ENXERTOS NO RITUAL DO REAA
João Florindo Batista Segundo – 1º Vig.·.
A.·.R.·.L.·.S.·. José Rodovalho de Alencar nº 2.912 GOB-PB R.'.E.'.A.'.A.'.
Cajazeiras-PB
Meses antes do recesso maçônico do fim de 2013, este signatário passou a observar em oficinas do Rito Escocês Antigo e Aceito de nossa Potência (GOB), alguns amados Irmãos implantarem práticas ritualísticas que eu até então desconhecia. A alegação é de que aprenderam tais procedimentos com um amado Irmão que não é responsável legal pelo Rito, durante reunião ocorrida há algum tempo.
Dentre as referidas novas práticas, destacamos as seguintes: a composição da Guarda de Honra para recepção do Pavilhão Nacional com o emprego dos Diáconos; o posicionamento do Altar dos Juramentos nos degraus do Altar do Venerável Mestre; a alegação da existência de uma linha imaginária entre o Altar dos Juramentos e o Altar do Venerável Mestre, dentre outras que citarei brevemente em outro texto.
Já ouvi de apresentadores e defensores destes procedimentos que o fato de não estarem escritos no monitor (livro do Ritual) não significa dizer que não existam. Será que isso está correto?
1 - Importância da norma escrita no GOB
Quem já teve a oportunidade de ler “O ofício do Maçom”, do Irmão Harry Carr, aprendeu que na tradicionalista Inglaterra há vários modos de se executar o ritual (por eles chamados de craft) e que conforme a região, um mesmo craft tem sensíveis diferenças, todavia, existentes há dezenas de anos (não são novidades, não são coisas recém criadas). Isto é característico dos países de cultura anglo-saxônica, onde o costume perpetuado pela tradição oral é mais relevante que o registro escrito.
Nos países que adotam o sistema jurídico romano-germânico (a exemplo do Brasil, cuja língua e cultura são descendentes do Lácio), leis e códigos se sobressaem desde a Revolução Francesa. Antes dela, havia equilíbrio entre juízes, professores e reis.
A superioridade da norma escrita também vale para a Maçonaria brasileira, onde, desde o século XIX, o Grande Oriente do Brasil publica monitores (rituais), descrevendo como os Ritos devem ser praticados.
Para o GOB a importância do registro escrito é tamanha que logo no preâmbulo do Ritual do R.'.E.'.A.'.A.'. está permanentemente proibida a inclusão de cerimônias, palavras, expressões, atos, procedimentos ou permissões que nele não constem ou não estejam previstos, bem como é vedada a exclusão de qualquer cerimônia, palavra, expressão, ato, procedimento ou permissão (p. 12), ou seja: NÃO SE PODE TIRAR, NEM POR.
Outrossim, o Ritual foi aprovado pelo Decreto nº 1102, de 15 de maio de 2009, o qual também retirou de uso (abrogou, revogou totalmente) as edições anteriores do Ritual.
Ou seja, com base na legislação vigente e eficaz do GOB, só vale o que está escrito. Logo, se alguma dessas novas práticas que estão sendo ensinadas virá a ser implantada no futuro, caso o Soberano Grão-Mestre Geral resolva modificar o Ritual do R.'.E.'.A.'.A.'., só então elas poderão ser realizadas nas sessões maçônicas. Nunca antes disso.
Mas para facilitar a vida dos Irmãos, vamos expor aqui os trechos do Ritual do R.'.E.'.A.'.A.'. que deixam claro que os ensinamentos que estão sendo cobrados não têm base legal (não estão no Ritual).
2 – “Formação da Guarda de Honra com Diáconos para o Pavilhão Nacional”
Estão informando aos Irmãos que o Mestre de Cerimônia deverá compor a guarda com os dois Diáconos. O Ritual de Aprendiz do REAA, à página 94 diz que para a entrada do Pavilhão Nacional, “O M.'. de CCer.'. designará dois IIr.'. para com ele formaram e Guarda de Honra, todos munidos de espadas”. O mesmo texto lê-se à página 159, que trata da retirada.
O Ritual não diz que devem ser os Diáconos. De onde surgiu esta informação? Provavelmente do “Manual de Dinâmica Ritualística Do 1º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito” (que alguns chamam de “Cartilha”), edição 2012 (arquivo do Word), que, a respeito da Guarda Bandeira, assevera:
“De acordo com RGF, em seu Art. 221 e Art. 3º do Dec. 0084 de 19/11/97 - G.'.O.'.B.'., a Bandeira será recebida por uma Comissão composta de 13 (treze) IIr.'. MM.'. MM.'., armados de Espadas e munidos de Estrelas, e de uma Guarda de Honra de três membros, um dos quais o M.'. CCer.'. (também poderá ser formada pelos DDiac.'. e o M.'. CCer.'., ou por MM.'. e o M.'. CCer.'.).” (grifo nosso)
Quem lê apenas isso e não vai ao Regulamento Geral da Federação, pensa que o uso dos Diáconos é autorizado por ele, mas proibido pelo Ritual do R.'.E.'.A.'.A.'., o que seria uma flagrante contradição da legislação do GOB. Mas no artigo citado do RGF há apenas o seguinte:
“Art. 221. Nas Sessões Magnas, Litúrgicas ou não, o Cerimonial à Bandeira Nacional é o previsto em Lei.” É a única menção que faz à Bandeira Nacional e à sua guarda. E ficou claro também que a Lei a que faz menção é a Lei Federal (profana, a saber Leis 5.700 de 01/09/1971 e 5.812 de 13/10/1972), que logicamente não menciona cargos maçônicos.
Já do citado Decreto nº 0084, de 19 de novembro de 1997, do GOB, que estabelece normas e adota procedimentos quanto ao culto ao Pavilhão Nacional, destacamos o seguinte:
“Artigo 3°- O ingresso da Bandeira no recinto obedece ao seguinte procedimento:
[...]
“Parágrafo 2° - [...]
“III - A Bandeira, conduzida pelo Porta Bandeira esc oltada pela Guarda de Honra, constituída pelo Mestre de Cerimônias e mais dois Mestres Maçons, armados de espada, e adentra o Templo e para à entrada, sustentada pelo seu condutor, na vertical, ao lado direito do corpo, segura com as duas mãos pela haste, cruzando o braço esquerdo na frente corpo, antebraço na horizontal, a mão direita sustenta no alongamento do braço.”
Então quem está certo: a cartilha ou o Ritual?
Ao tirar dúvidas sobre ritualística do R.'.E.'.A.'.A.'., o Irmão Gercilene Rolim, Past-Master de nossa Oficina, recebeu o seguinte e-mail:
“Sr. Gercilene Rolim Formiga, bom dia!
Conforme Decretos ns. 1102, 1108 e 1114 de 15 de maio de 2009, que constam nos Rituais de Aprendiz, Companheiro e Mestre do REAA, respectivamente, estão revogados todos os manuais de dinâmica ritualística e as disposições em contrário. Qualquer dúvida específica quanto a Ritualística entrar em contato conosco que tanto o Grande Secretário-Geral, Eminente Irmão Antonio Gouveia Medeiros como o Secretário-Geral Adjunto para o Rito Escocês Antigo e Aceito, Eminente Irmão Pedro Juk, lhes responderão prontamente.
“Atenciosamente,
“Marcos Moreno (Assistente da SGOR)”
Se algum Irmão quiser mais esclarecimentos, mande seu e-mail para ritualistica@gob.org.br.
Ou seja, para o GOB o que vale é o Ritual, onde não se faz menção a Diáconos.
Lembremos ainda que o 1º Diácono transmite as ordens do Venerável Mestre ao 1º Vigilante e a todas as Dignidades e Oficiais, para que os trabalhos ocorram com ordem e perfeição (p. 47 do Ritual de Aprendiz). Já o 2º Diácono é o transmissor e executor das ordens do 1º Vigilante, de modo que as Colunas se conservem com respeito, disciplina e ordem (p. 46 do Ritual de Aprendiz). Se o Mestre de Cerimônia e os dois Diáconos saírem da Loja, mesmo que momentaneamente, quem será o executor das ordens das Luzes? É como um Judiciário sem Polícia, uma cabeça sem braços para executar suas vontades. Isto não pode ocorrer, pois tudo no Ritual deve fazer sentido e esta saída não faz sentido algum.
Logo, no R.'.E.'.A.'.A.'. do GOB, os dois Irmãos a serem escolhidos para compor a Guarda de Honra ao Pavilhão Nacional deverão ser Mestres Maçons que não estejam exercendo cargo
(Mestres, pois deverão portar espadas; sobre o assunto v. p. 133 do Ritual de Aprendiz e p. 22 do Decreto nº 1114, de 15 de maio de 2009).
3 – “Há uma linha imaginária entre o Altar dos Juramentos e o Altar do Venerável Mestre e é proibido cruzá-la”
À página 42 (que trata “da circulação em Loja e saudação”), o Ritual de Aprendiz diz que “No Oriente não há padronização de circulação”. No referido ritual nem nos de Companheiro e Mestre, não encontrei qualquer menção a esta linha imaginária, que mesmo que alguém acredite que exista, pela nossa legislação é permitido atravessá-la tranquiatravessá-lamente.
Acredito que essa proibição exista em algum outro Rito. É certo que há na Ordem Demolay, que é paramaçônica, não é maçônica.
Ou seja, não há referência a essa linha nem à proibição de cruzá-la, no R.'.E.'.A.'.A.'. do GOB.
4 – “O Altar dos Juramentos encostado nos degraus do Altar do Venerável Mestre”
Na planta do templo constante à página 22 do Ritual de Aprendiz do R.'.E.'.A.'.A.'., vê-se que o Altar dos Juramentos está no centro do Oriente.
E à página 17 lê-se claramente que:
“No centro do Oriente, entre os degraus do Trono e a balaustrada, fica o Altar dos Juramentos [...]”(grifo nosso).
Alega-se que o Altar dos Juramentos deve ser encostado no do Venerável para impedir que os Irmãos cruzem a linha imaginária acima. Mais uma prova de que ela é tão imaginária que para ser respeitada é necessário mudar até a posição da decoração do templo.
Ou seja, o Altar dos Juramentos fica no centro do Oriente, no R.'.E.'.A.'.A.'. do GOB.
Conclusão
No texto “A Igreja Maçônica” (publicado na Revista Universo Maçônico. ano VII, nº 24. São Paulo: Editora Novo Oriente, 2013, p.
28-30.) já tratamos dos problemas causados por outros enxertos (de caráter religioso). Algumas das considerações apresentadas lá servem para as “novidades” descritas aqui, uma vez que estas:
a) impedem a padronização dos trabalhos na Potência;
b) são descumprimento da legislação que cada Obreiro jurou respeitar;
c) são desrespeito às autoridades maçônicas às quais o Obeiro está vinculado; e
d) dificultam aos visitantes o entendimento do procedimento ritualístico praticado na Oficina visitada, vez que foge ao ritual previsto pela Potência.
É preciso coibir estas invencionices, a fim de manter a integridade e a beleza do Rito Escocês Antigo e Aceito, que deve estar sempre acima de quaisquer caprichos individuais. O primeiro passo é ler constantemente os Rituais, que devem ser os livros de cabeceira do Maçom, principalmente para o que queira ocupar cargos.