ANATOMIA DA DESACELERAÇÃO
RECENTE DA ECONOMIA
Nova matriz econômica ou contrato social?
ANATOMIA DA DESACELERAÇÃO RECENTE DA
ECONOMIA
Nova matriz econômica ou contrato social?
Samuel Pessoa
A América Latina e o Novo Estágio da Economia
Mundial
Ibre-FGV, Rio de Janeiro
19 de setembro de 2014
ROTEIRO
1. Exercício de decomposição e fatos estilizados
2. Duas agendas na formulação da política
econômica nos últimos 20 anos:
1. Contrato social da redemocratização
1. Baixa poupança e baixa resposta da poupança a
episódios de crescimento
2. Ensaio nacional desenvolvimentista
3. O mundo não explica o freio do brasil
4. Conclusão
EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
• A aceleração do crescimento de FHC para Lula é
um fenômeno de produtividade
• A desaceleração do crescimento no quadriênio de
Dilma é 80% um fenômeno de produtividade
• Houve queda na produtividade do capital e forte
desaceleração da taxa de crescimento da
produtividade do trabalho
• Consideramos série de horas trabalhadas
construída a partir do cruzamento da PME com as
PNADs
EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
PIB PTF Horas Capital em uso 1982-1994 2,5 -0,1 1,0 1,6 -4,9 41,5 63,4 1995-2002 2,3 0,2 1,0 1,0 10,2 45,1 44,7 2003-2010 3,9 1,6 1,0 1,4 39,9 25,3 34,8 2011-2013 1,9 0,0 0,3 1,6 0,6 16,3 83,1 D(Dilma-Lula) -2,0 -1,6 -0,7 0,2 78,2 34,0 -12,2
PIB – Produto Interno Bruto
EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
PTF Produtividade do Trabalho Produtividade do Capital 1982-1994 -0,1 0,3 -0,5 -274 374 1995-2002 0,2 0,2 0,0 97 3 2003-2010 1,6 1,2 0,4 74 26 2011-2013 0,0 0,8 -0,7 6721 -6621 D(Dilma-Lula) -1,6 -0,4 -1,1 26,9 73,1EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
PIB Produtividade do Trabalho PO Jornada 1982-1994 2,5 0,6 2,4 -0,6 24,5 99,8 -24,2 1995-2002 2,3 0,4 1,9 -0,1 17,9 85,1 -3,0 2003-2010 3,9 2,1 2,1 -0,3 54,1 53,9 -8,0 2011-2013 1,9 1,4 1,0 -0,4 70,4 49,4 -19,8 D(Dilma-Lula) -2,0 -0,8 -1,2 -0,1 38,2 58,3 3,5EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
Horas PO Jornada 1982-1994 1,9 2,4 -0,6 132 -32 1995-2002 1,9 1,9 -0,1 104 -4 2003-2010 1,8 2,1 -0,3 117 -17 2011-2013 0,6 1,0 -0,4 167 -67 D(Dilma-Lula) -1,2 -1,2 -0,1 94,3 5,7EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
PIB Produtividade
do Capital Capital Utilização
1982-1994 2,5 -1,0 3,0 0,5 -40,8 120,8 20,0 1995-2002 2,3 0,0 2,4 -0,1 0,7 105,8 -6,5 2003-2010 3,9 0,9 2,3 0,8 22,6 57,5 19,9 2011-2013 1,9 -1,6 3,8 -0,2 -84,8 194,9 -10,1 D(Dilma-Lula) -2,0 -2,5 1,5 -1,0 127 -76 49
EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
Capital em
uso Capital Utilização 1982-1994 3,5 3,0 0,5 86 14 1995-2002 2,3 2,4 -0,1 107 -7 2003-2010 3,1 2,3 0,8 74 26 2011-2013 3,6 3,8 -0,2 105 -5 D(Dilma-Lula) 0,5 1,5 -1,0 281 -181
EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
PO POP PIA/POP PEA/PIA PO/PEA
1982-1994 2,4 1,9 0,5 0,4 -0,3 78,4 19,9 15,3 -13,6 1995-2002 1,9 1,5 0,7 0,2 -0,4 77,2 36,6 8,3 -22,1 2003-2010 2,1 1,1 0,4 0,4 0,2 53,9 19,0 17,8 9,2 2011-2013 1,0 0,8 0,5 -1,2 0,9 84,9 49,8 -125,0 90,3 D(Dilma-Lula) -1,2 -0,3 0,1 -1,6 0,7 28,4 -6,3 135,5 -57,6 PO – População ocupada POP – População Total
PIA – População em idade ativa
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA:
Contrato social de redemocratização
• Toda e evidência da ciência política recente é que o sistema político
brasileiro é funcional
• Trata-se de presidencialismo multipartidário com presidente muito forte:
– Veto total e parcial
– Decide a forma de processamento de PLs: • Urgência e urgência urgentíssima
– Orçamento autorizativo
• A força do presidente faz com que ele consiga impor sua agenda ao
congresso e, portanto, explica a funcionalidade do sistema
• Não decai em tirania pois há mecanismo de controle:
– Judiciário independente e imprensa livre
– Órgão de Estado independentes: Polícia Federal, ministério público, TCU e CGU
• Democracia funcional em uma sociedade muito desigual faz com que o
eleitor mediano vote a favor da elevação da carga tributária
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA:
Contrato social de redemocratização
• O sistema político brasileiro é funcional
• Democracia em sociedades muito desiguais faz
com que a escolha social seja pró redistribuição e
aumento da carga tributária
– O eleitor mediano tem renda muito menor do que a
renda média
– Ele vota por aumento das transferências
• O contrato social faz com que o crescimento
econômico seja variável residual, a agenda da
sociedade é equidade
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA:
Contrato social de redemocratização
Pessoal INSS Subsídios Custeio Administrativo Custeio Saúde e Educação Custeio Gastos Sociais Investimentos sem MCMV Total 1999 4,5 5,5 0,2 1,4 1,8 0,6 0,5 14,5 2000 4,6 5,6 0,3 1,3 1,8 0,6 0,7 14,7 2001 4,8 5,8 0,4 0,7 1,8 0,9 1,2 15,6 2002 4,8 6,0 0,2 1,1 1,8 1,0 1,0 15,7 2003 4,5 6,3 0,4 0,9 1,7 1,0 0,4 15,1 2004 4,3 6,5 0,3 1,0 1,7 1,2 0,6 15,6 2005 4,3 6,8 0,5 1,1 1,8 1,3 0,6 16,4 2006 4,5 7,0 0,4 1,1 1,7 1,6 0,7 17,0 2007 4,4 7,0 0,4 1,2 1,8 1,6 0,8 17,1 2008 4,3 6,6 0,2 1,0 1,8 1,6 0,9 16,4 2009 4,7 6,9 0,2 1,1 1,9 1,9 1,0 17,7 2010 4,4 6,8 0,3 1,1 2,0 1,8 1,1 17,4 2011 4,3 6,8 0,4 0,9 2,0 1,9 1,1 17,5 2012 4,2 7,2 0,6 0,9 2,2 2,1 1,1 18,3 2013 4,2 7,4 0,9 1,0 2,2 2,2 1,0 18,9 2014 4,2 7,1 1,0 1,0 2,4 2,1 1,2 19,1 2013-1999 -0,3 1,9 0,6 -0,4 0,5 1,7 0,5 4,4 -6,6 42,8 13,9 -10,3 10,7 37,9 11,6 100,0
Evolução do gasto público não financeiro da União excluindo
transferência para Estados e Municípios (% do PIB)
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA DE
POUPANÇA
Estudo do FMI, World Economic Outlook de Abril de 2014
• O estudo estimou a seguinte equação:
•
𝑇𝑃
𝑖𝑡= 𝐸𝐹
𝑖+ 𝜌𝑇𝑃
𝑖,𝑡−1+ 𝛽𝑔
𝑖𝑡+𝜖
𝑖𝑡•
𝑇𝑃
𝑖𝑡− é a taxa de poupança na i-ésima economia no
t-ésimo instante
•
𝐸𝐹
𝑖− é a o efeito fixo da i-ésima economia
•
𝑔
𝑖𝑡− é a taxa de crescimento da i-ésima economia no
t-ésimo instante
•
𝜖
𝑖𝑡− é a taxa de poupança na i-ésima economia no t-ésimo
instante
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA:
Contrato social de redemocratização
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA DE
POUPANÇA
• O estudo encontrou do FMI 𝜌 = 0,76 e
𝛽 = 0,2 𝑎 0,3
• Refizemos o exercício de FMI para uma amostra
bem maior, 188 países ante 45 do estudo do FMI,
e o efeito do crescimento não parece ser robusto
• No entanto, quando no concentramos em uma
amostra menor obtivemos resultados bem
próximos
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA:
Contrato social de redemocratização
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA DE
POUPANÇA
FE (within)
regression with AR(1) disturbances
Number of obs = 1219
Group variable: pais
Number of groups = 30
---Poupança
Coef. Std. Err. t
P>|t| [95% Conf. Interval]
Poupança(-1)
0,82
0,02
47,94
0,00
0,78
0,85
Crescimento
0,21
0,02
11,88
0,00
0,18
0,25
Constante
3,54
0,29
12,22
0,00
2,97
4,11
---+---DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA:
Contrato social de redemocratização
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA DE
POUPANÇA
• O estudo não explora o impacto de diferenças
do efeito fixo sobre a taxa de poupança no
longo prazo:
•
𝑇𝑃
𝑖𝑡
= 𝐸𝐹
𝑖
+ 𝜌𝑇𝑃
𝑖,𝑡−1
+ 𝛽𝑔
𝑖𝑡
+𝜖
𝑖𝑡
• Logo, longo prazo:
•
𝑇𝑃
𝑖
=
𝐸𝐹
𝑖+𝛽𝑔
𝑖1−𝜌
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA:
Contrato social de redemocratização
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA
DE POUPANÇA
Efeito fixo da regressão de painel para os diversos países:
diferença estática entre Brasil e China de 2,57 p.p. do PIB, o que
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA DE
POUPANÇA
• Além da poupança ser baixa o contrato social da
redemocratização faz com que a resposta da poupança
e episódios de crescimento não seja forte o suficiente o
que limite a continuidade do episódio
• Exercício simples de simulação de qual seria a resposta
da poupança que resulta de nossa estimativa para o
período recente de crescimento
• Resultado: a poupança teria crescido um pouco mais
do que cresceu e teria, em seguida com a
desaceleração rencente da economia, reduzido menos
do que reduziu-se
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA:
Contrato social de redemocratização
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA DE
POUPANÇA
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA:
Contrato social de redemocratização
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA:
Ensaio Nacional Desenvolvimentista
• Em 2009, como resposta à crise econômica
adotou-se nova agenda na formulação da política
econômica
• O ensaio nacional desenvolvimentista consiste
em colocar o Estado no centro da direção da
natureza do processo de desenvolvimento
econômico
– Elevado intervencionismo direto do Estado sobre o
espaço econômico
– Note que este intervencionismo não necessariamente
significa elevada carga tributária
– Elevada carga tributária é inerente à construção de
um Estado de Bem Estar Social
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA:
Ensaio Nacional Desenvolvimentista – Medidas
1. Alteração no regime de câmbio flutuante para fortemente administrado. Por algum tempo vigorou e vigora regime de câmbio fixo
2. Maior tolerância com a inflação
3. Adoção recorrente de artifícios para atingir a meta de superávit primário, reduzindo a transparência da política fiscal, além de fortíssima redução do superávit primário
4. Controle de preços para tentar conter a inflação. Isto é visível, por
exemplo, nos combustíveis e na política de desoneração tributária, além das tarifas de eletricidade e de transporte coletivo público
5. Adotar teorias heterodoxas com relação ao processo de formação dos juros reais na economia (equilíbrio múltiplo e/ou que o impacto do juro sobre a atividade depende da variação deste e não do nível) e, em função deste entendimento, baixar “na marra” a taxa básica de juros
6. Expansão do papel do BNDES na intermediação do investimento, com forte discricionariedade em relação aos favorecidos
7. Tendência a fechar a economia ao comércio internacional
8. Direcionamento da política de desoneração tributária a alguns setores ou bens, em vez de estendê-la de forma equitativa a todos os setores
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA:
Ensaio Nacional Desenvolvimentista – Medidas
9. Aumento do papel do Estado e da Petrobras no setor de petróleo;
10. Intervenção desastrada no setor elétrico para baixar as tarifas e antecipar a renovação das concessões
11. Uso dos bancos públicos de forma muito arriscada com vistas a baixar “na marra” o spread bancário
12. Dificuldade ideológica em relação ao emprego do setor privado na oferta de serviços de utilidade pública e infraestrutura em geral
13. Adoção indiscriminada da política de conteúdo nacional e de estímulo à produção local sem a preocupação com o custo de oportunidade dos recursos sociais. Em certa medida, trata-se de reedição da lei ‘do similar nacional’, que tem como um dos resultados mais visíveis a criação de forte capacidade ociosa na indústria automobilística
• Minha interpretação é que a queda do crescimento da produtividade é fruto dos impactos negativos do ensaio nacional desenvolvimentista sobre o
desempenho da economia
• Ou seja, da mesma forma que a aceleração sob Lula é fruto da maturação das reformas institucionais do governo FHC e do primeiro mandato do governo Lula a queda recente é fruto da alteração do regime de política econômica que houve a partir de 2009
O MUNDO NÃO EXPLICA O FREIO DO BRASIL
• Há intenso debate público sobre a natureza da
desaceleração da economia brasileira
• Os analistas que avaliam serem corretas as
medidas associada ao ensaio nacional
desenvolvimentista alegam que a desaceleração
econômica resulta da redução do crescimento
mundial
• Dois argumentos, penso eu, tornam difícil esta
avaliação:
– A economia brasileira é das economias mais fechadas
que há
– Os termos de troca ainda estão em nível muito
elevado do ponto de vista histórico
O MUNDO NÃO EXPLICA O FREIO DO BRASIL
A desaceleração da economia mundial e latino-americana foi muito
menor
DIF DIF-DIF 1982-1994 1995-2002 2003-2010 2011-2014 D(Dilma-Lula) % % % % pontos pontos Economia mundial 3 3 4 3 -54 América Latina 3 2 4 3 -66 Argentina 2 -1 8 5 -262 -196 X Bolívia 2 3 4 6 143 209 Brasil 2 2 4 2 -201 -135 Chile 6 5 4 5 73 139 Colômbia 4 2 5 5 46 112 Costa Rica 5 4 5 4 -57 9 República Dominicana 3 6 6 4 -152 -86 Equador 3 2 4 6 158 224 El Salvador 3 3 2 2 6 73 Guatemala 2 4 3 4 17 83 Haiti -2 3 0 4 394 460 Honduras 3 3 4 3 -93 -27 Jamaica 3 0 1 0 -7 59 México 2 2 2 3 68 134 Nicarágua -1 4 3 5 163 229 Panamá 2 4 8 10 229 295 Paraguai 3 1 4 5 77 143 Peru 0 3 6 6 -40 26 Trinidad e Tobago -2 7 6 0 -548 -482 X Uruguai 3 0 5 5 -44 22 Venezuela 1 0 5 4 -112 -46DIF c/ mundo (pontos) -91 -111 9 -137
DIF c/ AL (pontos) -5 12 -9 -144
*X se a perda de desempenho relativamente à média da América Latina foi maior do que a brasileira.
Taxas médias de crescimento para o período Tamanho relativo da
O MUNDO NÃO EXPLICA O FREIO DO BRASIL
Economia muito fechada
(X+M)/Y (X+M)/Y com controles
Ranking Abertura país i-Ranking PIB país i **
Argentina ARG 0.41 -0.41 -14 Bolívia BOL 0.83 0.02 19 Brasil BRA 0.25 -0.52 -14 Chile CHL 0.72 -0.12 1 Colômbia COL 0.39 -0.36 -20
Costa Rica CRI 0.79 -0.41 16 República Dominicana DOM 0.60 -0.58 3 Equador ECU 0.66 -0.23 0 El Salvador SLV 0.75 -0.63 7 Guatemala GTM 0.65 -0.31 4 Haiti HTI 0.69 -0.38 21 Honduras HND 1.16 0.24 24 Jamaica JAM 0.85 - -México MEX 0.64 0.02 -3 Nicarágua NIC 0.98 0.10 23 Panamá PAN 1.41 0.28 23 Paraguai PRY 0.97 0.14 23 Peru PER 0.53 -0.27 -8 Trinidade e TobagoTTO 0.92 - -Uruguai URY 0.55 -0.44 4 Venezuela VEN 0.50 -0.30 -8