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CARACTERIZAÇÃO E COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO SILVEIRA SÃO JOSÉ DOS AUSENTES RS

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CARACTERIZAÇÃO E COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO DA

BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO SILVEIRA – SÃO JOSÉ DOS

AUSENTES – RS

Andreia Quintão Soares – UFPR - deiaqs@yahoo.com.br; Nina Simone Vilaverde Moura Fujimoto – UFRGS - nina.fujimoto@ufrgs.br

Resumo

O presente trabalho tem o intuito de contribuir na elaboração de um futuro Plano de Manejo para a criação de uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) no município de São José dos Ausentes, estado do Rio Grande do Sul. Para tanto tem como objetivo principal elaborar um mapeamento geomorfológico da bacia hidrográfica do rio do Silveira, unidade de estudo que inclui em seu interior a área da unidade de conservação pretendida, e como objetivos específicos caracterizar o quadro geológico e geomorfológico regional, caracterizar e mapear as diferentes formas de relevo da área, interpretar os processos morfogenéticos responsáveis pela formação do relevo e estabelecer uma morfocronologia relativa. Para a realização do mapeamento geomorfológico utiliza-se a proposta taxonômica de Ross (1992). O mapa geomorfológico foi elaborado através do software ArcGis 9.2, com auxílio de cartas topográficas, mapas hipsométrico e clinográfico, imagem de satélite SPOT e trabalho de campo. A área da bacia está inserida na morfoestrutura da Bacia Sedimentar do Paraná e na morfoescultura do Planalto Meridional. As formas do relevo são bastante homogêneas, mas a partir de uma análise morfométrica, de cobertura vegetal e de drenagem, pode-se dividir a bacia em três padrões de formas, denominados: Padrão em forma de Colinas com interflúvios amplos, Padrão em forma de Morros com vales meândricos encaixados e Padrão em forma de Colinas com interflúvios médios e topos planos. As superfícies de aplainamento, onde encontramos a área de estudo foram elaboradas por processos de pediplanação em conseqüência de ataques erosivos sucessivos onde se destacam as formas mamelonares. Segundo Ab'Saber (1969), a região do planalto é considerada uma superfície de cimeira, denominada superfície de Vacaria, possuindo rios encaixados, curtos e profundos, adaptados a estrutura litológica e aos lineamentos tectônicos.

Palavras-chave: compartimentação do relevo, bacia hidrográfica do rio do Silveira, São José dos Ausentes Abstract

The present work has as objective to contribute in the making of a future management plan to create a Private Reserve of Nature Patrimony in São José dos Ausentes, state of Rio Grande do Sul. For this, it has as general objective to draw a geomorphological mapping of hydrographic basin river Silveira, it includes conservation units area intended, and it has as specific objectives: characterize the region geology and geomorphology, characterize and draw maps different landforms of area; interpret the morphogenetic process responsible for formation of relief and to establish a relativ morphological cronology. It use Ross' taxonomic proposal (1992) to draw the geomorphological mapping. It was draw with software ArcGis 9.2, with topographica charts help, slopes gradients and hypsometric maps, image of satellite SPOT and field work. The basin is inside of morphostructure of Paraná sedimentary basin and in morphosculpture of Southern Plateau. The landforms are very homogeneous but through a morphometric analysis, vegetal covering and drainage, can to divide the basin in the three patterns of forms: Patterns in form of Hills with wide interfluves, Patterns in form of Mountain with incised meandre-valley and Patterns in form of Hills with medium interfluves and flat top. The planing surfaces, where it is area of study, went made of process of pediplanation result of that successively erosion raid where stands out convex-shaped landform. According to Ab'Saber (1969) the region of plateau is considered a surface of summit, termed surface of Vacaria, there being embedded rivers, shorts and deeps, conformed litologic structure and tectonic lineaments.

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CARACTERIZAÇÃO E COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO DA

BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO SILVEIRA – SÃO JOSÉ DOS

AUSENTES – RS

Andreia Quintão Soares – UFPR - deiaqs@yahoo.com.br ; Nina Simone Vilaverde Moura Fujimoto – UFRGS - nina.fujimoto@ufrgs.br

1. INTRODUÇÃO

A geomorfologia, entendida como estudo das formas de relevo e dos processos responsáveis por sua elaboração, tem na cartografia geomorfológica um dos mais importantes veículos de comunicação e análise dos resultados obtidos (LUPINACCI, MENDES & SANCHEZ, 2003).

Representar cartograficamente o relevo não é uma tarefa muito fácil, devido a complexibilidade de informações existentes que devem ser apresentadas em uma base cartográfica para a realização de um mapeamento.

No Brasil, apesar de todas as influências nem sempre bem absorvidas, percebe-se uma tendência, cada dia mais acentuada, para a cartografação geomorfológica, principalmente pela penetração da obra de J. Tricart. A cartografia, que é ao mesmo tempo instrumento de análise e de síntese da pesquisa geomorfológica, é um dos caminhos mais claramente definidos para a pesquisa empírica no campo da geomorfologia (ROSS, 2005).

Conforme Suertegaray (2002), o relevo, sendo constituinte da paisagem geográfica, deve ser entendido como um recurso natural imprescindível para uma gestão ambiental adequada. Nesse sentido, enquanto integrante da paisagem, constitui-se em um importante parâmetro a ser analisado.

Este trabalho tem por objetivo principal realizar uma caracterização e compartimentação do relevo, a partir de um mapeamento geomorfológico, da bacia hidrográfica do rio do Silveira, localizada no município de São José dos Ausentes, estado do Rio Grande do Sul. Para atingir tal objetivo, é necessário desenvolver os seguintes objetivos específicos: caracterizar a geologia e a geomorfologia regional; caracterizar e mapear as diferentes formas de relevo da área; interpretar os processos morfogenéticos responsáveis pela formação do relevo e estabelecer uma morfocronologia relativa.

Na bacia hidrográfica do rio do Silveira, localizada no norte do município, está inserido grande parte das paisagens peculiares de São José dos Ausentes, como o desnível dos

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rios do Silveira e da Divisa e o Cachoeirão dos Rodrigues. Mas essa paisagem vem sendo modificada a cada dia, em especial pela plantação de Pinus. Com essa prática, o campo vai sendo tomado pela silvicultura e perde sua autenticidade.

Por esse motivo, alguns proprietários de Pousadas Rurais do município vêm se preocupando com o futuro da beleza dos campos, e com isso pretendem se unir para criarem uma Unidade de Conservação, classificada como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), pois assim conseguiriam impedir o avanço da silvicultura nos campos.

Segundo SNUC, para a criação de uma RPPN, é importante a elaboração de um Plano de Manejo, que é entendido como um documento técnico, que tendo como base os objetivos gerais de uma unidade de conservação, estabelece seu zoneamento e as normas que devem nortear e regular o uso que se faz da área e o manejo dos recursos naturais. (Lei nº. 9.985/2000, Artigo 2º, Inciso XVII).

Em 2004 foi criado pelo Ibama o Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo para Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Neste roteiro, um dos itens citados como importantes para a elaboração do Plano de Manejo é a caracterização ambiental da futura RPPN. Dentro desta caracterização, está a descrição do relevo e suas fisionomias, e nada melhor que um mapeamento geomorfológico para caracterizar a área geomorfologicamente.

2. METODOLOGIA

2.1. Pressupostos Metodológicos

Para a realização da análise geomorfológica, pretende-se ordenar o trabalho em diferentes níveis escalares espaciais e temporais com base na análise geomorfológica idealizada por Ab'Saber (1969). Esses níveis de tratamento permitem um ordenamento nos estudos geomorfológicos em três etapas, que são: Compartimentação do Relevo; Estruturação Superficial da Paisagem e Fisiologia da Paisagem.

Para analisar o quadro geomorfológico da área de estudo, bem como sua gênese e dinâmica morfogenética com base na compartimentação e estruturação da paisagem local (Ab’Saber, 1969), utiliza-se a proposta taxonômica de Ross (1992), onde temos:

- Primeiro Táxon – Suas características estruturais definem um padrão de formas grandes do relevo. Está ligado ao conceito de unidade morfoestrutural.

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- Segundo Táxon – Correspondem as unidades morfoesculturais geradas pela ação climática ao longo do tempo geológico na morfoestrutura.

- Terceiro Táxon – Correspondem as unidades dos padrões de formas semelhantes do relevo, identificadas em função do índice de dissecação do relevo, formato dos topos, vertentes e vales. Podem-se ter várias unidades de padrões de formas semelhantes em cada unidade morfoescultural.

- Quarto Táxon – Correspondem as formas de relevo individualizadas dentro de cada unidade de padrão de formas semelhantes. As formas de relevo tanto podem ser de agradação, como planícies, terraços, ou de denudação, como colinas, morros, cristas, etc.

- Quinto Táxon - Correspondem as vertentes ou setores das vertentes de gêneses distintas, pertencentes a cada uma das formas individualizadas do relevo.

- Sexto Táxon – Correspondem às formas menores, produzidas por processos erosivos ou depósitos recentes. São exemplos às voçorocas, ravinas, cicatrizes de deslizamentos, bancos de sedimentação atual, formas antrópicas como: cortes, aterros, desmonte de morros, etc.

Neste trabalho, avalia-se da Unidade Morfoestrutural (1o Táxon) às Unidades dos padrões de formas semelhantes do relevo (3o Táxon).

A bacia hidrográfica foi escolhida como a unidade de estudo por ser um limite natural e por desempenhar um papel fundamental na evolução do relevo, uma vez que os cursos de água constituem-se em importantes modeladores do terreno.

A utilização da bacia hidrográfica como unidade de planejamento formal ocorre nos Estados Unidos, com a criação da Tennesee Valley Authority (TVA), em 1933, e a partir de então é adotada no Reino Unido, França, Nigéria e restante do mundo. No Brasil, a década de 1980 e, principalmente, a de 1990 são marcadas por inúmeros trabalhos que têm na bacia hidrográfica sua unidade fundamental de pesquisa, em detrimento das áreas de estudo, anteriormente muito utilizadas, como as unidades político-administrativas (distritos, municípios, etc), ou aquelas delimitadas por linhas de coordenadas cartográficas, formando quadrículas definidas em cartas topográficas (BOTELHO, 1999).

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2.2. Procedimentos Operacionais

As atividades de pesquisa desenvolvem-se em várias etapas na perspectiva de explicitação dos objetivos desse estudo. O mapeamento geomorfológico resulta de trabalhos em gabinete e a campo.

As atividades de gabinete iniciam-se pelo levantamento bibliográfico sobre estudos realizados no município de São José dos Ausentes, como pesquisas geológicas, geomorfológicas, de micro-bacias, entre outros, bem como levantamento de documentação cartográfica básica. Inclui-se nessa etapa, a aquisição de imagens de satélite e de cartas topográficas do Serviço Geográfico do Exército.

Com a aquisição desses materiais e utilizando-se o software ArcGis 9.2, elaboram-se vários documentos, tais como: a base cartográfica digital, os mapas morfométricos (clinográfico e hipsométrico) e o mapa geomorfológico.

A base cartográfica foi elaborada a partir da vetorização de elementos das cartas topográficas do Serviço Geográfico do Exército em escala 1:50.000 e da imagem de satélite SPOT. Estes elementos são: curvas de nível, pontos cotados, hidrografia, estradas e o limite da bacia.

O limite da bacia foi vetorizado, tendo como base as cartas topográficas do Serviço Geográfico do Exército, utilizando-se técnicas de identificação de divisores de água e cotas altimétricas, respeitando as curvas de nível com seus respectivos valores.

Os mapas hipsométrico e clinográfico foram gerados utilizando-se a estrutura de grade triangular, mais conhecida como TIN “Triangular Irregular Network”, que é uma estrutura do tipo vetorial com topologia do tipo nó-arco possibilitando representar uma superfície por meio de um conjunto de faces triangulares interligadas.

Na seqüência, partiu-se para a execução do trabalho de campo. Este possui diversos objetivos, como checar e corrigir as informações dos mapas (hipsométrico, clinográfico, entre outros) gerados em gabinete; identificar os diferentes padrões, tipos e formas de relevo, bem como feições de processos atuais e registrar através de fotografias os elementos observados.

No trabalho de campo realizado foi percorrido vários trechos da bacia hidrográfica do rio do Silveira, abrangendo diversos setores desta para uma melhor caracterização da área. Durante todo o trajeto percorrido foram feitas paradas para coleta de pontos com GPS, fotografar,

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analisar as formas de relevo, a litologia, a hidrografia e a vegetação, para que posteriormente fosse possível dividir a bacia em padrões de formas semelhantes.

Em seguida, realizou-se a análise e interpretação de todo o material existente que viabiliza a construção do mapeamento propriamente dito. O Mapa Geomorfológico refere-se a um produto cartográfico de síntese, no qual estará representado as formas de relevo e as informações relativas a morfologia, morfometria, morfogênese e a morfocronologia. Sua construção apoia-se em todos os documentos anteriormente descritos, que são: revisão bibliográfica e cartográfica; elaboração dos mapas hipsométrico, clinográfico, elementos do relevo e das observações realizadas durante o trabalho de campo.

O Mapa Geomorfológico foi elaborado utilizando-se o software ArcGis 9.2 de acordo com os procedimentos metodológicos já apresentados. O referido software fornece referências cartográficas para a edição final. Os mapas utilizados em campo e na análise dos dados foram feitos em escala 1:50.000, bem como o Mapa Geomorfológico. Para a edição gráfica e impressão final, o Mapa Geomorfológico é apresentado em escala 1:150.000.

3 – CARACTERIZAÇÃO DOS PADRÕES DE FORMAS DE RELEVO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO SILVEIRA

3.1. Compartimentação do Relevo

Em termos regionais, a bacia hidrográfica do rio do Silveira está inserida na morfoestrutura da Bacia Sedimentar do Paraná e na morfoescultura do Planalto Meridional de acordo com a classificação de Suertegaray e Fujimoto (2004). Trata-se da região que contém as maiores altitudes do Estado, chegando a ultrapassar os 1.000 metros, e é formado por uma litologia predominantemente de rochas sedimentares e vulcânicas.

O Planalto Meridional destaca-se pelos caracteres tectônicos e litológicos de sua formação, sendo este uma extensa área de derrames que se sobrepuseram aos paleorelevos sedimentares paleozóicos e mesozóicos da Bacia do Paraná.

A área de estudo é constituída de rochas ácidas da Formação Serra Geral, correspondendo aos riolitos e riodacitos tipicamente afíricos. Em toda área observa-se nas colinas e nos morros grande incidência de afloramentos rochosos, podendo ser constituídos também de basalto, devido às numerosas intercalações de rochas de natureza ácida, básica e intermediária.

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Segundo Ab'Saber (1969), a região do planalto é considerada uma superfície de cimeira, denominada superfície de Vacaria, possuindo rios encaixados, curtos e profundos, adaptados a estrutura litológica e aos lineamentos tectônicos.

3.2. Caracterização Morfométrica

As altitudes da bacia hidrográfica do rio do Silveira estão compreendidas entre 900 e 1398 metros, resultando numa amplitude máxima 480 metros. As porções sul e leste apresentam as maiores elevações, sendo que a maior delas se encontra a leste, correspondendo ao Pico do Monte Negro, com 1398 metros de altitude, o ponto mais alto do estado do Rio Grande do Sul. Já as menores elevações concentram-se na porção norte da bacia, sendo 900 metros a menor delas, localizado próximo a desembocadura do rio do Silveira junto ao rio Pelotas.

Boa parte da bacia hidrográfica do rio do Silveira (38,55 %) apresenta declividade menor que 2 %, distribuída por toda a bacia, mas ocorrendo em maiores áreas na parte sul, correspondendo as áreas de planície fluvial. Apenas 13,26 % da área estão inseridas entre 2 - 5 % de declividade, estando concentradas predominantemente na parte sul da bacia. Os declives entre 5 - 10 % e 10 - 20 % tem quase a mesma distribuição (19,39 % e 19,71 % , respectivamente) e são encontrados predominantemente na parte norte da bacia, mas ocorrem na parte sul, porém em menor área. As declividades maiores que 20 % são bem pequenas, sendo apenas 9,09 % da área, estando quase que em totalidade na parte norte.

Considerando a linha geral do escoamento dos cursos d’água em relação à inclinação principal das camadas, a bacia hidrográfica do rio do Silveira contem rios conseqüentes e subseqüentes. O padrão da drenagem é do tipo treliça. Esse tipo de drenagem é composto por rios principais conseqüentes, correndo paralelamente, recebendo afluentes, os subseqüentes, que fluem em direção transversal aos primeiros. O padrão em treliça é encontrado em estruturas falhadas, conforme a área de estudo (CHRISTOFOLETTI, 1980).

Alguns cálculos morfométricos da bacia foram realizados, através do software ArcGis, como a área da bacia, com 383,67 Km² que constitui a área plana delimitada pelo divisor de águas. O perímetro da bacia encontrado foi de 107,07 Km que constitui o comprimento médio ao longo do divisor de águas. O comprimento total dos cursos d’água é de 691,43 Km sendo a medida em planta desde a nascente até a seção de referência de cada tributário, incluindo o curso principal.

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3.3. Padrões de Forma Relevo

As formas de relevo da bacia hidrográfica do rio do Silveira são bastante homogêneas, mas a partir de uma análise morfométrica, de cobertura vegetal e de drenagem, pode-se dividir a bacia em 3 padrões de formas de relevo, conforme ilustra o Mapa Geomorfológico (Figura 1), denominados: Padrão em forma de Colinas com interflúvios amplos, Padrão em forma de Morros com vales meândricos encaixados e Padrão em forma de Colinas com interflúvios médios e topos planos.

O Padrão em forma de Colinas com interflúvios amplos compreende uma área de relevo colinoso com interflúvios amplos e presença de morros isolados entre si, com elevações cujas altitudes médias são de 1250 metros. A maior elevação dessa área chega à 1336 metros. As declividades predominantes são as inferiores a 2 %, correspondendo 52,53 % da área, sendo caracterizado principalmente pela planície fluvial dos rios conseqüentes da bacia. Devido a baixa declividade e a pequena diferença de altitude, nesta área os rios formam pequenas planícies fluviais e rápidos e corredeiras, que estão relacionados aos condicionantes estruturais/litológicos. Nos rios subseqüentes tem-se a presença de vales assimétricos, ou seja, vales com uma vertente escarpada e outra suave, explicado pela estrutura e pelas diferentes resistências litológicas. A cobertura vegetal da área é predominantemente de campo, ocorrendo pequenas áreas de capões de araucária. Mas essa paisagem de campo vem sofrendo uma mudança brusca em algumas áreas devido a plantação de Pinus.

O Padrão em forma de Morros com vales meândricos encaixados compreende uma área de relevo mais ondulado, com elevações cujas altitudes médias são de 1150 metros, estando no setor mais a jusante da bacia hidrográfica. As declividades da área são bem homogêneas, sendo 31,58 % de área com declividade menor que 5 %, correspondendo aos topos planos de alguns morros e colinas. Os declives entre 10 – 20 % totalizam 28,94 % da área, caracterizando as vertentes íngremes dos morros. Já os declives entre 20 – 30 % e 30 – 90 % totalizam 19,18 % da área, correspondendo aos paredões que se formam nos vales encaixados e a vertente mais íngreme dos vales assimétricos. Nos rios desse compartimento temos a presença de rápidos, corredeiras e de grandes quedas d'água, com desníveis fortes em degrau pouco alterado, como o Cachoeirão dos Rodrigues. Essas quedas estão relacionadas a estrutura e a uma sistema de falhamento, tendo em vista os lineamentos tectônicos que são observados neste setor. Devido a esse sistema de falhamento temos um relevo com grandes desníveis, como o desnível dos rios

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Silveira e da Divisa, que correm paralelamente, mas com um leito 18 metros mais alto que o outro. Neste compartimento observa-se como característica marcante a presença de meandros encaixados ao longo do rio do Silveira. Segundo Christofoletti (1980), os meandros encaixados aparecem quando o rio é meândrico como seu vale, conservando a mesma escala. A cobertura vegetal da área é de campo em áreas de menor declive, e de floresta ombrófila mista, principalmente em vertentes e próximo aos cursos d’água.

O Padrão em forma de Colinas com interflúvios médios e topos planos compreende a área de maior altitude da bacia hidrográfica do rio do Silveira, tendo altitudes médias de aproximadamente 1300 metros. É neste setor que se encontra o Pico do Monte Negro, o ponto mais alto do estado do Rio Grande do Sul, com 1398 metros de altitude. A declividade da área é bem distribuída, sendo 42,02 % com declives abaixo de 5 % caracterizando os grandes platôs que se formam na região e 48,82 % com declives entre 5–10 % e 10 – 20 %.

A cobertura vegetal é de campo e de floresta ombrófila mista. Os campos ocorrem principalmente nos topos planos das colinas e a floresta nas vertentes íngremes e próximo as cursos d'água. Próximo ao Pico do Monte Negro, os campos vem sofrendo grande impacto devido a presença de carros que ultrapassam os limites das estradas e acabam . destruindo a

vegetação, deixando o solo exposto.

As superfícies de aplainamento, onde encontramos a bacia hidrográfica do rio do Silveira, foram elaboradas por processos de pediplanação em conseqüência de ataques erosivos sucessivos. As formas de relevo demonstram a ocorrência de etapas evolutivas de dissecação, observando-se áreas bastante conservadas de morfologia planar e outras onde a erosão conseguiu alargar vales, deixando muitas vezes rupturas de declive de pequenos desníveis, constituindo-se num plano desnudado (PROJETO RADAMBRASIL, 1986).

Segundo Ab'Saber (1969), a região do planalto é considerada uma superfície de cimeira, denominada superfície de Vacaria, possuindo rios encaixados, curtos e profundos, adaptados a estrutura litológica e aos lineamentos tectônicos.

A notável preservação do planalto parece estar ligada ao fato de que, por muito tempo, sua drenagem interior era do tipo conseqüente, muito alongada e pouco encaixada. Com as fases rápidas e sucessivas de ascensão epirogênica, ocorridas no Paleogeno e no Neogeno, os rios do planalto se encaixaram fundo, ao mesmo tempo que se adaptaram às deformações sofridas pelo platô. O soerguimento deve ter sido feito em fases rápidas e importantes, enquanto o

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rebaixamento dos interflúvios foi extremamente lento e medíocre. Por seu turno, o entalhamento vertical, através da erosão de talvegue, foi absolutamente superior em potência aos processos morfoclimáticos de abertura de vertentes, que se fizeram atuar no dorso maciço e resistente da gigantesca pilha de lavas. Isto nos faz pensar que os climas úmidos só se instalaram na região em momentos geológicos muito recentes (AB’SABER, 1969). Os principais cursos d'água da bacia hidrográfica do rio do Silveira estão condicionados aos lineamentos tectônicos presentes na região, sendo estes os principais responsáveis pelo elevado grau de entalhamento fluvial.

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho objetivou uma caracterização e compartimentação da bacia hidrográfica do rio do Silveira, fundamentada na identificação e mapeamento de padrões de formas semelhantes de relevo e respectivos processos morfogenéticos e morfodinâmicos na área da bacia, buscando a realização da compartimentação voltada para um futuro plano de manejo da região. Os padrões identificados foram: Padrão em forma de Colinas com interflúvios amplos, Padrão em forma de Morros com vales meândricos encaixados e Padrão em forma de Colinas com interflúvios médios e topos planos.

As cartas topográficas do Serviço Geográfico do Exército, os mapas base, bem como os mapas hipsométrico e clinográfico e a imagem de satélite SPOT, permitiram orientar e sistematizar de forma mais coerente o trabalho de campo, as análises de gêneses e dinâmicas das formas, assim como apresentaram-se como subsídio seguro na elaboração do mapa geomorfológico.

O mapeamento geomorfológico da bacia hidrográfica do rio do Silveira requereu a compreensão da gênese e evolução do relevo que extrapolam o limite da bacia.

Sucintamente compreende-se que a gênese do relevo da área de estudo teve início com o rompimento do Gondwana e separação dos continentes da América do Sul e da África, tendo gerado a abertura do Oceano Atlântico. Com esta separação dos continentes, grandes falhas se formaram, por onde extravasou enormes volumes de lavas que vieram a formar sucessivas camadas de rochas vulcânicas do Planalto Meridional do Rio Grande do Sul.

Segundo Ab’Saber (1969), o Planalto pode ser caracterizado como sendo uma superfície aplainada do tipo cimeira, denominada de planalto de Vacaria, representando um dos

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primeiros e importantes períodos erosivos, por pediplanação exorréica, pós-derrames (pós-triássico, possivelmente cretáceo).

De acordo com a concepção de Ab'Saber (1973), a maior umidificação do clima no Holoceno recente permitiu uma mudança no sistema morfogenético, estabilizando os sedimentos com progressiva ativação dos processos de pedogenização, convexização das vertentes e entalhamento fluvial.

As constatações a respeito da história evolutiva do modelado do relevo na bacia hidrográfica do rio do Silveira apoiou-se fundamentalmente no trabalho de campo e no mapeamento sistemático dos padrões de relevo, baseado na proposta taxonômica de Ross (1992). Esse mapeamento permitiu a espacialização dos padrões através dos aspectos fisionômicos que refletem as influências de ordem morfogenética e morfocronológica.

Com isso, a análise dos padrões de relevo permitiu reconhecer os tipos de relevo e os processos a eles relacionados, buscando compreender como os processos articulam-se entre si e como evoluem os grandes conjuntos de formas de relevo. Nesse sentido, é possível vislumbrar o significado do relevo no contexto ambiental. Segundo Fujimoto (1994), em estudo geomorfológico preocupado com os processos passados e presentes na constituição do relevo pode caracterizar os diferentes ambientes da paisagem, tornando possível interferir no funcionamento dos processos e prognosticar o comportamento deste.

Considerando-se que este estudo poderá subsidiar na elaboração de um Plano de Manejo, para a criação de uma futura RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) dentro dos limites da bacia hidrográfica do rio do Silveira, e que um estudo mais detalhado das formas de relevo venha acontecer futuramente, é possível determinar temas específicos no campo geomorfológico que possam nortear estudos futuros, visando um melhor conhecimento geomorfológico e geográfico da região pelos próprios moradores e para os turistas que ali chegam, tais como: a gênese do desnível dos rios do Silveira e da Divisa; os lineamentos tectônicos e sua relação com os vales meândricos encaixados; o impacto da silvicultura na paisagem dos campos e a construção de trilhas ecológicas de baixo impacto.

O Mapeamento Geomorfológico busca oferecer informações que auxiliam as interpretações e as análises sobre a evolução da paisagem na região, servindo de base para a elaboração do Plano de Manejo. Assim, considera-se de extrema importância a continuidade de estudos na área, para a concretização do Plano de Manejo e assim a criação da futura RPPN.

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5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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