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Janeiro. Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

Janeiro

Contrato de arrendamento Caducidade Proprietário Restituição de imóvel Abuso do direito

Venire contra factum proprium

Boa-fé

Princípio da confiança

O exercício pelo autor (proprietário) do invocado direito à restituição de uma habitação excede – manifestamente, como o exige a lei para o reputar de abusivo –, os limites impostos pela boa fé, na modalidade do venire contra factum proprium, quando essa pretensão, assente na caducidade de um contrato de arrendamento, é nitidamente contraditória com a actuação que aquele protagonizou ao longo dos anos, uma vez que, designadamente, forneceu instruções para que a ré pudesse depositar as rendas relativas ao gozo da habitação, recebeu-as e fê-las suas, sendo, por isso, digna de tutela a confiança gerada na ré por esse seu comportamento anterior.

12-01-2021

Revista n.º 6351/18.0T8VNG.P1.S1 - 1.ª Secção Alexandre Reis (Relator)

Pedro Lima Gonçalves Fátima Gomes Abuso do direito Conhecimento oficioso Sentença Nulidade de acórdão Excesso de pronúncia

I - Apesar de o abuso de direito ser de conhecimento oficioso, a Relação não pode conhecer e decidir sobre tal questão quando a mesma já tiver sido objeto de apreciação e decisão no âmbito da sentença recorrida, sem que tal decisão tenha sido objeto de impugnação.

II - Conhecendo e decidindo, nessas circunstâncias, e em sentido contrário, sobre tal questão, a Relação incorre em excesso de pronúncia, o que determina a nulidade do acórdão recorrido (ainda que sem prejuízo da parte ou partes não afetadas pela nulidade).

12-01-2021

Revista n.º 3023/05.0TJVNF.G1.P1.S2 - 1.ª Secção Acácio das Neves (Relator)

Fernando Samões Maria João Vaz Tomé

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Ação executiva Oposição à execução Contrato de mútuo

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

Quitação

Interpretação da declaração negocial Teoria da impressão do destinatário Cessão

Ações

Capital social Sociedade comercial

I - A declaração do exequente/embargado na qual o mesmo (para além de declarar já ter recebido do executado/embargante todos os documentos necessários a tornar-se o legal proprietário das totalidades das ações e capitais sociais de determinadas sociedades) declara ainda “nada

mais ter a receber ou a reclamar” do executado “seja a que título for” deve ser interpretada,

na perspetiva de um normal declaratário, no sentido de considerar paga a dívida do executado para consigo (emergente de contrato de mútuo entre ambos anteriormente) que se venceria poucos meses depois.

II - E isto tendo-se em conta, atenta a demais factualidade dada como provada, a proximidade temporal do vencimento do mútuo, das negociações relativas à cessão das ações e da declaração de quitação, e o facto de não terem sido especificados na declaração quaisquer outros negócios de que resultasse para o executado qualquer outra obrigação de pagamento (o que não foi dado como provado ou sequer alegado).

12-01-2021

Revista n.º 1270/12.7TBALM-B.L1.S1 - 1.ª Secção Acácio das Neves (Relator)

Fernando Samões Maria João Vaz Tomé

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Responsabilidade extracontratual Acidente de viação Atropelamento Sinal vermelho Culpa do lesado Presunção de culpa

Condutor por conta de outrem Diretiva comunitária

Transporte de passageiros Direito da União Europeia

I - Tendo a autora sinistrada sido atropelada pelo veículo seguro na ré na passadeira destinada aos peões, mas com a sinalização (vermelha) a proibir a passagem de peões, é manifesta a culpa efetiva da sinistrada.

II - Não se tendo provado que o veículo seguisse a uma velocidade superior à velocidade legalmente permitida, de 50 Kms/hora, e tendo-se provado que o condutor acionou os órgãos de travagem logo que se apercebeu da presença da autora na via, não se pode concluir no sentido da culpa efetiva do condutor do veículo.

III - Não obstante existir presunção de culpa do condutor do veículo, nos termos do disposto no n.º 3 do art. 503.º do CC, uma vez provada a culpa do lesado, inexiste obrigação de indemnizar, nos termos do disposto no n.º 2 do art. 570.º do CC.

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

IV - Tal interpretação não colide com a Diretiva n.º 90/232/CEE do Conselho de 14-05-1990, uma vez que esta apenas respeita à exclusão ou limitação das indemnizações devidas aos passageiros – o que nada tem a ver com a situação dos autos.

12-01-2021

Revista n.º 15138/16.4TBPRT.P1.S1 - 1.ª Secção Acácio das Neves (Relator)

Fernando Samões Maria João Vaz Tomé

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Deserção da instância Falecimento de parte Habilitação de herdeiros Audição prévia das partes

Decorridos mais de seis meses sobre a suspensão da instância, motivada pelo falecimento de uma das partes, e sem que tenha sido promovida a respetiva habilitação de herdeiros (ou requerido o que quer que fosse), impõe-se declarar a deserção da instância, nos termos do n.º 1 do art. 281.º do CPC, sem necessidade da prévia audição das partes.

12-01-2021

Revista n.º 3820/17.3T8SNT.L1.S1 - 1.ª Secção Acácio das Neves (Relator)

Fernando Samões Maria João Vaz Tomé

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Consignação em depósito Suspensão da instância Inventário Recurso de apelação Vencimento Parte vencida Condenação em custas

I - Uma vez que as apeladas (as demandantes e duas das demandadas) ora recorrentes (do 2.º acórdão da Relação que lhes negou a peticionada reforma do acórdão – que conheceu da apelação de outra das demandadas e que foi julgada procedente – quanto a custas, que haviam sido fixadas a cargo daquelas) nunca se manifestaram a favor ou contra a decisão da 1.ª instância, oficiosamente proferida, no sentido de determinar a suspensão da instância dos autos de consignação em depósito, até que fosse proferida decisão final em processo de inventário a decorrer, e uma vez que as mesmas não recorreram de tal decisão nem contra-alegaram na apelação não faz sentido e carece de fundamento o afirmado pela Relação no sentido de que as recorridas, ora recorrentes, ficaram vencidas e foram afetadas negativamente com a procedência da apelação.

II - Assim, não se podendo considerar que as ora recorrentes tenham ali ficado vencidas, a determinação do responsável pelas custas da apelação apenas pode ser feita com base no critério do proveito retirado do processo, critério este que apenas pode ser apreciado no âmbito da decisão final.

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

III - E daí que as custas da apelação devem ficar a cargo da parte vencida a final. 12-01-2021

Revista n.º 6590/17.1T8FNC.L1.S1 - 1.ª Secção Acácio das Neves (Relator)

Fernando Samões Maria João Vaz Tomé

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Ação de investigação de paternidade Prazo de propositura da ação Prazo de caducidade Ónus da prova Posse de estado Falecimento de parte Contagem de prazos Filiação biológica Relações sexuais Presunção de paternidade Conhecimento prejudicado

I - Tendo por fundamento a cessação do tratamento como filho, a acção de investigação (ou de reconhecimento da) de paternidade deve ser proposta no prazo de 3 anos a partir da cessação voluntária desse tratamento.

II - Cabe ao réu a prova de que a cessação voluntária do tratamento ocorreu nos 3 anos anteriores à propositura da acção.

III - Se o investigado tiver morrido (sem anterior cessação voluntária do tratamento) o prazo de 3 anos deve ser contado a partir da morte, uma vez que só com a morte do investigante cessa a impossibilidade moral de agir por parte do filho do investigado.

IV - Se o pretenso filho tiver falecido sem intentar a acção, como foi o caso, os descendentes dele (como foi também o caso) podem propô-la no prazo em que aquele o podia fazer, ou seja, no prazo de 3 anos a contar do conhecimento do óbito do pretenso pai.

V - Tendo o pretenso pai falecido em 23-05-2006, os descendentes do pretenso filho, falecido em 16-06-2008, podiam propor a acção de reconhecimento da paternidade até 25-05-2009 (data da propositura da acção), na medida em que o prazo se iniciou em 24-05-2006, nos termos da al. b) do art. 279.º do CC e, terminando em 24-05-2009, num domingo, nos termos da al. e) do mesmo artigo, teve o seu termo transferido para o primeiro dia útil, ou seja, para o dia 25-05-2009.

VI - A posse de estado prevista no art. 1871.º, nº 1, al. a), do CC prevê a observância de três requisitos: o nomem, o tractatus e a fama.

VII - Tendo ficado provada a relação biológica, pela procriação directa, resultante de relações sexuais entre a mãe e o pretenso pai, prejudicado fica o conhecimento das presunções da paternidade, previstas no n.º 1 do art. 1871.º do CC, incluindo a da al. a).

12-01-2021

Revista n.º 269/09.5TBACN.E1.S1 - 1.ª Secção António Magalhães (Relator)

Jorge Dias

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

Embargos de executado Autoridade do caso julgado Extensão do caso julgado Eficácia

Terceiro

Obrigação solidária Obrigação indivisível

I - A função positiva do caso julgado, designada por autoridade do caso julgado, tem a ver com a existência de prejudicialidade entre objectos processuais, tendo como limites os que decorrem dos próprios termos da decisão, como se depreende dos arts. 619.º e 621.º, ambos do CPC, e implica o acatamento da decisão proferida em acção anterior cujo objecto se inscreve, como pressuposto indiscutível, no objecto de uma acção posterior, obstando a que a relação jurídica ali definida venha a ser contemplada, de novo, de forma diversa.

II - A autoridade do caso julgado não requer a tríplice identidade de sujeitos, de pedidos e de causas de pedir, podendo estender-se a outros casos, designadamente quanto a questões que sejam o antecedente lógico necessário da parte dispositiva do julgado.

III - Relativamente à eficácia subjectiva do caso julgado, embora a regra geral seja a de que ele só produz efeitos em relação às partes, também se estende àqueles que, não sendo partes, se encontrem legalmente abrangidos por via da sua eficácia directa ou reflexa, beneficiando do efeito favorável, como sucede, designadamente, nas situações de solidariedade entre devedores, de solidariedade entre credores e de pluralidade de credores de prestação indivisível, respetivamente nos termos dos arts. 522.º, 2.ª parte, 531.º, 2.ª parte, e 538.º, n.º 2, do CC.

IV - O caso julgado material formado com o trânsito em julgado de decisão anteriormente proferida numa acção tem eficácia relativamente à embargante que não teve nela intervenção quando se discute nos embargos de executado as mesmas questões já discutidas entre a exequente e o executado, por alegadas dívidas comuns e solidárias dos executados e embargantes, casados entre si.

12-01-2021

Revista n.º 2030/11.8TBFLG-C.P1.S1 - 1.ª Secção Fernando Samões (Relator)

Maria João Vaz Tomé António Magalhães

Recurso de revista

Admissibilidade de recurso

Aplicação da lei processual no tempo Dupla conforme

Revista excecional Arguição de nulidades

Erro na apreciação das provas

I - O novo regime dos recursos do CPC, aprovado pela Lei n.º 41/2013, de 26-06, aplica-se a todas as decisões proferidas após 01-09-2013, independentemente da data da propositura da acção. II - A ressalva do obstáculo da dupla conforme do n.º 3 do art. 671.º do CPC, prevista na parte final do n.º 1 do art. 7.º daquela Lei, aplica-se apenas aos recursos interpostos nas acções instauradas antes de 01-01-2008.

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

III - Não pode ser equacionada a admissibilidade da revista excepcional, ao abrigo do disposto no art. 672.º do CPC, quando é interposto recurso de revista normal, nem esta é admissível quando existe dupla conforme, não podendo a sua admissibilidade ser aferida pela arguição de nulidades do acórdão, nem pelo eventual erro na apreciação de provas.

12-01-2021

Revista n.º 492/13.8TBPDL.L1-A.S1 - 1.ª Secção Fernando Samões (Relator)

Maria João Vaz Tomé António Magalhães

Recurso de revista

Admissibilidade de recurso

Aplicação da lei processual no tempo Dupla conforme

Revista excecional Arguição de nulidades Sucumbência

I - A verificação da dupla conforme impede a admissão do recurso de revista normal, nos termos do art. 671.º, n.º 3, do CPC.

II - Não impede a verificação da dupla conforme a arguição de nulidades imputadas ao acórdão recorrido, nem a existência de outros segmentos decisórios que por ela não sejam abrangidos. III - Na parte não abrangida pela dupla conforme, o valor da sucumbência inferior a metade da

alçada do tribunal de que se recorre constitui obstáculo à admissão da mesma revista. 12-01-2021

Revista n.º 1141/18.3T8PVZ.P1-A.S1 - 1.ª Secção Fernando Samões (Relator)

Maria João Vaz Tomé António Magalhães

Autoridade do caso julgado Procedimentos cautelares Isenção de custas Condenação em custas Incidente anómalo Litigância de má-fé Demoras abusivas Nulidade de acórdão

Oposição entre os fundamentos e a decisão Omissão de pronúncia

Erro de julgamento

I - Não padece de nulidades, por oposição dos fundamentos com a decisão ou por omissão de pronúncia, o acórdão que contém os fundamentos que conduzem logicamente à decisão e conhece de todas as questões colocadas no recurso e são fundadas em erro de julgamento. II - A função positiva do caso julgado, designada por autoridade do caso julgado, tem a ver com

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

decorrem dos próprios termos da decisão de mérito, como se depreende dos arts. 619.º e 621.º, ambos do CPC.

III - A decisão proferida num procedimento cautelar sobre isenção de custas não tem autoridade de caso julgado noutro procedimento cautelar em que foi decretada a condenação nas custas do incidente qualificado como manifestamente infundado ao abrigo do disposto no art. 670.º, n.º 3, do CPC.

IV - A condenação nas custas do incidente do art. 670.º, n.º 3, do CPC corresponde a condenação como litigante de má fé, sem se confundirem, e não pode visar entidade isenta de custas, mas apenas quem usou de manobras abusivas.

12-01-2021

Revista n.º 1801/19.1T8CSC.L1-B-A.S1 - 1.ª Secção Fernando Samões (Relator)

Maria João Vaz Tomé António Magalhães Contrato de mútuo Cláusula contratual Interpelação Juros de mora Pagamento em prestações Cláusula contratual geral Boa-fé

I - Pretendendo a autora, mutuante, clausular a dispensa de interpelação do mutuário, quando este não cumpre as prestações a que está obrigado, deve fazê-lo de forma inequívoca e que não suscite dúvidas.

II - Só quando for exigido o capital (por antecipação à data normal do vencimento), e se não for pago é que começam a ser devidos juros de mora.

III - Sendo a obrigação a cumprir em prestações e pedindo-se apenas a regularização, não se pode entender que o pedido se reportava (exigia) ao pagamento de toda a dívida.

IV - Num contrato de mútuo a cumprir em prestações, uma cláusula que permitisse cobrar juros de mora desde meados de 2016 sobre prestações que só deveriam ser pagas em final de 2016 e em finais de cada ano até 2020, tem de ser considerada como cláusula abusiva e contrária aos ditames da boa fé e, como tal, porque constitui cláusula contratual geral, proibida pelo art. 15.º do RJCCG.

12-01-2021

Revista n.º 602/18.9T6PTG.E1.S1 - 1.ª Secção Jorge Dias (Relator)

Maria Clara Sottomayor Alexandre Reis

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Sociedade comercial Quota social Cessão de quota Usucapião Direito de propriedade Posse

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

Aquisição originária Valores mobiliários

I - O Direito, para além do conjunto de normas reguladoras da vida em sociedade, plasmado nos vários diplomas legais – existência estática; “law in book” – abrange, também, as decisões proferidas pelos competentes órgãos responsáveis pela sua aplicação (jurisprudência) e, ainda, a análise crítica que sobre estas duas vertentes se produz (doutrina) - existência dinâmica: “law in action”.

II - Já em 1988 Menezes Cordeiro escrevia: “O Direito é um modo de resolver casos concretos. Assim sendo, ele sempre teve uma particular aptidão para aderir à realidade: mesmo quando desamparado pela reflexão dos juristas, o Direito foi, ao longo da História, procurando as soluções possíveis”.

III - A participação social, que corresponde a uma quota, é uma coisa, já que pode ser objeto de relações jurídicas (nomeadamente transmissão), logo pode ser apropriada ou objeto de direito de propriedade.

IV - As Unidades de Participação são suscetíveis de posse. E sendo suscetíveis de posse, podem ser adquiridas por usucapião, desde que verificados sejam os demais requisitos.

V - A pretensa aquisição da posse não pode ser justificada através de celebração de uma escritura, a aquisição da posse, antes deveria justificar-se através de atos correspondentes ao exercício da sua posse.

VI - Sendo as faculdades compreendidas na titularidade das UP as contempladas no art. 7.º dos Estatutos do CITEVE: propor, discutir e votar em conselho geral os assuntos que interessem à vida do Centro; eleger e serem eleitos para os órgãos sociais do CITEVE; ter prioridade na realização de trabalhos solicitados ao Centro; beneficiar de preços preferenciais nos trabalhos realizados; ter prioridade nas ações de demonstração e a possibilidade de explorar industrialmente os resultados dos trabalhos realizados no Centro ou por iniciativa deste; beneficiar das regalias obtidas elo CITEVE e das facilidades nele criadas”, o exercício destas faculdades é que consubstanciavam atos de posse e constituiriam o “corpus” dessa mesma posse.

VII - Não tendo havido um exercício, atual ou potencial, de um poder de facto sobre a coisa, Unidades de Participação, não houve corpus, pelo que não se verificou o requisito fundamental para que pudesse vir a ocorrer aquisição originária por usucapião.

12-01-2021

Revista n.º 6612/18.9T8GMR.S1 - 1.ª Secção Jorge Dias (Relator)

Maria Clara Sottomayor Alexandre Reis

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Ação executiva

Sanção pecuniária compulsória Oposição à execução Abuso do direito Boa-fé Caso julgado Exequibilidade Exceção perentória Condenação em custas Princípio da causalidade

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

I - O abuso de direito não significa uma desaplicação de normas com base numa remissão genérica para sentimentos de justiça. Os tribunais exigem a prova rigorosa dos seus elementos constitutivos e a ponderação dos valores sistemáticos em jogo, de acordo com modelos experimentados ao longo da história pelo labor da jurisprudência.

II - Conforme jurisprudência deste Supremo Tribunal [de 28-09-2017 (proc. n.º 97/14.6T8ACB-A.Cl.SI], «I - O abuso do direito, consagrado no art. 334.º do Código Civil corresponde,

sobretudo, a uma manifestação concreta do princípio da boa fé. II - O comportamento, manifestamente atentatório da boa fé, deve ser repudiado pela ordem jurídica, qualificando como ilegítimo o exercício do direito baseado nesse comportamento e obstando à concretização da respetiva pretensão jurídica».

III - A suppressio traduz-se no não exercício do direito durante um lapso de tempo, suscetível de criar na contraparte a confiança de que esse direito não mais será exercido. Mas não basta o exercício tardio do direito. E necessário que se atenda ao poder dos factos e sejam ponderadas todas as circunstâncias do caso, à luz do princípio da boa fé, e ainda que se verifique a obtenção de uma vantagem excessiva para o titular do direito, acompanhada da imposição de sacrifícios relevantes e injustificados para a contraparte.

IV - Atua com abuso do direito de ação, na modalidade de suppressio, quem propõe um processo executivo para exigir a entrega coativa de documentos e o pagamento de uma sanção pecuniária compulsória de valor superior a € 200 000, fazendo-o mais de 4 anos após o trânsito em julgado da sentença de condenação e estando já na posse dos documentos exigidos em data anterior a essa sentença.

V - A aplicação geral do instituto do abuso do direito no domínio do direito processual civil, designadamente quanto ao direito de ação judicial, incluindo a ação executiva, ainda que baseada em sentença transitada em julgado, resulta da tradição jurídica germânica e é hoje indiscutível.

VI - No caso vertente, não se colocam problemas ao nível da exequibilidade extrínseca, dado que a pretensão da exequente está incorporada numa sentença transitada em julgado, que constitui formalmente um título executivo. O problema suscita-se no plano da exequibilidade intrínseca, contexto em que se admite que o abuso do direito funcione como uma exceção perentória oponível pelo executado ao exequente, desde que se verifiquem os pressupostos legalmente definidos no art. 334.º do CC.

VII - A regra geral em matéria de custas assenta no princípio da causalidade e encontra-se prevista no direito processual português. O critério para determinar quem dá causa à ação, incidente ou recurso prescinde, em princípio, de qualquer indagação autónoma: dá-lhe causa quem perde.

12-01-2021

Revista n.º 2689/19.8T8GMR-B.G1.S1 - 1.ª Secção Maria Clara Sottomayor (Relatora)

Alexandre Reis Pedro Lima Gonçalves

Recurso para uniformização de jurisprudência Requisitos

Oposição de julgados

Questão fundamental de direito Despacho de aperfeiçoamento Omissão

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

Nulidade processual

I - O exame preliminar previsto no art. 692.º, n.º 1, do CPC, não se limitando à mera verificação dos fatores impeditivos da admissão de qualquer recurso ordinário, compreende uma pronúncia efetiva sobre a (in) verificação dos pressupostos próprios do recurso extraordinário para uniformização de jurisprudência.

II - A admissão do recurso para uniformização de jurisprudência depende da verificação cumulativa de três requisitos: (i) contradição do acórdão recorrido com outro anteriormente proferido pelo STJ, denominado como acórdão-fundamento; (ii) que os dois acórdãos tenham sido proferidos no domínio da mesma legislação; e (iii) que os dois acórdãos tenham sido proferidos sobre a mesma questão fundamental de direito.

III - Como tem sido entendido de forma uniforme pelo STJ, “a questão fundamental de direito

em que repousa a alegada contradição deve assumir carácter fundamental para a solução do caso, devendo integrar a verdadeira ratio decidendi dos acórdãos em confronto”.

IV - Não se verifica a identidade da questão fundamental de direito que foi decisiva para a solução alcançada nos dois acórdãos quando tanto no acórdão fundamento como no acórdão recorrido não assumiu relevância a questão da sanação da alegada nulidade decorrente da omissão de prolação de despacho de aperfeiçoamento, pois que se considerou não ser devida a prolação de qualquer despacho de aperfeiçoamento.

V - A questão fundamental de direito em que repousa a alegada contradição invocada pela recorrente – de saber se o convite ao aperfeiçoamento de articulados, previsto no art. 590.º, n.º 4, do CPC, constitui um dever a que o juiz está sujeito e cujo não cumprimento origina uma nulidade processual – não se revestiu de relevância essencial para a solução dos casos apreciados nos dois arestos, id est, não integrou a verdadeira ratio decidendi dos acórdãos em confronto.

12-01-2021

Recurso para uniformização de jurisprudência n.º 20714/13.4YYLSB-B.L1.S1-A - 1.ª Secção

Maria João Vaz Tomé (Relatora) António Magalhães

Jorge Dias

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Responsabilidade extracontratual Acidente de viação Trator Reboque Mudança de direção Excesso de velocidade Indemnização Caso julgado Reformatio in pejus Equidade Nulidade de acórdão Excesso de pronúncia Alteração dos factos Conhecimento oficioso

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

I - Via de regra, quando a Relação adita oficiosamente à factualidade considerada como provada outra matéria, ao abrigo do disposto no art. 5.º, n.º 2, al. b), do CPC, não tendo nenhuma das partes impugnado esta parte da decisão da matéria de facto nas alegações dos respetivos recursos de apelação, conformando-se com a mesma, o acórdão é nulo, nessa parte, por excesso de pronúncia.

II - Cabendo ao STJ suprir o vício em apreço, deve ter-se por não escrita essa parte do acórdão recorrido, eliminando-se da matéria de facto provada o ponto aditado pela Relação (arts. 615.º, n.º 1, al d), in fine, e 684.º, n.º 1, do CPC).

III - O condutor do conjunto trator + reboque, ao violar o disposto no art. 35.º, n.º 1, do CEst, deu causa, em termos de causalidade adequada (art. 563.º do CC), à eclosão do acidente produtor dos danos sofridos pelo autor.

IV - A jurisprudência do STJ tem, predominantemente, atribuído um grau de responsabilidade maior ao condutor de veículo que realize manobra de mudança de via de trânsito sem se assegurar que o faz em local e por forma a que da sua realização não resulte perigo ou embaraço para o trânsito, do que ao condutor de veículo que, por circular com velocidade excessiva para o local e circunstâncias da via, não consegue evitar o embate.

V - No que respeita ao valor das indemnizações fixadas pelo tribunal de 1.ª instância, quer dos danos patrimoniais, quer dos não patrimoniais, o tribunal da Relação estava impedido de o reduzir. Com efeito, formou-se sobre eles caso julgado, atento o princípio da proibição da

reformatio in pejus, sem prejuízo de o poder aumentar em virtude do recurso de apelação do

autor.

VI - A decisão segundo a equidade não exclui o pensamento analógico. Uma solução individualizadora que assuma todas as circunstâncias do caso concreto não pode encontrar-se encontrar-sem a comparação de hipóteencontrar-ses.

12-01-2021

Revista n.º 1307/14.5T8PDL.L1.S1 - 1.ª Secção Maria João Vaz Tomé (Relatora)

António Magalhães Jorge Dias

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Responsabilidade extracontratual Acidente de viação

Recurso de revista

Admissibilidade de recurso Sucumbência

Acórdão uniformizador de jurisprudência Pluralidade de lesados Litisconsórcio necessário Concorrência de culpas Colisão de veículos Dano biológico Cálculo da indemnização Equidade

I - O recurso de revista interposto pelos autores A e M não é admissível. Não havendo recorrido da sentença e tendo procedido parcialmente a apelação interposta pela ré F, a medida da sucumbência daqueles, para efeitos de interposição de recurso de revista, corresponde à

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

diferença entre os valores arbitrados na sentença de 1.ª instância e no acórdão da Relação, nos termos do AUJ n.º 10/2015.

II - Por outro lado, apesar de nos autos se discutir a responsabilidade pelo mesmo acidente de viação e de serem vários os lesados que assumem a posição de autores, não se está perante um caso de litisconsórcio necessário, mas antes perante pedidos distintos e independentes, ainda que baseados na mesma causa de pedir (arts. 35.º e 36.º do CPC). Por conseguinte, a medida da sucumbência de cada um deles terá de ser aferida individualmente.

III - Havendo sido violadas pelos dois condutores, intervenientes no acidente de viação, regras de trânsito, em circunstâncias em que era exigível que tivessem agido de outra forma, evitando o resultado danoso, há concorrência de culpas. A doutrina plasmada no art. 506.º do CC aplica-se não apenas aos danos sofridos pelos veículos colidentes, mas também, inter alio, aos demais danos ocorrentes quer para os condutores, quer para as pessoas transportadas. IV - Em caso de dúvida, reputa-se igual a contribuição da culpa de cada um dos condutores, nos

termos do art. 506.º, n.º 2, do CC, que estabelece uma presunção de igual medida da contribuição de cada um dos veículos para os danos, assim como da contribuição da culpa de cada um dos condutores. O acidente não teria ocorrido se nenhum dos condutores tivesse invadido a zona de “raias oblíquas delimitadas por linhas contínuas”.

V - A equidade traduz-se no critério decisivo para a fixação do montante da compensação por danos cujo valor exato não possa ser averiguado (art. 566.º, n.º 3, do CC). Trata-se da equidade como padrão de justiça do caso concreto, da decisão ex aequo et bono (segundo a equidade).

VI - Conforme a jurisprudência do STJ, o recurso à equidade “não afasta a necessidade de

observar as exigências do princípio da igualdade, o que implica a procura de uma uniformização de critérios, naturalmente não incompatível com a devida atenção às circunstâncias do caso”.

VII - A decisão segundo a equidade não exclui o pensamento analógico. Uma solução individualizadora que assuma todas as circunstâncias do caso concreto não pode encontrar-se encontrar-sem a comparação de hipóteencontrar-ses.

VIII - Estando em causa uma indemnização fixada pela Relação segundo a equidade, num recurso de revista importa, essencialmente, verificar se os critérios adotados para a determinação do montante indemnizatório se afiguram suscetíveis de ser generalizados e se harmonizam com os padrões que, numa jurisprudência atualista, devem ser observados em situações análogas ou equiparáveis.

IX - A afetação da integridade físico-psíquica (um dano-evento denominado como dano biológico ou dano na saúde) pode ter como consequência danos de natureza patrimonial e danos de natureza não patrimonial (danos-consequência). Está em causa um dano que corresponde ao efeito de uma ofensa sofrida pelo lesado e que exige de si maiores sacrifícios, maior penosidade no desempenho da sua atividade profissional habitual e, ainda, na sua vida pessoal, no desenvolvimento das tarefas e atividades quotidianas. É um dano corporal, na saúde (que afeta a integridade físico-psíquica do sujeito), futuro – as suas consequências ou sequelas projetam-se no futuro – e previsível – por corresponder à “evolução lógica, habitual

e normal do quadro clínico constitutivo da sequela”. É um dano que subsiste

independentemente da eventual perda ou redução de rendimentos. Trata-se, fundamentalmente, da proteção, pelo ordenamento jurídico, do bem jurídico saúde, entendida como estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas como ausência de doença ou enfermidade.

12-01-2021

Revista n.º 2787/15.7T8BRG.G1.S1 - 1.ª Secção Maria João Vaz Tomé (Relatora)

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

António Magalhães Jorge Dias

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Embargos de executado

Execução para pagamento de quantia certa Título executivo Penhora de direitos Crédito Direito litigioso Título de aquisição Inconstitucionalidade Abuso do direito Conhecimento oficioso Compensação Requisitos Recurso de revista Admissibilidade de recurso Dupla conforme Requisitos Nulidade de sentença Omissão de pronúncia

I - Uma vez que a Relação declarou a nulidade da sentença da 1.ª instância por omissão de pronúncia, acabaria por conhecer da questão ex novo, em 1.º grau, afastando a possibilidade de dupla conformidade. O mesmo se diga (com idêntica fundamentação), sobre a existência do crédito exequendo. No que tange à extinção da obrigação por meio da compensação, embora a conclusão seja idêntica entre as duas instâncias, não há dupla conforme, porque a fundamentação é essencialmente diversa.

II - O julgador não tem de se ocupar de todas as considerações das partes. É diferente não conhecer questão de que devia conhecer e deixar de apreciar qualquer consideração, argumento, ou razão produzida nos autos.

Em consequência, a nulidade por omissão de pronúncia apenas se verificará nos casos em que a omissão de conhecimento, relativamente a cada questão, é absoluta, e já não quando seja meramente deficiente, e mais ainda quando apenas se tenham descurado algumas razões ou argumentos invocados, assim como quando a apreciação das questões fundamentais à justa decisão da lide tenha ficado prejudicada pela solução dada a outras.

III - A Relação entendeu que o título executivo que serve de base à presente execução é o título de aquisição do crédito pela exequente, emergente da sentença, transitada em julgado em 27-10-2017, no processo n.º 2555/13.0TJVNF, nos termos dos arts. 775.º, n.º 2, 777.º, n.º 3, e 703.º, n.º 1, do CPC e não a decisão de 30-09-2016, que considerou o crédito litigioso. Ao ter assim decidido, o tribunal emitiu expressa pronúncia sobre a questão suscitada.

IV - Sendo o título executivo constituído pelo título de transmissão do crédito, ao qual é atribuída força executiva (art. 703.º, n.º 1, al. d), do CPC), pode o executado alegar, em sede de oposição, para além dos fundamentos especificados no art. 729.º do CPC na parte em que sejam aplicáveis, quaisquer outros que possam ser invocados como defesa no processo de declaração e daí que lhe seja lícito colocar em causa quer a sua obrigação, quer o crédito do exequente.

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

Do mesmo modo que ao exequente desta execução incidental apenas é lícito exigir a prestação faltosa como resulta do título executivo previsto no art. 777.º, n.º 3, do CPC, também a oposição a esta execução incidental se circunscreve a esse título executivo. Os meios de defesa que o debitor debitoris poderá invocar contra o exequente ou o adquirente do crédito são os meios de defesa pessoais que tinha contra o executado nos termos do art. 731.º do CPC (e não contra o exequente).

V - Estando a responsabilidade do terceiro devedor limitada ao valor da sua obrigação em relação ao primitivo executado, os meios de defesa de que o mesmo poderá lançar mão são apenas os que se reportem a essa sua obrigação e não à obrigação do executado perante a exequente, à qual, na realidade, é estranho, carecendo, portanto, de legitimidade para a pôr em causa. VI - Assistindo ao terceiro devedor o direito de, em sede de oposição à execução, impugnar a

existência do crédito ou deduzir exceções perentórias contra o mesmo, nos termos dos arts. 728.º e 731.º do CPC, podendo inclusive alegar quaisquer fundamentos que possam ser invocados no processo de declaração, não se vislumbra como poderia ser inconstitucional a interpretação da norma constante do art. 731.º do CPC nos termos considerados.

VII - E certo que o abuso do direito é de conhecimento oficioso, mas é também pacífico que a sua apreciação pelo tribunal pressupõe a demonstração da respetiva factualidade, i.e., de factos dos quais se extraia a conclusão de que o direito está a ser exercitado de forma abusiva nos termos previstos no art. 334.º do CC. E, in casu, tal factualidade não se vislumbra.

VIII - Não se pode, na compensação, olvidar o requisito da reciprocidade de créditos. No caso, o crédito com o qual os embargantes pretendem operar a compensação tem como credor apenas um dos executados, aqui embargantes, e como devedor o executado originário.

Não se confundido a transmissão do crédito originário para a exequente (através da adjudicação do crédito litigioso) com a cessão de créditos prevista no art. 577.º e ss. do CC, não lhe é aplicável o disposto no art. 585.º do CC, não podendo, assim, quer por esta razão, quer pela falta do requisito da reciprocidade de créditos, operar a invocada compensação nos termos do art. 847.º do CC.

IX - É pacífico que os recursos não se destinam a julgar matéria nova, visando antes a reapreciação das decisões que deles são objeto e, em concreto, a reapreciação das questões que, tendo sido oportunamente suscitadas, ali foram objeto de apreciação.

Assim, não é curial (nem juridicamente admissível) às partes invocar, em sede de recurso, questões que não tenham sido suscitadas e apreciadas pelo tribunal a quo, não sendo igualmente lícito ao tribunal ad quem delas conhecer. Pelo que qualquer questão não apreciada no acórdão recorrido, constitui questão nova que, não sendo de conhecimento oficioso, não cabe a este STJ apreciar.

X - Concluindo-se, assim, que a revista não pode senão ser negada, mantendo-se na sua integralidade o acórdão recorrido.

12-01-2021

Revista n.º 379/13.4TBGMR-B.G1.S1 - 1.ª Secção Paulo Ferreira da Cunha (Relator)

Maria Clara Sottomayor Alexandre Reis

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Direito de propriedade Registo predial

Prédio

Presunção de propriedade Posse

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

Presunções legais Matéria de facto Factos conclusivos Juízo de valor

I - A presunção da titularidade do direito de propriedade constante do art. 7.º do CRgP não abrange a área, limites, estremas ou confrontações dos prédios descritos no registo, pois o registo predial não é, em regra, constitutivo e não tem como finalidade garantir os elementos de identificação do prédio.

II - Do art. 1268.º do CC resulta que, para que não funcione a presunção derivada da posse, será necessário que exista a favor de outrem presunção fundada em registo anterior ao início da posse, isto é, havendo conflito de presunções, uma derivada do registo, isto é, do art. 7.º do CRgP e a outra emergente da posse, ou seja, do art. 1268.º, n.º 1, do CC, prevalece esta última, designada por presunção da propriedade, que só cede em confronto com a presunção derivada do registo anterior ao do início da posse.

III - Em sede de fundamentação de facto (traduzida na exposição descritivo-narrativa tanto da factualidade assente, quer por efeito legal da admissão por acordo, quer da eficácia probatória plena de confissão ou de documentos, como dos factos provados durante a instrução), a enunciação da matéria de facto deve ser expurgada de valorações jurídicas, de locuções metafóricas ou de excessos de adjetivação, mas pode conter referência quer a situações

jurídicas consolidadas, desde que não hajam sido postas em causa, quer a termos jurídicos portadores de alcance semântico socialmente consensual (portadores de uma significação

na linguagem corrente) desde que não sejam objeto de disputa entre as partes e não requeiram um esforço de interpretação jurídica, devendo ser tomados na sua aceção corrente ou mesmo jurídica, se for coincidente, ou estiver já consolidada como tal na linguagem comum. Quando o contexto retratado sob os enunciados de facto integra o essencial do objeto de disputa entre as partes sobre o qual recaiu o esforço de (diversa) interpretação jurídica efetuado quer na 1.ª instância, quer no acórdão da Relação, não pode ser utilizado na enunciação dos factos, que devem ser considerados como não escritos.

12-01-2021

Revista n.º 2999/08.0TBLLE.E2.S1 - 1.ª Secção Pedro Lima Gonçalves (Relator)

Fátima Gomes Acácio das Neves

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Recurso para uniformização de jurisprudência Requisitos Oposição de julgados Matéria de direito Matéria de facto Presunções judiciais Rejeição de recurso

I - Resulta do normativo inserto no art. 688.º, n.º 1, do CPC que «As partes podem interpor recurso para o pleno das secções cíveis do STJ quando o Supremo proferir acórdão que esteja em contradição com outro anteriormente proferido pelo mesmo tribunal, no domínio da mesma legislação e sobre a mesma questão fundamental de direito.».

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

II - Constituem, assim, requisitos para a admissão de tal recurso: i) que exista um acórdão do STJ transitado em julgado, proferido nos autos onde se suscita a uniformização; ii) contradição entre o acórdão proferido e outro que o mesmo tribunal haja produzido anteriormente; iii) que essa contradição tenha ocorrido no domínio da mesma legislação e que respeite à mesma questão essencial de direito.

III - A oposição de acórdãos pressupõe, assim, primo, que a decisão e fundamentos do acórdão-recorrido se encontrem em contradição com outro relativamente às correspondentes identidades; secundum, que essa disparidade se situe dentro do mesmo campo normativo. IV - Em sentido técnico, a oposição de acórdãos quanto à mesma questão fundamental de direito

verifica-se, assim, quando a mesma disposição legal se mostre, num e noutro, interpretada e/ou aplicada em termos opostos, havendo identidade da situação de facto subjacente a essa aplicação.

V - Se as situações em tela são diametralmente opostas, não coincidindo nem no seu objecto, nem na sua apreciação e solução jurídico-normativa, conduz-nos à respectiva desconsideração em termos de admissibilidade da impugnação havida em sede de recurso extraordinário para uniformização de jurisprudência.

12-01-2021

Recurso para uniformização de jurisprudência n.º 817/16.4T8FLG.P1.S2-A - 6.ª Secção Ana Paula Boularot (Relatora)

Pinto de Almeida José Rainho Prestação de contas Decisão liminar Recurso de revista Admissibilidade de recurso Interpretação da lei Processo especial Reclamação Inconstitucionalidade

I - O processo especial de prestação de contas divide-se em duas fases, uma inicial, de apuramento da obrigação de prestar contas e uma outra subsequente, caso o tribunal determine tal dever. II - Dispõe o normativo inserto no art. 924.º, n.º 4 do CPC que «Da decisão proferida sobre a existência ou inexistência da obrigação de prestar contas cabe apelação, que sobe imediatamente, nos próprios autos e com efeito suspensivo.», o que significa que a lei, nesta fase inicial do processo, impede o acesso ao recurso de revista.

12-01-2021

Revista n.º 1132/18.4T8LRA.C1.S1 - 6.ª Secção Ana Paula Boularot (Relatora)

Pinto de Almeida José Rainho

Nulidade de acórdão Omissão de pronúncia

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

A omissão de pronúncia implica, caso se verifique, de harmonia com o disposto no art. 615.º, n.º 1, al. d) do CPC, a nulidade do acórdão.

12-01-2021

Revista n.º 4542/19.6T8VNG-B.P1.S1 - 6.ª Secção Ana Paula Boularot (Relatora)

José Rainho Graça Amaral

Nulidade de acórdão Reenvio prejudicial Pressupostos

Direito da União Europeia Princípio da necessidade Omissão de pronúncia Excesso de pronúncia Graduação de créditos Consumidor

I - A obrigação de suscitar a questão prejudicial por parte do STJ, enquanto tribunal que decide em última instância, pressupõe que se verifique o pressuposto de intervenção do referido mecanismo, ou seja, quando no caso se imponha a interpretação e aplicação de norma(s) da UE relevantes para o julgamento da causa; não, quando apenas esteja em causa a interpretação das regras de direito nacional ou questões de facto suscitadas no litígio, como é o caso da demonstração da qualificação de consumidor para graduação de créditos num processo de insolvência (qualificação do crédito reclamado como comum ou garantido por efeito do direito de retenção previsto no art. 755.º, n.º 1, al. f), do CC).

II - Não se justificando que o STJ submeta a questão ao TJUE com recurso ao mecanismo do reenvio prejudicial não foi omitida formalidade de cumprimento obrigatório a influir na decisão por forma a ferir a decisão de nulidade por excesso de pronúncia.

III - Não se verifica nulidade da decisão por omissão de pronúncia sempre que a matéria tida por omissa tenha ficado decidida (implícita ou tacitamente) no julgamento da matéria com ela relacionada.

12-01-2021

Incidente n.º 17264/15.8T8SNT-C.L2.S1 - 6.ª Secção Graça Amaral (Relatora)

Henrique Araújo Maria Olinda Garcia

Reforma de acórdão Lapso manifesto Nulidade de acórdão Omissão de pronúncia Dever de fundamentação Questão relevante

I - A reforma de acórdão ao abrigo do disposto nos arts. 616.º, n.º 2, als. a) e b), 666.º e 685.º, todos do CPC, pressupõe que no aresto ocorra lapso manifesto na determinação da norma

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

aplicável ou na qualificação jurídica dos factos ou constem do processo documentos ou quaisquer elementos que por si só impliquem, necessariamente, decisão diversa da proferida e que o juiz, por lapso manifesto, não haja tomada em consideração.

II - Esgotando-se, pois, a possibilidade de reforma do acórdão nas referidas situações (contempladas nas als. a) e b) do n.º 2 do citado art. 616.º, do CPC) e não se verificando, no caso, qualquer delas, é de indeferir a pretendida reforma.

III - Impõe-se ao juiz na decisão que profere indicar a razão que lhe serve de fundamento, não lhe cabendo, porém, apreciar todos os argumentos invocados pelas partes.

IV - Só a ausência de apreciação das questões suscitadas pela parte (não as razões ou os argumentos que esgrimam) é determinante da nulidade da decisão por omissão de pronúncia. 12-01-2021

Incidente n.º 7693/16.5T8VNF.G3.S1 - 6.ª Secção Graça Amaral (Relatora)

Henrique Araújo Maria Olinda Garcia

Decisão surpresa

Princípio do contraditório

Princípio da economia e celeridade processuais Reclamação para a conferência

Ato inútil

Nulidade processual

I - A proibição das decisões surpresa não pode significar mais do que a obrigação do juiz facultar às partes a possibilidade de aduzirem as suas razões perante uma situação e/ou enquadramento legal com que não tivessem podido razoavelmente contar.

II - Sempre que a parte tenha tido conhecimento/oportunidade de se pronunciar, não assume cabimento enveredar-se por um procedimento formal para dar lugar a novo contraditório que, nessa medida, se revela dispensável.

III - A reclamação para a conferência do despacho do relator que não admitiu a revista, onde a parte teve oportunidade de aduzir as razões que no seu entendimento impunham que o colectivo de juízes invertesse o sentido da decisão singular proferida, torna dispensável dar lugar a novo contraditório antes do proferimento do acórdão que decidiu no sentido de manter a decisão de não recebimento da revista.

12-01-2021

Incidente n.º 3325/17.2T8LSB-B.L1.S1 - 6.ª Secção Graça Amaral (Relatora)

Ricardo Costa Ana Paula Boularot

Retificação de erros materiais Inexatidão

12-01-2021

Incidente n.º 22652/17.2T8LSB.L1.S1 - 6.ª Secção Graça Amaral (Relatora)

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

Maria Olinda Garcia

Caso julgado formal Nulidade processual Arguição de nulidades Conhecimento

Decisão interlocutória

I - O caso julgado, seja formal ou material, pressupõe o pronunciamento jurisdicional sobre uma determinada questão suscitada pelas partes ou decorrente dos poderes oficiosos do tribunal. II - A decisão jurisdicional conformadora de caso julgado tem necessariamente um objecto (a

factualidade submetida à apreciação jurisdicional) e um conteúdo (o sentido da valoração judicial).

III - Não é susceptível de constituir caso julgado formal a decisão do juiz da 1.ª instância que, perante a arguição de nulidade processual, se abstém de conhecer da matéria dessa arguição, por considerar que só poderia ser apreciada por via de recurso.

12-01-2021

Revista n.º 113/16.7T8VNC-J.G1.S1 - 6.ª Secção Henrique Araújo (Relator)

Maria Olinda Garcia Ricardo Costa

Sociedade comercial Direitos dos sócios Direito à informação Inquérito judicial Dividendos

I - O art. 288.º, n.º 1, do CSC consagra o direito do accionista à informação permanente, através da consulta, na sede social, dos elementos documentais elencados nas als. a) a e).

II - Para exercer este direito basta que o accionista alegue motivo justificado para a consulta desses documentos.

12-01-2021

Revista n.º 3647/19.8T8STS.P1.S1 - 6.ª Secção Henrique Araújo (Relator)

Maria Olinda Garcia Ricardo Costa

Relações de vizinhança Inundação

Nexo de causalidade Concausalidade

Teoria da causalidade adequada Responsabilidade solidária Dever de vigilância

Decisão liminar do objeto do recurso Reclamação para a conferência

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

Nulidade de acórdão Omissão de pronúncia Condenação em custas

I - Se na reclamação para a conferência contra a decisão liminar do objeto do recurso (art. 656.º do CPC) a parte nada aduz de substancialmente novo, antes reitera basicamente os fundamentos do seu recurso, não pode dizer-se que padece de nulidade por omissão de pronúncia o acórdão que, embora não passando de uma cópia da decisão singular, conhece dos fundamentos do recurso e nada refere destacadamente quanto aos termos da reclamação. II - O facto ilícito culposo que atuou como condição do dano só pode deixar de ser considerado como causa adequada desse dano se, dada a sua natureza geral, se mostrar de todo em todo indiferente segundo a ordem natural das coisas para a verificação do dano, tendo-o provocado só por virtude das circunstâncias excecionais, anormais, extraordinárias ou anómalas, que intercederam no caso concreto.

III - Se o facto, dada a sua natureza geral, tem aptidão e idoneidade para favorecer ou tornar mais provável a emergência do prejuízo, então não há que falar em irrelevância desse facto para a produção do dano, caindo-se na regra geral de que toda a condição sine qua non vale em princípio como causa jurídica do dano.

IV - (i) Se uma torneira de rega de uma floreira implantada num piso de um prédio é deixada aberta por cerca de seis horas; (ii) Se a partir daí se produz um alagamento na floreira, que atinge uma cota de mais de trinta centímetros; (iii) Se por essa razão a água acaba por se infiltrar para o piso inferior através de um orifício na parede, situado a cerca de trinta centímetros da base da floreira, que outra pessoa ali decidiu fazer para a instalação de um sistema de ar condicionado; (iv) Então o alagamento foi causa (concausa) adequada do dano que a infiltração provocou no piso inferior; (v) Sendo para o caso irrelevante que, não fora o dito orifício, a água se teria normalmente escoado pelos meios para tal previstos na floreira. 12-01-2021

Revista n.º 1118/13.5TVLSB.L2.S1 - 6.ª Secção José Rainho (Relator)

Graça Amaral Henrique Araújo

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Cláusula penal

Interpretação da declaração negocial Teoria da impressão do destinatário Direito à indemnização

Cumprimento

I - Por cláusula penal entende-se a estipulação em que alguma das partes se obriga perante a outra, antecipadamente a realizar certa prestação para o caso de vir a não cumprir (ou cumprir retardadamente, ou cumprir de forma imperfeita) a prestação principal a que se vinculou. II - Pese embora os arts. 810.º a 812.º do CC conotarem a cláusula penal com uma função

puramente ressarcitória (compensatória ou moratória), nada se encontra definitivamente na lei que impeça as partes, no exercício da sua liberdade contratual, de criarem uma cláusula com uma outra função, como seja (i) a de compelir ao cumprimento através da fixação de uma pena ou sanção (cláusula penal compulsória) e que acresce à execução específica da prestação ou à indemnização pelo não cumprimento, ou (ii) a de compelir ao cumprimento através da fixação de uma obrigação de substituição da execução específica da prestação ou

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

da indemnização pelo não cumprimento, valendo essa obrigação de substituição como a forma de satisfação do interesse do credor.

III - Para efeitos da interpretação da declaração negocial releva o sentido que seria considerado por uma pessoa normalmente diligente, sagaz e experiente em face dos termos da declaração e de todas as circunstâncias situadas dentro do horizonte concreto do declaratário, isto é, em face daquilo que o concreto destinatário da declaração conhecia.

IV - (i) Se a letra da cláusula é expressa ao qualificar como quantia indemnizatória a prestação pecuniária devida em caso de incumprimento do contrato; (ii) se o escopo subjacente à vontade de contratar se logra alcançar através dessa quantia; (iii) se a quantia determinada na estipulação coincide normalmente com o valor do dano expectável, (iv) então é de interpretar a declaração negocial no sentido de se estar perante uma cláusula penal com função meramente indemnizatória (fixação do montante da indemnização exigível), e não perante uma pena destinada a pressionar ao cumprimento.

12-01-2021

Revista n.º 1939/15.4T8CSC.L1.S1 - 6.ª Secção José Rainho (Relator)

Graça Amaral Henrique Araújo

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Posse precária Direito de superfície Usucapião Inversão do título Ónus da prova Recurso de revista Improcedência Admissibilidade de recurso Ação de reivindicação

I - O critério que define a admissibilidade do recurso de revista é aquele que está estabelecido no art. 671.º do CPC, assunto que nada tem a ver com os fundamentos que podem ser aduzidos na revista que seja admissível, nos termos do art. 674.º.

II - E assim, se à revista são levados fundamentos que o recurso de revista não comporta legalmente, então a consequência é a improcedência do recurso nessa parte, e não a inadmissibilidade do recurso.

III - Se na base da implementação de uma obra em solo alheio esteve um ato de permissão ou de autorização do respetivo dono, estamos perante um simples aproveitamento da tolerância do titular do direito, que leva a uma situação de detenção ou posse precária, e não de posse efetiva à imagem do direito de superfície.

IV - Não tendo o detentor alegado e provado factos que mostrem que inverteu entretanto o título da posse, não se pode concluir que é possuidor e que se constituiu a seu favor um direito de superfície por usucapião.

12-01-2021

Revista n.º 8279/16.0T8LRS.L1.S1 - 6.ª Secção José Rainho (Relator)

Graça Amaral Henrique Araújo

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Contrato de seguro Seguro de vida Resolução do negócio Extinção do contrato Comunicação Prémio de seguro Mora Ónus da prova Participação do sinistro Morte Dever acessório Boa-fé Cônjuge

I - Não se fazendo prova de que a seguradora comunicou ao tomador do seguro a sua vontade de proceder à resolução do contrato, por falta de pagamento do prémio mensal, nem sendo alegada qualquer outra forma de extinção desse contrato, tem de se concluir que o seguro de vida estava em vigor na data do sinistro, apesar de existir atraso no pagamento daquele prémio.

II - Como decorre do Princípio do Contrato, consagrado no art. 406.º do CC (aplicável ex vi do art. 4.º do RJCS), na ausência de acordo das partes, o contrato só se extingue nos casos previstos na lei. Alegando a ré (seguradora) que o contrato de seguro de vida dos cônjuges (em benefício do Banco mutuante) se encontrava extinto por resolução, cabe-lhe não só demonstrar o preenchimento dos requisitos específicos desta figura, previstos no contrato de seguro, mas também demonstrar a verificação dos pressupostos gerais estruturantes da própria figura da resolução do contrato. Para se considerar o contrato de seguro resolvido não basta que a seguradora, por sua decisão unilateral, e face à ausência do pagamento de um mês, deixe de cobrar os prémios mensais (que eram feitos por débito direto). É necessário que comunique, inequivocamente, à contraparte o seu propósito de extinguir o contrato. III - A seguradora que recusa receber informação sobre as circunstâncias em que ocorreu o

sinistro, alegando que o contrato de seguro estava “anulado" [rectius, resolvido], não pode, posteriormente, invocar a omissão dessa informação para negar o cumprimento da obrigação de pagar o valor segurado, porque tal comportamento contraria o princípio da boa-fé, que deve orientar o comportamento das partes ao longo da vigência do contrato, como decorre do art. 762.º, n.º 2, do CC.

12-01-2021

Revista n.º 908/18.7T8PDL.L1.S1 - 6.ª Secção Maria Olinda Garcia (Relatora)

Ricardo Costa

António Barateiro Martins

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Recurso para uniformização de jurisprudência Requisitos

Matéria de direito Matéria de facto Rejeição de recurso

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

Direitos de personalidade Pessoa coletiva

O recurso para uniformização de jurisprudência exige que se verifique uma relação de identidade entre a questão de direito que foi objecto de uniformização e aquela que foi objecto do acórdão recorrido, o que pressupõe que ambas as decisões incidam sobre um similar núcleo factual.

12-01-2021

Recurso para uniformização de jurisprudência n.º 1367/10.8TBMAI.P2.S1 -A - 6.ª Secção Pinto de Almeida (Relator)

José Rainho Graça Amaral Revelia Confissão Dupla conforme Reapreciação da prova

Impugnação da matéria de facto Violação de lei

Lei processual Poderes da Relação

Poderes do Supremo Tribunal de Justiça Rejeição de recurso

I - Considerados confessados os factos articulados na petição inicial numa situação de revelia operante, deixa de haver controvérsia sobre esses factos, havendo tão só de proceder à sua valoração jurídica.

II - Se o tribunal da Relação se limitou a confirmar a decisão da 1.ª instância sobre a prova de determinado facto com esse fundamento, existe, também neste âmbito, uma situação de dupla conformidade.

III - Com efeito, nessa situação, a Relação não procede à reapreciação da matéria de facto, não fazendo uso dos poderes conferidos pelo art. 662.º do CPC; e só neste caso a questão emergiria apenas do acórdão da Relação – por só esta poder violar as regras contidas nessa disposição legal –, viabilizando o recurso de revista.

12-01-2021

Revista n.º 930/18.3T8BJA.E1.S1 - 6.ª Secção Pinto de Almeida (Relator)

José Rainho Graça Amaral Recurso de revista Admissibilidade de recurso Decisão interlocutória Oposição de julgados Suspensão da instância Matéria de facto

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

Não existe contradição jurisprudencial, como fundamento de admissibilidade do recurso de revista, nos termos do art. 671.º, n.º 2, al. b), do CPC, se a divergência das decisões em confronto não reflecte um diferente entendimento sobre a interpretação e aplicação da norma legal em questão (art. 272.º do CPC), sendo antes resultado de essas decisões terem por objecto um fundamento essencialmente distinto.

12-01-2021

Revista n.º 20209/18.0T8LSB.L1.S1 - 6.ª Secção Pinto de Almeida (Relator)

José Rainho Graça Amaral

Processo especial para acordo de pagamento Insolvência

Plano de pagamentos Direito de voto

Lista de créditos reconhecidos e não reconhecidos Crédito não contestado

Condição suspensiva

No âmbito do PEAP, estando em causa créditos sujeitos a condição suspensiva não impugnados, é aplicável o regime previsto no art. 73.º, n.º 2, do CIRE, sendo o número de votos correspondente a esses créditos fixado oficiosamente em atenção à probabilidade da verificação da condição.

12-01-2021

Revista n.º 11773/19.7T8LSB.L1.S1 - 6.ª Secção Pinto de Almeida (Relator)

José Rainho Graça Amaral Nulidade de acórdão Ambiguidade Obscuridade Recurso de revista Dupla conforme Rejeição de recurso Inconstitucionalidade Uso anormal do processo

I - A nulidade do acórdão, por aplicação dos arts. 615.º, n.º 1, al. c), 2.a parte, e 666.º, , n.º 1, 685.º

do CPC, fundada em «ambiguidade ou obscuridade que torne a decisão ininteligível», implica que, seja na decisão, seja na fundamentação, se chegue a resultado que possa traduzir dois ou mais sentidos distintos e porventura opostos, que permita hesitar sobre a interpretação adoptada, ou não possa ser apreensível o raciocínio do julgador, quanto à interpretação e aplicação de determinado regime jurídico, considerados os factos adquiridos processualmente e visto o decisório in totum.

II - Não se preenche tal vício se a construção do acórdão é lógica e perceptível e o sentido final é coerente com todo o argumentário usado e tendente ao resultado decretado – o não

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

conhecimento do objecto do recurso por aplicação do art. 671.º, n.º 3, do CPC (“dupla conformidade decisória”) –, consubstanciando a reacção pela via oblíqua da arguição da nulidade o inconformismo do recorrente relativamente à valoração e ao julgamento do acórdão recorrido, de forma despropositada e extemporânea e tão-só visando a modificação do julgado, obtido com conformidade pelas instâncias.

12-01-2021

Revista n.º 4258/18.0T8SNT.L1.S1 - 6.ª Secção Ricardo Costa (Relator)

Ana Paula Boularot José Rainho

Recurso de apelação Autoridade do caso julgado Omissão de pronúncia Nulidade de acórdão

Baixa do processo ao tribunal recorrido

I - Do despacho saneador onde se decidiu “não existir a situação de caso julgado” decorre que foi julgada não verificada a exceção dilatória de caso julgado, mas já não resulta que também tenha sido apreciada a questão da autoridade de caso julgado ligada ao mérito da ação. II - Na vigência do CPC de 1961, o despacho saneador que considerasse não verificada a exceção

dilatória de caso julgado era impugnável, nos termos do n.º 3 do art. 691.º, com o recurso que viesse a ser interposto da sentença final (tal como agora se prevê no n.º 3 do art. 644.º do CPC de 2013); já quando apreciasse a questão da autoridade de caso julgado era imediatamente impugnável, por estar relacionado com o mérito da ação.

III - Tendo a ré suscitado no recurso de apelação a nulidade da sentença por não ter sido apreciada a questão da autoridade de caso julgado, a Relação estava obrigada a apreciar esta questão, uma vez que não fora apreciada pela 1.ª instância nem no despacho saneador nem na sentença final.

IV - A falta de apreciação dessa nulidade implica a nulidade do acórdão da Relação, por omissão de pronúncia, nos termos do art. 615.º, n.º 1, al. d), 1.ª parte, do CPC, e determina a devolução do processo à Relação, nos termos do art. 684.º, n.os 2 e 3, do CPC.

14-01-2021

Revista n.º 2104/12.8TBALM.L1.S1 - 2.ª Secção Abrantes Geraldes (Relator)

Tomé Gomes Catarina Serra

(Acórdão e sumário redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Contrato de locação financeira Bem imóvel

Impossibilidade do cumprimento Incumprimento não imputável Culpa

Enriquecimento sem causa Obrigação de restituição

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Sumários de Acórdãos das Secções Cíveis

I - Tendo a locatária cumprido as obrigações que para si resultavam do contrato de locação financeira e havendo impossibilidade de o locador cumprir a promessa de venda do imóvel locado, pode pressupor-se que se configura um enriquecimento por prestação, na modalidade de condictio ob causam finitam, em que o enriquecimento radica na extinção da contraprestação por impossibilidade da prestação.

II - Aplicando-se o disposto no art. 795.º, n.º 1, do CC, a medida da obrigação de restituição deve ser encontrada atendendo a diversos factores, designadamente, as quantias entregues pela locatária à locadora (rendas e valor residual) e as restantes importâncias pagas por aquela, a título de seguros, impostos, prestações de condomínio e outros, a vantagem que a locatária teve com o gozo do imóvel, o montante que a locadora despendeu com a aquisição do imóvel e a vantagem que representa para a locadora o facto de o direito de propriedade do imóvel permanecer na sua esfera jurídica.

14-01-2021

Revista n.º 8621/17.6T8LSB.L1.S1 - 2.ª Secção Catarina Serra (Relatora)

Rijo Ferreira João Cura Mariano

Reclamação para a conferência Fundamentos

Nulidade de acórdão Excesso de pronúncia

Oposição entre os fundamentos e a decisão

A reclamação para a conferência não é um meio vocacionado para o reclamante manifestar a sua discordância com a decisão (ou com a fundamentação da decisão) com o fito de obter uma decisão que lhe seja mais favorável.

14-01-2021

Revista n.º 873/19.3T8VCT-A.G1.S1- 2.ª Secção Catarina Serra (Relatora)

Rijo Ferreira João Cura Mariano

União de facto Trabalho doméstico Enriquecimento sem causa Obrigação natural

Cessação

I - A prestação do trabalho doméstico, assim como a prestação de cuidados, acompanhamento e educação dos filhos, exclusivamente ou essencialmente por um dos membros da união de facto, sem contrapartida, resulta num verdadeiro empobrecimento deste, e a correspetiva libertação do outro membro da união da realização dessas tarefas, um enriquecimento, uma vez que lhe permite beneficiar do resultado da realização dessas atividades, sem custos ou contributos.

Referências

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