

modernista, principalmente na busca de converter a elite social e financeira americana. O

jornalista ainda está ligado diretamente à fundação do Museum of Modern Art (Moma) em

1929, mesmo ano em que compra a obra ​In the forest​, feita pela artista. Segundo ​Hyland e

Mcpherson​“como resultado, Laurencin se tornou publicamente ligada a ambos Crowninshield

e ao museu emergente fundado pelos Rockefellers e outros patronos ricos da arte moderna”41​.

A tomar pelo exemplo da Vanity Fair, a imprensa seria tão essencial no processo de

chegada da arte moderna às Américas quanto no já apresentado no contexto europeu.

“Relativamente poucos Americanos podiam pagar a viagem a Paris, mas a informação sobre o

modernismo Europeu fez seu caminho até os Estados Unidos por carta e através de relatos

publicados na revista Stieglitz, Camera Work e em outros lugares.” 42​. Assim como em Paris,

“Laurencin se beneficiou do crescente reconhecimento e aceitação da arte moderna que veio

com a exposição no The Dial, Vanity Fair, e em outras inúmeras publicações”43​.

O olhar tanto da imprensa quanto dos compradores americanos em direção à pintura

de Laurencin, como já apontado pelo gosto de Quinn, se mostraria ligado à questão colocada

por Apollinaire em seus textos da primeira década do século XX:

Sua feminilidade e sensibilidade, somadas com seus aspectos tentadores e

atraentes, se tornaram irresistíveis para os formadores de opinião da década

40​HYLAND, D., MCPHERSON, H. ​Marie Laurencin, Artist and Muse. ​Birmingham, Ala.: Birmingham

Museum of Art , 1989. p. 62

41Idem​ p. 68 42Idem p. 55 43Idem p. 70

(12)

de 1920, que passaram a considerar Laurencin como a epítome da artista

francesa quixotesca e elegante​.​44

Os autores exemplificam a partir da publicação do jornal ​The New York Post​, que celebra

Laurencin e aponta que “Um elemento de sua independência é sua feminilidade sem medo.

Ela não faz esforço para se disfarçar como homem”45​.

A repercussão de seu trabalho, tanto na mídia quanto entre compradores americanos,

atingiria seu auge na década de 1930, e ​“Em 1937, ela foi identificada enquanto a mais

conhecida de todas as mulheres artistas francesas” 46​, ano em que suas obras estariam expostas

em três metrópoles globais ao mesmo tempo: Paris, Londres e Nova Iorque. Elliot também

ressalta sua fama, “During her life, she was generally considered the most famous woman

artist of the early-twentieth-century French avant-garde.” 47​. Porém, os autores apontam que tal

entusiasmo seria dissipado no final da década de 1950, quando a artista se encontraria

esquecida pelo público americano, em detrimento da consagração de outros artistas ligados ao

cubismo e à arte moderna francesa.

2. Laurencin, circulação e instâncias de legitimação no Brasil

No Brasil a imprensa também assume, além da função de divulgar exposições, leilões e

eventos de arte, um papel ativo na produção discursiva acerca dos artistas e de suas obras, e atua

como canal de legitimação e reconhecimento destes no meio social. Ana Paula Simioni ressalta a

“importância que a imprensa teve para os modernistas, antes e depois da semana - de arte

moderna de 1922” 48 e cita Sérgio Miceli na compreensão de que esta poderia ser considerada “a

principal instância de produção cultural da época e que fornecia a maioria das gratificações e

posições intelectuais”49​. A partir dos anos quarenta, Laurencin se torna assunto frequente nas

colunas de arte dos jornais brasileiros.

Com um mercado estável na França e em um momento de abertura do mercado de arte

internacional, a arte de Laurencin é exportada para o país, em diálogo com a movimentação

global da arte moderna europeia, que se espalhava para o mundo considerado “periférico” da

arte. Já consagrada sua importância na Europa e nos Estados Unidos, Marie Laurencin começa a

44Idem p. 61

45HYLAND, D., MCPHERSON, H. ​Marie Laurencin, Artist and Muse. ​Birmingham, Ala.: Birmingham

Museum of Art , 1989.p. 61

46Idem .p. 61

47​RECLAIMING female agency: feminist art history after postmodernism​. Edição de Norma Broude, Mary D

Garrard. Berkeley, CA: University of California Press, c2005. 478 p., il. ISBN 0520242521 (broch.). ​p. 277

48SIMIONI, A. P. C. Modernismo no Brasil, Campo de Disputas. In. BARCINSKI, F. W. (Org.)​ ​Sobre a Arte

Brasileira, da pré-história aos anos 1960.​ Edições Sesc São Paulo | Editora WMF Martins Fontes 2015, 368p

(13)

ser mencionada no Brasil em matérias dedicadas à arte, ao comportamento feminino e, inclusive,

exclusivamente à artista. No jornal ​Carioca no ano de 1942, em reportagem denominada

“História de uma grande pintora Maria Laurencin”, uma dentre as dezenove identificada

destinadas exclusivamente à artista no período, fica clara a atenção dada às suas obras no

mercado de arte: “os colecionadores e vendedores de quadros arrebatavam-se os seus quadros. O

menor de seus desenhos alcançava preços consideráveis.” 50​. A matéria ainda aponta que “Maria

Laurencin, pintora consagrada já há tempos atrás, (...) é uma glória da arte francesa

contemporânea.”51​. Em 1946 já é destacada pelo O Jornal a importância de suas obras nas

“principais coleções e museus da Europa e da América” 52​. ​Henrique Pongetti destaca a sua

importância no mercado brasileiro no período:

Marie Laurencin é um nome cotadíssimo no mercado brasileiro de quadros

como uma retratista singular da mulher moderna. Ela põe uma raquette na

mão da “smart girl” 1946, mas essa jovem não terá seu fascínio demarcado

cronologicamente porque a pintora tem o dom de pôr suas mulheres acima

das épocas e das modas. Marie Laurencin fixa com côres suaves aquilo que

a mulher tem de menos efêmero. Os figurinos não lhe envelhecem as

modelos.​Marie Laurencin é um nome cotadíssimo no mercado brasileiro de

quadros como uma retratista singular da mulher moderna.53

Em 1951 na ​Revista da Semana do Rio de Janeiro, em outra reportagem exclusiva à

artista, lê-se: “Dir-se-ia que ela foi reveladora da mulher de transição: nem as figuras

manequinizadas do princípio de novecentos, nem a mulher torturada dos pintores modernos.” 54​.

Segundo a revista, as telas Laurencin revelaria ao público um novo modelo feminino,

O grande segredo da arte poética de Marie Laurencin está nesse tipo de mulher

que ficará pra sempre associado à fisionomia e à alma da mulher do princípio do

século, rompendo a monotonia dos retratos femininos que nos deram os pintores

da Belle Époque, principalmente pelo mistério que veio juntar às fisionomias,

pela vida interior com que enriqueceu os rostos de mulher, antes dela

apresentados como simples máscaras, cheias de beleza, sim, mas sem nada mais

do que essa beleza.55

As mulheres de Laurencin, esteticamente agradáveis ao olhar dos compradores e associadas às

vanguardas históricas por meios de sociabilização, se tornariam valorizadas na imprensa brasileira neste momento, com comentários extremamente elogiosos:

50HISTÓRIA de uma grande pintora Maria Laurencin.​ ​Carioca (RJ), 1942, Edição 00376 Disponível em:

http://memoria.bn.br​ Acesso em: 21 ago 2019

51Idem

52MUSEU Moderno de Arte para o Brasil. O Jornal, Edição 8003. Rio de Janeiro, 2 de junho de 1946.

Disponível: ​http://memoria.bn.br/hdb/periodo.aspx​ Acesso em: 05 ago 2019

53Henrique Pongetti.​ Rio(RJ). O culto da mulher numa mostra de pintura, 1946 Edição 89 Disponível:

http://memoria.bn.br/​ Acesso em: 27 mai 2020

54MARIE Laurencin. Revista da Semana (RJ), 1951, Edição 00019.​ ​Disponível em: ​http://memoria.bn.br​ Acesso

em: 21 ago 2019

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Só quem já teve ocasião de ver trabalho de Marie Laurencin pode avaliar a importância do legado artístico dessa mulher(...) Culta, viajada, tendo participado dos debates não só dos cubistas como dos abstracionistas,

permanece sempre ela mesma - encantadoramente feminina sempre!56

Assim como nos Estados Unidos, os discursos midiáticos brasileiros seguiram o caminho

traçado por Apollinaire nas revistas francesas. A retórica de legitimação da artista tomaria então

duas vias de ação: o constante reforço à participação de Laurencin nos movimentos de vanguarda

- já valorizados no país naquele momento; e a persistente retomada do caráter feminino de sua

produção, valorizado também entre os compradores brasileiros.

Além do viés da imprensa, a influência de Laurencin se dá no Brasil a partir dos

próprios pintores que vão à Paris estudar e entram em contato com a artista.. Seus primeiros

quadros foram trazidos ao país pela campineira Olívia Guedes Penteado, defensora do

movimento modernista brasileiro e militante política que lutava pelo sufrágio feminino, cuja

coleção incluía obras de outros pintores da vanguarda.Tarsila do Amaral lista entre seu acervo a tela “Espanhola”, que segundo ela valeria 4 mil francos 57​. Em 2 de junho de 1936, a

brasileira, que conhecera Laurencin em Paris, publica uma crônica sobre ela no Diário de São

Paulo, contando como fora o encontro entre as duas artistas em uma recepção no apartamento

de Rolf de Maré, em Paris. Sobre Laurencin a artista destaca que, apesar de ter feito parte do

grupo dos cubistas “Sua personalidade, entretanto, se manteve intacta na rebeldia contra os

cânones da nova corrente e nunca se amoldou por completo à estética convencionadas.” 58​, o

que demonstra um discurso convergente com o moldado pela imprensa brasileira.

Ao descrever sua pintura, a brasileira destaca a feminilidade nas obras de Laurencin,

“saídas de uma mão artística tipicamente feminina na acepção de delicadeza, sensibilidade,

lirismo.” 59​. Para Tarsila, a pintura de Laurencin se tornou seu autorretrato, cujo prazer de

pintar “sem preocupações técnicas”60gerou censura por parte dos críticos, mas para a artista

trouxe felicidade e uma satisfação narcisista. A crônica sobre a artista veiculada em um dos

grandes jornais em circulação no período contribuiria para que, a partir de uma voz nacional,

os leitores conhecessem a artista francesa. Tarsila ainda listaria um quadro de Laurencin ao

56MARIE Laurencin, valor da arte pictórica francesa. Correio Paulistano, SP, 5 de maio de 1955, Ed. 30390.

Disponível em: ​http://memoria.bn.br​ Acesso em 15 jun 2020

57AMARAL, Aracy A.​ ​Tarsila​:​ sua obra e seu tempo. 4 .ed. São Paulo, SP: Edusp: Editora 34, 2010. 509 p. p.

11

58TARSILA cronista​. ​Coautoria de Aracy A. Amaral. São Paulo, SP: Edusp, 2001. 241 p., il. ISBN 8531406072

(broch.). ​p. 75

59 ​Idem 60 Idem

(15)

fazer a relação das obras de sua coleção e respectivos valores, de nome “Espanhola”, que

segundo ela valeria 4 mil francos.61

Também, em 30 de abril de 1944, em passagem sobre a artista paulista Noêmia,

presente em sua coletânea de escritos “Telefonema” sobre a arte moderna do país, Oswald de

Andrade coloca Marie Laurencin como figura responsável por mudanças no estilo da

brasileira: “Talvez a influência lírica de Marie Laurencin lhe tivesse indicado um caminho

diverso do rude atalho inicial, onde brotavam com guabirobas e suas paisagens. Passou do

retrato ao divertimento elegante e aí produziu o que o Brasil nunca teve - a feminilidade na

tela.” 62​. Ainda, outras pintoras brasileiras seriam comparadas à francesa, como a aquarelista

Odete de Freitas no Correio Paulistano em 1956, onde sua arte é descrita enquanto “tão

feminina como a de Marie Laurencin.”.

O brasileiro Vicente do Rego Monteiro, artista e atuante na galeria L’Effort Moderne do

francês Léonce Rosenberg - irmão do ​marchand de Laurencin Paul Rosenberg -, seria quem “em

1930, traria ao Brasil (Recife, Rio e São Paulo) a primeira grande exposição de arte

contemporânea da Escola de Paris.” 63​. Em colaboração com o crítico de arte Géo Charles e com

patrocínio de Rosenberg, a mostra exibiria com destaque as obras de artistas cubistas como

Braque, Juan Gris, Léger, Marie Laurencin e, pela primeira vez no país, Picasso. Ambos

Monteiro e Charles eram editores da revista moderna ​Montparnasse​, que segundo Annabel

Ruckdeschel (2019)​, ​tinha uma ​tendência para o cubismo que seguia a tradição de seu antigo

editor, Husson, que via o movimento como precursor do mundo da arte.

Para a autora, ​a escolha do Brasil para receber a exposição não se deu apenas pela

influência de Monteiro, mas pela percepção do surgimento de um novo espírito na cena cultural

brasileira, encorajado pela formação de uma elite intelectual e cosmopolita empenhada com os

resultados da Semana de 22 e do movimento antropofágico. ​Ruckdeschel ainda afirma que a

exibição da escola de Paris foi uma resposta a esses desenvolvimentos, e que os curadores

“queriam apresentar uma arte universal e um esprit nouveau ainda em desenvolvimento que eles

consideravam uma evolução global”64​. Os esforços de Géo-Charles em criar sinergias entre

Montparnasse e a vanguarda brasileira da semana, partiam principalmente de uma tendência de

61 Do arquivo pessoal de Mário de Andrade, hoje no IEB-USP. ​AMARAL, Aracy A.​ Tarsila:​ sua obra e seu

tempo. 4 .ed. São Paulo, SP: Edusp: Editora 34, 2010. 509 p. p. 11

62ANDRADE, Oswald de. ​Telefonema.​ ​São Paulo: Editora Globo, 2007. Organização, tradução, prefácio e

notas: Vera Maria Chalmers. ​p.136

63AMARAL,A. O modernismo brasileiro e o contexto cultural dos anos 20. REVISTA USP • São Paulo • n. 94 •

p. 9-18 • JUNHO/JULHO/AGOSTO 2012 p. 12

64RUCKDESCHEL, A. ​École de Paris in and out of Paris (1928-1930)​: a Transregional Perspective on the

Exhibitions of the ‘School of Paris” in Venice, Cambridge, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro. Stedelijk Studies Issue #9, Modernism in migration, 2019, Disponível em: ​https://stedelijkstudies.com/​ Acesso em: 15 jun. 2020

(16)

cooperação internacional no pós primeira Guerra, onde “Mobilidades artísticas, migração, e

trocas eram práticas necessárias e bem-vindas que serviram o desenvolvimento de uma arte

universal mais adiante”65​. Apesar da pouca repercussão midiática, a exposição, “no Brasil, serviu

para expandir as fronteiras imaginárias da capital francesa”66​.

Nos anos de 1940 a mídia passa a divulgar de maneira mais frequente eventos e

exposições de arte moderna no país, especialmente na segunda metade da década, com a

inauguração de grandes museus de arte no país, como o Museu de Arte Moderna do Rio de

Janeiro e o Museu de Artes de São Paulo(Masp). O primeiro, tem como sua exposição de

inauguração “Pintura Europeia Contemporânea”, que contou com obras de Marie Laurencin. O

segundo, na constituição de seu acervo pelo italiano Pietro Maria Bardi, em 1947 adquire, como

parte da primeira leva de obras a compor o museu, o quadro “Guitarrista e Duas Figuras

Femininas”. Pintado por Marie Laurencin em 1934, o quadro faria parte da coleção de Beatrix

Reynal e Reis Júnior, e em 1936, apenas dois anos após sua produção, estaria exibido nas

paredes da residência no Rio de Janeiro, o que demonstra a velocidade da circulação da arte de

Laurencin após sua produção pela artista. Reis Júnior, ​pintor, crítico e historiador da arte

brasileiro e ​Reynal, poetisa uruguaia descendente de franceses, ambos membros dos Diários

Associados, estabeleceram um diálogo com a vanguarda modernista em Paris que os possibilitou

a aquisição de diversos quadros que eram expostos junto ao de Laurencin.

Ao ecoar da crise econômica pós 2ª Guerra Mundial, o casal, engajado com a resistência

política francesa dos anos 40 contra o governo nazista, vê grande parte de sua coleção migrar

para o Masp. Em reportagem destinada à aquisição, O Jornal exibe oito das doze telas adquiridas

da coleção Reynal para o museu como doação do Banco Hipotecário Lar Brasileiro. “Seus

quadros, todos de grandes nomes da moderna pintura francesa, salvaram-se felizmente da

dispersão, pois Beatrix Reynal permitiu-nos a sua aquisição, em conjunto, para o museu dos

“Diários Associados”, onde eles lembrarão sempre o seu magnífico exemplo de devotamente

patriótico e idealismo” 67​. O jornal ainda destaca os dirigentes do Banco responsáveis pelas

doações, como os Srs. Correia, Castro e Antônio Larragoitti Júnior, a família Morganti de São

Paulo e o Sr. Francisco Pignatari. É importante ressaltar que Francisco de Assis Chateaubriand,

dono do O Jornal e criador dos Diários Associados, uma vasta rede de imprensa que incluia

jornais e rádios em todo o país, foi o principal responsável pela criação do Masp, que inclusive

leva seu nome, “Museu de Artes de São Paulo Assis Chateaubriand”, o que reforça a ligação

65Idem p.11 66Idem p.11

67MUSEU Moderno de Arte para o Brasil. ​O Jornal​, Edição 8003. Rio de Janeiro, 2 de junho de 1946.

(17)

entre as instâncias midiáticas, institucionais e mercadológicas na circulação e valorização da arte moderna no país.

Em 1949 O Museu Nacional de Belas Artes exibe no a exposição “Grandes Mestres

Modernos” que dispôs de 25 telas de Marie Laurencin, divulgadas pelo Diário Carioca enquanto

“consideradas como pertencentes às obras mais poéticas da pintura francesa moderna.” 68​. Na

década seguinte, destaca-se em 1953 a II Bienal de São Paulo que, marcada pela presença da

Guernica de Picasso, segundo Fabrini “não apenas permitiu o confronto entre arte brasileira e

internacional, como difundiu entre nós a produção vanguardista, européia e norte-americana, da

primeira metade do século”69​. No catálogo, Lourival Gomes aponta que a exposição se

organizaria a fim de "colocar a arte moderna brasileira em vivo contato com a arte do resto do

mundo, ao mesmo tempo que para São Paulo se buscaria conquista a posição de centro artístico

mundial".70​. Essa seria uma “oportunidade de se admirar uma série de obras suscetíveis de

exemplificar quase didaticamente, a história do movimento moderno” 71​. O salão Francês, que

apresentou uma retrospectiva do cubismo, contou com 80 telas dentre as quais encontrava-se ​As

duas irmãs​, feita por ​Laurencin em 1910. O decorrer da década apresenta ainda a Exposição de

Gravuras Francesas no Museu Nacional de Belas Artes em 1953, a Retrospectiva do cubismo no

Museu de Arte moderna do Rio de Janeiro, em 1954, e a exposição Mestres Contemporâneos da

Pintura Francesa no Masp em 1955, todos com obras de Laurencin em sua composição.

Em 1956, ano de falecimento da artista, uma onda de reportagens póstumas se alastra

pelos jornais e reconhece sua importância simbólica dentro da revolução modernista. O ​Jornal

do Comércio ​do Rio de Janeiro publica, nas palavras do jornalista e crítico de arte Carlos Otávio

Flexa Ribeiro, “Assim, com a morte de Laurencin, se encerra o único veemente protesto, no

centro do movimento cubista, contra aqueles apregoados propósitos.”72​, propósitos esses que

para Ribeiro representariam uma mudança nos rumos da arte moderna, evidência da importância

de Marie Laurencin enquanto personificação de um momento histórico dentro das artes visuais.

Os discursos proferidos, nesta e em outras reportagens, demonstram uma atenção à inserção da

artista no movimento cubista, negada por ela em seu contexto73 mas reforçada aqui enquanto

68FATOS do dia.​ Diário Carioca (RJ), 1949. Edição 06391 Disponível em: ​http://memoria.bn.br​ Acesso em: 21

ago 2019

69FABBRINI, R. ​Para uma História da Bienal de São Paulo: da Arte Moderna à Contemporânea.​ ​Revista

USP, n. 52, p. 46-55, 28 fev. 2002.

70CATÁLOGO GERAL.​ II Bienal do Museu de Arte Moderna. São Paulo: EDIAM, 1a edição, dez., 1953, p. 163.

As duas irmãs (1910, óleo/ tela, 50 cm x 63 cm, coleção de Pierre Roché, Paris)

71Idem 70

72RIBEIRO, O. F. ​No ciclo das belas artes: Os criptônimos de Marie Laurencin. ​Jornal do Commercio, 1956,

Edição 00223 p. 2 Disponível em: ​http://memoria.bn.br​ Acesso em: 21 ago 2019

73LAURENCIN, M.​ ​Le carnet des nuits.​ Genève: P. Cailler, 1956. 98p., il. (Collection ecrits et documents de

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uma das estratégias para reconhecer, de maneira póstuma, sua importância na história da arte. O

que segue a onda de reportagens sobre sua morte é um esquecimento midiático, social e

historiográfico acerca da artista no país, em compasso com o mesmo em âmbito internacional.

Conclusão

Apesar do claro entusiasmo pela obra de Marie Laurencin no Brasil no meio do

século, é necessário refletir sobre o funcionamento das instâncias de legitimação artística e de

seu potencial de consagração - efêmera ou duradoura. Bourdieu aponta que essas instâncias

“constituem realidades com dupla face - mercadorias e significações -, cujo valor

propriamente cultural e cujo valor mercantil subsistem relativamente independentes, mesmo

nos casos em que a sanção econômica reafirma a consagração cultural.” 74​. No caso apontado,

o alto valor mercantil e a alta presença no mercado das obras de Laurencin não garantiriam

sua canonização à posteriori, muito menos sua consagração - cultural - institucional no país.

Sua personalidade pessoal e artística, assim como a importância do alcance de sua

obra em termos mundiais,também deve ser repensada, de modo a ir além dos discursos

criados pelos artistas homens em seu contexto: “many of Laurencin’s depictions of active and

relatively unfragmented female subjects need not be viewed as naively essentialist and

compromising, but instead can be seen as tactical incursions into avant-garde space.” 75​. ​O

questionamento sobre como estudar mulheres artistas de modo a fugir de uma abordagem

sexista é desenvolvido por Parker e Pollock, que apontam o papel duplo das historiadoras da

arte que estudam artistas mulheres: o de trazer à tona seus trabalhos, e o de desconstruir

discursos e práticas da história da arte em si mesma. Pollock desenvolve no decorrer do livro

que, no estudo das mulheres pintoras, não é possível ignorar o fato de que os terrenos da

prática artística e da história da arte são estruturados dentro e fora de relações de poder

baseadas no gênero. Sendo assim, é comum a proposição de uma nova teoria de arte na

historiografia voltada para pensar as mulheres artistas, justamente pelo entendimento de que a

maneira tradicional de se fazer história da arte foi estruturada conceitualmente a partir de

visões sobre a arte masculina genializada. “To discover the history of women and art is in

part to account for the way art history is written … the way women artists are recorded is

crucial to the definition of art and artist in our society.”76​.

74BOURDIEU, Pierre. ​A economia das trocas simbólicas.​ Coautoria de Sergio Miceli. 6. ed. São Paulo, SP:

Perspectiva, 2005. 361 p. (Estudos, 20). ISBN 9788527301404 (broch.).​ p. 102-103

75​RECLAIMING female agency: feminist art history after postmodernism​. Edição de Norma Broude, Mary D

Garrard. Berkeley, CA: University of California Press, c2005. 478 p., il. ISBN 0520242521 (broch.). ​p.291

76PARKER; POLLOCK. ​Old Mistresses; Women, Art and Ideology​, London, Routledge & Kegan Paul, 1981,

(19)

Ainda há muito a ser feito no que tange o mapeamento e o estudo do trabalho de

mulheres artistas modernistas, tanto estrangeiras quanto brasileiras na historiografia e

sociologia da arte. Neste sentido, o trabalho apresentado buscou, levando em consideração as

especificidades que tangem o estudo de uma personagem feminina inserida na vanguarda,

somar aos estudos de circulação e de gênero, ao explorar questões colocadas pelos

documentos, que colocam em xeque a importância e os significados da recuperação de um

passado de entusiasmo acerca do trabalho de uma artista que, às margens da vanguarda,

consolidou uma clientela em escala global, e, posteriormente, foi deixada à margem dos

estudos sobre o modernismo.

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Referências

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