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Angola. Primeiro Trimestre Fase de ajustamento em curso

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Academic year: 2021

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Angola

Primeiro Trimestre 2010

1. Fase de ajustamento em curso

Sendo ainda escassa a informação macro-económica disponível nas habituais fontes para além da que foi divulgada com a última edição deste Boletim, no final de 2009, as indicações que se podem retirar a partir de dados obtidos das áreas de negócios sugerem que a economia angolana procura nesta altura encontrar o “passo certo” em termos de nível de actividade, revelando uma fase típica de ajustamento macro económico depois do enorme choque externo sofrido em 2009 – com mais intensidade no 1º semestre desse ano.

Esse choque externo, traduzido numa forte perda dos termos de troca resultante da quebra do preço internacional do barril de petróleo, teve como consequência, entre outras, um crescimento da actividade económica praticamente nulo depois de anos sucessivos em que manteve um ritmo de crescimento de dois dígitos.

A actual fase de ajustamento constitui uma natural sequência das medidas de contenção monetárias, financeiras e orçamentais implementadas no 1º semestre de 2009 bem como das condições estabelecidas no Acordo de “Stand-By” celebrado com o FMI em finais de Novembro último, umas e outras amplamente descritas e comentadas nas últimas edições deste Boletim, nomeadamente na do 4º Trimestre de 2009.

Apesar da ajuda que a recuperação dos preços do petróleo tem proporcionado, uma fase de ajustamento deste tipo nunca é fácil e exigirá certamente alguns acertos ao nível das políticas adoptadas até que a actividade económica encontre o ritmo requerido pelas novas circunstâncias pós-crise e também pela capacidade de geração de receitas em divisas em ordem a preservar a solvabilidade externa do País – objectivo primordial da política macro económica - mantendo as reservas oficiais líquidas em níveis satisfatórios.

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2. Aspectos mais salientes da fase de ajustamento

Nesta fase de ajustamento merecem saliência:

- A prossecução das medidas de política monetária dirigidas à contenção da procura interna, traduzidas no encarecimento do crédito às empresas e a particulares, tanto em moeda nacional como em moeda estrangeira;

- A aplicação da nova política cambial, em vigor desde Outubro de 2009, traduzida na gestão de uma tendência deslizante da taxa de câmbio USD/KWZ bem como no estreitamento da diferença entre a taxa do mercado oficial e do mercado paralelo através do funcionamento regular dos leilões de divisas pelo Banco Nacional de Angola;

- A política orçamental de contenção da despesa, da qual resultaram alguns problemas de atrasos no pagamento às empresas adjudicatárias de obras públicas e fornecedoras de outros bens e serviços ao sector público, para os quais se aguarda solução a curto prazo;

- As relações com o FMI no quadro do acordo de “Stand-by”.

3. Política monetária

Cabe recordar que as medidas de política monetária se traduziram, essencialmente, no seguinte:

- Elevação da taxa de redesconto do Banco Central ao longo de 2009 para 25% em 26 de Fevereiro, (do nível anterior de 19,57%) e para 30% em 1 de Outubro;

- Agravamento das reservas de caixa imposto aos Bancos pelo Instrutivo nº08/2009 de 21 de Maio, com as alterações introduzidas pela Directiva nº 07/DSP/2009, de 22 de Junho,

Estas medidas visaram, como se sabe, restringir a procura de crédito por parte de empresas e particulares e limitar a disponibilidade de crédito por parte dos bancos, tendo como objectivo final o abrandamento da procura de bens e de serviços, nomeadamente bens e serviços importados.

No mesmo sentido se devem interpretar as alterações introduzidas na regulamentação cambial, designadamente a que se refere ao pagamento das operações de invisíveis correntes, as quais passaram a ser objecto de mais apertado controlo por parte do BNA a partir de meados de 2009.

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Não se encontrando ainda disponível informação quanto aos agregados de crédito e de depósitos para o conjunto da Banca, as notícias que se vão colhendo nomeadamente junto de fontes empresariais permitem concluir que se terá registado um abrandamento sensível do ritmo de crescimento desses agregados, como natural reflexo das medidas adoptadas.

4. A nova política cambial

4.1 Evolução da taxa de câmbio USD/KWZ

Pode considerar-se que a nova política cambial do BNA entrou em vigor a partir de 1 de Outubro de 2009, como forma de antecipação das medidas acordadas com o FMI, em simultâneo com o reinício da prática regular de leilões de divisas pelo BNA que havia sido suspensa desde Abril do mesmo ano.

Esta nova política cambial, que aceitou à partida um ajuste da taxa de câmbio USD/KWZ de cerca de 8%, tem como principal componente uma correcção deslizante do valor médio da taxa de câmbio, o qual desde Outubro de 2009 e até finais de Março passou de 84,474 para 91,290, ou seja de 8,0%, significando um ritmo de correcção da ordem de 1,5% ao mês.

Evolução da Taxa de Câmbio* USD/KWZ

2009 2010

Jan Mar Jun Set Out Dez Fev Mar

75,137 77,806 84,474 90,248 75,581 77,806 88,746 91,290

*Valores médios mensais

Esta nova política foi acompanhada pela retoma da prática de leilões regulares de divisas, inicialmente diários, por parte do BNA.

Sabe-se que mais recentemente a frequência dos leilões foi reduzida para três sessões semanais, sendo também mais reduzido o montante de divisas vendido pelo BNA.

É possível que esta redução na frequência dos leilões tenha a ver com a necessidade de controlar os níveis de pagamentos com o exterior ou de reavaliação do ritmo de deslizamento da taxa de câmbio, assuntos que naturalmente não deixarão de ser objecto de troca de informações e de consulta entre as autoridades do País e os responsáveis do FMI.

Não deixa de se notar, entretanto, que esta nova política cambial conseguiu o efeito importante de reduzir, para valores inferiores a 10%, o diferencial entre as taxa de câmbio oficial e a paralela USD/KWZ que no final de Setembro de 2009 chegou a atingir valores da ordem de 25%.

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4 Aguardam-se com natural expectativa os próximos desenvolvimentos referentes ao prosseguimento da nova política cambial, sendo certo que se trata de uma área da maior importância para a gestão das expectativas dos agentes económicos, tanto das instituições financeiras como das empresas não financeiras.

Refira-se também que o FMI, no seu relatório de avaliação da política económica em Angola divulgado aquando da celebração do acordo de “Stand-By”, deixou bem explícita a importância de Angola dispor de um mercado de câmbios activo e aberto, com realização regular de leilões pelo BNA, como forma de gerar confiança no mercado em relação à política cambial e à taxa de câmbio e também como instrumento de orientação para o ajustamento da taxa de câmbio aproveitando as indicações transmitidas pelo mercado.

4.2 Posição líquida de reservas internacionais

Acrescente-se entretanto que a posição líquida de reservas internacionais (PLRI), divulgada pelo BNA, estabilizou no último trimestre de 2009.

Assim, depois de uma redução da PLRI de cerca de USD 700 milhões em Outubro - esta última explicável certamente pelo facto de se tratar do primeiro mês de retoma dos leilões de divisas - registou-se uma recuperação de USD 800 milhões em Novembro para em Dezembro ocorrer nova redução de USD 570 milhões - para um total de USD 12, 34 mil milhões - mesmo assim um valor que é cerca de USD 225 milhões acima do registado no final de Outubro.

Posição Líquida de Reservas Internacionais em 2009* (USD Milhões)

Janeiro Março Junho Setembro Outubro Novembro Dezembro

16.665 13.224 12.148 12.809 12.116 12.912 12.341 Posições em final de mês

A redução registada em Dezembro é naturalmente resultante da concentração das importações que caracteriza a parte final do ano, que poderá ter originado uma acumulação de pagamentos ao exterior.

Esta evolução sugere que a posição de reservas se encontra estabilizada, embora também se possa concluir que a política de contenção da despesa continua a merecer todo o cuidado, nomeadamente no domínio orçamental.

Compreende-se que qualquer cenário de derrapagem da despesa tenha que ser evitado, na medida em que afectaria negativamente a actividade económica e nomeadamente o investimento nos sectores não-petrolíferos - importante prioridade da política económica e objectivo fundamental assumido no âmbito do acordo de “Stand-by” com o FMI.

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Registe-se entretanto a publicação, com data de 16 de Março, do Instrutivo nº1 de 2010, do BNA, que eleva para USD 300.00,00 (dos anteriores USD 100.000,00) o limite a partir do qual as transferências relativas a invisíveis correntes, de carácter comercial, ficam sujeitas a autorização prévia do BNA.

Este Instrutivo, que revoga o Instrutivo nº5/09, de 20 de Abril – o qual tinha fixado o limite de USD 100.000,00 – constitui um primeiro e importante sinal de abertura nos pagamentos para o exterior

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5. A política de contenção orçamental

Não existe ainda informação sobre os resultados da política de contenção orçamental em função dos objectivos de redução da despesa corrente e de capital para 2009 que foram aprovados em Junho último.

Sabe-se, contudo, que existe um número considerável de empresas que continuam a aguardar pela regularização de pagamentos por parte de entidades públicas, situação que se pode interpretar como reflectindo essa preocupação de contenção orçamental embora aplicada numa fase mais a jusante do processo de realização de despesa pública e que é susceptível de causar problemas às empresas credoras.

Aquilo que parece dever concluir-se é que nesses casos as medidas de contenção terão incidido sobre os pagamentos, depois de assumidos os compromissos.

Quer isto dizer que algumas entidades públicas, certamente por força de uma inércia difícil de conter, mantiveram o ritmo dos compromissos de despesa, o que conduziu a que os mecanismos de contenção acabassem por actuar mais tarde, na fase de pagamento.

Segundo valores apurados pelo FMI, os atrasos de pagamento acumulados pelo sector público em relação a fornecedores, empresas residentes – com destaque para as obras públicas, certamente – ascenderia a um valor da ordem de USD 2,5 mil milhões (pelo final do 3º trimestre, quando o levantamento do FMI terá sido efectuado).

Trata-se de uma situação que carecerá de clarificação e resolução num prazo não muito longo, existindo diversas empresas que aumentaram significativamente os seus níveis de endividamento, nomeadamente bancário para compensar estes atrasos de pagamento.

Declarações mais recentes de responsáveis governamentais indicam que o início da regularização deste problema dos atrasos de pagamento pode estar para muito breve.

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6 Também a notícia divulgada em alguns media segundo a qual a República de Angola estaria em contacto com as principais agências de rating internacionais no sentido de procurar obter uma notação de rating para suportar uma emissão de dívida de montante significativo junto de investidores externos, a confirmar-se, deverá ser tomada como um dado positivo.

Com efeito, a atribuição de uma notação de rating à Republica de Angola: (i) constituiria um progresso assinalável na sua credibilização junto dos mercados internacionais de dívida, (ii) aumentaria a importância de manter uma política macro económica requerida pelos objectivos de estabilidade e (iii) ajudaria a resolver os problemas de atrasos de pagamento a entidades privadas que representam sempre um factor negativo para o investimento.

6. As relações com o FMI

Sabe-se que, até ao final de Fevereiro, Angola tinha utilizado somente SDR 229,04 milhões do limite da facilidade de crédito concedida no âmbito do acordo “Stand-By”, que é de SDR 858,90 milhões, equivalentes a USD 1,4 mil milhões na data de celebração do acordo (1 SDR = 1,538 USD actualmente).

O que se pode ter por certo é que o FMI não deixará de prestar a maior atenção aos desenvolvimentos da actividade económica em Angola, especialmente no que se refere à necessidade de preservar os equilíbrios fundamentais. E que, em conformidade, não deixará de aconselhar as autoridades no sentido da adopção oportuna de medidas que procurem salvaguardar esses equilíbrios.

A este respeito, o FMI divulgou a 17 de Março um breve comunicado na sequência de uma missão a Angola, no início do mês, no qual se pode ler o seguinte:

“O programa de estabilização adoptado pelas autoridades com o apoio do acordo “Stand-By”, produziu uma sensível melhoria nas condições macro económicas.

“A reintrodução do sistema de leilões de divisas tornou possível um ajustamento significativo mas controlado da taxa de câmbio oficial que, articulado com uma ligeira apreciação do câmbio no mercado paralelo, conseguiu diminuir substancialmente o “spread” entre os dois mercados. “A execução orçamental apresentou melhorias no último trimestre de 2009, graças a um apertado controlo da despesa e a maiores rendimentos do sector petrolífero.

“Esta evolução contribuiu para a estabilização da posição de reservas em divisas e para reforçar a confiança dos mercados.

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“Conquanto se registe uma melhoria das perspectivas económicas, serão necessárias ainda medidas adicionais para criar uma posição orçamental sustentável, controlar a inflação e reforçar a posição de reservas em divisas”.

Noutro passo do mesmo comunicado pode ainda ler-se:

“A missão chegou a acordo com a equipa económica governamental em relação às medidas essenciais tidas por necessárias para melhorar o desempenho macro económico.

“Nas próximas semanas as autoridades de Angola e o FMI trabalharão conjuntamente para concluir os dados complementares do pacote de medidas que deverão propiciar o primeiro exame do acordo de “Stand-By”.

7. Perspectivas para 2010

Sem prejuízo de se considerar muito provável uma recuperação da actividade económica em relação aos valores observados em 2009, nomeadamente no tocante aos sectores não-petrolíferos, parece razoável admitir, tendo em conta a necessidade de não abrandar as medidas de contenção da procura aplicadas no ano anterior, que a previsão de crescimento do PIB em 2010, avançada em Novembro pelo FMI (+7,1%), não venha a ser plenamente atingida.

No entanto, podemos considerar que mais importante do que atingir uma concreta taxa de crescimento será assegurar as condições de estabilidade macro económica que propiciem, nos anos seguintes, a continuação de uma tendência de crescimento não sujeita a sobressaltos.

Entretanto, a escassez de informação económica disponível não permite por ora avaliar com um mínimo de rigor o andamento da actividade esperável para o conjunto do ano, nomeadamente no tocante ao comportamento do consumo e do investimento públicos.

_____________________________ Nota Final (Disclaimer)

Fontes principais de informação macroeconómica: FMI e Banco Nacional de Angola

As observações que se encontram expressas neste documento acerca do significado da informação objectiva apresentada, não constituem opinião do Banco BAI Europa, reflectindo exclusivamente a opinião das pessoas que elaboraram o respectivo texto.

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