Gestão do conhecimento no
processo de licenciamento
ambiental
Luis E. Sánchez Professor Titular, Escola Politécnica Universidade de São PauloCongresso Brasileiro de Mineração
Material preparado para apresentação no 14º Congresso Brasileiro de Mineração, promovido pelo Instituto Brasileiro
de Mineração, em Belo Horizonte, MG. entre 26 e 29 de setembro de 2011
NÃO PODE SER REPRODUZIDO SEM AUTORIZAÇÃO NEM DIVULGADO POR MEIO ELETRÔNICO
Plano da apresentação
1. A gestão do conhecimento nos órgãos
ambientais
2. Pesquisas sobre gestão do conhecimento
em órgãos de licenciamento ambiental
3. Estudos sobre licenciamento ambiental no
Brasil e o papel da gestão do conhecimento
4. Conclusões
1.
Os órgãos ambientais e
a gestão do
Um modelo insumo-produto
ÓRGÃO
LICENCIADOR
recomendações decisõesprojetos
+ EIAs
legislação
políticas
conhecimento1
Gestão do conhecimento
Um órgão ambiental, como outras
organizações, não pode somente depender
do conhecimento individual
Gestão do conhecimento fortalece a
aprendizagem organizacional
Vantagens da gestão do conhecimento:
Reduzir os custos de desenvolver soluções
repetidas (horas de trabalho)
identificar e reproduzir melhores práticas
“proteger a organização dos efeitos deletérios
da rotatividade de pessoal”
(Argote et al., 2003)
Reduzir as chances de repetir os mesmos
erros
Argote L. Organizational Learning: Creating, Retaining and Transferring1
Aspectos chave da GC em órgãos licenciadores
analistas ambientais usam tanto seu
conhecimento pessoal quanto o conhecimento organizacional acumulado ao longo dos anos
analistas ambientais são trabalhadores do
conhecimento (Davenport, 2005)
parte do conhecimento da organização é
codifica-do e armazenacodifica-do em uma memória organizacional
a memória organizacional pode se deteriorar
ou
ser parcialmente perdida se não for
adequadamente gerida (amnésia organizacional)
um órgão licenciador cria conhecimento – se este
não for organizado e armazenado, não pode ser
recuperado e usado para melhorar práticas e
eficácia
Davenport T.H. Thinking for a Living. Boston: Harvard Business1
2.
Pesquisas sobre gestão do
conhecimento em órgãos
Objetivos e métodos
Objetivo:
identificar elementos-chave de
gestão do conhecimento usados em agências
de avaliação de impacto ambiental
Método:
estudos de caso
1) Office of the Environmental Protection Authority of Western Australia
2) Département des Évaluations Environnementales e
Bureau d’Audiences Publiques sur l’Environnement, Quebec
Evidências
obtidas por meio de
análise de documentos
entrevistas e questionários
Contextualização dos casos – (1)
2
Western Australia:
grande área (2.5 M km2 )
importantes recursos naturais
população 2 M concentrada no
Sudoeste
PIB = 184,000 M AUD
tipos mais frequentes de
projetos submetidos ao
processo de AIA
recentemente:
rodovias
minas e infraestrutura
2
Contextualização dos casos - (2)
Quebec:
grande área (1.7 M km2 )
importantes recursos naturais
população 7,7 M concentrada no Sul PIB = 300,000 M CAD
Quebec Meridional:
procedimento de AIA ~600,000 km2tipos mais frequentes de
projetos submetidos ao
processo de AIA:
rodovias
OEPA - Austrália Ocidental
2
43 analistas + 5 agentes administrativos + 5
especialistas em SIG
cerca de 50 EIAs por ano
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1998 -99 1999 -200 0 2000 -01 2001 -02 2002 -03 2000 3-04 2004 -05 2005 -06 2006 -07 2007 -08 2008 -09 Fiscal year N o. of r e fe rr a ls a nd a s s e s s m e nt s referrals formal assessments required
specifc advice given formal assessments completed
o que aprenderam produzindo cerca de 1400 relatórios
(pareceres) desde 1974?
DEE - Quebec
2
49 analistas + 8 agentes administrativos
pareceres finais dependem de pareceres de
departamentos especializados do Ministério
do Meio Ambiente e de outros ministérios
cerca de 30 EIAs por ano
cerca de 15 audiências públicas por ano
Consulta e audiência pública realizada por um órgão especializado – Bureau
12 analistas + 6 especialistas em
comunicação
5 “membros” (permanentes) + Presidente
comissários
cerca de 30 chamadas de informação e
consulta pública
cerca de 15 audiências públicas por ano (4
meses de duração)
cerca de 15 relatórios de consulta e
audiência públicas produzidos por ano – 281
relatórios em 30 anos
(até setembro 2011)Principais resultados: Austrália Ocidental
Iniciativas de gestão de conhecimento:
2
Gestão da qualidade (meados de 1990s)
Gestão da informação espacial (final 1980s)
Gestão de registros e documentos
Tutoria e mentorado para novos técnicos
Treinamento
Preparação e publicação de guias técnicos
Catálogo completo na internet de relatórios
Principais resultados: Austrália Ocidental
16 repositórios de conhecimento
equipe de analistas e redes sociais bases eletrônicas arquivos e documentos SIGRegistro de projetos submetidos Arquivos e pareceres anteriores Modelos
Guias de procedimento Guias técnicos
Principais resultados: Quebec - DEE
2
16 repositórios de conhecimento
equipe de analistas e redes sociais bases eletrônicas arquivos e documentosNão há uso de SIG
Arquivos e pareceres anteriores Modelos
Guias de procedimento Guias técnicos
Principais resultados: Quebec - BAPE
2
15 repositórios de conhecimento
analistas e redes sociais bases eletrônicas
arquivos e documentos
Não há uso de SIG
Arquivos e pareceres anteriores Modelos
Guias de procedimento Guias técnicos
Guias técnicos – Austrália Ocidental
2
•Preparados mediante
consulta às partes interessadas
•Não são obrigatórios,
mas os desvios em relação às recomendações devem ser justificados
•Cobrem assuntos ligados
a levantamentos
(diagnósticos), proteção de certas áreas
consideradas importantes e outros
Coleção de “Relatórios de Análise Ambiental” desde 1994
Principais resultados: Austrália Ocidental
1. repositórios usados com maior frequência
EPA reports (pareceres anteriores)
reuniões de trabalho e consulta a analistas
sênior
[repositórios que apresentam casos são
preferidos a guias genéricos]
2. utilidade
72% de concordância que os “Guidance
Statements” condensam de maneira útil o
conhecimento da OEPA para uso em AIA
Principais resultados: Austrália Ocidental
3. eficácia dos repositórios de conhecimento
[
“facilidade de acesso – em termos de tempo eesforço – à experiência e conhecimento coletivos da OEPA”
]
muito eficaz:
◆ analistas experientes
eficaz:
◆ pareceres anteriores (“EPA Reports”)
◆ reuniões internas
◆ manual do analista e modelos
Principais resultados: DEE Quebec
1.
repositórios usados com maior frequência
consulta a colegas e analistas sênior
manual interno de procedimentos
licenças anteriores
pareceres de análise anteriores
2. utilidade
pareceres setoriais preparados por outros
órgãos da administração
analistas
Principais resultados: BAPE Quebec
2.
principais motivos apontados para buscar a
codificação do conhecimento
obter consistência e reprodutibilidade com
as consultas em andamento
1.
repositórios usados com maior frequência
consulta a colegas e analistas sênior
relatórios anteriores de consulta e audiência
pública
Principais conclusões relevantes para o Brasil
Guias técnicos
definem conteúdos e métodos:
estabelecem regras - como devem ser feitos os
estudos e como será avaliada sua qualidade
as duas jurisdições estudadas têm quantidade e
diversidade de guias técnicos sobre assuntos
relevantes para cada local
os guia são elaborados mediante consulta às
partes interessadas
Todos os
pareceres
são publicados e
disponíveis na Internet:
constituem um repositório de conhecimento
propiciam maior consistência ao longo do tempo
dão maior transpasrência à análise
Principais conclusões relevantes para o Brasil
Georreferenciamento (Austrália) facilita a
identificação e a análise de impactos
cumulativos
Os analistas ambientais nos casos estudados
têm
menor discricionariedade
que seus
homólogos no Brasil, onde um possível
excesso de discricionariedade pode levar à
subjetividade - em consequência, no Brasil
os resultados são menos previsíveis (uma das
críticas frequentes dos empreendedores)
3.
Estudos sobre
licenciamento
ambiental no Brasil e o
papel da gestão do
conhecimento
Estudos de caráter institucional
MPF, 2004
Deficiências em estudos de impacto ambiental: síntese de uma experiência
Banco Mundial, 2008
Licenciamento ambiental de empreendimentos
hidrelétricos no Brasil: uma contribuição para o debate
TCU, 2009
TC 009.362/2009-4, Fiscobras 2009. Auditoria no Ibama
MPF 2004
universo: 80 projetos de todos os tipos em que houve
atuação do MPF
métodos: compilação, análise e ordenamento de
pareceres de analistas periciais e assessores do MPF
algumas constatações sobre os EIAs:
não identificação de determinados impactos,
identificação de impactos genéricos e de impactos mutuamente excludentes
desconsideração de dados do diagnóstico ambiental
falta de justificativa quanto à metodologia
empregada para arrogar pesos aos atributos dos impactos
várias deficiências detectadas nos estudos tiveram
origem em falhas na elaboração dos termos de referência
MPF 2004
algumas recomendações:
“garantia de prazos suficientes para a elaboração
dos estudos”
“criação ou consolidação, por parte dos órgãos
ambientais, de banco de dados de Estudos,
possibilitando o registro e o acesso aos
conhecimentos produzidos”
“consolidação de banco de dados das informações
oriundas da implementação de medidas
mitigadoras e de monitoramento, por parte dos órgãos ambientais”
Banco Mundial 2008
universo: licenciamento federal de projetos de energia métodos: entrevistas estruturadas (diretoria Ibama),
questionários (analistas ambientais), estudo de casos, análise de legislação e pesquisa bibliográfica
algumas constatações:
baixa qualidade dos EIAs, geralmente extensos e detalhados,
“porém focados principalmente no diagnóstico e que, muita vezes, não contribuem para questões do licenciamento"
multiplicidade de atores com grande poder discricionário e
poucos incentivos de colaboração, com destaque para o MP
frequente judicialização dos conflitos ambientais
falta de marco regulatório para tratar das questões sociais que
extrapolam a responsabilidade legal do proponente
sistemática ausência de monitoramento, fiscalização e
acompanhamento dos projetos licenciados
Banco Mundial 2008
recomendações: “criação e promoção de mecanismos de resolução
de conflitos entre os atores do processo de licenciamento”
“elaboração de termos de referência por equipe
multi-disciplinar baseada em processo de análise prévia do empreendimento e da região onde se insere”
“preparação de Guia Operacional” para definir os
enfoques a serem utilizados nos estudos, bem
como “o nível de informação recomendado para a
tomada de decisão”
TCU 2009
universo: licenciamento federal de grandes projetos
de infraestrutura, petróleo e gás
questões:
O Ibama realiza uma avaliação contínua dos
impactos de cada obra?
“O sistema de gestão do processo de
licenciamento ambiental (...) utiliza critérios e indicadores que caracterizam [seus] (...)
benefícios (...)?”
“As etapas do processo de licenciamento
ambiental são padronizadas de forma a uniformizar a sua análise?”
métodos: entrevistas estruturadas (diretoria Ibama),
questionários (analistas ambientais Ibama), análise de legislação e bibliografia
TCU 2009
constatações:
1. o Ibama não avalia e acompanha
sistematicamente os impactos e riscos
ambientais das obras licenciadas (achado 1) – “o que existe é um parecer do analista atestando se as condicionantes foram cumpridas ou não (...)” (pg. 10)
2. “existe uma insuficiência de metodologia formal
para analisar a qualidade dos Estudos de Impacto Ambiental apresentados ao Ibama” (parag. 3.40)
TCU 2009
constatações:
3. o licenciamento ambiental federal “permanece
focado na emissão de licenças em detrimento dos reais efeitos ambientais decorrentes dos projetos ou da efetividade das medidas mitigadoras e de gestão que são adotadas pelos empreendedores” (parag.3.79)
4. “Uma vez que o acompanhamento sistemático
dos impactos ambientais é deficiente, muitas
informações importantes deixam de ser coletadas
e avaliadas, dificultando o aprendizado
organizacional.“ (parag. 3.84)
TCU 2009
constatações:
5. “Inexistência de qualquer sistema de avaliação
(quantitativa ou qualitativa) dos benefícios (ambientais, sociais e/ou econômicos) resultantes do processo de
licenciamento” (achado 2) – “A demanda crescente do
pedido de licenças tem contribuído para que o Ibama passe
a ser visto como uma instituição cuja principal finalidade é
a concessão de licenças, de tal forma que a eficiência da entidade passa a ser medida pelo número de licenças expedidas, a exemplo de um trabalho cartorial.” (parag. 3.113)
6. “o Ibama não possui padrões ou normas específicas dos
procedimentos e critérios técnicos e metodológicos
adotados no processo de licenciamento ambiental federal para cada tipologia de obra.” (achado 3.1)
TCU 2009
recomendações:
elaborar padrões e normas específicas para os procedimentos e critérios técnicos e
metodológicos adotados no processo de licenciamento ambiental federal
tornar disponíveis na internet os pareceres técnicos e demais documentos pertinentes ao licenciamento ambiental
estabelecer um acompanhamento sistemático das
condicionantes das licenças ambientais
outros
4.
Relação com as pesquisas anteriores
os estudos sobre licenciamento federal no
Brasil apontam algumas deficiências na
gestão dos órgãos ambientais
uma das principais lacunas é a incipiente
gestão do conhecimento
os órgãos ambientais nos países
selecionados vem adotando diversas
iniciativas de gestão do conhecimento que
podem ser relevantes para o Brasil
a ausência de guias técnicos é apontada –
de forma recorrente – como um dos
principais problemas
Questões
emitir licenças é a finalidade ou o meio de
assegurar um certo grau de proteção
ambiental?
capacitar pessoas não resulta
necessariamente em capacitação
institucional
melhorar a eficácia e a eficiência dos órgãos
ambientais contribuiria para melhorar a
imagem do licenciamento ambiental
Referências
Sánchez, L.E.; Morrison-Saunders, A. 2011. Learning about
knowledge management for improving environmental impact assessment in a government agency: the Western Australian experience. Journal of Environmental Management 92: 2260-2271.
Sánchez, L.E.; Morrison-Saunders, A. 2010. Organizational
Learning in an EIA Agency. Proceedings of IAIA’10, disponível em
http://www.iaia.org/iaia10/documents/reviewed_papers/Org anizational%20Learning%20in%20an%20EIA%20Agency.pdf
Sánchez, L.E.; André, P. 2011. Organizational Learning in an EIA
Agencies: the Case of Quebec, Canada. Proceedings of IAIA’11, disponível em
http://www.iaia.org/conferences/iaia11/uploadedpapers/final %20drafts/Organizational%20learning%20in%20EIA%20agen cies%20-%20the%20case%20of%20Quebec,%20Canada.pdf
Estudos sobre licenciamento no Brasil
Ministério Público Federal, Deficiências em estudos de impacto ambiental: síntese de uma experiência. 2004.
disponível em www3.esmpu.gov.br/linha-editorial/outras-publicacoes
aponta os problemas mais frequentes em EIAs analisados por assistentes técnicos do Ministério Público Federal
Banco Mundial, Licenciamento ambiental de empreendimentos hidrelétricos no Brasil: uma contribuição para o debate. 2008.
disponível em www.bancomundial.org.br
recomenda aprimoramentos visando maior eficiência
Tribunal de Contas da União, TC 009.362/2009-4, Fiscobras 2009. Auditoria no Ibama. 2009.
disponível em www.tcu.gov.br
apresenta recomendações para melhoria da eficácia do licenciamento ambiental