• Nenhum resultado encontrado

A ALIANÇA DE ABRAÃO: OS PRIMÓRDIOS DO SISTEMA PATRIARCAL HEBRAICO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A ALIANÇA DE ABRAÃO: OS PRIMÓRDIOS DO SISTEMA PATRIARCAL HEBRAICO"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

A ALIANÇA DE ABRAÃO: OS PRIMÓRDIOS DO SISTEMA

PATRIARCAL HEBRAICO

CORDEIRO, Eduardo Cristiano Vaine (FAFIPA) PIRATELI, Marcos Roberto (FAFIPA)

Introdução

O presente texto tem como objetivos Investigar a aliança e início do patriarcado hebraico a partir do livro do Gênesis (sobretudo no capítulo 17,1-8).

A investigação das transformações sociais ocorridas na Antigüidade Oriental, privilegiando a aliança patriarcal hebraica, implica uma metodologia que contemple a necessidade de compreender a organização da sociedade semita e sua sedentarização, sobre a qual se fundou a identidade do povo hebreu.

O estudo sobre a aliança e o início do sistema patriarcal dos hebreus, justifica-se no interesse de investigar o papel desse povo, que foi um dos primeiro a apresentar a idéia de uma sociedade cuja identidade se liga a uma divindade monoteísta, cujos desdobramentos influenciaram a nossa própria sociedade, pelo menos naquilo que tange à religião. Estudar o referido momento histórico, pode fornecer elementos que possibilitem uma maior compreensão do tempo presente, visto as propostas defendidas por Abraão, serem ainda comuns e aceitas na contemporaneidade.

A relevância do estudo da história do patriarcado hebreu justifica-se também pela importância e vigor do seu legado religioso, que cruzou o limiar do judaísmo, invadindo, inclusive, a religião cristã.

(2)

A aliança do processo de sedentarização dos hebreus.

A civilização hebraica (de origem semita) desenvolveu-se na antiga Palestina (Oriente Próximo). Seu território era rasgado pelo rio Jordão, e caracterizado por um vale de área fértil e favorável à prática agrícola e à sedentarização de sua população.

As tribos semitas, ao chegarem à Palestina, empreenderam uma disputa pelo domínio da região, originando prolongados conflitos contra os cananeus e os filisteus, até o momento em que saíram vitoriosos. Mas de que forma esses homens conseguiram se estabilizar na região? Quais foram as formas que seus líderes utilizaram para convencer os homens de que aquele era o local ideal para se estabelecer raízes?

Tal problemática, norteou um investigação histórica que, a rigor, nos levou à conclusão de que a formação do patriarcado hebraico é resultado de uma identidade construída a partir de uma aliança religiosa, isto é, da relação humanidade e divindade desempenhada pelo povo semita, em um processo de sedentaraização, cujo líder mais antigo é identificado em Abraão (séc. XIX a.C.).

Em Síntese, os hebreus, ao se fixarem no Oriente Próximo, organizaram-se em grupos familiares patriarcais, seminômades, iniciando o desenvolvimento das atividades agrícolas e pastoris, o que os levou a se estabelecerem na região. Não só isso, a identificação com um Deus próprio, particular, contribuiu para que solidificasse sua identidade, tal como foi o caso da aliança que acreditavam ter sido firmada entre a divindade e seu líder Abraão, originário da cidade de Ur, na Caldéia, o que lhe outorgou o status de primeiro patriarca hebreu (AMÂNCIO, 2007).

O livro do Gênesis

Tal evento, relatado no livro do Gênesis - texto tido como sagrado pelos hebreus, sobretudo no capítulo 17,1-8 -, apresenta Abraão enquanto anunciador de uma nova cultura religiosa, monoteísta, que mais tarde cimentaria a unidade dos

(3)

hebreus, uma vez que estes acreditavam que Abraão recebera de Deus (chamado

YHWH) a promessa de uma terra para ele e seus descendentes.

Quando Abrão completou noventa e nove anos, Iahweh lhe apareceu e lhe disse: “Eu sou El Shaddai, anda na minha presença e sê perfeito. Eu instituo minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei extremamente”. E Abrão caiu com a face por terra. Deus lhe falou assim: “Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás pai de uma multidão de nações. E não mais te chamarás Abrão, mas teu nome será Abraão, pois eu te faço pai de uma multidão de nações. Eu te tornarei extremamente fecundo, de ti farei nações, e reis sairão de ti. Estabelecerei minha aliança entre mim e ti, e tua raça depois de ti, de geração em geração, uma aliança perpétua, para ser o teu Deus e o de tua raça depois de ti. A ti, e à tua raça depois de ti, darei a terra em que habitais, toda a terra de Canaã, como possessão perpétua, e serei o vosso Deus” (BÍBLIA, V.T., Gênesis, 17, 1-8).

Vale destacar que a Bíblia é o principal documento do judaísmo, também conhecido como Antigo Testamento. O esforço feito pelos especialistas de conhecer, ampliar ou, pelo menos, de se aproximar de seu significado original é chamado de exegese bíblica. Na história da hermenêutica encontramos esse documento sendo interpretado ora de forma exclusivamente literal, ora de forma excessivamente alegórica, gerando seqüelas a nível religioso e político com graves conseqüências sociais (ROCHA, 2006).

Os documentos do judaísmo antigo, como quaisquer outros documentos históricos, não podem ser entendidos como um retrato fiel da realidade que aludem. Além de terem sido escritos em diferentes contextos, devem ser entendidos como uma representação do real elaborada por seus autores ou redatores a partir de determinados interesses e perspectivas.

A variedade de gêneros no Antigo Testamento é maior que no Novo Testamento (KRÜGER; CROATTO; MÍGUEZ, 1996). As distintas unidades literárias possuem gêneros, formas e estruturas próprias, as quais servem de subsídios para alcançarmos o objetivo de conhecer e analisar a forma de expressão da época. Estes são moldados pelas circunstâncias que o geraram, bem como o momento no qual foi transmitido. Os gêneros literários mais representativos no

(4)

Antigo Testamento são: histórico, jurídico, profético, sapiência, cânticos e orações (ARTOLA; CARO, 1996).

O livro de Gênesis basicamente pertence ao gênero narrativo e, dentro do gênero histórico temos vários gêneros que se enquadram na mesma estrutura formando assim subgêneros como: narração, mito, legenda ou saga, autobiografia, entre outros. A grande seção de Gênesis 17.1-27 pode ser classificada como uma “legenda” pessoal, ou seja, uma saga ou lenda no melhor uso da palavra.

Temos então na perícope estudada, características de saga pessoal. No entanto há um fato em que Deus se apresenta como o El Shaday, ou seja, Deus todo poderoso. Vale observar aqui, que o uso dessa nomenclatura para se referir a Deus é usada somente para as narrativas patriarcais. Assim, dentro dessa saga pessoal temos essa locução divina onde é apresentada a aliança da divindade com Abrão, que passa a ser chamado de Abraão. Acontecendo, então, a mudança de nome de um dos personagens dessa saga, reafirmando a questão da aliança não deve ser vista como promessa, mas como um contrato efetivo, entre humanidade e divindade.

A locução divina ao mudar o nome transforma a vida do agora Abraão, assim, ele que antes era um simples pai passa a ser o pai de uma multidão de nações. E mesmo que a mudança seja somente uma variação do nome, deve-se considerar que na cultura judaica a pessoa é o que o seu nome significa. Dessa forma, podemos entender que, nesse caso, ocorreu uma mudança de perspectiva para Abraão.

Logo na perícope de Gênesis 17.1-8 temos a apresentação de: (1) um Deus como o Todo poderoso, termo usado para narrações patriarcais, e a intimação para Abrão ser íntegro e prefeito; (2) depois tem-se a apresentação da aliança com a mudança de nome de Abrão para Abraão; e, por fim, (3) a extensão da aliança como dádiva para os descendentes de Abraão (3).

(5)

Apresentação de Deus e intimação a Abrão (1)

1Quando Abrão completou noventa e nove anos, Iahweh lhe apareceu e lhe disse: “Eu sou El Shaddai, anda na minha presença e sê perfeito

Apresentação da Aliança e mudança do nome de Abrão.

(2)

2Eu instituo minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei extremamente”. 3E Abrão caiu com a face por terra. Deus lhe falou assim: 4“Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás pai de uma multidão de nações. 5E não mais te chamarás Abrão, mas teu nome será Abraão, pois eu te faço pai de uma multidão de nações. 6Eu te tornarei extremamente fecundo, de ti farei nações, e reis sairão de ti. 7Estabelecerei minha aliança entre mim e ti, e tua raça depois de ti, de geração em geração, uma aliança perpétua, para ser o teu Deus e o de tua raça depois de ti.. Extensão da aliança.

(3)

8A ti, e à tua raça depois de ti, darei a terra em que habitais, toda a terra de Canaã, como possessão perpétua, e serei o vosso Deus

A rigor, o significado da perícope estudada, permite o entendimento da Aliança (berit) patriarcal hebraica, tida como uma relação entre estes e Deus, e que, seria confirmada com a multiplicação da prole de Abrão e a mudança de seu nome para Abraão, assim, sua perspectiva de futuro como patriarca fosse realizada.

Podemos observar no início do texto investigado a apresentação de Deus como Yahweh. E essa nomenclatura vem reafirmar o estado patriarcal de Abraão, pois ela fora usada como forma de reafirmar o patriarcalismo e a consangüinidade dos três patriarcas. Mas não é somente este nome que Deus recebe, Ele também passa a ser chamado de El Shaday, o Todo Poderoso, para que, dessa forma, viesse a testificar a mudança de nome de Abrão para Abraão e assim se cumprisse a aliança.

Considerações finais

A investigação privilegiou como pressupostos os fundamentos históricos e literários da religião, os quais, em rigor, não visam ao conhecimento dos fatos, mas ao conhecimento deste respaldado por categorias históricas. Em face disso, a aliança foi

(6)

tomada como histórica, dependente de um momento histórico; seu vigor depende da subsistência das relações sociais que o moldaram, desencadeado por uma transformação, que traz consigo um novo tipo de sociedade e identidade para o homem hebraico, identificados como “mais adequados”, e que devem ser formados em uma religiosidade “mais adequada”.

Nessa conjuntura o emergir da aliança representada em Abraão configurou-se em uma nova proposta social-religiosa, tão cara ao povo semita no mundo antigo, sobretudo, no momento em que essa religião assumiu o controle dos homens no processo de ocupação do oriente próximo.

Desse modo, a pesquisa ao centrar-se no diálogo com a fonte, isto é, Gênesis, mais precisamente 17, 1-8, e, analisada em sua historicidade, permitiu revelar as ideologias e as práticas que possibilitaram e viabilizaram as condições para a organização de uma “nova ordem” sob a tutela de um novo Deus, YHWH, em um novo patriarca: Abraão.

REFERÊNCIAS

AMÂNCIO, M. O pacto de Abraão, raízes. História Viva: Grandes Religiões, Judaísmo. 2ed. São Paulo, 2007, p. 8-11.

ARTOLA, A. M. e CARO, J. M. S. A Bíblia e a Palavra de Deus. São Paulo: Ave Maria, 1996.

BÍBLIA. Português. BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 1996.

KRÜGER, R.; CROATTO, S. y MÍGUEZ, N. Métodos Exegéticos. Buenos Aires: EDUCAB, 1996.

ROCHA, I. E. Práticas e representações judaico-cristãs: exercícios de interpretação. Assis: FCL-ASSIS-UNESP Publicações, 2006.

Referências

Documentos relacionados

Nesse sentido, o livro de Mary Del Priori Sobreviventes e guerreiras: Uma breve história da mulher no Brasil de 1500 a 2000 convida seus leitores a refletir sobre a história

A partir de pesquisa realizada junto ao Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, o artigo analisa alguns efeitos colaterais do processo de preparação e

Associação entre vitiligo e doenças auto-imunes: prevalência no Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Evangélico

O teste de patogenicidade cruzada possibilitou observar que os isolados oriundos de Presidente Figueiredo, Itacoatiara, Manaquiri e Iranduba apresentaram alta variabilidade

Detectadas as baixas condições socioeconômicas e sanitárias do Município de Cuité, bem como a carência de informação por parte da população de como prevenir

II - que estejam prestando serviço à Casa Cor Brasília e ao CasaPark e/ou que tenham com eles vínculos familiares consanguíneos ou afins, na linha reta ou na colateral, até o

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

Você não deve tomar BISOLTUSSIN se tiver alergia à substância ativa ou a outros componentes da fórmula; em tratamento concomitante ou tratamento nas 2 semanas anteriores com