• Nenhum resultado encontrado

DOSSE, François - Gilles Deleuze e Félix Guattari - biografia cruzada.pdf

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "DOSSE, François - Gilles Deleuze e Félix Guattari - biografia cruzada.pdf"

Copied!
229
0
0

Texto

(1)

c flLOSOFIA ~ ;S8N 978'8S~363-2370~1 9

ijll~lll,llj 1,I~I,IIJlllll

m X "0

r-o

"

»

z

<:>

o

C\

"

»

z

<:> m V>

»

c

-I

o

"

91.615

(2)

Conselho Editorial de Filosofia

Maria Carolina dos Santos Rocha (Presidente). Professora e Doutora em Filosofia Contemporanea pela ESA/ Paris e UFRGS/Brasil. Mestre em Sociologia pela Escola de Altos Estudos em Ciencias Sociais (EHESS)/Paris.

Fernando

jose

Rodrigues da Rocha. Doutor em PSicolinguistica Cognitiva pela Universidade Cat6lica de Lou-vain, Belgica, com p6s-doutorados em Filosofia nas Universidades de Kassel, Alemanha, Carnegie Mellon, EDA, Cat6lica de LOllvain, Belgica, e Marne-la-Valle, Fran9a, Professor Associado do Departamento de Filo-sofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Lia Levy. Professora Adjunta do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Dou-tora em Hist6ria da Filosofia pela Universidade de Paris IV-Sorbonne, Fran<;:a. Mestre em Filosofia pela UFRJ.

Nestor Luiz joao Beck. Diretor de Desenvolvimento da Funda<;:ao ULBRA.

Doutor em Teologia pelo Concordia Seminary de Saint Louis, :Missouri, EUA, com p6s-doutorado em 1'eo10-gia Sistematica no Instituto de Hist6ria Europeia em Mainz, Alemanha.

Bacharel em Direito. Licenciado em Filosofia.

Roberto Hofmeister Pich. Doutor em Filosofia pela Universidade de Bonn, Alemanha. Professor do Programa

de P6s-Gradua<;:ao em Filosofia pela PUCRS.

Valerio Rohden. Doutor e livre-docente em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do SuI, com

p6s-doutorado na Universidade de Munster, Alemanha. Professor titular de Filosofia na Universidade Lute-rana do Brasil.

D724g Dosse. Franyois.

Gilles Deleuze e Felix Guattan : biografia cruz ada / Fran<;:ois Dosse ; tradu<;:ao: Fatima Murad; revisao tecnica: Maria Carolina dos Santos Rocha. - Porto Alegre: Artmed, 2010.

440 p. ; 25 cin + 1 encarte

ISBN 978-85-363-2370-1

L Filosofia. 2. Gilles Deleuze Biografia. 3. FeUx Guattan -Biografia.1. Titulo.

CDU 101:929 Catalog~,iio na publica<;iio: Ana Paula M. Magnus - CRB-IO/Prov-009/1O

FRAN<;OIS DOSSE

Historiador, Professor do IUFM de Creteil, Universite Paris XII

GILLES DELEUZE

& FELIX GUATTARI

BIOGRAFIA CRUZADA

Tradu~ao:

Fatima Murad

Consultoria, supervisao e revisao tecnica desta

edi~ao:

Maria Carolina dos Santos Rocha

Professora e Doutora em Filosofia Contemporanea pela ESA/Paris e UFRGSlBrasil Mestre em Sociologia peJa Escola de Altos Estudos em Ciencias Sociais (EHESS)IParis

070109161S

1111111" 11/1111

I III

(3)

Obra originalmente publicada sob 0 titulo

Gilles Deleuze et Felix Gualarri: biographie croisee ISBN 978-2-7071-5295-4

© Editions La Decouverte, Paris, France, 2007.

Capa: Taliana Sperhacke

Fotos da capa

© Raymond Depardon / Magnum Photos/Magnum Photos/Latinstock

© Philippe Bouchonl AFP

Prepara<;iio de original: Kalia Michelle Lopes Aires

Editora Senior: Monica BaLlejo Canto

Editorayao eletronica: Techbooks

r-~~E~~S~~~~81~~CA)

j

TOMPO

I

CLASSIFICAo:;Ao

f

~j~

lr8il;~.r?:1

..

§.iJ?".2

;;2Lf ..

:a. ,:

.

,,,r1-;.;:-F';Y

S J

\~~J

__

~~,,:_~£1G

.

Reservados todos os'alreitos de publica<;ao, em lingua portuguesa,

a

ARTMED® EDITORA SA

Av.Jeronimo de Ornelas, 670 - Santana

90040-340 -Porto Alegre - RS

Fone, (51) 3027-7000 Fm" (51) 3027-7070

E proibida a duplica<;iio ou reprodw;iio deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eietronico, mecanico, grava<;ao, fotocopia, distribui<;ao na Web e outros), scm permissao expressa da Editora.

Unidade Sao Paulo

Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilhiio 5 - Condo Espace Center Vila Anastacio - 05095,035 - Sao Paulo - SP

Fone, (ll) 3665-1100 Fax, (ll) 3667-1333

SAC 0800 703-3444

IMPRESSO NO BRASIL ':.'

PRINTED IN BRAZIL

Agradeci mentos

Agradeyo a todos aqueles que

generosa-mente me prestaram seu testemunho ao longo

das entrevistas realizadas entre 2000 e 2006.

Essa contribwgao foi essenciaL Constituiu um

dos materiais mais importantes para a

realiza-yao desta biografia cruzada de Gilles Deleuze e Felix Guattari.

Alfred Adler. Eric Alliez. Dudley Andrew. Bernard Andrieu. Manola Antonioli, Alain Aptekman. Olivier Apprill. Philippe Artieres. Zafer Aracag6k, Franyois Aubra!. Daniele Auf-fray, Jacques Aumont. Kostas Axelos, Alain Beaulieu, Raymond Bellour. Thomas Bena-touil, Reda Bensmaia. Denis Berger. Giuseppe Bianco. Pierre Bianchaud. Pascal Bonitzer. Julian Bourg. Christian Bourgois, Constantin Boundas. Christine Buci-Glucksmann. Ber-nard Cache. Michel Cartry. Pascal Chabot. Pierre-Antoine Charde!. NoWe Chatelet. Jean Chesneaux. Michel Ciment. Pascale Criton, Andrew Cutro-fello. Fanny Deleuze. Christian Descamps. Marc-Alain Descamps. Jacques Donzelot. Jean-Marie Doublet. Jean-Claude Dumonce!. Elie During. Corinne Enaudeau. Jean-Pierre Faye. Pierrette Fleutiaux. Franyois Fourquet. Daniel Franco. Gerard Fromanger, Maurice de Gandillac. Roger Gentis, Fernando Gonzales. Frederic Gros. Lawrence Grossberg.

Bruno Guattari, Emmanuelle Guattari. Jean Guattari. Alain et Daniele Guillerm. Nicole Guillet. Suzanne Heme de Lacotte. Eugene Holland. Michel Izard. Eleanor Kaufman. Lawrence Kritzmann. Christina Kullberg. Da-vid Lapoujade. Claude Lemoine. Jean-Louis Leutrat. Sylvain Loiseau. Sylvere Lotringer, Yves Mabin. Norman Madarasz. Robert Mag-giori. Josee Manenti, Jean-Paul Manganaro. Patrice Maniglier. Michel Marie. Jean-Clet Martin. Herve Maury. Philippe Mengue. Alain Menil. Catherine Millot. Olivier Mongin. Pierre Montebello, Liane Mozere. Lion Murard. Jean-Pierre Muyard, Stephane Nadaud. Jean Narboni. Toni Negri. Miguel Norambuena, Jean Oury. Franyois Pain. Dominique Paini, Jo Panaget. Thierry Paquot. Andre de Souza Parente, Giorgio Passerone. Paul Patton. Flo-rence Petry. Richard Pinhas, Rafael Pividal. Jean-Claude Polack. Matthieu

Potte-Bonnev-ille. Daniel Price. John Protevi. Olivier Quer-oui!. Anne Querrien. David Rabouin, Jacques Ranciere. Franyois Regnault. Olivier Revault dAllonnes. Judith Revel, Alain Roger. Jacob Rogozinski. Suely Rolnik. Elisabeth Roudines-co. Jean-Michel Salanskis. Elias Sanbar. Anne Sauvagnagues. Rene Scherer. Dominique Seglard. Guillaume Sibertin-Blanc. Danielle

(4)

vi

Sivadon, Gerard Soulier, Hidenobu Suzuki, Jean,Baptiste Thierree, Simon Tormey, Serge Toubiana, Michel Tournier, Michel Tubiana, Guy Trastour, Kuniichi Uno, Janne Vahanen, Paul Veyne, Arnaud Villani, Tiziana Villani,

J.

MacGregor Wise, Frederic Worms, Chris You, nes, Dork Zabunyan, Fran,ois ZourabichvilL

Agrade\=o imensamente tam bern a Virginie Linhart porter me passado as entrevistas que realizou para sua pesquisa sabre a vida de Fe-lix Guattari. Ela me ofereceu gentilmente essa documentaQ8.o excepcional de entrevistas que realizou ao longo do ano 2000:

Eric Alliez, Raymond Bellour, Franco Be, rardi Bifo, Denis Berger, Jacky Berroyer, Novella Bonelli, Bassano, Jack Briere, Brivette, Michel Butel, Michel Cartry, Gaby Cohn,Bendit, Marie Depusse, GiseJe Donnard,Jean,Marie Doublet, Hellme Dupuy de Lome, Mony Elkaim, Patrick Farbias, Jean,Pierre Faye, Fran,ois Fourquet, Gerard Fromanger, Gervaise Garnaud, Sacha Goldman, Bruno Guattari, Emmanuelle Guat, tari, Jean Guattari, Nicole Guillet, Tatiana Ke, cojevic, Jean,Jacques Lebel, Sylvere Lotringer, Pierre Manart, Lucien Martin, Ramondo Mat, ta, Ginette Michaud, Gian Marco Montesano, Yann Moulier,Boutang, Lion Murard, Toni Ne, gri, Jean Oury, Pierre Pachet, Fran,ois Pain, Jo Panaget, Jean,Claude Polack, Anne Querrien, Jacques Robin, Michel Rostain, Dominique Seglard, Gerard Soulier, Isabelle Stengers, Mas, saki Sugimura, Paul Virilio, Claude Vivien.

Agrade\!o imensamente tambem ao meu amigo Jean,Christophe Goddard por ter'me

convidado a intervir em duas jornadas apaixo-nantes sabre

a

Anti-Edipo

que organizou nos dias 2 e 3 de dezembro de 2005 na Universida, de de Poitiers.

Agrade,o ainda a Anne Sauvagnargues e Guillaume Sibertin-Blanc por terem me acei-to em seu semimlrio "Leituras de Mil Platos de Deleuze e Guattari", do grupo de trabalho "Deleuze, Espinosa e as ciencias sociais", pa-trocinado pelo Centre d'Etudes en Rhetorique, Philosophie et Histoire des Idees (CERPHI) du, rante 0 perfodo 2005,2006.

Agrade,o igualmente a Emmanuelle Guat, tari por seu apoio desde a formula,ao de meu projeto e a Jose Ruiz Funes par ter me facilita, do 0 acesso ao acervo Guattari do IMEC.

Agrade,o tambem a Fanny Deleuze, Em, manuelle e Bruno Guattari por terem me pas, sado e permitido que eu publicasse suas fotos pessoais.

Agrade90, enfim, mas com urn sentimento intense de reconhecimento, aqueles a quem confiei a ardua tarefa de serem meus primei-ros leitores criticos e que me ajudaram a me-Ihorar substancialmente 0 manuscrito inicial. Sem duvida, devo muito a e1es, tanto pelas imimeras corre90es como pelas precis6es e su-gestoes: Manola Antonioli, Raymond Bellour, Fran,ois Fourquet, Hugues Jallon, Thierry Paquot, Guillaume Sibertin,Blanc e Danielle Sivadon. Evidentemente, agrade,o aquela que teve de sacrificar momentaneamente suas proprias pesquisas, pois suas qualidades de es, tilista me sao indispensaveis, Florence Dosse.

Abreviac;6es

A :

lAbecedaire de Gilles DeleU2e

(avec Claire Parnet), Pierre, Andre Boutrang, 1988.

AH:

LesAnnees d'hiver,

Barrault, 1985. AO :

Capitalisme et schizophrenie, t.

1

lAnti,OEdzpe,

Minuit, 1972. B :

Le Bergsonisme,

PUF, 1966. CC:

Critique et clinique,

Minuit, 1993. CH:

Chaosmose,

Galilee, 1992.

CZ :

Cartographies schizoanalyliques,

Galilee, 1989,

D :

Dialogues,

avec Claire Parnet, Flammarion, 1977; reed, augmentee, Champs Flammarion, 1996.

DR:

Difference et repetition,

PUF, 1968. ES :

Empirisme et subjectivite,

PUF, 1953. FB :

Francis Bacon. Logique de la sensation,

La Difference, 1981, 2 voL; reed. Seuil, 2002, F:

Foucault,

Minuit, 1986.

ID :

L71e deserte et autres textes. Textes et entre,

liens

1953,1974, ed. David Lapoujade, Minuit, 2002.

1M :

Cinema

1.

L'lmage,mouvement,

Minuit, 1983.

IncM ; L'inconscient machinique, ed. Recher-ches,1979.

IT :

Cinema

2.

L'lmage,temps,

Minuit, 1985. K :

Kafka, Pour une litterature mineare,

Minuit, 1975.

LS :

Logique du sens,

Minuit, 1969.

MP :

Capitalisme et schizophrenie,

t. 2 :

Mille

Plateaux,

Minuit, 1980.

NEL :

Les Nouveaux Espaces de liberte

(avec Toni Negri), ed, Dominique Bedou, 1985. Nph :

Nietzsche et fa philosophie,

PUF, 1962. PS :

Proust et les signes,

PUF, 1964 ; reed aug, mentee,1970.

PCK :

La Philosophie critique de Kant,

PUE 1963.

Pli:

Le Plio Leibniz et Ie baroque,

Minuit, 1988. PP :

Pourparlers,

Minuit, 1990,

PT :

Psychanalyse et transversalite,

Maspero, 1972, reed. La Decouverte, 2003.

Qph :

Qu'est,ce que fa philosophie

?, Minuit, 1991.

RF: Deux regimes de fous. Textes et entretiens 1975,1995, ed. David Lapoujade, Minuit, 2003.

(5)

viii

RM :

La Revolution moleculaire,

ed.

Recherches,

1977.

SM :

Presentation de Sacher-Masoch

(joint

a

L. VON SACHER-MASOCH,

La venus alafourrure),

Minuit,1967,

SPE:

Spinoza et Ie probleme de J'expression,

Mi-nuit,1968.

SPP:

Spinoza. Philosophie pratique,

PUF, 1981. TE:

Les Trois Ecologies, Galilee,

1989.

Sumario

Prologo ... , , .. , .. , .. , , , . , , , , , . , ... 13

PARTE

I

DOBRAS: BIOGRAFIAS PARAlELAS 1 Felix Guattari: itinerario psica-polftico - 1930-1964 ... 29

2 "Y/a bon Banania" .. A cena traumatica ... . Fim de guerra ... .

o

engajamento trotskista ... . Felix: um lacaniano precoce .. . .. 29

. ... 31

. ... 32

.. 35

. .... 39

La Borde, entre mito e realidade ... 44

A filia<;ao da pSicoterapia instituc10nal . .. ... 44

Um novo construtor: jean Oury .. . . ... 46

A invasao dos "barbaros" ... . . ... 50

3 A vida cotidiana em La Borde ... , ... , .. , 56

Multlplicidade de agenc1amentos institucionais . . . . .... 56

o

grupo de trabalho de psicoterapia e de soc1oterapia institucionais . . . . ... 59

Transversalidade . . . .. . . . . ... 61

A famflia Guattari e sua ruptura . . . . ... 62

A prova por Lacan. . . . . . . 67

As linhas de erranc1a ... 63

4 A pesquisa crftica

Ii

prova da experiencia ... , . . 72

A transdlsciplinaridade em ato. . . . . ... 72

Uma oposi,ao de esquerda. . . . . . . 74

Em busea de um programa . . . .. . . . 78

5 Gilles Deleuze: 0 irmao do heroi ... , ... 82

(6)

10 Sumario

Um "novo Sartre" . . . . .... 84

A ilha Saint-Louis.

.... . .

. 89

Um despertador de

voca~6es

lilos6licas.

. ... 91

6

A arte do retrato ... 97

Hume revisitado . . . . .. 99

Uma lase de latencia. . . .

. 102

o

incontornavel Kant ... , ... , ... . . ... 107

Proust em busca de verdade ... , . . . . . ... 108

7

Nietzsche, Bergson, Espinosa: uma tdade para uma filosolia vitalista ...

113

Urn dos tres mestres da suspeita: Nietzsche . . . 113

Bergson:

0

impulso vital ...

117

Um pensamento da alirma<;ao: Espinosa ...

122

8 0 deleuzismo: uma ontologia da

dileren~a

... 131

Inverter 0 platonismo e 0 hegelianismo . . . . ... 131

A dileren<;a por ela mesma . . .

. . 132

o

cogito rompido . . . ..

. . .

. . .

. ...

136

A reabilita<;ao dos veneidos . . .

. ...

138

A outra metaffsica ... , . . . , . . . , ... 141

Como um peixe na agua . . . , . . . 147

9 Maio de 68: a ruptura instauradora ... 147

Como um peixe na agua . . . , ... 147

Deleuze

a

escuta de 1968 ... 152

PARTE

II

DESDOBRES: BIOGRAFIAS CRUZADAS 10

Fogo no psicanalismo ...

157

Lacan em Lyon com Deleuze ...

158

Lacan-Deleuze em situa<;ao de proximidade ...

159

Um dispositivo de trabalho a duas vozes ...

163

Uma tentativa de antropologia hist6rica . . . , . . . , ... 168

Para uma esquizoanalise ... ' ... , . . . 171

11

0

Anti-Edipo ...

175

A linha de fuga que permite evitar 0 perigo do terrorismo . . . 175

Um sucesso editorial estrondoso . . . , ... , ... 176

Teses discutidas do lado dos analistas ...

177

Os apoios de Girard, Lyotard, Foucault ...

180

o

Anti-Edipo

a distaneia ...

183

12 A maquina contra a estrutura ... 189

Uma maquina de guerra contra 0 estruturalismo . . . 189

Inverter 0 estruturalismo pelas cl~nclas humanas ... , ... , ... 194

Inverter a semiologia estrutural . . . 194

A esquizoanalise contra a psicanalise ... , . . . , ... 197

Uma antropologia polftica contra a antropologia estruturaL .. , ... , ... 198

13 A literatura "menor" sob um olhar cruzado ...

202

"E

um rizoma, uma toea" . . . , .. , .. 202

o

aconteciment9,Kalka ...

205

Sumario 11

14 Mil PlatOs: uma geofilosolia do politico ...

209

L6gicas espaciais . . .

. . .

. ... 214

o

caso de um povo sem terra: 0 povo palestino ... , ... 215

Uma pragmatica polftica em escala mundial .... ... . .... 217

15

0 CERFI em suas obras ...

223

Um grupo de pesquisa autogerido.

Esdarecer as decis6es do Estada ..

A arte do escandalo ... .

. . 224

. . 226

. ... 227

Grandes sucessos editoriais . . . 229

A

escuta dos atores . . . , . . . 233

16 A

"revolu~ao

molecular": Italia, Alemanha,

Fran~a

...

237

o

maio de 68 italiano:

1977 . . . . ... 237

A rea<;ao de Bolonha. . . .

. ...

241

A placa de chumbo na Alemanha

. . .

. . .

. ....

243

Os anos de chumbo italianos. . . . . . . 245

Do bobo da corte

a

libera<;ao das ondas . . . .

. . .

. ... 248

17

Deleuze e Foucault: uma amizade lilos61ica ...

254

A aventura do Crupo de Informa~oes sobre as Prisoes . . . 256

o

momento das Iraturas ...

259

A Verdade ... 262

Jogos de espelhos ...

264

Dois lil6solos do aconteeimento ...

265

Deleuze, leitor de Foucault ...

267

o

desapareeimento ...

268

18 Uma alternativa

a

psiquiatria? ... 274

Antipsiquiatria ...

274

A "Rede Alternativa

a

Psiquiatria" . . .

. ...

277

Acusa,6es de pedolilia ...

278

Gourgas tomada de assalto ...

280

A internacionaliza~ao da rede ... , . . . 280

19 Deleuze em Vincennes ...

284

o

caldeirao de Vincennes ...

284

Lutas lnternas ... , . . . , .. , . . . 286

Deleuze pedagogo ...

291

20

1977:

0

ano de todos os combates ...

298

o

"Iaseismo da batata" ...

300

Os novos fil6solos: "um t,abalho de porco" ...

306

PARTE

III

SOBREDOBRAS: BIOGRAflAS PARAlELAS 21

Guattari entre a,ao cultural e ecologia ...

313

As alamedas do poder ... 313

Rela,6es tumultuadas ...

315

A revolu,ao ecol6gica ...

316

Caosmose ...

320

(7)

12 SUm.3riO

22 Deleuze vai ao cinema ... 325

Um companheiro dos Cahiers du Cinema .. 325

Uma nova metaffsica bergsoniana . . . . 331

Crftica da semiologia do cinema. . . . . . ... 333

Os pioneiros do estudo cineffllco na universidade . . . . . . 335

o

sismo de 1939-1945... ... .... .337

Da imagem-movimento

a

imagem-tempo . . . . 338

o

pensamento·imagem. . . . . .. 340

23 Guattari e a estetica ou a compensa~ao aos anos de inverno ... 345

Josephine . . . . .. 346

Ser escritor . . . . . 348

24 Deleuze dialoga com a cria~ao ... 354

Trabalhar com os artistas . . ... 354

Da musica antes de qualquer coisa . . . . . . . ... 360

As dobras da imanencia. . . . . . . . .. 365

25 Uma filosofia artista ... 372

Filosofar

e

criar concertos ... . Afetos e perceptos ... . U ma estetica da vida ... . . .. 372 . .. 375 . ... 376 26

A

conquista do Oeste ... 379

o

passador Lotringer .... . . ... 379 A admira<;ao americana .. . . ... 387

27 Sob todas as latitudes ... 392

Rumo ao extremo oeste. . . . . ... 382

o

turno universitario. . . . . . . . ... 383

Uma terra de escolha: 0 Japao. . . . . . . . ... 393

o

Brasil: terra de esperan,as. . . . . ... 395

As fronteiras mexicanas. .. ... . ... , , . , , . 397

Um chileno escapa de Pinochet. ... 398

Uma terra de escolha: a Italia . . . . .... 399

28 Dois desaparecimentos ... 402

o

amigo chorado . . . . ... 403

A falta de ar ate a morte .. . . . ... 405

29 A obra trabalhando ... 411

Os primeiros comentadores: um desdobramento da obra , .... , .... , , , ... , .. , , , .. 411

A alternancia per uma nova gera<;ao , , .. , . , , , .. , ... , , , . , , ... , ... , ... , 412

Uma nova radicalidade cultural e politica ... 414

Crfticasda critica., .. ,., .. , .. , " " " , . " .. , ... , .. " ... , ... , 416

Um pensamentodo maqufnico moderno ., ... , .. " ... , .. , ... ,", .. , .... 417

Uma atualidade crescente .. , . , , , .... , .. , ... , .... , ... , , ... , , .. , , ,420

Conclusao ... 425

~~

...

~9

Prologo

"Nos dois" ou

0

entre-dois

A quatro maos. A obra de Gilles Deleuze e Felix Guattari ate hoje e urn dilema. Quem es-creveu? Urn ou 0 outro? Urn e 0 outro? Como foi possIvel desenvolver uma construt;ao inte-lectual comum entre 1969 e 1991, para alem de sensibilidades tao diferentes e estilos tao con-trastantes? Como podem ter sido tao proxi-mas sem jamais abandonar uma distancia ma-nifesta no fato de se tratarem mutuamente por senhor? Como relatar essa aventura unica por sua for9a propulsora e sua capacidade de fa-zer emergir uma especie de "terceiro homem", fruto da uniiio dos dois autores? Parece diffcil captar em seus escritos 0 que toca a cada urn.

Evocar um hipotetico "terceiro hom em" seria, sem d6vida, urn pouco apressado, na medida em que, ao longo de sua aventura comum, urn e outro souberam preservar sua identidade e seguir urn percurso singular.

Em 1968, Gilles Deleuze e Felix Guattari evoluem em duas galaxias diferentes. Nada predestina seus dois mundos a se encontrar. De urn lado, urn filosofo reconhecido que ja publicou boa parte de sua obra e, de outro, um militante que se move no campo da psi-camilise e das ciencias sociais, administrador de uma clinica pSiquiatrica e autor de alguns

artigos, Mesmo que, sem cair em urn finalismo hist6rico, se passam subscrever as palavras do jomalista Robert Maggior;, que qualiftca esse encontro de "predestinadd'\ como essas duas galaxIas acabam entrando em contato? Como se vera, a explosiio de maio de 1968 foi urn momento de tal intensidade que possibi-litou os encontros mais improv8.veis. Primei-ramente, de forma mais prosaica, houve, no comet;o de sse encontro, urn intermediario, urn personagem mercuriano, subternlneo e fundamental: 0 doutar Jean-Pierre Muyard, que trabalhava em La Borde prova disso e a dedicatoria pessoal que Ihe escreve Felix Guat-tari na primeira obra com urn, 0 Anti-Edipo: "A Jean-Pierre, a verdadeiro culpado, 0 indutor, 0

iniciador desta empreitada perniciosa". Jean-Pierre Muyard estudou medicina em Lyon no final dos anos 1950. Militante da ala esquerda da Union Nationale des Etudiants de France (UNEF), que se opoe ativamente it

guerra da Argelia, ele se toma presidente da se9iio de Lyon em 1960. Conhece Jean-Claude Polack, entao presidente da Association Ge-nerale des Etudiants en Medicine de Paris. Pa-ralelamente

a

especiaUzagao em psiquiatria, Muyard faz cursos de sociologia na Faculdade

(8)

14 Dosse

de Letras em Lyon. Entre Gutros, assiste com a maior paixao aos cursos do fi10safc Henry Maldiney. Em 1965, Muyard torna-se vice-pre-sidente da Mutuelle Nationale des Etudiants de France (MNEF) e participa ativamente da implanta,ao dos Bureaux dAide Psychologi-que Universitaires (BAPU). Encontra Guattari pela primeira vez por ocasHio de urn semina-rio da oposi,ao de esquerda que se realiza em 1964 em Poissy e para 0 qual foi convidado por Polack: "Recordo-me da impressao, eu diria fi-sio16gica, que Guattari me causou de imedia-to - uma especie de estado vibrat6rio incrlvel,

como urn processo de conexao. 0

cantata

com

ele aconteceu ali, e eu aderi mais ao

movimen-to de energia do que a personalidade, a pessoa. Sua inteligencia era excepcional, 0 mesmo tipo de inteligencia que Lacan, uma energia lucife-riana. Lucifer sendo 0 anjo da luz"'. Em 1966, Nicole Guillet pede a Muyard que se instale em La Borde, onde faltam medicos, para atender ao afluxo de pensionistas. Ele se acomoda ali por um tempo - ficani ate 1972. Por seus enga-jamentos, sua atividade profissional em La Bor-de, "Doc Mu" faz parte plenamente do "bando de Felix".

Quando era estudante em Lyon, Muyard

ouvira falar

dOB

cursos de Deleuze por seus

co-legas entusiastas da faculdade de letras. Tendo mantido contatos em Lyon, ele vai para Ii de tempos em tempos. Em 1967, fica fascinado com a apresenta,ao que Deleuze publica de Sacher-Masoch'. Os dois homens tornam--se amigos, e Deleuze, desejoso de conhecer melhar 0 mundo dOB psicoticos, mantem urn diaIogo permanente com Muyard: "Ele me eliz: fala da psicose, da loucura, mas sem nenhum conhecimento de dentro. Ao mesmo tempo, ele era fobico em rela,ao aos loucos. Ele nao conseguiria ficar por uma hora em La Borde,,4.

Em 1969, Muyard se cansa do ativismo de-senfreado que Guattari promove em La Bor-de, onde desfaz incessantemente os grupos constituidos para formar outros: "Ele depen-dia daquilo que se di hoje as crian,as hipe-rativas, urn medicameQto chamado Ritalina. Era preciso encontrar'l1ffi meio-de acalma-lo.

Contudo, ele dizia ter vontade de escrever e nao escrevia nunca"S. Muyard pensa em urn estratagema: decide apresentar Deleuze e GuattarL Em junho, ele embarca em seu carro Felix Guattari e Fran,ois Fourquet e os conduz a Saint-Leonard-de-Noblat, em Limousin. A seduC;ao mutua

e

imediata. Guattari

e

lnesgo-tavel nos temas que interessam a Deleuze, a Ioucura, La Borde e Lacan - ele acaba de pre-parar uma exposiC;ao inicialmente destinada a Escola Freudiana de Paris sobre "Maquina e estrutura,,6. Para sua demonstrac;ao, retoma os conceitos lan,ados por Deleuze em

Dijeren,a e

RepeUr;ao

e em

Logica do Sentido.

Esse texto e importante. Ate entao, Guatta-ri estava na posiC;§.o de discfpulo de Lacan e co-mec;ava a se apresentar como urn interlocutor, desejando inclusive obter junto de seu mestre a postura do parceiro privilegiado. A ambigui-dade da atitude de Lacan em rela,ao a ele e a escolha feita por este ultimo de privilegiar 0 cia dos althusserianos-maoistas da Rue d'lJlm, como Miller e Milner, colocam de fato Guatta-ri na sombra: "Quando entrei em contato com Deleuze em 1969, realmente aproveitei a opor-tunidade. Avancei na contestac;ao do lacanis-mo em dois pontos: a triangula,ao edipiana e a carater reducionista de sua tese do significante. Pouco a pouco, todo 0 resto se esboroou como urn dente cariado, como urn muro detonadd,7.

De sua parte, Deleuze passa por uma vira-da em sua obra. Depois de ter-se consagrado

it historia da filosofia, com Hume, Kant, Espi-nosa, Nietzsche, ele acaba de publicar dois

Ji-vros mais pessoais em 1969: sua tese

Dijeren,a

e Repeti,ao'

e

L6gica do SenUdo'.

A filosofia e fortemente contestada na epoca pelo estru-turalismo e sua ala avanc;ada, a lacanismo. 0 "psicanalismd' ambiente e a devo,ao geral por Lacan soam como urn desafio lan,ado ao filosofo. 0 encontro com Guattari of ere cera a Deleuze uma oportunidade magnifica de res-ponder a isso.

No momenta de seu encontro com Guat-tari, Deleuze esta em convalescenc;a. Atacado de tuberculose, fora submetido um ano antes a uma cirurgia complicada - retiraram-lhe urn

pulmao - que 0 levara a sofrer de uma insufi-ci€mcia respiratoria cronica ate a morte. Debi-litado, ele deve repousar por urn ano, na calma. em Limousin. Contudo, a debilidade e tarnbem uma abertura, como mostra Deleuze a prop6-sito de Beckett'o. Esse estado e propicio a um encontro. Tanto mais que Deleuze esta

a

beira de urn outro precipicio do qual fala em 0

Abe-ceddrio:

0 alcoolismo. 0 encontro com Guatta-ri sera essencial para ele superar esse impasse. Para prosseguir e aprofundar 0 diaIogo ini-ciado com Deleuze

sobre

a psiquiatria, Muyard sugere promover urn encontro de Deleuze e Guattari em Dhuizon, em um castelo alugado por Guattari, proximo a La Borde. E Ii que 0 trio Gilles Deleuze,]ean-Pierre Muyard e Felix Guat-tari debate 0 conteMo da obra que vin! a ser

o

Anti-Edipo.

Uma carta de Fran,ois Fourquet ao seu amigo Gerard Laborde, datada de 19 de agosto de 1969, evoca a atmosfera que reina em Dhuizon: "0 contexto aqui e comico. A presen-,a de Deleuze em Dhuizon desencadeou uma serie de fenomenos, e a meu ver essa serie vai se prolongar por muito tempo. Hi muita gente em Dhuizon: a1em de Felix e Arlette, hi. Rostain, Liane, Herve, Muyard, Elda, etc. Toda essa gen-te se alvoroc;a em torno de uma cena primitiva que se repete todas as manMs: Felix e Deleuze criam, intensamente, Deleuze toma notas, ajus-ta, critica, remete

a

hist6ria da fllosofia as pro-duc;oes de Felix Em suma, as coisas funcionam, nao sem deixar alguns rastros de transtornos na pequena famliia (na qual nos incluimos Ge-nevieve e eu), tanto mais que um dos pequenos irmaos tern 0 privilegio de assistir ao combate dos deuses: Muyard, que historicamente este-ve na origem da rela,ao com Felix"". Muyard ainda atua urn pouco como mediador, antes de se eclipsar: "Eu tinha cumprido minha tarefa, e Mefisto se retira. Minha intuic;ao e que esse nao era mais meu lugar. embora Deleuze tives-se vontade de trabalhar comigo e me quitives-sestives-se presente nas sessoes, eu sentia que incomoda-va Felix. A opera,ao a1quimica funcionou, e por longo tempo"".

Antes de seu primeiro encontro, Deleu-ze e Guattari hnham trocado algumas cartas,

Gilles Deleuze & Felix Guattari

15

na primavera de 1969, em que testemunham a amizade nascente. "Caro amigo, nem tenho palavras para Ihe dizer 0 quanto fiquei tocado com a atenc;ao que 0 senhor teve a gentileza de dedi car aos diversos artigos que the enviei. Uma leitura lenta, multo minuciosa, de L6gica

do SenUda

me leva a pensar que M uma espe-cie de homologia profunda de 'ponto de vista' entre nos. Encontra-Io quando isso for possivel para 0 senhor constitui para mim urn aconte-cimento ja presente retroativamente a partir de varias origensd3, escreve Guattari em 5 de

abril de 1969, revelando a Deleuze seu bloqueio de escrita e sua incapacidade de atribuir a ela o tempo necessario, em razao de suas ativida-des em La Borde. Em contrapartida, ele tem a impressao de se comunicar com Deleuze como que por ultrassons com

Logiea do Sentido.

Em uma carta anterior que enviou a urn de seus ex-alunos, Ayala, Deleuze manifestou 0 interes-se que teria de reunir todos os textos que Ihe foram passados por Guattari. Felix permanece cetico: "Sera que tudo isso nao

e

uma especie de baz6fia. de vigarice?,,14

Pouco tempo depois, em maio de 1969, Deleuze escreve a Guattari: "Eu tambem sinto que somos amigos antes de nos conhecermos. Pe,o perdao tambem por insistir no seguinte ponto:

e

evidente que 0 senhor inventa e ma-neja alguns conceitos complexos muito novas e importantes, fabricados em articula<;ao com a pesquisa pratica de La Borde - por exemplo, fantasia de grupo au, entao, seu conceito de transversalidade, que me parece ser de na-tureza a suplantar a velha, mas sempre res-suscitante, dualidade 'inconsciente pessoal/ inconsciente coletivo'ls". Deleuze estima que esses conceitos precisam ser submetidos a uma elaborac;ao te6rica, e nao concorda com Guattari quando ele sustenta que a eferves-cencia em curso nao

e

0 momento mais pro-picio; isso seria a mesmo que afirmar que "s6 se pode escrever realmente quando as coisas vaa bern, em vez de ver na escrita urn fatar modesto, mas ativo e eficaz, de se afastar urn pouco da frente de batalha e de ficar melhor

. ,,16

D I

(9)

16

Fran~ois Dosse

Guattari de que a hora chegou. Finalmente, "a outra soluyao, publicar os artigos como tais, e desejavel e a melhor»!7, Ela sera

Psicandlise e

Transversalidade,

publicado em 1972 e prefa-ciado por Deleuzel8,

Em 1" de junho de 1969, Guattari se abre com Deleuze sabre suas fraquezas e as

razoes

de sua "grande confusao extremista',19. Na base

dessa desordem de escrita, estaria uma falta de trabalho,

de

leituras teoricas sustentadas e urn medo de cair

de

novo naquilo que foi dei-xado para tras

ha

muito tempo. Seria preciso acrescentar uma hist6ria pessoal complicada,

com urn divorcio no horizonte,

tres

fllhos, a

cli~

nica, os conflitos de tadas as orciens, as grupos militantes, a FGERl20 ... Quanto it elaborayao

propriamente dita, para ele "as conceitos sao

instrumentais, truques,,21.

Logo apas seu primeiro encontro de junho de 1969,

Deleuze

escreve a Guattari para lhe dar alguns esclarecimentos sabre a maneira de cncarar urn trabalho comum: "Seria preci-so evidentemente abandonar todas as f6rmu-las de polidez, mas nao as formas de amizade que permitem que um diga ao outro: 0 senhor esta se train do, nao estou entendendo. isso mio esta bom ... Seria preciso que Muyard par-ticipasse plenamente dessa correspondencia. Seria preciso, enfim, que nao houvesse uma regularidade for,aM"'. Deleuze retem de suas primeiras trocas que "as formas de psicose nao passam por urna triangula,ao edipiana, pelo menos nao necessariamente e nao da maneira como se diz. Isso e 0 essencial para comec;ar,

ao que me parece ... A gente nao foge muito ao 'familiarismo' da pSicamilise, de papai-mamae (meu texto que 0 senhor leu permanece

abso-lutamente tributario dela) ... Trata-se entao de mostrar como na psicose, por exemplo, meca-nismos socioeconomicos sao capazes de inci-dlr

diretamente

no inconsciente. Isso nao sig-nifica evidentemente que eles incidam como

tais

(como mais-valia, taxa de lucro ... ), mas sim algo muito mais complicado, que a senhor aborda em outra ocasHio quando diz que os loucos nao fazem sil11plesmente cosmogonia, mas tambem economia-poHtica au quando ve

com Muyard uma relaC;ao entre crise capitalis-ta e crise esquizofrenica'm.

Ele acrescenta que a maneira como as estruturas socials incidem "diretamente" no inconsciente psic6tico poderia ser captada grayas aos dois conceitos de Felix Guattari "de

mdquina

e de

antiprodu9iio",

que ele conhece muito mal ainda. Assim, Deleuze acompanha Guattari em sua critica do familiarismo:

''A

direc;ao aberta pelo senhor parece-me multo rica pela seguinte razao: faz-se uma imagem moral do inconsciente, seja para dizer que 0

inconsciente e imoral, criminal, etc., mesmo que se acrescente que esta muito bern assim, seja para dizer que a moral e inconsciente (su-perego, lei, transgressao). Eu disse certa vez a Muyard que isso nao funcionava, e que 0 in-consciente nao era religioso, nao tinha nem 'lei', nem 'transgressao, e que isso era besteira ... Muyard respondera que eu estava exagerando, e que a lei e a transgressao, tais como emanam de Lacan, nao tern nada a ver com tudo isso. Com certeza ele tinha razao, mas isso nao tern a menor importancia, pOis e toda a teoria do superego que me parece falsa, e toda a teo ria da culpabilidade,,24.

Essa carta, escrita pouco antes das longas sessoes de trabalho do mes de agosto de 1969, em Dhuizon, revela-nos que 0 principal alvo

de 0

Anti-Edipo,

publicado tres anos depois, ja estava claro: a "triangulac;ao edipiana" e a reduc;ao familiarista do discurso psicanalitico. Guattari responde muito n'pido a Gilles Deleu-ze, em 19 de julho, explicitando seu conceito de maquina que "expressa metonimicamente a maquina da sociedade industria!"". Alem disso, em 25 de julho envia a Deleuze algumas notas que ja estabelecem urn tra,o de equiva-lencia entre 0 capitalismo e a esquizofrenia: "0 capitalismo

e

a esquizofrenia, ainda que a sociedade-estrutura possa nao ter assumido a produyao de 'esquizo'26:,

Sua rela,ao situa-se de imediato no .mago dos desaflos teoricos. Provem de uma cum-plicidade amigavel e intelectual imediata. Contudo, essa amizade jamais sera fusional, e sempre se tralarao rigorosamente por senhor.

embora ambos utilizem com muita facilidade a voce. Oriundos de dois mundos diferentes, urn respeita 0 outro e sua rede de relac:;oes em sua diferen,a. A condi,ao mesma do exito de sua empreitacia intelectual comum passa peJa mobiliza,iio de tudo 0 que constitui a diferen-,a de suas personalidades, na ativayao daquilo que contrasta e nao na osmose artificiaL Eles tern uma concepc:;:ao muito elevada cia amiza-de: "Eles mantinham essa distancia que Janke-levitch chamava de 'distancia amativa', que

e

uma distancia que naD se fha. Ao contrario da distancia gnoseo16gica, a distancia amaUva decorre de uma aproximaC;ao/afa,stamento,,27. Com certeza, Guattari, pela angustia do face a face com Deleuze, e pOl'que sempre funcionou "em grupe", clesejaria envolver seus amigos do CERFI". A chegada de Deleuze a Dhuizon era a oportunidade, 0 primeiro circulo do CERFI estava la, e tudo 0 que esperava era participar. Contudo, 0 testemunho de Franyois Fourquet e muito claro, nao foi 0 que aconteceu. Deleuze tern horror a cliscuss6es de grupo nao funda-mentacias, e nao pode nem quer imaginar urn trabalho que nao seja a dais, no maximo a tres. A companheira de Guattar;, Arlette Donati, transmitiu entao a Felix as reservas de Deleu-ze. A elaborac;ao de seu primeiro livro sera. feita sobretudo por via epistolar29• Esse dispositiv~

pactuado de escrita tumultua a vida cotidiana de Guattari, que precisa mergulhar em urn tra-balho solitario com 0 qual nao esta acostuma-do. Deleuze espera dele que se debruce

em

sua mesa de trabalho

desde

que acorde, que ponha no papel suas ideias (ele

tem

tres no momento) e que lhe envie todos os dias, mesmo scm reIer, o produto de suas reflexoes em estado bruto. Assim, ele sub mete Guattari a essa ascese que considera indispensavel para superar seus pro-blemas de escrita. Guattari adere plenamente ao jogo e se retira

em

seu escrit6rio, traba-lhando como um condenado. Ele que passava o tempo dirigindo seus "bandos" encontra-se confinado na solidao de seu gabinete'de traba-lho todos os dias ate as 16 horas. So vai a La . Borde no fim da tarde, muito rapido, e em geral esta de volta a Dhuizon antes da 18 horas.Jean

Gilles Deleuze & Felix Guattari 17

Oury viu essa mudanc;a como urn "abandono"; Guattari, onipresente na vida cotidiana de La Borde, se desinveste para se consagrar ao tra~ balho com Deleuze. E preciso inclusive que sua companheira, Arlette Donati, leve seu almoc;o, pois ele nao se autoriza nenhuma pausa.

No essencial, 0 dispositivo de escrlta de 0

Anti-Edipo

e

constitufdo pelo envio de textos preparat6rios escritos por Guattari, que De-leuze retrabalha e aprirnora em vista da versao final: "Deleuze dizia que Felix era 0 descobridor de diamantes e que ele era a talhador. Portanto, era preciso apenas que lhe enviasse os textos tal como os escrevia para que ele os arranjasse, e foi 0 que ocorreu,,3{). Sua realizac;ao comum passa, portanto, mais pela troca de textos do que pelo dh\logo, ainda que eles estabele,am uma reuniao de trabalho semanal na casa de Deleuze na terc;a-feira

a

tarde, dia em que este ultimo da aula em Vincennes pela manha. Nos feriados e Deleuze que val ao encontro de Guattari, mas longe da loucura que

ele

nao su-porta: "Um dia, estamos jantando em Dhuizon, Felix, Arlette Donati, Gilles

e

eu quando 0

te-lefone toea de La Borde, anunciando que urn sujeito havia posto fogo na capela do castelo e fugido para os bosques. Gilles empalidece, eu nao-me mexo e Felix pede ajuda para encontrar o sujeito. Gilles me diz nessa ocasiao: 'Como voce

pode

suportar os esquizos?'. Ele nao con-seguia suportar a visao de 10UCOS,,31.

Sabre seu trabalho comum, tanto Deleuze quanta Guattari se explicaram muitas vezes, expolldo-se apenas parcialmente. Relatando sua escrita a dois quando do lan,amento de 0

Anti-Edipo,

Guattari esclarece: "Essa colabora-c;ao nao

e

0 resultado de urn simples encontro entre dois individuos. Alem .do concurso das circunsUlncias, houve tambem todo urn con-texto politico que nos conduziu a isso. Trata-va-se, na origem, nao tanto do compartilha· menta de um saber, mas do acumulo de nossas incertezas, e mesmo de uma certa confusao diante do rumo que tomaram os acontecimen-tos depois de maio de 1968""-Deleuze, por sua vez, comenta; "Quanto

a

tecnica desse livr~, escrever a dais nao causou nenhum problema

(10)

18 Dosse

particular, mas teve uma

func;ao

precisa que fomos percebendo progressivamente. Uma coisa muito chocante em livros de psiquiatria au mesmo de psicanalise

e

a duplicidade que os perpassa entre 0 que diz urn suposto doente e a que diz a terapeuta sobre 0 doente ... Mas. curiosamente, se tentamos superar essa duali-dade tradicional, era justamente porque

escre-viamos a dais. Nenhum de nos era

0

loueo,

ne-nhum era 0 psiquiatra, eram necessarios dais para desencadear urn processo ... 0 processo

e

h dfl ,,33

o que c arnamos e uxo .

Mais tarde, em 1991, par ocasiao do lan-,amento de 0

que

if

a filosofia?,

Robert

Mag-giori tern uma longa entrevista com eles, mais

uma oportunidade de se explicarern sabre seu encontro e sabre sua colaborac;ao: "Meu encontro com Felix se deu sabre as quest6es de pSicamilise e de inconsciente. Felix me pro-parcionOll uma especie de campo novo, me fez descobrir uma area nova, embora eu ja tivesse falado de pSicanalise antes, e era isso que lhe interessava em mim,,34.

Nos relatos sobre 0 encontro, 0 intermedia-rio Jean-Pierre Muyard "desapareceu". Deleuze afirma: "Foi Pelix que veio me procurar"; Guat-tarl confirma: "Eu entao e que ful procura-lo, mas, em urn segundo momento, foi ele que me propos a trabalho com urn"'''. Ainda que per-mane,am pouco loquazes sobre a elabora,ao do manuscrito - urn "segredo", diz Deleuze -, eles sao mais prolixos sobre seu trabalho co-mum. Deleuze invoca a figura de Kleist para descrever 0 que se passa com Guattari. Elabo-rar uma ideia falando passa pelo gaguejo, pela elipse, pelos sons desarticulados - "nao somos n6s que sabemos alguma coisa, mas

e

antes de tudo urn certo estado de nos .. :' - e Deleuze afirma que "8 mais facil a dois,,36 se por nesse estado. Eles tern ao mesmo tempo sess6es orais em que, ao final de uma decanta,ao do dialogo, sao decididos os temas a trabalhar: em seguida, cada urn se entrega ao trabalho de escrita de vers6es sucessivas que circulam de urn ao outro: "Cada urn funciona como in-crustayao ou citayao no texto do outro, mas, passando urn instante, na~s~. sabe mais quem

esta citando quem. E uma escrita com varia-y6es"37. Evidentemente, essa elaborayao co-mum pressup6e uma comunidade de ser, de pensamento, de reatividade ao mundo: ''A con-di,ao para poder eietivamente trabalhar a dois e a existencia de urn fundo comum implicito, inexplicavel, que nos faz rir ou nos preocupar com as mesmas coisas, ficar desanimados ou entusiasmados com coisas analogas"38.

Guattari tambem lembra ao mesmo tem-po as sessoes orais e as trocas de versoes es-critas. Seu di<ilogo continua sendo 0 de duas pessoas de caniter bern oposta: "Somas muito diferentes urn do outro, de modo que os ritmos de adoyao de urn tema ou de urn conceito sao diferentes. Mas ha tambem, e claro, uma com-plementaridade. Quanto a mim, sou mais pro-penso a operay6es aventureiras, de 'comando conceitual', digamos, de insen;ao em territ6-rios estrangeiros.]a Gilles possui armas pesa-das filosofieas, toda uma intendencia biblio-grafica ... ,,39. Deleuze, que sempre teve horror as discuss6es que decorrem, segundo ele, da troca esteril de opini6es, op6e a isso a pratica de conversar, que, ao contrario, instaura uma verdadeira polemica interna it enunciayao. Seu dialogo decorre de uma verdadeira ascese: "Urn fica calado quando a outro fala, isto nao

8 apenas uma lei para se compreender, para

se ouvir, mas significa que urn se coloca

per-.

d

"," M

petuamente a SerVlyO 0 outro . I esmo que a ideia apresentada por urn pare9a absurda ao outr~, a voca9ao do outro deve ser procu-rar seus fundamentos e nao a discutir: "Se eu lhe dissesse que no centro da terra ha geleia de groselha, seu papel seria descobrir 0 que po-deria comprovar tal ideia (se e que isso e uma ideia!)"41. Dessa troca nasce uma verdadeira "maquina de trabalho", na qual

e

impossivel saber 0 que vern de urn ou do outro.

o

que importa, explica Deleuze,

e

a trans-formayao do "e" em "e", nao no sentido de uma relayao particular e puramente conjuntiva, mas no sentido do envolvimento de toda uma serie de rela,aes. 0 "e"

e

atribuido it possibili-dade de cria,ao, Ii gagueira criadora, Ii mul-tiplicidade: "0 E nao e nem urn nem outro,

e

sempre os dois, 8 a fronteira, ha sempre uma fronteira, uma linha de fuga ou de fluXQ, ape-nas nao se pode ve-Ia, porque eia

e

menos per-ceptive!. No en tanto,

e

nessa linha de fuga que as coisas se passam, as devires se fazem, as re-voiw;6es se esboyam"~2. Isso constitui 0 carateI' absolutamente unico de seus livros.

Partir em busca de uma paternidade deste au daquele conceito

e,

como escreve Stephane Nadaud, "menosprezar urn conceito essencial em seu trabalho: 0 do agenciamento,,4:l. Todo o seu dispositivo de escrita consiste em esta~

belecer urn agenciamento coletivo da enun-ciayao, que e 0 verdadeiro pai dos conceitos inventados. Sera que com isso ele da origem a urn terceiro hornem resultante da coalescen-cia dos dais, urn Felix-Gilles, um "Guattareu-ze", como satirizou 0 desenhista Lauzier? E 0 que se poderia pensar ao leI' as seguintes pala-vras de Deleuze: "Nao colaboramos como duas pessoas. Eramos mais como dois corregos que

se

juntam para formar 'urn' terceiro que

seri-amos n6s"4~. Mas nao e assim, e ja dissemos a que ponto eles respeitaram uma certa distan-cia, conservaram sua diferent;a, preservaram sua singularidade tratando-se por senho" "Hi

entre nos uma verdadeira politica dissensual, nao urn cuI to, mas uma cultura de heteroge-neidade, e que fez com que cada urn de nos reconhecesse e aceitasse a singularidade do outro ... Se fazemos alguma coisa juntos e por-que isso funciona, e porpor-que somos levados por algo que esta al6m de n6s. Gilles 6 meu amigo, nao meu companheiro',45.

A ideia desse agenciamento e fundamental para compreender a singularidade do

disposi-tivo. Deleuze explica isso ao seu tradutor japo-nes Kuniichi Uno: "A enuncia9aO nao remete a urn sujeito. Nao ha sujeito de enuncia9aO, mas apenas agenciamento. Isso significa que, em urn mesmo agenciamento, ha 'processos de subjetivayao' que vao designar diversos sujei-tos, uns como imagens

e

outros como signos,,46. E, alias, com esse tradutor japones, Uno, seu ek -aluno que se tornou urn amigo, que Deleuze se abre mals explicitamente sobre as modali-dades de seu trabalho conjnnto. Ele

apresen-Gilles Deleuze & Felix Guattari

19

ta Guattari como uma "estrela" de grupo e faz uma bela metafora para expressar a natureza de sua ligayao, a do encontro do mar que vai encalhar em uma colina: "Seria preciso compa-ra-Io [Felix] a urn mar aparentemente sempre em movimento, com explos6es de luz 0 tempo todo. Ele pode sal tar de uma atividade a outra, dorme pouco, viaja, nao para. Ele nao se inter-rompe. Tern velocidades extraordinarias. Eu seria mais como uma colina: mexo-me multo poueo, sou lncapaz de tocar duas atividades, minhas ideias sao fixas, e os raros movimentos que tenho sao interiores ... Nos dois juntos, Fe-lix e eu, dariamos um born lutador japones"'17. Deleuze acrescenta: "Sornente quando se olha Felix mais de perto, percebe-se que ele

e

muito sozinho. Entre duas atividades, Oll no melo de muita gente. ele pode merguIhar em uma gran-de solidao"". Ele explica ao seu amigo japones a que ponto ve Guattari como urn criador de ideias de uma mobilidade e de uma inventi-vidade que encontrou rarfssimas vezes: "Suas ideias sao desenhos ou mesmo diagramas. A mirn 0 que interessa sao os conceitos"'19.

Com seu conceito de maquina e sua pro-posi,ao de substitui-Io Ii no,ao de estrutura, Guattari oferece a Deleuze uma possivel por-ta de safda do pensamento estrutural, 0 que a L6gica do Sentida ja procurava. Nesse plano, 0 da critlca de Lacan e de seu ''inconsciente es-truturado como uma linguagem", e no nivel da consciencia politica, Guattari esta

a

frente de seu amigo quando se encontram em 1969. Em-bora Deleuze esteja em vantagem na historia da filosofia, ele reconhece em J 972 que estava atrasado em relayao ao amigo em alguns cam-pas importantes. "Eu trabalhava na epoca uni-camente nos conceitos, e ainda de forma mui-to timida. Felix me falou do que ele ja chamava de maquinas desejantes: toda uma COnCepyaO te6rica e pratlca do inconsciente-maquina, do inconsciente-esquizofrenia. Por isso, tive a im-pressao de que ele

e

que estava em vantagem sobre mim ... ,,50. Criou-se entao a oportunidade

de trabalhar juntos, da contribui,ao mutua, do humor, de momentos de pura diversao e mesmo, como diz seu amigo comum Gerard

(11)

20

FranCOIs Dosse

Fromanger, "eles estavam orgulhosos urn do Dutro, e urn se sentia honrado pelo Dutro, por ser ouvido pelo outro. Tinham uma confianya

enorme urn no Qutro, eram como gemeos naD

identicos que se completam. Nao havia entre eles nenhuma inveja, nenhuma reserva nas sessoes. A qualidade do que escreviam decor-ria disso, dessa especie de abertura total, de dadiva de confian<;a',SI.

Juntos, formam urn verdadeiro laborat6rio de experimentayao de conceitos em sua efica~

cia gral'tas ao

carater

transversal do procedi-mento. A contribuiyao de Guattari a Deleuze

tera. sida sobretudo a de urn sopro de oxigenio

em urn universo orrde esta rarefeito: "Sentia-se que eic tinha uma especie de jubilo em

enCOD-trar Felix. Quando se viam, tinha-se a impres-sao de que eles ficavam contentes de se encon-trar. Contudo, nao se viam muito, pois sabiam que as rela90es humanas sao fnigeis,,52.

A diferen,a de personalidades de Guatta-ri e Deleuze produz como que um motor em dois tempos:' "Nunca tivemos a mesmo ritmo, Felix me criticava por nao responder as cartas que me mandava: e que eu nunca estava em condi<;oes a tempo, Eu s6 conseguia fazer isso muito mais tarde, um au dais meses depois, quando Felix ja tinha passado adiante,,53. Ao contnirio, no corpo a eorpo das sessoes de trabalho, um instiga 0 outro em sua fortaleza ate 0 esgotamento total das for,as dos dois lutadores, ate que 0 eonceito discutido e dis-putado possa levan tar vao, sair de sua ganga, a partir de um trabalho de prolifera,ao, de dis-semina9ao: "Para mim, Felix tinha verdadeiros relampagos, enquanto eu era uma especie de para-raios, eu enfiava na terra para que renas-cesse de outra forma, e Felix retomava, etc" e assim avafi(~:avamos"54.

Em agosto de 1971, 0

Anti-Pdipo

da lugar a uma ultima e longa sessao de trabalho jun-tos, na bala de Toulon, em Bruse-sur-Mer. As duas familias com os mhos alugam uma vila para aproveitar as alegrias da praia enquanto os dois homens prosseguiam suas discuss6es a portas fechadas. 0 texto e flnalmente con-clufdo em uma data'simbOlica: ')\hi Quanta

de-licadeza das eoisas que nosso livro termine em urn 31 de dezembro, a fim de fixar bern que as fins sao os comer;:os, Esse trabalho esM muito bonito, marcado par sua for9a criadora de sua parte, e pOl' meu esfor90 inventivo e 0Ieoso,,55.

Entretanto, no momento da publica,ao da obra, em mar,o de 1972, Guattari atravessa urn periodo dificiL Percebe-se que 0 excesso de atividade e 0 esfor90 titanico para realizar esse trabalho amea9arn levar a urn fenome-no de descompensa<;ao, a urn sentimento de vazio. A realiza<;:ao nunca tern 0 mesmo valor que as mil e uma possibilidades da imagina-9aO e que a alegria permanente de uma cria-<;:ao prestes a se consumar: "Vontade de me encolher, de vol tar a ser bern pequeno, de aca-bar com toda essa polftica de presen,a e de prestigio ... A ponto de sentir raiva de Gilles por ter me lan9ado nessa desventura',56. Em seu

Journal,

a comparar;:ao com a eficacia de urn Deleuze parece perturbii-Io: "Deleuze trabalha muito. Nao temos efetivamente a mesma di-mensao! Sou uma especie de autodidata inve-terado, um artesao, urn personagem a moda Julio Verne ..

:.s7

Sobretudo depois, quando 0 agenciamento

e

suspenso por algum tempo, como entre a conclusao de urn livro e sua pu-blicayao, Guattari se permite expressar suas angustias pessoais: "Preservar meu estilo, mi-nha maneira propria. Eu nao me reconhecia verdadeiramente no AO [0

Anti-Pdipo].

Preci-so parar de correr atras da imagem de Gilles e at"is do acabado, da perfei,ao que ele pro-porcionou

a

ultima possibilidade de livro"ss. Uma subita ang(tstia de ter sido devorado, de perda de identidade se apoderaram dele. "Ele tem sempre em vista a obra. E para ele [Gilles] tudo isso nao passaria de notas, uma materia prima que desapareee no agenciamento final.

E

por isso que me sinto urn pouco sobrecodifi~ cado peIo 0

Anti-Pdipo,,59.

Deleuze, por sua vez, gra9as

a

colabora-9aO com Guattari, reaUza 0 desejo rnanifes~

tado ja em

Diferen9a e Repeti9{1O:

escrever um novo tipo de livro, de natureza experimental: ''Aproxima-se 0 tempo em que nao sera mais possivel escrever urn livro de filosofia como se

faz

ha

muito tempo:)\h! 0 velho estilo .. : A bus-ca de novos meies de expressao fllos6f1bus-ca foi inaugurada por Nietzsche, e deve ser pro sse-guida hoje em conformidade com a renovar;:ao de algumas outras artes,,60. Como observa Ar~ naud Bouaniche61, quando Deleuze fala sobre

"0 pensamento namade" em Cerisy, no ambito da decada consagrada a Nietzsche, exatamen-te no momenta da publica<;iio de 0

Anti-Pdipo,

eic anuncia a inten9ao de produzir uma nova estilfstica. A proposito de

Nietzsche,

define 0 que poderia ser urn novo tipo de livro que nao se conformaria aos c6digos tradicionais: "Os

grandes instrumentos de codiflca9aO ja sao co~

nhecidos ... Sao conhecidos tn§:s principais: a lei, o contrato e a institui9B.O,,62. Nietzsche resiste a todas essas operayoes de "codifica,aci' e se engaja em uma tentativa sistematica de "deco~ difica,aci'.

E

assim que Deleuze e Guattari con-cebem seu trabalho de escrita: "Embaralhar todos os c6digos nao

e

facil, mesmo no nivel da escrita mais simples, e da linguagem,,63. Os dois auto res buscarao 0 meie de escapar a qualquer forma de codifica,ao, deixando-se interpelar pelas for9as externas para desfazer as formas convencionais. Esse horizonte nomade sera alean,ado no segundo volume de

Capitalismo

e

Esquizojrenia,

publicado em 1980:

Mil Platos.

Nesse melo tempo, Guattari encontrani sua respirac;ao pessoal. Descobre em Kafka urn universe que corresponde as suas angtistias, ao desejo prolffero de criayao, uma desordem criativa parecida com a dele: "Ha conjull9ao de duas maquinas: a maquina literaria da ebra de Kafka e minha propria maquina, de Guattari"M. A escrita guattariana faz um des-vio por Kafka para em seguida voltar melhor a Deleuze e realizar, no meia do percurso, urn livro sobre Kafka escrito a dois65. E nessa obra que Guattari

e

Deleuze elaboram a n09ao que desenvolverao mais tarde de "agenciamento coletivo de enuncia9ao": "Nao acreditamos que a enuncia9ao possa estar relacionada a um su-jeito desdobrado ou nao, clivado ou nao, refle-xive ou nad,66.

A maquina se poe em marcha novamente para Mil Platos. 0 agenciamento torna-se 0

Gilles Deleuze & Felix Guattari 21

conceito nodal dessa nova publica9ao. Contu-do, 0 dispositivo de escrita muda um pouco:

''A

composi9aO desse livro

e

muito mais comple-xa, os ambitos tratados muito mais variados, mas haviamo$ adquirido habitos tais que urn podia adivinhar aonde 0 outro ia,,61. Tudo leva a erer que, a partir dessas trocas intensas ini-dais e da cumplicidade que resultou delas, a escrita de

Mil Plai6s,

embora tambem tenha dado margem a idas e vindas entre as diversas versoes, foi realizada mais por uma elaborayao comum ao longo das sess6es de trabalho oral.

Com a publica,ao de

Mil Platos,

em 1980, chega ao fim uma longa aventura iniciada em 1969: "Depois disso, Felix e eu precisavamos voltar a trabalhar cada urn do seu lado, para recuperar 0 fOlego. Mas estou convencido de uma coisa, vamos trabalhar juntos de novo', escreve Deleuze em 198468. Ele mergulha entao

no estudo do cinema, enquanto Guattari reto-rna com mais fonia ainda seu ativismo cultural e politico. Entretanto, mais uma vez, sente a falta, 0 vazio, a solidao, a inquietude, e se abre com 0 amigo, que 0 tranquiliza: "Li muito sua carta onde diz que, nosso trabalho comum tendo esmorecido, ja nao sabe bem nem 0 que ele foi para 0 senhor, nem onde se encontra hoje.Ja eu vejo claramente. Creio que 0 senhor e um prodigioso inventor de 'conceitos selva-gens'. 0 que me encantava tanto nos empiris-tas ingleses, era 0 senhor que tinha ... De todo modo, acredito firmemente que vamos voltar a trabalhar os dois,,69. Nao sao meras palavras de consolo: quando Deleuze se engaja no ini-cio dos anos de 1980 em seus cursos sobre 0 cinema, nao perde de vista 0 prosseguimen~

to de um trabalho com Guattari. Ele enuncia muito cedo 0 tema que se tornara 0 titulo de sua Ultima obra comum, publicada em 1991. 0

que

e

a filosofia?:

"Eis, portanto, meu programa de trabalho para este ana. De um lade, farei cursos sobre cinema e pensamento. Farei isso em conexao com 0 Bergson de

Materia

e

lvle-moria,

que me parece urn livro inesgotavel. De outro lado, gostaria de continuar essa tabela de categorias que coincide com seu trabalho. E hi a ponto central seria para mim a busca de

(12)

22

Dosse

uma resposta bastante clara e simples a 0 que e a filosofia? Dai duas perguntas de partida: 1 - Aquela que 0 senhor faria, imagino: por que chamar issa de 'categorias"? 0 que significam exatamente cssas n090es, 'conteudo', 'expres-sao, 'singularidade', etc, Peirce e Whitehead fazem tabelas de categorias modernas: de que maneira evoluiu cssa noyao de categoria?; 2 -Depois, partindo-se das mais simples dessas categorias, 'conteudd e 'expressao', retorno minha pergunta: 0 que 0 levou a conceder urn aparente prlvilegio it expressao do ponto de vista do agenciamento? Precisaria que me

ex-• . ,,70

phcasse paClentemente... .

Deleuze escreveu sozinho 0

que

e

afilosofia'

No entanto, como diz Robert Maggiori a propo-sito dessa obra que considera essencial, "tern Guattari nela, mas diluido no sentido da aspi-rlnam. Tambem ali, Guattari sugere, emenda, define novas pistas a partir do manuscrito en-viado por Deleuze: "Ha urn tema que eu gostaria de evocar: e 0 da oposigao entre mistura e inte-rac;ao .. : Sobre 0 cerebro que funciona sobre ele mesmo: ver Francisco Varela, os sistemas auto-poieticos ... Falo um pouco disso em meu texto 'Heterogenese maquinica' ... A passagem estetica e um cruzamento do movimento do infinito do conceito e do movimento de finitude da func;ao. Ha uma simulagao do infinito, urn artificio fini-to do infinifini-to que conduz a um ponfini-to histerico conversivo 0 paradigma da criagao"n.

A amizade contou multo nessa coasslna-tura. Na verdade, as contribuig6es de Guattari sao meramente marginais. A revista

Chimeres

Publica alias, desde 1990, 0 que sera a

intro-, 73

duc;ao da obra assinada apenas por Deleuze , Segundo Dominique Seglard, "0

que

e

a

filo-sofia?

foi escrito somente por Gilles Deleuze, foi ele que me disse. Felix Guattari desejava coassinaAo, mas Deleuze nao queria muito,,74. Uma amiga proxima de Felix Guattari, bastan-te preocupada com 0 estado depressivo dele, convenceu-se de que a uniea maneira de

salva--10

seria proporcionar-Ihe urn segundo fclego, fazendo com que participasse da preparac;ao final do manuscrito, No verao de 1991, ela de-cide telefonar

p~ra

Deleuze e lhe pedir esse

fa-VOl'. 0 livro sairia

em

setembre. Deleuze aceita sem diflculdade, 0 que por si s6 diz muito sobre a forc;a de sua relac;ao de amizade, a que vol-taremos mais adiante, mas ha tambem uma coerencia intelectual na dupla assinatura, pois essa obra vern coroar uma sequencia de criati-vidade conceitual de 20 anos de durac;ao.

A tendencia atual e suprimir 0 nome de Felix Guattari e manter apenas 0 de Deleuze. Contudo, 0

que

e

a filosofia?

nao pode ser lido como urn retorno

a

"verdadeira" filesefia por urn Deleuze que teria se "desprendido" de seu amigo Felix. Tanto por conteudo, estilo, con-celto langado nessa ohm, tudo contradlz a tese de urn Deleuze que deve se "desguattarizar". Nao se pode passar ao largo do dispositivo es-tabelecido pelos dois auto res, analogo aquele a que se referem em Rizoma, da ramificagao, do agenciamento que se opera entre a vespa e a orquidea: ''A. orqufdea se desterritorializa formando uma imagem dela, um decalque de vespa; mas a vespa se reterritorializa nessa imagem; porem, ela se desterritorializa tor-nando-se ela propria uma pec;a no aparelho de reprodugao da orquidea; mas eia reterritoriali-za a orquidea ao transportal' seu polen ... cap-tura de codigo, mais-valia de codigo, aumento de valencia, verdadeiro devir, devir-vespa da orquidea, devir-orquidea da vespa"I'. Por que a vespa man tern uma relac;ao de ordem sexual com a orquidea, sabendo que, se de um lade

M polinizac;ao, de outro, 0 da vespa, nao ha-vera reproduc;ao? Os etologistas explicam que existe ai uma relagao entre dois ref,:rimes de co-digos em uma evoluc;ao paralela de duas espe-cies. Essas duas especies nao tem nada aver uma com a outra, e no entanto ha urn ponto de encontro que transformara seu devir.

Esse agenciamento so pode funcionar, pelo menos para Deleuze, com a condic;ao de fecha-lo aos outros. Quando hi risco de dis-persao para fora, Deleuze reage prontamente para lemhrar as regras, as condigoes que tinha colocado de inicio. No ceu sereno de sua ami-zade, houve somente algumas pequenas eleva-c;oes de febre e pequenas tensoes, 0 respeito ao agenciamento foj 0 que motivou urn

cha-mado a ordem, em 1973, por parte de Deleuze, que nao deseja se deixar levar em aventuras que nao sao as suas. A divergencia'~' provem do fato de que Deleuze e Michel Foucault sao considerados pelo ministerio do Equipamento como as duas autoridades intelectuais com-petentes representantes do CERFI. Contudo, para Deleuze, esta fora de cogitac;ao deixar que o associern ao CERFI: "Felix, ah Felix, querido Felix, eu 0 estimo e nada de minha parte pode afetar nossas relagoes. Entao YOU Ihe relatar o que, em uma iluminayao, me deixa preocu-pado exteriormente.

Ja

Ihe contei hi pouco tempo que, desde 0 inido de nossa afeiyao, eu tinha dito a Arlette: 0 que complicani as coi-sas

e

que eu quero obter de Felix algo que ele nunca vai querer me dar, e ele, me empurrar em algum lugar para onde eu jamais gostaria de ir. Desde 0 inicio, alias, 0 senhor propuse-ra ampliar 0 trabalho a dOis, estender a certos membros do CERFI. Eu disse que estava fora de cogitac;iio de minha parte, e durante muito tempo nos respeitamos plenamente: 0 senher, minha solidao, e eu, suas coletividades, sem toear nisso,,76.

Essa amizade tao intensa e observada por todos os proximos: "Raramente vi duas pes-soas se amarem e se estimarem de verdade como Gilles e Felix. Urna delegac;ao de con-fian,a total entre eles. Uma ligac;iio intelectual e humana total, comovente"n. Isso nao impe-diu alguns momentos de esfriamento em suas relac;oes, em particular no final dos anos de 1980: "Senti as coisas mais frias falando com urn e falando com 0 outro, Falando com Fe-lix de uma coisa que Gilles devia fazer, FeFe-lix me diz:

:Ah,

sim! Pobre velho!',

e

de sua parte,

f' N. de R. T.: No original, differend . A expressao usada par F. Dosse parece aludir aqui ao conceito empregado por J F.

Lyotard, em que a compreensiio dos "differends" diz res pelto

Ii sutileza psicol6gica, politica ou dip{omdtica que esposa a singularidade da [..J, e ern que a politica, a arte, a escrita fl~ los6fica sao, igualmente, maneira da escrita dos ''differends';

au seja, do aspecto irredutivel e irrepresentavcl daquilo que acontece entre duas pessoas ou entre dois pareceres situa-9iio. Ver Blay, Michel (dir.): Dictlonnaire des Concepts PhiLo-sophiques. Larousse, CNRS Editions, Paris, p. 218, 2006.

Gilles De!euze & Felix Cuattari

23

Gilles: 'Voce tern visto Felix, Marco?' - 'Sirn' - 'A.h, sim! Felix esta bern, muito bern,,:, uma subita frieza,,78. Algo parece ter-se quebrado urn POllCO

em

rela<;ao ao seu primeiro perfodo. Aos silendos mais longos que se instalam, aos encontros mais espa<;ados, acrescentaHse a consagrac;ao, no final dos anos de 1980, de urn Gilles Deleuze que alguns gostariam inclusive, como vimos, de "desguattarizar",

Contudo, quando da longa depressao que Guattari enfrenta nesses an os de inverno, Deleuze esta hi, presente: "Deleuze esgotado, sem fOlego, me liga para perguntar 0 que vou fazer esta noite. Respondo que YOU assistir

a

Copa da Europa de futeboL pOl'que

sou

louco pOl' esporte. Deleuze me diz: 'You a uma fes-ta na casa de Felix, e preciso esfes-tar perto dele'. Fui para la ... Felix completamente hieratico, sentado no chao assistindo

a

TV, justamen-te a final do fujustamen-teboL e ao seu lado Gilles que, sem duvida, teria dado um dedo da milo para nao estar ali, diante do futeboL nessa festa, ele para quem estar com duas pessoas ja era uma multidao,,79.

Notas

1. Robert Maggiori, entrevista com 0 autor. 2. Jean-Pierre Muyard, entrevista com 0 autor. 3. GWes DELEUZE, Presentation de

Sacher-Ma-soch, Minuit, Paris, 1967 (doravante citado SM).

4. Jean-Pierre Muyard, entrevista com 0 autor.

5. Ibid.

6. Felix GUATTARI, "Machine et structure", 1969,

Change, n. 12, Seuil, Paris, 1972; republicado

em Psychanalyse et transversalite, Maspero,

Paris, 1972; reed. La Decouv.erte, Paris, 2003, p. 240-248 (doravante citado PT); ver capitulo "La machine c~ntre la structure".

7. Felix Guattari, entrevista autobiognifica com Eve Cloarec, arquivos IMEC, 27 de outubro de 1984.

8. Gilles DELEUZE, Difference et repetition, PUF, Paris, 1968 (doravante citado DR).

9. Gilles DELEUZE, Logique du sens, Mnuit. Paris, 1969 (doravante citado LS).

10. Gilles DELEUZE, posfacio a Samuel BECKETT,

Referências

Documentos relacionados

Quando o licitante apresentar preço final inferior a 30% (trinta por cento) da média dos preços ofertados para o mesmo item, e a inexeqüibilidade da proposta não for

O voto vencedor do caso consignou que a autuação careceu de indícios que pudessem comprovar a ocorrência da simulação na situação fática, bem como que a segregação das

Os elementos esperados para a realização dessa intencionalidade foram, obtidos a partir da modificação no espaço e exercício dessa forma de autoridade, possibilitando

Saiba o que deixa você feliz e o que deixa você triste, quais são seus projetos, suas potencialidades e fraquezas, de que recursos necessita para o crescimento pessoal e

Uso de Recursos Naturais Silvicultura; exploração econômica da madeira ou lenha e subprodutos florestais; importação ou exportação da fauna e flora nativas brasileiras; atividade

Faça uso do equipamento em local onde haja espaço físico suficiente para manejo da Equipamento com segurança, evitando assim quedas

A ginástica aeróbica foi a primeira atividade aeróbica a merecer destaque. Praticamente foi esta a responsável pela popularização dos exercícios aeróbicos de

De um modo geral, foram explicadas que as medidas que devem ser tomadas para compensar as interrupções são: transferir os doentes para outro acelerador com características