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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UFPB CENTRO DE COMUNICAÇÃO TURISMO E ARTES - CCTA DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS LICENCIATURA EM DANÇA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB CENTRO DE COMUNICAÇÃO TURISMO E ARTES - CCTA

DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS LICENCIATURA EM DANÇA

ALBERTO SALES MARINHO DA SILVA

UM ESTUDO SOBRE AS TRANSFOR MAÇÕES DA QUADRILHA JUNINA EXPLOSÃO NORDESTI NA (SANTA RITA – PB)

JOÃO PESSOA - PB SETEMBRO 2019

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ALBERTO SALES MARINHO DA SILVA

UM ESTUDO SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DA QUADRILHA JUNINA EXPLOSÃO NORDESTI NA (SANTA RITA – PB)

Monografia apresentada por Alberto Sales Marinho da Silva no Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, como requisito para obtenção de título de Licenciado em Dança.

Orientador: Prof. Dr. Victor Hugo Neves de Oliveira

JOÃO PESSOA - PB SETEMBRO

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S586e Silva, Alberto Sales Marinho da.

UM ESTUDO SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DA QUADRILHA JUNINA EXPLOSÃO NORDESTINA (SANTA RITA - PB) / Alberto Sales Marinho da Silva. - João Pessoa, 2019.

49 f. : il.

Orientação: Victor Hugo Neves de Oliveira. Monografia (Graduação) - UFPB/CCTA.

1. QUADRILHA. I. Oliveira, Victor Hugo Neves de. II. Título.

UFPB/CCTA

Catalogação na publicação Seção de Catalogação e Classificação

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Dedicatória

Dedico esse trabalho primeiramente a Deus, que me deu forças para não desistir e chegar até aqui. Aos meus pais que foram peças fundamentais para mais uma conquista, sem o empenho dos mesmos não estaria realizando mais esse sonho. E ao meu grupo Junino Explosão Nordestina que me despertou a paixão pela dança e apresentou o Curso Licenciatura em Dança.

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AGRADECIMENTOS

Quero primeiramente antes de tudo agradecer a Deus, por me proporcionar momentos como esse, que me faz refletir e ver que estou no caminho certo, mesmo diante das dificuldades que a vida traz. Encerro esse ciclo mais confiante e preparado para o mercado de trabalho e acima de tudo preparado para a VIDA. Os conhecimentos que adquiri vão muito além de livros e discussões de textos, fazem parte do meu crescimento pessoal e afirmo que encerro essa etapa totalmente diferente de como a iniciei. Muito OBRIGADO MEU DEUS!!! Não tenho palavras para descrever o que Senhor fez por mim e sei o que ainda está por vir.

Gostaria, agora de enaltecer a importância dos meus pais nessa etapa. Homem e mulher que vieram da roça, analfabetos e semi-analfabetos, sem formação alguma, porém acima de tudo trabalhadores, humildes, honestos e sempre felizes, características que graças a Deus herdei. Fizeram de tudo para proporcionar uma educação de qualidade durante toda a Educação Básica até chegar aqui. Apoiaram mesmo sem saber o que seria cursar dança na UFPB. Nunca questionaram, pelo contrario, me apoiaram por saber o amor e a dedicação que tenho pela dança. E isso me deixa mais uma vez emocionado por saber que estão e sempre estarão ao meu lado. Albertino Mesquita e Maria Daguia, muito obrigado por tudo!

Também quero deixar registrado a importância do grupo Junino Explosão Nordestina. Foi através do grupo que me encontrei como artista, ter um reconhecimento através da arte. O grupo me ensinou o espírito da coletividade, o saber ouvir, reafirmar o respeito ao próximo, ir até o fim nos compromissos. Foi uma escola onde tive o privilegio de aprender e ensinar muitas ocasiões, compartilhando gestos, sorrisos, afetos e amizades.

Também gostaria de agradecer a todos os professores que, nestes quatros anos, passaram deixando sua contribuição para minha formação. O cuidado, a atenção e os conselhos que ouvi de cada professor, são item que levarei para sempre em minha vida. Por isso optei por essa profissão da docência, por saber o impacto que ela deixa nas vidas das pessoas. Não posso deixa de falar do meu orientador Victor Hugo Neves de Oliveira, quero agradecê-lo pela paciência que teve comigo nessa reta final, juntamente com as professoras Juliana Costa e Líria Morais pela compreensão e ajuda

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incondicional,por abraçarem a causa e por estarem aqui para a conclusão dessa etapa tão importante. OBRIGADO!

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RESUMO

A quadrilha surge nas cortes francesas no século XVIII. No século XIX chega ao Brasil onde sofre diversas adaptações e se mantém viva, principalmente, nas festividades do mês de junho. As quadrilhas juninas, como são conhecidas no Brasil, se relaciona com o contexto do meio rural e são muito presentes no imaginário e no repertório das danças populares brasileiras. A partir da década de 1980, um movimento de profissionalização/espetacularização dos grupos de quadrilha junina deu origem a derivações como quadrilha estilizada e quadrilha moderna, que competem em concursos. O foco dessa pesquisa é investigar as transformações realizadas do ano 2009 até 2018, especificamente da Quadrilha Junina Explosão Nordestina situada na cidade de Santa Rita – PB. A pesquisa inicia uma discussão sobre a festa de São João, desde sua origem até as transformações contemporâneas. Partindo de uma etnografia do grupo citado que fazem parte da vivência do pesquisador, pretendem-se refletir sobre tradições populares, dinamismo da cultura popular, diálogos entre tradição, espetacularização, indústria cultural, entre outros.

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ABSTRACT

The gang arises in the French courts in the eighteenth century. In the nineteenth century arrives in Brazil where it undergoes various adaptations and remains alive, especially in the festivities of June. The June gangs, as they are known in Brazil, are related to the context of the rural environment and are very present in the imagination and repertoire of Brazilian popular dances. From the 1980s, a movement of professionalization / spectacularization of the June gang groups gave rise to derivations such as stylized gang and modern gang, which compete in contests. The focus of this research is to investigate the transformations made from 2009 to 2018, specifically of the Junina Northeastern Explosion Gang located in the city of Santa Rita - PB. The research initiates a discussion about the feast of St. John, from its origin to contemporary transformations. Starting from an ethnography of the mentioned group that are part of the researcher's experience, we intend to reflect on popular traditions, dynamism of popular culture, dialogues between tradition, spectacularization, cultural industry, among others.

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LISTA DE IMAGENS

FIGURA 01 – João Batista batizando Jesus nas águas do Rio Jordão...06

FIGURA 02 – Fogueira...09

FIGURA 03 - Comidas Típicas...09

FIGURA 04 – Bandeirinhas...10

FIGURA 05 - Quadrilha Babaçu – CE, campeã do Concurso Globo Nordeste em 2017...15

FIGURA 06 - Quadrilha Lumiar – PE, campeã do Concurso Globo Nordeste em 2018...15

FIGURA 07 - Luar do São João – PI, campeã no Concurso Globo Nordeste em 2019...14

FIGURA 8 – Final do Paraibano, Explosão Nordestina 2014 em João Pessoa – PB...22

FIGURA 09 – Quadrilha Junina Explosão Nordestina no Concurso de Quadrilha realizado pelo SESC em 2010...24

FIGURA 10 – Junina Explosão Nordestina em 2018 no concurso da ONG – Pro dia Nascer Feliz...25

FIGURA 11– Figurino da Junina Explosão Nordestina, ano 2009...26

FIGURA 12 – Figurino da Junina Explosão Nordestina, ano 2018...26

FIGURA 13 – Quadrilha Junina Explosão Nordestina em 2019 no Concurso Paraibano...29

FIGURA 14 -Apresentação da Rainha Samara Smith no Festival Interestadual da Ong Pro Dia Nascer Feliz, ano 2018...31

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...01

CAPÍTULO I – Conhecendo e contextualizado a festa de São João...04

CAPÍTULO II – Cultura Popular...11

CAPÍTULO III – Havia balões e fogos no ar: Quadrilha Junina Explosão Nordestina no arraiá...21

CONSIDERAÇÕES FINAIS...35

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa busca investigar um dos mais fortes festejos da cultura popular e do folclore brasileiro, presentes em todas as regiões do país: as festas juninas, tradição européia surgida no século IV como celebração a São João. Esses festejos chegaram ao Brasil como uma das formas de estimular a louvação aos santos católicos.

Durante as festas juninas no Brasil, há produção de inúmeras comidas à base de milho e amendoim, como canjica, pamonha, pé de moleque, além de bebidas como o quentão. Outra característica muito comum é a de se vestir de caipira de maneira caricata e a realização de danças típicas.

Neste estudo meu recorte será em torno do grupo junino Explosão Nordestina Produções Artísticas, um grupo formado em 2008 na cidade de Santa Rita no bairro Tibiri II, com intuito de brincar a festa de São João e fomentar, na cidade, a cultura popular. Os idealizadores desse projeto foram profissionais das Artes Cênicas graduadas na UFPB, pessoas que continuam a gerenciar o grupo.

Neste trabalho, irei abordar as transformações vivenciadas pelo grupo durante essa trajetória, observando as dificuldades, movimentações, temáticas, figurinos, trazendo como protagonistas, indivíduos que fizeram e fazem parte do grupo.

Meus objetivos específicos são compreender a história da festa junina, destacando seus aspectos sociais e religiosos; perceber possíveis tensões entre os integrantes das quadrilhas sobre as transformações da junina estudada, trazendo à tona as discussões de passos tradicionais e estilizados; conhecer as mudanças realizadas nos figurinos no decorrer desses anos.

O problema da pesquisa parte das seguintes questões, quais os posicionamentos dos dirigentes, ex-brincantes e brincantes atuais e admiradores sobre as transformações ocorridas durante esses dez anos da quadrilha?

Supõe – se que, devido ao fato da quadrilha buscar uma forma coreográfica de se relacionar com as demandas estéticas do público espectador, algumas transformações foram feitas no decorrer dos anos como o balançar das saias, figurinos e posicionamentos (formações coreográficas) realizados durante suas apresentações nos arraias.

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A pesquisa é fruto de uma relação antiga que tenho, enquanto espectador, participante e pesquisador, com o tema em questão. Desde 2009, acompanho o grupo como espectador, indo aos ensaios e acompanhando - o nas apresentações. Porém, em 2012, recebi um convite para fazer parte do mesmo e, desde então, há oito anos sou dançarino da Explosão Nordestina.

A metodologia de pesquisa “Um estudo sobre as transformações da Quadrilha Junina Explosão Nordestina (Santa Rita – PB)” é constituída de levantamento bibliográfico, entrevistas, pesquisa de campo e registro etnográfico de múltiplos aspectos culturais envolvidos no movimento junino. Serão adotados a abordagem da pesquisa qualitativa e os dados que forem coletados serão apresentados de forma descritiva.

Meu envolvimento, enquanto participante de quadrilha junina, é a principal estratégia utilizada para a minha inserção no campo. Essa relação me ajuda a direcionar o trabalho de investigação para uma linha que prioriza reflexões de cunho mais qualitativo. Considero que esse tipo de pesquisa, levando em conta a relação que tenho com o campo investigado, é de grande importância por permitir que uma experiência, que é anterior ao início da investigação, sirva de base para situar o pesquisador em campo. Nessa concepção, não foi conveniente abandonar a perspectiva da “observação participante”, com sua importante proposta de envolvimento com o campo.

Para compor essa pesquisa, a partir da utilização do material etnográfico que obtive, realizei entrevistas e conversei com alguns atores sociais do campo acerca dos temas de interesse do presente trabalho. Procurei fazer com que essas entrevistas tivesse em um caráter “aberto”, próximo ao que Tim May (2004) classifica como “entrevista não-estruturada ou focalizada”, que, apesar de seguirem um tema específico, são conduzidas em grande parte pelos “entrevistados”, a partir daquilo que expressam em suas falas a respeito do que se conversa.

Sou um amante e praticante que se envolve arduamente no intuito de fortalecer esta grande riqueza cultural. Assim essa pesquisa se justifica por há oito anos fazer parte desse movimento junino que trouxe e traz um crescimento de grande importância na minha formação enquanto artista.

Ao longo destes dez anos de resistência pela cultura, a Junina Explosão Nordestina fez um grande trabalho dentro da comunidade, ganhando o respeito e a visibilidade perante o poder público da cidade através da construção de espetáculos notáveis. Por isso a pesquisa também busca entender a relação que a manifestação

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quadrilheira1 enquanto elemento da cultura popular estabelece com o contexto social contemporâneo ao assumir características estéticas voltadas para uma linguagem mais espetacular.

A partir de referências bibliográficas que abordam a questão da espetacularização e das transformações no âmbito da cultura popular e tendo um olhar voltado a discussão sobre a quadrilha junina, a pesquisa terá também relatos de experiência deste autor na Quadrilha Junina Explosão Nordestina e algumas entrevistas realizadas com pessoas ligadas diretamente ao grupo.

Sendo assim, apresentamos no primeiro capítulo uma contextualização sobre o início da festa do São João no Brasil, mas antes mostrando onde essa festa surgiu, quais foram os países onde se originou, e como a igreja se associou a essa festividade com suas peculariedades e curiosidades.

No segundo capítulo abordamos algumas discussões sobre o conceito de cultura popular. Analisando a cultura como algo do povo dinâmico e não estático. Dialogamos sobre as transformações que vêm acontecendo, demonstrando que esses processos de transformação contribuem para a sobrevivência não somente da quadrilha junina mas, também de outras danças e culturas.

No terceiro capítulo falamos observamos o grupo de quadrilha pesquisada, a Explosão Nordestina, contando um pouco de sua história e dos individuos que fizeram e fazem parte do grupo ao longo destes dez anos.

Consideramos, por fim, as transformações obtidas no grupo Explosão Nordestina, durante o período de 2009 a 2018, tendo como enfoque as questões como: coreografias, marcador, figurinos e rainha, elementos que fazem e fizeram parte das transformações do grupo nesse período. Convido-o leitor a embarcar no mundo de bandeirolas, fogueiras, brilhos, fogos, balões, muito luxo, danças e noites estreladas das quadrilhas. Venha-se encantar com a FESTA DO SÃO JOÃO!

A Lei nº 12.390, de 3 de março de 2011, instituiu o dia 27 de junho como o Dia Nacional do Quadrilheiro Junino. A referida lei também define que quadrilheiro junino é considerado o profissional que utiliza meio de expressão artística cantada, dançada ou falada transmitido por tradição popular nas festas juninas. Aqui desconsidera-se uma gama de sujeitos que integra esse cenário não por meio do estabelecimento de um vínculo profissional, mas pelo “amor ao São João.

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I–CONHECENDO E CONTEXTUALIZANDO A FESTA DE SÃO JOÃO

A Festa de São João comemorada no mês de junho, tradicionalmente com a homenagem ao Santo Católico, era a priori realizada em festas pagãs do povo europeu e asiático, que celebravam os deuses protetores da fertilidade e da colheita.

Quando ocorria o solstício de verão na Europa os pagãos realizavam cultos aos deuses da natureza, das plantações, das colheitas, etc. Um desses deuses era Adônis que, segundo a mitologia grega, foi disputado por Afrodite (deusa do amor) e Perséfone (deusa dos infernos). A disputa foi apaziguada por Zeus, que determinou que Adônis passaria metade do ano com Afrodite, no mundo superior, à luz do Sol, e a outra metade com Perséfone, no mundo inferior, nas trevas.

Essa disputa entre deusas acabou sendo associada aos ciclos naturais da vegetação, que morre no inverno e renasce e vigora na primavera e verão. O culto a Adônis, cujo dia específico era 24 de junho, tinha por objetivo a celebração dessa renovação, da “boa-nova” do renascer da natureza. Essa ideia foi assimilada pelo cristianismo, que substituiu Adônis por São João Batista.

Na Idade Média com a chegada do papa Gregório XIII, essas festas passaram a ter um novo sentido, o mesmo, ressignificou a festa profana, (regada a bebedeiras, rituais místicos e orgias) em ações missionárias da Igreja. Surgiram assim as peças teatrais chamadas na época de dramaturgia teatral, com o foco nas histórias religiosas pregadas na Igreja Católica como: comemoração do Natal, Paixão de Cristo, Páscoa e Domingo de Ramos.

Foram os jesuítas os responsáveis pela introdução ao teatro e a dança, especificamente a dramática, no Brasil, de caráter exclusivamente religioso, incluídos nas manifestações do calendário festivo católico, já praticado em Portugal e em outros países da Europa. Os padres da Companhia de Jesus, devido às montagens cênicas populares, comuns na Península Ibérica, desde a idade Média, criaram uma espécie de teatro conveniente, não só aos indígenas como aos colonos, que também tiveram em mente as atividades de catequese (D’Amorim, Elvira, 2003. p. 23).

Com o passar do tempo a Igreja passou a incluir outros motivos às festas pagãs, como por exemplo, os padroeiros e os santos católicos romanos. De acordo com Mariz (1997) a “Igreja Católica Romana determinou certos dias para que fossem dedicados o

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cultivo divino, considerando-os dias de festas, formando o seu conjunto o ano eclesiástico, constituído de festas do Senhor e festas dos Santos”

Por isso, acredita-se que o surgimento da Festa de São João que celebra o dia do profeta bíblico que batizou Jesus, não se deve ao dia do nascimento do santo. Segundo Cascudo (1954) “coincide seu nascimento com o solstício de verão (de inverno para a América Austral) quando as populações do campo festejavam a proximidade da colheita e faziam sacrifícios para afastar os demônios da esterilidade, pestes dos cereais, estiagens”.

As celebrações festejavam o sucesso da colheita, adoravam o Deus Sol, que era representado pela fogueira, onde havia danças e saltos ao redor do fogo. Por isso, até hoje tem se a tradição de ascender a fogueira no período Junino. A representação da fogueira era muito forte e fazia alusão ao sol na terra. A fogueira também era usada para espantar animais, assar alimentos, clarear as noites e cultuar os deuses. Já de acordo com a perspectiva da Igreja Católica a fogueira foi invenção de Isabel mãe de João Batista, que a utilizou como meio de comunicação para anunciar o nascimento do profeta São João Batista.

Existem duas variantes com relação ao nome da festa de São João no Brasil, a primeira diz respeito às que são as comemorações a mulher Júpiter, que faziam parte do Império Romano que cultuavam em Junho a deusa Juno. E a outra para diferenciar a Igreja Católica chamou de “Joaninas”, que com o tempo mudou para Juninas, que tinham um forte cunho por traz que eram para catequizar os índios que justamente nesse período praticavam rituais de fertilidade.

“O jesuíta Fernão Cardim, em 1583, registrou festas religiosas portuguesas celebradas pelos indígenas com grande alegria, principalmente a desde santo, por causa da fogueira, ao redor da qual faziam brincadeiras como saltar por cima da brasa sem queimar a roupa, ainda que algumas vezes queimassem a pele” (D’Amorim, Elvira, 2003. p.34)

Durante as festas juninas no Brasil, são realizadas danças típicas, como as Quadrilhas, Coco de Roda, Ciranda, Baião e Xaxado. Também há produção de inúmeras comidas à base de milho e amendoim, como canjica, pamonha, pé de moleque, além de bebidas como o quentão. Outra característica muito comum é a de se vestir de caipira de maneira caricata e de realizar promessas ao santo.

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“A tradição de realizar promessas aos santos padroeiros ainda acontece em alguns lugares. No Nordeste, as festas juninas estão diretamente vinculadas ao inicio da colheita do milho, e suas características de origem rural vêm se mantendo apenas da influência que recebem do meio urbano” (D’Amorim, Elvira, 2003. p.35)

Os santos juninos são homenageados durante todo o ciclo junino, quatro santos: São José, comemorado no dia 19 de março, Santo Antônio, comemorado no dia 13, São João Batista, no dia 24 e São Pedro, no dia 29 julho. A noite de São João é, sem dúvida, a mais festejada. As Tradições dos festejos juninos como: superstições, adivinhações, crenças, agouros, fogueiras, danças e as comidas típicas, revelam um passado que continua sendo representado nos dias atuais. Nessa pesquisa o enfoque ficará em torno da imagem de São João Batista, por este está, diretamente, associada à festa junina estudada nesse trabalho.

São João Batista nasceu milagrosamente em Aim Karim, cidade de Israel que fica a 6 quilômetros do centro de Jerusalém. Seu pai era um sacerdote do templo de Jerusalém chamado Zacarias. Sua mãe foi Santa Isabel, que era prima de Maria Mãe de Jesus. São João Batista foi consagrado a Deus desde o ventre materno. Em sua missão de adulto, ele pregou a conversão e o arrependimento dos pecados manifestos através do batismo. João batizava o povo. Daí o nome João Batista, ou seja, João, aquele que batiza.

São João Batista é o primeiro mártir da Igreja, e o último dos profetas. Sua festa é celebrada desde o começo da igreja. Ele é venerado como profeta, santo, mártir, precursor do Messias e arauto da verdade, custe o que custar. Sua representação é mostrada batizando Jesus e segurando um bastão em forma de cruz.

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7 Fonte: CNBB - Nordeste. Disponívelem: <https://www.google.com/search?q =joão+batista+batizando+jesus&so urce=lnms&tbm=isch&sa=X&ved= 0ahUKEwi0k9S6_KvkAhXYILkGH WbLBpAQ_AUIESgB#imgrc=T1Es gzUfRlwRkM:>. Acesso em: 30 ago.2019

São João Batista, vozque clama no deserto, endireitai os caminhos do Senhor,

fazei penitência,

porque no meio de vós está quem não conheceis,

e do qual eu não sou digno de desatar os cordões das sandálias. Ajudai-me a fazer penitência das minhas faltas,

para que eu me torne digno do perdão daquele que vós anunciaste com estas palavras: Eis o Cordeiro de Deus,

eis aquele que tira o pecado do mundo. São João Batista rogai por nós. Amém.

Oração ao Santo João Batista.

Na sua “missão” tiveram momentos marcantes como: a sua peregrinação pelo deserto, o batismo de Jesus, sua prisão e morte. São João Batista foi o ultimo dos profetas a anunciar a vinda do messias. Quando adulto ao perceber que sua hora tinha chegado foi morar no deserto para rezar, fazer sacrifícios e pregar para que as pessoas se arrependessem. Vivendo uma vida extremamente difícil e com muita oração e se alimentando de gafanhotos. Batizava a todos que se arrependiam nas águas do rio Jordão, mesmo rio onde o messias que tanto anunciava foi batizado. João Batista levantava a ira de muitos: Herodes Antipas era um deles. João denunciava a vida adultera do rei. Herodes tinha se unido a Herodíades, sua cunhada. São João Batista denunciava também a vida desregrada de Herodes em seu governo e, por isso, teve cabeça decepada e enviada a Herodíades em uma bandeja de prata.

Assim, desde as mais primitivas manifestações de cultura cristã a figura de João se faz presente. Evidências sugerem que, ainda em período anterior à ocupação árabe na Europa (em torno de VII d. C.), o profeta já era cultuado. Aliás, aí a devoção a São João teria se firmado a partir de uma influência no ideário cristão de certas celebrações religiosas muito antigas, com registro ainda em tempos pré-cristãos, que reverenciavam os solstícios, um elemento muito cultuado em expressões místicas da Antiguidade. A Idade Média, período em que a temática religiosa ocupa um grande espaço na vida européia, é extremamente rica em referências a São João. Pródiga também nas expansões do imaginário, ganha destaque a singular figura do rei Preste João, nos séculos XII e XIII, cuja existência flutua entre o mito, as lendas medievais e a religiosidade cristã. Teria sido um monarca que governava um

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reino localizado no continente africano, convertido ao cristianismo, sendo portanto opositor do islamismo que naquele período dominava a região. (https://www.appai.org.br/um-sao-joao-como-cultura-universal).

A festa de São João é conhecida também como festa da fogueira, pois dia 24 é o auge das festividades, momento em que se comemora o aniversário de São João Batista, o santo festeiro. Segundo o imaginário popular diz-se que nesse dia São João prefere dormir o dia todo para não ver as fogueiras na terra e ficar com vontade de descer e comemorar também.

Por isso que em muitas regiões do país as pessoas soltam fogos de artifício para tentar acordá-lo.

A fogueira é, portanto um forte elemento na festa de São João. Ela tem uma diversidade de objetivos, pode servir para promover aquecimento, assar milhos, alimento bastante utilizado no período junino, em alguns casos a fogueira mantém animais selvagens afastados, práticas de rituais religiosos, ritos pagãos, festas e divertimento.

Em outros países como, por exemplo, Portugal também é vulgar acender fogueiras nas noites de véspera dos santos populares, onde os jovens saltam a fogueira como manda a tradição. Diz-se que quem saltar a fogueira, em número ímpar de saltos e no mínimo três vezes, fica por todo o ano protegido de todos os males.

O significado simbólico da fogueira está muito relacionado com o de fogo, simboliza a purificação e o renascimento. No entanto, a fogueira possui diferentes simbologias, consoante o seu uso. O fogo é um símbolo divino universal, e tem um significado purificador e regenerador. De acordo com algumas crenças cristãs, Jesus Cristo, e alguns santos, revivificam os corpos passando por uma fogueira.

(https://www.dicionariodesimbolos.com.br/fogueira//).

Outro simbolismo como a fogueira na festa de São João é o milho. Em Portugal, os meses de junho, julho e agosto, eram dedicados às festividades relacionadas à religião e à colheita do trigo. Com a chegada no Brasil, os portugueses precisaram adaptar os festejos ao clima das Américas, pela inversão das estações de acordo com o ano.

A plantação que crescia em épocas frias era a de milho, pois trata-se de uma planta que necessita de muita água. Unindo os conhecimentos culinários dos indígenas, africanos e portugueses surgiram às comidas típicas desse período junino, feitas especialmente de milho, como os bolos, canjica, pamonhas, mungunzá, etc.

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Outros símbolos marcantes das festas juninas são os balões e as bandeirolas. O primeiro era utilizado para reverenciar os santos, agradecendo pela realização de pedidos e ainda hoje utilizados para decorar o ambiente e marcar o início da festa.

FIGURA 02 – Fogueira

Fonte. Jornal Hoje em DiaDisponívelem: <https://www.google.com/search?t bm=isch&sa=1&ei=Tc9pXbLKNZd OUPnP2W6AQ&q=fogueira+junina &oq=fogueir&gs_l=img.1.0.35i39j0i 67j0j0i67j0j0i67j0l4.321088.32301. 25212...0.0..0.204.1273.1j6j1....2.0 ....1..gwswizimg...0.F51tczVxX8o #imgrc=0pOYpyVbAflvlM:>.Acesso em: 30 ago.2019

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Fonte. Acritica.net Disponívelem: <https://www.google.com/search?t bm=isch&sa=1&ei=9tFpXeieMNbY 5OUPn8eAiA8&q=comidas+típicas +milho&oq=comidas+típicas+milho &gs_l=img.3...599.1838..2161...0.0 ..0.484.1464.0j4j1j0j1...0....1..gw simg...0.LztpjdLbyiM&ved=0ahU KEwjo8aA_6vkAhVWLLkGHZ8jAP EQ4dUDCAY&uact=5#imgdii=agRl u26DBMFk_M:&imgrc=OqorSXMa U_QwDM::>. Acesso em: 30 ago.2019

FIGURA 04 – Bandeirinhas

Fonte. Flickr em: <https://www.google.com/search?t bm=isch&sa=1&ei=tFpXZvqKP2y5 OUPh92MuAg&q=bandeirinhas+d e+são+joão&oq=bandeirinhas+de+ são+joão&gs_l=img.3..0l5j0i30l3j0i 5i30l2.331232.336961..337202...0. 0..0.365.4776.1j16j7j1....2..0....1..g wsimg...0..35i39j0i67.ok8x7lhqUu A&ved=0ahUKEwibz5yC_6vkAhV GbkGHYcuA4cQ4dUDCAY&uact= 5#imgrc=s24f5m-vGS_bCM:>. Acesso em: 30 ago.2019

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II – CULTURA POPULAR

O arqueólogo inglês Willian John Thoms criou o termo folklore– folk (povo), lore (saber) em 22 de agosto de 1846. O termo adotado foi com poucas adaptações por grande parte das línguas européias, chegando ao Brasil com a grafia pouco alterada: folclore. Segundo Vilhena, 1997, (p.24) “o termo identificava o saber tradicional preservado pela transmissão oral entre os camponeses e substituía outros que eram utilizados com o mesmo objetivo – ‘antigüidades populares’, “literatura popular”.

No final do século XVIII e início do século XIX os intelectuais românticos começaram a valorizar a cultura popular, conseqüentemente foram “responsáveis pela fabricação de um popular ingênuo, anônimo, espelho da alma nacional, [sendo] os folcloristas seus continuadores, buscando no Positivismo emergente um modelo para interpretá-lo” (Vilhena, 1997:24).

Para Canclini, as culturas populares trilharam um caminho para não cair no esquecimento e encontraram na modernidade um meio de “desenvolver transformando-se”. O exemplo disso é o objeto de estudo da nossa pesquisa: as quadrilhas juninas no contexto contemporâneo, as quadrilhas passam por várias transformações, impulsionadas tanto pelos agentes populares, quanto pelo contexto moderno. Os trajes, a dança, a música, grande parte da grandeza estético-coreográfico foram (e continuam sendo) reconfigurados conforme as exigências dos meios de comunicação e dos órgãos estatais. Essas mudanças possibilitaram as quadrilhas se manterem ativas e em evidência até a atualidade, afinal a transformação é uma qualidade da tradição.

A idéia de que a tradição é impermeável à mudança é um mito. As tradições evoluem ao longo do tempo, mas podem também ser alteradas ou transformadas de maneira bastante repentina. [...] A persistência ao longo do tempo não é a característica chave que define a tradição, ou seu primo mais difuso, o costume. As características distintivas da tradição são o ritual e a repetição. As tradições são sempre propriedades de grupos, comunidades ou coletividades. Indivíduos podem seguir tradições ou costumes, mas as tradições não são uma característica do comportamento individual do modo como os hábitos o são (Giddens, 2000, p. 51-52).

A tradição é dinâmica está em constante mutabilidade. A tradição não é realmente pura quando ela tem suas características cristalizadas sem que apresente nenhuma alteração com o passar do tempo. Pelo contrário, ela muda na instauração da coerência entre a tradição e o contexto no qual vive a sociedade.

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A cultura popular é uma forma de manifestação cultural intrinsecamente relacionada ao anônimo, ao coletivo, ao espontâneo, à tradição e à oralidade. Que podemos dizer que é

“(...) o conjunto de conhecimentos e práticas vivenciadas pelo povo, embora possam ser vividos e instrumentalizados pelas elites. Pense-se no candomblé, no carnaval, na feijoada, nos usos folclóricos, no jogo do bicho e na capoeira. (...) Cultura popular simplesmente [é] o que é espontâneo, livre de cânones e de leis, tais como danças, crenças, ditos tradicionais. (...) Tudo que acontece no país por tradição e que merece ser mantido e preservado imutável. (...) Tudo que é saber do povo, de produção anônima ou coletiva”. (VANNUCCHI, 1999, p. 98).

Atualmente, a cultura popular assume uma dimensão nova e multifacetada: definidora da identidade nacional, fonte de renda e atração turística. Desse modo, a cultura popular - o fazer próprio e inerente ao povo - também deve ser concebida como um movimento dinâmico e contextual, ou seja, híbrido.

Portanto, para pensar a cultura popular no mundo contemporâneo, necessário se faz perceber que esta não é estática, tampouco isenta das influências do mundo, e que esta, por sua vez, reflete, reproduz e assimila a realidade. Por ser um fenômeno social, deve ser percebida como “móbile, adaptável, mutante, reciclável, dinâmica. (...) Um processo” (AGRA, 2000, p. 77).

A cultura popular é uma modalidade cultural própria do povo, ou seja, originalmente produzida pelas camadas mais pobres de uma sociedade, ainda que, posteriormente, passe a ser (re) conhecida também pela elite. No nordeste brasileiro há exemplos muito significativos de cultura popular, tanto no campo da música e da dança, quanto entre jogos e brinquedos, que traduzem a busca em processos de ressignificação de novos caminhos para o fazer-saber do povo, na conjuntura de um mundo globalizado.

Diante da globalização, muitas manifestações, que se mantinham distanciadas de uma lógica de produção voltada para o consumo tiveram que se submeter, a uma nova onda de predação cultural, atendendo assim a uma demanda do mercado dos produtores culturais e os interesses de manipulação da classe política. Com isso, uma grande parte das manifestações populares sofrem uma pressão sem precedentes para se espetacularizar.

Defino espetacularização‟ como a operação típica da sociedade de massas, em que um evento, em geral de caráter ritual ou artístico, criado para atender a uma necessidade expressiva específica de um grupo e preservado e transmitido através de um circuito próprio, é transformado em espetáculo para consumo de outro grupo, desvinculado da comunidade de origem. (CARVALHO, 2010, p. 47)

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Atualmente, na cidade de Santa Rita - PB, há dois anos assistimos a um interesse crescente pelas manifestações populares, que há muito tempo não despertavam a atenção das classes dominantes na cidade. O poder público desde 2018 organiza uma grande festa de São João e se intitulam como “A capital nordestina das quadrilhas juninas”. Uma estrutura é montada em uma arena na Praça do Povo – Tibiri Fábrica, Santa Rita – PB, para abrigar o evento: área de alimentação; espaço recreativo; palco; iluminação e sonorização, além de arquibancadas e um palanque destinado às autoridades que prestigiam o Festival. Todos os dias o evento é transmitido pelas redes sociais e mídias juninas pré-selecionadas para o evento. As apresentações são acompanhadas por lives no facebook e instagram da prefeitura.

As redes sociais estão se apropriando e incorporando–se às nas manifestações culturais populares. Essas aproximações das culturas populares e midiáticas no mundo globalizado são cada vez mais intensas. Esses processos têm uma atividade muito forte das redes de comunicação cotidiana em movimentos dinâmicos, onde se inventam e reinventam novas manifestações culturais populares para as demandas de consumo da sociedade midiática.

Essas redes de comunicações têm seus pontos positivos e negativos, pois muitos profissionais chegam e filmam de qualquer jeito, e por não terem contato com as manifestações populares escolhem aspectos espetaculares, para registrar. Determinadas vezes, partes que são mais significativas do ritual ou na dança passam despercebidos, não aparecem, porque não são vistas como espetaculares. Muitas vezes, a mídia acaba criando estereótipos devido à ignorância em relação à diversidade e ao emprego generalizado de padrões estabelecidos da produção para o espectador consumidor de informação. A tradição contada e praticada por quem não a conhece é um dos principais problemas atuais.

O exemplo disso são os compactos exibidos pelo Globo Nordeste. O programa São João do Nordeste é uma parceria da Rede Globo de Comunicação junto às suas afiliadas no Nordeste: Tv Bahia e Tv São Francisco (ambas na Bahia), Tv Alvorada e Tv Rede Clube (Piauí), Tv Gazeta Digital (Alagoas), Inter Tv (Rio Grande do Norte), Tv Grande Rio e Tv Asa Branca (Pernambuco), Tv Mirante e Tv Rio Balsas (Maranhão), Tv Verdes Mares (Ceará), Tv Paraíba e Tv Cabo Branco (Paraíba), e Tv Sergipe (Sergipe), desde 1995.

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Essas emissoras produzem matérias para serem exibidas na programação durante o mês de junho e são responsáveis em realizar as etapas estaduais a fim de selecionar a representante de cada estado para o evento. Nessas emissoras, são apresentados os melhores momentos das dez quadrilhas dos estados do Nordeste que participam do festival e são divulgadas imagens que contêm momentos com efeitos visuais, “bonitos” e agradáveis para os olhos do telespectador, que têm também produções gigantescas e momentos impactantes. A premiação do festival chega a ser no máximo 12 mil reais e no mínimo 2 mil reais.

Os concursos de quadrilhas juninas são os maiores instrumentos para a consolidação do formato estilizado desse folguedo. A cada edição do concurso o que se assiste é mais suntuosidade, luxo e brilho do guarda-roupa das quadrilhas estilizadas, coreografias tecnicamente elaboradas, maquiagens requintadas e até alegorias como as escolas de samba do Rio de Janeiro. Além dos gastos com alimentação, transportes e outras despesas, um batalhão de contra-regras, produtores e auxiliares acompanha a caravana a cada exibição. Sabe-se que os prêmios estão longe de compensar o montante investido, contudo, o status, de ficar nos três primeiros lugares, ter a oportunidade de participar de um concurso, estar na mídia, para os brincantes, essas compensações não têm preço e todo esforço vale a pena. (MELO, 2006, p. 1 a 10)

Sem dúvida o ponto alto é a disputa entre as quadrilhas juninas, cada uma defendendo seu estado e suas tradições, abordando temas como a fé, religiosidade, seca, cangaço entre outros temas ligados a vida rural e cotidiana do Nordeste. As quadrilhas produzem verdadeiros espetáculos para o público presente na arena e para os telespectadores, utilizando - se de recursos visuais e pirotécnicos para enriquecer suas apresentações; os jurados, por sua vez, analisam a animação, coreografia (onde passos tradicionais são obrigatórios), figurino e estética.

Esse mesmo concurso é considerado como uma vitrine para as demais quadrilhas dos estados, pois são tidas como “parâmetros” para realização dos espetáculos dos próximos anos.

Ora, para os grupos de competição, esses concursos são ocasiões excepcionais de circulação de imagem e dos projetos – estéticos, políticos e culturais – de cada grupo que, através deles, têm acesso a uma visibilidade social mais ampla, seja pela transmissão ao vivo do evento, seja por meio de uma publicidade ou matéria de jornal televisivo. Os festivais reanimam, assim, as identificações e aproximações entre os grupos, estimulando suas concorrências e rivalidades preexistentes – aspecto que os concursos menores tendem a regular localmente, através da mobilização de uma rede mais limitada. (CHIANCA, 2006; p.149)

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Ultimamente, as ganhadoras desse festival são quadrilhas consideradas ‘ricas’ no meio junino, ou seja, quadrilhas que possuem uma grande equipe de profissionais na produção, uma banda com diversos músicos, iluminação, adereços gigantescos. O que leva a um processo de espetacularização cada vez mais freqüente e a um enfraquecimento do movimento junino; afinal, o grau de profissionalização está tão alto que grupos considerados pequenos não têm recursos para essa ‘espetacularização’ e acabam parando de realizar seu trabalho, por não conseguirem acompanhar essa crescente demanda do meio junino.

FIGURA 05 - Quadrilha Babaçu – CE, campeã do Concurso Globo Nordeste em 2017

Fonte. Youtube em: <https://www.google.com/search?t bm=isch&sa=1&ei=TdNpXeiBGem -5OUP_JeMwA0&q=babacu+no+gl obo+nordste&oq=BABACU+&gs_l =img.1.0.35i39j0i30j0i5i30l6j0i30j0i 5i30.303158.305824..307847...0.0. .0.314.1661.1j2j4j1...0....1..gws-wizimg...0..0i67j0j0i1lJNijPhTls#i mgrc=IE8hLZ4Jj8YRrM:>. Acesso em: 30 ago.2019

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16 FIGURA 06 - Quadrilha Lumiar – PE, campeã do Concurso Globo Nordeste em 2018

Fonte. Youtube em: <https://www.google.com/search?t bm=isch&sa=1&ei=gtRpXZyxPJy7 5OUPs2CmAI&q=lumiar++nordest e+2018&oq=lumiar++nordeste+20 18&gs_l=img.3...166164.173174..1 73450...1.0..0.290.3618.0j9j9...0. ...1..gws-wiz-img...0j0i7i30.YSdhAP8eePQ&v ed=0ahUKEwicq63gazkAhWcHbk GHbO2ACMQ4dUDCAY&uact=5#i mgrc=1FrljhS5OfsdlM:>. Acesso em: 30 ago.2019

FIGURA 07 - Luar do São João – PI, campeã no Concurso Globo Nordeste em 2019

Fonte. G1 - Globo em: <https://www.google.com/search?t bm=isch&sa=1&ei=NdVpXfCKA_r B5OUPwYmC6AQ&q=luar+do+s% C3%A3o+jo%C3%A3o++nordeste +2019&oq=luar+do+s%C3%A3o+j o%C3%A3o++nordeste+2019&gs_ l=img.3...211986.219209..219428..

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17 .2.0..0.208.4041.0j20j2...0....1..g wsimg...35i39j0i7i30j0i8i7i30.ML 9gAqSWHpU&ved=0ahUKEwiw-aKMgqzkAhX6ILkGHcGEAE0Q4d UDCAY&uact=5#imgrc=FEJFOKB H_1IPbM:>. Acesso em: 30 ago.2019

Esse processo de transformar eventos públicos em grandes espetáculos é bastante antigo, vale a pena relembrar: as lutas de grandes gladiadores que viraram espetáculos para o público no Coliseu; as inquisição, as execuções e linchamentos dos déspotas franceses; as coroações barrocas e muitos outros eventos concebidos como espetáculo para as grandes massas.

É nesse contexto que os grandes espetáculos juninos estão inseridos, para fins de entreter um sujeito consumidor dissociado do processo criador daquela tradição. Espetacularizar significaria, então, entre outras coisas, dissolver o sentido do que é exibido para deleite do espectador (Benjamin 1985a, 1985b). Afinal as culturas tradicionais no mundo globalizado são também do interesse dos grupos midiáticos, de turismo, de entretenimento, das empresas de bebidas, de comidas e de tantas outras organizações socais, culturais e econômicas.

O processo de “espetacularização” fica, portanto, mais forte, colocando os artistas populares na condição de objetos de representações, fazendo alterações nas bases de seus códigos específicos da cultura, para deleite de espectadores de classe média, em seus momentos de consumo de lazer ou cultura de turismo. Esse avanço da “espetacularização‟ vem sendo feito pela classe política e pela indústria do entretenimento em praticamente, todos os países latino-americanos que buscam atender as demandas das classes médias nacionais e dos turistas estrangeiros, principalmente do Primeiro Mundo.

Um dos fetiches mais vendidos para esses consumidores é o corpo dos artistas populares, exibido como uma imagem estetizada para o prazer do espectador. O corpo da cultura popular que canta, dança, recita, sorri, veste-se com singeleza, elegância, bom gosto e naturalidade, entra em êxtaveste-se, explode de alegria e vitalidade, passa a ser um bem escasso em um mundo desencantado, que submete os corpos de quem trabalha, seguindo essa lógica capitalista cada vez mais excludente e desumanizada, à repressão, à couraça do “não-sentir‟, à intoxicação e à seriedade forçada da acumulação e da busca incessante de mais-valia. Podemos imaginar toda a complexa hierarquia do trabalho no mundo atual como composta de potenciais consumidores que, vivendo em corpos de pouca realização estética e espiritual, tornam-se voyeurs da “espetacularização‟ dos corpos dos artistas populares. (CARVALHO, 2010, p. 59)

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A “espetacularização” é decorrência do extenso processo de amputação e expropriação das culturas populares, é um tipo de “canibalização‟ praticada não apenas pelo turista, mas também pelas elites políticas, sociais e econômicas, assim por como produtores culturais, ONGs, artistas urbanos, servidores públicos e pesquisadores.

A espetacularização ocorre com a mudança nos métodos de produção, na velocidade da distribuição e no mercado de consumo desses bens culturais. O fato da classe média consumir de modo mais interessado os produtos da cultura popular, como exemplo os artefatos de decoração, as festas, do consumo os produtos naturais e as comidas regionais introduzem novas lógicas e modos de criação e circulação do que vem a ser “popular”.

Acreditamos, porém, que quando entrar em cena a discussão sobre cidadania, direitos autorais, reprodução audiovisual de apresentações, indústria cultural e turismo, o direito das elites brasileiras de espetacularizar e canibalizar as expressões culturais populares entrará em crise.

Esperamos que o presente momento, com mestres e mestras mais preparados para demandar políticas públicas para as culturas populares, marque o início do fim da era da “canibalização‟ unilateral e da “espetacularização” no nosso meio. Confiamos em que um paradigma mais justo e igualitário de relacionamento das classes detentoras do poder político e econômico com mestres e mestras deverá surgir na forma de um novo modelo de intercâmbio e de acesso pleno à cidadania para os que preservam as culturas populares no Brasil e na América Latina. (CARVALHO, 2010, p. 68)

Iremos aqui abordar as transformações vividas pelo grupo junino Explosão Nordestina como uma possibilidade de compartilhar fatores sobre a espetacularização do interior junino. Para tanto, observamos as apresentações dos espetáculos de referido grupo ao longo de dez anos (2009 – 2018) trazendo como protagonistas os indivíduos que fizeram e fazem parte do grupo como: dirigentes, brincantes, ex-brincantes e admiradores.

Em 2009, o grupo tinha dezesseis casais dançantes e dez dirigentes. Há a avaliação por parte dos grupos de que a performance fica “mais bonita” quando o “grupo é grande”, propiciando maior harmonia e visualidade da coreografia. Porém, essa questão sempre foi problematizada por partes dos dirigentes do grupo. Desde a sua fundação o máximo de casais envolvidos na quadrilha foram 28 casais o que ainda é considerado um número pequeno. Antigamente, na quadrilha não seguiam uma padronização no que toca à indumentária, pois dependia-se muito da temática de cada

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ano. Porém as mulheres sempre trajavam saias e os homens usavam o chapéu. Os dançarinos da Explosão são, na sua maioria, jovens na faixa etária entre 15 e 38 anos. Além dos dançarinos, fazem parte dos grupos os músicos, um cantor ou uma cantora, baterista, baixistas, sanfoneiro, triangulista e zabumbeiro. Uma marca inovadora e forte no grupo foi e é as composições autorias para os espetáculos realizados.

Os ensaios de quadrilhas antigamente eram formados por pessoas de uma mesma família, ensaiando na rua, em volta da fogueira com o objetivo de brincar e se divertir. Hoje, muitas quadrilhas deixaram de ter ligação familiar, principalmente no contexto das quadrilhas ditas estilizadas. As quadrilhas estilizadas, que são movidas por um desejo de inovar, chamar a atenção e ganhar competições, fogem, portanto desse formato familiar. Por isso, atualmente, existem ensaios bastante rigorosos.

Os ensaios das quadrilhas sempre foram pontos de encontro da “turma”: momentos de paquera e descontração dos brincantes. Entretanto, atualmente, para participar de um grupo junino é essencial o comprometimento nos ensaios. É necessário que o ensaio seja o próprio espetáculo. É preciso ser profissional e brincador ao mesmo tempo. Segundo Santos (2009), ser profissional no mundo do carnaval envolve idiossincrasias afetivas; adotar disciplina, transitar e estabelecer vínculos com os demais brincantes, algo bastante semelhante, portanto, ao universo junino.

O processo de profissionalização envolve essencialmente o comprometimento dos integrantes com o “grupo”: frequência assídua nos ensaios, seriedade, presença nas apresentações. A coreografia padronizada e executada com rigor é condição fundamental para a boa apresentação e, desta forma, é compatível com a ideia de profissionalização exigida pelos grupos (OSORIO, 2012, p. 249).

Nos ensaios o que é bastante cobrado são: alinhamento, sorriso, o uso de vestidos para garantir a execução harmoniosa do balanço das saias para as mulheres e o uso do chapéu para os homens. Com o passar do tempo, surge a figura do “marcador2” ou “marcante”, sendo estes os responsáveis por enunciar os passos da quadrilha, e que “aprendiam as sequências coreográficas nos manuais de dança, nas aulas ministradas por professores da área” (ZAMITH, 2011, p. 101), repete sempre que a quadrilha deve estar impecavelmente alinhada, ou seja, a coreografia precisa ser executada com o

2A figura do marcador se tornou responsável por organizar os casais pelo salão e dar o comando de

movimentação figura do coreógrafo especificamente, este acaba tendo o papel de transmissor desta dança, pois cria/inventa todos os passos ou boa parte, como também é responsável por passar para toda a quadrilha.

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máximo de perfeição, o que significa dançar com brilhantismo o xote, o xaxado, o baião. O sorriso constante é indispensável às meninas, para mostrar graça e alegria. Algumas delas são tidas como exemplo a imitar, pois, durante os ensaios, sorriem bastante a fim de externar o prazer que lhes suscita a dança. Ademais, é necessário que demonstrem altivez, charme e empolgação. (MAGNANI, 2009), “[...] eles falam de múltiplas formas, e o movimento corporal é um instrumento de comunicação muito presente. [...] Uma tela se abre diante daquele cenário de gestos e palavras que se unem como a decifrar a realidade” (ALVES, 2011, p. 14).

O que pretendo demonstrar com análise das transformações do grupo junino entre os anos de 2009 e 2018 são algumas tendências vividas pelos grupos para produzirem seus grandes espetáculos. Visando a apresentação nos festivais, as quadrilhas passam por um processo de seleção pautado em critérios de avaliação bastante semelhantes aos utilizados nos julgamentos das escolas de samba no Rio de Janeiro: figurino, harmonia/conjunto, adereços, coreografia e consequentemente, ao longo do ano, os grupos se preparam com encontros e ensaios freqüentes logo que acaba o São João anterior.

Os processos vivenciados pelo grupo Explosão Nordestina refletem a profissionalização e a espetacularização da cultura popular, processos de patrimonialização e relações entre manifestações populares, mercado e turismo.

Políticas municipais, estaduais, nacionais e internacionais voltadas para a valorização dos patrimônios culturais têm provocado novas dinâmicas nas manifestações populares. Os processos de patrimonialização de bens culturais e as respostas das populações locais a tais ações têm estimulado dinâmicas identitárias que se cruzam com o mercado e o turismo (cf. Lima Filho; Eckert & Beltrão, 2007).

Enfim com uma visão dinâmica para as culturas populares podemos concluir que nos permite criar, recriar e reelaborar, não no sentido de descaracterizar ou acabar, mas no intuito de manter toda uma cultura viva, de forma que ela possa ser apreciada por muitos anos.

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III – HAVIA BALÕES E FOGOS NO AR: QUADRILHA JUNINA EXPLOSÃO NORDESTINA NO ARRAIÁ

A Junina Explosão Nordestina Produções Artísticas é um grupo formado em 2008 na cidade de Santa Rita - PB no Bairro Tibiri II, com intuito de brincar a festa de São João e fomentar na cidade a cultura popular. A ideia surgiu após um grupo de amigos terem a decisão de sair de um grupo de quadrilha junina da cidade de João Pessoa - PB, e formar um grupo em sua própria cidade de Santa Rita- PB, durante o São João do ano de 2008.

A proposta de inicio não seria apenas um grupo de quadrilha, mas também que este grupo fosse um grupo de danças folclóricas. Porém esta idéia se manteve apenas nos três primeiros anos, pois os esforços de manutenção dos dois grupos eram bastante grandes e por isso optaram continuar apenas com a Quadrilha Junina. Registraram, o grupo junino na data de 04 de maio de 2009 com CNPJ de número: 10.805.842/0001-19.

O grupo Quadrilha Junina Explosão Nordestina vem se destacando nos eventos dentro e fora do estado ao longo desses 10 anos de São João. A Quadrilha já chegou a apresentar alguns de seus espetáculos nos estados de Sergipe (2012) e Pernambuco (2014). Através de apresentações individuais, a quadrilha teve representação nas 4 edições realizadas até o momento no Concurso Nacional de Rainha Junina da Diversidade, representação essa, feita por sua rainha gay Samara Smith.

A idealização desse projeto foi feita por profissionais das Artes Cênicas e demais linguagens artísticas culturais e todos moram no mesmo bairro. O principal objetivo do grupo é abranger as diversas modalidades culturais de uma forma geral, agregando jovens de vulnerabilidade social do bairro e das cidades circunvizinhas como: Sapé, Cruz do Espírito Santo, Pilar, Gurinhém, Mari e Bayeux, resgatando e disseminando, assim, entre os mesmos a cultura popular. O grupo vem se destacando no cenário cultural com uma trajetória de sucesso e uma pesquisa especialmente voltada para as áreas da cultura popular.

Grande parte dos brincantes que fazem parte do grupo são de outras cidades. Aproximaram-se em um primeiro momento como admiradores, que conheceram o

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trabalho da junina nos momentos de festa e depois tornaram-se brincantes da família3 Explosão.

A direção artística da quadrilha durante esses dez anos sofreu algumas alterações, algumas pessoas que contribuíram de forma significativa para a história da quadrilha, não estão mais presentes, mas ainda existem alguns dirigentes que estão até hoje desde sua fundação como: Cílio Barbosa (Marcador), José Hilton (Presidente), Suellen Cavalcanti (Noiva) e Diglay Araujo (Cantor).

A Quadrilha tem uma sede, situada na Avenida Conde, Tibiri II, Santa Rita- PB, é destinada para guardar cenários, troféus, figurinos e, na reta final, serve para confecções de figurinos, cenários, arranjos etc. Além disso, muitos jovens provenientes de outras cidades e bairros distantes são acolhidos na sede.

No ano passado (2018) a Junina completou 10 anos de existência, continuando seus trabalhos com muita força, resistência e alegria. Atualmente, a quadrilha é vice campeã da cidade de Santa Rita, conquistando assim o titulo de hexacampeonato. Desde o seu inicio, o grupo vem crescendo ano após ano, promovendo eventos e atividades junto a comunidade onde está localizada.

FIGURA 8 – Final do Paraibano, Explosão Nordestina 2014 em João Pessoa – PB Fonte: Acervo pessoal do autor

3Família é uma categoria nativa utilizada no contexto das organizações juninas que simboliza que as pessoas integram o mesmo grupo.

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Uma das maiores referências da festa junina são as quadrilhas juninas: danças realizadas em grupos, com passos “pré – estabelecidos”

Eis algumas marcas de longa existência, de fácil identificação nas quadrilhas brasileiras atuais: révérence= cumprimento, en avant = para frente,

enarrière= para trás, traversè= cruzar, retraver-sé= cruzar novamente, balancé = balançar, balancé à vos dames= balançar a dama, changé de place= trocar de lugar, chassé= caminhando, chassé-croisé= caminhando

cruzado, chaîne de dames= corrente de damas, chaîne de cavaliers= corrente de cavalheiros, en avant deux, quatre, huit= dois, quatro, oito à frente,

cheminau bois = caminho da roça, tour de main à gauche et à droite= volta

com a mão esquerda e direita; promenade= passeio, grandrond= grande roda,

moulinet de dames= moinho de damas, moulinet de cavaliers=moinho de

cavalheiros, ponts= ponte, lignes = filas paralelas, escargot= caracol, galop= galope (ZARATIM, 2014, p. 108).

Com as transformações dos últimos tempos vinculados aos processos de transformação social, internet, indústria cultural, entre outros fatores que vêm ocasionando as constantes mudanças da nossa sociedade, os passos das quadrilhas passam a ter um novo significado.

Esse processo de modificação das coreografias a cada ano vem exigindo mais meses de ensaios e dedicação por serem mais complexos. Há a incorporação de passos e movimentos de outras danças, mas a essência permanece em alguns passos como: a grande roda, túnel, caracol e os balancês, porém, mesmo esses passos tornaram-se mais elaborados para o encantamento do público e principalmente dos jurados.

No seu primeiro ano (2009) a Quadrilha Explosão Nordestina veio abrilhantando os arraiás, com o tema: “Bandeiras, Fogueira e Balão: de alegria explode meu coração, hoje é aniversário de São João”. O espetáculo iniciou com dois personagens narrando o nascimento de São João Batista segundo a bíblia. A coreografia inicial para a entrada no arraiá dava-se em uma encenação marcada pelos brincantes (masculinos) vestidos de São João, o São João do carneirinho. Acontecia a preparação para a festa de São João com louvação da bandeira e arrumação da fogueira que é o sinal avisando que o Santo Padroeiro nasceu e que virou um dos símbolos dos festejos. A fim de continuar a festa de aniversário de São João o baile é marcado pelo casamento, além disso, houve uma procissão de São João pra ressaltar a fé do povo no santo junino.

As coreografias, nesse contexto, eram compostas de muitos movimentos com os braços. As damas pouco usavam o seu jogo de saia como elemento estético. As coreografias eram dançadas na sua maioria em filas formadas por quatro casais, sem muitas formações, diferenciada das que são utilizadas atualmente.

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24 FIGURA 09 – Quadrilha Junina Explosão Nordestina no Concurso de Quadrilha

realizado pelo SESC em 2010 Fonte: acervo pessoal do autor

Nas coreografias desenvolvidas em 2018, todos os brincantes representavam bonecos de pano, os movimentos eram enrijecidos, lembrando movimentos “robóticos”, existia outro grupo na quadrilha que durante o espetáculo se transformavam em bonecos de barro fazendo uma singela homenagem ao mestre Vitalino, realizando uma troca de figurinos aos olhos do público. O tema abordava a história do artesão que confeccionava boneco de pano e barro. Nesse décimo ano de existência a quadrilha já utilizava outras formações espaciais, como por exemplo: ‘X’, círculos, quadrados, figuras geométricas na sua grande maioria. Laraia (2002) afirma sobre essa cultura em transformação que:

[...] cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que é fundamental para a humanidade a compreensão das diferenças entre povos de culturas diferentes, é necessário saber entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo sistema. Este é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente este constante e admirável mundo novo do porvir (LARAIA, 2002, p.101).

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25 FIGURA 10 – Junina Explosão Nordestina em 2018 no concurso da ONG – Pro dia

Nascer Feliz

Fonte: acervo pessoal do autor

As coreografias passaram a ser executadas de forma individual. Mesmo dançando juntos, homens e mulheres desempenham performances diferenciadas e cada vez mais individualizadas, sempre atendendo as ideias a priori de como se devem apresentar-se uma dama e um cavalheiro. Para Chianca (2007) as quadrilhas juninas se tornaram um espetáculo à parte, bastante disputado e que sempre atrai grande público para os festivais. Se os grupos de quadrilhas juninas continuassem apresentando apenas os passos tradicionais, talvez não tivessem tanta relevância como nos dias atuais, de forma que o processo evolutivo foi acompanhado por transformações culturais.

No figurino Segundo Freire, Rocha e Gomes (2011, p. 02), “o vestuário típico representava o povo da roça, as damas usavam vestidos longos, muito coloridos e cheios de bordados. Os homens vestiam camisas listradas ou xadrez, chapéu, lenço no pescoço, calça com remendos e chinelos”. Essa forma de dançar quadrilha denomina-se de Quadrilha Tradicional. Com o passar do tempo a quadrilha tradicional se tornou absoleta em alguns aspectos, porém, sua realização ainda tem bastante representatividade nas escolas.

O Inventário da Oferta Turística de Pernambuco realizado pela EMPETUR e SEBRAE com o apoio da SUDENE (A-2.7.4-1998), descreve que a quadrilha junina hoje é:

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“[...] uma mudança na estrutura original da quadrilha – a indumentária (incluindo um guarda-roupa mais rico e com características do apresentado pelo folclore gaúcho), da coreografia e do repertório musical, que passou a ser mais amplo e não necessariamente relativo ao período de São João”.

FIGURA 11– Figurino da Junina Explosão Nordestina, ano 2009

FIGURA 12 – Figurino da Junina Explosão Nordestina, ano 2018

O figurino também se inclui dentro das transformações que vêm acontecendo nas quadrilhas. Em seu primeiro ano, o auge era os figurinos volumosos os tecidos pesados, bordados de fitas, passamanarias, chitas, xadrez, e bandeirolas. Materiais esses que não deixam de estar presente na indumentária do quadrilheiro (a), mas atualmente a indumentária vem trazendo uma concepção em relação com o tema/enredo que cada quadrilha se propõe a desenvolver a cada ano.

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As roupas também se transformaram, entretanto a elegância continua sendo a meta. Se na bibliografia sobre as origens das quadrilhas e sua relação com as danças de corte francesas encontramos descrições de vestimentas feitas com tecidos finos, leves e cheios de pompa, hoje os materiais utilizados não são diferentes, são considerados de alta-costura, com pedras swarovski, mantas de strass, bordados a mão, as saias das damas são com plissados bastante cheios para ampliar a percepção do movimento. Giffoni (1973) afirma que nas próprias indumentárias o gosto artístico e a cultura se revelam, além de ritmo, música, trabalhos manuais, entre outros. Durante a entrevista, uma das fundadoras da Explosão Nordestina aponta, Suellen Cavalcanti (2019)

A junina veio vestida em tons de rosa, lilás e preto e era divida em duas fileiras familiares da noiva em tons rosa que era cor predominante, lilás e preto e as outras duas, familiares do noivo que aqui já era o lilás que predominava. O pai da noiva era devoto de São José e faz uma trégua com o noivo e sua família, ficando acertado que se no dia de São José chovesse no sertão ele iria conceder a mão de sua filha e acabar de vez com a rivalidade entre as famílias, toda essa ‘estória’ vai sendo narrada através das músicas que facilita uma melhor compreensão por parte dos espectadores. (Cavalcanti, 2019)

O enredo das quadrilhas atualmente não gira em torno somente do casamento. Há enredos temáticos que falam de temas sociais, de outras culturas, outras danças, ou mexendo com o imaginário do público, trazendo propostas irreais e fantasiosas. No ano de 2010 a “Explosão” abordou uma temática que envolveu as questões sociais e trouxe a sociedade uma reflexão acerca do preconceito. Decidiram abordar a discriminação racial que ainda é preponderante no Brasil e escolheram um dos grandes nomes do movimento quilombolo, conhecido como, Zumbi dos Palmares. Assim, delimitaram o tema: a raça negra tem o seu valor – Zumbi dos Palmares, nosso professor.

A quadrilha buscou mostrar à chegada dos colonizadores, os barcos Negreiros, a religiosidade, as características de um povo que foram escravizados e discriminados apenas por terem a cor negra. O casamento junino é um dos pontos altos de qualquer espetáculo de quadrilha e nele foi abordada a relação do preconceito religioso uma vez que as grandes maiorias dos escravos tinham como religião o candomblé e que de certa forma é mal visto pela maioria da população, onde a noiva pertencia ao candomblé e o noivo ao cristianismo, onde foi nesse cenário onde tudo ocorria. (Cavalcanti, 2019)

O guia História do Folclore da Secretaria de Turismo da Prefeitura do Recife (1997) define que a quadrilha junina estilizada: “É uma nova forma de expressão junina. São grupos de dança com diversas coreografias, onde os dançarinos executam passos

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específicos àquela música”. Com essa nova forma de dança, a Quadrilha Estilizada4 se popularizou nos estados do Nordeste, trazendo em suas danças coreografias voltadas para apresentações, concursos, utilizando recursos tecnológicos durante suas performances. Segundo Trigueiras (s/d) a espetacularização das culturas populares é uma necessidade para a sobrevivência delas em sociedade e é criada com o propósito de atender ao consumo do mundo globalizado, midiatizado.

De modo geral, observa-se que práticas culturais tradicionais festivas ao longo da década estudada tiveram modificações no que se refere a uma dimensão espetacularizada do evento, que pode ser visualizada em múltiplos aspectos, como na dança, na música, na vestimenta e na alegoria (ALBUQUERQUE,2013, p.23).

Outro ponto pertinente às transformações das festas juninas é a questão do espaço, os locais em que se dançava no período da corte francesa, eram salões enormes e luxuosos. Além disso, houve alterações igualmente nas músicas havia a presença de orquestras, era suíte de contradanças, algo alegre, e que tinha acompanhamento do piano. Nessa dança que surgiu nos castelos chegou às fazendas e depois migrou para a cidade, podemos identificar muitas transformações que são próprias das mudanças de ambientes e de certa mudança de status social.

Em 2009 a quadrilha Explosão Nordestina se apresentava em palhoças organizadas na rua, feitas de troncos de árvores, palhas de coqueiro. Hoje as apresentações são realizadas em grandes ginásios e estruturas como arena, um grande palco para o público.

As músicas foram substituídas em sua maioria por músicas autorais, com letras que relatam a história contada pela quadrilha, com os ritmos regionais como: xote, baião, forro, entre outros.

4 “No início da década de noventa, ao ser entrevistado por uma rede de TV, em um programa de auditório, um “quadrilheiro” dava conta de que, a travessia da quadrilha tradicional à estilizada devera-se ao fato de um grupo pernambucano homenagear o povo gaúcho, numa época em que os estados da Região Sul ensaiaram um movimento separatista donde, se conseguissem, o novo país se denominaria de República dos Pampas. O movimento não prosperou, contudo, a tendência do folclore gaúcho especialmente as danças e as indumentárias foi um braço para a derivação da quadrilha estilizada. Na fase de transição de estilo, as quadrilhas se apresentavam com bombachas, chapéu de feltro, lenços vermelhos no pescoço, boleadeiras. As moças com trajes e adereços também fazendo uma alusão à indumentária típica das danças sulistas, diferente dos vestidos de chita da quadrilha tradicional ou matuta” (MELO, 2006. p. 3).

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