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Por que não ensinar gramática?

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Academic year: 2021

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Por que não ensinar gramática?

Diego Camargo Saraiva1 Adriana Soares2²

Resumo: Este estudo quer analisar a questão do ensino da gramática, sua importância na aquisição

de uma segunda língua ou L2, neste caso o inglês, bem como a forma que é concebida pelos estudantes. Diante de um idioma com tantas heranças linguísticas, torna-se imprescindível conhecer suas regras e como tais se comportam para se obter uma comunicação correta e eficiente.

Palavras-chave: gramática, ensino, importância, comunicação.

Abstract: This study wants to examine the grammar’s teaching issue, its importance in acquiring a

second language or L2, in this case English, and the way that it is conceived by students. In view of a language with so many linguistic inheritances, it becomes essential to know its rules and how they are worked to obtain a correct and efficient communication.

Keywords: grammar, teaching, importance, communication.

A língua inglesa tem origem no idioma dos anglos e saxões, povos bárbaros (germanos) que no século V de nossa era invadiram a Britânia, o atual Reino Unido da Grã-Bretanha. Em 1500 anos de evolução, o inglês sofreu influências de outras línguas, entre elas o celta, o latim e o francês. Por isso sua estrutura e gramática obedecem a um conjunto de regras relacionadas a diferentes heranças linguísticas. Segundo Holden e Rogers (2001), esse é um problema enfrentado no ensino de gramática da língua inglesa, a qual, normalmente, parece ser tão diferente da nossa língua nativa, neste caso, o português.

A gramática pode ser concebida como um conjunto de regras que organiza um idioma, e pode ser de várias maneiras: regras que devem ser seguidas (gramática normativa ou prescritiva) - gramática pedagógica e de livros didáticos -, com as quais os leitores aprendem a falar e escrever corretamente; conjunto de regras que são seguidas (gramática descritiva) – aquela que guia o trabalho dos linguistas -, que tem o papel de descrever como as línguas são faladas.

De acordo com Possenti (1996), o conhecimento do conjunto de regras que o falante tem e domina de uma língua, e que a torna compreensível e reconhecida como pertencente a uma língua, refere-se à gramática internalizada. Chomsky (Apud

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Graduando do Curso de Letras da FACOS.

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Profª Orientadora Disciplina Estágio Supervisionado em Língua Inglesa no Ensino Fundamental / Ensino Médio - Mestre em Letras - Linguística Aplicada.

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94 HARMER, 1991) denomina “usuários competentes da língua”, os falantes que sabem de alguma forma o sistema gramatical de regras, e “desempenho”, o modo como este conhecimento é compreendido. Por exemplo, o fato de um falante produzir diferentes sentenças com a mesma relação entre sujeitos e objetos, ou até mesmo, no caso de um falante nativo, construir uma sentença gramaticalmente complexa sem ter consciência de quais regras está usando.

Em determinado momento da história do ensino de línguas, a gramática foi vista por alguns autores como sinônimo de correção e o professor era caracterizado como aquele que ditava as regras para que o uso se tornasse correto. Atualmente, essa concepção tem mudado e muitos gramáticos têm sido mais cuidadosos ao falar sobre gramática, focalizando o modo como ela é usada ao invés de descrever como ela deveria ser usada.

Além disso, observa-se uma contínua controvérsia no que diz respeito a ensinar ou não gramática dentro da pedagogia de L2. Conforme afirmam Amorim e Magalhães (1998, p. 131),

Os que a defendem dizem que a gramática é parte indissociável do idioma e que, portanto, não há como aprender uma língua estrangeira sem aprender gramática. Aqueles que a condenam argumentam que, se o estudo da gramática fosse mesmo essencial, as crianças não aprenderiam a falar antes de ingressarem na escola [...].

Alguns autores adotam uma posição contrária à instrução formal e à correção para a aquisição. Eles defendem que o ensino de gramática tem um efeito mínimo sobre a aquisição da L2. Essa posição é conhecida como “posição de não-interface”. Já a “posição de interface forte”, implícita no ensino tradicional de gramática, assume que os alunos adquirem o que está sendo ensinado e que, com a prática, são capazes de utilizar a estrutura em situações comunicativas, havendo, assim, uma conexão entre prática e uso. Em contrapartida, existe a “posição de interface fraca”, que sugere que a instrução chama a atenção dos alunos para características da língua e permite que eles desenvolvam seus conhecimentos dessas características, porém, eles não as incorporarão em sua interlíngua até que alcancem o estágio de desenvolvimento exigido e adequado. Holden e Rogers (2001) mencionam que a idéia subjacente em uma atividade faz com que as pessoas se lembrem mais

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95 daquilo que descobriram sozinhas do que de algo que alguém lhes contou, o que denomina de gramática dedutiva. Além disso, pode-se entender muito mais claramente a lógica subjacente.

Seguindo essa ideia de raciocínio, como sustentam Holden e Rogers (Ibid., p. 34), outra maneira de instigar o aluno a aprender gramática é escolher exemplos que contenham alguma semelhança na sua própria língua, o que denomina de gramática comparativa. Por exemplo, “I’m studying for the history exam.” é semelhante à sentença “Estou estudando para o exame de história”, pois, ambos indicam uma ação em desenvolvimento. Essa abordagem positiva da gramática vai torná-la muito mais prazerosa e útil, tanto para o professor como para o aluno. No momento em que observamos a aplicabilidade das regras gramaticais num contexto real e que, consequentemente, conseguimos produzir na língua inglesa o que produzimos na língua portuguesa, passamos a dar real importância à gramática.

Alguns linguistas mantinham que não era necessário ensinar gramática e que a habilidade para usar a L2 se desenvolveria automaticamente se o aprendiz focalizasse o significado ao utilizar a língua para se comunicar. Afirmam Amorim e Magalhães (1998, p. 131) que “o meio termo é o mais sensato, mais democrático e muito mais producente [...]”.

O aprendizado de um idioma estrangeiro demanda uma integração de uma grande variedade de habilidades, atividades e processos de raciocínio. Não existe justificativa para o ensino ou o aprendizado de um conjunto de regras se não estiverem relacionados a outras atividades realizadas dentro do programa linguístico (HOLDEN; ROGERS, 2001). Assim, podemos afirmar que o ensino da gramática com abordagem comunicativa é parte integrante da teoria e da prática. Jacobs (2002) menciona que no campo da comunicação verbal, o quesito gramática é geralmente considerado o de maior importância. Com certeza, erros gramaticais podem provocar falhas terríveis de comunicação. Para ilustrar, o autor nos traz um exemplo em que um estudante de língua inglesa comete um erro de gramática durante um diálogo com um amigo: “She has twenty years”. Neste caso, o

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96 conhecimento da regra gramatical torna-se imprescindível para a formulação correta da sentença: “She is twenty” ou “She is twenty years old”. É certo que o domínio puro e simples da gramática não garante que uma pessoa vá se comunicar eficazmente com outros indivíduos. “A gramática está para aprendizagem de um idioma como a habilidade de ler música está para um pianista: as partituras poderão aumentar o seu repertório, mas jamais dar mais agilidade aos seus dedos” (AMORIM; MAGALHÃES, Ibid., p. 131).

Larsen-Freeman (2003 apud PAIVA, 2005) define gramática como uma habilidade ao invés de uma área de conhecimento. Isto recai sobre a importância do desenvolvimento nos alunos de uma habilidade para se fazer algo, não simplesmente armazenar conhecimento sobre a língua ou seu uso. Além disso, ela coloca a gramática como sendo a quinta habilidade a ser desenvolvida no aluno, ao lado da escrita, da leitura, da compreensão oral e da fala. Ser capaz de usar estruturas gramaticais não significa saber usar as formas exatamente, mas, sim, usá-las de forma apropriada e significativa. Para Hoden e Rogers (2001, p. 35), “[...] As regras são úteis, mas precisam estar fundamentadas no entendimento e na utilização prática”.

A concepção que se tem atualmente é a de que a gramática não deve ser abolida do ensino de línguas, mas que compartilhe seu espaço com as habilidades a serem desenvolvidas, tais como a leitura, a escrita e a fala, munidos de significado e com um propósito para os envolvidos (POSSENTI, 1996). Esses aspectos nada mais são do que habilidades com as quais a habilidade gramatical deveria integrar-se para determinarem o que os alunos podem fazer em determinado nível de proficiência, não é o caso de quanto mais gramática, mais proficiente.

Para Widdowson (1990 apud PAIVA, 2005), a gramática, na Abordagem Comunicativa, era para ser assimilada incidentalmente como uma função da atividade comunicativa. Porém o fato de a abordagem exigir que o aluno adquira a gramática por inferência tem causado uma desorientação por parte deles e, portanto, a função dessas atividades gramaticais seria justamente fornecer as

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97 características gramaticais necessárias para ajudar os alunos a encontrarem seu caminho. Além disso, os alunos deveriam ler muito e trabalhar a língua partindo de suas próprias produções e conseguir dominar o maior número possível de regras para poderem se expressar em diversas circunstâncias.

Our aim in teaching grammar should be to ensure that students are communicatively efficient with the grammar they have at their level. We may not teach them the finer points of style at the intermediate level, but we should make sure that they can use what they know (HARMER, 1991, p. 23).

Esse é um papel importante das escolas, o de fornecer condições para que o aluno aprenda aquelas convenções as quais não tenha contato ou familiaridade, e não apenas apresentar uma variedade no lugar da outra. Fazendo-se um paralelo entre esta visão de Possenti (1996) e o ensino de língua inglesa, tem-se a Abordagem Comunicativa sustentando a perspectiva de que o aluno deve saber se comunicar nas diferentes situações com que possa se deparar. Além disso, utilizando as próprias palavras do autor, “não existem línguas mais simples ou mais complexas, existem línguas diferentes” (Ibid., p. 26). Possenti (Ibid.), afirma que saber falar é saber uma língua e saber esta língua é saber sua gramática, mas este fato não se resume em saber regras desta língua e, sim, ao fato de saber o necessário para ser capaz de se comunicar efetivamente nesta língua. Pode-se dizer ainda, que saber uma gramática é saber compreender frases e dizê-las, e quem faz isso tem certo domínio de estruturas da língua.

Sendo assim, as escolas não deveriam privilegiar apenas as aulas de gramática direcionadas para o vestibular, pois esses testes já não priorizam essa prática, mas sim exercícios com textos e literatura. O autor ainda recomenda que se faça uma reorganização e uma discussão sobre o assunto e não abolir a gramática, mas alterar prioridades. Tudor (2001 apud PAIVA, 2005), considera que a palavra gramática é, às vezes, usada para se referir à aspectos do sistema da língua, enquanto em outros é relacionada à aspectos do processo de ensino ou a uma determinada atividade de aprendizagem. O autor se refere à gramática como regularidades estruturais ou modelos na língua por meio dos quais os falantes organizam as mensagens. Nas definições apresentadas acima, a gramática é vista como parte do processo de uso da língua e não como a língua em si. No entanto,

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98 em muitos livros didáticos, ela constitui a base para a aprendizagem. É o centro em torno do qual se estrutura um programa de aprendizagem e ao qual são adicionados outros elementos.

Os professores de língua inglesa devem ter a consciência de que precisam se atualizar em relação ao ensino da gramática, “a grande vilã”, vista muitas vezes pelos mesmos e pelos alunos, já que a crença dos últimos é um reflexo das crenças dos professores. É preciso que deixem de lado costumes herdados por professores, cuja formação está calcada em princípios tradicionais, como o ensino da língua inglesa estar resumido em ensinar gramática. Devemos produzir aulas orientadas pela leitura. Isso faz com que os alunos aprendam as estruturas de linguagem e a gramática de forma contextualizada. Além disso, músicas, seminários e teatros fazem com que a gramática deixe de ser o foco. Para Harmer (2001), se apresentarmos as regras através de padrões estruturais (sintagmas), as regras podem ser facilmente explicadas.

Embora o nível de sabedoria de regras não seja equivalente a capacidade de um estudante de inglês se comunicar bem, o estudo da gramática, de forma organizada, é muito eficaz na produção de textos comunicativamente eficientes. Além disso, “[...] uma vez aprendidas, as regras gramaticais tornam-se algo que proporciona segurança. Os alunos sentem que, conhecendo as regras dominam o idioma” (HOLDEN; ROGERS, 2001, p. 33). Porém, o estudo destas regras, bem como os exercícios para praticá-las, deve ter alguma ligação com a realidade dos alunos. Os alunos precisam ter consciência da língua e como ela é usada.

Referências

AMORIM, Vanessa; MAGALHÃES, Vivian. Cem aulas sem tédio: sugestões práticas, dinâmicas e divertidas para o professor de língua estrangeira. Santa Cruz: Pe. Reus, 1998.

HARMER, Jeremy. The Practice of English Language Teaching. First published. United States: Longman, 1991.

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99 HOLDEN, Susan; ROGERS, Mickey. O ensino da Língua Inglesa. São Paulo: Special Book Services Livraria, 2001.

JACOBS, Michael A. Como não aprender inglês. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002.

OXFORD, University. Dicionário Oxford Escolar: para estudantes brasileiros de Inglês - Português/Inglês – Inglês/Português. 1st ed. New York: Oxford University Press, 1999.

POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. São Paulo: Mercado de Letras, 1996.

PAIVA, V.L.M.O. Como se aprende uma língua estrangeira? In: ANASTÁCIO, E.B.A.; MALHEIROS, M.R.T.L.; FIGLIOLINI, M.C.R. (Orgs). Tendências

contemporâneas em Letras. Campo Grande: editora da Uniderp. Disponível em:<

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