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o Seculo II e o Canone Do Novo Testamento

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Academic year: 2021

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Resumo: Resumo:

Este artigo trata da formação do Cânone do Novo Testamento. Toma como ponto de partida a Este artigo trata da formação do Cânone do Novo Testamento. Toma como ponto de partida a numerosa e rica literatura produzida durante o segundo século d.C. Considera os chamados heréticos numerosa e rica literatura produzida durante o segundo século d.C. Considera os chamados heréticos e textos não normativos como importantes para a discussão, a reflexão e tomada de posição frente a e textos não normativos como importantes para a discussão, a reflexão e tomada de posição frente a eles, culminando na definição do corpus textual chamado de cânone.

eles, culminando na definição do corpus textual chamado de cânone. Palavras-chave:

Palavras-chave:

Cânone, segundo século, ortodoxia, heresia, Novo Testamento. Cânone, segundo século, ortodoxia, heresia, Novo Testamento.  Ab

 Abststracract:t:

This article deals with the formation of the Canon of the New Testament. Takes as its starting point the This article deals with the formation of the Canon of the New Testament. Takes as its starting point the large and rich literature produced during the second century AD. It takes the so called heretics writers large and rich literature produced during the second century AD. It takes the so called heretics writers and the non-normative texts as important for discussion, reflection and a way of answer before them, and the non-normative texts as important for discussion, reflection and a way of answer before them, culminating in the definition of

culminating in the definition of the textual corpus the textual corpus called canon.called canon. Keywords:

Keywords:

Canon, second century, orthodoxy, heresy, New

Canon, second century, orthodoxy, heresy, New Testament.Testament.

1. INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO

Há uma rica produção literária no segundo século da era cristã que contribuiu Há uma rica produção literária no segundo século da era cristã que contribuiu para a definição do que seria canônico, e, portanto, autoritativo para a igreja cristã. para a definição do que seria canônico, e, portanto, autoritativo para a igreja cristã. Este artigo se interessa pelas literaturas do segundo século bem como pelos mais Este artigo se interessa pelas literaturas do segundo século bem como pelos mais variados escritores tanto da ortodoxia cristã quanto daqueles considerados como variados escritores tanto da ortodoxia cristã quanto daqueles considerados como heréticos. O aparecimento das heresias contribui para a reflexão e aprofundamento heréticos. O aparecimento das heresias contribui para a reflexão e aprofundamento sobre as doutrinas essenciais do

sobre as doutrinas essenciais do Cristianismo.Cristianismo. Para se entender o desenvolvimento do

Para se entender o desenvolvimento do cânonecânone  do Novo Testamento, é  do Novo Testamento, é

importante estudar os escritores e escritos cristãos do segundo século. Faz-se importante estudar os escritores e escritos cristãos do segundo século. Faz-se necessário examinar também os Pais Apostólicos e os apologistas, pois eles necessário examinar também os Pais Apostólicos e os apologistas, pois eles apresentam uma visão panorâmica do pensamento teológico tanto do ocidente apresentam uma visão panorâmica do pensamento teológico tanto do ocidente quanto do oriente, visão esta que contribuiu para a ulterior formulação do

quanto do oriente, visão esta que contribuiu para a ulterior formulação do cânonecânone do do

Novo Testamento. Novo Testamento.

11 Tarcisio Caixeta de Araujo éTarcisio Caixeta de Araujo é mestre em Teologia pela University of Wales (South Wales Baptist College) commestre em Teologia pela University of Wales (South Wales Baptist College) com

reconhecimento pela PUC-Rio, licenciado em Letras pelo UNI-BH, bacharel em Teologia pelo Seminário reconhecimento pela PUC-Rio, licenciado em Letras pelo UNI-BH, bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista Mineiro (curso livre), alfabetização Braille pelo Instituto São Rafael, Belo Horizonte-MG. Teológico Batista Mineiro (curso livre), alfabetização Braille pelo Instituto São Rafael, Belo Horizonte-MG. Professor de Hebraico bíblico, Antigo Testamento, Teologia do Antigo Testamento e Exegese na Faculdade Professor de Hebraico bíblico, Antigo Testamento, Teologia do Antigo Testamento e Exegese na Faculdade Batista de Minas Gerais. Membro da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB), do National Association of Batista de Minas Gerais. Membro da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB), do National Association of Professors of Hebrew (NAPH), do Núcleo de Estudos Judaicos da UFMG (NEJ), da Associação Brasileira de Professors of Hebrew (NAPH), do Núcleo de Estudos Judaicos da UFMG (NEJ), da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB).

Pesquisa Bíblica (ABIB). Este artigo foi atualizado depois de sua publicação pela extinta Faculdade de Este artigo foi atualizado depois de sua publicação pela extinta Faculdade de

Teologia de Belo Horizonte.

(2)

Este artigo se norteará pela seguinte questão:

Este artigo se norteará pela seguinte questão: Que fatores ocasionaram umQue fatores ocasionaram um interesse crescente em literatura cristã autoritativa (‘canônica’), no segundo século? interesse crescente em literatura cristã autoritativa (‘canônica’), no segundo século?

Este será o principal desafio para se entender a formulação do

Este será o principal desafio para se entender a formulação do cânonecânone  do Novo  do Novo

Testamento.

Testamento. Naturalmente que Naturalmente que não se pode apresennão se pode apresentar aqui uma única e deftar aqui uma única e definitivainitiva resposta,

resposta, i.ei.e, não há somente uma, não há somente uma verdadeverdade fornecida pelos Pais Apostólicos, pelosfornecida pelos Pais Apostólicos, pelos

apologistas, ou pelos “estranhos” escritos preservados, por exemplo, no trabalho de apologistas, ou pelos “estranhos” escritos preservados, por exemplo, no trabalho de Eusébio.

Eusébio.22 Se por um lado, os escritos dos Pais Apostólicos, os que sobreviveram, e Se por um lado, os escritos dos Pais Apostólicos, os que sobreviveram, e os apologistas são fundamentais para se compreender os escritos do Novo os apologistas são fundamentais para se compreender os escritos do Novo Testamento como Escrituras, por outro lado, os escritos dos

Testamento como Escrituras, por outro lado, os escritos dos heréticosheréticos são também são também

importantes. Eles ajudam a proporcionar uma compreensão de quais critérios foram importantes. Eles ajudam a proporcionar uma compreensão de quais critérios foram utilizados para se julgar

utilizados para se julgar os escritos aceitáveis. À medida do possível, personalidadesos escritos aceitáveis. À medida do possível, personalidades tais como Taciano, Marcião, Valentino, Montano. serão considerados neste artigo, a tais como Taciano, Marcião, Valentino, Montano. serão considerados neste artigo, a fim de se ouvir

fim de se ouvir as vozes daqueles cuja visão de escritos autoritativos não triunfou.as vozes daqueles cuja visão de escritos autoritativos não triunfou. O método adotado neste artigo é o da pesquisa bibliográfica. Este se O método adotado neste artigo é o da pesquisa bibliográfica. Este se apresenta em dois capítulos: 1) uma pesquisa sobre o segundo século e, 2) o apresenta em dois capítulos: 1) uma pesquisa sobre o segundo século e, 2) o desenvolvimento do

desenvolvimento do cânonecânone do Novo T do Novo Testamento. estamento. No primeiro capNo primeiro capítulo serão ítulo serão feitasfeitas

considerações aos principais centros do pensamento cristão; os principais Pais e considerações aos principais centros do pensamento cristão; os principais Pais e apologistas; Gnosticismo; Marcionismo; a Nova Profecia e alguns dos desafios e apologistas; Gnosticismo; Marcionismo; a Nova Profecia e alguns dos desafios e dilemas enfrentados pela cristandade. O segundo capítulo vai direto ao foco deste dilemas enfrentados pela cristandade. O segundo capítulo vai direto ao foco deste artigo, ou seja, a formação do

artigo, ou seja, a formação do cânonecânone do  do Novo Testamento no segundo século.Novo Testamento no segundo século.

2.

2. O O SEGUNDO SEGUNDO SÉCULOSÉCULO

O segundo século foi o período mais efervescente do início da história da O segundo século foi o período mais efervescente do início da história da Igreja, porque os fundamentos da igreja oficial, a ordem do

Igreja, porque os fundamentos da igreja oficial, a ordem do cânonecânone e definições da e definições da

doutrina ortodoxa versus heresia estavam sendo estabelecidas naquele período. doutrina ortodoxa versus heresia estavam sendo estabelecidas naquele período.

A.

A. As principais As principais fontes nfontes no segundo o segundo séculoséculo

Da Segunda metade do primeiro século ao fim do segundo século d.C., um Da Segunda metade do primeiro século ao fim do segundo século d.C., um número considerável de escritos cristãos foi produzido. Entre eles destacam-se: número considerável de escritos cristãos foi produzido. Entre eles destacam-se: cinco tratados de Papias de Hierápolis

cinco tratados de Papias de Hierápolis33 intitulados intitulados Interpretações dos Oráculos doInterpretações dos Oráculos do

22Em sua História Eclesiástica i-iv e v-x.Em sua História Eclesiástica i-iv e v-x.

33Papias foi bispo de Hierápolis na FPapias foi bispo de Hierápolis na Frígia, “o ouvinte de João e companheiro de Prígia, “o ouvinte de João e companheiro de Policarpo…” olicarpo…” (IRENAEUS I(IRENAEUS In:n:

Ante-Nicene Fathers, 1995, p563). Ante-Nicene Fathers, 1995, p563).

(3)

Senhor [Logi/wn kuriakw=n e)chgh/sew]; uma carta aos Filipenses de Policarpo;4

uma carta endereçada pela Igreja de Esmirna à Igreja de Filomélia e a igrejas em outros lugares chamada de O Martírio de Policarpo5 [Marturi/ou Polu/karpou]; as sete Epístolas de Inácio de Antioquia;6 a Epístola de Barnabé [th/n te Barnaba=];7

a Segunda Epístola de Clemente;8 o Livro do Pastor [Poime/noj bibli/on];9 Sobre a Páscoa Judaica [Peri\ tou= pa/sxa] e Sobre a Vida Cristã e os Profetas [Peri\

politei/a kai\ prdehtw=n] de Melito,10 bispo de Sardis; o Didache;11 uma carta aos

Romanos [  (Rwmai/ouj e)pistolh\], e uma carta de Crisófora [e)pistolh\ tou=

Xrusofo/r#] de Dionísio,12  bispo de Corinto; Estromas [Strwmate/wn] de

Pantenos;13  Esboços   (Upotupw/sewn[ ] e a Exortação aos Gregos [pro\ (`Ellhna

lo/go  o( protreptiko\] de Clemente de Alexandria;14 os  Atos dos Mártires

Sicilianos;15 Apocalipse de Pedro;16 Atos de Paulo17 e outros materiais.

Os quatro mais importantes apologistas do segundo século foram Justino

4Policarpo foi bispo de Esmirna, Ásia Menor (EUSEBIUS, 1992, p.281). “A breve Epístola de Policarpo contém

 proporcionalmente muito mais alusões aos escritos do Novo Testamento do que o que está presente em qualquer outro dos Pais Apostólicos.” Ele sofreu martírio em 155 ou 156 d.C. (METZGER, 1997, p.60ss.).

5HARMER (1898, p.185).

6As Epístolas de Inácio foram escritas

circa 110 d.C. (KOESTER, 1990, p.1). O martírio de Inácio ocorreu na

época do Imperador Trajano ca. 110 d.C..

7A epístola é mencionada em Eusebius (1994, p.47) como parte daqueles

escritos disputados [ta=j

a)ntilegome/naj].

8Um sermão primitivo cristão, escrito por um autor anônimo. Ele se situa entre 120 e 170 d.C. (METZGER,

1997, p.67).

9O

 Livro do Pastor era aceito por alguns cristãos como autoritativo para ser lido nas igrejas (EUSEBIUS, 1992,

 p.193).

10Ele escreveu uma Apologia [

] ao Imperador Verus [161-180 d.C]. Além disso, escreveu cerca de

vinte outros livros (EUSEBIUS HEiv.xxvi.1 p.387).

11Foi escrito na primeira metade do segundo século, e composto, provavelmente, por mais de um autor

(METZGER, 1997, p.50).

12EUSEBIUS (

 HEiv.xxiii.9,13. p.381ss.).

13Pantenos foi o chefe da escola de Alexandria [fundada por Alexandre, o Grande, em 331 a.C. Alexandria

tornou-se a primeira escola de teologia cristã]. O trabalho de Pantenos foi compilado por Clemente de Alexandria (EUSEBIUS, 1994, p.27).

14EUSEBIUS (

 HEvi.iii.2f. p.43.).

15O mais antigo documento na história da Igreja Latina (ROBINSON, 1927, p.71). Os Atos narram como sete

homens e cinco mulheres do vilarejo da Sicília, na Numidia [moderna Tunisia], foram postos em julgamento na câmara-concílio de Cartago, em 17 de Julho de 180. Esperato menciona que ele tinha em sua bolsa “Os livros, e as cartas de um homem justo, um certo Paulo.” (The Acts de the Scillitan Martyrs, 1927, p.72).

16Foi escrito no começo do segundo século (The Apocrypha NT, p.504).

17“Composto por um presbítero da Ásia antes do tempo de Tertuliano: ca. 160-170” (The Apocrypha NT…

(4)

Mártir,18 [o mais importante deles, de acordo com Maussaux],19 Tertuliano,20 Irineu de Lion21  e Atenágoras.22  No entanto, Teófilo de Antioquia;23  Aristides;24  Quadratos; Aristo de Pella e Miltíades25 são também dignos de serem mencionados.

Alexandria, no Egito, de tradição platônica, e Antioquia, na atual Turquia, eram as igrejas orientais de fala grega. Cartago, na atual Tunísia, era a igreja ocidental de fala latina, a qual figura somente no fim do segundo século. Roma, Grécia e Gália também se apresentavam como áreas significativas para o cristianismo no segundo século.26

B. As principais tendências

Por volta do ano 100-160 d.C., apareceu um grande número de professores, os quais, mais tarde, foram descritos como “heréticos”. Entre eles estavam Cerintos,27  Cerdo,28  Marcião29 e também alguns professores do Gnosticismo tais como Saturnino, Basilides30 e Valentino.31

18Justino disse que era da Palestina (JUSTIN,

 first apology ii.) e que se tornou um professor cristão em Éfeso

depois de 130 d.C. e mudou-se para Roma, onde fundou uma comunidade cristã. Seu trabalho mais famoso foio  Diálogo com Trifo  [“... percorrendo 142 capítulos, é provavelmente o livro mais extenso produzido por um

escritor cristão ortodoxo.”] (BRUCE, 1991, p.144).

19MASSAUX, Edouard (1993, p.10).

20O grande opositor das ideias Marcionitas. Ele escreveu cinco livros em Latim contra Marcião. Mais tarde “se

 juntou à seita Montanista, tornando-se líder desse grupo na África.” (METZGER, 1997, p.158).

21Irineu foi um escritor ortodoxo, discípulo de Policarpo, discípulo de João. Ele “tornou-se bispo de Lion em

Gaul [Gália], A.D. 180.” (BRUCE, 1991, p.100).

22O cristão filósofo de Atenas. (MASSAUX, 1993, p.120). De acordo com Metzger (1997, p.125), ele refutou as

três acusações contra os Cristãos, ou seja, ateísmo, canibalismo e incesto edipiano.

23O sexto bispo de Antioquia e um importante apologista cristão sírio da segunda metade do segundo século. Ele

escreveu um tratado contra Marcião, e citou o Apocalipse de João (EUSEBIUS HEiv.xxvi. p.385).

24Um cristão filósofo de Atenas que declarou que somente os cristãos possuem o verdadeiro conhecimento de

Deus. (METZGER, 1997, p.127). Ele escreveu uma defesa da fé endereçada a Adriano. (EUSEBIUS HEiv.iii.3.

 p.309).

25 Não há nenhuma relação literária entre aqueles apologistas e os escritos do Novo Testamento em seus poucos e

raros fragmentos que sobreviveram (MASSAUX, 1993, p.2).

26McGRATH (1994, p.5ss.). 27

Irineu, citado por Eusébio (iv.xiv.6 p.337s.) chama Cerinto de “o inimigo da verdade”. 28

Cerdo foi “quem tomou seu sistema dos seguidores de Simão, e foi viver em Roma no tempo de Higino… Ele ensinava que o Deus proclamado pela lei e os profetas não era o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.” Seu sucessor foi Marcião (IRENAEUS, Against Heresies i.xxvii.1,2).

29Marcião, de Sinope, na província do Ponto, será discutido posteriormente como o primeiro possível criador de

umcânonede escritos cristãos. (Ver IRENAEUS, Against Heresis, book i, e Tertullian, Against Marcion.).

30Saturnino, de origem antioquiana, estabeleceu uma escola “de ímpia heresia” [qeomisw=n ai(re/sewn] na

Síria. Basilides de Alexandria estabeleceu uma escola semelhante no Egito (EUSEBIUS, HE iv.viii.3 p.315). Ele ensinava que Simão Cirineu foi quem sofreu na cruz no lugar de Jesus (METZGER, 1997, p.79).

31Irineu diz que Valentino é o fundador de uma heresia especial [idia

 airesew] (Ver Against Heresis ii.

(5)

O Encratismo32  emergiu no final daquele período. Isto envolvia uma forma extremada de ascetismo, que estava se desenvolvendo através do século. Ireneu,33 ao escrever sobre Encratismo, afirma que os encratistas pregavam contra o casamento, e alguns teriam introduzido a abstinência de carne animal. Ele aponta Taciano como o primeiro a introduzir as ideias do Encratismo.

De 160 em diante a Nova Profecia34 emerge na Ásia Menor romana. Com o

Gnosticismo35  e o trabalho de Marcião, a Nova Profecia trouxe desafios para as igrejas católicas36 em desenvolvimento.

As raízes do movimento gnóstico recuam ao helenismo pré-cristão, ao  judaísmo e a religiões orientais. O Gnosticismo tinha um interesse predominante em cosmologia como tentativa para solucionar o problema do mal.37 Um dos desafios foi exatamente a questão sobre quais escritos a jovem religião cristã deveria considerar como autoritativos da igreja primitiva.

Os Pais Apostólicos do segundo século viviam numa verdadeira panela de pressão. Eram muitos os dilemas com os quais tinham que lidar. Eles tinham que dar respostas àqueles dilemas greco-romanos mais comuns, tais como: unidade versus pluralidade, humanidade, paidea  (educação-cultura), e a diversidade de religiões.

Aqueles pensamentos e respostas diversas influenciaram o pensamento dos cristãos do segundo século.

Os temas do segundo século giram em torno de cinco desafios:38 Criador e

criação, natureza humana e destino, identidades de Jesus, o lugar da Igreja no mundo, os cristãos e a sociedade. Havia uma frustração entre os cristãos, porque seu Senhor não voltara imediatamente após ascender aos céus.39

O martírio também foi um fator importante na história cristã no segundo século. Muitos cristãos sofreram por causa de sua fé, contudo, alguns não foram reputados dignos de sofrerem, devido ao seu ponto de vista sobre o corpo de Cristo

32

Taciano foi a figura mais conhecida no encratismo do segundo século. Um antigo discípulo de Justino Mártir e importante personalidade como o criador do Diatessaron [uma harmonia dos Evangelhos]. (Ver EUSEBIUS HE 

iv.xxviiif. p.395ss.).

33

Contra Haereses i.xxvi.i. Tomo I. p.220.

34A Nova Profecia ficou conhecida no quarto século como Montanismo. Eusébio (

 HE  v.iii.4.p.443) afirma que o

 partido de Montano [a)mfi\ to\n Montano\n] e outros partidos acreditavam que eles também fossem profetas.

35“uma religião sincretista e filosófica que floresceu por cerca de quarto séculos, paralela ao Cristianismo

 primitivo... gnosis (, ‘conhecimento’) … ” (METZGER, 1997, p.76).

36O termo

católico/a,usado neste artigo, refere-se ao cristianismo oficial (ortodoxo).

37LAMPE (1978, p.28). 38WAGNER (1994, p.65). 39WAGNER (1994, p.7).

(6)

e sua cristologia. Plinio,40 o Jovem (c.62-113 d.C.), citado por Bettenson, registrou seu próprio tratamento dos suspeitos: “Eu lhes pergunto se são cristãos. Se eles admitem, eu repito a pergunta uma segunda e uma terceira vez, ameaçando-os com uma punição capital; se eles persistem eu os sentencio à morte. […] outros, que eu exibo como loucos, reservo para serem enviados a Roma, desde que sejam cidadãos romanos.” É evidente que perseguições contra cristãos, sejam ortodoxos ou heréticos, não ocorreram ininterruptamente. De acordo com  Alguns atos autênticos dos primeiros mártires,41 houve épocas de considerável paz, por ocasião

da perseguição romana. A causa principal de perseguição não era generalizada, mas um sentimento de indisposição contra os cristãos de certas localidades.

Depois de delinear algumas características significativas e tendências da cristandade do segundo século, a segunda parte deste artigo abordará a preocupação crescente a respeito da autoridade dos escritos cristãos no segundo século.

3. O DSENVOLVIMENTO DOCÂNONE DO NOVO TESTAMENTO

O desenvolvimento do cânone do Novo Testamento foi progressivo e de suma importância para determinar o tipo de literatura autoritativa da igreja cristã primitiva.

A. Definição

A palavra cânone vem do grego kanw/n (kanon) e do hebraico hnq (qanah) e

significa literalmente junco. Num sentido metafórico, como usado por Orígines, por

exemplo, cânone significa regra de fé.42 É este sentido último que será considerado

neste artigo. Os escritores do Novo Testamento não usaram o termo cânone como

este é conhecido hoje em dia. De acordo com Schneemelcher 43 há apenas quatro

ocorrências do vocábulo cânone  no Novo Testamento, mas não como uma

designação para Bíblia, uma vez que este sentido só pode ser confirmado a partir da segunda metade do quarto século. No Novo Testamento, o termo cânone  ocorre

somente em Gálatas 6:16 [kano/ni],44  e em 2 Coríntios 10:13 [kano/noj], 15

40BETTENSON (1979, p.3). 41

Some Authentic Acts de the Early Martyrs. (1927, p.27s.).

42BRUCE (1991, p.86).

43SCHNEEMELCHER (1991, p.10s.). 44

(7)

[kano/na], 16 [kano/ni]. A Segunda Carta de Pedro 3:16 é, provavelmente, a mais antiga evidência para uma coleção de Escrituras cristãs,45 apesar da palavra kanw/n

não se aplicar nesse contexto.

Aland46 diz que primeiramente cânone significa “a regula fidei, e em seguida,

as decisões dos concílios, e finalmente, do quarto século em diante, a lista dos livros das Sagradas Escrituras…”. Aland insiste que a Igreja organizada não criou o

cânone. A Igreja só reconheceu como canônicos os livros que já eram aceitos como

autoritativos. É evidente, portanto, que a autoridade precede a canonicidade.

Vejamos as fontes que influenciaram ou corroboraram para a definição dos textos canônicos do Novo Testamento.

B. As Fontes

O uso que os Pais Apostólicos fizeram dos textos reputados como canônicos hoje, não é suficiente para afirmar que aqueles textos estavam disponíveis numa edição final em seu tempo. Schneemelcher 47 escreveu que “Na primeira metade do segundo século não havia ainda NT como uma coleção canônica.” O debate com o Gnosticismo provavelmente “compeliu a Igreja a refletir sobre a ‘verdadeira’ e ‘genuína’ tradição”.48

Trevett49 crê que não há citações reais e formais dos escritos do Novo Testamento nos Pais Apostólicos, mas somente paralelos. Para ilustrar, ela relaciona as Epístolas de Inácio de Antioquia com o Evangelho de João (Ef. 5:2 com Jo. 6:33; Ef. 17:1 com Jo. 12:33; Magn. 7:1 com Jo. 5:19,30 e 8:28; Rom. 7:2 com Jo. 4:10; Rom. 7:3 com Jo. 6:33; Fil. 7:1 com Jo. 3:8). Inácio conhecia as tradições embasadas nos Evangelhos e também os paralelos de tradições não evangélicas. Inge50  também afirma que nenhuma das referências de Inácio aos livros do Novo Testamento é citação direta. Elas podem ser citações de memória; alusões; adaptações; ecos; semelhança; reminiscência; coincidência. Quando Inge compara a Carta de Inácio aos Efésios 18:1 com 1 Coríntios 1:18,20, ele diz que: “Inácio está citando São Paulo, e isto se torna mais certo pelo eco de I Cor.1.18 na sentença

45WILLIAMS (1991, p.83). 46ALAND (1962, p.18). 47SCHNEEMELCHER (1991, p.19). 48SCHNEEMELCHER (1991, p.22). 49TREVETT (2001, in loc.). 50INGE (1905, p.63ss.).

(8)

precedente”. Inge acredita que Inácio alude a todas as Cartas de Paulo, Atos, Hebreus, 1 Pedro e aos quatro Evangelhos. Ele também sugere que havia uma tradição cristã comum e outras fontes além dos escritos do Novo Testamento onde Inácio poderia se basear.51  Apesar da tradição cristã não ser citada nem referida como Escritura, há evidência de interesse nisso.

C. As Escrituras judaicas e a literatura cristã

Quando o assunto é o cânone do Novo Testamento, a seguinte questão deve

ser respondida: Que fatores suscitaram um interesse crescente em literatura cristã autoritativa (‘canônica’), no segundo século? Uma questão secundária, em que

critérios foram alguns livros selecionados e alguns rejeitados, também será considerada neste artigo.

Os dilemas principais do segundo século não incluem diretamente o tema do

cânone. No segundo século as grandes questões da cristandade são embrionárias.

No entanto, como Lampe52 afirma, “os Pais Apostólicos e alguns escritos do Novo Testamento são imprescindíveis como evidência para a história da doutrina no fim do primeiro século e na primeira metade do segundo.” Os dilemas que surgiram levaram as igrejas a refletirem sobre o material escrito em circulação.

Diferentes gêneros de textos tais como: Evangelho, história, sabedoria, apocalipticismo, apologias, e martiriologias apareceram na segunda metade do primeiro século e no segundo século. Todos eles foram escritos supostamente para o benefício da Igreja [compostos dentro de uma variedade de cristandades]. Além disso, havia “uma enorme e variada provisão de literatura Judaica do período de 300 a.C. a 100 d.C.”,53 e a Apocrypha do Antigo Testamento. Schneemelcher 54 diz que “a

palavra ‘apócrifo’ não se apresenta primeiramente em conexão com a história do

cânone, mas no conflito da Igreja com o Gnosticismo e outras heresias,” e nesse

contexto, significa literatura “escondida”.

Segundo Aland,55 a Epístola de Barnabé, a Epístola de Clemente, o Didache e o Pastor de Hermas foram contados por longo tempo como “canônicos”, nesse sentido, foram amplamente lidos nas igrejas. Não foram considerados em nenhum

51INGE (1905, p.81ss.). 52LAMPE (1978, p.23). 53BRUCE (1991, p.154s.). 54BRUCE (1991, p.14). 55ALAND (1962, p.26).

(9)

momento como literatura  apócrifa. Foi o interesse em apostolicidade que

determinou, finalmente, que esses escritos não se tornassem canônicos. O livro de Hermas, o Pastor, por exemplo, aparece no Cânone Muratoriano como um trabalho

para ser estudado privativamente. Só não foi considerado apostólico, porque fora escrito bem mais tarde.56

As Escrituras judaicas não foram fixadas na forma canônica até o fim do primeiro século. Williams57  diz que somente a Torah  estava fixada e aceita como

autoritativa por todos os judeus do tempo de Jesus. Os fariseus usaram tanto a Torah quanto os outros escritos judaicos, i.e., os Profetas e os outros escritos que agora são canônicos. Outros (e.g. os Essênios) provavelmente usaram uma variedade maior de escritos. O cânone  judaico foi estabelecido pelos rabinos [de

tradição farisaica], depois da queda de Jerusalém.58

Em paralelo com o fechamento do cânone  judaico, um corpo de escritos

cristãos emergiram. Por algumas vezes, nos escritos dos Pais Apostólicos tais como

a Epístola de Inácio aos Filadélfios,59 a Epístola de Clemente, a Epístola de Barnabé

e o Didache, encontra-se o termo Evangelho [Gr. eu)agge/lion e Lat. evangelium =

boas Novas]. Contudo, esses textos “não podem ser usadas como evidência para um uso primitivo do termo ‘Evangelho’ como uma designação de um documento escrito.”,60  os Evangelhos se originaram de uma tradição oral.61  Mas os quatro Evangelhos (agora canônicos) existiam provavelmente antes do ano 100. Além disso, os Gnósticos reivindicavam ter recebido ensinos secretos do próprio Jesus, de onde alguns evangelhos adicionais foram compostos.62  Os quatro, junto com os evangelhos de outros grupos, Atos associados com os apóstolos Paulo e André etc.,

e escritos apocalípticos (e.g. o Apocalipse de Pedro) foram adicionados a um corpo considerável de escritos cristãos.

O cânone não foi definido aleatoriamente. Levou-se em consideração, além dos fatos relatados até aqui, importantes critérios para se escolher quais escritos tinham o caráter de Escritura e quais não tinham.

56HAHNEMAN, Gedefrey Mark.

The Muratorian Fragment and the Development of the Canon. Oxford:

Clarendon Press, 1992, p. 36s.

57WILLIAMS (1991, p.81s.). 58HALL (1991, p.25).

59Veja capítulos 5.1 [t%= eu)aggeli%=], 5.2 [t%= eu)aggeli/%; t%= eu)aggeli/%], 8.2 [t%= eu)aggeli%], e 9.2

[to\ eu)agge/lion; to\\ de\\ eu)agge/lion] como alguns exemplos do uso do termo Evangelho (p.124ss.).

60KOESTER (1990, p.17). 61GOODSPEED (1966, p.2s.). 62METZGER (1997, p.79).

(10)

D. Critérios de escolha

De acordo com Aland63  a formulação do cânone  em sentido real começa

cerca de 150 d.C. e vai até o quarto século e além. O cânone do Novo Testamento

“não deve ser considerado e discutido isoladamente, mas apenas em constante atenção ao cânone do Antigo Testamento.”64  Para Bruce,65  a lista dos livros do

Antigo Testamento “...redigidos por Melito, bispo de Sardis, ca. 170 A.D...” contém todos os livros conhecidos hoje como Antigo Testamento, com exceção do livro de Ester. Melito refere-se a esses escritos como os escritos do “antigo pacto”. Este é o primeiro uso desta ideia até onde se sabe, e subsequentemente os livros do “novo pacto” emergiriam. Orígines (185-254 d.C.), citado por Bruce,66 apresenta uma lista dos livros canônicos do Antigo Testamento como sendo vinte e dois livros:

os cinco livros de Moisés são seguidos por (6) Josué, depois (7) Juízes e Rute ... (8 e 9) os quarto livros dos Reis ... depois (10) Crônicas ... (11) Esdras e Neemias ... (12) Salmos, (13) Provérbios, (14) Eclesiastes, (15) Cântico dos Cânticos; (16) Isaias; (17) Jeremias com Lamentações e a ‘Epístola de Jeremias’ ... (18) Daniel, (19) Ezequiel, (20) Jó, (21) Ester. O livro dos doze Profetas foi omitido da sua lista em decurso de transmissão-acidental, naturalmente...

 A Epístola de Jeremias aparece, na lista de Origines, como autoritativa. Listas

similares foram apresentadas por outros escritores.

O Cânone  Muratoriano67  [descoberto pelo Cardeal L. A. Muratori –

1672-1750]68  não menciona Tiago, Hebreus e 1 Pedro como parte dos escritos autoritativos da cristandade. Entretanto, Hahneman69 afirma que isto “é inconclusivo devido à probabilidade de defeitos no Fragmento”. A composição desse Fragmento se deu entre 170 e 220 d.C. E é quase certo que seja um documento romano. A despeito desta conclusão de Hahneman, o Fragmento Muratoriano continua sendo uma evidência importante para o desenvolvimento do Cânone do Novo Testamento

no segundo século. O Fragmento pode ser datado no tempo de Pius, bispo de

63ALAND (1962, p.9). 64ALAND (1962, p.2s.). 65BRUCE (1991, p.91). 66

OrigenIn: BRUCE (1991, p.92).

67É o catálogo mais antigo de que se tem notícia. 68SCHNEEMELCHER (1991, p.34).

(11)

Roma, entre c.140 a 154 d.C. Ele menciona Hermas, irmão de Pius, como um “temporibus nostris”. Hahneman70 acredita que,

O Fragmento, conforme tradicionalmente datado, é pois uma anomalia em termos de seu conteúdo. Ele seria um dos mais antigos, senão a mais antiga testemunha para a adição das Pastorais à coleção paulina. … Se esses textos [1 Pedro, e talvez Tiago] estão simplesmente faltando no Fragmento, então o Fragmento representaria o mais amplo e mais antigo de tais coleções incluindo Epístolas católicas menores.

…O Fragmento Muratoriano claramente representa alguma coisa mais do que uma coleção, é mais amplo que isso. O Fragmento representa um

cânone fechado de coleção de escrituras. Isto delineia um grupo específico

de escritos que o fragmento expunha como aceitos pela Igreja Católica …

Na lista dos escritos aceitáveis aparece Sabedoria de Salomão71 e o Apocalipse de Pedro (como disputados). Entretanto, a Carta aos Hebreus, Tiago e Pedro não aparecem. Escritos tais como a Carta aos Laodicensses, Alexandrinos, e alguns trabalhos de Ársino, Valentino, e Miltíades aparecem, no Fragmento, como tendo sido claramente rejeitados pela Igreja Católica. O Pastor é apresentado como restrito à leitura privada.

Cabe aqui a pergunta: quais foram os principais critérios usados pelos cristãos primitivos na seleção de alguns livros e rejeição de outros? De acordo com Bruce,72  para ser parte do cânone  um texto tinha que ser reconhecido como

autoritativo em seu uso pelas pessoas, i.e., se o texto tivesse “recebido

reconhecimento geral canônico entre as igrejas em várias partes do mundo cristão ...”. Outro critério importante era se o texto [NT] teria sido escrito por um apóstolo. Contudo, esse critério não foi radical, “houve uma tendência de dar o benefício da dúvida a um livro cujo conteúdo conservava a fé dos apóstolos.”73

Muitos outros fatores fizeram a Igreja refletir sobre seu uso particular dos escritos da sua época e começarem a categorizá-los e a criticá-los. O questionamento do material judaico por Marcião, por exemplo, fez a Igreja se proteger contra o anti-judaísmo, e se decidir pelos escritos do  Antigo Testamento

como parte de seu próprio cânone. O surgimento de escritos com uma cristologia

70HAHNEMAN (1992, p.130s.).

71Além de Sabedoria de Salomão, a Igreja Católica atual aceita como dêutero-canônicos os livros de Tobias,

Judite, I Macabeus, II Macabeus, Eclesiástico, Baruc, e os textos contidos no final de Ester e Daniel, os quais não constam na Bíblia Hebraica.

72BRUCE (1991, p.87). 73BRUCE (1991, p.102).

(12)

questionável tais como o Evangelho dos Ebionitas74 levou o cristianismo ortodoxo

a se decidir por alguns escritos, em detrimento de outros, como parte do processo de se determinar o que era ensino aceitável e o que não era. O aparecimento de material pseudonímico ligado aos nomes de apóstolos tais como Atos de Paulo  [um

dos bons exemplos rejeitados por Tertuliano], e o Apocalipse de Pedro levantaram

um crescente interesse nos materiais apostólicos para assegurar confiança. Contudo, isto é uma espada de dois gumes, porque as pessoas poderiam estar produzindo mais escritos se utilizando do nome dos apóstolos. Alguns grupos tais como a Nova Profecia tiveram interesse em escritos particulares, o que fez com que

as Igrejas Católicas emergentes suspeitassem de tais escritos e a partir de então, um processo de defesa ou de crítica àqueles escritos pode ser visto.

No quarto século, Eusébio75 apresenta os escritos autoritativos e não-autoritativos em quatro categorias. Primeiro, a categoria dos livros reconhecidos [e)n

o(mologoume/noij], i.e., os livros genuínos: Os Evangelhos, Atos, Epístolas de

Paulo, 1 João, Epístola de Pedro e o Apocalipse de João. Segundo, os livros disputados [tw=n a)ntilegome/nwn]: Tiago, Judas, 2 Pedro, 2 e 3 João. Terceiro, os

não-genuínos: Atos de Paulo, O Pastor, o Apocalipse de Pedro, Carta de Barnabé, o Didache e o Apocalipse de João [aceito por alguns e rejeitado por outros]. Quarto, os escritos heréticos [ai(retikw=n]:76 Evangelhos de Pedro, Tomé, Matias; Atos de André

etc.

Irineu77  defende com ardor os quatro antigos Evangelhos como o único e exato número de Evangelhos para a Igreja. Ele compara seu número com a ordem correta da natureza.

Descrevemos a seguir o pensamento de alguns dos pais apostólicos que ajudaram na definição do cânon do Novo Testamento.

74Alguns Evangelhos foram produzidos além dos quarto Evangelhos canônicos, e.g. Evangelho de Filipe,

Evangelho de Pedro, Evangelho de Tomé etc. O Evangelho dos ebionitas é entendido como sendo o Evangelho de Mateus, que também era conhecido como Evangelho dos Hebreus. Os ebionitas eram vegetarianos e repudiavam o Apóstolo Paulo, chamando-o de apóstata da lei. (The Apocryphal NT: Begin the Apocryphal Gospels… p.8s.).

75EUSEBIUS (1992, p.257ss.).

76A despeito de muitos dos textos apócrifos serem considerados heréticos, há uma enormidade de evangelhos,

apocalipses, comentários bíblicos diversos e outros textos interessantes, esperando para serem lidos. Eles podem oferecer certas interpretações das Escrituras que ajudarão o leitor a compreender melhor certas passagens lacônicas. Os apócrifos podem ser lidos numa edição em português, em quatro volumes, publicada pela Mercuryo.

77

(13)

E. Melito, Taciano e Marcião

Melito, Taciano e Marcião são escritores do segundo século. O pai apostólico, Melito de Sardis, é importante para a compreensão do cânone do Novo Testamento.

Melito foi o primeiro a usar o termo “ Antigo Testamento”, no contexto de escritos em

discussão, como abordado anteriormente. Isso é significativo, porque Sardis foi a cidade com uma massiva presença de Judeus.78 Melito,79 em uma Carta a Onésimo, citado por Eusébio, afirma:

Desde que tu te mostras desejoso, em teu zelo pela verdadeira palavra [pro\j to\n lo/gon xrw/menoj], para ter extratos da Lei e dos Profetas [tou= no/mou kai\ tw=n profhtw=n] concernente ao Salvador ... tu desejas saber acuradamente os fatos a respeito dos antigos escritos [tw=n palaiw=n bibli/wn], quão numerosos são eles, ... os livros do Antigo Testamento [th=j palaia=j diaqh/khj bibli/a] ...”

Após dizer isto, Melito apresenta uma lista de quais livros eram canônicos para os judeus no segundo século. Ele menciona todos os livros do cânone do

Antigo Testamento conhecidos hoje, com exceção do livro de Neemias [provavelmente, formando um livro com Esdras], Ester e Lamentações [provavelmente, formando um livro com Jeremias].

Taciano, um escritor anti-helênico e discípulo de Justino, é também relevante para a compreensão do desenvolvimento do cânone  do Novo Testamento. A

despeito de Taciano ter sido considerado herético, por causa de seu Encratismo do tipo radical, ele foi também o primeiro a harmonizar os quatro Evangelhos. Ele “compôs de certa forma uma combinação e uma coleção dos Evangelhos [o(/pw tw=n

eu)aggeli/wn], e deu a isso o nome de O Diatessaron [to dia\ tessa/rwn] ...”.80 O

sírio Taciano fora educado ao estilo helênico. Em Roma, tornou-se um cristão atuante. Provavelmente, em 172 d.C., após um cisma com a Igreja de Roma “Taciano retornou ao Oriente, onde se tornou o fundador de uma seita, conhecida como os Encratistas [‘] (i.e. ‘os auto-disciplinados’).”81

“Harmonias” dos Evangelhos mostram que escritos estavam sendo produzidos com propósitos didáticos – para tornar as narrativas práticas. Elas também indicam que a ideia dos 4 Evangelhos, o que em parte teria sido uma resposta ao Marcionismo, não foi necessariamente a norma. Se uma pessoa

78KRUGER (1897, p.124). 79Melito In: EUSEBIUS (

 HE iv.xxvi.13,14. p.393).

80EUSEBIUS (

 HEiv.xxix.6. p.397). Diatessaroné uma palavra grega que significa literalmente por quatro.

(14)

quisesse viver uma vida celibatária, e encorajar outros a isso, usaria algum texto do tipo Atos de Paulo e Tecla, ou mesmo a literatura do Pseudo-Clementino. Eusébio82 afirma que as ideias do blasfemo [th\n blasfhmi/an] Taciano, chamadas de Encratismo, procede de Saturnino e de Marcião.

Marcião trouxe um novo ensino a Roma circa 140 d.C. Esse novo ensino é

muito importante para o entendimento do cânone, porque Marcião delineou seu

próprio cânone  das Escrituras, antes de qualquer outro, e chamou isso de O Evangelho e O Apóstolo. O bispo de Sinope, pai de Marcião do Ponto [Marcion Ponticus], o excomungou. Por causa disso, Marcião foi para Roma. Kruger 83

apresenta Marcião como um bem-sucedido criador de ovelhas, o qual tinha uma concepção anti-judaica da cristandade. Para Tertuliano,84 Marcião foi o herético do Ponto, um “irmão” que se tornou um “apóstata”. Ele foi mais selvagem do que as bestas feras.85 Antithesis é provavelmente o único trabalho de Marcião.86 Foi escrito,

como Goodspeed87 afirma, mais ou menos na metade do segundo século d.C.

Em organização e escritura, o cristianismo padrão aprendeu muito de Marcião, e sua influência pode ser traçada no esforço posterior de se organizar a cristandade em um grande corpo, e aderir as Cartas de Paulo à sua escritura. Marcião foi o primeiro homem, até onde sabemos, a atentar para essas coisas.

Como Bruce88 aponta, Marcião baseou seu Evangelho em Lucas e “de acordo

com sua crença de que Jesus foi um ser sobrenatural que apareceu de repente entre os homens com a mera semelhança de humanidade...” ele omitiu das narrativas lucanas o nascimento, a genealogia, o batismo e a tentação de Jesus, e o ministério de João Batista. Marcião também rejeitou o Deus de Israel e o Antigo Testamento. Seguindo essa linha de pensamento, ele omitiu todas as referências ao Antigo Testamento em seu cânone, O  Apóstolo, o qual se baseia nas Cartas de

Paulo. Hall89 afirma que Marcião não rejeitou os escritos do Antigo Testamento. Pelo contrário, ele aceitou-os como revelação divina, mas interpretou o Antigo Testamento literalmente [ele condenou o método alegórico de interpretação que era

82EUSEBIUS (

 HEiv.xxviii,xxix.1ss. p.395).

83KRUGER (1897, p.78). 84

 Against Marcion. TERTULLIAN In: Ante-Nicene Fathers. (1995, p.271s.).

85TERTULLIAN In: Ante-Nicene Fathers. (1995, p.271s.). 86METZGER (1997, p.91).

87GOODSPEED (1966, p.109). 88BRUCE (1991, p.99s.). 89HALL (1991, p.37s.).

(15)

popular em sua época].90 De acordo com suas interpretações, ele negou o Deus do Antigo Testamento como o Deus e Pai de Jesus Cristo. Além disso, ele acreditava que “os livros do nosso Novo Testamento são um falso amálgama do evangelho de Jesus com os princípios do Criador”. Por alguma razão obscura, Marcião não usou as Cartas de Paulo a Timóteo e Tito em seu mini cânone. Talvez porque ele não as

conhecesse, ou não as considerasse como Cartas de Paulo. Mais tarde, os seguidores de Marcião as usaria normalmente.91  Marcião escolheu as Cartas de Paulo e o Evangelho de Lucas para seu particular cânone, pois encontrou neles

suporte para o seu entendimento de Deus, e sua interpretação a respeito da natureza de Jesus. É claro que ele teve que omitir algumas partes desses escritos.

Marcião fez “uma distinção entre o Supremo Deus de bondade e um Deus inferior de justiça, o qual foi o Criador e o Deus dos judeus. Ele reputava Cristo como o mensageiro do Deus Supremo.”92 Devido aos seus pensamentos, Marcião poderia ser considerado parte do movimento gnóstico. No entanto, Goodspeed93 acredita que Marcião nunca se tornou um completo gnóstico. Provavelmente, o melhor lugar para situá-lo seja entre os docetistas. Marcião teve como pano de

fundo a filosofia platônica do criador inferior, i.e., um demiurgo. Ele adotou também a

“abstinência sexual, uma dieta rigorosa, e comprometimento com o martírio quando diante de perseguição…”.94

Irineu,95  citado por Bettenson, diz que Marcião é um blasfemo, porque ele

insistia que Deus [o Deus do Antigo Testamento] era “um feitor de males que se deleitava com as guerras, inconstante no julgamento e auto-contraditório.” Tertuliano, Irineu, Justino e Teófilo de Antioquia, dentre outros, escreveram contra Marcião.96

Diferente de Marcião, Irineu, por exemplo, reconheceu como canônicos vinte dos vinte e sete livros do cânone do Novo Testamento conhecido hoje em dia, não

somente onze [mutilados intencionalmente] como Marcião reconhecera.97 Entretanto, como um precursor na criação de um cânone, Marcião é sempre digno de ser

90GOODSPEED (1966, p.110).

91Marcionismo foi um movimento de pelo menos dois séculos. 92METZGER (1997, p.91ss.).

93GOODSPEED (1966, p.111). 94HALL (1991, p.38).

95Irinaeus. In: BETENSON (1979, p.37). 96GOODSPEED (1966, p.110s.).

(16)

considerado. Williams98 afirma que Marcião “foi o primeiro a propor um especial e exclusivo Cânone  Cristão.” O trabalho de Marcião forçou as igrejas a definirem a

natureza de seus escritos e a refletirem sobre os textos religiosos produzidos desde o tempo de Moisés.

É praticamente impossível falar do desenvolvimento do cânone das Escrituras

sem falar de ortodoxia e heresia.

F. Ortodoxia e heresia

Bauer,99  citado por Hall, afirma que “heresia precede ortodoxia, no sentido que desde o início nos deparamos com um grande e diferente número de organizações e doutrinas frequentemente competitivas.” Ehrman100  diz que: “Não havia ainda uma ‘ortodoxia estabelecida’, ou seja, nenhum sistema teológico básico reconhecido pela maioria dos líderes da Igreja e dos leigos. Diferentes igrejas locais tinham diferentes compreensões da religião, enquanto diferentes entendimentos da religião estavam presentes inclusive dentro de uma mesma igreja local.” Depois que a palavra heresia tornou-se claramente distinta da ortodoxia, Simão, o Mágico, o pai de toda heresia, foi contrastado com Pedro, o pai da proto-ortodoxia,101  e muitas heresias foram tidas como descendendo dele.

Dionísio de Corinto é um bom exemplo da preocupação dos escritos cristãos e sua integridade no segundo século. Ele se preocupava com a falsificação de suas próprias Cartas, e acreditava que os Apóstolos do mal [tou= diabo/lou a)po/stoloi]

“as tinham preenchido [suas próprias Cartas] com joio, por deixarem de fora algumas coisas e acrescentarem outras. ...”. No entanto, quando Dionísio fala a respeito das Escrituras do Senhor como tendo sido também alvo de falsificação, não

afirma que os escritos sagrados tenham sido certamente falsificados, mas que isso é uma possibilidade. Diz ele: “... não é de se admirar que alguns tenham sido capazes de falsificar até mesmo as escrituras do Senhor...”. Dionísio excluiu seu próprio trabalho como escrituras.102  Os Apóstolos do mal”, mencionados por Dionísio, tiveram que ser contrastados com os “Apóstolos do Senhor”. Apostolicidade, portanto, foi um importante critério na aceitação ou rejeição dos mais diversos

98WILLIAMS (1991, p.85). 99Bauer In: HALL (1991, p.36). 100EHRMAN (1996, p.4). 101EUSEBIUS (

 HEii.i.12. p.109).

102EUSEBIUS (

(17)

escritos. Cullmann afirma que o cânone do Novo Testamento se formou não por adição, mas por eliminação.103

4. CONCLUSÃO

Responder as questões acerca de uma literatura cristã autoritativa (precursora do cânone) não é uma tarefa simples. À parte do cânone formal, como

Aland104 aponta, há um cânone auto entendido, i.e., um cânone dentro do cânone.

Muitos livros foram escritos no segundo século com as mais variadas interpretações e discussões de como a cristandade deveria ser e no que os cristãos deveriam acreditar. Em comparação com os escritos do Novo Testamento, esse tipo de literatura foi rejeitada como não autoritativa, ou como herética, incluindo aqueles escritos que afirmam que Jesus era em semelhança de homem (docetismo), e que não veio em carne, ou que ele era uma emanação ou uma figura redentora que traria libertação de uma armadilha em que o homem estava inserido (Gnosticismo), ou que havia dois diferentes deuses etc. Os Cristãos eram contestados pelos judeus e pelos romanos igualmente. Eles precisavam de uma literatura autoritativa para se defender contra as acusações que lhes eram feitas. Esses e outros fatores suscitaram um interesse crescente em literatura cristã autoritativa (‘canônica’), no segundo século.

O fundador do Cristianismo não escreveu nenhum tipo de literatura, mas instruiu seus seguidores para espalharem o Evangelho [como boas novas] a toda parte. Eles pregaram não apenas verbalmente, mas alguns deles também escreveram o que experienciaram com seu Mestre.

A cristandade do terceiro milênio continua diversificada em muitos e diferentes modos. Protestantes e católicos, e.g., têm em comum os livros do cânone

hebraico e os livros do Novo Testamento. No entanto, a cristandade do terceiro milênio não está confinada a protestantes e católicos como dois grandes e únicos blocos de pensamento. Há uma vasta gama de Denominações cristãs, e ainda, variados métodos de interpretação das Escrituras. Aland105 afirma que os diferentes

103CULLMANN, Oscar.

 A formação do novo testamento. Tradução de Bertholdo Weber. São Leopoldo: Sinodal,

1982. p.114.

104ALAND (1962, p.29s.). 105ALAND (1962, p.32).

(18)

caminhos de seleção e interpretação que muitas confissões religiosas utilizam do

cânone  formal, de fato produz um  cânone dentro do cânone. Além disso,

consequentemente, esses novos cânones produzem diferentes confissões. Lutero,

por exemplo, em sua tradução do Novo Testamento, colocou “a Epístola aos Hebreus, a Epístola de Tiago, Judas e o Apocalipse como apêndices, explicando expressamente que eles não pertenciam aos ‘certos, próprios e principais livros do Novo Testamento’…”.106

Há, sem dúvida, um cânone formal das Escrituras. A Igreja do terceiro milênio

não tem autoridade suficiente para modificar isso. A Igreja pode até criar um cânone dentro do cânone, mas não deveria negar ou inserir novos escritos como canônicos

hoje.

O trabalho dos escritores do Novo Testamento, e dos Pais Apostólicos do segundo século e de outras épocas, culmina com os concílios do quarto século, estabelecendo assim, um cânone  formal das Escrituras que não deveria ser

invalidado.

Os critérios de aceitação ou rejeição dos livros que os líderes da cristandade usaram, não eram fórmulas matemáticas complicadas. Basicamente, um texto cristão para ser aceito como canônico, tinha que ser reconhecido como autoritativo em seu uso pelas pessoas, ter sido escrito ou estar relacionado com um apóstolo ou ter sido produzido na era apostólica.

Aland107 sugere que a formulação do cânone é providentia Dei. Isto significa

que o que está escrito nas Escrituras é o que Deus queria que fosse escrito. Esta é a crença dos cristãos “ortodoxos”108 do terceiro milênio.

As Escrituras são produto de uma parceria divino-humana. Os humanos registraram, ao seu modo, conforme sua competência, estilo, debilidades, o que o divino aprovava. Os textos, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, independente de autoria, data, de prováveis acréscimos ou supressões, devem ser imprescindíveis para se encontrar respostas sempre atualizadas e transformadoras, seja por parte de um leitor solitário, das igrejas, ou das comunidades nas quais o cristão está inserido.

106ALAND (1962, p.30) . 107ALAND (1966, p.33). 108O termo

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