Considerações acerca da evolução do planejamento urbano:
Os primórdios: de meados do Século XIX a 1900
Programa de Residência em Arquitetura e Urbanismo 2015/2016: Planejamento e Gestão Urbana
Introdução
• O Estado tem duas formas básicas de intervir no espaço urbano, através da provisão de infraestrutura/equipamentos públicos/bens de consumo duráveis (habitação social) ou através da regulação do uso e ocupação do solo.
• Essa intervenção ocorre geralmente através dos instrumentos podem ser: 1. De Planejamento (planos, projetos e programas);
2. Legais e jurídicos (legislação de uso e ocupação do solo, legislação
ambiental, institutos da desapropriação, do tombamento, da usucapião, etc.);
3. Financeiros e tributários (IPTU, contribuição de melhoria, incentivos fiscais, etc.)
Antecedentes ao Planejamento e Urbanismo modernos
• Legislação edilícia e urbanística sempre existiu, porém o planejamento
urbano e o urbanismo são recentes
• Evolução: Europa e América do Norte 2ª metade do Século XIX/ Início do Século XX necessidade de organização do desenvolvimento urbano frente ao grande crescimento das cidades decorrente da industrialização • 1800 – não existiam cidades que alcançassem a população de um milhão
de pessoas.
• 1900 – 13 cidades: Londres, Nova Iorque, Paris, Berlim, Chicago, Viena, São Petersburgo, Filadélfia, Manchester, Birmingham, Moscou, Boston e Glasgow
Londres 1700
Londres 1806
Londres 1862 2,8 milhões habitantes
• Desse modo, as Leis Sanitaristas surgidas na Inglaterra, a partir da segunda metade do Século XIX, podem ser entendidas como uma intervenção do Estado para garantir as condições de reprodução da força de trabalho.
• Da mesma forma, as intervenções urbanas realizadas por Haussmann em Paris na mesma época, facilitaram o escoamento de produção, controle social, facilidade de movimentação das tropas militares nos grandes bulevares abertos, além de valorizar os investimentos imobiliários realizados. • A partir do início do Século XX, a adoção do “zoning” pelas cidades americanas vai estabelecer a
organização das funções urbanas e limitar o direito de construir dos proprietários, procurando otimizar a utilização da infraestrutura urbana, valorizando as áreas mais adensadas.
• Contudo, só a partir do Pós-Guerra é que o planejamento urbano e a legislação urbanística vão alcançar a sua expressão máxima através dos Planos Diretores.
• Apesar da técnica do “comprehensive planning” ser utilizado desde de as décadas de 1920 e 1930, as condições político-econômicas desse período (Pós-Guerra), possibilitaram a difusão do Estado do Bem-Estar Social, principalmente nos Países Centrais, com todo o seu aparato de regulação e redistribuição.
Contexto
• Político
– Liberalismo
• A mão invisível do mercado – Adam Smith (1723-1790) • Laisser faire – Vicente de
Gournay (1712-1759)
• Social
– Migração rural
(cercamentos)
– Exército de reserva de
mão-de-obra
– Miséria urbana
• “Habitualmente, as próprias ruas não são planas, nem pavimentadas; são sujas, cheias de detritos vegetais e animais, sem esgotos, nem canais de escoamento, mas em contrapartida, semeadas de charcos estagnados e fétidos. Além disso, a ventilação torna-se difícil, pela má e confusa
construção de todo o bairro, e como aqui vivem muitas pessoas em um pequeno espaço, é fácil imaginar o ar que se respira nestes bairros
operários”
• “As casas habitadas dos porões aos desvãos, são tão sujas no exterior como no interior e têm um tal aspecto que ninguém desejaria habitar. Mas isto ainda não é nada comparado às habitações nos corredores e vielas transversais onde se chega através de passagens cobertas, e onde a sujeira e a ruína ultrapassam a imaginação”
• Insalubridade proliferação de doenças tifo e colera
• Proliferação das ideias marxistas “Proletários do Mundo,
uní-vos” O Manifesto Comunista, Marx e Engels, 1848.
• Revoltas urbanas 1848/1871
– França, Alemanha, Polônia, Itália e Império Austríaco
• A Comuna de Paris de 1871
– Tido como o primeiro governo socialista que durou dois meses
esmagado pelas forças do exército nacional
Os primórdios do Planejamento Urbano e do
Urbanismo
• Reforma Política
– Ascensão de governos autoritários, conservadores e populistas, que abandonaram a ideologia liberal e passaram a promover um Estado forte e atuante, principalmente na questão urbana:
• Bismarck (Alemanha), Napoleão III (França), Disraeli (Inglaterra)
• “Se vogliamo che tutto rimanga come è, bisogna che tutto cambi“ , Il Gattopardo, Lampedusa, 1958.
• Reforma administrativa
– Reorganização do poder executivo municipal para dotá-lo de instrumentos para a gestão e
intervenção no espaço urbano a fim de adaptá-los às novas funções criação de departamentos de urbanismo, elaboração de planos e projetos de expansão urbana
• Reforma jurídica
– Criação de base legal que possibilitou a ação do Estado para intervir no espaço urbano e regular a atuação da iniciativa privada leis de desapropriação, leis sanitaristas, leis de alinhamento viário, leis de habitação, leis de uso e ocupação do solo urbano, etc.
• Vertente teórica ciência ou área do conhecimento
que estuda a evolução das cidades Urbanismo
• Vertente prática campo disciplinar visando a
elaboração de planos, projetos e instrumentos que
visem a organização das cidades:
– Urbanisme (Francês – Urbanismo )
– Town ou Urban Planning (Inglês – Planejamento Urbano) – Städtebau (Alemão – Construção de Cidades)
Inglaterra
Benjamin Disraeli
Político Conservador e Primeiro-Ministro Inglês (1868-1868 e 1874-1880)
• Consolidação e expansão do Império Britânico:
– Canal de Suez, – Anexação da Índia
• Reforma Social:
– Artisanz and Labourers Dwellings Act, 1868 (prevendo a
melhoria da moradia operária pelas autoridades locais),
– Employers and Workmen Act, 1875 (legalizando os
sindicatos),
– Pulbic Health Act, 1875 (concedendo poderes e deveres às
autoridades locais concernentes à saúde pública),
– Factory Act, 1878 (limitando o trabalho infantil e feminino),
– Elementary Education Act, 1880 (estabelecendo a educação
infantil compulsória até os 10 anos de idade).
• “The Conservative Party have done more for the working classes in five years than the Liberals have in fifty”, Alexander MacDonald, líder mineiro
Lei da Saúde Pública de
1875
• Concede poderes e
deveres às autoridades
locais para prever
melhorias nos sistemas
de abastecimento de
água, drenagem,
saneamento,
iluminação pública,
pavimentação e
controle de salubridade
das moradias
França
Georges-Eugène Haussmann
Advogado e Prefeito do Departamento do Sena (1853-1870)
• Comissionado pelo imperador
Napoleão III como prefeito do Departamento do Sena
– Loi sur l'expropriation pour cause d'utilité
publique du 7 juillet 1833
– Loi sur l´Organisation Sanitaire du 1er février
1850
• Reforma urbana de Paris
– Abertura de 95 km de novas ruas e
prolongamento de 70 km de ruas;
– Instalação dos serviços de água, esgoto,
iluminação pública e rede de transporte público;
– Construção de escolas, hospitais e quartéis
• Gastos na ordem de ₣ 2,5 bilhões
Espanha
Ildelfons Cerdà
Engenheiro-urbanista catalão responsável pelo Plano de Ensanche de Barcelona
• Derrubada das muralhas medievais da cidade de
Barcelona em 1854 Comissão inicia os estudos de um plano de extensão para a cidade em 1855.
• Aumentar a área total da cidade, permitindo sua expansão além dos limites da antiga muralha
• A base do plano é um sistema de vias e quadras ordenadas geometricamente
• Extensão infinita à medida que a cidade fosse crescendo.
• Hierarquia viária (analogia hídrica)
• Definição da localização dos parques, indústrias, comércios e residências de forma equilibrada.
• A rua como base das redes de infraestrutura e de transporte, promovendo melhor aeração e iluminação das casas.
Referências bibliográficas
• BENEVOLO, L. História da Cidade. 3a. ed. São Paulo: Editora Perspectiva SA, 1999.
• ENGELS, F. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. Tradução de Rosa Camargo Artigas e Reginaldo Forti. 2a. ed. São Paulo: Global, 1985.
• HARVEY, D. Paris, capital of modernity. Nova Iorque: Routeledge, 2003.
• KARL Marx and Friederick Engels Selected Correspondence. Moscou: Progress Publishers, 1958.
• MARX, K. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. Rio de Janeiro: Editorial Vitória, 1956.
• SIMÕES JR, J. G. A urbanística germânica (1870-1914): Internacionalização de uma prática e referência para o urbanismo brasileiro. Arquitextos, 097.03, ano 9, Junho, 2008. ISSN 1809-6298. Disponivel em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.097/134>. Acesso em: 15 Fevereiro 2013. • SUTCLIFFE, A. Towards the Planned City: Germany, Britain, the United States and France, 1780-1914. Nova