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Palavras-chaves: História local. História oral. Memória. Identidade.

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Academic year: 2021

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Resgatando a História da Comunidade Cerquinha, valorizando nossas raízes Nórbia Ribeiro da Costa Boa Sorta*

RESUMO: O presente artigo resulta de algumas reflexões desenvolvidas em torno do projeto “Resgatando a História da Comunidade Cerquinha, valorizando nossas raízes”, projeto este realizado no Colégio Municipal Ana Rosa Magalhães, situado na comunidade rural de Cerquinha, no município de Igaporã-Ba. Esse projeto buscou um ensino voltado à história local, valorização das memórias individuais e coletivas, permitindo aos alunos um protagonismo histórico, que vai além das suas percepções como sujeitos históricos, mas também de suas atuações como agentes pesquisadores da suas próprias história como da comunidade em que estão inseridos. Dessa forma, foi trabalhado com alguns conceitos históricos na sala de aula, como: fontes históricas, história oral, história local e sujeitos históricos; produzimos fichas de entrevistas para coleta de informações, assim como realizamos aula de campo e o material produzido pelos alunos foi apresentado num stand. Esse projeto produziu mudanças quanto ao sentido de lecionar e estudar História. Em lecionar porque abriu um leque de possibilidades a ser trabalhada na sala de aula, produziu um saber fazer conhecimento histórico específico, trabalhar um currículo para o interesse dos alunos, para a realidade deles e com isso levá-los a terem mais interesse na disciplina. Em estudar, porque a pesquisa histórica produz um desenvolvimento de raciocínio histórico, assim como a aquisição da capacidade de análise da relação presente-passado, produz uma história viva, que salta aos nossos olhos, que vai além da repetição dos conteúdos. A história local é uma importante ferramenta para a construção da cidadania.

Palavras-chaves: História local. História oral. Memória. Identidade.

A partir do projeto de ensino proposto pela Secretária Municipal de Educação de Igaporã: “Meu município tem história, educação e cultura”, foi desenvolvido o projeto interdisciplinar: “Resgatando a História da Comunidade Cerquinha, Valorizando nossas raízes” no Colégio

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Municipal Ana Rosa Magalhães, situada na comunidade rural de Cerquinha. Esse projeto possibilitou o desenvolvimento de metodologias que valorizou a história local a partir do uso da Memória individual e coletiva.

A história local está bastante em voga hoje. Desde as últimas década do século XX quando teorias e metodologias fortemente influenciadas pela Nova História, originada nos Annales, revisou a concepção de ensino no Brasil. A história positivista, linear, eurocêntrica que focava apenas nos grandes fatos, nas nações, nos grandes centros foi abrindo espaços para a história das minorias, dos marginalizados, como também para a história local.

Os historiadores brasileiros, nesse período, voltaram-se, influenciados pela Nova História francesa e pelos historiadores da moderna História Social Inglesa, para a abordagem de novas problemáticas e temáticas de estudo, sensibilizados por questões ligadas à história social, cultural e do cotidiano, sugerindo possibilidades de rever no ensino de 1° e 2° graus o formalismo da abordagem histórica denominada “tradicional”. (RIBEIRO, 2004. p. 85)

A partir de então, se evidenciou o desenvolvimento de pesquisas voltadas às especifidades locais, das experiências históricas, as histórias de diversos sujeitos, como por exemplo a história das mulheres, história dos alunos entre outras. E como diz Joana Neves, era “preciso abandonar aquele tipo de ensino que fazia da história um rol de nome/fato/data a ser decorado pelos alunos.” (2003, p.164).

Dessa forma, ainda hoje existe uma necessidade de superar o ensino de História na educação básica como simples repasse de informações, já que o conhecimento histórico é uma construção de vários sujeitos. Assim, cabe ao professor historiador a necessidade de elaborar projetos que abordem o cotidiano das pessoas, a história local e regional, assim também como o homem se organiza e se relaciona nas diferentes épocas e espaços que possibilite ao aluno a compreensão de sujeitos e protagonismo histórico, além de introduzir as dimensões de classes sociais e os conflitos decorrentes de interesses.

Partindo desse entendimento que o projeto “Resgatando a História da Comunidade Cerquinha, valorizando nossas raízes” foi desenvolvido. O projeto buscou uma proposta que permitisse um diálogo entre as diferentes disciplinas. Mas, a opção do presente artigo é abordar apenas nas metodologias utilizadas pela disciplina de História para o desenvolvimento desse projeto que buscou valorizar o cotidiano dos alunos.

A primeira ação do projeto foi voltada à apropriação dos alunos pelas concepções e conceitos de fontes históricas, História oral, História local e sujeitos históricos. Essas

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abordagens de forma inicial são de suma importância para que os objetivos do trabalho fossem alcançados.

Na atualidade, é consenso que fontes históricas são todos os vestígios deixados pelos homens, elas podem ser escritas, materiais, imateriais e orais. Embora nem sempre foi assim, as únicas fontes admitidas pela historiografia dominante positivista eram as fontes escritas, os documentos oficiais. Já que, apenas as comparações entre documentos que permitiam reconstituir os acontecimentos passados. Após a revolução historiográfica da Nova História, o universo das fontes foram expandido para o conhecimento que se tem hoje. Carla Bassanezi Pinsky diz que, “fontes têm historicidade: documentos que “falavam” com os historiadores positivistas talvez hoje apenas murmurem, enquanto outros que dormiam silenciosos querem se fazer ouvir. E que dizer da História oral, das fontes audiovisuais, de uso tão recentes?” (2008, p. 7)

Verena Alberti enfoca que a História oral é uma das recentes metodologias interdisciplinar, que vem obtendo sucesso entre os historiadores, antropólogos, linguistas e psicólogos. A autora mostra as relações da História oral com a História do tempo presente, com a memória, com a narrativa e com o sujeito na história. (in: PINSKY, 2008)

Como já foi dito que na perspectiva positivista que perdurou por muito tempo, a história privilegiava o escrito em prejuízo do oral, assim também como o passado mais remoto em detrimento de temas recentes, pois se tinha o entendimento que era preciso o distanciamento do objeto estudado com o historiador/pesquisador, como garantia da imparcialidade do mesmo. Esses paradigmas foram se modificando, autores como Boaventura, Veyne e Keith Jenking corroboram que o conhecimento é pessoal, cheio de valores, de perspectivas ideológica e epistemológica e que isso une o pesquisador ao objeto estudado.

Temas contemporâneos foram incorporados à História, chegando-se a estabelecer um novo campo, que recebeu o nome de História do tempo presente; passou-se a valorizar também a análise qualitativa, e o relato pessoal deixou de ser visto como exclusivo de seu autor, tornando-se capaz de transmitir uma experiência coletiva, uma visão de mundo tornada possível em determinada configuração histórica e social. (ALBERTI in: PINSKY, 2008, p. 163)

Opondo-se à História positivista do século XIX, a História oral tornou-se contra-História, a História do local e do comunitário (em oposição á chamada História da nação). Por trás desse movimento, estava a crença de que era possível reconciliar o saber com o povo e se voltar para a História dos humildes, dos primitivos, dos “sem História” (em oposição à História da civilização e do progresso que, na verdade, acabava sendo a História das elites e dos vencedores). (ALBERTI in: PINSKY, 2008, p. 157-158)

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Nessa perspectiva, o trabalho com fontes orais se aproxima com a história dos excluídos, a história dos bairros, história da periferia, história das comunidades dentre outras antes deixadas de lado. Verena Alberti aborda os procedimentos metodológicos que merecem a atenção e avaliação do historiador: os diversos recortes, a escolha dos sujeitos, a coleta dos depoimentos e das histórias de vida. Assim com a postura do historiador durante a gravação das entrevistas e os cuidados em passá-la para a forma escrita, abrindo caminhos para novas pesquisas através de “múltiplas histórias, memórias e identidades em uma sociedade.” (in: PINSKY, 2008, p. 162)

A história oral é hoje um caminho interessante para se conhecer e registrar múltiplas possibilidades que se manifestam e dão sentido a formas de vida e escolhas de diferentes grupos sociais, em todas as camadas da sociedade. (...) Entre as primeiras estão experiências feitas com alunos do ensino fundamental e médio, estimulados a entrevistar membros de sua família e de sua comunidade, como forma de tornar o aprendizado da História mais concreto e próximo. (ALBERTI, in: PINSKY, 2008, p. p. 164)

Dessa forma, os alunos foram mobilizados a responder questionários previamente estabelecidos pelo professor. O objetivo dessa etapa foi fazer uma sondagem, um mapeamento inicial para direcionar a pesquisa que seria feita pelos alunos. Em seguida, foram elaboradas fichas pelos alunos que serviriam para entrevistarem personagens da sua comunidade, relatando as histórias, as experiências de vida, o trabalho, a utilização dos seus espaços vividos no cotidiano, suas produções artísticas e culturais, a culinária da comunidade.

Nesse sentido, a memória é de suma importância, já que ela está relacionada na construção da própria identidade social, ou seja, “a memória não brota de indivíduos isolados, mas sim dos marcos de uma sociedade, da interação e do lugar que os sujeitos ocupam em um grupo social” (MAGALHÃES; ALMEIDA, 2011, p. 1).

A memória resulta de organização e de seleção do que é importante para o sentimento de grupo, de pertencimento em uma dada formação social, e esse processo discorre com muita disputa e relações de poder. Isso explica por que algumas memórias são exaltadas enquanto outras são esquecidas. Essas disputas em torno das memórias que serão perenizadas em uma sociedade são importantes para conhecer a própria sociedade. Como afirma Le Goff,

Tornarem-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismo de manipulação da memória coletiva. ( 1990, p. 404)

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Joana Neves apresenta os conceitos de história local e identidade social, que são concepções diferentes, mas que estão estreitamente ligadas uma a outra quando se refere a conhecimento histórico, ressaltando que a história local “é o espaço de ação por definição”. (1997, p.19)

História local refere-se ao conhecimento histórico, sob a perspectiva local, e pode significar: o local como objeto do conhecimento e/ou o local como referência para o conhecimento.

Identidade social, por sua vez, implica na consciência que se têm de si mesmo. Essa consciência supõe um reconhecimento de mundo (contexto) no qual se existe e atua. Portanto, por identidade social entende-se o reconhecimento de si próprio como sujeito da história (processo).E, na medida em que o sujeito da história é realizador de ações, ele é, também, objeto da história (ciência).” (NEVES, 1997, p.15)

Essas análises foram confirmadas na pesquisa feita pelos alunos. Ao vivenciar as memórias individuais e coletivas armazenadas na sua localidade, os alunos passaram a se identificar com uma história mais próxima, e assim se veem como parte do processo histórico, como sujeitos históricos. Produzindo novos saberes no ensino de História eles foram da teoria à prática com muita leveza. Circe Bittencourt diz

A identidade cultural de um país, estado, cidade ou comunidade se faz com memória individual e coletiva. Somente a partir do momento em que a sociedade resolve preservar e divulgar os seus bens culturais é que se inicia o processo de construção de seu ethos cultural e de sua cidadania. (...) O direito a memória como direito de cidadania indicam que todos devem ter aceso aos bens materiais e imateriais que representem o seu passado, a sua tradição, enfim a sua história.” (2009, p. 138)

Com todo o material da pesquisa nas mãos, foi realizada uma segunda seleção, o objetivo dessa seleção seria quais produções, personagens, lugares seriam destacados no stant na feira cultural promovida pela Secretaria Municipal de Educação. Na avaliação dessa etapa fica evidente uma falha no processo, as entrevistas deveriam ter sidos gravadas e não apenas manuscritas, a metodologia na captação das falas não permitiu captar as memórias de forma mais efetiva. Apesar dessa falha que não prejudicou o processo, principalmente porque os alunos não conhecem os métodos de transcrição, as gravações serviriam principalmente para salvaguarda de memórias tão importantes para a história da comunidade.

Em uma avaliação geral, a metodologia do projeto conseguiu os seus objetivos. Os processos foram bem planejados, bem executados, contando com ampla e variadas técnicas de ensino. Modificando velhas práticas educativas, possibilitando um currículo interativo,

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abrindo um leque de possibilidade do trabalho pedagógico que vai além das quatros paredes da sala de aula, além do que é proposto pelo livro didático, perpassando os espaços onde o aluno convive. Produzindo um saber fazer conhecimento histórico.

E assim, conseguir desenvolver em uma escola de Ensino Fundamental um ensino que privilegie a História local, que aproxima os alunos a sua realidade, do seu contexto, do seu cotidiano, da sua comunidade. Essas ações favorecem de forma imprescindível para o protagonismo dos alunos, como sujeitos históricos de forma consciente, que leve a valorização da sua comunidade e uma percepção que a sua realidade vivida não ocorre de forma isolada do mundo, mas que funciona como pequenas parte de um processo histórico global.

* Licenciada em História pela Universidade do Estado da Bahia- UNEB e aluna de pós-graduação no Mestrado Profissional em Ensino de História- PROFHISTÓRIA pela Universidade do Sudoeste da Bahia- UESB.

REFERÊNCIAS:

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes (Org.). O Saber Histórico na Sala de Aula. São Paulo: Editora Contexto, 2009.

BRASIL. MEC. BNCC – Base Nacional Curricular Comum. Brasília: SEE, 2017c. Disponível em: Acesso em: 08 abril. 2020

LE GOFF, Jacques. Memória. In: História e Memória. Campinas: São Paulo, Ed. UNICAMP, 1990.

MAGALHÃES, Lívia Diana R.; ALMEIDA, José Rubens Mascarenhas de. Memória, ideologia, História e Educação: relações simbióticas. In: LOMBARDI. José Claudinei; CASIMIRO, Ana Palmira Bittencourt S.; MAGALHÃES, Lívia Diana Rocha (Orgs.). História, Memória e Educação. Campinas:

Alínea. 2011.

NEVES, Joana. Reflexões sobre o ensino de história: discussão de algumas preposições de Jaques Le Goff. HISTÓRIA & Ensino, Londrina, V.9, p. 157-170, out. 2003.

NEVES, Joana. História Local e Construção da Identidade Social. Saeculum – Revista de História. João Pessoa: Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba, n. 3, jan./dez. 1997.

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NORONHA, Isabelle de Luna Alencar. Livro Didático e Ensino de História Local no Ensino Fundamental: Associação Nacional de História - ANPUH XXIV. Simpósio Nacional de História, 2007.

JENKINS, Keith. A história repensada. São Paulo: Contexto, 2004.

PINSKY, Carla Bassanezi. Fontes Históricas. 2. Ed., São Paulo: Contexto, 2008.

RIBEIRO, Renilson R. O saber (histórico) em parâmetros: O ensino da história e as reformas curriculares das últimas décadas do século XX. MNEME Revista de Humanidades, V. 05. N. 10, abr./jun. de 2004.

Referências

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