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Cerveja Artesanal: Oportunidade artesanal

28/11/2016

Cervejas artesanais se destacam pelo sabor e pela experiência gastronômica e conquistam consumidores cada vez mais fiéis. Varejista que acreditar nesse mercado em crescimento terá vantagens quando ele estiver consolidado

Tatiana Ferrador

Elas chegaram de mansinho e aos poucos foram ganhando espaço nas gôndolas dos supermercados e no copo do consumidor brasileiro. As cervejas artesanais, que há poucos anos começaram a disputar a preferência com grandes e reconhecidas marcas sem grandes pretensões, hoje são reconhecidas pela variedade de estilos, aromas e sabores com que são apresentadas. São associadas diretamente às experiências gastronômicas mais ricas e complexas, e sua análise, diferentemente da cerveja comum que costuma abranger unicamente o gosto da bebida, passa também por uma análise olfativa e visual. Considerando-se que o mercado cervejeiro brasileiro responde por 1,6% do PIB nacional e 14% da indústria de transformação, movimentando R$ 74 bilhões, tem-se uma ideia do potencial de crescimento das cervejas artesanais, que hoje correspondem a apenas 1% das vendas totais de cerveja no Brasil.

A boa notícia é que os produtos artesanais têm apresentado um crescimento de até 40% ao ano segundo os fabricantes. Um estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas para a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (Cerv Brasil) aponta o Brasil em terceiro lugar no ranking mundial, com 14 bilhões de litros de cerveja produzidos em 2014, atrás apenas da China (mais de 45 bilhões de litros) e dos Estados Unidos (mais de 25 billhões de litros). Nos últimos dez anos, a produção nacional cresceu a uma taxa média de 5% ao ano.

"O mercado está em ascensão e as pessoas estão cada vez mais saindo das cervejas tradicionais e buscando novos sabores, aromas e estilos", comemora o gerente de cervejas especiais, sommelier e mestre em estilos da Polialimentos, Robson Grespan. "Hoje o Brasil representa apenas 1% nas cervejas artesanais, e o mais importante é que as cervejas premium vêm crescendo de forma surpreendente, lembrando que é a porta de entrada para as especiais", ressalta.

Prova disso é que há três anos o Brasil contabilizava aproximadamente 150 cervejarias artesanais e, hoje, segundo dados da Associação Brasileira da Microcervejarias, já são pelo menos 350 produtores de cervejas especiais, com faturamento aproximado de R$ 2 bilhões

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e produção de 200 milhões de litros por ano.

O sommelier explica que isso se deve ao fato de que muitas pessoas que tinham como hobby fazer cerveja em casa vêm apostando nesse mercado. "Porém, não é nada fácil manter uma pequena cervejaria, e precisa ter muito conhecimento no ramo. Há aqueles que estão realizando esse sonho de ter sua cerveja nos pontos de vendas no formato cigano, ou seja, a pessoa tem a marca, a receita, o rótulo, mas não tem sua própria cervejaria para produzir. Nesse caso, eles fazem parcerias com outras cervejarias que produzem e fazem a distribuição e as vendas diretamente", ressalta.

O potencial das cervejas artesanais tem chamado a atenção das grandes cervejarias do mercado, como a Ambev, maior da América Latina, que passou a investir nas microcervejarias ao adquirir recentemente o controle da mineira Wäls e da paulistana Colorado, duas pequenas fábricas responsáveis pela produção de grandes rótulos. A empresa atribui as aquisições ao fato desse ser um mercado que caiu no gosto cada vez mais exigente e apurado do consumidor.

Ainda que a representatividade das cervejas artesanais nem se compare ao faturamento da Ambev, que em 2015 teve a receita líquida de R$ 26,3 bilhões, as margens de lucro são maiores, visto que as artesanais chegam a custar até três vezes mais.

DIFERENCIAIS

As cervejas artesanais são feitas com um maior cuidado em comparação com as tradicionais, produzidas em larga escala, uma vez que levam em consideração também os variados aromas e gostos de preferência do consumidor. Com isso, sua produção deixa de ser industrializada e abre espaço também para novos paladares. Seu processo produtivo leva entre 25 e 30 dias e apresenta-se em estilos mais ousados. Algumas envelhecem por muito mais tempo, podendo levar anos até ficarem, finalmente, prontas. Além da diferença em sua essência, as cervejas artesanais possuem garrafa, rótulo e outros detalhes que as distinguem das demais, já que a ideia é atender a um público mais exigente. No entanto, isso não quer dizer, necessariamente, que são muito mais caras que as cervejas tradicionais. "Não se trata de um produto voltado exclusivamente à classe alta, e sim para o público conhecido como indulgente [`eu mereço'], e que não vê problemas em pagar um pouco mais para a satisfação de degustar um produto diferenciado", explica Grespan.

Assim, as cervejas artesanais são associadas diretamente às experiências gastronômicas mais ricas e complexas. Enquanto a análise de uma cerveja comum costuma abranger

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unicamente o gosto da bebida, a da cerveja artesanal passa também por uma análise olfativa e visual.

"Hoje temos todos os perfis consumindo cerveja artesanal, mas é evidente que as classes com maior poder aquisitivo acabam comprando mais. A alta carga tributária brasileira faz com que essa linha de produtos chegue com maior valor agregado ao mercado, intimidando, muitas vezes, um consumidor ou outro. Por isso, trabalhamos muito para diminuir essa distância e trazer todos os públicos para consumir nossos produtos", explica o gerente comercial e bier sommelier da Dama Bier, Paulo Bettiol.

"Com o aumento do poder de compra do brasileiro ocorrido nos anos anteriores, ele teve acesso a produtos diferenciados e, mesmo com a crise, não quer abrir mão da satisfação adquirida, como acontece com as cervejas artesanais. Tentamos educar cada vez mais consumidores com o `beba menos, beba melhor'", pontua Bettiol.

De acordo com a Associação Brasileira da Cerveja Artesanal (Abracerva), atualmente a maior parte das cervejarias em operação estão localizadas nas regiões Sul e Sudeste. "É comum que quando uma rede de supermercados abre espaço para uma cervejaria artesanal, coloca essa bebida nas lojas de maior poder aquisitivo, porém, já temos até uma loja especializada em cervejas artesanais no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro", explica o diretor da Dortmund, Marcelo Longo.

DÓLAR EM ALTA

O dólar é um grande vilão para todos os produtos importados, impactando, inclusive, o segmento das cervejas especiais. Contudo, algumas cervejarias de fora vêm apostando no Brasil e negociando com os importadores algumas ações para não sofrer o grande impacto no ponto de venda. "Hoje, por exemplo, temos a Cervejaria Harboe, da Dinamarca, que está apostando no Brasil com excelentes produtos, tais como a lata de 500 mililitros, com preço bem acessível, nos pontos de venda, a menos de R$ 13", lembra Grespan.

Em relação às cervejas artesanais brasileiras, essas não ficam imunes à alta do dólar, uma vez que a maioria dos insumos é importada, como maltes e lúpulos. Ainda assim, conseguem ser mais competitivas em relação aos valores das importadas. "É o momento oportuno para que os supermercados passem a conhecer a qualidade das cervejarias nacionais, já que o preço das importadas está muito alto", acredita o diretor da Dortmund. "Abrindo espaço nas prateleiras, é possível que o próprio supermercado sinta quais são as marcas e os estilos preferidos dos consumidores, tendo assim uma oferta mais direcionada ao público de cada loja", diz. A Dortmund, acompanhando a boa fase do segmento, anuncia que está dobrando seu espaço para acomodar o crescimento que o

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mercado pede e preparar dois lançamentos programados para saírem até julho do ano que vem.

Para o diretor da Ecobier, Maurício Cruz, de um modo geral, todo o segmento sofreu em maior ou menor escala com a variação cambial, entretanto, como uma grande parcela dos custos são em reais - caso da mão de obra e da energia elétrica -, as cervejas nacionais acabaram por ter mais competitividade e ganhado mercado. "Principalmente porque ficaram mais acessíveis do que as cervejas importadas, que sempre tiveram uma participação considerável nesse mercado", defende.

Quem também comemora os bons ventos das cervejas artesanais é o diretor da Quinta do Malte, César Zuccato, que garante o aquecimento do mercado. "A nossa produção vem crescendo, em média, 30% ao ano, graças a investimentos e melhorias em nossos produtos. A produção nacional de cervejas especiais vem crescendo muito, o movimento está acontecendo no Brasil inteiro. Pudemos perceber isso durante a Feira APAS deste ano, em que recebemos interessados de todo o Brasil em nosso produtos", analisa.

OPORTUNIDADES NO PDV

O fato é que o consumidor brasileiro, de forma geral, ainda está descobrindo o mercado de cervejas artesanais, e, como na fase inicial de qualquer descoberta, está buscando experimentar novos sabores, novos estilos e novas sensações. Somente após esse primeiro momento poderá definir qual é seu estilo preferido, amargor ou não, saborização, de trigo etc. "Os consumidores estão em fase de transição, começando a fazer cursos para entender melhor esse novo mercado, saber a diferença de estilos e aprendendo a diferenciar pela qualidade. Não é porque a garrafa e o rótulo são diferentes que é uma cerveja especial. O que define uma cerveja como especial é seu conteúdo", alerta Longo. Para Zuccato, tanto os supermercados quanto as cervejarias devem aproveitar o momento para divulgar seus produtos nacionais de alta qualidade. "Hoje, temos cervejas nacionais com premiação internacional entre as melhores do mundo", diz.

Como argumentação de vendas com os supermercados, as cervejarias justificam a qualidade, os rótulos, os preços e os estilos atrativos para garantir um maior espaço nas gôndolas, com exposições setorizadas e atrativas. E, claro, novidades, que não param de chegar e funcionam como ótimo apelo de vendas. "Nossa cervejaria apresentará três novos estilos para este fim de ano, uma Red Ale, uma APA e uma Blond Ale", avisa o diretor da Quinta do Malte.

Para a escolha do mix, é recomendado que o supermercado conte com ajuda especializada, entenda-se um sommelier, capaz de sugerir os melhores rótulos para cada

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estação do ano, já que o sortimento é muito grande. "Em geral, nós mesmos fazemos a sugestão do mix, avaliando os rótulos que o supermercado já possui, quais são os que têm um bom giro, quais eles pretendem tirar etc. e formamos o mix de forma a ser complementar", explica Longo. "É importante estar atendo ao estilo, à qualidade e ao volume da garrafa", conclui.

Como lembra Grespan, hoje, nas gôndolas, ainda não existe a dinâmica de separar as cervejas brasileiras das importadas, ainda que estejamos no caminho para que isso ocorra no futuro. "A ideia é que seja feito o planograma, assim como ocorre com os vinhos, por países e por cervejarias", diz. "Sendo assim, as redes que estão mais preparadas em apostar nas especiais nacionais e importadas estão analisando por estilos, que já são mais de 130. Atualmente, uma pequena loja com 50 rótulos no mínimo tem de 20 a 30 estilos para agradar o máximo dos seus clientes", contabiliza o sommelier da Polialimentos.

A Ecobier também investe na proximidade com o supermercadista para a venda de seu chope, e hoje está presente em grandes redes, como a Jaú Serve, Mambo, Bergamini, Coop, Violeta, Bergamini, Andorinha, entre outras. "Apostamos na diferenciação, e o chope que tradicionalmente é comercializado em barris, no nosso caso, pode ser encontrado em latas e garrafas, com total acessibilidade", explica Cruz. "O varejista está cansado de sempre oferecer mais do mesmo, por isso, buscamos oferecer diferenciais", diz.

Para o sócio proprietário do mercado Paraná, em Jacarezinho (PR), Ivan Dognani, o mercado de cervejas artesanais tem despertado a curiosidade dos consumidores, que estão cada vez mais receptíveis a experimentações. "Poucos clientes compram packs ou mais de cinco unidades, mas a aceitação é visível e crescente, sendo que em apenas três meses de venda já registramos um acréscimo no tíquete médio de 15%", comemora. "Apostamos continuamente em novidades, assim como nas cervejas regionais, como a Dona Onça. O cliente conhece em eventos promovidos pela marca, gosta e pede, e nós, como varejistas, não podemos deixar faltar", explica. "Em outros casos, também pode se antecipar a essa demanda, como estamos fazendo, acrescentando novos rótulos periodicamente", conclui.

O CEO da On Trade Importadora, Gustavo Sanches, sugere que os varejistas apostem em educação, experimentação e melhor exposição da categoria, uma vez que ela entrega boas margens e um ótimo nível de serviço ao varejista. "O gerenciamento de categoria é chave no processo, assim como fornecedores que entendam este momento da relação consumidor/varejo e participem do processo", explica.

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falamos no desenvolvimento e na consolidação da categoria. É uma realidade em muitos mercados consumidores pelo mundo e uma tendência sem retorno no Brasil. Assim como importadores e produtores que saíram na frente, os varejistas que abraçarem a categoria também terão vantagem competitiva junto à concorrência e estabelecerão boa imagem junto aos seus consumidores", acredita Sanches.

O diretor-presidente do empório Varanda Frutas & Mercearia, Argeu Camargo Tavares de Souza, que tem em seu mix mais de 70 rótulos de cervejas artesanais, explica que nos últimos três anos houve um crescimento exponencial quanto ao consumo da bebida. "Atraídos pela diversidade de sabores e aromas, os consumidores sempre buscam novidades e estão acostumando seu paladar, por isso adquirem o produto com assiduidade", diz ele, que conta com duas lojas em São Paulo (Cidade Jardim e shopping Vila Olímpia). "Para nós, supermercadistas, o produto traz um ótimo retorno, com crescimento médio no tíquete médio de até 35% ao ano."

O relacionamento do off trade com as microcervejarias está amadurecendo, e muitas redes que antes não tinham, ou tinham poucos exemplares, vêm ampliando o leque de opções de cervejas nacionais. "Nem todas as microcervejarias têm porte para atender a grandes supermercados, não têm conhecimento da negociação e como explorar a oportunidade de estar em uma rede. Hoje, a Dama Bier está nas principais redes de São Paulo, algumas em outros estados, e tentamos ao máximo expor nossos produtos nesse canal, pois é uma grande visibilidade e impulsiona o crescimento da marcar em outros canais", finaliza o diretor da Dama Bier.

A oportunidade para o varejista está exposta. Quem apostar nesse segmento, enquanto ainda ele toma corpo e se define como uma importante categoria, pode levar alguma vantagem competitiva quando o mercado já estiver maduro, como aconteceu com o vinho nos últimos dez anos.

Fonte Página Caderno

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