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ATENDIMENTO PEDAGÓGICO AO ALUNO COM NECESSIDADES ESPECIAIS INTERNADO EM PEDIATRIA DE QUEIMADOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA. Resumo

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ATENDIMENTO PEDAGÓGICO AO ALUNO COM NECESSIDADES ESPECIAIS INTERNADO EM PEDIATRIA DE QUEIMADOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Eliane Martins Quadrelli Justi

Maria Augusta Bolsanello Programa de Pós-graduação Universidade Federal do Paraná

Resumo

A pesquisa investiga a ação pedagógica por meio de atividades planejadas, de acordo com o currículo escolar, para criança hospitalizada com queimadura grave, presa ao leito, como prevenção à ruptura do seu processo de escolarização, interrompido pelo extenso tempo de hospitalização. Foi observada uma criança matriculada em escola regular do Ensino Fundamental que sofreu grave queimadura por meio de líquido inflamável, necessitando de internação em pediatria de queimados, em hospital na cidade de Curitiba, Paraná, no período de setembro a dezembro de 2002. Após a realização de atividades pedagógicas planejadas com esta criança, junto ao leito, observa que estas atividades: a) possibilitam o seguimento do processo de escolarização e facilitam a inclusão escolar após a alta hospitalar; b) colaboram no enfrentamento do estresse hospitalar e no resgate da auto-estima da criança; c) requerem do professor uma formação que lhe permita trabalhar além dos conteúdos escolares os conteúdos emocionais trazidos pela criança enferma. Evidencia também a necessidade de criação, informatização e adaptação de recursos didáticos para o atendimento pedagógico no leito pediátrico. Conclui propondo maior investimento pedagógico na mediação do conteúdo escolar em ambiente pediátrico a fim de promover a produção do conhecimento paralela ao tratamento da saúde. Sugere que a pediatria seja acompanhada por um quantitativo mínimo de dois professores e dois psicólogos, para buscar estabelecer um trabalho interdisciplinar e garantir um atendimento de qualidade à criança com necessidades especiais.

Introdução

A implantação do processo ensino-aprendizagem referente ao segmento escolar da criança hospitalizada está em construção no Brasil. Assim, há uma preocupação entre os educadores em como melhor aproximar e incluir o conteúdo escolar de forma estimulante, criativa e motivadora, àquela criança que passa por um estado de sofrimento físico, social e mental, e que não pode de forma alguma correr o risco de ser exposta a nenhum sofrimento ou incômodo adicional no ambiente hospitalar. Para FONSECA (1998, p.12), a ação pedagógica desejada para a criança hospitalizada deve estar “além da escola que temos e certamente mais próxima do tipo de escola que queremos”.

Com o intuito de contribuir e avançar na discussão relacionada com o atendimento educacional hospitalar, o presente estudo buscou verificar se a ação pedagógica, por meio de atividades planejadas baseadas no currículo escolar, para o aluno acometido de queimadura grave, pode ser uma das maneiras de prevenir a ruptura do seu processo de escolarização, causada pelo extenso tempo de hospitalização. Visou também observar se esta ação pedagógica pode auxiliar na inclusão deste aluno à escola de origem após a alta hospitalar. Na tentativa de conduzir um estudo qualitativo e tendo em vista a reduzida literatura sobre o tema em questão, optou-se em realizar um estudo exploratório por meio de um Relato de Experiência. Foi observada uma criança do sexo masculino, matriculada na quarta série de

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escola regular do Ensino Fundamental, que sofreu grave queimadura por meio de líquido inflamável, necessitando de internação em pediatria de queimados, em hospital na cidade de Curitiba, Paraná, no período de setembro a dezembro de 2002.

A pesquisa buscou atingir os seguintes objetivos: a) planejar e desenvolver atividades pedagógicas à criança queimada que fica impossibilitada de sair do leito hospitalar. b) planejar estas atividades, tendo como referencial o currículo utilizado na escola de procedência do aluno hospitalizado; c) identificar quais as estratégias e materiais didáticos que melhor motivam e contribuem no processo ensino e aprendizagem deste aluno; d) atender a necessidade educacional especial da criança hospitalizada/e familiares em seu direito à educação inclusiva; e) propiciar ao aluno o retorno à escola, com diminuto impacto pós-alta hospitalar; f) verificar as implicações pedagógicas observadas durante as atividades desenvolvidas e após a alta hospitalar.

As aulas propostas neste estudo foram planejadas a partir do material didático utilizado na escola de origem do aluno, porém a relação de educação e comunicação com as outras crianças hospitalizadas, familiares e profissionais da saúde, ultrapassou o limite da prática pedagógica previsto pela pesquisadora. Constatou-se ainda, uma comunicação de trabalho em busca de objetivos comuns, como por exemplo, “da felicidade, harmonia, equilíbrio, bem-estar e auto-realização do ser humano”, conforme já mencionado por FONSECA (1994). Acredita-se ter tido por experiência a realização de um trabalho expressivo, criativo e significativo para o sentimento humano e na visão de OLIVEIRA (1991, p.149), “são os sentimentos o elo imprescindível para o caráter verdadeiramente humano” ao serviço prestado em hospital.

Análise dos Dados e Conclusões

A seguir, relata-se o alcance dos objetivos propostos neste estudo.

O primeiro objetivo previa o planejamento e o desenvolvimento das aulas para criança hospitalizada e impossibilitada de sair do leito da pediatria. Observou-se que por mais que a contenção física da criança impere no leito, alguma situação ou ação de aprendizagem pode ocorrer, se o professor estiver presente para mediar a ação pedagógica. Este, por sua vez, acolhe e é acolhido pelo estado permanente de aprendizado que se instala na pediatria. Observou-se também que por meio das aulas diárias no leito hospitalar foi possível minimizar a abstinência total do conteúdo escolar e percebeu-se que não houve significativa ruptura dos vínculos, ao contrário, houve acréscimos: criança e aluno; aluno e professor; aluno-criança e enfermidade; família e professor; criança-família e professor; aluno e escola; aluno e colegas hospitalizados; criança-aluno e equipe de enfermagem; criança e criança; aprendizado e

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hospitalização. Constatou-se que o conteúdo escolar funcionou como importante instrumento de liga na promoção dos vínculos observados acima e também como facilitador da inclusão do aluno pesquisado à sua escola de origem.

Uma vez planejadas as aulas, o desenvolvimento acontece de acordo com a possibilidade e abertura à aprendizagem apresentada pela criança enferma. Acontece também, frente à criatividade, flexibilidade e bom senso do professor.

Visto por outro lado: negar o planejamento prévio das aulas pode implicar em conduzir o processo de ensino e aprendizagem pela via empírica, que muitas vezes segue a ação intuitiva e fugaz, que pouco contribui no processo de ensino e aprendizagem da criança hospitalizada por período extenso de tempo. Destaca-se o óbvio pelo motivo de que neste momento histórico a lacuna, seja na formação do professor que atua em pediatria, ou seja na supervisão de um órgão responsável pela prática pedagógica em hospitais, estão em processo de construção, por isto, observa-se a importância de maior rigor no planejamento pedagógico aplicado em pediatria.

A busca de seguir o currículo da escola de origem da criança hospitalizada, conforme segundo objetivo proposto por este estudo, facilitou a prática do magistério no hospital, principalmente porque o livro didático utilizado reunia todas as disciplinas a serem estudadas. Notou-se que o manuseio do mesmo livro didático utilizado na escola ajudava o sujeito a sentir-se parte da sua sala de aula.

No terceiro objetivo buscou-se identificar as estratégias e os materiais didáticos que melhor motivam e contribuem no processo ensino e aprendizagem da criança hospitalizada grave e impedida de sair do leito. Um diferencial observado foi a utilização do computador portátil como recurso didático. Este equipamento se fez indispensável para as aulas no leito pediátrico. As aulas em grupo, embora não tenham sido planejadas, contribuíram significativamente para este estudo. Contudo, há um importante espaço para a criação de recursos materiais específicos para melhorar o atendimento pedagógico no leito como, por exemplo: suporte para acomodar o computador portátil no leito, encosto anatômico para a criança enferma, cadeira anatômica para o professor, suporte para fixar uma pequena lousa no leito.

Portanto, nota-se que uma investigação ampliada nesta área, em muito poderá contribuir para as futuras adaptações e criações de diferentes atividades pedagógicas para melhor atender ao processo de ensino e aprendizagem da criança hospitalizada grave, que dificilmente deixa o leito hospitalar.

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No quarto objetivo há duas questões: direito à educação e inclusão. Nas duas questões obteve-se êxito, por meio da representação do magistério na instituição hospitalar. Como já houve a oportunidade de se fazer menção à inclusão, relata-se com brevidade sobre o direito à educação. Percebeu-se que a representação do magistério na figura da pesquisadora inserida na pediatria favorece o preceito constitucional para que a criança hospitalizada siga com seu processo de ensino.

Na busca de responder o quinto objetivo, afirma-se, salvo as questões psicológicas, que o retorno do aluno à escola de origem após longo período afastado para tratar a saúde ocorreu com diminuto impacto, para o percurso do seu aprendizado. Verificou-se que o trabalho com os conteúdos escolares por meio das aulas diárias no leito hospitalar constituiu um elo de ligação extensivo ao retorno à escola de origem do aluno, o que provavelmente preveniu a possível ruptura com o processo de escolarização. Segundo relato do sujeito por telefone, no dia vinte e cinco de julho do ano de dois mil e três, às sete e trinta da manhã, ele detém bom desempenho acadêmico na quinta série do Ensino Fundamental.

Por último, no sexto objetivo, propõe-se verificar as implicações pedagógicas observadas durante as aulas desenvolvidas junto ao leito da criança hospitalizada. De início verificou-se que cinqüenta e cinco por cento dos objetivos planejados para as aulas junto ao leito da criança hospitalizada obtiveram êxito. O que significa que as intercorrências físicas, psicológicas e ambientais que fazem parte da diversidade e especificidade do ambiente pediátrico, não impedem o desempenho acadêmico do aluno e não impedem a ação pedagógica. Inclusive, observou-se a pertinência da prática de aulas em grupo no interior da pediatria, adequando-as as necessidades das crianças, conforme a sua capacidade de movimentação física. Com a anuência da equipe de enfermagem e devido cuidado com a infecção hospitalar, é possível levar para a pediatria aparelho de som, computador portátil, material dourado, ábaco e outros materiais pedagógicos importantes para a construção do conhecimento.

Deve-se observar que todos os materiais utilizados com as crianças hospitalizadas na pediatria de queimados precisam passar por procedimento de assepsia, para evitar a contaminação. Lembra-se que a criança queimada perde importante camada da pele e fica sujeita a microorganismos. Este fato aumenta a responsabilidade do profissional que deseja trabalhar em pediatria de queimados.

Constatou-se ainda neste quadro que vinte e um por cento dos objetivos planejados para as aulas, junto ao leito da criança hospitalizada, foram atingidos parcialmente. O que significa que as intercorrências físicas, psicológicas e ambientais chamam a atenção para as diretrizes

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pedagógicas adotadas em pediatria. Neste sentido, pressupõe-se que há necessidade de se realizar mais de um plano de aula para o mesmo dia letivo. A ação pedagógica hospitalar precisa dispor, além do usual, de amplo recurso, como por exemplo, computador portátil, CD-ROM, disquete, calculadora, ábaco, material dourado, blocos lógicos, aparelho de som, cds, vídeos educativos, filmes, livros de literatura infantil, jogos pedagógicos, mapas, fantoches e lousa portátil para escrita com pincel atômico.

No caso de aula em grupo observou-se a importância de reunir as crianças hospitalizadas, por conhecimento adquirido e não por faixa etária ou série escolar. Daí a importância de se realizar o contato com a escola de origem do aluno, para obtenção de informações sobre o seu desempenho acadêmico, para então verificar as facilidades e dificuldades no processo de ensino.

E finalmente, concluiu-se que vinte e quatro por cento dos objetivos planejados para as aulas, junto ao leito da criança hospitalizada não foram atingidos. Ora por impedimentos do aluno analisado, ora por impedimentos da pesquisadora.

Durante a ação pedagógica no hospital totalizou-se um número de trinta e cinco aulas. Destas, a pesquisadora faltou a seis aulas. Considera-se ter chegado a um significativo número que comprova que independentemente da causa, as faltas do professor precisam ser previstas também no ambiente de pediatria. Este fato mostra que realmente há necessidade para que seja mantido no hospital mais de um professor por pediatria para o atendimento pedagógico em períodos iguais. Na falta de um, busca-se suprir a falta do outro.

Caso o hospital conte com duas pediatrias, há uma demanda para quatro professores, e assim por diante. Caso o hospital não disponha de recursos para contratar um profissional da educação, sabe-se da importante participação das Secretarias Estaduais e Municipais, no sentido de ceder professores para atuarem em pediatrias. Lembra-se ainda a possibilidade de estabelecer convênios com as universidades e assim, constituir uma Equipe de Estágio para desenvolver a prática interdisciplinar em pediatria. Além de professores, as crianças hospitalizadas poderiam receber atendimento especializado, por exemplo, de fonoaudiologia, serviço social, musicoterapia, psicologia e outras áreas do conhecimento. Na hipótese da instituição hospitalar disponibilizar em seu espaço físico de uma Classe Hospitalar e de um professor, o caminho estaria melhor preparado para a organização deste estágio e conseqüentemente da multiplicação de professores, psicólogos, fonoaudiólogos e outras especialidades.

Nesta visão interdisciplinar, não se estaria apenas evitando que a criança hospitalizada ficasse sem aula e sem professor, quando este precisasse faltar, mas, sobretudo, prestando um

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atendimento integral à pessoa humana portadora de necessidades especiais no período de hospitalização.

Destaca-se que a proporção de um professor para uma pediatria torna-se inviável. Um professor para um hospital torna-se um descaso com a educação da criança hospitalizada, bem como um desrespeito aos seus direitos constitucionais assegurados e extensivos a sua família. Dentro do limite da investigação feita, pretendeu-se organizar até o presente momento as considerações mais relevantes relativas à estrutura metodológica deste estudo, onde se buscou responder pontualmente as questões e os objetivos propostos.

Observou-se de modo geral, que o número de professor disponível para atender as crianças com enfermidade grave e que não podem sair do leito, é notoriamente insuficiente. Exceto raras exceções, observou-se ainda que as atividades pedagógicas centram-se no forte investimento lúdico-pedagógico e de recreação para as pediatrias, em detrimento ao considerado menos importante “conteúdo escolar”. A impressão que se tem é que se parte da premissa que o conteúdo escolar não apresenta encantamentos, é chato, promove a reprodução, só é necessário na escola para obter nota, enfim, notavelmente o conteúdo escolar no atendimento pedagógico hospitalar é relegado a segundo plano na categoria da educação em pediatrias.

Indiferentemente ao conteúdo trabalhado nas aulas, constatou-se que a possibilidade de realizar a escrita com um só dedo no computador portátil, estimulou a criança hospitalizada grave. Em muitas situações ela se encontrava com o braço e mão imobilizados ou restava pouca força para a escrita motora em folha de papel. O sujeito investigado, que é destro, digitou textos com o dedo indicador esquerdo. Segue-se com o acróstico construído por ele no dia 12/11/02.

A mor e amizade existe nesta pessoa

N ao há medo não há batalha que ele não seja vencedor T odos os sentimentos da vida são reais

O amor devemos guardar

N unca entrar no mundo das drogas I gualdade existe em todos nós O nde você vá, Deus te acompanhará

Neste exemplo concreto pode-se visualizar e examinar o conteúdo escolar e o conteúdo de vida trazido pela criança hospitalizada. Evidencia-se a construção da trama vivencial de escuta a vida em ambiente pediátrico. É interessante observar que a pesquisadora assistiu em diferentes oportunidades o nascer desta construção, no entanto, as situações e os conteúdos

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trazidos pela criança hospitalizada muitas vezes ultrapassaram os limites profissionais e vivenciais da pesquisadora.

Diante desta trama complexa de vida, verificou-se a necessidade da atuação interdisciplinar no leito pediátrico, principalmente da figura do psicólogo. O medo de ultrapassar os limites pedagógicos frente à demanda de vida trazida pela criança hospitalizada, paralisava a pesquisadora, ou ainda, seguia-se com o conteúdo escolar como instrumento para contornar a situação de estresse emocional. Esta atitude algumas vezes funcionou restabelecendo a tranqüilidade para estudar e, outras vezes não funcionou.

Nas vezes em que a pesquisadora se via encurralada frente a uma situação de conteúdo de vida, onde o instrumento de trabalho (o conteúdo escolar) de nada adiantava, a pesquisadora buscou aprender como desenvolver uma escuta junto ao leito da criança hospitalizada grave, no sentido de integrar-se aos processos psíquicos e cognitivos da criança através do exercício da sensibilidade para ouvir-ver-sentir (CECCIM, 2000, p.15). Encontrou-se na escuta pedagógica um importante caminho de apreensão e compreensão das expectativas e dos sentidos, para que se possa escutar através das palavras, do silêncio, dos gestos e dos sentidos. Julga-se estar no momento certo para reafirmar a importância do exercício da escuta à VIDA em ambiente de pediatria. No decorrer, ou correr do tempo, verificou-se que para desenvolver esta escuta pedagógica foi necessário abrir-se, entregar-se, flexionar-se até alcançar o patamar do universo infantil agredido pela enfermidade. Neste sentido, escutar a vida na ação pedagógica hospitalar, implica em desenvolver a sensibilidade circundada pelo bom senso: “com a intenção de agenciar as forças de vida que povoam os mundos interpessoais para a invenção de novos territórios ao ser saudável-adoecer-curar-se”. (CECCIM, 1997, p. 31).

Durante a análise deste estudo e na busca de significar o conteúdo escolar além da produção de saber no atendimento hospitalar, verificou-se como conseqüência do resultado deste estudo, que a ação pedagógica abordou as três categorias de conteúdo previstas nos PARÂMETROS CURRICULARES (2001, p.7). São eles: conteúdos conceituais, que envolvem fatos e princípios; conteúdos procedimentais, expressam um saber fazer, tomar decisões de forma ordenada; e os conteúdos atitudinais, que envolvem a abordagem de valores, normas e atitudes na sociedade.

Entende-se que ao longo das aulas os conteúdos escolares foram se entrelaçando as categorias de conceitos, de procedimentos e de atitudes construídos pela trama que processa o ensino e a aprendizagem. Nada aconteceu de forma isolada e estanque, contudo, para efeito

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ilustrativo e elucidativo procurou-se evidenciar as categorias dos conteúdos encontradas, reconhecendo-as em algumas das aulas desenvolvidas junto ao leito pediátrico.

Destaca-se como primeiro exemplo o acróstico com o nome do sujeito pesquisado, apresentado anteriormente, que pretende representar a abordagem do conteúdo procedimental. Ou seja, “fazer com que os alunos construam instrumentos para analisar, por si mesmos, os resultados que obtêm e os processos que colocam em ação para atingir as metas a que se propõem” (PARÂMETROS CURRICULARTES, 2001, p.75). O acróstico foi construído, analisado, planejado e a ele foram atribuídos significados, que certamente foram relacionados com outros conteúdos aprendidos pelo aluno.

O segundo exemplo pertence à categoria dos conteúdos conceituais que se referem “à construção ativa das capacidades intelectuais para operar símbolos, idéias, imagens e representações que permitem organizar a realidade”. ( PARÂMETROS, 2001, p.74). Neste conteúdo evidenciou-se o trabalho operacionalizado no computador, onde o sujeito movimentou ativamente as suas capacidades intelectuais, organizando a realidade, inclusive, sobre a sua nova condição de VIDA.

O terceiro e último, pertence à categoria dos conteúdos atitudinais que “permeiam todo o conhecimento escolar. A escola é um contexto socializador, gerador de atitudes relativas ao conhecimento, ao professor, aos colegas, às disciplinas, às tarefas e à sociedade”. (PARÂMETROS, 2001, p.76). E ainda:

Para a aprendizagem de atitudes é necessária uma prática constante e sistemática, em que valores e atitudes almejados sejam expressos nos relacionamentos entre as pessoas e na escolha dos assuntos a serem tratados. Além das questões de ordem emocional, tem relevância no aprendizado dos conteúdos atitudinais o fato de cada aluno pertencer a um grupo social, com seus próprios valores e atitudes. (2001, p.77)

Reconhece-se com igual facilidade a abordagem deste conteúdo durante as aulas diárias, pelo fato de coexistir em seu teor a socialização, a sistematização, a emoção e os valores e atitudes almejados.

Nesta última categoria de conteúdos reconhecida neste estudo, nota-se que a pesquisadora e o aluno usufruíram dos conteúdos atitudinais sem distinção docente e discente. Como, por exemplo, nas aulas em que se utilizou jogos no computador: “O mundo da matemática”. Percebe-se que o sujeito sistematizou as regras (como escolher a melhor alternativa de acerto), os comandos (uma vez feita a escolha, era preciso solucionar e agir), e a dinâmica para a solução do problema (raciocínio lógico e troca de experiências com colegas e a

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pesquisadora), proposto pelos “Heróis da Matemática”. Logo depois, revisitou esta estrutura do jogo, demonstrando maior agilidade motora e mental. A comunicação social por meio desta atividade, foi prazerosa para ele, a ponto de desempenhar a função de professor junto aos colegas, demonstrando gosto pela ordem e disciplina para que o jogo prosseguisse e todos tivessem a oportunidade de conquistar seus objetivos, o que resultou em um estado emocional positivo para este grupo de crianças internadas na pediatria de queimados.

Considera-se que as três grandes categorias de conteúdos colaboram com as necessidades de aprendizagem da criança hospitalizada e a sua utilização enriquece e amplia a ação pedagógica hospitalar voltada a saúde, compreendida como “um estado capaz de potencializar nossa capacidade humana (orgânica-intelectiva-afetiva) de estabelecer uma vida social de acordo com nossa necessidade de uma existência alegre e geradora permanente de transformações individuais e coletivas”. (CECCIM, 2000, p.47).

Observa-se que o trabalho de integração dos conteúdos escolares às três grandes categorias de conteúdos (conceituais, procedimentais e atitudinais), em interação à observação da dimensão vivencial e a escuta pedagógica, pode representar um caminho aos profissionais da educação no sentido de oferecer uma prática educacional em pediatria, cuja fundamentação teórica apresenta linhas de orientação para a produção de conhecimento em ambiente hospitalar. O que pode evitar, conforme CECCIM (1997,p.34) que a “a dimensão vivencial da enfermidade e da hospitalização para a criança, no mais das vezes, fique remetida às práticas intuitivas, ao uso do bom-senso clínico ou à acumulação de experiência profissional”.

REFERÊNCIAS

CECCIM, Ricardo Burg e CARVALHO, Paulo R. Antonacci. (orgs) Criança Hospitalizada:

atenção integral como escuta à vida. Porto Alegre: Editora da Universidade. Universidade

Federal do rio Grande do Sul. Porto Alegre, 1997.

CECCIM, Ricardo Burg. Saúde e Doença: reflexão para a educação da saúde. P. 37-50. In: Cadernos da Educação Básica nº: 4. MEYER, Dagmar E. E. (org.) Saúde e sexualidade na escola. Porto Alegre: Mediação, 2000.

FONSECA, João Pedro. Aluno, Paciente, cidadão: A saúde escolar em questão. In: CONCEIÇÃO, José A. Nigro (Org.). Saúde Escolar: a criança, a vida, e a escola. São Paulo: Savier, 1994. p.23-32.

FONSECA, Eneida Simões. Aspectos da Ecologia da Classe Hospitalar no Brasil. Trabalho apresentado na 21ª reunião Anual da associação Nacional de pós-Graduação e Pesquisa em Educação. Caxambu, MG: 20 a 24 de setembro,1998.

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OLIVEIRA, Helena. A Enfermidade na Infância: Um estudo sobre a doença em crianças

hospitalizadas. Dissertação de Mestrado – Instituto Fernandes Figueira da Fundação

Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, 1991.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Introdução aos Parâmetros

Curriculares Nacionais. Brasília, 2001.

PIAGET, Jean. Para onde vai a educação? Tradução de Ivete Braga. Rio de Janeiro: José Olympio editora, 1976.

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