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Morfologia nominal: adaptação dos empréstimos do inglês, francês e português em lè-mbáámá

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Academic year: 2021

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(1)Morfologia nominal: adaptação dos empréstimos do inglês, francês e português em lè-mbáámá Bruno Okoudowa (Doutorando; FFLCH/USP; Línguas africanas) Orientador: Profa. Dra. Margarida Maria T. Petter. 0. Introdução Este trabalho, parte do meu projeto de doutorado – descrição gramatical do lè-mbáámá, tem por objetivo estudar a adaptação dos nomes emprestados do francês, inglês e português no esquema das classes nominais do lembaama. Lé-mbáámá é uma língua banta do grupo B62 conforme a classificação do Guthrie de 1948, pertence ao grupo Benue-Congo da grande família Níger-Congo. A língua lé-mbáámá aqui descrita é aquela que é falada no sudeste do Gabão, na província do Haut-Ogooué. Os falantes nativos desta língua denominam-se à-mbáámá (plural) ou ò-mbáámá (singular). Lembaama, como muitas outras línguas do grupo banto, tem um sistema de dois tons: um tom baixo [`] e um tom alto [´]. O corpus deste trabalho baseia-se na elaboração pelo autor, como falante nativo do lè-mbáámá, de uma lista de palavras emprestadas. A metodologia que vamos usar neste trabalho é a contrastiva: vamos comparar as formas singular e plural dos substantivos emprestados. Esta comparação vai revelar os prefixos de classse adquiridos pelos substantivos emprestados e as adaptações fonológicas sofridas pelos termos emprestados. Antes desse estudo faremos um breve histórico do contato entre o Gabão e a Europa. 1. Breve histórico do contato entre o Gabão e a Europa. Os primeiros europeus a chegarem ao Gabão foram os portugueses, no século XV. Aliás no Gabão ensina-se nas escolas que a palavras “Gabon”, teria vindo do português “gibão” (vestidura antiga, que cobria os homens desde o pescoço até a cintura) pela semelhança que há entre o mapa do gabão e essa vestimenta. Hipótese contestada com razão por Mouguiama-Daouda (2005). Para ele, os portugueses não podiam dar nome a algo que não existia na época. A partir do século XIX, o Gabão se torna colônia francesa e integra assim a África Equatorial Francesa (AEF) que tinha como capital, Brazzaville, atual capital do Congo. É só no dia 17 de agosto de 1960 que o Gabão adquire a sua independência. É bom lembrar que antes de o Gabão se tornar colônia francesa, vários povos da costa do Gabão praticavam intensas atividades comerciais com marinheiros europeus ( portugueses, ingleses, franceses, espanhóis etc) e com outros povos africanos. Portanto o contato entre os europeus e os africanos explica a chegada de um léxico europeu nas línguas bantas do Gabão.. 1.

(2) 2. Empréstimos1 e suas origens 2.1. Quadro1 : substantivos emprestados do português Português Singular cavalo copo prata. Plural cavalos copos pratas. kabla kb mpara. Lembaama Singular Plural akabla akb ampara. tradução. dinheiro. 2.2. Quadro 2: substantivos emprestados do inglês Inglês Singular dollar internet lemon plate rice. Lembaama Plural. Singular. dollars. dr. Lemons plates. omoni opl oresi. tradução Plural. adr entrineti emoni epl eresi. dinheiro internete limão prato arroz. 2.3. Quadro 3: substantivos emprestados do francês2 Francês. Lembaama Singular. Singular. tradução Plural. Plural Angélique Bertrand Bruno Gervais Jules l’allumette l’automobile ‘l’auto’ l’avocat le ballon (jeu) le café. les allumettes les automobiles les avocats les ballons les cafés. andeliik  i peet  ra brano  breno ndriv  ndrv ndiil  i lemr   am  r   lutu alutu ovuka mbulu kafu. evuka ambulu akafu. fósforo automóvel abacate bola de um jogo café. 1. Foram selecionados para este estudo os mais conhecidos e mais usados Língua oficial do Gabão e base da maior parte dos empréstimos do lembaama. Não temos o número exato desses empréstimos. Não é a nossa preocupação neste trabalho. Damos aqui apenas uma amostra que prova a existência deles. Também escolhemos os mais usados. 2. 2.

(3) le camion le ciment le commandant le coup de poing la craie la croix la dame (jeu) le docteur l’école la famille la fête le franc la France le Gabon l’heure l’hôpital l’impôt l’indépendance. les camions les ciments les commandants les coups de poing les craies les croix les dames les docteurs les écoles les familles les fêtes les francs. les heures les hôpitaux les impôts les indépendances l’infirmier les infirmiers l’instituteur (le les instituteurs maître d’école (les maîtres primaire) d’école primaire) la jupe les jupes le kilo les kilos la lampe les lampes Libreville la machine le magasin la maman la mandarine la mangue la médaille midi la moustiquaire. les machines les magasins les mamans les mandarines les mangues les médailles les moustiquaires. camião cimento comandante. kamio lesima komanda. akamio ansima akomanda. kutupa. akutupa. lekr lekrwa daam  i dkitr   lekool  i lefami feet  i fra faal  a leabu lr   opitaal  i lep lepanda. akr akrwa adaam  i adkitr   akool  i amfami afeet  i afra. omfrm mtr. emfrm amtr. enfermeiro professor de escola (ensino fundamental). ndiip  i kil lampi abulebreviil  i libreviil  i lesiin  i. andiip  i akil alampi. saia quilo (quilograma) lâmpada Libreville (capital do Gabão). asiin  i aasi amama bamama emandariin  i. máquina loja mamãe ~mãe tangerina~mexirica. mama omandariin  i. alr   epitaal  i amp. omau emau odaaj  i edaaj  i midi  miri osikr    osikeer  i esikr    esikeer  i. murro giz cruzes Dama (jogo) doutor escola família festa franco França , Europa Gabão horas hospital imposto independência. manga medalha meio-dia mosquiteiro 3.

(4) la musique les musiques ondiik  i l’opération les opérations opr (chirurgicale) le Poisson salé les Poissons leposisali salés. endiik  i epr. música operação cirúrgica. aposisali  amposisali. bacalhau. papa les papas la pompe les pompes le prêtre ~ le les prêtres~les pères père le savon les savons le seau les seaux la soupe les soupes le stylo (bic) les stylos la tôle les tôles. papa pompi ompr  . apapa bapapa apompi empr  . Papai ~ pai bomba (máquina) padre. tabu lesu osupa biik  i letool  i. atabu ansu esupa abiik  i antool  i. sabão balde sopa canetas (bic) telha. 3. A noção de classes nominais No seu trabalho “o destino de palavras de origem portuguesa num dialeto quicongo”, W. Bal (1979:45) explica a noção de classe nominal da seguinte maneira: << Sabe-se que as línguas bantas têm classes de concordância; isto é: (a) que no sistema morfológico, determinados prefixos (ditos “nominais”) se associam regularmente por pares que opõem singular e plural dos substantivos; (b) que na oração, determinados prefixos (muitas vezes idênticos aos nominais) ocorrem em outros elementos dependentes do substantivo.>>. Esses elementos dependentes do substantivo são: 1- o prefixo nominal (PN) que marca o substantivo; 2- o conectivo (CON) que representa o genitivo; 3- o prefixo do adjetivo (PA) que marca o adjetivo; 4- o Índice sujeito (IS) ou o prefixo verbal (PV) que marca o sujeito do verbo. 5- o Índice objeto (IO) que marca o complemento do verbo. Apresentamos abaixo, as classes nominais dos empréstimos do lembaama. Esses empréstimos retomam 8 das 12 classes nominais dessa língua.. 4.

(5) 3.1. Quadro 4 - classes nominais dos empréstimos: Cl.3 PN 1 ∅− sg. CON PA a o−. 2 pl. a−. a. ma− a. 3 sg. o−. a. o−. 4 pl. e−. e. me− e. 7 sg. ∅−. e. e−. 8 pl. a−. a. ma− a. 9 sg. le− le. le− le. 12 sg. o−. e−  t. . IS o. o. e. Ref.4 Exemplos Nomes de pessoas, ∅−dr ‘dinheiro’ (ingl5. dollar.) animais e objetos breno ‘Bruno’ (fr6. Bruno)(inv.) b a−dr dinheiro! a−asi loja! f " r. maasini " nv. nd Nomes de objetos o−pitaal  i ‘hospital’ (fr. hôpital) e plantas o−mfrme ‘enfermeiro’(fr.infirmier) d e−pitaal  i ‘hospitais’ e−mfrme ‘enfermeiros’ e−pl ‘pratos’ (ingl. plate) e−moni ‘limões’ (ingl. lemon) Nomes de objetos ∅−kb ‘copo’ (port7. copo) j ∅−feet  i ‘festa’ (fr. fête) m a−kb ‘copos’ a−feet  i ‘festas’ a−kool  i ‘escolas’ a−mfami ‘famílias’ l le−  kool  i escola’ (fr. école) le−  fami ‘família’ (fr. Famille) IO nd. Nomes de objetos o−pl e plantas o−moni. ‘prato’ (ingl. plate) ‘limão’ (ingl. lemon). Lê-se o quadro acima em dois eixos: o eixo vertical é paradigmático. Ele serve para distinguir os classificadores segundo o tipo de unidades com as quais eles se juntam na formação de um substantivo e de uma frase. O eixo horizontal é sintagmático. Ele serve para distinguir os diferentes elementos de uma expressão ou de uma frase. As colunas mostram os classificadores segundo sua relação na composição dos substantivos e da frase, ou seja, segundo sua concordância sintática. Só a consideração desses dois eixos permite a identificação de um morfema. Por exemplo, apesar da sua semelhança formal, os prefixos das classes 2 e 8 se encontram em duas classes distintas, já que cada um deles estabelece concordância (no nível sintagmático) diferente, manifestada por índices e prefixos distintos para cada classe. 3.2. Exemplificação do quadro 4. 3. Abreviações: Cl: classe IO: índice objeto 4 Referência 5 Inglês 6 Francês 7 Português. PN: Prefixo nominal Con: Conectivo. PA: Prefixo do adjetivo Sg: singular. IS: índice sujeito Pl: Plural. 5.

(6) Para entendermos o quadro acima, vamos comentar apenas as duas primeiras classes nominais escolhendo apenas um exemplo por classe. Na transcrição dos exemplos, daremos na primeira linha, o enunciado em lembaama; na segunda linha, a segmentação morfológica; na terceira, faremos a descrição gramatical dos elementos do enunciado. A tradução do enunciado em português será dada entre aspas. Classe 1 – Classe dos nomes que denominam pessoas, animais e objetos. Singular da classe 2. dr’amvr’ onin’omiva tlnd “O dinheirão do Mvri caiu. Pegue-o! ” / ∅−dr /a mvri /o− nini /o /mi / va// tl/nd 8 9 / PN−dinheiro/Con-de mvri/PA- grande/IS-ele /Pass /cair//Imp -pegar/IO-o Classe 2 – Plural da classe 1. adr’amvr’& manin’omiva tlb “O dinheirão do Mvri caiu. Pegue-o! ” (pl.) / a−dr / a mvri / ma−nini /a /mi / va// tl /b 10 11 / PN−dinheiro/Con-de mvri/ PA-grandes /IS-eles/Pass /cair// Imp -pegar/IO-os Portanto, para deixar claro os emparelhamento entre as classes, preferimos agrupar as classes dos substantivos emprestados do lembaama em gêneros12. 3.3. A noção de gênero Entendemos por gêneros um conjunto que agrupa duas classes formando uma oposição binária do tipo singular/plural. Por exemplo o gênero I é formado pelas classes 1 e 2. Desse modo, as classes dos empréstimos do lembaama se agrupam em 5 gêneros ou pares. 3.4. Gêneros dos empréstimos do lembaama GÊNERO I GÊNERO II GÊNERO III GÊNERO IV GÊNERO V. Classe 1 e 2 Classe 3 e 4 Classe 7 e 8 Classe 9 e 8 Classe 12 e 4. De fato, a organização em classes e gêneros implica duas realidades distintas, mas concomitantes: por um lado, a existências classificadores como marcas específicas do nominal usado para realizar a plurifuncionalidade; por outro lado, a existências das oposições do tipo binário entre os classificadores. Esses têm também um valor semântico específico. Essas oposições são em geral de número, mas não unicamente. Assim, cada classificador pode ser duplamente definido: seja em termos de “classe” como marcador nominal, seja em termos de “gênero” como participante de uma oposição binária (Bonvini 1988: 121-122 apud Bonvini 1996: 82). Esses 5 gêneros binários incluem nomes que aceitam uma oposição cruzada também, além da oposição singular / plural. Ao lado dos emparelhamentos regulares,. 8. Passado (marca do passado) Imperativo 10 Passado (marca do passado) 11 Imperativo 12 A noção de “gênero” não se refere, aqui, à oposição masculino / feminino. 9. 6.

(7) há um certo número de nomes, cuja oposição de número é lacunar. Trata-se dos nomes que só admitem uma forma (o singular ou o plural). São eles: -nomes de pessoas (singular), peet  ra “Bertrand” (fr.) /∅ ∅−peet  ra/ /PNcl1- Bertrand/ - nomes de objetos ou lugares (plural), aasi “loja” /a−asi/ /PNcl8- loja/ -nomes de paises (singular), faal  a “França ou Europa em geral” /∅ ∅−faal  a/ /PNcl7- França/ 4. Os artigos tornaram-se prefixos? Essa pergunta nos parece fundamental para verificar se houve uma transformação dos artigos dos empréstimos em prefixos de classe em lembaama. Em geral os artigos dos substantivos de origem francesa, portuguesa e inglesa não foi incorporado à palavra do lembaama. É o caso do substantivo português copo (o copo). Ao se tornar kb em lembaama, o artigo o não foi incorporado. A mesma coisa aconteceu com sua forma plural: os copos, nenhuma marca foi incorporada no lembaama. Já que o substantivo tornou-se akb (cl.8) adquirindo assim a marca do plural do lembaama. Porém, há contextos em que o som do artigo permaneceu: a questão é de saber qual e porquê?. Por exemplo na palavra francesa l’auto (automóvel) virando lútú (cl1) em lembaama, incorporou o som do artigo l’. Isso porque foneticamente o som do artigo já está incorporado no francês [loto]. No lembaama, a palavra adquiriu tons e manteve a harmonia vocálica do o que virou u. Ao passar para o plural do lembaama, essa palavra mantem seu artigo singular e acrescenta a marca plural a-: àlútú(cl2). Ou seja quando temos a seguinte formula no plural: a + artigo + raiz. Isso quer dizer que o artigo foi incorporado. Portanto observa-se que boa parte dos substantivos franceses começados pelos artigos l’, le et la foi emprestada no singular e depois o plural foi o resultado de uma adaptação ao sistema nominal da  i(cl9) e tem como plural língua. É o caso do substantivo l’école (escola) que se tornou lekool akool  i (classe 8).. 5. Características gerais dos empréstimos. 7.

(8) Observamos que todos os substantivos emprestados são nomes de pessoas, animais, objetos e plantas. Os empréstimos ocupam 8 classes das 12 que conta o lembaama. A maioria dos empréstimos se encontra na classe 1 e 8, classes que denominam pessoas, animais e objetos. Isso porque o intercâmbio se deu e continua se dando nesses planos. Dessas três línguas consideradas, o francês é a língua com o maior número de empréstimos no lembaama. A razão é simplesmente a colonização do Gabão pela França desde a segunda metade do século XIX até a segunda metade do século XX . Esse fato teve implicações em todos os campos: econômicos , políticos, culturais e lingüísticos. O fato é que o francês sendo a língua oficial do Gabão, é a única língua que se ensina obrigatoriamente nas escolas em todo o território nacional desde a infância. Esse francês está em contato permanente com as línguas do Gabão. Portanto o dinamismo entre as línguas que consiste em dar e tomar palavras emprestadas se comprova entre o lembaama e as línguas européias acima mencionadas. 6. Como explicar a ‘escolha’ das classes pelos substantivos? A ‘escolha’ dessas classes pelos empréstimos pode ser explicado pelos seus campos semânticos na sua maioria: podemos observar no quadro acima que os empréstimos se deram em certos campos (nomes de pessoas, objetos, plantas) e não em outros (substantivos abstratos, partes do corpo). Tudo isso por razões culturais. Há uma lógica simples: só se empresta aquilo que não se tem. Fatos históricos como a colonização, as migrações também contribuíram para a chegada desses empréstimos como mencionamos acima (partes 1 e 2.5): Por exemplo, o cristianismo trouxe boa parte do vocabulário religioso e nomes cristãos; os intercâmbios comerciais trouxeram e continuam trazendo muitos nomes de objetos, serviços, animais, plantas etc, já que os intercâmbios não param. Aliás a tendência é aumentar. Estamos num mundo cada vez mais aberto. Só que vale lembrar que a classificação semântica dos nomes nas línguas bantas não pode ser categórica porque muitos nomes de objetos e plantas se encontram em várias classes. Porém, há unanimidade na classificação de nomes de pessoas. Sempre estão nas classes 1 e 2. 7. ADAPTAÇÃO FONOLÓGICA 7.1. O tom13 Ao se adaptarem ao lembaama, substantivos estrangeiros sem tom adquirem tons. Vale mencionar que a escolha do tom é só previsível nos prefixos nominais que têm geralmente um tom baixo quando transcritos isoladamente. Ou seja fora de uma oração. Exemplos: 1) Copo do português tornou-se kb em lembaama e adquiriu dois tons altos. 2) Maman do francês tornou-se mama em lembaama e adquiriu dois tons altos também. O timbre das vogais nas palavras acima não se manteve ao do português. Sendo uma língua tonal, ao se adaptarem no lembaama as palavras portuguesas adquiriram tons também. No primeiro exemplo, houve uma abertura do o que se manteve pela harmonia vocálica. Nos dois exemplos, as duas sílabas receberam um tom alto. Talvez por que as vogais núcleos das sílabas são as mesmas. 7.2. A nasalização Observamos que quando os nomes da classe 9 passam para o plural (classe 8), a primeira consoante adquire uma nasal se tornando assim uma consoante pré-nasalizada. Lembramos que esses dois 13. O tom é uma unidade prosódica manifestando-se sob a forma de uma altura melódica determinada oposta a outras e afetando a sílaba. As línguas bantas são todas tonais exceto o suaíli e o comorense (Creissels, 1994: 177).. 8.

(9) segmentos são homorgânicos. Essa consoante pré-nasalizada, por sua vez, nasaliza a o prefixo de classe. É o que chamamos de nasalização regressiva (Okoudowa, 2005: 19). Exemplos: 1) le−kool  i “escola” (cl.9) nasaliza-se no plural a− kool  i “escola” (cl.8) 2) le−  fami “família” (cl.9) nasaliza-se no plural a−mfami “família” (cl.8) Para explicar a nasalização acima, aqui estão algumas hipóteses: a) Houve uma dupla marcação do plural; já que em lembaama, boa parte dos substantivos começados por lè- (cl9) têm plural em nasal silábica (N-). Por exemplo: le−kr r ) *+/ −kr r) ãs”. Dessa maneira, pode ser que nos exemplos acima, o plural tenha sido marcado duas vezes levando marcas das classes 8 e 10. Resultando no seguinte esquema: PN (cl8) + N- (cl10) + Raiz . b) Pode ser que na classe 8 o artigo francês (l’) no singular foi sistematicamente substituído pela nasal no plural. Assim temos a regra: Artigo + raiz PN + N + raiz . c) Pode ser que a introdução da nasal seja uma reestruturação silábica que busca a preservação do esquema dissilábico CV CV. Assim teríamos : a-Nkóólì (PN- CV CV). Quanto à vogal longa acima, ela marca a vogal tônica e recebe um tom alto. 7. 3. Desnasalização Lemon (Ingl) > omoni > mama “mamãe”.. “limão”;. Ballon (fr) > mbulu. “bola”; maman (fr). 7. 4. O vocalismo Reparamos que as vogais tônicas recebem um tom alto. As postônicas são geralmente substituídas por tônica em lembaama; talvez por serem átonas. Copo (port) > kb “copo”; plate (Ingl) > opl “prato”; dame (fr) > daam  i “dama” 7. 4. 1. Vogal epentética i : Gervais (fr) > ndriv (nome de pessoa); Docteur (fr) > dkitr “doutor” 7. 4. 2. Vogais paragógicas i : hôpital (fr) , opitaal  i “hospital” : Docteur (fr) > dkitr   “doutor” 7. 4. 3. A harmonia vocálica Observamos que quando os lexemas estrangeiros se adaptam ao lembaama tendem também a harmonizar as vogais meio-abertas e meio-fechadas depois de prefixos como{∅ ∅-} e {a-}, { o- } e {e-}: ∅−dr → a−dr "harmonia vocálica da vogal ). o−pl → e−pl "harmonia vocálica da vogal ). 9.

(10) 7. 4. 4. Alongamento vocálico Observamos os seguintes alongamentos vocálicos nos empréstimos: - Alongamento da vogal meio-aberta . O substantivo francês [ekl]ao se adaptar no lembaama [lekool  i] fechou-se e alongou-se. - Alongamento da vogal a. France [fras](fr) “França” tornou-se faal  a. Podemos afirmar que as vogais que se alongam são sempre as tônicas. Elas adquirem um tom alto por que preservam sua força (tonicidade) em lambaama também. 7. 5. Consonantismo 7. 5. 1. Consoantes prénasalizadas , - Le Gabon (fr) > leabu “Gabão” ; Libreville (fr) > abu “Libreville (capital do Gabão). Pode ser que isso acontece porque g e ng são complementares nesse caso. Sendo assim, g acontece num contexto oral e ng num contexto nasal. Aqui a nasal é homorgânica. Vale lembrar que essa nasal é muito comum nas línguas africanas em geral e bantas em particular. Ela é diferente da nasal silábica (N-) que é sempre prefixo das classes 9 ou 10 dependendo da língua banta e recebe um tom. No lembaama, ela está na classe 10 e tem um tom baixo. Por exemplo: le−  taam  i c " l/,  n−taam  i (cl10) “pés”. 7. 5. 2. Neutralização Observamos que a distinção r/d se neutraliza na seguinte condição: em presença da vogal i, r se transforma em d. Temos midi (fr)> mírí “meio-dia”. Essa neutralização já acontece em dois dialetos do lembaama: lempiini e lemb r . Temos: taar  a (lempiin  i) ~ taad  a " lemb r  ) “pai”. 7. 5. 3. Sonorização p>b : Copo (port) > kb “copo” 7. 5. 4. Ensurdecimento b>p : Bertrand (fr) > peet  ra (nome de pessoa) 7. 5. 5. Casos particulares

(11) >t : savon (fr)> tabu “sabão”. Nesse caso pode ser que a confusão resulte do fato dos dois sons serem alveolares surdos embora um seja uma consoante fricativa e a outra, africada. > : savon (fr)> tabu “sabão”. Aqui não achamos nenhuma hipótese para explicar o fato. 8. Conclusão 10.

(12) A comparação das formas singular e plural dos substantivos emprestados revelou que ao se adaptarem ao esquema das classes nominais do lè-mbáámá, os nomes emprestados adquirem prefixos nominais para preservar a estrutura do substantivo nesta língua: PN + raiz. Por exemplo uma palavra francesa como “hôpital” (singular) virou “ò-pìtáálì” (classe 3 do lembaama); o plural “hôpitaux” virou “è-pìtáálì” (classe 4 ). Por outro lado, observamos alguns fenômenos fonológicos do lembaama nos empréstimos como o tom, a harmonia vocálica, a variação entre alguns sons e o alongamento vocálico, etc. Isso tudo prova uma adaptação total desses substantivos no lembaama.. 9. BIBLIOGRAFIA BAL, W. (1979) o destino de palavras de origem portuguesa num dialeto quicongo in Afroromânica Studia. Albufeira, Poseidon: 95-145. BONVINI, E. (1996), Classes d'accord dans les langues négro-africaines.Un trait typologique du Niger-congo,exemple du kasim et du kimbundu, in Fait de langues, Revue de linguistique n°8, Paris, Ophrys, pp.77-88. (1988),Prédication et enonciation en kasim, Paris, Editions du CNRS. CREISSELS, D. (1991), Description des langues négro-africaines et théorie syntaxique, Grenoble, ELLUG. (1991), Aperçu sur les structures phonologiques des langues négro-africaines, Grenoble, ELLUG. GUTHRIE, M. (1953), The bantu languages of western equatorial africa,Oxford, Oxford university press. BLANCHON, Jean & ALIHANGA, M.(1992), Notes sur la morfologie du Lempiini de Eyuga, in Pholia, vol.7, Lyon, CRLS, Université Lumière-Lyon2, pp.23-40. ADAM, J.J. (1969), Dictionnaire ndumu-mbédé-français et français-ndumu-mbédé. Petite flore de la région de franceville (Gabon).Grammaire ndumu-mbédé, Bar-le-duc (Meuse), Imprimerie SaintPaul. CAGLIARI, L.(1997), Análise fonológica, Campinas, Edição do autor. GREENBERG, J.H.(1963), The languages of africa, Bloomington, Indiana university. GUTHRIE, M. (1948), The classification of the bantu languages, London, Dawson of Pall Mall. ___________ (1967-1971), Comparative Bantu. Four voumes. Farnborough, Gregg International Publishers. 11.

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