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CARÚS, Eliana Eliana Carús Flávia Maria Silva Rieth Francisco Eduardo Beckenkamp Vargas Rogério Réus Gonçalves da Rosa UFPel

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Academic year: 2021

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CASAMENTO, FAMÍLIA E SEPARAÇÃO: TRAJETÓRIAS DE HOMENS DE CAMADAS MÉDIAS DE PELOTAS/RS.

Autor(es): CARÚS, Eliana Apresentador: Eliana Carús

Orientador: Flávia Maria Silva Rieth

Revisor 1: Francisco Eduardo Beckenkamp Vargas Revisor 2: Rogério Réus Gonçalves da Rosa Instituição: UFPel

CASAMENTO, FAMÍLIA E SEPARAÇÃO: TRAJETÓRIAS DE HOMENS DE CAMADAS MÉDIAS DE PELOTAS/RS.

CARÚS, Eliana1.

1 Graduanda dos Bacharelados em Ciências Sociais e em Direito – ISP e FD/UFPel,

elianacarus@yahoo.com.br . Orientadora: Prf.ª Dr.ª Flávia Rieth – ICH/UFPel.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca investigar o processo de dissolução do casamento por meio do divórcio para um grupo de homens das camadas médias urbanas da cidade de Pelotas/RS. Nesse sentido, procurou-se identificar as perspectivas masculinas sobre a vivência do processo de separação conjugal, analisando como esses homens reformulam projetos de vida que incluem a família. Como objetivo geral dessa investigação identifica-se a análise do discurso e das representações sociais de um grupo de homens divorciados em suas relações pessoais e familiares. Assim almeja-se a exposição do papel do casamento na formulação de seus projetos de vida, bem como esclarecer a função dos ideais individualistas na formulação dos projetos frente aos campos de possibilidades pós-separação, em seu segmento social, e a conotação do re-casamento para uma nova elaboração dos projetos de vida junto aos novos companheiros.

Torna-se importante salientar que a pesquisa está situada na interface da Antropologia do Direito ou Antropologia jurídica que, segundo Robert Shirley (1987, p. 14), “é o emprego de métodos Antropológicos de pesquisa, observação participante e comparação com modernas instituições de Direito”. Asseveram ainda Victoria Chenaut e María Sierra sobre o campo de investigação da Antropologia jurídica que: “Se trata de investigar los usos de lo legal em su contexto social y cultural, entendiendo lo legal, o la ley en su acepción más general, como processos de control, tal como lo definió Malinowski (1926). En este sentido, la ley es parte de un sistema de normas más amplio que no puede abstraerse de la cultura y del poder.” (Chenaut e Sierra,1992, p.105)

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Assim, a contextualização do fenômeno em questão torna-se o ponto de partida para a investigação da formulação de projetos de vida pós-separação, como forma de compreender, em parte, as mudanças atuais ocorridas nos segmentos médios da população. Entre elas, podemos citar, conforme os dados extraídos dos levantamentos realizados pelo IBGE, no ano de 2004, um diferencial por sexo e por idade quanto às probabilidades de re-casamento no Brasil. A probabilidade de reingresso de uma mulher divorciada numa nova relação oficializada é bem menor que o re-casamento de um homem divorciado. Essa probabilidade, na faixa etária de 30 a 34 anos, é 12% maior para os homens divorciados, diferença que aumenta nas faixas etárias de 35 a 39 anos, na qual perfaz 27%, e de 40 a 44 anos, quando chega a ser de 34%. Além disso, a investigação perpassa pelo momento no qual a necessidade do uso da mediação jurídica surge como forma de resolução de conflitos pessoais por parte dos sujeitos da ação social.

2. METODOLOGIA

A pesquisa concentra-se na análise da trajetória social dos indivíduos investigados. Assim, o recorte do objeto empírico configura-se no trabalho de campo junto a homens das camadas médias urbanas da cidade de Pelotas, com uma faixa etária entre 30 e 60 anos, divorciados, com e sem filhos. A média de idade na data da separação judicial, segundo as estatísticas do IGBE, para o estado do Rio Grande do Sul, foi de 39 anos e no divórcio foi de 42 anos, ambas para os homens, o que auxiliou na definição da faixa etária dos entrevistados.

Nessa investigação foram utilizadas técnicas de pesquisa qualitativa e bibliográfica, com o trabalho de campo junto aos indivíduos alvo, para retratar a trajetória dos mesmos no âmbito da constituição e da dissolução do casamento. Tendo em vista a necessidade de um trabalho intensivo nas entrevistas – para dimensionar as expectativas com o casamento frente às outras dimensões da vida –, elas foram abertas e realizadas em encontros com duração entre uma e três horas, com módulos versando sobre questões norteadoras. A seleção dos cinco entrevistados, todos com nível superior em grau de escolaridade e descasados há pelo menos quatro anos, ocorreu com a indicação por parte de professores e colegas de faculdade e as entrevistas foram realizadas de janeiro a julho de 2007. Para uma melhor abordagem da trajetória social do casamento à separação, foi privilegiado o trabalho com a técnica de pesquisa da história de vida, tendo em vista a possibilidade de resgate das vivências dos acontecimentos que ela propicia. Dessa forma, a pesquisa intenta remontar as trajetórias por meio do discurso livre e autobiográfico e de entrevistas não-diretivas de longa duração, objetivando enfocar a repercussão da separação conjugal nas representações dos sujeitos, contrapondo-as com a noção de instituição familiar característica desse segmento social, traçando singularidades e diferenças entre as visões dos entrevistados.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A abordagem das expectativas dos sujeitos sobre a vivência do processo de formação e de dissolução do vínculo conjugal está atrelada à do contexto em que os indivíduos se encontram inseridos, pois em um determinado segmento social, identificam-se “domínios de relevâncias” (Schutz, 1979, apud VELHO, 2004) que norteiam a concepção de mundo partilhada por seus componentes e que assumem a conotação de um estilo de vida a ele pertencente em um determinado momento

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histórico. Esse processo é construído a partir da interação dos atores e, como estes desempenham papéis num espaço social de interação, torna-se relevante a avaliação da validade do uso dos padrões tradicionais das relações familiares, para a análise no contexto de uma cidade de interior, em razão da maior proximidade advinda dos laços de pessoalidade nesse contexto.

É necessário, pois, apontar que a constituição de uma união exige o trabalho na construção de uma identidade conjugal, conseqüente da interação entre os indivíduos. Nessa conjuntura, identifica-se a noção de que, em um “bom

casamento”, os cônjuges deveriam chegar a um grau de compatibilidade, partindo

dos interesses em comum e das diferenças complementares.

No entanto, a exposição da discussão entabulada nessa pesquisa situa-se num contexto em que o divórcio perde parte de sua estigmatização como processo associado à culpa de um dos companheiros para a desonra do outro, pois, na sociedade contemporânea, o divórcio é adotado como mecanismo que legaliza e legitima a extinção da relação entre os parceiros, marcada pelo fim tanto do afeto como da possibilidade de obter satisfação mútua com a relação. No que se refere ao casamento e à família, os depoimentos apontaram a opção pelo re-casamento por quatro dos cinco entrevistados, sendo dois entre divorciados e dois entre solteiros e divorciados. Em todos os casos a opção pela mediação jurídica é disposta como

“automática”, “instantânea”, pois reflete a possibilidade de resolver tanto questões

financeiras como sobre a guarda dos filhos e permite uma nova união legal.

Entretanto, conforme os relatos, a adoção do mecanismo do divórcio para extinguir o vínculo de que faziam parte, não se refere a uma desilusão com a instituição casamento, justamente porque buscaram o re-casamento, principalmente visando encontrar outro parceiro que pudesse contribuir para a obtenção de uma maior realização pessoal e como forma de poder mudar as coisas que não teriam permitido o sucesso da primeira relação. O período logo após a separação é descrito em todos os depoimentos como momento dedicado a avaliar as mudanças dela advindas, o que se refere tanto ao âmbito emocional como aos financeiro e social, para apenas depois desse processo buscar definir rumos para o futuro.

Além disso, apontaram como causas concorrentes para a separação o acirramento de conflitos (conseqüentes, geralmente, da não correspondência entre a ação dos companheiros com suas expectativas e ideais de “bom casamento”) e a dificuldade de obter satisfação com a relação de convivência. Torna-se importante retomar o papel do ideal de amor romântico na sociedade contemporânea, no qual seria possível uma trajetória compartilhada com um companheiro idealizado por um futuro eterno, visto que este ideal estimula a busca por um parceiro perfeito, embora não tenha sido suficiente no que se refere à manutenção dos casamentos.

Ademais, no que se refere ao desempenho dos papéis familiares, é possível distinguir modelos para seu exercício, estabelecidos frente aos padrões de comportamento do contexto no qual a família se encontra inserida e das necessidades pessoais de seus membros. Nos casos em questão não se identificam críticas às estruturas de papéis dentro do casamento, pois a possibilidade de discussão acerca dos padrões que podem ser adotados pela família é descrita como característica positiva das relações conjugais na atualidade. Identifica-se, pois, uma opção pela construção interna, junto ao companheiro, de como ocorrerá a divisão de tarefas e quanto ao exercício dos papéis conjugais, frente às disponibilidades de ambos, apontando para a tendência de primazia da não diferenciação de papéis em razão do sexo nas relações amorosas e conjugais contemporâneas.

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4. CONCLUSÕES

Os casos sob análise não se situam como casamentos tradicionais (em que os laços de dependência são mais importantes), pois abrangem, como expectativa dos cônjuges para sua continuidade, a reciprocidade tanto quanto à doação como quanto ao recebimento na relação e a existência de intimidade entre os parceiros. Esse perfil retoma o ideal do “amor confluente” (GIDDENS, 1993), que tem maior potencialidade de ocorrer num “relacionamento puro” (GIDDENS, 1993), no qual os indivíduos consentem na continuidade de cada relação apenas enquanto ambos puderem obter satisfação suficiente com ela.

Além disso, os depoimentos permitem a constatação de que as perspectivas de formação e de continuidade do casamento compreendem os valores e padrões do individualismo, tendo em vista que os ideais de união conjugal demonstram a primazia da autonomia e da satisfação de cada um dos consortes. No entanto, ao mesmo tempo em que os ideais individualistas estimulam a busca pela independência dos companheiros, identifica-se o crescimento da importância dada à necessidade da construção de uma identidade conjugal, que abranja os ideais, os anseios e os projetos comuns.

Duas posturas distintas, contudo, podem ser retiradas dos casos sob análise. A primeira se refere à opção por um novo relacionamento, que compreenda uma maior semelhança entre os parceiros, beirando a necessidade de igualdade comportamental e existencial, como base para atingir um ideal de “bom casamento”. Nesse caso, a avaliação do sucesso da segunda união está associada ao nascimento dos filhos, momento em que os posicionamentos ideais dos cônjuges quanto à vida família e ao relacionamento conjugal podem ser postos em prática.

Já a segunda postura, pode ser identificada na decisão deliberada do divorciado por não se envolver em novas relações, uma forma de opção pela solidão, que expõe a primazia pela concretização de projetos individuais após a separação como forma de realização pessoal. Nesse caso, não é possível definir até que momento a opção pode ser mantida, visto que a constante variação dos campos de possibilidades pós-separação nas sociedades atuais aponta para a tendência de que o homem divorciado tenha maior chance de ter uma união duradoura com outra companheira. Assim, com a crescente não-aceitação por parte dos companheiros de que o casamento não corresponda as suas expectativas, e frente às dificuldades conseqüentes dessas exigências, o divórcio surge como forma de permitir a busca por outro parceiro que possa a elas corresponder, permitindo uma maior realização pessoal.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHALAI, Yussef Said. Divórcio e Separação. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005.

CHENAUT, Victoria e SIERRA, Maria. El campo de investigación de la antropología jurídica. Nueva antropologia. Vol XIII, n. 43. México: 1992.

DUMONT, Louis. Individualismo – por uma Antropologia da ideologia moderna. São Paulo: Ed. Rocco, 1985.

FÉRES-CARNEIRO, Terezinha. Casamento contemporâneo: o difícil convívio da individualidade com a conjugalidade. Psicologia e Reflexão Crítica. v. 11, n. 2.

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Porto Alegre, 1998. Disponível em: <http://www.scielo.org> Acesso em: 14 dez. 2005.

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.

GIDDENS, Anthony. As conseqüências da Modernidade. São Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista, 1991.

_________. A transformação da Intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista, 1993. NOLASCO, Sócrates. A desconstrução do masculino. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.

ROCHA, Ana Luiza Carvalho da. O Tradicional e o moderno: Modelos de representação de famílias em camadas médias urbanas. Porto Alegre: CPG em Antropologia, Política e Sociologia - UFRGS, 1985.

SALEM, Tânia. O velho e o novo: Um Estudo de Papéis e Conflitos Familiares. Rio de Janeiro: Vozes, 1981.

SHIRLEY, Robert. Antropologia Jurídica. São Paulo: Saraiva, 1987.

VELHO, Gilberto. Individualismo e Cultura: notas para uma antropologia das sociedades complexas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

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