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Eis o teor da decisão (peça 30):

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Academic year: 2021

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na ação direta de inconstitucionalidade 5.022-RO

Relator:

Ministro Celso de Mello

Agravante:

Banco Cruzeiro do Sul S.A. (BCS)

Requerente: Governador do Estado de Rondônia

Interessada:

Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia

Amicus curiæ: Banco Central do Brasil

Agravo regimental em ação direta de inconstitucionalidade.

Negativa de admissão para intervir na ação direta, na

quali-dade de amicus curiæ. do B

ANCO

C

RUZEIRO DO

S

UL

S.A.,

em-presa financeira em liquidação extrajudicial. Ausência de

re-presentatividade adequada para ingressar em ADI. Natureza

objetiva do processo de controle abstrato de normas.

Im-possibilidade de tutela jurisdicional de situações individuais.

Parecer pelo não provimento do agravo regimental.

Cuida-se de agravo regimental interposto por B

ANCO

C

RUZEIRO DO

S

UL

S.A. (BCS), em face de decisão que indeferiu

pedido de ingresso na ação direta de inconstitucionalidade, na

qualidade de amicus curiæ.

Eis o teor da decisão (peça 30):

Não vejo como reconhecer, ao BANCO CRUZEIRO DO SUL S.A. (EM LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL), legitimidade para in-tervir, como amicus curiæ, neste processo de fiscalização

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normativa abstrata, eis que a instituição financeira em questão não dispõe de representatividade adequada.

Como se sabe, terceiros não dispõem, ordinariamente, em nosso sistema de direito positivo, de legitimidade para in-tervir no processo de fiscalização normativa abstrata (RDA 155/155 – RDA 157/266 – ADI 575-AgR/PI, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).

A Lei no 9.868/99, ao regular o processo de controle abs-trato de constitucionalidade, prescreve que “Não se admi-tirá intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade” (art. 7o , caput – grifei).

A razão de ser dessa vedação legal – adverte o magistério da doutrina (OSWALDO LUIZ PALU, “Controle de Constitu-cionalidade”, p. 192/193, item n. 9.9.1, 2a ed., 2001 RT; ZENO VELOSO, “Controle Jurisdicional de Constitucionali-dade”, p. 89, item n. 109, 3a ed./2a tir., 2003, Cejup; ALEXANDRE DE MORAES, “Direito Constitucional”, p. 755/756, item n. 9.2, 27a ed., 2011, Atlas, v.g.) – repousa na circunstância de o processo de fiscalização normativa abstrata qualificar-se como processo de caráter objetivo (RTJ 113/22 – RTJ 131/1001 – RTJ 136/467 – RTJ 164/506-507).

É certo, no entanto, que a regra constante do art. 7o , § 2o , da Lei no 9.868/99 abrandou, em caráter inovador, o sentido da vedação pertinente à intervenção assistencial, per -mitindo, agora, na condição de amici curiæ, o ingresso de entidades dotadas de representatividade adequada no pro-cesso de controle abstrato de constitucionalidade.

A norma legal em questão, ao excepcionalmente admitir a possibilidade de ingresso formal de terceiros no processo de controle normativo abstrato, assim dispõe:

“O relator, considerando a relevância da matéria e a re-presentatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no pará-grafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou enti-dades.” (grifei)

Sabemos que entidades que possuem representatividade adequada podem ingressar, formalmente, em sede de con-trole normativo abstrato, na condição de terceiros interes-sados, para efeito de participação e manifestação sobre a

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controvérsia constitucional suscitada por quem dispõe de legitimidade ativa para o ajuizamento de referida ação constitucional.

Tal como assinalei em decisões anteriores (ADI 2.130-MC/SC, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU 02/02/2001), a intervenção do amicus curiæ, para legitimar-se, deve apoi-ar-se em razões que tornem desejável e útil a sua atuação processual na causa, em ordem a proporcionar meios que viabilizem uma adequada resolução do litígio constitucio-nal.

Isso, porém, não é o que se registra em relação à institui-ção financeira, em liquidainstitui-ção extrajudicial, que pretende ingressar, nesta relação processual objetiva, na condição de amicus curiæ, eis que tal entidade não atende à exigência pertinente à adequacy of representation.

Cumpre acentuar, neste ponto, ante a sua inteira pertinên-cia, que o sistema de controle normativo abstrato de cons-titucionalidade não permite que, em seu âmbito, se discu-tam situações individuais, nem se examinem interesses concretos.

Cabe ter presente, por oportuno, que o processo de fiscali-zação concentrada de constitucionalidade – por revestir-se de caráter objetivo – destina-se a viabilizar “o julgamento, não de uma relação jurídica concreta, mas de validade de lei em tese (...)” (RTJ 95/999, Rel. Min. MOREIRA ALVES – grifei).

A importância de qualificar-se, o controle normativo abs-trato de constitucionalidade, como processo objetivo – vo-cacionado, como precedentemente enfatizado, à proteção in abstracto da ordem constitucional – impede, por isso mesmo, a apreciação de qualquer pleito que vise a resguar-dar interesses de expressão concreta e de caráter individu-al.

Isso significa, portanto, que, em face da natureza objetiva de que se reveste o processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade, nele não se discutem situações indivi-duais (RTJ 170/801-802, Rel. Min. CELSO DE MELLO), eis que inadmissível proceder à “defesa de direito subjetivo” (Min. CÉLIO BORJA, in ADI 647/DF – RTJ 140/36-42) em sede de controle normativo abstrato:

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“CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIO-NALIDADE – PROCESSO DE CARÁTER OBJETI-VO – IMPOSSIBILIDADE DE DISCUSSÃO DE SI-TUAÇÕES INDIVIDUAIS E CONCRETAS.

– O controle normativo de constitucionalidade quali-fica-se como típico processo de caráter objetivo, voca-cionado, exclusivamente à defesa, em tese, da harmonia do sistema constitucional. A instauração desse processo objetivo tem por função instrumental viabilizar o julga-mento da validade abstrata do ato estatal em face da Constituição da República. O exame de relações jurí-dicas concretas e individuais constitui matéria juridica-mente estranha ao domínio do processo de controle concentrado de constitucionalidade.

A tutela jurisdicional de situações individuais, uma vez suscitada a controvérsia de índole constitucional, há de ser obtida na via do controle difuso de constitucionali-dade, que, supondo a existência de um caso concreto, revela-se acessível a qualquer pessoa que disponha de interesse e legitimidade (CPC, art. 3o ).”

(RTJ 164/506-509, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno) Sendo assim, tendo em consideração os aspectos que ve-nho de referir – inobservância, por parte da instituição fi-nanceira interessada, da exigência pertinente à adequacy of representation e pretendida defesa, incabível em sede de controle normativo abstrato, de direitos e interesses indivi-duais –, indefiro o pedido de intervenção processual dedu-zido pelo Banco Cruzeiro do Sul S.A. (em liquidação ex-trajudicial).

O agravante alega possuir legitimidade para ingressar no feito,

por ser titular da maior parte dos créditos decorrentes de

emprés-timos consignados em folha de pagamento no Estado de

Rondô-nia, motivo pelo qual “possui maior aptidão para tratar, defender,

entender e expor todas as questões que se colocam como pano de

fundo frente a esta Ação Direta de Inconstitucionalidade” (fl. 9 da

peça 35). Afirma não buscar tutela de direitos e interesses próprios,

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mas de todas empresas em liquidação extrajudicial que possuam

créditos decorrentes de empréstimos consignados.

É o relatório.

A decisão agravada é integralmente correta e deve manter-se.

Via de regra, não se admite, em ação direta de

inconstitucio-nalidade, modalidade alguma de intervenção de terceiros. A

natu-reza marcadamente objetiva da fiscalização abstrata de normas

torna-a incompatível com tutela de interesses subjetivos de pessoas

alheias à relação jurídico processual.

Sem embargo, no intuito de pluralizar e legitimar social e

de-mocraticamente o debate constitucional, o art. 7

o

, § 2

o

, da Lei

9.868, de 10 de novembro de 1999, excepcionalmente, possibilitou

ao relator da ação direta, considerada a relevância da matéria,

ad-mitir a manifestação de órgãos ou entidades investidos de

repre-sentatividade adequada:

Art. 7o. Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade.

[…]

§ 2o. O relator, considerando a relevância da matéria e a re-presentatividade dos postulantes, poderá, por despacho irre-corrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades.

A respeito da representatividade necessária para postular

como amicus curiæ, C

ASSIO

S

CARPINELLA

B

UENO

observa:

[…] terá “representatividade adequada” toda aquela pessoa, grupo de pessoas ou entidade, de direito público ou de di-reito privado, que conseguir demonstrar que tem um

(6)

especí-fico interesse institucional na causa e, justamente em função disso, tem condições de contribuir para o debate da matéria, fornecendo elementos ou informações úteis e necessárias para o proferimento de melhor decisão jurisdicional. Meros interesses corporativos, que dizem respeito apenas à própria entidade que reclama seu ingresso em juízo, não são sufici-entes para sua admissão na qualidade de amicus curiæ.

Com o emprego da expressão “interesse institucional” que-remos designar […] que o pretendente à intervenção na ação direta de inconstitucionalidade deve ser legítimo repre-sentante de um grupo de pessoas e de seus interesses, sem que, contudo, detenha, em nome próprio, nenhum interesse seu, próprio, típico de qualquer interessado no sentido tradi-cional, individual, do termo. Ele precisa guardar alguma rela-ção com o que está sendo discutido em juízo, mas isso deve ser aferido no plano institucional, de suas finalidades institu-cionais, e não propriamente dos seus interesses próprios no deslinde da ação e das consequências de seu julgamento.1

Neste caso, carece o agravante de legitimidade para intervir

em ação direta de inconstitucionalidade, uma vez que não

consti-tui entidade ou órgão dotado de representatividade adequada. O

banco não representa categoria ou classe alguma, mas postula, em

nome próprio, a defesa de seus interesses corporativos, apenas.

Interesse subjetivo do agravante na solução do processo, por si

só, não o legitima a intervir em controle concentrado de

constitu-cionalidade. Conforme bem ressaltou o relator, na decisão

agra-vada, a tutela jurisdicional de situações individuais há de obter-se

pela via do controle difuso de constitucionalidade, acessível a

qual-quer pessoa que disponha de interesse e legitimidade.

1 BUENO, Cassio Scarpinella. Amicus curiæ no Processo Civil brasileiro: um

(7)

Ante o exposto, o parecer é pelo desprovimento do agravo

regimental.

Brasília (DF), 24 de julho de 2014.

Rodrigo Janot Monteiro de Barros

Procurador-Geral da República

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