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PARTIDOS POLÍTICOS, ELEIÇÕES E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NA CAPITAL DA REPÚBLICA ( ) LUANA LADISLAU MEDEIROS E OLÍVIA CASCARDO CLEMENTE 1

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Academic year: 2021

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CAPITAL DA REPÚBLICA (1889-1930)

LUANA LADISLAU MEDEIROS E OLÍVIA CASCARDO CLEMENTE1

No Brasil, os partidos políticos existem desde o Segundo Reinado. Nesse período, no entanto, sua dinâmica de funcionamento era diferente. O que prevalecia era uma relação estreita com o imperador e o poder moderador, e não diretamente com os eleitores. Com a implantação da República essa dinâmica sofreu alterações.

Uma das primeiras mudanças foi a eliminação dos partidos nacionais, que saíram de cena para dar lugar aos partidos republicanos estaduais. Paralelamente, os partidos nacionais passaram a ser vistos de forma negativa. O pensamento positivista não valorizava os direitos políticos do cidadão, atribuindo importância somente aos direitos sociais. Já o pensamento autoritário, que ganhou espaço na década de 1920, concebia os partidos como instrumentos de representação de interesses particulares.

Um importante representante contrário aos partidos na experiência brasileira foi Campos Salles. Quando Salles, em 1898, lançou as bases para a Política dos Governadores, os partidos regionais acabaram tomando espaço privilegiado. Na nova lógica política erigida em sistema, a partir de 1898, a antiga competição entre partidos nacionais cedeu espaço definitivamente às relações entre as várias situações políticas estaduais e o poder central. Assim, formaram-se nos Estados, ao fim da primeira década republicana, partidos dominantes, quando não únicos, que passaram a monopolizar as posições do governo, possuindo maior ou menor complexidade interna, conforme a diversificação da estrutura social e política de cada região, como foram os casos do Partido Republicano Paulista (PRP)2 e do Partido Republicano Mineiro (PRM).3

1 Alunas do Curso de Licenciatura em História do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do

Rio de Janeiro (IM/UFRRJ). Orientadora Professora Doutora Surama Conde Sá Pinto.

2 Os fazendeiros paulistas compunham a base do PRP, partido formado ainda por banqueiros e comerciantes.

Sobre essa discussão ver: LOVE, Joseph. A locomotiva. São Paulo na federação brasileira (1889-1937). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 195. Ver também: CASALECHI, José Ênio. O Partido Republicano Paulista. São Paulo: Brasiliense, 1987; e, ZIMMERMANN, Maria Emília Marques. O PRP e os fazendeiros de café. São Paulo: Unicamp, 1987. (Dissertação de Mestrado).

3 Diferentemente do PRP, o PRM era dominado por advogados e profissionais liberais. Para uma análise do

PRM ver: WIRTH, John. O fiel da balança: Minas Gerais na federação brasileira. (1889-1937). Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1975, p. 183. Ver também RESENDE, Maria Efigênia. Formação da estrutura de dominação em

Minas Gerais: o novo PRM (1889-1906). Belo Horizonte: UFMG/PROED, 1982; e o artigo de Cláudia Viscardi

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Estudos recentes mostram, no entanto, que este padrão não foi seguido de maneira uniforme por todas as unidades da Federação.

Um importante trabalho sobre o tema é o de Marcos Veneu. Analisando as eleições e a dinâmica partidária no Distrito Federal nos primeiros anos do novo regime, num dos raros estudos sobre a experiência carioca, Marcos Veneu destacou que, apesar das várias tentativas de se formar partidos estáveis no Município, nenhum grupo político obteve êxito.4 Esta dificuldade se explicaria em função das próprias características assumidas pelas agremiações, dentre elas a fragilidade e o caráter sazonal. Usando a tipologia de Maurice Duverger,5 Veneu classificou os partidos republicanos da cidade de partidos de quadros, ou seja, organizações formadas pelas elites tradicionais em conjunturas eleitorais e, para estes fins, voltadas mais para a qualidade de seus membros como políticos influentes do que para a quantidade de seus adeptos.6 Como reflexo desta tendência, conclui esse autor, no Rio de Janeiro ter-se-iam multiplicado as redes de clientela, para as quais contribuíram ainda fatores como a falta de autonomia da cidade e a fragmentação de papéis e domínios sociais proporcionada pela vida numa grande cidade – traduzida numa maior individualização, contraposta ao caráter totalizador e hierarquizante da relação clássica coronel-cliente.7 Despojado de autonomia e

sem nenhum instrumento capaz de aglutinar suas elites, o Rio de Janeiro ter-se-ia afastado do jogo político formal das instituições. Não constituindo canais de expressão da vontade popular, elas teriam sido esvaziadas, abrindo espaço para os interesses pessoais e a corrupção, conformando uma imagem similar àquela delineada por Lima Barreto em suas obras.

Um jogo político predatório movido tanto pela ação interventora do poder central como pela luta desarticulada das lideranças políticas locais é a imagem que emerge da análise do autor.

Américo Freire, que também abordou a problemática partidária carioca do período, partilha da ideia de Veneu de que a dinâmica da capital na Primeira República não se identificou com as demais unidades federativas, ou seja, em torno de um Poder Executivo torno de um partido monoliticamente estruturado (o PRM): VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. Minas de dentro para fora. In: Locus, Revista de História. Juiz de Fora: EDUFJF, vol. 5, n.º 2, 1999.

4 VENEU, Marcos Guedes, op. cit.

5 DUVERGER, Maurice. Os Partidos Políticos. Brasília: Ed. UnB, 2ª ed., 1980. Ver também do mesmo autor: Partidos Políticos e sistemas eleitorais no Brasil: estudo de caso. Brasília: Ed. UnB, 1982.

6 VENEU, Marcos Guedes, op. cit., pp. 56-57. 7 Idem, ib., p. 59.

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estadual, de um Legislativo domesticado e de um partido globalidade. A grande diferença nas análises dos dois autores é que, para Freire, as limitações políticas oriundas do fato do Rio sediar a capital do país não inviabilizaram a formação de grupos e partidos que, em determinados momentos, tiveram condições de influir no ordenamento do campo político da cidade.8 Para embasar o seu ponto de vista, este autor remonta às experiências do Partido Republicano Federal (PRF) e do Partido Republicano do Distrito Federal (PRDF).

A ideia do predomínio de uma espécie de varejo político na capital é assim relativizada. Para este historiador, a ação interventora do Executivo federal no campo político da capital, as alterações introduzidas na legislação reguladora do Distrito Federal e as dificuldades enfrentadas pelas elites cariocas não inviabilizaram a criação de estruturas partidárias assentadas em bases locais.

Apesar da importante contribuição representada pelo trabalho desse autor, em termos de corte cronológico, sua análise se circunscreve aos anos iniciais da República e apenas tangencia a problemática das eleições na cidade, o que se justifica na medida em que seu objeto de pesquisa é o processo de construção da capital da República.

Embora também não explore os motores responsáveis por clivagens internas nos partidos estudados, as proposições de Freire encontram respaldo empírico na análise da dinâmica partidária da cidade no período posterior aos marcos cronológicos usados em seu trabalho.

No livro Só para iniciados... O jogo político na antiga capital federal, Surama Conde Sá Pinto ao analisar o jogo político na capital da República, entre 1909 e 1922, constatou que os partidos políticos cariocas, no período assinalado, tiveram um importante papel no estabelecimento de mecanismos de controle de acesso ao governo, na redução do grau de incerteza da política carioca, na garantia do espaço de ação no campo político da cidade para os grupos políticos locais e no ordenamento, através de suas chefias, do voto personalizado do eleitorado da capital.9

8 FREIRE, Américo. op. cit., p. 159.

9 PINTO, Surama Conde Sá. Só para iniciados ... o jogo político na antiga capital federal. Rio de Janeiro:

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Em virtude dos limites de tempo e recorte cronológico adotado, a autora não analisou a experiência dos partidos políticos da cidade nos anos 1920, a dinâmica das eleições nem a questão da participação eleitoral no Rio de Janeiro ao longo de toda a Primeira República.

Tomando com referencial esse quadro, este trabalho apresenta dados preliminares do projeto em desenvolvimento que articula a análise das experiências dos partidos políticos, das eleições e da participação eleitoral na cidade do Rio de Janeiro ao longo de toda a Primeira República. A abordagem conjunta desses três vetores norteadores da pesquisa – partidos políticos, eleições e participação política – tem como objetivo central fornecer elementos para uma melhor compreensão da dinâmica política da capital da República entre (1889-1930).

A escolha da cidade como recorte espacial justifica-se em função da sua importância nos planos econômico, cultural e político no período indicado. Além de sede do governo federal, o Rio de Janeiro era, no período, o principal centro urbano e financeiro do país e o único município brasileiro com representação no Congresso. Assim, na geografia das oligarquias feita por diversos autores, se o Distrito Federal não desfrutou de uma posição privilegiada nem por isso o seu papel no conjunto da Federação brasileira deve ser subestimado, até porque o Rio de Janeiro foi, e continua sendo, um grande laboratório da política nacional.

Já a opção por utilizar como balizas cronológicas o período de 1889 a 1930 justifica-se em função da necessidade da produção de um estudo que dê conta não apenas dos anos iniciais do novo regime ou do período imediatamente subseqüente, mas de toda a experiência da Primeira República.

Vale destacar, existe uma defasagem nos estudos sobre a política carioca durante a Primeira República. Apesar do grande aumento da produção de trabalhos sobre o Rio de Janeiro, que ocorreu nos anos 1980, esta produção, contudo, ao enfatizar temas como a urbanização, as classes trabalhadoras, a industrialização e memórias de bairros, acabou relegando a um segundo plano a história política carioca.10A ampla divulgação da tese da nacionalização da política carioca também tem contribuído para esse quadro. De acordo com ela, por sediar a capital do país e não gozar efetivamente de autonomia administrativa, os políticos cariocas teriam sido absorvidos pelo debate político nacional e, consequentemente, a

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cidade teria encontrado sérias dificuldades em organizar-se enquanto sujeito político. Como desdobramento direto dessa situação a história política carioca confundir-se-ia com a história política nacional.

Ao desenhar como proposta o estudo dos partidos políticos, das eleições e da participação eleitoral na cidade do Rio na Primeira República consideramos como acervo documental: os Anais das Casas Legislativas (do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Conselho Municipal do Distrito Federal - com essas fontes, pretende-se analisar os dispositivos legais que compunham as eleições do Rio de Janeiro), a documentação oriunda de arquivos privados (Pereira Passos e Paulo de Frontin – fundamentais para a compreensão das redes de clientela da política carioca durante a Primeira República) e a imprensa ( O

Correio da Manhã , O Pais e o Jornal do Brasil ).

São três as hipóteses trabalhadas por esse projeto.A primeira é a de que os partidos políticos formados na cidade do Rio de Janeiro na Primeira República se empenharam na redução do grau de incerteza da política carioca, através da defesa de propostas que limitavam as investidas do governo federal na política carioca. As siglas procuraram garantir o espaço de ação no campo político da cidade para os grupos políticos locais e promoveram o ordenamento, através de suas chefias, do voto personalizado do eleitorado da capital. A segunda é a de que as eleições se constituíram em momentos de teste da capacidade aglutinadora dos partidos e de barganhas da população em relação às chefias políticas da cidade. Finalmente a terceira é a de que a nova configuração assumida pelos partidos e suas plataformas eleitorais, bem como a legislação produzida e sancionada visando a coibir as diversas modalidades de fraudes eleitorais, são fatores que concorreram para o aumento nos índices de participação eleitoral da população da cidade ao longo do período.

Referências

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