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Autoras: Rafael Gonçalves Gumiero 1 Sara Brigida Ferreira 2 Ana Carolina Campos de Melo 3. Resumo:

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Academic year: 2021

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Implicações da expansão urbano-rural em Canaã dos Carajás-PA: balanço das políticas públicas nas escalas federal e municipal para o ordenamento territorial

Autoras: Rafael Gonçalves Gumiero1

Sara Brigida Ferreira2

Ana Carolina Campos de Melo3 Resumo:

Este artigo possui como objeto de análise o município de Canaã de Carajás, no Sudeste do Pará, uma região inicialmente agrícola, antiga sede do projeto de colonização CEDERE II, mobilizado durante a implantação do Programa Grande Carajás. Hoje, o município protagoniza dinâmicas aceleradas de urbanização e de transformação do território, intensificadas com a implantação dos projetos minerais do Sossego e, mais recentemente, o Projeto S11D. O objetivo deste artigo é analisar as políticas públicas sobre o ordenamento territorial do Sudeste do Pará e em específico em Canaã dos Carajás, implementadas nos anos 2005 à 2010, em diferentes escalas de planejamento: balanço das ações do Ministério do Desenvolvimento Agrário, pelo Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais (PDSTR), e, o Plano Plurianual de 2008 – 2011 do estado do Pará de e o Plano Diretor de Canaã dos Carajás. A análise dos referidos documentos é balizada pelo cotejamento da implementação dos recursos direcionados pela Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) para programas de desenvolvimento rural e ordenamento territorial do município de Canaã dos Carajás. Conclui-se a partir da análise destas ações de planejamento que é importante a elaboração de estratégias de articulação das políticas públicas nas múltiplas escalas de ordenamento territorial, de modo a superar as descontinuidades e os descompassos entre projetos estruturantes a nível federal e a formulação de políticas públicas municipais.

1. Introdução

As políticas públicas federais, de 2003 a 2018, pautaram-se em contradições relacionadas às atividades produtivas do agro-hidro-mínero-negócio (MICHELOTTI, 2019), cujas manifestações podem ser observadas na forma como investimentos foram aportados no Sudeste do Pará. Os recursos financeiros advindos da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), poderiam contribuir

1 Professor Adjunto do Instituto de Estudos em Desenvolvimento Agrário e Regional (IEDAR). Professor

do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Desenvolvimento Regional e Urbano na Amazônia (PPGPAM) Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA.

2 Discente do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Desenvolvimento Regional e Urbano na

Amazônia (PPGPAM) Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA.

3 Pesquisadora de campo Ipea- Polo Marabá. Formação doutora em Economia e mestre em Arquitetura e

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significativamente para formulação e execução de políticas públicas nos municípios mineradores no Sul do Pará. Porém, as ações de prefeituras como Canaã dos Carajás, voltadas aos espaços deliberativos da sociedade civil e representantes dos governos locais e estadual pouco avançaram. Em certa medida, este último fato se deve a complexidade do ordenamento territorial no Sudeste Paraense, especialmente, associada aos distintos interesses que envolvem os projetos da grande mineração e da agropecuária, assim como às especificidades das relações urbano rurais neste contexto. Neste sentido, a renda gerada pela exploração de minérios não tem sido necessariamente convertida em melhorias nas condições de cidadania desta população. Pelo contrário, estudos recentes (MICHELOTTI, 2019; MALHEIRO, 2019) mostram que a população permanece sujeita a um amplo gradiente de vulnerabilidades, a exemplo dos recentes processos de despejo de comunidades estabelecidas próximas as áreas de influência da grande mineração.

A proposta deste artigo apresenta como recorte Canaã dos Carajás, no Pará, espaço que sediou a instalação do maior projeto mineral da empresa Vale S/A até o momento, e que nos últimos anos observou a intensificação dos nexos entre práticas financeiras e processos produtivos (p. ex. extração de minérios, a expansão da agropecuária e grandes projetos de infraestrutura logística). Este protagonismo das finanças, evidente em atividades orientadas à exportação de commodities, alavancou a entrada maciça de investimentos nos locais de extração durante a última década.

A inversão de capital em tais regiões impulsionou a produção de infraestrutura logística, energética e a intensificação das operações de extração de recursos, e ao mesmo tempo atraiu investidores em busca de oportunidades de negócios, os quais passaram a diversificar investimentos e a atuar em novos mercados, como o imobiliário e de terras (MAGALHÃES, 2015).

Logo, as operações financeiras de capitalização das empresas do agronegócio e da grande mineração, viabilizaram não só a ampliação exponencial da produção física, mas geraram as condições para que outros setores, também apoiados pelo mercado financeiro, começassem a explorar novas formas de investimento, conectadas ao boom da atividade extrativa. No entanto, na dimensão socioespacial, além dos processos mais diretos, de gentrificação, exclusão e deslocamentos forçados, a produção do espaço pelo capital imputou altos custos sociais sobre a vida das pessoas, seja na distribuição injustiça de ônus e benefícios, seja por meio da ampliação dos espaços de desigualdade nestes territórios.

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As categorias de análise definidas neste trabalho, relacionam-se com a conexão estabelecida entre a expansão urbano-rural, fundada num complexo relacionamento entre patrimonialismo e rentismo, somados ao debate sobre financeirização produtiva e inserção de novos espaços em cadeias produtivas globais de extração de minérios e agropecuária. Dialoga, portanto, com a proposta do GT, uma vez que discute sobre as possibilidades e os limites dos municípios na provocação de transformações no ordenamento territorial por meio de políticas públicas, a partir do caso de Canaã dos Carajás.

2. Regionalização e tipificação dos territórios no Sul do Pará: as ações do MDA

A partir de 2003, houve uma sistemática retomada do planejamento territorial articulada pelo governo federal, na gestão Lula, por intermédio do Ministério da Integração Nacional e o Ministério do Desenvolvimento Agrário, com os governos estaduais, para a promoção de planos e programas condizentes com as heterogeneidades estruturais do território. Se por um lado, o Ministério da Integração Nacional balizou a sua tipologia territorial com base nas microrregiões, por outro lado, o Ministério do Desenvolvimento Agrário se preocupou em priorizar o rural, subsidiado por uma regionalização que buscasse identificar as especificidades das mesorregiões do Brasil.

A oficina sobre a Política Nacional de Ordenamento Territorial, realizada em 2003, concedeu importantes pistas para a organização do Estudo da Dimensão Territorial

para o Planejamento desenvolvido pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e

Planejamento, que resultou em seis grandes espaços homogêneos, divididos em: Território 1- Bioma Florestal Amazônico; Território 2A - Centro-Oeste; Território 2B1 – Centro-Norte: Território; 2B2 – Sertão Semiárido Nordestino; Território 3A - Litoral Sudeste-Sul: Território; 3B – Litoral Norte-Nordestino.

O enfoque da regionalização do estudo foi considerar as escalas macrorregional e a sub-regional balizada pela polarização dos municípios, ao estarem inseridas na rede policêntrica4 de cidades do Brasil. A divisão territorial qualificou 11 macrorregiões, 118

sub-regiões e 29 polos de ações de governo. Na Amazônia considerou os municípios ao

4 A hierarquização dos polos dos centros urbanos foi realizada segundo o modelo gravitacional de Isard

(1975), calculado pelos índices de terceirização e interação dos centros com as outras localidades geográficas, mobilizados pela influência do polo na oferta de serviços e fluxos migratórios por intermédio das intersecções da logística rodoviária e fluvial.

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invés das microrregiões. A noção de policêntrico assumiu protagonismo na designação de macropolos, polos sub-regionais e locais. Na macrorregião Belém – São Luís foram identificados os subpolos Araguaina (TO), Imperatriz (MA) e Marabá (PA), determinando polos sub-regionais, integrados pelos eixos de logísticas de infraestrutura entre os três estados.

Figura 1 – Regionalização Policêntrica do Brasil segundo PNOT

Fonte: MPOG, 2007.

A regionalização tutelada pelas atividades produtivas limitou o raio de ação do governo federal para as assimetrias territoriais, e coube ao Ministério do Desenvolvimento Agrário a elaboração de programas com enfoque no rural, na criação da Secretária de Desenvolvimento Territorial (SDT) e a formulação de dois programas nacionais apresentados no escopo do Plano Plurianual 2004-2007 (MDA/SDT 2005a).

A criação da SDT no MDA propôs a coalizão com outros órgãos públicos, como a Secretária de Reordenamento Agrário (SRA), a Secretária de Agricultura Familiar (SAF) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). A abordagem territorial do MDA incorporou quatro diretrizes: a) ampliação e fortalecimento da agricultura familiar; b) reforma agrária; c) inclusão social e combate à pobreza rural; d) e, promoção do desenvolvimento sustentável dos territórios rurais (MDA/SDT 2005a). O reposicionamento do rural pelo MDA requalificou o seu conceito e empreendeu como estratégia central a descentralização de políticas pela criação de conselhos para

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manutenção entre as demandas populares e os municípios. A ação no território se dirige às políticas de ordenamento territorial com ênfase na autonomia e autogestão, como formas de aplicação das políticas de descentralização. Essas políticas devem ser veiculadas pela cooperação entre agentes públicos e privados, nacionais e locais, como forma de gestão das políticas, para geração de nova institucionalidade que coloque no centro a participação popular e o capital social (MDA/SDT 2005a).

A proposta do desenvolvimento territorial com enfoque no rural e sustentável perpassou em estabelecer uma concepção multidimensional, entre o ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política e as instituições no território. O enfoque do ordenamento territorial abrange a conceitualização do território rural, definido por características multidimensionais, fundamentados na coesão social, cultural e territorial, de modo a incluir nesses territórios os espaços urbanizados que compreendem pequenas e médias cidades, vilas e povoados (MDA/SDT 2005a).

O ordenamento territorial é o sentido descendente do ciclo proposto de articulação entre o Estado/Governo e a Sociedade/ Instituições. É um processo de diagnóstico, “escuta” e estudos, formulação e validação, informação e capacitação, articulação com os interlocutores e implementação. Com a integral participação dos atores sociais, de tal forma que aperfeiçoamentos possam e devam ser feitos, ajustando os instrumentos às condições locais, tendo por objetivo o processo educativo, a participação social e o resultado econômico. Do ordenamento espera-se a indução de reações, que são a expressão do desenvolvimento com o sentido ascendente e o protagonismo dos atores locais envolvidos. Essas reações projetam as transformações pretendidas segundo um processo de planejamento ascendente (Sociedade/ Instituições–Estado/Governo) (MDA/STD, 2005a, p. 27).

O documento Guia para o Planejamento Documento de Apoio formulado pelo MDA possui como objetivo orientar o Planos Territoriais de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS), com base em ações para o desenvolvimento sustentável nos territórios, balizado pela relação entre os atores sociais e o Estado na tomada de decisões por intermédio dos processos deliberativos participativos.

O Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) propôs como objetivos a definição do tratamento de áreas temáticas. Na Gestão Social foi definido como estratégia a organização de arranjos institucionais por intermédio da gestão e o planejamento com inclusão e a participação social de novos atores. A articulação entre os atores sociais foi a base para as redes de cadeias produtivas e a criação de distritos agroindustriais, com enfoque aos agricultores familiares e cooperativas para

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fundamentarem as atividades rurais e urbanas na área temática Dinamização Econômica nos Territórios. A área temática Articulação de Políticas Públicas propôs implementar a cooperação interinstitucional entre as instituições públicas, municipal, estadual e federal, para integrar horizontalmente programas públicos com foco no territorial e rearticulá-los e recriá-los a partir de novos arranjos institucionais (MDA/SDT 2005b).

A gestão territorial possui como objetivo a criação e o fortalecimento institucional dos atores locais no planejamento participativo com o envolvimento dos municípios, estados e União, para a formulação agenda para o desenvolvimento sustentável dos territórios rurais. O processo de planejamento e de construção do PTDRS pode ser organizado de acordo com etapas e passos em cada território: a) Preparação, verificar os pré-requisitos fundamentais; b) Conhecimento crítico da realidade, diagnóstico do território, como produto do processo de planejamento participativo das problemáticas nos quais os atores sociais estão inseridos; c) Planificação, como ferramenta de transição do diagnóstico para a implementação de projetos nos territórios, para o processo do desenvolvimento, no qual devem ser consideradas à causa e efeito, potencialidades e limitações, que são determinantes do futuro (MDA/SDT 2005b).

Na escala mesorregional do Sudeste do Pará foi elaborado o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Sudeste Paraense, como desdobramento da implementação do PTDRS, sob a implementação do planejamento participativo e a formulação do diagnóstico territorial, para mensurar as seguintes dimensões abrangidas pela planificação: ambiental, econômica, sociocultural educacional e político institucional (MDA/SDT, 2010).

Nas assembleias e oficinas populares nos municípios do Sudeste do Pará houve a participação popular rural na formulação de diagnósticos e ausência da participação dos setores urbanos. Esse aspecto é importante para uma discussão sobre as linhas limítrofes do urbano e do rural que não podem mais ser consideradas de forma binária. Uma vez que esses processos passaram a ter uma articulação cada vez maior e a realizar um movimento de combinação, no qual o não-urbano visto como rural ou o natural, permanece imbricado com um tecido de base urbano-industrial “que se estende para além das cidades em redes que penetram virtualmente todos os espaços regionais integrando-os em malhas mundiais” (MONTE-MÓR, 1994, p 171). Conforme Monte-Mór (2005), este fenômeno caracteriza a urbanização extensiva, a qual revela a expansão do modo de vida urbanizado para além dos limites administrativos estabelecidos em planos e legislações que decidem sobre a cidade, conectando ambientes rurais e criando um

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gradiente de processos de urbanização. Sendo assim, sob a perspectiva de Monte-Mór, o urbano e o rural devem ser (re)pensados a partir de uma concepção dialética, uma vez que a delimitação entre os termos urbano-rural tem se tornado menos evidente, reforçando a manifestação de processos incompletos e desiguais.

O diagnóstico e a regionalização do PDTRS do Sudeste do Pará foi realizada com base nos dados socioeconômicos dessa mesorregião, composto pelos municípios Bom Jesus do Tocantins, Brejo Grande do Araguaia, Canaã dos Carajás, Curionópolis, Eldorado dos Carajás, Itupiranga, Marabá, Nova Ipixuna, Palestina do Pará, Parauapebas, Piçarra, São Domingos do Araguaia, São Geraldo do Araguaia e São João do Araguaia (MDA/SDT, 2010).

Figura 2 – Regionalização do Sudeste do Pará pelo PDTRS

Fonte: MDA/SDT (2010).

Nesse enquadramento, Canaã dos Carajás criou um alerta para o aumento populacional decorrente da intervenção dos empreendimentos da mineradora Vale na região, que gerou renda e vagas de emprego entre 2005 e 2007. Este fenômeno mereceu atenção por não ter se repetido nos outros municípios na mesma época. Também houve a instalação da agroindústria ligada à pecuária, mais especificamente relacionada à frigoríficos e laticínios, colaborando para a modificação dos espaços urbanos e rurais do município. A estrutura já existente naquele espaço foi transformada pela expansão

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capitalista, gerando uma fragmentação do espaço entre aqueles que eram participantes da mudança e aqueles que foram excluídos dela (MDA/SDT, 2010).

O Sudeste paraense tornou-se uma região diferenciada também pela forma como ocorreu o reordenamento territorial movido pelas políticas desenvolvimentistas voltadas para a Amazônia no período ditatorial, por meio da abertura de estradas, fomento às atividades agropecuárias e projetos de colonização. Decorrentes dessas ações, foram produzidas transformações substanciais no espaço amazônico, impactando os âmbitos sociais, políticos, econômicos, culturais e ambientais. Tais transformações reeditaram antigos processos observados na região, ao mesmo tempo que implicaram no surgimento de novas dinâmicas territoriais , resultando em pressões sobre o Estado para implantação de uma nova rodada de políticas públicas para a região. Assim, ações como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, atraíram investimentos para os territórios rurais da região. A crescente ampliação do montante dos recursos se deu até o ano de 2006, sofrendo, posteriormente, um decréscimo neste espaço territorial (MDA/SDT, 2010).

O diagnóstico das problemáticas no Sudeste do Pará foi formulado com base nas seguintes dimensões: a dimensão ambiental identificou o aumento progressivo do desmatamento; na dimensão sociocultural educacional houve necessidade de ampliação dos recursos em relação ao capital humano e à infraestrutura, mesmo que em Canaã dos Carajás foi identificada uma exceção, havia mais escolas no setor rural do que no urbano, porém com estrutura precária; foi identificado polarização dos serviços de saúde em Parauapebas em Marabá, fazendo com que pessoas se desloquem grandes distâncias na busca por um atendimento; na dimensão econômica foi verificado a circulação de renda devido ao Programa Bolsa Família; na dimensão político-institucional, buscou mapear “diferentes instituições e organizações que congregam atores sociais e políticos de relevância para determinados setores do Território” (MDA/SDT, 2010, p. 80).

Pelo caráter predominantemente rural do Plano, foram listados os movimentos sociais do campo, os fóruns: temáticos, gestores e institucionais, as redes de cooperativas e os conselhos municipais. Desse levantamento, concluiu-se que as organizações da sociedade civil não são articuladas entre si, demonstrando pouca efetividade e baixo reconhecimento oriundo do poder público (MDA/SDT, 2010).

Após as fases compreendidas pela metodologia participativa e pelo diagnóstico, foi elaborado o Plano Territorial do Sudeste Paraense definido por objetivos estratégicos para a redução das assimetrias territoriais. O objetivo referente à dimensão ambiental

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condensou as metas na maioria dos territórios, como a recuperação do meio ambiente degradado, a redução das queimadas e do desflorestamento. Melhorias urbanas também foram consideradas, demonstrando a necessidade de investimentos estruturais por meio de serviços como ampliação do saneamento básico e do tratamento do lixo (MDA/SDT, 2010).

Quanto à dimensão econômica, a meta visou a concretização de uma agricultura com base diversificada, apoiada por aparatos produtivos modernizados e a expansão das atividades comerciais do setor. Além disso, também considerou importante fortalecer o ramo industrial como forma de desenvolvimento, sempre atrelando economia, meio ambiente e bem-estar social (MDA/SDT, 2010).

Na dimensão sociocultural educacional foi objetivado como meta o aumento da oferta de serviços básicos, tanto no âmbito da saúde quanto da educação, e, prioridade na diversidade cultural territorial em todas as ações. Na dimensão político-institucional foi incentivado o diálogo entre instituições, sociedade civil e poder público, de forma a conduzir ações coletivas eficientes e sincronizadas (MDA/SDT, 2010).

3. Ações sub-nacionais para o ordenamento territorial: a atuação do governo do Pará e do de Canaã dos Carajás

Na escala estadual de planejamento o governo organizou a regionalização das sub-regiões do Pará a partir do PPA 2008-2011, em paralelo às discussões do PTDRS: construindo o Pará de Todas e Todos e partiu do princípio da necessidade de interpretação dessa unidade federativa organizada por múltiplas demandas e pelas diversas identidades da população, mobilizando a incorporação de 12 regiões e a participação popular, por meio das plenárias regionais realizadas nas regiões de integração.

O modelo aplicado para territorializar as regiões foi o Planejamento Territorial e Participativo (PTP), com ações e estratégias de diálogo com a população. O objetivo do PTP foi provocar uma gestão descentralizada e o empoderamento dos sujeitos e na preocupação com o desenvolvimento socioeconômico e cultural (SEPOF, 2011).

O Plano Plurianual 2008-2011 do Pará, do governo Ana Júlia Carepa, adotou a regionalização das sub-regiões do Pará, denominada de regiões de integração5, divididas

5 A regionalização foi realizada pelos estudos do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do

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em 12: Araguaia, Baixo Amazonas, Carajás, Guamá, Lago de Tucuruí, Marajó, Metropolitana, Rio Caeté, Rio Capim, Tapajós, Tocantins e Xingu. A metodologia do Planejamento Territorial Participativo (PTP) foi incorporada ao PPA 2008-2011, e eleita como fundamental para a concepção de desenvolvimento que se utilizou, baseada na diversidade produtiva territorial, na atuação do Estado por intermédio de políticas públicas para a melhoria de renda, bem-estar social, desenvolvimento tecnológico, inclusão social e uso sustentável dos recursos naturais.

Figura 3 - Regiões de Integração do Estado do Pará

Fonte: BRASIL-PDRS, 2010. Elaboração: SEIR/Geopará, 2009.

O PPA 2008-2011 do Pará foi dimensionado por três macro-objetivos, divididos em Qualidade de Vida Todas e Todos, Inovação para o Desenvolvimento, e Gestão Democrática e Descentralizada. Os eixos estratégicos finalísticos desses objetivos foram organizados em dimensões compostos por projetos: dimensão social; dimensão ambiental; dimensão cultural; dimensão territorial; dimensão democrática; dimensão econômica (SEPOF, 2012).

O objetivo do PTP foi instituir a descentralização administrativa e o empoderamento dos sujeitos com a sua participação na formulação de projetos para o desenvolvimento socioeconômico e cultural. A organização do PTP foi realizada em três etapas. A primeira nos meses de abril e maio de 2007 com a participação de 41.468 pessoas nas 12 plenárias públicas. Em cada plenária as demandas da sociedade civil foram organizadas como macro objetivos de ação governamental para constituir na matriz do PPA. A segunda foi realizada em julho por meio da realização de 143 assembleias

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públicas municipais (APMS) em todos os municípios do Pará. O objetivo foi a escolha de representantes, conselheiros, que iriam compor nos Conselhos Regionais. A terceira foi realizada em agosto com a instalação e reuniões dos Conselhos Regionais e do Conselho Estadual do PTP. Esses conselhos foram direcionados para deliberação sobre as necessidades dos municípios e contribuição do plano de desenvolvimento regional (SEPOF, 2011a).

O resultado das APMs foi a formulação de 429 ações deliberadas nas audiências locais, tendo prioridade a escolha dos conselheiros(as) para representação do município nos Conselhos Regionais. Na terceira etapa do PTP a função dos Conselhos Regionais e do Conselho Estadual do PTP foi organizar deliberativamente os Planos de Desenvolvimento Regional e o Plano de Desenvolvimento do Estado (SEPOF, 2010).

Quadro 1 – Projetos do PTP para Região de Integração Carajás do Pará 2008-2011 Eixo Dimensão Social Socioeconômico Eixo Dimensão Eixo Dimensão Infraestrutura

C

ar

aj

ás

Ampliação e equipamentos dos

hospitais municipais e os regionais; Educação ensino médio com tempo integral; Implantação de núcleos universitários da UEPA. Fortalecimento da agricultura familiar; Assistência técnica; Aquisição de equipamentos agrícolas. Implantação de estradas e construção de pontes Abastecimento d'água e esgotamento sanitário; Eletrificação rural; Construção de casas populares.

Fonte: SEPOF, 2010. Elaborado pelo(as) autor(as).

Os projetos do PTP financiados pelo governo estadual para a região de integração do Carajás segundo as dimensões dos programas apresentou a política de infraestrutura com a maior parcela de investimentos recepcionados pelos municípios, R$ 217.100.497 milhões, com ênfase em projetos de saneamento básico e infraestrutura urbana.

Gráfico 1 – Divisão de recursos financeiros pelos projetos aprovados do PTP no PPA 2008-2011 na Região Integração de Carajás (R$ milhões)

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Fonte: SEPOF, 2012. Elaborado pelo(as) autor(as).

A relação federativa exercida entre a união e a unidade federativa, do Pará, foi regida por desencontros no âmbito da implementação do planejamento entre essas instâncias. Houve maior aproximação das relações institucionais entre as municipalidades e as ações do PAC do governo federal, com financiamento de projetos em infraestrutura.

As ações sub-nacionais em relação ao ordenamento territorial de Canaã dos Carajás, no Pará, é resultante da criação da Agência de Desenvolvimento criada em 2005, que colaborou para a criação do Plano Diretor Participativo em 2007. A área rural de Canaã dos Carajás faz forte preâmbulo com as vilas e o centro urbano, nos quais o Plano Diretor Participativo destaca a área ao redor do centro urbano, formada pelos recursos naturais organizados para o turismo, os projetos de mineração que tencionam o município pelo desmatamento e expansão urbana sob o rural, sob o lastro da especulação imobiliária.

0 50,000,000 100,000,000 150,000,000 200,000,000 250,000,000

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Figura 4 - Área rural de Canaã dos Carajás: pontos críticos

Fonte: PMCC, 2017. Elaboração do(as) autor(as).

A área rural de Canaã dos Carajás é composta por vilas, que são resultantes da exploração do minério de ferro, constituído desde os primeiros projetos no território e permaneceram como habitação para os moradores, que foram estimulados à migrarem devido aos empreendimentos de extração de minério. As vilas que compõe o município de Canaã são: Vila Serra Dourada foi organizada por conta do garimpo de ouro no início dos anos 1980; vila Planalto fez parte do projeto de assentamento do GETAT, denominado como Cedere II, possui maior infraestrutura e ocupação populacional dentre as demais vilas; Vila Bom Jesus surgiu devido ao projeto de ocupação do GETAT e posteriormente a sua ocupação foi implementada pelas famílias que estavam fazendo uso do garimpo clandestino na Serra do Sossego; Vila Feitosa é resultante do assentamento do GETAT e da ocupação por colonos da Fazenda Três Braços, a partir de 1983; Vila Mozartinópolis oriundo dos primeiros estudos minerários do território, surgiu no final da década de 1970 e início da década de 1980, e a sua ocupação foi realizada por fazendeiros e pequenos agricultores; Vila Ouro Verde foi uma dos núcleos pioneiros de assentamento do GETAT, denominado de Cedere III, em 1983.

O quadro analítico do Plano Diretor Participativo de 2007, de Canaã dos Carajás, é dividido em eixos, em cada um deles há programas balizados pelas propostas e os

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instrumentos de execução. No quadro a seguir, limitou-se a priorizar nos eixos os programas que estão relacionados ao ordenamento territorial de Canaã de Carajás e com fundamentação para a sua execução pelos instrumentos mobilizados. Por conta disso, restringiu-se o campo de análise nas ações da prefeitura que podem realizar mudanças na estrutura territorial.

No Plano Diretor Participativo o eixo municipal priorizou a descentralização urbana em relação aos serviços públicos para bairros e vilas, ampliando por intermédio dos recursos do Cfem. Conjuntamente, foi proposto organizar o ordenamento do solo com base em vetores de expansão urbana e das atividades rurais, combinados com a democratização de espaços públicos à população. No eixo de Ordenamento Territorial Sustentável foi determinado a regionalização dos territórios em macrozonas e organização de projetos específicos para cada uma delas, e a regularização fundiária com cadastro das propriedades do município.

No eixo Desenvolvimento Econômico e Social foi responsável por formular e implementar atividades produtivas que estejam relacionadas ao território. As atividades produtivas foram relacionadas à formulação do zoneamento econômico e ecológico do território e a sua relação com os agentes produtivos, como os da agricultura familiar, tutelada por uma política de incentivos financeiros à esses agricultores e à formas de qualificação da produtividade deles. Esse eixo pretende implementar distrito industrial fomentado pela lei de uso e ocupação do solo. A formação de consórcios municipais e fóruns de deliberação de políticas públicas e a criação de uma agência de desenvolvimento regional como estruturas institucionais e jurídicas para legitimar a implementação das ações tecidas.

No eixo de Planejamento e Gestão foi priorizado o planejamento participativo dos representantes da sociedade com o governo municipal e fortalecimento dos conselhos municipais, realizado por intermédio do orçamento participativo. Foi contemplado nesse eixo a implementação de subprefeituras e ações em conjunto com órgãos estadual e federal, respectivamente Adepará e Emater.

O eixo temático da área urbana possui como prioridade o Ordenamento Territorial Sustentável Urbano, no qual propôs a implementação do uso do espaço urbano entre duas microzonas, descentralização de serviços públicos e projetos de requalificação urbana em áreas degradadas. Coleta de dados referente à densidade populacional e taxa de ocupação e zoneamento urbano.

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No eixo rural o ordenamento territorial foi apresentado em decorrência da prioridade para diversificação da produção com ênfase no incentivo ao polo agrícola e ao produtor rural e infraestrutura para o escoamento da produção. Nesse sentido, o uso do território foi priorizado pela recomposição vegetal e articulação entre a diversidade produtiva e o abastecimento no mercado municipal. O fortalecimento das associações rurais e a requalificação do cadastro dos produtores do Pronaf são balizas para o fortalecimento da agricultura familiar.

No eixo das vilas foi priorizado como programas os projetos de ampliação da infraestrutura para saneamento básico, energia elétrica, vias públicas, projeto de pavimentação, reestruturação do sistema de circulação das vilas. O ordenamento territorial das vilas foi pautado pelo projeto de uso e ocupação do solo, com a remoção e revitalização das áreas com ocupação de uso irregular. Referente à habitação foi realizada o acompanhamento das famílias assentadas e investimentos em infraestrutura e projetos sociais. A qualificação dos espaços públicos como uma forma de organizações da população em relação aos processos deliberativos. O desenvolvimento econômico e social das vilas priorizou fortalecer as associações e as atividades produtivas realizadas nas vilas como inclusão da população na geração de renda, relacionada com as potencialidades produtivas locais, como o turismo sustentável na Vila Mozartinópolis, e implantação do distrito industrial na Vila Planalto.

Quadro 2 – Eixos temáticos do Plano Diretor Participativo 2007

Eixo Programa Propostas Instrumentos

Eixos Temáticos Municipais

Estruturação Municipal para um Futuro Justo Programa de Descentralização Urbana

Descentralizar os serviços para bairros e vilas em relação ao centro

Distribuição

equitativa do CFEM para os bairros e vilas.

Programa de Controle da Expansão das Áreas Urbanizadas

Parcelamento ordenado do solo; organizar os vetores para a expansão urbana; fortalecer as atividades produtivas rurais nas áreas de transição urbano e rural; criar e democratizar os espaços públicos.

Ordenament o Territorial Sustentável Programa de Compatibilização das Macrozonas Regionalização e implementação de projetos em macrozonas; e, legislação específica para cada macrozona.

Programa de Cadastramento e Regularização Fundiária e Imobiliária Regularização fundiária e de edificações; cadastro georreferenciado das propriedades do município.

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Desenvolvim ento Econômico e Social Programa de Estímulo à Dinamização da Economia

Diagnóstico das atividades produtivas; Projeto de regularização fundiária; Formulação de zoneamento econômico-ecológico;

Implementação de instituições de ensino superior; Organização de incubadora de empresas. Agência Canaã; SUDAM; Macrozoneamento Econômico-Ecológicodo governo do Pará (MacroZEE–PA). Programa de Estímulo ao Cooperativismo

Fomento e estímulo a economia popular solidária por meio da criação de um fundo municipal aos agentes produtivos da agricultura familiar; Implantação e ampliação da Feira do Produtor.

Articulação intersecretarias.

Programa de Incentivo a Investimento

Criação de critérios para a política de incentivos fiscais para atrair novos negócios.

Política de incentivos fiscais (lei municipal específica).

Programa de

Implantação de Pólos de Desenvolvimento e Distrito Industrial

Orientação de incentivos fiscais para infraestrutura e estruturação do distrito industrial.

Lei de uso e ocupação do solo

Programa de Política

Industrial e

Agropecuária Regional

Planejamento do investimento mediante a identificação das potencialidades regionais; Formulação de consórcios, fóruns entre os municípios da microrregião e sub-região de Carajás. Formação de consórcios intermunicipais; criação de fóruns de deliberação de políticas públicas integradas; criação de uma agência de desenvolvimento regional. Planejament o e Gestão Programa de Participação Popular e da Sociedade Organizada

Planejamento participativo dos representantes da sociedade com o governo municipal; canais de participação popular; e, criação e fortalecimento de conselhos municipais. Conselhos municipais por bairros e vilas; subprefeituras; orçamento participativo. Programa de Implantação de Distritos Administrativos

Projeto para implantar subprefeituras (Ouro Verde e Planalto); e adequação de ações conjuntas entre departamentos de serviços estaduais e federais (Adepará, Emater, etc.).

Vetada na Câmara Municipal pelos(as) Vereadores(as).

Eixos Temáticos Área Urbana

Ordenament o Territorial Sustentável Urbano Programa de Compatibilização das Zonas, Áreas de Planejamento e Usos

Ordenamento do uso entre duas ou mais zonas (microzonas); Descentralização dos serviços; Planejamento de novos bairros; e Projeto de requalificação urbana em áreas degradadas.

Criação do Banco de Terras Públicas, sob a tutela da Secretaria de Gestão e Planejamento. Programa de Acompanhamento e Avaliação da Densificação Urbana e Densidade Demográfica

Coleta de dados relacionados à densidade populacional; Criação de índices para aproveitamento do terreno, taxas de ocupação e zoneamento urbano relacionado à densidade demográfica.

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Eixos Temáticos Área Rural Ordenament o Territorial Sustentável Rural Programa de Acompanhamento e Avaliação da Densificação de Propriedades Rurais

Planejamento para o incentivo financeiro à diversificação da produção; Projeto para o escoamento e infraestrutura para o abastecimento de produtos agrícolas; Incentivo aos polos agrícolas; Projeto do mercado do produtor rural.

Agência de

Desenvolvimento Econômico e Social de Canaã dos Carajás; Parceria entre Adepará e Emater. Qualificação do Meio Ambiente Rural Programa de Reestruturação e Requalificação do Uso da Terra

Delimitar áreas de recomposição vegetal; Articulação entre a produção diversificada e a venda da produção no Mercado Municipal.

Agência de

Desenvolvimento Econômico e Social de Canaã dos Carajás Desenvolvim

ento Econômico

Rural

Programa de Incentivo à Fixação dos Pequenos Produtores na Área Rural

Fortalecimento das associações rurais; Reavaliar cadastro dos produtores receptores do Pronaf; Fortalecimento da agricultura familiar.

Agência de

Desenvolvimento Econômico e Social de Canaã dos Carajás; Parceria entre Adepará e Emater. Eixos Temáticos Vilas

Programa de Infraestrutur a e Serviços nas Vilas Projeto de Ampliação e Diversificação da Infraestrutura nas Vilas

Saneamento básico; rede de abastecimento na Sol Nascente; ampliação da rede de energia elétrica; limpeza dos espaços e vias públicas Transporte, MobilidadeA cessibilidade Humana Programa de Planejamento e Reestruturação do Sistema de Circulação nas Vilas

Reestruturação do sistema de circulação das vilas; projeto de pavimentação permeável; implantação do passeio públicos; permeabilidade dos passeios públicos.

Ordenament o Territorial Sustentável nas Vilas Programa de Compatibilização das Zonas, Áreas de Planejamento e Usos

Projeção do uso e ocupação do solo, nas vilas; remoção e revitalização de áreas com ocupação ou uso irregular.

Habitação Popular Digna Programa de Políticas Diversificadas de Produção de Unidades Habitacionais

Projeto de acompanhamento das famílias assentadas; investimento em infraestrutura; oferta de empregos; projetos sociais. Qualificação do Meio Ambiente Programa de Qualificação Ambiental dos Espaços Públicos

Formalização das tomadas de decisões deliberativamente em fóruns públicos; Revitalização de espaços públicos, como praças. Desenvolvim ento Econômico e Social nas Vilas Programa de Desenvolvimento de Atividades Produtivas e Geração de Renda

Fortalecimento das associações; Identificação de possíveis atividades produtivas nas vilas; técnicas e matérias primas renováveis para geração de renda.

Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Turístico-Cultural da Vila Mozartinópolis

Projeto para incentivo ao turismo sustentável; projeto de educação ambiental.

Programa de

Desenvolvimento da Vila Planalto

Projeto de implantação de distrito industrial; Ampliação dos equipamentos de educação e saúde; e, Projeto de estruturação urbana da Vila.

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No documento 1° Revisão do Plano Local de Habitação de Interesse Social de Canaã dos Carajás – PLHIS, formulado pelas Secretária Municipal de Planejamento e a Secretária Municipal de Habitação, em 2018, da prefeitura de Canaã dos Carajás, a área referente ao ordenamento foi estruturado entre o urbano e rural. Durante o processo da ocupação de terra em Canaã dos Carajás foi realizada por agentes com grandes propriedades rurais, que na iminência de conflito pelas terras com os garimpeiros e o Movimento dos Sem Terra, realizou o parcelamento de lotes de terras, para que fosse ampliada o perímetro urbano, porém, com ausência de regularização fundiária. O processo de transferência de terras do Incra para o município resultou em regularização fundiária divergente da política urbana, o que impossibilitou o processo de ordenamento territorial balizada pelo governo municipal no que concerne às terras para habitação e infraestrutura urbana (SMP-SMH, 2018).

Há terras originalmente pertencentes ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA e que estão em fase de transferência para Canaã dos Carajás, e os loteamentos irregulares em léguas patrimoniais estão relacionadas à dois modelos de irregularidades, pela ausência de projeto pelo loteador e a localização em terras pré-dispostas para a produção agrícola (SMP-SMH, 2018).

Quadro 3 – Dados das Vilas em Canaã dos Carajás referentes ao ano 2014 Vila Localização do perímetro urbano População e renda Infraestrutura

Vila Planalto 17 km (entre a PA–160 (rodovia estadual que liga Canaã dos Carajás a Parauapebas) e a VP–45.

2.872.

57% da pop. tem renda, 61,3% renda inferior R$ 1.449,99 e 4,0% R$ 2.900,00

Und. Escolares, Und. Saúde, Pavimentação malha viária, Comércio e Serviços. Vila Bom Jesus 30 km (os principais acessos

são VS-45 e VP-12, prox. Mina do Sossego) 1.455. 66,7% renda inferior R$ 1.449,99 e 6,7% R$ 2,900,00.

Und. Escolares, Und. Saúde, Pavimentação malha viária, Comércio e Serviços. Vila Feitosa 23 km (os principais acessos

são VS-14, VP-21, VP-20)

1.596.

Dos 68,8% da pop. tem renda, 75% renda inferior R$ 1.449,99 e 6,3% R$ 2.900,00

Não consta.

Vila Ouro Verde 35 km (os principais acessos são estradas rurais VS–14, VP–21, VP–20 e VS–80).

639.

85,7% da pop. tem renda inferior R$ 1.449,99 e ninguém possui renda superior R$ 2.900,00.

Não consta.

Fonte: (SMP-SMH, 2018). Elaboração das(o) autoras(r).

Segundo a Fundação Joaquim Pinheiro, em Canaã dos Carajás há déficit habitacional no rural de 248, no ano de 2010. Ainda não há dados disponíveis

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relacionados à atualização desse dado, que foi modificado em decorrência principalmente da implantação da mina S11D, que impulsionou a migração de famílias para o urbano. E o número de domicílios precários no rural foi 227, em 2010 (SMP-SMH, 2018).

Quadro 4 – Programas do PLHIS 2018 Linha

programática Programa Objetivo 2022 (R$ milhões) Recursos 2019 –

Desenvolvimento

Institucional Gestão Administrativa

Organização institucional do SEMHAB (ampliação quadro técnico); Software para monitoramento da gestão da Política Habitacional urbana e rural. 5.302.761,73 (recursos municipais) Produção e Aquisição de Habitação Moradia Digna

Oferta de 60 unidades habitacionais; o Plano de Reforma e Ampliação, Programa de Eliminação e Gerenciamento de Área de Risco até 2020. 7.339.913,00 (recursos municipais) Atendimento de Melhoria Habitacional

Ofertar recursos para reformas em moradias e ampliação da oferta de unidades habitacional pelo programa estadual Cheque Moradia, construir módulos sanitários. 17.437.586,34 (recurso estadual, 9.380.438; recurso federal 6.482.147; recurso municipal 1.575.000).

Cartão Reforma Implementar o programa cartão reforma 500.000,00 (recurso federal)

Produção e Aquisição de Habitação Política Nacional de Habitação de Interesse Social

Executar Plano de Desenvolvimento Socio-territorial da minha Casa Minha Vida (Residencial Canaã)

811.710,00 (recurso federal).

Minha casa, Minha vida

Construir unidades habitacionais faixa um (1) e dois (2) do programa Minha casa, Minha vida

27.200.000,00 (recurso federal). Integração Urbana de Assentamentos Precários Lote solidário

Concessão de lotes sociais para famílias em situação vulnerabilidade. Lançamento de 30 lotes habitacionais.

2.000.000,00 (recurso federal).

Fonte: (SMP-SMH, 2018). Elaboração das(o) autoras(r).

No gráfico a seguir, o valor relativo da unidade federativa do Pará em relação aos demais unidades da federação no recolhimento da Compensação Financeira de Extração Mineral (CFEM), nos anos 2008 a 2020, superou Minas Gerais e alcançou a primeira posição a partir de 2019. As atividades de extração minerário em Canaã dos Carajás, mobilizadas pelo projeto S11D, impulsionou a arrecadação de tributos financeiros e reposicionou o estado do Pará em primeiro lugar nas receitas recebidas do CFEM.

(20)

Gráfico 2 – Recolhimento do CFEM por UFs – 2008 a 2020 (R$ milhões)

Fonte: Agência Nacional de Mineração. Consultado em:

https://sistemas.anm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/cfem/maiores_arrecadadores.aspx

A consolidação do Pará como o principal receptor dos recursos do CFEM é devido à sua trajetória na especialização de extração de minérios, com o pioneirismo o Projeto Grande Carajás de 1982, mas que foi consolidada a partir da prospecção e o início das atividades nos municípios Parauapebas e Marabá. Na seriação histórica de 2008 a 2020, Parauapebas liderou até o ano de 2018, somente perdeu a liderança em 2019, na recepção do CFEM, por conta do projeto S11D em Canaã dos Carajás, no qual passou a liderar a arrecadação desse tributo.

Gráfico 3 – Recolhimento do CFEM por municípios BR– 2008 a 2020 (R$ milhões) 0.00 500,000,000.00 1,000,000,000.00 1,500,000,000.00 2,000,000,000.00 2,500,000,000.00 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020

Pará Minas Gerais Goiás Bahia São Paulo

0.00 200,000,000.00 400,000,000.00 600,000,000.00 800,000,000.00 1,000,000,000.00 1,200,000,000.00 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020

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Fonte: Agência Nacional de Mineração. Consultado em:

https://sistemas.anm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/cfem/maiores_arrecadadores.aspx

4. Considerações Finais

A implementação das políticas públicas relacionadas ao ordenamento territorial com enfoque para as escalas regional, Amazônia, mesorregional, Sudeste do Pará, e a local, em Canaã dos Carajás, se depararam à diferentes regionalizações territoriais, com dificuldades de assimilação das heterogeneidades estruturais. O ponto de partida para a regionalização foi determinada pela rede policentrica dos municípios, com pouca percepção sob o rural, e a percepção do rural ficou limitada à produção agropecuária e extração de minérios.

A regionalização determinada somente pelas redes regionais e sub-regionais de cidades e polos produtivos exportadores reforçam e concentram a malha de investimentos do governo federal à eixos de polarização produtiva. As ações do MDA via SDR proporcionaram um olhar plural sob o rural, compreendido pelas dimensões do social, cultural e territorial, e aos espaços urbanizados que incluem interfaces do rural por conta de vilas e povoados.

A metodologia de planejamento da PTDRS na mesorregião do Pará foi mediada pelo sob o preâmbulo desenvolvimento sustentável do Sudeste do Pará com ênfase no planejamento participativo da população: ampliação da infraestrutura, aprimoramento dos serviços disponibilizados e das ações concretizadas, formação, empoderamento e capacitação dos atores locais em processos de tomadas de decisões deliberativos, e o fortalecimento das organizações e dos relacionamentos interinstitucionais (MDA/SDT, 2010).

Subjacente às ações do governo federal, o governo estadual do Pará implementou ações balizadas pelo Planejamento Territorial Participativo, que fundamentou as ações do PPA 2008-2011, no qual pode ter reverberdo em uma janela de oportunidade para a formulação do Plano Diretor Participativo em 2007, de Canaã dos Carajás.

É importante salientar que o Plano Diretor Participativo de Canaã dos Carajás reposicionou a compreensão do rural sob o enfoque da relação estabelecida entre o urbano e o rural, figurado pela dualidade das vilas no rural e o urbano, entendendo os como sínteses dos processos de financeirização do capital da terra, relacionado pelo povoamento por meio dos projetos de concessão de terra aos colonos, e mais recentemente aos projetos sediados pelo Vale em Canaã, pelos projetos minas do Sossego

(22)

e S11D. As balizas organizacionais do plano foram relacionadas à descentralização administrativa urbana para os bairros e vilas, com apreensão para o ordenamento do solo conforme os vetores de expansão urbana e das atividades rurais. O planejamento participativo popular foi invocado pelo referido plano como uma alternativa para o sufrágio participativo da população e representação pelos conselhos rurais nas tomadas de decisão deliberativo na formação de agenda de políticas públicas. O ordenamento territorial foi apresentado sob o preâmbulo diversificação produtiva com estímulo à agricultura familiar, mas sem destoar de formação de polo agrícola. A prioridade dada às vilas foi relacionada à projetos de infraestrutura urbana adequada à compreensão das vulnerabilidades de mobilidade da população do rural para o centro urbano. No entanto, pouco avanço sobre o uso do solo relacionado ao produtor rural local na concessão de incentivos à infraestrutura rural e produção local.

Em 2018, o PHLIS de Canaã dos Carajás apresentou informações relacionadas às vilas, porém, pouco avançou na prioridade de ações para o fortalecimento da relação de pertencimento dos habitantes com o território. As ações foram relacionadas ao aumento da população urbana ampliada devido à migração das famílias do rural. Os programas dedicados à habitação popular, como desdobramento de recursos financeiros concedidos pelo governo federal, pelo Programa Minha Casa Minha Vida, e o estadual, como recursos para reformas de habitação ou para pagamento de aluguel, não enfrentam o problema relacionado à expropriação dos agricultores do rural para o urbano, relacionado à consequências de conflitos gerados pelos processos de extração mineral e produção agropecuária.

A temática de ampliar os canais de participação popular nas tomadas de decisão estava no centro da agenda do governo federal nos anos 2000, seja por meio dos planos e programas do Ministério da Integração Nacional ou do Ministério do Desenvolvimento Agrário, no qual teve a recepção na agenda do governo estadual do Pará e permitiu avança nessa agenda no governo municipal de Canaã dos Carajás. Porém, na seguinte, de 2010, houve contenção dessa agenda em detrimento da ampliação da extração de minérios, conforme apontaram os dados coletados da Agência Nacional de Mineração.

Em 2019, Canaã dos Carajás obteve a dianteira dos municípios brasileiros na recepção de recursos do CFEM, passou de 320.722 milhões de reais, em 2019, para 771.948 milhões em 2020. O que determina que grande parte desses recursos auferidos permanecem sem a articulação com o planejamento participativo, do qual inevitavelmente requer a participação popular.

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