- - - -- - -- - -
--REDES ELÉCTRICAS
Algoritmos de coordenação
de relés
de máximo de intensidade e de distância
I- Análise topológica da rede
João Paulo Saraiva (0)
Joaquim Borges Gouveia (.*)
resumo
abstract
É apresentada uma nova metodologia para
coor-denação de relés direccionais baseando-se no estudo
da estrutura da rede através da Teoria de Grafos.
Define-se uma ordem óptima de regulação e identi-ficam-se, para cada relé, todos os seus relés primários. Estes resultados serão utilizados na regulação de relés de máximo de intensidade e de distância de tipo MUO. O método é testado num sistema possuindo 7 linhas e 14 relés sendo evidenciadas as suas potencialidades. Neste primeiro artigo são referidas as metodologias relacionadas com o estudo da estrutura da rede.
1. Introdução
A coordenação de relés direccionais de máximo de intensidade ou de distância assume uma dificuldade
crescente à medida que a estrutura da rede se torna
mais com ple 'a. Por c...ta razão é desejável implernen-tar urn conjunto de algoritmos tendo em vista realizar
de Forma sistemática a coordena cão de conjuntos de relés direccionais. O Engcnhei 1'0 será, desta forma,
libertado de uma tarefa morosa e de elevado grau de dificuldade tendo. no entanto, uma participação activa na tomada de certas decisões.
ELECTRICID DE - I.. 247 -JULHO 1988
1I is presented a l1ew method in order to
coordi-nate a set of directional relays by studing lhe network's
structure througli Graph Theory, With this
studv
it
is obtained
not
011/)' a11 opiimumorder 01 regulation,
but are also identijied all primary relays
oi
each one.Tliese
resulisare used to set,
ina systematic approach,
directíonal overcurrent
anilA1HO distance
relays.This
method
is tested using a
7lines,
14relays system
pointing out its advantages. /11 this [irst pape!'
are
rejered lhe methods
related
tothe
study oi network'sstructure,
2.
Características
gerais do processo de
coordenação de um conjunto de relés
direccionais
A coordenação de Ul11 conjunto de relés di
receio-nais implica a sua regulação um por um, por forma que, em cada etapa, o relé que está sendo regulado coordene com todos os seus relés primários.
Em
redes(") João Paulo Saraiva, Assistente do DEEC da FEUP.
( ... ) Joaquim Borges Gouveia, Prof. ssociado do DEEC da FE P/I 'ESC.
possuindo malhas surgem dificuldades quando se pre-tende regular o último relé de cada anel.
Atendendo à figura 1 considere-se que o relé 1 é o primeiro a ser regulado. A sua regulação é realizada de modo que coordene com o relé 4 (relé primário de 1). Em seguida, o relé 2 é regulado de modo a coordenar C0111 o 1, o 3 com o 2 e o 4 com o 3. Ao regular o rele 4 alteram-se as características operacio-nais existentes de início podendo, agora, os reles 1 e 4
não coordenar. Neste caso, o relé 1 é regulado de novo repetindo-se este processo.
2i
tI
I
3j
Fig. 1 - Esquema de um anel
3.
Estudo da estrutura da rede
Serão descritas as metodologias u tilizadas para obter a ordem óptima de regulação de relés e o con-junto de pares relé primário/relé secundário (rp/rs),
sendo esta descrição acompanhada de um exemplo relativo à rede apresentada na figura 2.
Uma vez atribuídos, de forma arbitrária, sentidos às intensidades de corrente que circulam nas linhas da rede é possível construir o grafo orientado
apresen-tado na figura 3.
3.1. Obtenção da matriz dos anéis simples
NUIU grafo podem ser identificados vários anéis:
• anéis simples: percursos fechados nos quais nenhum vértice (excepto o inicial) é tocado mais de uma vez;
• anéis múltiplos: anéis formados pela sobreposi-ção de anéis simples que não possuam ramos comuns; 61 7 TI SecI SCC2 1 L2 J L3 1 s! -+ f-9 S 3 10 Sl -2 ... LI L.1 13 5 -+ 1 t f- iII L6 LS 2 5 ~I T2 Scc j 51 8 G2
Fig. 2 - Rede teste
286
• anéis fundamentais: conjunto de anéis simples possuindo U111 número mínimo de elementos c escolhido de Forma que, através das suas
cornbi-nações, se possa gerar qualquer anel.
A matriz dos anéis simples contém informação acerca dos anéis simples existentes na rede e para a determinar deverá ser escolhida uma árvore do grafo.
Consideremos, em relação ao grafo da figura 3. a árvore apresentada na figura 4.
Numa rede com malhas, possuindo
v
barramentos er
ramos é possível concluir que:• todas as árvores possuem
b
== v-I ramos:• existem I =-: r - (l' - 1) ramos não pertencen tes à
,
arvore'
,
• existem 2/-- 1 anéis simples e múltiplos.
É possível construir, agora, a matriz de incidên-cia A possuindo o seu elemento aij o significado
seguinte:
• a
ii==
1 se o ramoi
é incidente no nói
e dirigido para fora dele;• a.,
== -
1 se o ramoi
é incidente no nói
e diri-crido para ele'o ,
• a
j==
O se o ramoi
nao é incidente no nói.
Em relação ao grafo da figura 3 obtém-se a matriz
,.6 r7 rI 1'2 ]'..)
-
r4 r:J--
-O -1 -1 1 O O OI
1 -1 O 1 O O O O 2 J O O O -1 1 O O 3 A== O (1) O O O O -1 1 4 O O O O O -1 1 5 1 1 O O O O -1 6-
-Considerando o nó 6 para referencia é possív el obter as submatrizes seguintes:
1'6 r7
-
I-
• O -1 1 -1 O ?-All
==
O O ..)... (2) O O 4 O O 5 ~-rI
1'2 r..)-
1'4 1'5-
-1 -1 O O OI
1 1 O O O O-
? A12== O -1 1 O O ..)-
(3) O O -1 1 O 4 O O O -1 1 ,:),..-
1
3
4
2
6
rs
5
Fil. 3 - Grafo da rede
•
4
I
3
2
6
.r
5
5
Fig. 4 - Árvore do grafo
A submatriz Ali relaciona-se com os ramos não pertencentes à árvore e
Au
com os ramos nela incluí-dos.A
matriz dos anéis fundamentais é obtida tendo em conta as expressõesBr= [I
I
Bn,](4)
(5) B~= -A12-' • Ali
onde
• 1- matriz identidade de dimensão lxl. • Bn, - matriz de dimensão lxb.
Em relação ao grafo da figura 3 obtém-se a matriz
r6 r7 rl r2 rJ r4 r5
-aI82
(6)
1 O 1 O 1 O 1 1 1 1 1 1 1 1-As linhas de • relacionam-se com cada um dos anéis fundamentais e as colunas com os ramos do grafo. A matriz dos anéis simples é constituída por todas as possíveis combinações, linearmente indepen-dentes, das linhas de
Bt
obtendo-se em relação ao grafo em análise a matriz r6 r7 rl r2 rJ r4 r5-
101
1
1
1
1
-O
101
1
1
1
1 -1
1
O
O
O
O
aia2
(7)
al
La=
-
-3.2. Determinaçio do conjunto mínimo de pontos de
quebn
Os pontos de quebra são locais onde estão insta-lados relés que, por actuação do disjuntor associado, interrompem todos os anéis simples da rede. Estes
IUBCTRlCIDADE-N.· 247 -JULHO 1988
relés serão os primeiros a ser regulados em cada i tera-ção do processo de coordenação, sendo também atra-vés da sua coordenação com todos os seus relés pri-mários que se concluirá da necessidade de realizar novas iterações.
No decorrer do presente trabalho supôs-se a exis-tência de relés direccionais em ambos os extremos dos elementos a proteger pelo que se deverá trabalhar CODl
a matriz dos anéis simples aumentada, atendendo à expressão
-
-L. Lz LA= ---
---Lz . L.{8)
-
-onde • Lt=pos(Ls) • Lz=pos( - Ls}(9)
(10)sendo poseM) uma operação em que são retidos os elementos positivos da matriz M e anulados os nega-tivos.
Obtém-se, deste modo, informação acerca dos
anéis
simples orientados segundo os sentidos directo c inverso estando cada coluna associada a um dos reles da rede. O primeiro relé a incluir no conjunto mínimo de pontos de quebra será o que permite interrompei o maior número de anéis simples. Urna vezseleccio-nado um relé serão anuladas as linhas de L corres-pondentes aos anéis interrompidos sendo o processo iterado até LA ser anulada.
'Cm relação à rede da figura 2 obtém-se o seguinte conjunto de pontos de quebra: 6, 13, 7, 14.
3.3. Obtenção da matriz sequencial de relés
A matriz sequencial de relés (MSR) indica a ordem óptima pela qual devem ser regulados os relés e
h-tentes numa rede. Essa ordem deve ser estabelecida de forma que, se se pretender regular um relé todo os seus relés primários já o tenham sido na rne ma iteração (exceptuam-se os relés situados nos ponto de quebra). Na primeira linha desta matriz figurai 1
os relés situados nos pontos de quebra, sendo os re tantes identificados utilizando a matriz de incidência aumentada obtida atendendo à expressão
AA
=
[AI
-A] (11)Após anular as colunas correspondentes aos pontos de quebra deverão ser identificadas as linhas de \ que possuem apenas um elemento
+
1 e ainda aquelas cujos elementos não nulo são negativos.Considerando a figura 5, se ao relé 1 está as
0-ciado o único elemento positivo da linha i de AA,
3 1 2 4 1 5
Id
~I~
tJl
4 3 ~ ~ k ~ tDO
J
1 k 2 6J
~ ~Fig. 5 - Construção do r-.ISR: esquema típico 1 1
então todos os relés orientados para fora do barra-mento
i
já foram regulados excepto o relé 1. Deste modo, o relé situado na extremidade oposta àquela em que o relé 1 está instalado (relé 3) pode serregu-lado e incluído em 1\1SR.
Por outro lado, a não existência de elementos positivos numa linha de A,\ significa que todos os relés dirigidos para fora do barramento associado a essa linha já foram regulados. Deste modo, os relés
orien-tados para esse barramento podem ser regulados e incluídos em l\IISR. Atendendo à figura 6, se os relés 1, 2 e 3 foram já incluídos em 1\1SR entao a linha i de AA não possui elementos positivos pelo que os relés 4,
5 e 6 podem ser regulados.
Relativamente à rede da figura 2 obtém-se a matriz
-6 13 7 8 5 MSR= 9 4 10 3 2 1 1 1 12 -14 (12)-Utilizando esta matriz devem ser regulados enl primeiro lugar os relés que figuram na primeira linha
de MSR, em segundo lugar os da linha 2 e assim sucessivamente. Não é significativa a ordem de regu-lacão dentro> de cada linha.
3.4. Determinação do conjunto de pares rp/rs
A identificação dos relés primários de cada relé a regular é realizada utilizando a matriz AA definida
por (11). Para cada relé de MSR é identificado o barramento i para o qual está orientado. Em seguida, serão identificados os relés dirigidos para fora de í e instalados em linhas adjacentes, ou seja, as colunas de AA que, em relação à linha associada ao barra-mento i, possuem o valor
+
1. Os relés associados afig. 6 - Construção do MSR: esquema típico
estas colunas e que não estejam instalados na mesma linha do relé a regular são seus 1elés primários.
A título de exemplo, pretende-se iden t ificar os relés primários do relé da rede da figura 2 (ver a matriz 13).
Os relés 2 e 14 são relés primários de 1 Iorman-do-se os pares 2/1 c 14/1. O relé 8 não é relé pri-mário de 1 visto estar instalado na mesma linha da rede que 1.
Procedendo deste modo para todos os relés de MSR obtém-se o conjunto de pares rp/rs referido na tabela 1. TABELA 1 Conjunto de pares rp/rs linha de M~H rp rs 1 1 1 1 1 1 I 2 ?
-1 7 12 2 8 6 12 13 6 7 14 8 5 9 4 6 13 13 7 7 14 14 8 ? -.J .) 9 9 4 10-
) 3-
) 4 4 5 5 6 6 6 -j 10 2 14 1 1 -j 2 1 1 1 1 12 3.5. Relés fictíciosConsiderou-se. até este momento. que em cada extremidade dos elementos a protegei estava instalado
um aparelho de protecção, o que pode não
correspon-6 7 1 2 ,)-r 4 5 1 3 14 8 9 10 11 12
-
-O -1 -1 1 O O O O 1 1 -1 O O O 1 -1 O 1 O O O O 1 O -1 O O O O 2 O O O -I 1 O O O O O 1 -1 O O -AA= ..) O O O O -1 1 O O O O O 1 -1 O 4 (13) O O O O O -1 1 O O O O O 1 -1 5 1 1 O O O O -1 -1 -1 O O O O 1 6-
-288 ELECTUICIDADE- \ 247-IULIJO 1988der à realidade. Os algoritmos descritos aplicam-se ainda nessas situações desde que se considerem, numa
primeira fase, relés fictícios nas extremidades dos
elementos em que não estejam instalados relés. Este procedimento torna possível construir a matriz L.
No entanto, é possível que em determinada fase do processo de identificação do conjunto mínimo de pontos de quebra seja seleccionado um relé fictício, o que deve ser ignorado uma vez que este relé não permite interromper qualquer anel.
Por outro
lado,
é também possível seleccionar-se um relé fictício durante o processo de construção damatriz MSR, devendo também este facto ser ignorado.
E ainda possível que no decorrer de uma iteração deste processo não sejam detectadas linhas da matriz
AA que possuam, apenas, um elemento
+
1 ou linhas cujos elementos não nulos sejam negativos sem que essa matriz esteja já anulada. Nestas situações, épossível completar a construção de A\ anulando as col unas desta matriz associadas aos relés fictícios
exis-tentes na rede e prosseguindo o processo já descrito. Finalmente, ao identificar os relés primários de um relé poderá, também, seleccionar-se um relé
fictí-cio. Neste caso deverão identificar-se os relés primá-rios do relé fictício e construir-se os pares rp/rs
cons-tituídos por estes relés primários e pelo relé consi-derado de início.
4.
Conclusões
Foram expostos algoritmos que permitem analisar. de um modo sistemático. a estrutura topológica de
redes eléctricas. Com esta análise obtev e-s um con-junto importante de informações para o Engenheiro. o que o habilita a coordenar os relés nelas instalados.
BIBLIOGRAFIA
r l] \01. J. DA 1BORG, S. . VE K TA, R. RAMA \\
A-1\11, J. ?\1. PO TFOROOSH --Compurer Aided
Trans-mission Protection Svstem Design, Par' J: A lgorithms,
lEEE Trans. on PAS, \"01. 103, No. L pp. 41-57, 19~4.
["J M. J. DA1\fBORG. S. S VE 'KATA, R. RA IA
\\'A-~1I, J. 1. POSTFOROO~11 Computer A ided
Trans-mission Protection Svstem uesizn, Par! 2: lm
plementa-tion and Results, IEEE Tran . on PA , \01. 103. o. I,
pp. 60-65, ] 984.
[3] N. DEO - Craplz Tlieor y with A pplication to
Enge-neering and Com pu ter Science, Prcntice-Hatl, ! ew York,
1974.
[4] J. P. SARAIVA-Courdenação de Rele Direccionais
de Máximo de Intensidade e de Distância em Redes Eléctricas, FEUP, Porto, 1987.
[5] \\. D. "TFVENSON - Elements o] Power S) stems
A naiysis, ~ILGra\\'-Hill, Tokyo, J 983.
íNDICE DE ANUNCIANTES
Schréder ·.. ·. . ·.. ·.. ·..
·
.. _..
·.. • •• verso de capaCEL-CAT · . . ·.. ·.. ·.. ·
..
·
.
. ·..
• • • lTlMorgado & C.cl, Lda. ·.
.
·.. ·
..
·..
·.
. IVSorefame
·
.. ·.
.·
. . ·..
·.. ·..
·.
. • •• VEfacec ..
. ·
.
. ·.
.·
.. ·.. ·. . ·..
·. . ·..vr
Telcmec _
..
·
..·
..
·.
.·
.. ·..
·.. ·..
·
.. ·..
• • • V1I , \ I I I. IX.Sotécn ica ( Cellp<lck) • •• • • • ·.
.
·
.. • •• XICunhü Barros ·..
·
.. · .. ·.
.
·
.. • • • ·..
• •• X If Landis I..~ Gyr • •• ·.. • ••·
. . •• • ·.
. •• • • •• ·..
X IIIDiogo D'Ãvila, Lda.
·
.. ·..
·.. ·. .
·..
·
..
./IV let ropol itano ·.. ·..
·..
·
. . ·..
·.. ·..
·.
. VBruno lanz
..
• • • ·.. • • • ·..
• •• • ••·
..·.
. •• ~ \ Irudor
·.
. ·. .·
.. _.
. ·..
·.
.
·
.. ·.. X\ J lMague
.
. . •• • ·.. • • • • •• ·.. ·.
. ·..
·
..·
.. ·..
• •• \ crsode
eon tra-ca P&Shell •• • • • • • •