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Ronaldo de Medeiros e Albuquerque. misérias do amor. Ronaldo Albuquerque.indd 3 26/11/ :59:51

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Academic year: 2021

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misérias do amor

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amor

O amante a ama, ela ama o amante. Amam-se. Louco amor. Passa os olhos pela sala, pelos móveis que ela mesma esco-lheu. Bebe água do copo que a empregada trouxe. O marido vem da cozinha, beija seus lábios de leve.

De noite sussurra: “Me faz um filho!”

Amor é uma palavra com quatro letras.

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o acerto de contas

Tem dez anos que o filho da puta do Francisco tomou a Evinha dele. Se tivesse feito alguma coisa naquela época, seria inevita-velmente o suspeito no 1. Que graça ia ter se fosse condenado?

Resolvera esperar. Dez anos. Dez anos depois, um canalha, um biltre como o Francisco já teria, com certeza, arranjado mui-tos outros inimigos. Além disso, era muito tempo, ninguém se lembra mais do que aconteceu há dez anos.

Arranjou outro emprego, foi morar num subúrbio distante. Deixou crescer a barba, o bigode, mudou o cabelo. Fez dieta, perdeu vinte quilos. Tudo para não poder ser reconhecido, para poder manter o Francisco sob sua vista sem ele perceber. Sempre esperando porque podia esperar, nem filhos tinha.

Mas agora os dez anos tinham passado. Tinha chegado o momento supremo da sua vida, o momento de fazer a única coisa que ainda queria fazer na vida. Não tinha deixado rastro na compra da arma e da munição. Se alguém se lembrasse dele, era um cara previdente, não ia encontrar nada.

Tinha pensado muito sobre qual o melhor lugar. Tinha que ser um lugar deserto ou quase deserto e onde o Francisco esti-vesse a pé. O Francisco morava no Leblon e caminhava todos os dias pela orla. Mas esse lugar não servia, porque tinha sempre muita gente. Tinha decidido pelas Paineiras, onde às vezes ele andava, nos sábados à tarde. Era um lugar isolado, onde pou-cas pessoas corriam ou caminhavam. E um atirador, ali, podia facilmente posicionar-se sem que ninguém percebesse e podia também, depois, fugir sem dificuldade.

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11 Acontece que o Francisco não ia às Paineiras sempre, ia, em média, uma vez por mês, sempre aos sábados à tarde. Ele não tinha meios, sem se expor, de saber quando. O único jeito era ir todo sábado até o Francisco aparecer.

Esperou em vão sete sábados. No oitavo o Francisco apareceu.

Não estava, porém, sozinho. Tinha levado com ele o filho de oito anos, o filho que ele e Evinha tinham tido. Isso nunca tinha acontecido antes. Mas não ia ser isso que ia fazer ele adiar.

Colocou-se em posição de tiro. Mirou a cabeça e apertou o gatilho. Era bom atirador, o Francisco caiu. O merdinha, porém, correu para o pai e começou a gritar. Ele hesitou um instante. Depois pensou que era um dna de excremento, que ia ser bom livrar a humanidade daquilo. Mirou de novo e apertou o gatilho.

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concorrência desleal

Como ela gostasse de baixinhos, mandou cortar as pernas na altura dos joelhos.

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a função social dos cornos

ou fernão dias no terceiro milênio

Leu no jornal sobre a conferência. “A função social dos cor-nos”. Como convicto, compareceu.

A palestrante era antropóloga. Doutora. Parecia muito jovem.

Estabeleceu de início uma relação de causa e efeito entre a ascensão da mulher e a proliferação dos cornos. Mas, conti-nuou, a proliferação dos cornos também constituía elemento estabilizador do reposicionamento da mulher na sociedade. De simples efeito transformava-se em causa, e era nisso que residia a função social dos componentes dessa espécie do gênero mas-culino. A expositora traçou depois um paralelo entre a mul-tiplicação dos pães como mito religioso e a mulmul-tiplicação dos cornos como fenômeno social. Ele manteve a atenção sempre acesa, sem perder uma palavra. A palestrante terminou com uma profecia: no futuro, só haverá cornos!

De noite, na cama, ao lado da mulher, pensou que ainda viria a ser considerado um pioneiro, um desbravador, um Fernão Dias. Dormiu mais feliz do que nunca.

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capitu

Contempla a filha, atenta a cada gesto.

Recorda da noite de amor com o marido, da tarde de amor com o amante.

Não há nada nela que descenda de um ou do outro. Capitu, filha de Capitu.

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o jogo

Afinal, tudo não tinha passado de um jogo em que os dois perderam.

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o direito das mulheres

A mulher tava dando mole. Era num bar, no Leblon. Estava sozinha. Foi até a mesa dela, sentou. Mal começaram a conver-sar, reparou na aliança no dedo. Se havia uma coisa de que não gostava era de mulher casada. Com tanta solteira por aí, para que ficar se preocupando com maridos ciumentos?

“Você é casada?” “Sou.”

“E o teu marido deixa você ficar num bar a essa hora?” “Ele tá viajando.”

“Mas você pode ser vista por algum amigo de vocês. Você não tem medo?”

“Ninguém vai me reconhecer com esta peruca loura.” Estava na cara que era costume da mulher agir dessa maneira. Normalmente ele daria uma desculpa e iria embora. O problema é que não tava a fim de perder a mulher por causa de uma norma que ele mesmo tinha estabelecido. Passou o braço por trás na altura da cintura e puxou-a para perto dele. Ela veio. A boca já estava entreaberta. Ele beijou-a. Depois tocou de leve o seio.

“Tão olhando.”

Já estava mais do que acostumado com esse tipo de obser-vação. Continuou com a mão no peito.

Ela insistiu:

“Escuta, os garçons não tiram o olho da gente.” “Então vamos sair daqui.”

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17 “A um motel.”

“Eu não vou a motel. Mas, se você quiser, a gente pode ir lá pra casa.”

Estava completamente fora dos seus planos.

“Pra sua casa, não. E se o seu marido voltar de repente?” “É meio difícil. Uma hora atrás eu falei com ele. Ele estava em Londres.”

Ficou sem argumento. Mas também ficou mais tranquilo. Foram no carro dela. Ela o traria depois.

A mulher morava na estrada das Canoas. Numa daquelas mansões. Ela acionou o controle, o portão da garagem se abriu. O carro deslizou para dentro. Subiram por uma escada interna e foram dar na sala.

Ela tirou a peruca. Tinha cabelo escuro, bem curtinho. Começou a beijá-la. Ao mesmo tempo ia removendo as rou-pas da mulher. Depois que ela ficou nua, começou a tirar as roupas dele. Ela mesma quis tirar. Ele estava chupando os pei-tos quando ela pediu para ele esperar um pouco. Foi andando enquanto ele acompanhava com os olhos. Estava certo. Ela tinha um corpaço. O rabo, então...

Aí aconteceu um fato muito desagradável. Em vez dela vol-tar, apareceu um cara baixinho, magrinho, com um bigodinho. Um cara ridículo. Mas ele não podia dizer o mesmo da coisa que o cara estava segurando e apontando na sua direção. A ver-dade é que a história toda era meio esquisita. Infelizmente só agora ele estava percebendo.

O cara do bigodinho não falou nada, só fez um sinal com a cabeça. Era para ele sair da sala em direção à varanda. Obedeceu, que remédio. Ao sair, viu que não tinha dado na varanda, mas na piscina da casa. O cara do bigodinho continuava mudo, só falando por sinais. Mandou que ele fosse andando. Depois fez

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sinal para ele subir numa cadeira. Ele subiu na cadeira. Nesse momento a mulher apareceu. Nua em pelo.

“Bota a corda no pescoço.”

Corda? Onde que tinha corda? Foi então que reparou que a corda estava presa numa árvore. Ela queria que ele botasse a corda no pescoço, como se fosse ser enforcado. Era uma brin-cadeira sinistra. Se é que era brinbrin-cadeira, a mulher e o cara podiam ser dois malucos, como é que ele ia saber? Estava tre-mendo por dentro. Mas não queria que eles percebessem.

“Bota a corda no pescoço, já mandei.”

Não gostou do tom com que ela falou. Começou a achar que a coisa era mesmo séria. Que diferença fazia morrer com um tiro ou morrer enforcado? Morrer com um tiro devia ser até menos ruim. Mas, numa situação como essa, a pessoa acaba procurando adiar o desfecho. Ele botou a corda no pescoço e começou a rezar para o anjo de guarda pedindo para ser só uma brincadeira. O cara continuava olhando para ele e continuava com o revólver apontado. Para dizer a verdade, ele nem sabia se era revólver ou pistola, ele era um cara da paz, não conhecia a diferença. Viu que pelo menos nenhum dos dois estava tão perto da cadeira, que, de onde eles estavam, não dava para der-rubar a cadeira. Assim mesmo, estava com medo do intestino funcionar.

“Tá morrendo de medo, hem?” “De jeito nenhum.”

“Você não vai morrer. É só um fetiche. Vocês não gostam de algemar as mulheres? Tira a calça.”

Desafivelou o cinto e empurrou a calça para baixo. A mulher tirou os tênis e as meias, puxou a calça, ele ficou só de cueca. A mulher começou a massagear o pau dele por cima da cueca, mas quem que vai conseguir ficar de pau duro numa situação

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19 dessas? Aí a mulher tirou a cueca. Começou a massagear o pau com uma mão e o saco com a outra. Ela sabia o que estava fazendo. O pau começou a ficar um pouco duro. Aí a mulher enfiou o pau na boca.

“Ai, foi bom demais, valeu a pena. Nunca saiu tanto. E que grito, hem! Agora vai. Você já sabe onde vai desovar, né, amor?”

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