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FERNANDO ABREU DIREITO PENAL PARA CONCURSOS. Parte Geral com ênfase em todas as etapas do concurso

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2021

DIREITO

PENAL

PARA CONCURSOS

FERNANDO ABREU

Parte Geral

com ênfase

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PARTE I

DIREITO

MATERIAL

(3)

43 TOMO I • TEORIA GER AL DO DIREIT O PENAL

1

Noções básicas

1.1. COMO O ASSUNTO É ABORDADO EM PROVAS E CONCURSOS

Os temas abordados no presente capítulo não são cobrados com frequência em provas de múltipla escolha em questões diretas e integrais. Normalmente constituem assertivas dentro de questões amplas e gerais. Os assuntos, con-tudo, precisam ser estudados pelos candidatos, porquanto são amplamente utilizados para fundamentar questões discursivas e respostas em provas orais.

As características do Direito Penal não costumam ser objeto de cobrança em primeira etapa, pois são poucas as questões que demandam o conhecimen-to do tema. Contudo, trata-se de tema de extrema relevância para as provas escritas e orais, vez que frequentemente são exigidos de forma indireta para fundamentar as respostas.

Dentre as características do Direito Penal, prepondera a cobrança em provas sobre o caráter fragmentário e subsidiário, exigindo o conhecimento da conceituação.

As funções do Direito Penal, assim como as características, não costumam ser objeto de cobrança em primeira etapa, pois são poucas as questões que demandam o conhecimento do tema. Contudo, trata-se de tema de extrema relevância para as provas escritas e orais, vez que frequentemente são exigidos de forma indireta para fundamentar as respostas.

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DIREITO PENAL para concursos Fe r n a n d o ab r e u

Prepondera a cobrança da função simbólica do Direito Penal e da função do Direito Penal como proteção de bens jurídicos, que serão analisadas com o princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos.

As divisões do Direito Penal são pouco cobradas nos concursos em geral. Das poucas questões verificadas, exige-se o conhecimento da diferenciação em Direito Penal objetivo e subjetivo e, notadamente, a compreensão da di-ferenciação entre Direito Penal do fato e do autor, importantes para provas escritas e orais, bem como o conhecimento do Direito Penal de emergência. O tema bem jurídico penal é amplamente cobrado nos concursos em geral e demanda do candidato um grau de aprofundamento maior em doutrina. Não se verifica demasiada abordagem direta em provas de múltipla escolha, mas invariavelmente se exige o conhecimento do tema, especialmente nas questões que abordam os princípios do Direito Penal. O assunto é amplamen-te cobrado em provas discursivas e orais, de forma que seu conhecimento é crucial para aprovação.

1.2. CONCEITO DE DIREITO PENAL

O Direito Penal, segundo PUIG1 (2010, p. 42-43), caracteriza-se por ser

um conjunto de valorações e princípios que orientam a aplicação e interpre-tação das normas penais, concebidas como aquelas que reúnem como objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas sanções correspon-dentes – penas e medidas de segurança. Trata-se, portanto, de acordo com ZAFFARONI2 (1991, p. 41), de um conjunto de leis penais e do sistema de

interpretação dessas leis, o saber penal.

Em síntese, o Direito Penal é o ramo do Direito que regula as condutas humanas hábeis a provocar distúrbios sociais em razão da quebra das ex-pectativas normativas, não impedidas pelos demais ramos do Direito, e visa tutelar, precipuamente, a norma jurídico-penal, tendo por consequência a proteção dos bens jurídicos penais.

1. MIR PUIG, Santiago. Derecho Penal: Parte General. 8ª ed. Barcelona: Reppertor, 2010. 2. ZAFFARONI, Eugênio Raúl. Manual de Derecho Penal, 6ª ed. Buenos Aires: Ediar, 1991.

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45 1 • NOçõES BáSICAS TOMO I • TEORIA GER AL DO DIREIT O PENAL

1.3. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL

De acordo com a doutrina majoritária, o Direito Penal é um objeto cultural, normativo, valorativo, sancionador, fragmentário, subsidiário e garantista.

É um objeto cultural, pois pertence à classe das ciências do “dever ser”, cuja análise valorativa é realizada num recorte temporal-geográfico histórico. É normativo, porque formado por um conjunto princípios e regras defi-nidoras das infrações de natureza penal e suas consequências jurídicas.

É valorativo, porquanto suas normas implicam na valoração negativa ou positiva de uma conduta, conduzindo à sua criminalização ou a imposição de um dever para evitar a realização de um resultado.

Possui também o caráter finalista, pois tem por escopo tutelar a norma jurídico-penal e, por consequência, os bens jurídicos fundamentais, eviden-ciando sua finalidade preventiva. Segundo BITENCOURT3 (2012, p. 60),

antes de punir o infrator da ordem jurídico-penal, procura motivá-lo para que dela não se afaste, estabelecendo normas proibitivas e cominando as sanções respectivas, visando evitar a prática do crime.

É predominantemente sancionador e excepcionalmente constitutivo4,

consoante nos ensina ZAFFARONI5 (1991, p. 57), pois a antinormatividade

(contrariedade ao Direito) é una e não somente contrária ao Direito Penal. Assim, o Direito Penal, em regra sancionador, não cria bens jurídicos, pois apenas reforça a tutela existente nos demais ramos do Direito. Excepcional-mente, contudo, pode ser constitutivo, ao tutelar bens jurídicos não protegidos por outros setores do Direito.

Possui ainda o caráter fragmentário, no sentido de que representa a ultima ratio para tutela dos bens jurídicos, porque não atinge todos os fatos ilícitos, mas somente aqueles erigidos pelo legislador como absolutamente essenciais ao convívio social e, em razão disso, merecedores da tutela do Direito Penal.

3. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, vol. 1. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

4. Questão cobrada no concurso do MPMG, ano 2018. Assertiva considerada correta: “Entre outras características, o Direito Penal tem natureza constitutiva e sancionatória”.

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É também subsidiário, porquanto a intervenção do Direito Penal somente se justificará quando os demais ramos do Direito falharem na tutela dos bens jurídicos.

Por fim, é garantista, porque seu arcabouço normativo, estabelecedor de condições para seu exercício, resta por constituir um sistema de garantias para o indivíduo, impedindo a atuação do poder punitivo estatal de forma indiscriminada.

1.4. FUNçõES DO DIREITO PENAL

Registra-se, doutrinariamente, diversas funções para o Direito Penal, mormente associadas ao controle social e instrumento para convivência harmônica em sociedade. Vejamos as mais consolidadas.

1.4.1. Direito Penal como proteção de bens jurídicos

Segundo BIANCHINI6 (2002, p. 28-29), o Direito Penal só deve atuar na

defesa dos bens jurídicos imprescindíveis à coexistência pacífica dos homens (princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos).

Dentre o vasto número de bens existentes, somente os essenciais a uma determinada coletividade receberão proteção pela via do Direito Penal, pois se apresentam como bens jurídico-penais fundamentais ao convívio social, evidenciando a subsidiariedade do Direito Penal e seu caráter fragmentário.

1.4.2. Direito Penal como instrumento de controle social

O Direito Penal deve servir como instrumento de controle social ao con-tribuir para a preservação da paz pública, funcionando como importante meio de inibição de condutas contrárias às normas jurídico-penais.

6. BIANCHINI, Alice. Pressupostos materiais mínimos da tutela penal. São Paulo: Revista dos Tri-bunais, 2002.

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TOMO III

Teoria geral

da pena

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TOMO I II • TEORIA GER AL D A PENA

24

Fundamentos da pena

24.1. COMO O ASSUNTO É ABORDADO EM PROVAS E CONCURSOS

O tema teoria geral da pena tem sido cobrado nos concursos em geral exigindo do candidato o conhecimento da diferenciação entre as teorias

ab-solutas e relativas. Para tanto, o candidato deve conhecer as características das teorias, sendo capaz de diferenciar a prevenção geral e especial, positivas

e negativas, em suas diferentes vertentes.

Um aprofundamento maior tem sido percebido nas provas de Delegado

de Polícia e Defensor Público, que por vezes exigem do candidato o

conhe-cimento específico de autores e suas concepções.

A parte principiológica do tema abordado neste capítulo, apesar de não ser cobrada diretamente, fornece importância subsídio para prova dissertativas e orais, de forma que não pode ser relegado pelo leitor.

O conhecimento das penas permitidas e proibidas no Brasil é pouco exi-gido e consta expressamente do texto legal. De igual forma, os assuntos de cominação das penas e limite das penas têm sido pouco exigidos. Acreditamos que o tópico de limite das penas volte a ser exigido em razão da alteração promovida pela Lei do Pacote Anticrime.

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24.2. INTRODUçÃO

Com a prática do delito, surge o ius puniendi estatal. Iniciada a apuração da infração penal e submetida ao crivo do Poder Judiciário, após o devido processo legal, o Estado-juiz deve-se pronunciar. Entendendo que o agente praticou uma infração penal, aplica a sanção penal por meio da pena.

A pena, portanto, é uma espécie de sanção penal fixada pelo Estado após a observância do devido processo legal, em razão da prática de uma infração penal, dirigida a bens jurídicos de titularidade do agente culpável.

Além da espécie pena, após a observância do contraditório e ampla defesa, o Estado pode entender que o agente não é culpável e absolvê-lo impropria-mente da imputação formulada. Contudo, por estar configurada a prática de um fato típico e ilícito, em razão da periculosidade do agente, salvo nos casos de inimputabilidade por idade ou embriaguez completa decorrente de caso fortuito ou força maior, o Estado aplica a sanção penal de medida de segurança.

A pena é concebida como a primeira via do Direito Penal, ao passo que a medida de segurança como a segunda via. Fala-se, modernamente, em Jus-tiça Restaurativa, a terceira via do Direito Penal, associada à reparação dos danos. O tema foi objeto de cobrança na prova discursiva do 53º Concurso para ingresso na carreira do Ministério Público de Minas Gerais e o espelho exigido pelo examinador continha a seguinte resposta:

A terceira via do Direito Penal, na concepção de Claus Roxin, é a repa-ração de danos, legitimada que está pelo princípio da subsidiariedade do direito penal. Isso porque, para além da pena e da medida de segurança, ela é uma medida penal independente, que alia elementos do direito civil e cumpre com os fins da pena. Para o consagrado doutrinador, a reparação substituiria ou atenuaria a pena naqueles casos nos quais convenha, tão bem ou melhor, aos fins da pena e às necessidades da ví-tima. A inclusão no sistema penal, sancionador da indenização material e imaterial da vítima, significa que o Direito Penal passa a se aproximar mais da realidade social.

Em termos práticos, podemos verificar que a composição civil dos danos prevista no art. 74 da Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais) é uma das formas de aplicação da terceira via do Direito Penal, porquanto o Estado renuncia ao seu poder punitivo visando resguardar os interesses da vítima.

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24 • FUNDAMENTOS DA PENA TOMO I II • TEORIA GER AL D A PENA

24.3. FUNçõES E TEORIAS DA PENA

As funções da pena, explicadas por teorias diversas, relacionam-se, em essência, com a própria razão de ser do Direito Penal. Na lição de DIAS1

(1999, p. 89), “as questões fulcrais da legitimação, fundamentação, justificação e função da intervenção penal estatal”, isto é, “a questão dos fins das penas constitui, no fundo, a questão do destino do direito penal”.

Vejamos as teorias e suas respectivas concepções para os fins da pena.

24.3.1. Teoria absoluta (finalidade retributiva)

J Atenção

O assunto foi cobrado na segunda etapa do Tribunal Regional Federal, 1ª Região (CESPE), 2009:

Discorra sobre a finalidade da pena como sanção específica do direito penal, abor-dando as principais teorias relacionadas ao tema, com ênfase na doutrina de Kant.

Para a teoria retributiva, a pena possui um fim em si mesma, de sorte que sua existência funda-se no império da Justiça. Os absolutistas partem do pressuposto de que a culpa do agente deve ser compensada com a aplicação de uma pena, sem qualquer finalidade preventiva ou prospectiva.

Em linhas gerais, as teorias absolutistas combatem o mal pelo mal, isto é, o mal do crime é afastado pelo mal da pena. A pena, portanto, é um instru-mento de vingança legítima estatal.

Hegel e Kant são dois expoentes das teorias absolutistas. Enquanto Hegel defende que a pena é a negação da negação do Direito, alicerçando-se na necessidade de preservação da ordem jurídica, Kant considera a pena um imperativo categórico, de fundamento ético, sem qualquer outra finalidade.

As críticas ao modelo são várias, dentre as quais destacamos a lição de SANTOS2 (2017, p. 423) que adverte que “a pena como expiação de

culpa-1. DIAS, Jorge Figueiredo. Questões Fundamentais de Direito Penal Revisitadas. São Paulo: RT, 1999.

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bilidade lembra suplícios e fogueiras medievais, concebidos para purificar a alma do condenado; a pena como compensação de culpabilidade atualiza o impulso de vingança do ser humano, tão velho como o mundo”.

24.3.2. Teoria relativa (finalidade preventiva)

As teorias relativas se opõem às teorias absolutistas, porquanto direcio-nam o poder punitivo estatal para a prevenção do crime e não para o ato criminoso do indivíduo. A pena, portanto, deixa de ter um fim em si mesmo para buscar um fim maior, uma perspectiva utilitarista. Enquanto as teorias absolutistas miram o passado, as teorias relativistas focam no futuro ao tentar prevenir novos delitos.

As teorias relativas ou utilitaristas seguem os modelos da prevenção geral, a pena como exemplo para a sociedade, e da prevenção especial, que atua diretamente sobre o criminoso visando seu retorno à vida social.

24.3.2.1. Prevenção geral

J Atenção

O assunto foi cobrado na segunda etapa da Defensoria Pública de São Paulo (FCC), 2013:

Discorra sobre a teoria da prevenção especial positiva da pena, de modo a abordar os seguintes aspectos: (i) objetivos/finalidades; (ii) fundamentos teóricos; (iii) con-trovérsias; (iv) relação com a execução penal brasileira contemporânea.

O modelo da prevenção geral tem como principal expoente Feuerbach, que partiu da concepção intimidatória da pena, realizada por “coação psicológica” pelo Estado. Logo, a finalidade da pena seria impedir novas lesões aos bens jurídicos por meio da intimidação geral decorrente da sanção penal, criando no indivíduo um contra-motivo forte o suficiente para afastá-los do crime e proteger os bens jurídicos. A essa vertente da prevenção geral confere-se o

aspecto negativo.

Por outro lado, a pena, para concepção de prevenção geral positiva, visa preservar e reforçar a confiança na ordem jurídica por parte da sociedade, demonstrando a sua inviolabilidade perante o corpo social. Busca, portanto,

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24 • FUNDAMENTOS DA PENA TOMO I II • TEORIA GER AL D A PENA

demonstrar que há lei em vigor e que seu executor, o Estado, será firme no seu cumprimento.

A teoria da prevenção geral positiva recebeu uma releitura por parte do funcionalismo penal, que, em linhas gerais, passou a concebê-la com o fun-damento do sistema penal, com o objetivo de garantir a vigência da norma e influir nos processos de controle social. Nesse sentido, Roxin e Hassemer partem de uma perspectiva limitadora da prevenção geral positiva, pois compreendem que a função da pena não é só a de fundamentar a atuação do Estado, mas também a de limitar sua intervenção, valendo-se, para tanto, dos princípios da culpabilidade, da proteção de bens jurídicos, da legalidade e dignidade da pessoa humana, principalmente, entre outros.

Por outro lado, Jakobs parte de uma linha fundamentadora da preven-ção geral positiva, considerando que os fins do Direito Penal são a garantia da vigência da norma jurídica e, por meio dessa garantia, visa compensar a frustração das expectativas sociais em razão da violação à norma.

24.3.2.2. Prevenção especial

As teorias da prevenção especial concentram suas energias no delinquente, na pessoa que praticou o crime. Têm por premissa a periculosidade do agente e fundam-se na concepção de que a pena necessária para impedir a reiteração criminosa é uma pena justa. Não se confunde com as teorias absolutas, que se voltam contra o agente como forma de vingança, posto que buscam influir no indivíduo para que não volte a delinquir. Logo, canaliza suas forças para dificultar ou impedir a reincidência.

Assim como a prevenção geral, a prevenção especial também é tratada sob o enfoque positivo ou negativo. Considera-se prevenção especial positiva aquela voltada para a ressocialização do condenado. A prevenção especial

negativa, por sua vez, é caracterizada por atributos como a intimidação e

segregação. De acordo com LISZT3 (1899, p. 63), a pena visa intimidar o

delinquente, revigorando-lhe as representações enfraquecidas que freiam os

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maus instintos, modificar o caráter do delinquente, ou reduzi-lo à inocuidade, segregando-o da sociedade.

24.3.3. Teoria mista ou unificadora (retributiva e preventiva)

A teoria mista ou eclética parte da premissa que a pena possui tanto a função retributiva como a preventiva, sendo impossível dissociar tais funções da natureza da pena. Logo, o castigo pelo mal praticado (retributivo) e a busca pela evitação de novos delitos tanto pelo meio social como pelo delinquente (prevenção geral e especial) caracterizam os fins da pena. Em linhas gerais, a teoria unificadora representa uma fusão das teorias absolutas e relativas.

De acordo com a doutrina majoritária, a teoria eclética foi a adotada

pelo legislador brasileiro no art. 59, caput, do Código Penal, porquanto

ex-pressamente se vale da expressão “conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”.

De fato, apesar de não expressamente adotado a teoria, a análise siste-mática da legislação pátria nos aponta para adoção da teoria eclética. Os tipos penais, ao cominarem em abstrato uma pena para o delito, atuam sob a égide da prevenção geral, pois se direcionam à sociedade como um todo. A sentença condenatória, ao fixar a pena em concreto, revela o caráter retribu-tivo ao impor um mal ao condenado como forma de equiparar o mal por ele praticado. Além disso, denota a prevenção especial negativa ao intimidá-lo para evitar a reincidência. Por sua vez, o início da execução tem por escopo a ressocialização do condenado, evidenciando a prevenção especial positiva.

24.3.4. Teoria agnóstica da pena

A teoria negativa ou agnóstica da pena nega, precipuamente, as funções declaradas ou manifestas da pena no âmbito das teorias absolutas e relativas. Assim, para Zaffaroni, Batista, Alagia e Slokar, as premissas de retribuição, prevenção geral e prevenção especial são falsas.

De acordo com os autores, a teoria agnóstica da pena visa ampliar a se-gurança jurídica ao buscar reduzir o poder punitivo do Estado de polícia e, igualmente, ampliar o poder do Estado de Direito pelo reforço do poder de decisão das agências jurídicas.

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PARTE II

PRÁTICA PROCESSUAL

PENAL PARA CONCURSOS

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1001

Introdução:

As principais peças

Os concursos para Ministério Público permitem a cobrança de diversas peças possíveis, vez que a atuação ministerial contempla a área penal, cível e extrajudicial.

A maioria dos concursos exige o conhecimento da parte prática da atu-ação do parquet e a produção de peças nas segundas etapas, de forma que a preparação do candidato deve englobar o estudo da parte prática.

Na esfera criminal, predomina a cobrança da peça denúncia. Apenas a título de exemplo, Estados como Santa Catarina, Goiás e Paraná, que realiza-ram vários concursos nos últimos anos, sempre cobrealiza-ram a peça.

Outra peça frequente em concursos na esfera criminal é o recurso, es-pecialmente apelação e recurso em sentido estrito. Tem sido mais comum a exigência de contrarrazões recursais do que de razões de recurso. Estados como São Paulo e Minas Gerais têm, com frequência, apresentado a peça nas segundas etapas.

Na área cível tem preponderado a cobrança de ações civis públicas e ela-boração de pareceres. As peças cíveis são cobradas com menor intensidade quando comparadas às criminais, apesar da exigência frequente.

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Os pareceres, até o ano de 2010, eram mais comuns em provas do que as ações civis públicas. Com a modificação do perfil da atuação ministerial e dos próprios examinadores, tem-se verificado atualmente uma maior cobrança de ações públicas, vez que o grupo de direitos difusos passou a constituir categoria autônoma na maioria dos certames.

Por sua vez, os temas relacionados à atuação extrajudicial do Ministério Público quase não têm sido explorados de forma prática em segundas etapas. As questões teóricas envolvendo inquérito civil, recomendação e compromisso de ajustamento de conduta proliferam nas segundas fases e, para nós, é ques-tão de tempo para que passem a ser cobradas de forma prática, a exemplo da mudança ocorrida nos últimos anos com relação a ação civil pública, que era pouco exigida de forma prática, mas reinava em questões teóricas.

Em razão disso, desenvolvemos a obra levando em consideração o perfil recente das provas, mas projetando as possíveis alterações nos temas a serem cobrados.

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1003

1

Denúncia

1.1. INTRODUçÃO

A denúncia talvez seja a peça mais simples e ao mesmo tempo mais complexa de todas que permeiam a atuação do Ministério Público. Deve ser objetiva e simultaneamente trazer todas as circunstâncias do fato criminoso.

A denúncia é a petição inicial do processo penal acusatório litigioso, movida pelo Ministério Público contra o réu, na qual se imputa a prática de uma infração penal e pede, ao Estado-Juiz, a aplicação da sanção penal.

O Código de Processo Penal prevê os requisitos da denúncia no art. 41:

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou escla-recimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

No entanto, a despeito da previsão legal, há regras ocultas que não foram contempladas pelo art. 41 do CPP e se encontram no art. 319 do Código de Processo Civil.

O modelo de estudo proposto na presente obra será desenvolvido de for-ma construtiva, auxiliando o leitor a construir a petição inicial observando a melhor técnica verificada nos manuais de atuação funcionais de diversos Ministérios Públicos.

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1.2. CONDIçõES PARA O EXERCÍCIO DA AçÃO PENAL

Para que o direito de ação seja exercido de forma regular deve a ação satisfazer certas condições legalmente previstas. Vejamos:

a) possibilidade jurídica do pedido: a condição, no processo penal, é restrita à questão da tipicidade. Analisa-se tão somente se o fato a ser imputado na denúncia subsume-se a algum tipo penal. Não importam as provas e as circunstâncias do fato, matérias de mérito, mas apenas que a possível imputação encontre respaldo em alguma norma penal incriminadora.

b) legitimidade das partes: a condição liga-se ao aspecto subjetivo da lide. Perquire se o autor detém autorização estatal para o manejo da ação e se o agente reúne as características necessárias para ser réu. Sua vertente ativa não é de difícil perquirição, posto as ações de iniciativa pública são de titularidade do Ministério Público por força constitu-cional. Assim, não se tratando de ação de iniciativa privada, estaremos diante da legitimidade ativa ministerial.

Por outro lado, a legitimidade passiva analisa se o agente a quem se imputa o fato criminoso reúne as condições legais e mínimas para responder aos termos do processo. Afasta-se, nessa condição, por exemplo, a imputação de fato típico e ilícito a um inimputável menor de dezoito anos.

c) interesse de agir: o interesse de agir no processo penal decorre ex-pressamente da Constituição Federal, que dispõe, no art. 5º, LIV, que “ninguém será privado da sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. O Estado, para exercer o ius puniendi, precisa, neces-sariamente, de se valer da ação penal. De igual sorte, a movimentação da máquina estatal precisa revelar-se útil, isto é, que a sentença a ser proferida ao final caminhe nos fins da concretização do direito estatal. Logo, o interesse revela a necessidade e a utilidade do processo. A prescrição, por exemplo, atinge diretamente o interesse de agir, posto que ataca o direito de punir, evidenciando a desnecessidade e falta de utilidade do processo.

d) justa causa para ação penal: consagrada por Afrânio Silva Jardim, a justa causa foi erigida à condição de ação penal no art. 395, III, do CPP. Pressupõe a condição que o exercício do direito ação exige um suporte

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1 • DENúNCIA

mínimo probatório a lastrear a imputação, isto é, que a denúncia seja acompanhada de elementos hábeis a fundamentar os fatos alegados. Existem ainda as chamadas condições de procedibilidade. As frequen-temente citadas são a representação da vítima nos crimes de ação penal de iniciativa pública condicionadas à representação do ofendido e à requisição do Ministro da Justiça. Sem a satisfação dessas condições específicas, o parquet será carecedor da ação.

1.3. A DENúNCIA

A exordial acusatória, como antecipamos na introdução, deve observar a norma do art. 41 do CPP e art. 319 do CPC naquilo que for pertinente. Em linhas gerais, a denúncia, baseada na prova da existência do crime (mate-rialidade) e indícios suficientes de autoria (PEC + ISA), será composta pelo endereçamento, qualificação das partes, exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias, qualificação do crime, pedido com suas especi-ficações, requerimento de provas a serem produzidas e rol de testemunhas, quando necessário.

O aditamento da denúncia preserva a mesma estrutura da denúncia, sendo apenas o meio pelo qual o Ministério Público acrescenta novos fatos criminosos ou indivíduos ao processo penal, podendo ainda ser utilizada para correção de imprecisões na imputação.

Para facilitar a compreensão, trataremos da estrutura da denúncia em três corpos: a) formal; b) substancial; e c) imputação e pedido ou final.

Vejamos separadamente cada item, tomando por exemplo-base um crime de furto, do qual nos valeremos para a realização completa da imputação.

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DIREITO PENAL para concursos Fe r n a n d o ab r e u

1.3.1. Corpo formal (1º Corpo)

No chamado corpo formal, registra-se o endereçamento, número dos autos e qualificação das partes. Engloba a indicação do juízo competente, da condição da ação da legitimidade das partes e indicação de satisfação da justa causa para a ação penal.

1.3.1.1. Endereçamento

Tratando-se a denúncia de espécie de ação, naturalmente deverá ser en-dereçada ao juízo competente. Por sua vez, esse será definido pelas regras de competência previstas nos art. 70 a 91 do CPP, devendo ainda serem obser-vados os diversos posicionamentos jurisprudenciais que afastam a aplicação das regras gerais.

Um crime de furto, praticado na cidade de São Paulo, deve ter seu pro-cessamento realizado perante o juízo competente na comarca de São Paulo, segundo as normas de organização judiciária local. Portanto, ao descrever as circunstâncias do fato, que ainda veremos, deverá ser preservada a correlação lógica entre o local dos fatos e o endereçamento.

Segundo a melhor técnica, a denúncia deve ser endereçada ao juízo competente e não ao juiz, consoante se infere do inc. I do art. 319 do CPC:

Art. 319. A petição inicial indicará: I - o juízo a que é dirigida;

Entretanto, na prática forense ainda predomina amplamente o ende-reçamento ao magistrado. Vejamos na prática a construção para, ao final, chegarmos ao nosso primeiro modelo de denúncia:

 Endereçamento

Ao juízo da ___vara criminal da comarca de São Paulo/SP ou

Referências

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