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Seção 5. EQUILÍBRIO. Seção 5. EQUILÍBRIO

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Seção 5. EQUILÍBRIO

LIÇÃO 21. Estágios do cantar dos santos nomes LIÇÃO 22. Renúncia e consciência espiritual LIÇÃO 23. Pureza e não-violência

LIÇÃO 24. A forma transcendental da Deidade LIÇÃO 25. A relação de mestre e discípulo Resumo das lições 21-25

Seção 5. EQUILÍBRIO

A prova de que o conhecimento transcendental de bhakti está sendo bem compreendido é que seu praticante passa a cumprir com mais eficiência os seus papéis e, além disso, é capaz de reservar tempo para suas práticas devocionais. Essa característica, que pode ser chamada de “equilíbrio”, é uma das qualidades que mais se espera num espiritualista, mas é também um dos seus maiores desafios, principalmente quando seu cotidiano é marcado pela necessidade de estar num ambiente de trabalho desfavorável, onde terá que se associar com pessoas inconvenientes. Por esse motivo, aqueles que têm a oportunidade de viver num ambiente espiritual ou, de alguma forma, estão livres das dificuldades mencionadas, devem se sentir não apenas grandemente afortunados, mas também devem valorizar os heróis que conseguem sua estabilidade na vida espiritual, mesmo estando em condições desfavoráveis. Embora essa posição não seja tão facilmente alcançada, devemos lembrar que a consciência de Kåñëa não está limitada em absoluto a condições exclusivas. O exemplo clássico é a situação do guerreiro espiritual Arjuna que teve que manter sua consciência de Kåñëa em pleno campo de batalha (Gétä 2.48):

Desempenhe teu dever com equilíbrio, ó Arjuna, abandonando todo apego a sucesso ou fracasso. Essa equanimidade chama-se yoga.

Certamente, o estilo equilibrado de um verdadeiro yogé é a reprodução perfeita da condição de uma vida no modo da bondade. E uma das fontes desse equilíbrio é certamente o desapego – mas não o mero desapego das posses materiais, e sim dos prazeres ilusórios que ela pode proporcionar, incluindo o prestígio, a popularidade, a importância falsa.

Já discutimos as características dos três modos da natureza e nos certificamos de que o modo da bondade é a base do equilíbrio. Por exemplo, uma pessoa impelida por rajas, a paixão, anseia fortemente por aspirações materiais. De alguma forma, sua paixão material pode ajudá-la a se exaltar, mas a força das ações e reações

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materiais podem também levá-la à depressão. De fato, a dificuldade de conter a ansiedade, bem como a instabilidade, são características visíveis daqueles que estão no modo da paixão. Assim, quando se veem impossibilitados de satisfazer seus anseios, eles são dominados pela lassidão e pela letargia e sentem que a vida perdeu sentido. Quando contestados, seus corações pulsam mais forte, suas mentes disparam e criam espaços para os sentimentos menos nobres. Por sua vez, no modo da obscuridade, elas são tragadas pela inércia, abdicam dos seus sonhos e se tornam apáticas e indolentes. A conclusão é que o tão sonhado equilíbrio só pode ser obtido por sattva, a bondade, pois somente ela mantém a influência dos opostos sob controle. É somente ela que produz verdadeira satisfação interior, pois é a responsável pelo desenvolvimento do conhecimento e iluminação que, por sua vez, despertam verdadeira humildade e desapego. Uma pessoa equilibrada nunca anseia por desfrutar de ser glorificado pelos outros, pois sabe que tanto a honra quanto a desonra são ilusórias e estão ligadas ao ego falso. Porque está fixa na percepção ahaà brahmäsmi (“Eu sou espírito”), um ser eterno e repleto de consciência e bem-aventurança, as dualidades não lhe afetam. Ela sente que prazer e dor, tristeza e alegria, honra ou desonra não podem lhe adicionar ou deduzir, já que entende sua verdadeira natureza, uma alma espiritual plena, parte integrante do Absoluto.

* * *

Na lição 21, tratamos dos três diferentes níveis de praticantes do cantar dos santos nomes, o que vai depender do grau de compreensão e comportamento de cada um. Devemos almejar atingir, pelo menos, o estágio intermediário, quando nosso cantar será executado com grande sinceridade e convicção e quando demonstraremos o devido respeito pelos santos nomes. Isso nos ajudará a entender cada vez mais a natureza espiritual dos santos nomes e nos dotará de força suficiente para nos livrarmos dos nossos maus-hábitos. Nessa mesma lição, é feita uma comparação do santo nome de Kåñëa com o poderoso sol, enquanto o desconhecimento das glórias desse cantar e os maus-hábitos são como nuvens que obscurecem o sol do santo nome.

Na lição 22, discorremos sobre o significado de renúncia verdadeira e faz a relação desse tema com o desenvolvimento da consciência de Deus. Em outras palavras, aquele que compreende que pertence ao Senhor e que ninguém deve alegar direito de propriedade sobre nada é o verdadeiro renunciante. Quando alguém entende que nada lhe pertence, a própria possibilidade de renúncia desaparece. Como ele naturalmente emprega tudo a Seu serviço, sua consciência é superior à qualquer renúncia artificial. Essa consciência perfeita faz com que ele não aspire ou se lamente por coisas mundanas. Mas, quem evita a consciência de Kåñëa está sempre confuso, pois, esquecido da sua posição original, não presta serviço ao Senhor.

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Na lição 23, tratamos de çaucam, “limpeza” da mente, do corpo e do comportamento da pessoa. Portanto, analisamos a importância da dieta ideal humana, a oferenda do alimento a Deus, bem como a pureza na vida sexual regulada, e ahimsä, a “não-violência” que, entre outras coisas, significa não agir de modo a prejudicar a evolução de alguma entidade viva.

Na lição 24, abordamos a forma espiritual das Deidades. Como, no estado que nos encontramos não podemos ter acesso à forma espiritual de Deus, foi explicado que o Absoluto Se manifesta numa forma aparentemente material, tais como mármore, bronze e madeira, que nada mais são do que manifestações de Sua própria energia e, assim, possamos nos relacionar com Ele, mesmo com nossos sentidos atuais. A lição 25 procura mostrar que, sem a ajuda do mestre espiritual, sem ouvirmos o conhecimento transcendental da sua boca e sem nos abrigarmos nele através da iniciação, não alcançaremos a felicidade verdadeira. De fato, através da sua associação, qualquer pessoa pode entender o significado da vida espiritual e, assim, se tornar um verdadeiro devoto.

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LIÇÃO 21

Estágios do cantar dos santos nomes

Dependendo da compreensão e do comportamento do praticante, o cantar dos santos nomes pode ser executado em três diferentes níveis. O praticante de primeira classe é aquele que manifesta comportamento absolutamente exemplar, além de ser dotado de grande erudição e sabedoria. Seu profundo conhecimento sobre as características divinas dos santos nomes, da sua natureza absoluta, da sua capacidade purificatória e das suas ilimitadas potências faz dele um verdadeiro amante de Deus. Sua consciência imaculada e puramente espiritual o mantém absorto constantemente em glorificar seu Senhor adorável. O praticante de terceira classe é quase o oposto daquele de primeira classe. Embora pratique o canto eventualmente, o seu desconhecimento das glórias dos santos nomes e desinteresse pelas práticas espirituais não atuam de modo a aperfeiçoar o seu comportamento. Por sua vez, o praticante no estágio intermediário é aquele que, mesmo não tendo compreensão profunda e suficiente do santo nome, canta os santos nomes com grande sinceridade e convicção. Sua principal característica é o seu respeito pelo santo nome e seu empenho e determinação em cantar com pureza. Como resultado, a compreensão clara da natureza divina dos santos nomes se manifesta internamente em seu coração. Com o tempo, essa compreensão cresce e aumenta sua potência espiritual, capacitando-o a se libertar dos maus-hábitos conhecidos como anärthas.

O sol do santo nome e as nuvens da ignorância

O santo nome de Kåñëa pode ser comparado ao onipotente sol, cuja refulgência dispersa a escuridão da ignorância (mäyä). De fato, foi com o propósito de esvaecer a escuridão que assola os corações e mentes das pessoas que o Senhor surgiu no horizonte da era atual como o sol do santo nome. Embora isso seja um fato, quando a visão da pessoa está coberta pelas névoas da obscuridade e pelas nuvens dos maus-hábitos, ela não é capaz de contemplar o maravilhoso sol do santo nome. Ou seja, a capacidade do ser vivo de perceber e contemplar o glorioso brilho do sol dos santos nomes depende da espessura da cobertura das névoas da ignorância em sua inteligência e da quantidade de nuvens dos maus-hábitos alojadas em seu coração e mente. É claro que simples nuvens ou névoas são absolutamente insuficientes para cobrir o imenso sol. O que ocorre, de fato, é que a visão das pessoas se torna encoberta, mas nunca o sol do santo nome. Ou seja, o que obscurece e coloca a pessoa refém da escuridão de mäyä é a falta de entendimento espiritual sobre a natureza dos santos nomes e o comportamento inadequado. O fato de desconhecer sua própria natureza espiritual e ignorar a supremacia do Senhor faz com que uma

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pessoa aja de maneira egoísta e, com isso, fique sujeita as reações kármicas e atraia para si mais ilusão e ignorância. Por outro lado, quem entende que a verdadeira natureza dos seres vivos é tão transcendental quanto a do Senhor se ilumina facilmente e se livra da escuridão da ignorância.

Três tipos de maus-hábitos

Os maus-hábitos (anärthas) são de três espécies e são comparados às diferentes nuvens que cobrem a consciência dos seres vivos:

1. A primeira nuvem se chama asat-tåñëa e se refere a almejar o ilusório e transitório. Ou seja, desenvolver ansiedade por ganhos materiais mundanos e cultivar desejos que sejam desfavoráveis para o progresso espiritual é um tipo perigoso de anärtha;

2. Hådaya-daurläbyam é o nome da segunda nuvem de ignorância. Tal anärtha se

refere às propensões materiais do coração e da mente que colocam a pessoa numa condição de fraqueza espiritual;

3. Finalmente, a terceira nuvem de ignorância e a mais densa e perigosa de todas chama-se aparädha e se refere às ofensas cometidas conscientemente por uma pessoa.

Embora os santos nomes sejam sempre perfeitos em si, esses três anärthas formam nuvens que ofuscam a visão do ser vivo e o impede de ter acesso ao sol dos santos nomes. Enquanto o ser vivo não estiver firmemente estabelecido na compreensão correta do relacionamento entre Deus e com Suas energias, ele continuará cantando no estágio inferior ou intermediário. Somente quando se refugiar plenamente no mestre espiritual fidedigno e executar serviço devocional puro é que tais nuvens e névoas irão se dispersar gradativamente. Com isso, o sol do santo nome irá brilhar intensamente no coração e sua refulgência irá iluminar o coração do devoto com amor por Deus, fazendo-o sentir êxtase a cada momento do cantar. Isso é possível quando o devoto está fixo no conhecimento acerca do Senhor Kåñëa, do ser vivo e do relacionamento amoroso e eterno entre eles.

É devido ao contato com a natureza material que o ser vivo se esquece do seu relacionamento eterno com o Senhor e, desse modo, perambula sem destino nesse mundo de ilusão. Sem restabelecer sua relação com o Absoluto, sua busca pela bem-aventurança espiritual perdida será em vão. A penitenciária do mundo material, onde vivem aqueles que deram as costas para Kåñëa, é conhecida como Devé-dhama. Essa morada material consiste em quatorze diferentes celas, ou quatorze sistemas planetários. Devé-dhama não é um lugar de real felicidade e bem-aventurança, pois os prazeres oferecidos são temporários e causam mais sofrimento, mesmo que imperceptivelmente. Ainda assim, os sofrimentos materiais são como um remédio. Ademais, através de um Vaiñnava, o ser vivo pode ser instruído sobre os santos nomes e, gradativamente, pode se tornar iluminado com o amor puro por Deus, que é a essência de todas as práticas religiosas. Para tal

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alma afortunada, a liberação impessoal, quando a alma perde sua individualidade e se funde no brilho impessoal do corpo transcendental do Senhor, brahmajyoti, é considerada uma simples fantasmagoria.

As glórias do estágio intermediário

O estágio intermediário não pode de maneira alguma ser subestimado, pois proporciona muitos benefícios espirituais, aumenta as atividades piedosas e outorga bhakti verdadeira. Na verdade, o estágio intermediário do cantar é uma grande virtude e proporciona ao praticante uma fortuna espiritual muito maior que religiosidade material, que resultados da execução de votos e sacrifícios, que práticas de yoga, etc. O cantar regular dos santos nomes no estágio intermediário absolve uma pessoa de todos os seus pecados e a libera dos efeitos da obscura era de Kali. Além disso, as misérias infligidas pelos fantasmas, maus espíritos e pelas influências planetárias maléficas não podem mais atuar sobre esse afortunado ser vivo. Ou seja, mesmo se uma pessoa está destinada a visitar os planetas infernais, devido ao seu mal karma passado, o cantar no estágio intermediário irá libertá-la disso. Na verdade, todas as suas reações pecaminosas de atividades de vidas anteriores responsáveis pelos diferentes efeitos do karma são eliminadas. O cantar dos santos nomes no estágio intermediário traz um resultado maior do que os resultados obtidos por estudar todos os Vedas, pela visitação dos diferentes locais de peregrinação ou pela realização do maior número possível de obras altruístas e piedosas.

As quatro metas oferecidas nos Vedas – religiosidade, fortuna, desfrute sensorial e liberação – estarão todas disponíveis através do cantar intermediário, que é dotado do inimaginável poder de purificação e eleva o praticante a um estágio muito elevado de percepção espiritual. Como consta nas escrituras, esse estágio oferece residência eterna na espiritual morada de Vaikuntha, especialmente na era de Kali.

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LIÇÃO 22

Renúncia e consciência espiritual

Embora, não se perceba externamente tanta diferença entre os modos de agir de uma pessoa em consciência de Deus e outra em consciência material, internamente, existe uma diferença brutal entre elas. No primeiro caso, o ego falso da pessoa atua de modo a convencer sua vítima de que ninguém além dela é responsável pela causa das suas atividades. Por desconsiderar o controle absoluto do Senhor, ela reivindica todo o mérito para si própria. Ela não entende que até o mecanismo do seu próprio corpo que é produzido pela natureza material está sujeito às suas leis e é supervisionado pelo Criador.

Devemos nos satisfazer com a nossa cota

De acordo com o conhecimento védico, a pessoa recebe um corpo novo a cada vida, de acordo com seu mérito ou demérito. Esse corpo possui um conjunto específico de sentidos de percepção que serve para confundir cada vez mais a alma corporificada, quando usados unicamente para satisfazer as demandas do corpo, deixando-a sempre distante da sua relação com Kåñëa. Entretanto, a pessoa consciente de Deus é totalmente diferente. Ela é como um funcionário de banco que lida com milhões e nada exige para si própria, pois compreende filosoficamente que tudo pertence ao Senhor e, portanto, nada lhe pertence ou pertence a alguém em particular. Assim como o funcionário do banco, ela executa uma determinada espécie de trabalho conforme sua natureza e posição social, ou seja, os são resultados de seu karma passado. E, assim como um bancário recebe seu salário ao final do mês, analogamente, uma pessoa consciente de Deus fica satisfeita com a cota recebida de acordo com seu mérito. Portanto, os deveres efetuados em consciência de Kåñëa não produzem reações indesejáveis, mas conduzem o executar ao caminho da liberação, ao passo que as atividades que visam unicamente o incremento dos confortos corpóreos impelem o executor a permanecer no cativeiro material.

Uma vida em vão

A causa de uma pessoa desenvolver avidez pelo gozo dos sentidos é o desconhecimento de que seu corpo, resultado das atividades de suas vidas passadas, está fadado a produzir sofrimentos e a perpetuar seu condicionamento. Portanto, aquele que não compreende sua verdadeira identidade espiritual vive simplesmente em vão, pois, sem compreensão espiritual, terá que correr atrás dos insaciáveis desejos produzidos pelos sentidos e permanecerá transmigrando de um

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corpo a outro. Para livrar-se do cativeiro da existência material ela terá que, de algum modo, substituir seu interesse no gozo dos sentidos pelas atividades do serviço devocional. Tais atividades devocionais são consideradas superiores à simples renúncia às atividades materiais, pois a mera renúncia não purifica plenamente o coração da alma condicionada e ela será forçada a agir na plataforma egoísta enquanto seu coração estiver impuro. Por outro lado, além de ajudar automaticamente uma pessoa a se eximir dos resultados kármicos, a ação em consciência de Deus a impedirá de descer à plataforma material. Portanto, a ação em consciência de Deus é superior à ação materialista e à renúncia da ação, uma vez que, em ambos os casos, notam-se a falta de equilíbrio e de satisfação interior.

Como podemos falar de renúncia?

Na verdade, a renúncia adequada é fruto do conhecimento de que tudo pertence ao Senhor e que, portanto, ninguém deve alegar direito de propriedade sobre nada. Se nada nos pertence, como podemos falar de renúncia? Aquele que sabe que tudo é propriedade de Deus já está situado em renúncia. Quem compreende que tudo pertence a Deus emprega naturalmente tudo a Seu serviço. Essa consciência é definitivamente melhor do que qualquer quantidade de renúncia artificial. O renunciante dedicado ao serviço transcendental amoroso do Senhor se torna completo em si mesmo e não tem porque aspirar ou lamentar por algo. Entendendo-se como uma centelha espiritual do Senhor que nada tem a ver com o mundo material, ele sempre relaciona suas ações com o Supremo.

A causa da confusão da alma condicionada é sua atitude de evitar a consciência de Kåñëa. Por conseguinte, embora seja constitucionalmente eterna, bem-aventurada e plena de conhecimento, devido à sua condição atômica de existência, ela pode se esquecer que sua posição original é prestar serviço ao Senhor. É por isso que ela acaba caindo na armadilha da ignorância. Mas, as práticas de bhakti levam a pessoa a conhecer sua verdadeira posição constitucional e a agir apropriadamente. Nos processos de jïäna e de yoga os propósitos são, respectivamente, o conhecimento e a restrição dos sentidos. Mas ambos os propósitos são automaticamente cumpridos na consciência de Kåñëa. Entretanto, se alguém não for capaz de abandonar as atividades de sua natureza egoísta, então jïäna e yoga não surtirão verdadeiros efeitos. O objetivo final é que a entidade viva abandone toda a satisfação egoísta e esteja preparada para satisfazer o Supremo. Mas, quem não tem informação sobre o Supremo fatalmente se ocupará em buscar a própria satisfação, já que ninguém pode permanecer na plataforma de inatividade.

Embora existam muitos obstáculos nas práticas de hatha, dhyäna e jïäna-yoga, especialmente nessa era de simulação e desavença, não há problemas na execução do bhakti-yoga. Enquanto se tem um corpo material, faz-se necessário atender às exigências do corpo, a saber, comer, dormir, defender-se e acasalar-se. Mas a

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pessoa em consciência de Kåñëa não instiga desnecessariamente seus sentidos para aumentar tais exigências corpóreas. Ela tira o melhor proveito de um mau negócio por aceitar as necessidades básicas da vida e por sentir felicidade na execução dos seus deveres em consciência de Kåñëa. Assim, ela não se deixa afetar por situações ocasionais, tais como acidentes, doenças ou penúria. Compreendendo que, nesse mundo, as coisas vão e vêm, ela se torna tolerante diante das dualidades e, assim, atinge o mais elevado nível na prática do yoga.

Quatro versos maravilhosos

Os quatro versos a seguir definitivamente nos ajudam a compreender o significado de “consciência de Deus”:

Eu sou a fonte de todos os mundos materiais e espirituais. Tudo emana de Mim. Os sábios que conhecem isso perfeitamente ocupam-se no Meu serviço devocional e adoram-Me de todo o coração. (Gétä 10.8)

Quem estuda perfeitamente os Vedas com as autoridades e se torna um sábio chega à compreensão de que Kåñëa é a origem tanto da matéria quanto do espírito. Devido à essa compreensão, ele se mantém fixo em consciência de Deus. Tendo essa referência, ele aplica a sua energia em serviço devocional e se torna cada vez mais iluminado.

Os pensamentos de Meus devotos puros residem em Mim, suas vidas são plenamente devotadas a Meu serviço e eles obtêm grande satisfação e bem-aventurança, sempre se iluminando uns aos outros e conversando sobre Mim. (Gétä 10.9)

Este verso mostra como o devoto puro utiliza sua mente, seu corpo e palavras no serviço transcendental amoroso do Senhor. Na verdade, eles estão vinte e quatro horas por dia ocupados em glorificar as qualidades e passatempos do Senhor Supremo. E, mesmo antes de se situarem na fase madura, quando despertam verdadeiro amor por Deus, eles sentem grande prazer na associação com outros e saboreiam o prazer transcendental proveniente do próprio serviço. Çréla Prabhupäda afirma:

O Senhor Caitanya compara o serviço devocional transcendental ao ato de semear uma semente no coração da entidade viva. Há inúmeras entidades vivas vagando por todos os diferentes planetas do Universo, e dentre elas, poucas têm a sorte de encontrar um devoto puro e obter a oportunidade de compreender o serviço devocional. Esse serviço devocional é tal qual uma semente, semeada no coração de uma entidade viva, que continua ouvindo e cantando Hare Kåñëa, Hare Kåñëa, Kåñëa Kåñëa, Hare Hare | Hare Räma, Hare Räma, Räma Räma, Hare Hare; essa semente germina, assim como a semente de uma árvore brota quando é regada com regularidade. A planta espiritual do serviço devocional aos poucos cresce e cresce até penetrar a cobertura do Universo

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material e entrar na refulgência brahmajyoti no céu espiritual. No céu espiritual, essa

planta também continua a crescer até alcançar o planeta mais elevado, que se chama Goloka Våndävana, o planeta supremo de Kåñëa. Por fim, a planta se refugia sob os pés de lótus de Kåñëa, onde repousa. Pouco a pouco, assim como uma planta produz frutos e flores, essa planta do serviço devocional também produz frutos e a sua rega através do processo de cantar e ouvir continua.

Essa planta do serviço devocional é plenamente descrita no capítulo dezenove do Caitanya-caritämåta (Madhya-lélä). Lá se explica que, ao se desenvolver plenamente, a planta se abriga por completo nos pés de lótus do Senhor Supremo, quando o devoto alcança todas as qualidades transcendentais.

Àqueles que estão constantemente devotados a Me servir com amor, Eu dou a compreensão pela qual eles podem vir a Mim. (Gétä 10.10)

A fase em que o praticante adquire grande determinação de retornar ao lar, adotando o bhakti-yoga, chama-se também buddhi-yoga. Buddhi é a luz da inteligência espiritual, o ponto de contato entre o ser individual e o Absoluto – imprescindível para aquele que deseja escapar dos enredamentos desse mundo material. Buddhi é a inteligência pura que recebe a luz e, então, a difunde. Essa

buddhi é de qualidade transcendental, pois provém de instruções internas dadas

diretamente pelo Senhor no coração daquele que executa todas as espécies de serviços com amor e devoção.

Para lhes mostrar misericórdia especial, Eu, residindo em seus corações, destruo com a luz brilhante do conhecimento a escuridão nascida da ignorância. (Gétä 10.11)

Como se declara neste verso, aquele que se ocupa em serviço devocional puro, mesmo que não tenha instrução suficiente e nem conheça suficientemente os princípios védicos, será ajudado pelo Senhor. Na verdade, não há possibilidade de compreender a Verdade Suprema por meio da simples especulação. Portanto, mesmo que tente dessa forma por incontáveis anos, se não for devotada, se não se apaixonar pela Verdade Suprema, a pessoa jamais compreenderá Kåñëa. Somente quando o devoto se ocupa em serviço devocional e canta constantemente os santos nomes, a poeira do materialismo desaparece e ele se eleva à plataforma de conhecimento puro.

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LIÇÃO 23

Pureza e não-violência

Em toda a Bhagavad-gétä, aprendemos que aqueles cujas ações estão pautadas pelos modos da paixão e ignorância vivem uma vida inauspiciosa, pois tais pessoas se enfrentam constantemente com as devidas reações de suas atividades impiedosas e insensatas. Somente aqueles que se situam no modo da bondade e cultivam a natureza divina podem progredir no caminho da liberação. Devido à pureza inerente da bondade, as pessoas que se situam nesse modo nada têm a temer. Essa pureza, portanto, é considerada um importante alicerce da vida espiritual.

Çaucam, o pilar da pureza

Çaucam quer dizer limpeza, não só da mente e do corpo, mas refere-se também à

pureza do comportamento da pessoa. Uma importante qualidade na vida espiritual é o destemor, a dependência da misericórdia da Suprema Personalidade de Deus. Se o praticante não tiver convicção de que a Superalma em seu íntimo está vendo seus esforços e tomará conta dele, como ele ficará tranquilo? Para tal, ele deve purificar sua existência através de uma vida disciplinada no comer, dormir, se defender e se acasalar. Quanto à pureza no comer, a dieta humana ideal é o lacto vegetarianismo. Além disso, o alimento deve ser prasäda, ou seja, antes de ser consumido, ele deve ser devidamente oferecido a Deus (falaremos mais sobre o assunto ainda nesta lição).

Um dos pontos igualmente essenciais – e um pouco mais complexo – é a pureza na vida sexual. Em linhas gerais, as escrituras védicas apresentam um sistema de purificação conhecido como garbhädhäna-samskära. Esse processo é muito elevado e se destina àqueles que querem gerar filhos com qualidades piedosas e divinas. Basicamente, a ideia é que, através de práticas espirituais, por exemplo, o canto dos santos nomes e a leitura das escrituras védicas devocionais, cria-se uma atmosfera piedosa para que a consciência do casal esteja na plataforma pura, no momento da procriação. O próprio Kåñëa diz na Bhagavad-gétä que uma vida sexual capaz de gerar filhos piedosos não pode ser condenada. O ideal para um casal consciente de Kåñëa não é o de simplesmente gerar filhos piedosos, mas dar condições para que eles se tornem também conscientes de Kåñëa e, assim, alcancem a liberação do

samsära. Na verdade, qualquer criança que nasça de pais conscientes de Kåñëa

obtém essa prerrogativa. De qualquer modo, a ideia é que o chefe de família que quer progredir na vida espiritual deve regular sua vida sexual, dentro do possível. Aqueles que se interessam pela pureza da sua existência devem se ocupar também no cultivo do conhecimento, pois o conhecimento não se presta apenas para a aplicação na vida pessoal, mas para ser distribuído com lógica e compreensão a

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todos que esqueceram sua verdadeira vida de progresso espiritual. A caridade também é uma prática de purificação e se destina especialmente aos pais de família que, além de subsistirem por meios e métodos honestos, devem aplicar parte de sua renda para propagar a consciência de Deus para aqueles que são próximos a eles. Segundo o capítulo 17 da Bhagavad-gétä, há diferentes tipos de caridade, nos modos da bondade, paixão e ignorância. Muitas vezes, a caridade nos modos da paixão e ignorância são apenas desperdícios de tempo e dinheiro; mas a caridade no modo da bondade pura é altamente recomendada pelas escrituras, pois se destina direta ou indiretamente a espalhar a consciência de Deus. Para essa era, as escrituras enfatizam que o melhor sacrifício é o sankértana, o cantar dos santos nomes. Diferentemente dos outros sacrifícios que são muito dispendiosos, esse cantar pode ser adotado por qualquer pessoa e outorga resultados imensuráveis. Uma qualidade importante da pessoa com pureza é sua capacidade de conter a ira. Mesmo diante de alguma provocação, ela é tolerante e não perde a compostura. A ira é uma consequência da paixão e da luxúria, e somente quem é puro consegue refrear a ira. Além disso, uma pessoa pura não busca defeitos nos outros e nem deseja corrigir desnecessariamente as pessoas. Ele é modesto, não executa atos abomináveis e não costuma ficar agitado ou frustrado quando um empreendimento falha. Portanto, ele é paciente e determinado. A ideia é que, embora haja condições materiais difíceis, devemos exercitar na prática essas qualidades, caso queiramos nos elevar gradualmente à plataforma de realização transcendental.

Ahimsä, o pilar da não-violência

Não-violência quer dizer “agir de modo a não impedir o progresso evolutivo das diferentes entidades vivas”, sendo que os animais também estão progredindo em sua vida evolutiva, transmigrando de uma categoria de vida animal para outra. Se, depois de permanecer num corpo específico por um período, um animal é morto prematuramente, seu progresso é interrompido. Portanto, para ser promovido à sua próxima espécie de vida, ele terá que voltar a essa forma de vida para completar os dias que restaram. Logo, uma pessoa conscienciosa não age de modo a interromper o progresso deles em nome de simplesmente satisfazer seu paladar. Isso se chama ahimsä. Ninguém deve pensar: “Já que em todos os corpos existe uma centelha espiritual imortal, que mal haveria em desfrutar da língua, matando um animal?”. Na verdade, considerando o amplo suprimento de cereais, legumes, frutas e leite, não há essa necessidade. Mas, infelizmente, por uma questão social, muitas pessoas inocentes se habituam a comer animais. O preceito escritural prescreve que, na falta de alternativa, pode-se matar um animal, mas ele deve ser oferecido em sacrifício. De qualquer modo, uma pessoa coerente que deseja expandir sua percepção espiritual observa o amplo suprimento de alimento

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disponível para a humanidade e opta pelo lacto-vegetarianismo, em que não há violência contra os animais inocentes.

A Gétä (9.26) afirma: “Se alguém Me oferecer, com amor e devoção, uma folha, uma flor, frutas ou água, Eu as aceitarei”. Essa instrução é tão maravilhosa e acessível que pode ser praticada mesmo por um indivíduo pobre e sem prévias qualificações, pois o Senhor, seja autossuficiente e não precise de nada, aceita a mais simples oferenda, desde que haja devoção genuína. Isso mostra que todos podem praticar a consciência de Kåñëa e que ela pode ser praticada facilmente sob qualquer condição. Além de bhakti, nada pode induzir o Senhor a aceitar algo de alguém. Sendo o verdadeiro desfrutador e verdadeiro objeto das oferendas sacrificatórias, Ele revela quais são as classes de sacrifícios que Ele deseja que Lhe ofereçam: frutas, folhas ou água. Desse modo, quem deseja satisfazê-Lo evitará oferecer algo indesejável ou inadequado. Logo, carnes, peixes, ovos e bebidas alcoólicas nunca devem ser oferecidos a Kåñëa, pois se Ele assim os desejasse, teria mencionado. Somente depois de oferecidos em sacrifício, os alimentos são considerados puros e próprios para o consumo daqueles que procuram se libertar do enredamento kármico. Por conseguinte, o devoto prepara pratos vegetarianos simples e deliciosos para serem oferecidos diante do quadro ou da Deidade de Kåñëa e, com respeito e devoção, ora para que o Senhor aceite sua humilde oferenda. É assim que ele se capacita a se manter fixo na vida espiritual.

Çréla Prabhupäda afirma:

Deve-se enfatizar esse ponto: devido à Sua posição absoluta, para Kåñëa, ouvir é totalmente idêntico a comer e a saborear. Só o devoto, que aceita Kåñëa como Ele Se descreve a Si mesmo e não dá nenhuma interpretação pessoal, pode compreender que a Suprema Verdade Absoluta é capaz de comer alimentos e de desfrutá-los.

É claro que a ahimsä não pára por aí. Por exemplo, uma pessoa que distorce a verdade, por algum interesse pessoal, também está sendo violenta. Por isso que as complexidades filosóficas encontradas na literatura védica devem ser aprendidas somente com um professor credenciado, um mestre genuíno. Portanto, aquele que inventa diferentes interpretações ou deturpa os textos originais está cometendo violência contra a inteligência dos seus ouvintes.

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LIÇÃO 24

A forma transcendental da Deidade

Do capítulo 2 da Bhagavad-gétä, aprendemos que os sentidos são, por natureza, impetuosos, obstinados e não há como impedir que eles atuem. Como os sentidos exigem ocupações práticas, a solução mais viável e prazerosa para lidar com eles é lhes dar ocupações transcendentais. No bhakti-yoga um dos princípios fundamentais é murti-sevä, o serviço à forma da Deidade, que pode tanto estar num Templo quanto na residência do devoto. Esse componente de bhakti é extremamente poderoso, pois é capaz de ocupar simultaneamente todos os sentidos – tato, visão, olfato, paladar e audição. Embora murti-sevä seja um exercício milenar, a relação de amor e serviço estabelecida entre o devoto e as Deidades se tornou especialmente relevante nos dias de hoje, quando os estímulos dos sentidos são maiores do que em eras anteriores.

Não há diferença entre o Senhor e a Deidade

Ao encorajar a adoração à Deidade do Senhor, o mestre espiritual ensina seus discípulos a manterem seus sentidos ocupados em decorar a Deidade, manter o altar limpo, criar uma atmosfera acolhedora no Templo, bem como seguir os procedimentos ritualísticos e organizar os diversos festivais prescritos. Por conectar os sentidos em atividades transcendentais, os devotos têm suas visões untadas com o bálsamo do amor a Deus. Esse amor devocional é, na verdade, o ingrediente necessário para fazê-los perceber gradualmente a natureza absoluta do Senhor e, portanto, entender que não há diferença entre Ele e a Deidade. É devido a esse amor que os devotos se deleitam em contemplar o rosto sorridente da Deidade e em decorar Seu corpo transcendental. Além disso, valendo-se da benevolência do Senhor, os devotos expressam seus pensamentos perante a Deidade e ficam à espera de respostas. Çréla Prabhupäda diz (Bhäg. 3.25.35):

É preciso ser devoto muito elevado para ser capaz de falar com o Senhor Supremo. Às vezes, o Senhor comunica-Se com o devoto através de sonhos. Essas trocas de sentimentos entre a Deidade e o devoto não podem ser compreendidas pelos ateístas, mas, na verdade, o devoto desfruta delas.

Aprendendo a se relacionar com o Senhor

Como sabemos, com olhos materiais, somos incapazes de ver o Absoluto sob Sua forma espiritual. Se não podemos sequer ver a forma espiritual da alma individual, o que dizer de conceber a forma espiritual de Deus? Portanto, para que possamos vê-Lo com nossos sentidos materiais e para que aprendamos a nos relacionar com

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Ele, o Absoluto aceita manifestar-Se na forma da Deidade, que não é diferente Dele. Assim como o Senhor Se manifesta em diversas encarnações, Ele também assume formas feitas de mármore, madeira, metal, etc., uma vez que esses elementos são manifestações de Sua própria energia. Como é onipresente, Ele também está nos elementos materiais. Para entender isso, o Senhor Caitanya expôs a filosofia

bhedäbedha-tattva que defende que o Criador e Suas criações são simultaneamente

iguais e diferentes.

Embora, certos ditos espiritualistas costumem propagar que tudo é Deus, quando visitam o Templo e se deparam com a Deidade do Senhor, não admitem que ela possa ser Deus. Mas, se, para eles, tudo é Deus, por que a Deidade não seria Deus? O problema é que, sem a associação com os devotos, sem a orientação de um mestre espiritual que tem a percepção pessoal do Absoluto e, principalmente, sem a entrega amorosa ao Senhor, ninguém é capaz de desenvolver uma ideia concreta do Absoluto. Mas, pelo simples fato de contemplar a forma primorosamente decorada da Deidade no Templo, o devoto é extremamente afortunado, pois pode manter-se absorto em pensar Nele, o que o eleva acima dos estados de consciência material e o promove à plataforma espiritual. De fato, por fixar sua atenção na forma da Deidade de Kåñëa e deixar que seus sentidos sejam envolvidos pela misericórdia do Senhor, o devoto se torna gradual e imperceptivelmente liberado. Segundo a Bhagavad-gétä, o devoto recupera seu status transcendental por executar

bhakti de acordo com as prescrições escriturais. E, mesmo que não seja muito

avançado em conhecimento da Verdade Absoluta, mas reverencia o Senhor com devoção, medita sempre Nele e traz flores e frutas à Deidade quando A visita, o devoto com o tempo obtém a liberação. Çréla Prabhupäda diz (Bhäg. 3.25.36):

Um dos deveres prescritos da adoração no Templo é que, não apenas deve-se visitar o Templo para ver a Deidade belamente decorada, mas, ao mesmo tempo, deve-se ouvir a recitação do Çrimad-Bhägavatam, da Bhagavad-gétä ou de alguma literatura semelhante, que são regularmente recitadas no Templo. O sistema em Våëdävana é que em cada Templo há recitação dos çästras. Mesmo devotos de terceira classe que

não têm conhecimento literário nem tempo de ler o Çrimad-Bhägavatam ou a Bhagavad-gétä têm oportunidade de ouvir sobre os passatempos do Senhor. Dessa maneira, suas mentes podem permanecer sempre absortas em pensar no Senhor – Sua forma, atividades e natureza transcendental. Esse estado de consciência de Kåñëa é uma fase liberada. O Senhor Caitanya, portanto, recomendava cinco processos importantes no desempenho do serviço devocional: (1) cantar os santos nomes do Senhor – Hare Kåñëa Hare Kåñëa Kåñëa Kåñëa Hare Hare | Hare Räma Hare Räma Räma Räma Hare Hare (2) associar-se com devotos e servi-los tanto quanto possível, (3) ouvir o Çrimad-Bhägavatam, (4) visitar o Templo decorado e a Deidade e, se possível, (5) viver num lugar sagrado como Våëdävana ou Mathurä. Bastam esses cinco itens para ajudar o devoto a alcançar a fase perfectiva mais elevada. Isso é confirmado na Bhagavad-gétä e aqui no Çrimad-Bhägavatam. Em todos os textos védicos, aceita-se que os devotos de terceira classe também podem alcançar imperceptivelmente a liberação.

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O Senhor Caitanya ensina que não devemos aspirar por opulência, gozo dos sentidos, reputação material ou mesmo a liberação. Devemos desejar unicamente despertar o nosso amor adormecido pelo Senhor, sem nos preocuparmos se iremos alcançar a liberação ou se iremos permanecer nesse mundo. Na verdade, a liberação daquele que ama verdadeiramente a Deus está mais do que garantida. Embora, em seu estado original todo ser vivo seja um amante de Deus, o amor imaculado está coberto pela energia ilusória, no momento presente. Mesmo assim, todos sentem a necessidade de canalizar essa propensão de amar para alguém. Tanto é que, na falta de algum objeto de amor, em alguns casos a pessoa acaba direcionando seu sentimento amoroso a um animalzinho de estimação. Não há dúvidas de que todos os seres vivos estão propensos ao amor e estão à procura de um lugar onde essa disposição amorosa possa residir e descansar em paz.

O Senhor Caitanya recomenda que canalizemos essa propensão amorosa à Deidade do Senhor e passemos a amá-Lo como amigo, filho, mestre ou benquerente. Se desejamos uma categoria de amor que não nos decepcione e que não tenha limite, devemos ter o Senhor Kåñëa como nosso objeto principal, pois somente com Ele, podemos desfrutar perfeita e eternamente de relações amorosas imaculadas de diferentes modos. Quando aceitamos a Deidade do Senhor Kåñëa como nosso melhor amigo e revelamos nosso coração sinceramente a Ela, podemos receber Seus conselhos e proteção amigáveis, com o tempo.

A misericórdia especial do Senhor

Na Índia, há o costume de se adorar diferentes formas de semideuses, mas a Bhagavad-gétä reprova esse tipo de adoração e a coloca como uma preferência das pessoas menos inteligentes, pois quem adora os semideuses, embora possa se elevar a planetas superiores, não terá seu problema resolvido. Na realidade, durante a dissolução do cosmos material, tanto os semideuses quanto as suas respectivas moradas serão destruídas. É por isso que a Gétä afirma que a inteligência de primeira classe adora apenas a Suprema Personalidade de Deus sob Suas diferentes formas, tais como Lakñmi-Näräyaëa, Sétä-Räma e Rädhä-Kåñëa. Isso porque o adorador da Suprema Personalidade de Deus é promovido aos planetas espirituais Vaikuntha, onde não há influência de tempo, destruição ou aniquilação. Assim, o devoto que adora alguma forma do Senhor e pratica serviço devocional inabalável, abandona as aspirações materiais, inclusive a de ser promovido aos planetas celestiais. Mas, mesmo que um devoto não se importe com o que vai acontecer com ele nessa vida ou na próxima, mesmo sem ele saber, o Senhor providencia sua transferência imediata à Sua morada transcendental logo após ele deixar o corpo. Essa é a misericórdia especial do Senhor todo-poderoso que pode perdoar as reações pecaminosas passadas de Seus devotos sinceros. Na verdade,

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uma das Suas características mais maravilhosas é Sua disposição favorável aos devotos.

A diferença entre idolatria e serviço às Deidades

Seguem abaixo dois textos bastante elucidativos sobre a diferença entre a idolatria e a prática da adoração às Deidades, executadas no caminho de bhakti, ambos de autoria de Çréla Prabhupäda. A primeira citação é do livro Os Ensinamentos da

Rainha Kunté, enquanto a segunda é do Ensinamentos de Kapiladeva:

Uma pessoa pode ser perfeitamente purificada se glorificar Kåñëa, meditar sobre Ele, ou simplesmente sentar-se perante a Deidade de Kåñëa e vê-Lo, pensando, ‘Como Kåñëa está bem vestido! Como Rädhärané está bem vestida!’. Quem não tem condição de cantar, ou tem uma mente tão perturbada que não consegue fixar-se em Kåñëa, recebe essa oportunidade: ‘Aqui está a Deidade. Simplesmente veja-A’. Para quem está ocupado no serviço à Deidade, existe uma ótima oportunidade de vê-La constantemente, vinte e quatro horas por dia. Enquanto varre o chão do Templo, enquanto veste a Deidade, enquanto A banha ou enquanto Lhe oferece comida, está sempre vendo-A. Esse é o processo do serviço devocional, mas as pessoas são tão caídas que nem mesmo vão ver a Deidade. Elas pensam, ‘Ah, o que é adoração à Deidade? É idolatria’. Elas adoram uma estátua de Gandhi, ou outra pessoa, mas, quando são convidadas a ver a adoração à Deidade, dizem: ‘Não, isso é adoração a um ídolo’. Eu vi que, em Calcutá, no Chaurangi Square, há uma estátua do Senhor Asutosa Mukherji. Durante todo o ano, os corvos evacuam em sua cabeça e o excremento fica grudado. Então, em um determinado dia do ano, pela manhã, os lavadores limpam a estátua com escovas, e à tardinha muitos homens importantes se aproximam para enguirlandá-la com flores. Depois que o dia acaba eles se vão, e no dia seguinte os corvos voltam novamente para evacuar em sua cabeça. Assim, esse tipo de adoração é aceita – lavar o rosto do Senhor Asutosa Mukherji com a escova municipal – mas, se instalamos a Deidade de Kåñëa e A adoramos belamente, as pessoas dizem que é idolatria.

Quando desenvolvermos amor por Kåñëa, veremos Kåñëa e de imediato desmaiaremos, dizendo: ‘Ó, eis aqui o meu Senhor!’. Todavia, aqueles que não têm fé, que tentam negar Kåñëa, dirão apenas: ‘Ó, isto é um ídolo, não passa de pedra!’. Temos de estar ávidos por ver Kåñëa e falar com Ele. Na verdade, Ele está esperando para ver se estamos ou não interessados em falar com Ele. Na Bhagavad-gétä (10.10), Çré Kåñëa diz: ‘Àqueles que estão constantemente devotados a Me servir com amor, Eu dou a compreensão pela qual eles podem vir a Mim’. Se queremos falar com algum homem importante, precisamos ter certas qualificações. Não é que possamos falar com presidentes ou mesmo com senadores só porque queremos falar com eles. Temos de observar determinadas regras e regulações. Kåñëa está pronto para falar conosco e com esse propósito Ele descendeu para ser visto na arcä-murti, a Deidade, basta nos qualificarmos para falar com Ele. Os não-devotos que estão interessados em negar Kåñëa dizem que Deus não tem olhos, nem pernas, nem mãos, nem ouvidos e assim por diante. Indiretamente, estão dizendo que Deus é cego e surdo e que não pode fazer isso nem aquilo. Dessa maneira estão insultando a Deus indiretamente.

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LIÇÃO 25

A relação de mestre e discípulo

Segundo os Vedas, uma vez vindo ao mundo material, a entidade viva cai no ciclo de samsära, quando permanece transmigrando de um corpo a outro por várias vidas. Depois de passar por formas inferiores elementares, ela alcança a vida humana, que, além de rara, é extremamente valiosa, pois dá condições para a entidade viva escapar do ciclo de samsära e, assim, obter finalmente a vitória sobre a morte. Somente na forma humana de vida, a entidade vida é capaz de reconhecer a efemeridade desse mundo e, assim, se interessar pelos valores espirituais da vida. Na verdade, quando a atração por uma vida disciplinada e pela busca de conhecimento espiritual desperta no coração de uma alma afortunada, ela pode ser considerada verdadeiramente estabelecida na vida humana, pois o simples fato de ter obtido um corpo humano não a coloca numa categoria superior de existência.

Disciplinas voluntárias em prol da autorrealização

Segundo as escrituras védicas, a diferença entre a vida humana e a vida animal é que a primeira se caracteriza por uma vida de disciplinas voluntárias, acompanhada de um ímpeto para o autoconhecimento e a autorrealização: “Quem eu sou?”, “De onde vim?”, “Para onde irei?”, “Existe um controlador?”. Aquele que está enfastiado das atividades materiais e se candidata a alcançar a felicidade espiritual da alma não deve perder seu precioso tempo com devaneios ou especulação mental. Aproximando-se de um mestre espiritual fidedigno ele deve, com sinceridade genuína, pedir-lhe dékña, a iniciação espiritual. Isso é natural para quem percebe que os prazeres materiais induzem a pessoa a infringir as leis naturais divinas e a se envolver com atividades impiedosas, que são a causa do sofrimento e da prisão no ciclo de samsära. A única maneira para sair dessa condição é dedicar-se a ouvir o conhecimento transcendental da parte de um guru: “Qualquer um que deseje seriamente obter felicidade verdadeira tem que buscar um mestre espiritual genuíno e abrigar-se nele através da iniciação” (*).

(*)- tasmäd guruh prapadyeta jijnasuh çreya uttamam... Bhäg. 11.3.21

O guru deve estar fixo no serviço ao Senhor

O guru genuíno não inventa ou cria seu próprio conhecimento, mas transmite o

mesmo conhecimento que recebeu do seu guru, através da sucessão espiritual. Além disso, ele é um brahma-niñtha, pois está situado firmemente no serviço à Suprema Personalidade de Deus. Essas são suas duas principais qualificações: o

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conhecimento que ele tem a oferecer é o mesmo que ele recebeu da boca de lótus de um mestre na sucessão discipular e, ao mesmo tempo, sua vida é exemplar, pois está estabelecido com firmeza no serviço ao Senhor. Através de sua associação, mesmo uma pessoa simples e sem inteligência privilegiada pode aprender o conhecimento transcendental, aplicá-lo tanto quanto possível e se tornar um verdadeiro espiritualista. Por outro lado, de que vale buscar um mestre espiritual, pedir suas instruções e não segui-las?

Assim como Kåñëa recomenda que simplesmente nos rendamos a Ele, devemos também nos render a Seu representante, o mestre espiritual, pois, segundo as escrituras, o guru é Sua representação externa. Situado no coração de todos, Kåñëa é, por Sua vez, o guru interno, além de ser o proprietário de todos os corpos, que estão sendo temporariamente ocupados pela alma individual. Assim como numa casa pode existir o inquilino (ocupante) e o senhorio (proprietário), a alma individual é o inquilino do corpo, enquanto Kåñëa, como a Superalma, é o senhorio ou proprietário.

O Bhägavatam (11.3.21) afirma que ninguém deve aceitar um guru sem estar interessado em conhecer o objetivo máximo da vida. De fato, quem prioriza os confortos corpóreos, não precisa de um guru. O guru é aquele que entende que a conclusão dos Vedas é compreender Kåñëa: “Através de todos os Vedas, Eu sou o que há de ser conhecido”. (*)

(*)- vedaiç ca sarvair aham eva vedyah... Gétä 15.15

“Por favor, me instrua”

É claro que não podemos compreender Kåñëa por completo, mas podemos entender a síntese dessa verdade principal: “tudo emana de Kåñëa, a Suprema Verdade Absoluta. E tudo é mantido direta ou indiretamente por Ele”. Essa compreensão é um excelente ponto de partida. Depois disso, podemos ampliar nosso conhecimento compreendendo como a natureza age sob Sua direção, e assim por diante. Çréla Prabhupäda comenta ainda:

O discípulo pode satisfazer ao mestre espiritual pelo simples fato de render-se a ele e prestar-lhe serviço, dizendo: “Senhor, sou seu servo mais obediente. Aceite-me, por favor, e instrua-me... Embora fosse um amigo muito íntimo de Kåñëa, Arjuna, antes de receber o Bhagavad-gétä, rendeu-se, dizendo: çiçyas te’ham çadhi mäm tväm prapannam: “Agora sou Teu discípulo e uma alma rendida a Ti. Por favor, instrui-me” (Gétä 2.7). Esta é a maneira adequada para buscar conhecimento. O discípulo não se aproxima do mestre espiritual com um espírito desafiador. Ele deve estar ávido para compreender a ciência espiritual. Não é que ele se considere superior ao guru. Primeiro devemos encontrar um guru a quem possamos nos render, e se isto não for possível, não devemos desperdiçar nosso tempo. Por rendermo-nos à pessoa certa, podemos vir a compreender o conhecimento transcendental rapidamente.

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Uma das mais enfáticas instruções dos textos védicos é que, aquele que quer se libertar das perplexidades existentes na vida, deve se aproximar de um mestre espiritual autêntico, assim como foi exemplificado por Arjuna: “Agora estou confuso quanto ao meu dever e perdi toda a compostura devido à fraqueza. Nessa condição estou Lhe pedindo que me diga com certeza o que é melhor para mim. Aqui estou, Seu discípulo e uma alma rendida a Você. Por favor, instrua-me” (Gétä 2.7). É um fato que, mesmo sem desejá-los, os problemas sempre aparecem na vida de todos. Eles se assemelham aos incêndios florestais que surgem aparentemente do nada. Ninguém deseja o incêndio, mas ele aparece, assim como os problemas aparecem nas vidas dos seres corporificados. Portanto, quem se abriga no mestre espiritual autêntico pode não apenas entender a causa de seu sofrimento, mas saberá eliminá-lo e aprenderá a se comportar de modo a evitar futuros problemas. Quanto a isso, Çréla Prabhupäda comenta (*):

Essa forma de vida humana é uma dádiva muito valiosa para que a entidade viva resolva os problemas da vida; portanto, quem não faz o devido uso dessa oportunidade é avaro. Por outro lado, há o brähmana, ou aquele que é assaz inteligente em utilizar

esse corpo para resolver todos os problemas da vida.

(*) Gétä 2.7, significado

Ninguém deve fabricar seu próprio processo

De fato, ninguém pode alcançar a realização espiritual fabricando seu próprio processo, como pensam algumas pessoas com insuficiente conhecimento. O Bhägavatam confirma isso ao dizer que o caminho do dharma (ocupação eterna) só pode ser enunciado diretamente pelo Senhor(*). A especulação mental nunca

poderá conduzir a pessoa ao destino final. Na verdade, nem por estudar os livros de conhecimento de forma independente pode uma pessoa fazer progresso tangível na vida espiritual. Ele terá que seguir os passos dos grandes mestres ou

äcäryas do presente e do passado que, como servos humildes e sem interesse por

prestígio, também se submeteram a um mestre espiritual genuíno para obter conhecimento divino.

(*) - dharmah tu säkñäd bhagavat-pranétam... Bhäg 6.3.19

É dito que a satisfação do mestre espiritual autorrealizado é o segredo do progresso na vida espiritual. Portanto, indagações relevantes e atitude humilde constituem a combinação apropriada. Se não houver pureza e serviço, as indagações feitas ao mestre espiritual nunca surtirão efeito. Mas, quando o mestre espiritual vê o desejo legítimo do discípulo, ele automaticamente o abençoa com a verdadeira

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compreensão espiritual, pois, quando o aluno é humilde e sempre disposto a oferecer serviço, a troca de conhecimento e perguntas torna-se perfeita.

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Resumos da Seção 5. EQUILIBRAR | Lições 21-25

Lição 21. Estágios do cantar dos santos nomes

O praticante de primeira classe é dotado de grande erudição e sabedoria e manifesta comportamento absolutamente exemplar. Seu profundo conhecimento sobre as características divinas dos santos nomes, da sua natureza absoluta, da sua capacidade purificatória e das suas ilimitadas potências, faz dele um verdadeiro amante de Deus.

O praticante de terceira classe é o oposto do praticante de primeira classe. Embora pratique o canto eventualmente, o seu desconhecimento das glórias dos santos nomes e desinteresse pelas práticas espirituais impedem o aperfeiçoamento do seu comportamento.

O praticante no estágio intermediário é aquele que, mesmo não tendo compreensão profunda e suficiente do santo nome, canta os santos nomes com grande sinceridade e convicção. Sua principal característica é o seu respeito pelo santo nome e seu empenho e determinação em cantar com pureza. Como resultado, a compreensão clara da natureza divina dos santos nomes se manifesta internamente em seu coração. Com o tempo, essa compreensão cresce e aumenta sua potência espiritual, capacitando-o a se libertar dos maus-hábitos conhecidos como anärthas.

O santo nome de Kåñëa é como o onipotente sol, cuja refulgência dispersa a escuridão da ignorância (mäyä). Foi para eliminar a escuridão que assola os corações e mentes das pessoas que o Senhor surgiu no horizonte da era atual como o sol do santo nome. Mas aquele cuja visão está coberta pelas névoas da obscuridade e pelas nuvens dos maus-hábitos não é capaz de contemplar o maravilhoso sol do santo nome.

É claro que simples nuvens ou névoas são absolutamente insuficientes para cobrir o imenso sol. O que ocorre, de fato, é que a visão das pessoas – e nunca o sol do santo nome – se torna encoberta. Ou seja, o que obscurece e coloca a pessoa refém da escuridão de mäyä é a sua falta de entendimento espiritual sobre a natureza dos santos nomes e

seu comportamento inadequado. Por outro lado, quando entende que a verdadeira natureza dos seres vivos é a mesma do Senhor, ou transcendental, se ilumina e se livra da escuridão da ignorância.

Os maus-hábitos, ou anärthas, são de três espécies, e são comparadas a diferentes nuvens que cobrem a consciência

dos seres vivos: 1. A primeira nuvem se chama asat-tåñëa e se refere a almejar o ilusório e transitório. Ou seja,

desenvolver ansiedade por ganhos materiais mundanos e cultivar desejos que sejam desfavoráveis para o progresso espiritual é um tipo perigoso de anärtha. 2. Hådaya-daurläbyam é o nome da segunda nuvem de ignorância. Esse anärtha se refere às propensões materiais do coração e da mente que colocam a pessoa numa condição de fraqueza

espiritual. 3. Finalmente, a terceira nuvem de ignorância, e a mais densa e perigosa de todas, chama-se aparädha e

se refere às ofensas cometidas conscientemente por uma pessoa.

Quem se refugia no mestre espiritual fidedigno e executa serviço devocional puro poderá experimentar que, gradualmente as nuvens e névoas se dispersam e o sol do santo nome passa a brilhar no seu coração. Na verdade, a refulgência do santo nome irá outorgar sambandha-jïäna, o conhecimento acerca do Senhor Kåñëa, do ser vivo e do

relacionamento amoroso e eterno entre eles. Com o coração nutrido de amor por Deus, a experiência do cantar será extática. Para tal alma afortunada, a liberação impessoal (quando a alma perde sua individualidade e se funde no brilho impessoal do corpo transcendental do Senhor, brahmajyoti) é considerada uma simples fantasmagoria.

O estágio intermediário não pode de maneira alguma ser subestimado, pois proporciona muitos benefícios espirituais, aumenta as atividades piedosas e outorga bhakti verdadeira. Na verdade, o estágio intermediário do

cantar é uma grande virtude e proporciona ao praticante uma fortuna espiritual muito maior que religiosidade material, que resultados da execução de votos e sacrifícios, que práticas de yoga, etc.

O cantar regular dos santos nomes no estágio intermediário absolve uma pessoa de todos os seus pecados e a libera dos efeitos da obscura era de Kali. Além disso, as misérias infligidas pelos fantasmas, maus espíritos e pelas influências planetárias maléficas não podem mais atuar sobre esse afortunado ser vivo. Ou seja, mesmo se, devido ao seu mal karma passado, uma pessoa está destinada a visitar os planetas infernais, o cantar no estágio

intermediário irá libertá-lo disso. Na verdade, todas as suas reações pecaminosas de atividades de vidas anteriores responsáveis pelos diferentes efeitos do karma são eliminadas.

O cantar dos santos nomes no estágio intermediário traz um resultado maior do que os resultados obtidos por estudar todos os Vedas, pela visitação dos diferentes locais de peregrinação ou pela realização do maior número possível de obras altruístas e piedosas. As quatro metas oferecidas nos Vedas (religiosidade, fortuna, desfrute sensorial e liberação) estarão todas disponíveis através do cantar intermediário, que é dotado do inimaginável poder

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de purificação e eleva o praticante a um estágio muito elevado de percepção espiritual. Como consta nas escrituras, esse estágio oferece residência eterna na espiritual morada de Vaikuntha – especialmente na era de Kali.

Lição 22. Renúncia e consciência espiritual

Em consciência material, o ego falso convence sua vítima que ela é a única causa das suas ações. Por desconsiderar o controle do Senhor, ela reivindica todo o mérito para si própria, pois não sabe que o mecanismo do seu corpo é produzido pela natureza material,queé supervisionada por Ele. Assim, à cada vida ela se mantém correndo atrás da sua própria satisfação e permanece distante da sua relação com Kåñëa.

Em consciência de Deus a pessoa se assemelha a uma funcionária de um banco que lida com milhões, mas nada exige para si. Executando seu dever prescrito o melhor possível, como um bancário que recebe seu salário mensal, ela se satisfaz com a cota dada pelo Senhor.

Os deveres em consciência de Kåñëa conduzem ao caminho da liberação, ao passo que as atividades que visam meramente os confortos corpóreos impelem o executor a permanecer no cativeiro material.

A causa da avidez pelo gozo dos sentidos é o desconhecimento de que o corpo está fadado a produzir sofrimentos e a perpetuar o condicionamento. Quem não compreende sua verdadeira identidade vive em vão, pois simplesmente corre atrás dos seus insaciáveis desejos e, assim, permanece transmigrando de um corpo a outro. Livra-se do cativeiro aquele que substituiu o interesse do gozo dos sentidos pelo serviço devocional. A simples renúncia às atividades materiais não irá purificar plenamente o coração da alma condicionada. Enquanto seu coração não for puro, ela será forçada a agir na plataforma egoísta. A ação em consciência de Deus é superior à ação materialista e à renúncia da ação, pois, em ambas, nota-se a falta de equilíbrio e de satisfação interior.

Tudo pertence ao Senhor e, portanto, não devemos alegar direito de propriedade sobre nada. Se nada nos pertence, como podemos falar de renúncia? Quem entende que tudo é propriedade de Deus, está situado em renúncia e naturalmente emprega tudo a Seu serviço, o que é superior a qualquer quantidade de renúncia artificial. Entendendo-se como uma centelha espiritual do Senhor que nada tem a ver com o mundo material, ele sempre relacionada suas ações com o Supremo.

Os propósitos de jïäna e yoga são, respectivamente, conhecimento e restrição dos sentidos, mas ambos são automaticamente cumpridos na consciência de Kåñëa. Entretanto, sem abandonar a natureza egoísta, jïäna e yoga não surtem verdadeiro efeito. O objetivo é abandonar a satisfação egoísta e agir para o prazer do Supremo. Mas, quem não tem informação sobre o Supremo fatalmente se ocupará em buscar a própria satisfação, já que ninguém pode permanecer na plataforma de inatividade.

Enquanto se tem um corpo material, faz-se necessário atender às suas exigências, mas não se deve instigar desnecessariamente os sentidos para aumentar tais exigências corpóreas. O correto é aceitar as necessidades básicas da vida e buscar a felicidade nos deveres inerentes à consciência de Kåñëa, sem se afetar por incidentes ocasionais, tais como acidentes, doenças ou penúria. Esse é o mais elevado nível na prática do yoga.

O Senhor Caitanya compara o serviço devocional transcendental ao ato de semear uma semente no coração da entidade viva. Há inúmeras entidades vivas vagando por todos os diferentes planetas do Universo, e dentre elas, poucas têm a sorte de encontrar um devoto puro e obter a oportunidade de compreender o serviço devocional. Esse serviço devocional é tal qual uma semente; semeada no coração de uma entidade viva, que continua ouvindo e cantando Hare Kåñëa, Hare Kåñëa, Kåñëa Kåñëa, Hare Hare, Hare Räma, Hare Räma, Räma Räma, Hare Hare; essa semente germina, assim como a semente de uma árvore brota quando é regada com regularidade. A planta espiritual do serviço devocional aos poucos cresce e cresce até penetrar a cobertura do Universo material e entrar na refulgência brahmajyoti no céu espiritual. No céu espiritual, esta planta também continua a crescer até alcançar o

planeta mais elevado, que se chama Goloka Våndävana, o planeta supremo de Kåñëa. Por fim, a planta se refugia sob os pés de lótus de Kåñëa, onde repousa. Pouco a pouco, assim como uma planta produz frutos e flores, essa planta do serviço devocional também produz frutos, e a sua rega através do processo de cantar e ouvir continua.

Lição 23. Pureza e não-violência

Pureza. Çaucam quer dizer limpeza, não só da mente e do corpo, mas refere-se também à pureza do comportamento da pessoa, o que se refere à uma vida disciplinada no comer, dormir, se defender e se acasalar. Quanto à pureza no comer, a dieta humana ideal é o lacto vegetarianismo. Além disso, o alimento deve ser prasäda, ou seja, antes de

consumi-lo ele deve ser devidamente oferecido a Deus. Um dos pontos igualmente essenciais – e um pouco mais complexo – é a pureza na vida sexual. As escrituras védicas recomendam um processo muito elevado para aqueles

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que querem gerar filhos com qualidades piedosas e divinas, o que inclui várias práticas espirituais que ajudam a criar a condição ideal na consciência do casal no momento da procriação. O próprio Kåñëa diz na Bhagavad-gétä que uma vida sexual capaz de gerar filhos piedosos não pode ser condenada. Além de gerar filhos piedosos, os pais devem criar condições para seus filhos se tornem conscientes de Kåñëa e, assim, alcancem a liberação do samsära. Aqueles que se interessam pela pureza da sua existência, devem se ocupar também no cultivo do conhecimento, pois o conhecimento não se presta apenas para a aplicação na vida pessoal, mas para ser distribuído com lógica e compreensão a todos que esqueceram sua verdadeira vida de progresso espiritual. A caridade também é uma prática de purificação e se destina especialmente aos pais de família que, além de subsistirem por meios e métodos honestos, devem aplicar parte de sua renda para propagar a consciência de Deus para aqueles que são próximos a eles. Segundo o capítulo dezessete da Bhagavad-gétä, há diferentes tipos de caridade: nos modos da bondade, paixão e ignorância. A caridade nos modos da paixão e ignorância acaba sendo, muitas vezes, um simples desperdício de dinheiro; mas a caridade no modo da bondade pura é altamente recomendada pelas escrituras, pois se destina direta ou indiretamente a espalhar a consciência de Deus.

Uma qualidade importante da pessoa com pureza é sua capacidade de conter a ira. Mesmo diante de alguma provocação, ela é tolerante e não perde a compostura. A ira é uma consequência da paixão e da luxúria, e somente quem é puro consegue refrear a ira. Além disso, uma pessoa pura não busca defeitos nos outros e nem deseja corrigir desnecessariamente as pessoas. Ele é modesto, não executa atos abomináveis e não costuma ficar agitado ou frustrado quando um empreendimento falha. Portanto, ele é paciente e determinado. A ideia é que, embora haja condições materiais difíceis, devemos exercitar na prática essas qualidades, caso queiramos nos elevar gradualmente à plataforma de realização transcendental.

Não-violência. Não-violência quer dizer agir de modo a não impedir o progresso evolutivo das diferentes entidades vivas, sendo que os animais também estão progredindo em sua vida evolutiva, transmigrando de uma categoria de vida animal para outra. Se, depois de permanecer num corpo específico por um período, um animal é morto prematuramente, seu progresso é interrompido. Portanto, para ser promovido à sua próxima espécie de vida, ele terá que voltar a essa forma de vida para completar os dias que restaram. Logo, uma pessoa conscienciosa não age de modo a interromper o progresso deles em nome de simplesmente satisfazer seu paladar. Isso se chama ahimsä.

Na verdade, uma pessoa coerente que deseja expandir sua percepção espiritual observa o amplo suprimento de alimento disponível para a humanidade e opta pelo lacto-vegetarianismo, onde não há violência contra os animais inocentes.

A Gétä (9.26) afirma: “Se alguém Me oferecer, com amor e devoção, uma folha, uma flor, frutas ou água, Eu as aceitarei”. Essa instrução é tão maravilhosa e acessível que pode ser praticada mesmo por um indivíduo pobre e sem prévias qualificações, pois o Senhor, seja autossuficiente e não precise de nada, aceita a mais simples oferenda, desde que haja devoção genuína. Isso mostra que todos podem praticar a consciência de Kåñëa e que, além de fácil, ela pode ser praticada facilmente em qualquer condição. Além de bhakti, nada pode induzir o Senhor a concordar em

aceitar algo de alguém. Sendo o verdadeiro desfrutador e verdadeiro objeto das oferendas sacrificatórias, Ele revela quais são as classes de sacrifícios que Ele deseja que Lhe ofereçam: frutas, folhas ou água, e quem deseja satisfazê-Lo evitará oferecer algo indesejável ou inadequado. satisfazê-Logo, carnes, peixes, ovos e bebidas alcoólicas nunca devem ser oferecidos a Kåñëa, pois se Ele assim o desejasse, teria mencionado.

Somente depois de oferecidos em sacrifício os alimentos são considerados puros e próprios para o consumo daqueles que procuram se libertar do enredamento kármico. O devoto prepara, portanto, pratos vegetarianos simples e deliciosos para serem oferecidos diante do quadro ou da Deidade de Kåñëa e, com respeito e devoção, ora para que o Senhor aceite sua humilde oferenda. É assim que ele se capacita a se manter fixo na vida espiritual.

É claro que a não-violência, ou ahimsä, não pára por aí. Uma pessoa que, por exemplo, por algum interesse pessoal,

distorce a verdade, também está sendo violento. Por isso que as complexidades filosóficas encontradas na literatura védica, devem ser aprendidos somente com um professor credenciado, ou um mestre genuíno. Portanto, aquele que inventa diferentes interpretações ou deturpa os textos originais está cometendo violência contra a inteligência dos seus ouvintes.

Lição 24. A forma transcendental da Deidade

Por natureza, os sentidos são impetuosos e obstinados, e não há como impedir que eles atuem. Como eles exigem ocupações práticas, a solução mais viável e prazerosa para obter seu controle é dar-lhes ocupações transcendentais. É por isso que um dos princípios fundamentais do bhakti-yoga é o serviço (sevä) à forma (murti) da Deidade no

Templo do Senhor, uma prática que envolve o emprego simultâneo de todos os sentidos: tato, visão, olfato, paladar e audição.

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