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III DOS TÍTULOS EXECUTIVOS NA JUSTIÇA DO TRABALHO 1. CONCEITO E REQUISITOS DO TÍTULO EXECUTIVO

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2021

Mauro Schiavi

EXECUÇÃO

no

PROCESSO

do

TRABALHO

13ª edição

Revista, atualizada e ampliada

(2)

III

DOS TÍTULOS EXECUTIVOS

NA JUSTIÇA DO TRABALHO

1. CONCEITO E REQUISITOS DO TÍTULO EXECUTIVO

Segundo Carnelutti, enquanto o processo de conhecimento se contenta com uma pretensão, entendida como vontade de submeter o interesse alheio ao próprio, bem mais exigente o processo executivo que reclama, para sua instauração, uma pretensão conforme o direito. Em outras palavras: o juiz, no processo de execução, necessita de âncora explícita para ordenar atos executivos, e alterar a realidade em certos rumos, do mesmo modo que o construtor de edifícios, sem o respectivo projeto, não saberia como tocar o empreendimento. Como jamais se configurará a certeza absoluta em torno do crédito, a lei sufraga a relativa certeza decorrente de certo documento, que é o título. Faz o título prova legal ou integral do crédito1.

Para Cândido Rangel Dinamarco2, “Título executivo é um ato ou fato

jurídico indicado em lei como portador do efeito de tornar adequada a tutela executiva em relação ao preciso direito a que se refere. Essa conceituação

per-mite visualizar os elementos essenciais ao título executivo e ao seu correto entendimento no sistema, que são (a) a tipicidade dos títulos segundo as leis vigente no país, (b) sua natureza de ato ou fato jurídico, (c) sua eficácia executiva e (d) a necessidade de que o título se referia a uma obrigação per-feitamente definida quanto a seus elementos constitutivos (certeza e liquidez)”.

Sérgio Shimura3, após minucioso estudo, conceitua o título executivo

“como o documento ou ato documentado, tipificados em lei, que contêm uma obrigação líquida e certa e que viabilizam o uso da ação executiva”.

1. ASSIS, Araken de. Manual de execução, p. 143-144.

2. DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 3. ed., p. 207. 3. SHIMURA, Sérgio. Op. cit.,. p. 139.

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De nossa parte, o título executivo é o documento que preenche os requisitos

previstos na lei, contendo uma obrigação a ser cumprida, individualizando as partes devedora e credora da obrigação, com força executiva perante os órgãos jurisdicionais.

Como já destacado, toda execução tem suporte em um título executivo, judicial ou extrajudicial. Não há execução sem título.

O título que embasa a execução deve ter previsão legal, revestir-se das formalidades previstas em lei e possuir a forma documental.

Toda execução pressupõe que o título seja líquido, certo e exigível. Nesse sentido é o disposto no art. 783 do CPC, in verbis:

“A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível.”

O requisito da certeza está no fato de o título não estar sujeito a alteração por recurso (judicial); ou que a lei confere tal qualidade, por revestir o título das formalidades previstas em lei (extrajudicial).

Advertem Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart4, não é

fun-ção do juiz reexaminar discussão conduzida no processo de conhecimento, reapreciando a causa, mesmo porque a coisa julgada o impediria de assim proceder. Todavia, é preciso avaliar se o título oferecido para a execução possui os mais básicos elementos que permitam identificação da existência de uma prestação devida. Esse juízo é provisório, podendo ser revisto diante de impugnação à execução.

Exigível é o título que não está sujeito a condição ou termo. Ou seja, a obrigação consignada no título não está sujeita a evento futuro ou incerto (condição) ou a um evento futuro e certo (termo). Em outras palavras, exigível é o título, cuja obrigação nele retratada não foi cumprida, pelo devedor, na data do seu vencimento.

Como destacam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart5, a

prestação não pode ser exigida sem a ocorrência de alguma outra situação, que confere àquela a necessária eficácia de pretensão. A exigibilidade, portanto, liga-se ao poder, inerente à prestação devida, de se lhe exigir o cumprimento. Trata-se de elemento extraprocessual, mas também assimilado pelo processo, pois sem ele não há o que fazer cumprir.

Líquido é o título que individualiza o objeto da execução (obrigação de entregar), ou da obrigação (fazer ou não fazer), bem como delimita o valor (obrigação de pagar).

4. Curso de processo civil. v. 3. Execução. São Paulo: RT, 2007. p. 121.

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No processo do trabalho, a execução é definitiva em se tratando de execução por título executivo judicial em que há o trânsito em julgado da decisão e para a execução de títulos executivos extrajudiciais, e provisória quando o título executivo judicial estiver pendente de recurso6.

A Consolidação das Leis do Trabalho elenca os títulos com força exe-cutiva no art. 876 da CLT, in verbis:

“As decisões passadas em julgado ou das quais não tenha havido recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os termos de ajustes de conduta firmados perante o Ministério Pú-blico e os termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia serão executados pela forma estabelecida neste Capítulo. Parágrafo único. A Justiça do Trabalho executará, de ofício, as contribuições sociais previstas na alínea “a” do inciso I e no inciso II do caput do art. 195 da Constituição Federal, e seus acréscimos legais, relativas ao objeto da condenação constante das sentenças que proferir e dos acordos que homologar.

O Código de Processo Civil elenca os títulos executivos judiciais no art. 515, que assim dispõe:

“São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: I – as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa; II – a decisão ho-mologatória de autocomposição judicial; III – a decisão hoho-mologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza; IV – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal; V – o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou ho-norários tiverem sido aprovados por decisão judicial; VI – a sentença penal condenatória transitada em julgado; VII – a sentença arbitral; VIII – a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; IX – a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça; X – (VETADO) § 1º Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias. § 2º A autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo.”

6. Nesse sentido é o caput do art. 899 da CLT, in verbis: “Os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito meramente devolutivo, salvo as exceções previstas neste título, permitida a execução provisória até a penhora”.

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Os títulos executivos extrajudiciais têm previsão no art. 784 do CPC, que assim dispõe:

“São títulos executivos extrajudiciais: I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; III – o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas; IV – o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal; V – o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução; VI – o contrato de seguro de vida em caso de morte; VII – o crédito decorrente de foro e laudêmio; VIII – o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; IX – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; X – o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraor-dinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas; XI – a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei; XII – todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. § 1º A propositura de qualquer ação relativa a débito constante de título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução. § 2º Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país estrangeiro não dependem de homologação para serem executados. § 3º O título estrangeiro só terá eficácia executiva quando satisfeitos os requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua celebração e quando o Brasil for indicado como o lugar de cumprimento da obrigação.”

A doutrina sempre relutou em admitir outros títulos com força execu-tiva na esfera trabalhista que não os mencionados no referido art. 876 da CLT, quais sejam: sentenças transitadas em julgado; sentenças pendentes de

recurso, recebido apenas no efeito devolutivo; acordos homologados pela Justiça do Trabalho e não cumpridos; termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho e termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia, asseverando que o rol nele previsto é taxativo.

Diante da dilatação da competência da Justiça do Trabalho dada pela Emenda Constitucional n. 45/04, há discussões na doutrina sobre a possibi-lidade de execução de outros títulos executivos que não estão previstos na

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Consolidação das Leis do Trabalho, mas, sim, no Código de Processo Civil e na Lei n. 6.830/90.

No atual estágio da competência material da Justiça do Trabalho, da possibilidade de aplicação subsidiária do CPC, e da Lei 13.467/17 (Reforma Trabalhista), há possibilidade de aplicabilidade de outros quatro títulos exe-cutivos na Justiça do Trabalho não previstos na CLT. São eles: a) a certidão de inscrição na dívida ativa da União referentes às penalidades administra-tivas impostas ao empregador pelos órgãos de fiscalização do trabalho (art. 114, VII, da CF, com a redação dada pela EC n. 45/04); b) sentença penal condenatória que atribui responsabilidade penal ao empregador, transitada em julgado; c) termo de homologação de acordo extrajudicial (arts. 855-B a 855-E, da CLT); e d) sentença arbitral (art. 507-A, da CLT).

2. TÍTULOS EXECUTIVOS JUDICIAIS PREVISTOS NA CLT

Os títulos executivos judiciais são os produzidos pela Justiça do Trabalho após a fase de conhecimento. São eles: sentença trabalhista transitada em julgado; sentença trabalhista, pendente de julgamento de recurso recebido apenas no efeito devolutivo; e acordos homologados pela Justiça do Trabalho. 2.1. Sentença trabalhista transitada em julgado

A palavra sentença vem do latim sentire, que significa sentimento. Por isso, podemos dizer que a sentença é o sentimento do juiz sobre o processo. É a prin-cipal peça da relação jurídica processual, na qual o juiz decidirá se acolhe ou não a pretensão posta em juízo, ou se extinguirá o processo sem resolução do mérito.

Na perspectiva moderna, a sentença é o ato judicial por meio do qual se opera o comando abstrato da lei às situações concretas, que se realiza mediante uma atividade cognitiva, intelectiva e lógica do juiz, como agente da jurisdição7.

A sentença não é só um ato de inteligência do juiz, mas também um ato de vontade, no sentido de submeter a pretensão posta em juízo à vonta-de da lei ou do orvonta-denamento jurídico, e também vonta-de submeter as partes ao comando sentencial. Além disso, a sentença também é um ato de justiça, em que o juiz, além de valorar os fatos e subsumi-los à lei, fará a interpretação do ordenamento jurídico de forma justa e equânime, atendendo não só aos ditames da justiça no caso concreto, mas ao bem comum (art. 5º da LINDB).

7. NORONHA, Carlos Silveira. Sentença civil – perfil histórico-dogmático. São Paulo: RT, 1995. p. 279.

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Portanto, a natureza jurídica da sentença é de um ato complexo, sendo um misto de ato de inteligência do juiz, de aplicação da vontade da lei ao caso concreto, e, acima de tudo, um ato de justiça. Como bem adverte José

Augusto Rodrigues Pinto8, a sentença é um ato de “consciência” que estabelece

o “elo entre o jurídico e o justo”9.

A Consolidação das Leis do Trabalho não define o conceito de senten-ça. Desse modo, resta aplicável ao processo do trabalho (art. 769 da CLT) a definição de sentença prevista no art. 203 do Código de Processo Civil.

O CPC de 1973, no art. 162, parágrafo primeiro, fixava o conceito de sentença como sendo o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo decidindo ou não o mérito da causa.

Posteriormente, a Lei n. 11.232/05 alterou o conceito de sentença, pois extinguiu o processo de execução para título executivo judicial e estabeleceu a fase de cumprimento de sentença, consagrando o chamado sincretismo pro-cessual. Desse modo, para a execução de sentença, não há mais um processo autônomo e burocrático de execução, mas sim uma fase de cumprimento da sentença. Sendo assim, a sentença não extingue mais o processo, mas, sim, o seu cumprimento.

Atualmente, dispõe o § 1º do art. 203 do CPC:

“Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com funda-mento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedifunda-mento comum, bem como extingue a execução.”

O Código de Processo Civil atual deixa explícito o conceito de sentença em harmonia com o sincretismo processual e a sistemática da novel codifi-cação. O conceito de sentença atual, ao contrário do CPC de 73 que fixava o conceito pela finalidade do ato, e da Lei n. 11.232/05 que dispunha o conceito em razão de seu conteúdo, agora, considera, corretamente, tanto o conteúdo do ato, ou seja, a decisão deve ter por fundamento uma das hipóteses dos arts. 485 ou 487, do CPC, e também sua finalidade, qual seja: pôr fim à fase cognitiva do procedimento comum, ou extinguir a execução.

8. RODRIGUES PINTO, José Augusto. Processo trabalhista de conhecimento. 7. ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 554.

9. Como ensina Tércio Sampaio Ferraz Jr.: “A justiça enquanto código doador de sentido ao direito é um princípio regulativo do direito, mas não constitutivo (...) o direito é uma or-ganização de relações de poder. Seu princípio constitutivo é a impositividade autoritária. Todavia, seu princípio regulativo, que lhe confere sentido, é a justiça” (Introdução ao estudo

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O conceito de sentença fixado no § 1º do art. 203 do CPC aplica-se ao processo do trabalho, por força dos arts. 15 do CPC e 769 da CLT, uma vez que compatível com o sistema do processo do trabalho, na qual a execução, em se tratando de título executivo judicial, é mais uma fase do processo, e não um processo autônomo.

Para ter força executiva plena, a sentença tem de estar revestida pela qualidade da coisa julgada material.

Em razão de ser escopo da jurisdição solucionar o conflito de forma definitiva, dizendo o direito diante de um caso concreto, ganha destaque o instituto da coisa julgada que busca tornar imutável a decisão, a fim de que seu cumprimento possa ser imposto pelo Estado, dando a cada um o que é seu por direito.

Sem o efeito da coisa julgada, seria impossível o término da relação processual. Desse modo, segundo a doutrina, a coisa julgada é a preclusão máxima do processo, pois, quando atingida, a decisão se torna imutável.

Diante da importância da coisa julgada, não só para as partes do proces-so mas, também, para a proces-sociedade, a Constituição Federal, no art. 5º, inciproces-so XXXVI, disciplina a proteção da coisa julgada, como direito fundamental, constituindo cláusula pétrea constitucional e, também, uma garantia da ci-dadania (art. 60, § 4º, da CF). Dispõe o referido dispositivo constitucional:

A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

Dispõe o art. 502 do CPC:

“Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.”

Diante do referido dispositivo legal, a coisa julgada material é a auto-ridade que torna imutável a decisão de mérito, dentro da mesma relação jurídico-processual, em razão de já se terem escoado os recursos, ou, ainda que não estão esgotados todos os recursos, eles já não serem possíveis em razão de a parte que pretendia a reforma da decisão não os ter interposto ou eles não terem sido recebidos.

Da definição que adotamos, extraímos as seguintes características: a) a coisa julgada é a autoridade da decisão;

b) a coisa julgada torna imutável a decisão dentro da mesma relação jurídico-processual. No prazo de dois anos, a sentença de mérito pode ser rescindida, desde que presentes as hipóteses legais (art. 966 do CPC);

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c) não há necessidade de se esgotarem todos os recursos, basta que eles não sejam mais possíveis;

d) havendo a coisa julgada material, os efeitos da coisa julgada se projetam para fora da relação jurídico-processual, pois obrigam as partes ao que foi decidido na sentença. Caso haja apenas a coisa julgada formal, os efeitos da decisão somente produzirão efeitos dentro da relação jurídico-processual, pois a decisão não poderá mais ser objeto de recursos.

2.2. Sentença trabalhista pendente de julgamento de recurso recebido apenas no efeito devolutivo

O título executivo judicial por excelência é a sentença condenatória tran-sitada em julgado, que traz consigo a certeza e a exigibilidade. Não obstante, se a sentença não estiver liquidada, haverá a fase preliminar de liquidação, conforme destacado no capítulo anterior. A sentença ainda pendente de recur-so, recebido apenas no efeito devolutivo, pode ser executada provisoriamente, nos termos do art. 899, “caput” da CLT, que assim dispõe:

“Os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito me-ramente devolutivo, salvo as exceções previstas neste Título, permitida a execução provisória até a penhora.”

2.2.1. A sentença trabalhista e a hipoteca judiciária

O cumprimento das sentenças trabalhistas e a efetiva entrega do bem da vida ao credor, a quem pertence por direito, têm sido uma preocupação constante de todos que militam na Justiça do Trabalho, pois há sempre o temor do chamado “ganha, mas não leva”, frustrando todo o esforço judicial para reconhecer o direito.

Em nosso país, onde a litigiosidade é intensa e a estrutura do Poder Judiciário propicia ao jurisdicionado diversas instâncias recursais, a cada dia a sentença de primeiro vai perdendo prestígio, principalmente para os litigantes de maior poder econômico. Por isso, muitos chegam a afirmar que o 1º grau de jurisdição é apenas um “rito de passagem” do processo. Com isso, há significativa dilatação no curso do processo, gasto excessivo de direito público e falta de credibilidade e efetividade das sentenças de primeiro grau. Como bem adverte Rodolfo de Camargo Mancuso10, “essa crise de

efetivi-dade dos comandos condenatórios ou prestacionais, além de ser muito grave

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em si mesma – na medida em que a Constituição Federal erige a eficiência dentre os princípios retores do setor público (art. 37, caput) – ainda projeta inquietantes externalidades negativas: desprestigia a função judicial do Estado, na medida em que não oferece aos jurisdicionados a devida contrapartida por haver criminalizado a justiça de mão própria (CP, art. 345); desestimula o acesso à Justiça dos que têm os seus direitos injustamente resistidos ou contrariados; penaliza aqueles que, embora tendo obtido o reconhecimento judicial de suas posições de vantagem, todavia não conseguem usufruí-las concretamente, antes as postergações e resistências consentidas na fase ju-rissatisfativa; fomenta a hostilidade entre os contraditores, ante a dilação excessiva das lides; exacerba a contenciosidade social, ao insuflar os bolsões de frustração e de insatisfação ao interno da coletividade”.

Nesse cenário desfavorável em que vive o primeiro grau de jurisdição, destaca-se, favoravelmente, o instituto da hipoteca judiciária, que visa a pres-tigiar a autoridade das decisões de primeiro grau de jurisdição e potencializar o adimplemento do crédito trabalhista.

O adequado uso da hipoteca judiciária propicia: a) maior celeridade no procedimento executivo; b) prevenção de fraudes por parte do devedor; c) maior prestígio das decisões de primeiro grau.

Trata-se a hipoteca de uma garantia real que grava bens imóveis. O credor hipotecário terá preferência sobre os demais credores do bem imóvel e poderá exigir a execução da hipoteca caso o valor da dívida não seja pago.

Especificamente com relação ao tema ora abordado, nos ensina Maria

Helena Diniz11, “a hipoteca judicial é originária da França. Planiol e Ripert a

definem como sendo a hipoteca geral que a lei empresta a todo julgamento que condena um devedor a executar uma obrigação”.

Como bem adverte Pontes de Miranda12, “a hipoteca judiciária é plus

– cria vínculo real, de modo que, na execução imediata ou mediata, está o vencedor munido de direito de sequela, que não tinha. Daí resulta que os bens gravados por ela podem ser executados como se a dívida fosse de coisa certa, ainda se em poder de terceiro, que os haja adquirido sem fraude de execução. Não há boa-fé em tal aquisição, porque a hipoteca judiciária opera como qualquer outra hipoteca. Nada tem tal direito com o de se buscar à execução do bem alienado em fraude de execução: a hipoteca judiciária grava o bem desde que se registrou e independe de já haver execução, que se frau-de; a fraude à execução supõe inscrição e citação em ação ou reipersecutória

11. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. v 4. Direito das coisas. 18. ed. São Paulo: LTr, 2002. p. 500.

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ou execução singular ou coletiva. Tampouco havemos de confundi-la com a alienção relativamente ineficaz em caso de medida constitutiva cautela (arresto e sequestro de imóveis, ou de móveis)”.

No ordenamento jurídico processual, a hipoteca judiciária está discipli-nada no art. 495 do CPC, que assim dispõe:

“A decisão que condenar o réu ao pagamento de prestação consistente em dinheiro e a que determinar a conversão de prestação de fazer, de não fazer ou de dar coisa em prestação pecuniária valerão como título constitutivo de hipoteca judiciária. § 1º A decisão produz a hipoteca judiciária: I – embora a condenação seja genérica; II – ainda que o credor possa promover o cumprimento provisório da sentença ou esteja pendente arresto sobre bem do devedor; III – mesmo que impugnada por recurso dotado de efeito suspensivo. § 2º A hipoteca judiciária poderá ser realizada mediante apresentação de cópia da sentença perante o cartório de registro imobiliário, independentemente de ordem judicial, de declaração expressa do juiz ou de demonstra-ção de urgência. § 3º No prazo de até 15 (quinze) dias da data de realização da hipoteca, a parte informá-la-á ao juízo da causa, que determinará a intimação da outra parte para que tome ciência do ato. § 4º A hipoteca judiciária, uma vez constituída, implicará, para o credor hipotecário, o direito de preferência, quanto ao pagamento, em relação a outros credores, observada a prioridade no registro. § 5º Sobrevindo a reforma ou a invalidação da decisão que impôs o pagamento de quantia, a parte responderá, independentemente de culpa, pelos danos que a outra parte tiver sofrido em razão da cons-tituição da garantia, devendo o valor da indenização ser liquidado e executado nos próprios autos.”

Segundo já sedimentado em doutrina, o presente dispositivo legal dispõe como efeito reflexo, ou secundário da sentença condenatória em dinheiro ou em entrega de coisa, a hipoteca judiciária. Desse modo, o juiz, de ofício, ou a requerimento da parte, pode determinar a averbação dessa garantia em bens imóveis do devedor para futura execução, nos termos da Lei de Registros Públicos.

Diante do CPC de 2015, as decisões que comportam a prática de atos executivos, ainda que interlocutórias, podem fundamentar a hipoteca judi-ciária, como ocorre na decisão interlocutória que antecipa os efeitos da tutela antes da sentença, determinando que o reclamado pague as verbas rescisórias pretendidas na inicial13.

13. Nesse sentido defende Élisson Miessa: O Novo Código de Processo Civil e seus Reflexos no

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Em verdade, a hipoteca judiciária independe de registro, mas esta é con-dição de eficácia perante terceiros e prevenção de fraudes. Vale dizer: os bens do devedor, incluídos os imóveis, a partir da propositura da ação e de forma mais incisiva com a sentença, constituem garantia para cumprimento da deci-são, ficando vinculados ao processo, evitando que o devedor deles se desfaça. A averbação da hipoteca judiciária na matrícula do imóvel, indiscutivel-mente, gera um efeito ativo da publicidade do processo (art. 93, IX, da CF), propiciando que terceiros conheçam a existência do processo e da sentença condenatória já proferida, evitando e prevenindo a fraude de execução, mas, também, reforçando a obrigação do devedor de cumprir a obrigação.

Conforme o § 4º, do art. 495, do CPC, a hipoteca judiciária, uma vez constituída, implicará, para o credor hipotecário, o direito de preferência, quanto ao pagamento, em relação a outros credores, observada a prioridade no registro.

Trata-se de inovação do CPC, pois o entendimento majoritário à luz do CPC/73 era de que a hipoteca judiciária não gerava preferência ao credor, o que somente era possível quando houvesse efetiva penhora.

De nossa parte, a hipoteca judiciária não é apenas um efeito secundário, reflexo, ou anexo da sentença, mas sim um efeito ativo desta, autorizando o magistrado a determinar um gravame em bens imóveis do devedor, com os seguintes objetivos:

a) prestigiar a autoridade da sentença de primeiro grau: com a hipoteca judiciária, o devedor já começa a ser importunado pela sentença, o que, via de regra, somente acontece com a penhora;

b) prevenir fraudes por parte do devedor: com o registro da hipoteca, há publicidade ampla do processo e da sentença, evitando e preve-nindo fraude;

c) gerar o direito de sequela: a hipoteca judiciária não impede a alienação do bem, entretanto, há o direito de sequela por parte do vencedor da sentença, uma vez que a hipoteca continua gravando o bem havendo mudança em sua propriedade;

d) abreviar o curso da execução: com a hipoteca o bem imóvel já fica vinculado ao processo, evitando todas as vicissitudes que enfrenta o credor trabalhista para encontrar bens do devedor. Entretanto, na execução trabalhista, podem ser penhorados outros bens de maior liquidez, segundo a ordem preferencial do art. 835 do CPC (art. 882 da CLT).

A hipoteca judiciária pode ser determinada de ofício pelo magistrado, independentemente de qualquer outro elemento, e também de outras garantias

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que possam assegurar o cumprimento da decisão como o arresto de bens e execução provisória.

No aspecto, destacamos a seguinte ementa:

HIPOTECA JUDICIÁRIA. Art. 495 do CPC. Aplicabilidade ao pro-cesso do trabalho e concessão de ofício. Súmula Regional n. 32. A hipoteca judiciária é uma consequência lógica da decisão condenató-ria. Por se tratar de imposição legal, prescinde até mesmo de pedido ou requerimento da parte interessada, consistindo um poder-dever do julgador determinar sua efetivação, muito embora seu uso não seja uma constante nesta Justiça Especializada. Em razão da lacuna na CLT, ao não prever nenhuma forma de garantia integral da con-denação antes do seu trânsito em julgado e da sua compatibilidade com os princípios do processo trabalhista, o instituto comporta sua aplicação nesta seara laboral, consoante art. 769 da CLT. Recurso ordinário interposto pela reclamada ao qual se nega provimento no particular. (TRT/SP – 00020536320145020201 – RO – Ac. 13ª T. – 20170537581 – Relª. Cíntia Táffari – DOE 6.9.2017)

Não obstante, há julgados exigindo contraditório prévio do devedor para a constituição da hipoteca judiciária, ou até mesmo indícios de insolvência do devedor.

De nossa parte, embora o magistrado sempre deva aplicar o instituto da hipoteca judiciária com ponderação, razoabilidade e justiça, aquela independe do mau comportamento do devedor no processo, de sua insolvência ou de contraditório prévio, pois se trata de um efeito natural e ativo da sentença. Não obstante, conforme o caso concreto, o magistrado pode não determinar a hipoteca judiciária em vista de outras garantias de cumprimento da decisão, ou até mesmo limitar esta a um bem determinado do devedor.

A Consolidação das Leis do Trabalho não dispõe sobre o instituto da hipoteca judiciária, não obstante esta se mostre compatível e recomendável no processo trabalhista pelos seguintes argumentos:

a) omissão da lei processual trabalhista e compatibilidade com o sistema e princípios do processo trabalhista (art. 769 da CLT); b) efeito ativo da sentença trabalhista e providências que o Juiz do

Trabalho pode determinar para assegurar o cumprimento efetivo e tempestivo da decisão, nos termos do art. 832, § 1º, da CLT, que assim dispõe: “Quando a decisão concluir pela procedência do pe-dido, determinará o prazo e as condições para o seu cumprimento”; c) efetividade do princípio da publicidade do processo, previsto

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No mesmo sentido destacamos o Enunciado n. 72 da 1º Fórum Nacional de Processo do Trabalho, in verbis:

CLT, ART. 642-A; NCPC, ARTS. 495, 517 E 782, § 3º. PROTESTO DE DECISÃO JUDICIAL, INCLUSÃO DO NOME DO EXECU-TADO TRABALHISTA EM CADASTRO DE INADIMPLENTES E HIPOTECA JUDICIÁRIA. VIABILIDADE. Sem prejuízo da inclusão dos devedores no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas (CLT, art. 642-A), são aplicáveis à execução trabalhista os arts. 495, 517 e 782, § 3º, do NCPC, que tratam da hipoteca judiciária, do protesto de decisão judicial e da inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes (SPC, SERASA, CADIN etc.).

Na mesma direção, o art. 17, da IN n. 39/16 do Tribunal Superior do Trabalho, in verbis:

“Sem prejuízo da inclusão do devedor no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas (CLT, art. 642-A), aplicam-se à execução trabalhista as normas dos arts. 495, 517 e 782, §§ 3º, 4º e 5º do CPC, que tratam respectivamente da hipoteca judiciária, do protesto de decisão judicial e da inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes.”

Na doutrina processual trabalhista e também na jurisprudência dos Tribunais Trabalhistas, praticamente, não há divergências quanto à compati-bilidade do instituto da hipoteca judiciária com o processo do trabalho nos termos do art. 769 da CLT.

Com o registro da hipoteca judiciária, evita-se e se previne a fraude de execução, pois há presunção absoluta de que quem adquiriu o imóvel com a hipoteca sabia do gravame e, tacitamente, aceitou essa condição ao adquiri-lo.

Como bem adverte Bem-Hur Silveira Claus14:

“Feito o registro da hipoteca judiciária, o terceiro adquirente já não mais poderá alegar a condição de adquirente de boa-fé, pois tinha acesso à informação da existência de ação judicial contra a empresa alienante (a futura executada), situação em que o terceiro adquirente passa a ser considerado adquirente de má-fé. Em outras palavras, o registro da hipoteca judiciária esvazia a alegação de ter o terceiro adquirido o imóvel de boa-fé e atua para fazer caracterizar fraude à execução no negócio celebrado entre a empresa reclamada e o terceiro adquirente.”

14. Hipoteca judiciária: a redescoberta do Instituto diante da Súmula n. 375 do STJ – Execução efetiva e atualidade da hipoteca judiciária. In: ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de; TEIXEIRA, Érica Fernandes (Coords.). Novidades em direito e processo do trabalho. São Paulo: LTr, 2013. p. 448.

(15)

2.3. Acordos homologados pela Justiça do Trabalho

Os acordos homologados pela Justiça do Trabalho adquirem força exe-cutiva, pois, no ato da homologação, configura-se o trânsito em julgado, nos termos do parágrafo único do art. 831 da CLT, in verbis:

No caso de conciliação, o termo que for lavrado valerá como decisão irrecorrível, salvo para a Previdência Social quanto às contribuições que lhe forem devidas.

No processo do trabalho, acertadamente, a jurisprudência posicionou-se no sentido de que o termo de homologação da conciliação somente pode ser atacável pela ação rescisória, independentemente de tratar-se de conciliação ou transação15, considerando-se que, faticamente, é praticamente impossível se

investigar se a decisão que homologa o acordo foi simplesmente homologatória ou se o Juiz do Trabalho investigou o mérito da questão. Vale destacar que o art. 487, III, b, do CPC assevera que haverá resolução de mérito quando o juiz homologar transação.

Nesse sentido também é a Súmula n. 259 do C. TST:

TERMO DE CONCILIAÇÃO. AÇÃO RESCISÓRIA – Só por ação rescisória é impugnável o termo de conciliação previsto no parágrafo único do art. 831 da CLT. (Res. 7/1986, DJ 31.10.1986)

3. TÍTULOS EXECUTIVOS EXTRAJUDICIAIS TRABALHISTAS Os títulos executivos extrajudiciais não são produzidos pela justiça, mas pelas pessoas que fixam determinadas obrigações em documentos que a lei atribuiu força executiva.

Durante longos anos a CLT não disciplinava a competência da Justiça do Trabalho para a execução de títulos executivos extrajudiciais. Isso somente ocorreu com o advento da Lei n. 9.958/2000.

São títulos executivos extrajudiciais na Justiça do Trabalho:

3.1. Os termos de ajustes de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho

O termo de ajuste de conduta, a que se refere o art. 876 da CLT, consiste num instrumento por meio do qual o Ministério Público do Trabalho e a pessoa, normalmente uma empresa, que está descumprindo direitos metaindividuais

15. Conforme a doutrina, a transação é o acordo firmado pelas próprias partes e a conciliação é o acordo firmado com a intervenção ativa do juiz.

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