Título:Materiais de utilização residencial e domiciliar a partir da garrafa PET (Polietileno Tereftalado)
Autores: Wagner Braga Batista Will Robson (Departamento de Desenho Industrial, UFCG), José Geraldo Brito Cavalcante (Departamento de Desenho Industrial, UFCG), Cyro Visgueiro Maciel (Departamento de Desenho Industrial, UFCG).
Wagner Braga Batista
Área Temática: tecnologia sustentável 1 Introdução
As populações de baixa renda possuem péssimas condições de vida, no tocante a alimentação, higiene, moradia e saúde, sendo os principais fatores que contribuem para esta situação o desemprego e a educação.
Algumas comunidades obtêm a sua renda e alimentação decorrentes da coleta seletiva de lixo realizada nos depósitos municipais.
Ao longo do tempo, algumas dessas comunidades tiveram a preocupação de organizar o trabalho de coleta de lixo, visando a melhoria da condição de vida. Essas organizações, chamadas cooperativas, geram trabalhos através de ligações com empresas de reciclagem de lixo, criando assim uma foram de comércio entre essas cooperativas e as indústrias.
A produção das cooperativas consiste na comercialização do lixo bruto ou já reutilizado, e até mesmo beneficio em próprio ou da comunidade. Um dos produtos mais reutilizados pelas cooperativas são as garrafas PET, que são trabalhadas de várias formas, como materiais didáticos, móveis, embalagens, recipientes entre outros.
O enfoque deste artigo será baseado no desenvolvimento de produtos relacionados a moradia, saneamento e pequenos utensílios domiciliares, utilizando tecnologias rudimentares na produção dos mesmos.
2 Levantamento de dados
O reaproveitamento de garrafas PET é intenso principalmente pelas comunidades de baixa renda. O universo de produtos feitos a partir da garrafa PET é muito extenso e pode ter várias destinações, que vão de brinquedos até material de construção civil. As pesquisas foram realizadas não abordando apenas o universo de produtos existentes construídos em garrafa PET, mas também sobre outros aspectos que se tornam relevantes ao desenvolvimento deste artigo, como: pesquisa sobre especificações técnicas da garrafa PET e processamento da mesma, no que diz respeito a colagem, corte, moldagem por aquecimento e encaixe. Esses últimos já durante o processo de reaproveitamento.
2.1 Configurações comerciais da garrafa PET
Existem vários formatos e dimensões de garrafas. Para os formatos a serem desenvolvidos, apenas um formato atende as expectativas do desenvolvimento, que é a garrafa com forma cilíndrica quase em sua totalidade, pois a mesma não possui irregularidades, permitindo um aproveitamento satisfatório de sua estrutura.
2.3 Reciclagem
A reciclagem das embalagens PETs (Polietileno Tereftalado), como embalagens de refrigerantes está em ascensão no Brasil. O material, que é um poliéster termoplástico, tem como características, a leveza, a resistência e a transparência, idéias para satisfazer a demanda do consumo doméstico de refrigerantes e de outros produtos , como artigos de limpeza e comestíveis em geral. A evolução do mercado e os avanços tecnológicos têm impulsionado novas aplicações para PET reciclado, das cordas e fios de costura, aos carpetes, bandejas de frutas e até mesmo outras garrafas.
A reciclagem do PET é importante pois o material é de difícil degradação em aterro. Ele pode ser reciclado várias vezes sem prejudicar a qualidade do produto final.
Principais propriedades: boa resistência mecânica, térmica e química; boas propriedades de barreira, absorção de oxigênio de 10 1 20 vezes menor que nos plásticos “commodities”; e fácil reciclagem..
As aplicações do PET podem ser feitas na forma de garrafas, fibras, películas transparentes e altamente resistentes e como resina para moldagem.
Em São Paulo os plásticos correspondem a 23% do peso do lixo urbano. Na coleta seletiva, o PET representa em média 17% dos reciclados separados.
Os principais contaminantes do PET reciclado das garrafas de refrigerante são as colas utilizadas no rótulo e na base da garrafa. A maioria dos processos de lavagem não impedem que traços destes produtos indesejáveis permaneçam na garrafa. A cola age como catalisador da degradação hidrolítica quando o material é submetido à alta temperatura no processo de extrusão, além de escurecer e endurecer o reciclado.
A seleção pode ser feita pelo símbolo que indica o material ou pela cor (cristal, âmbar ou verde). No pré-processamento é preciso retirar os contaminantes, separando-os, por diferença de densidade e fluxo de água ou ar. Além do rótulo, tampa e base, devem ser retirados da sucata os resíduos de refrigerantes e demais detritos, por meio de processo de lavagem.
2.4 Processamento de reaproveitamento
Os processos que são utilizados no reaproveitamento de garrafas PET normalmente são o corte, a colagem e o encaixe.
O corte da garrafa PET pode ser feito com um estilete ou lâmina de corte semelhante.
A colagem pode ser feita por vários adesivos, como: cola de silicone, cola de contato ou de sapateiro, mas esta última satisfaz o processo devido a sua eficiência e baixo custo, viabilizando a atividade.
Já quanto ao encaixe, basta unir uma garrafa a outra. 2.5 Produtos existente feitos a partir da garrafa PET
Existem vários produtos, por isso citaremos apenas alguns como: parede de estufa para plantas, porta papel higiênico, lâmpadas, porta ferramentas, funis, pás, etc..
3 Desenvolvimento
As comunidades carentes enfrentam problemas diversificados, mas do ponto de vista das propostas de solução de alguns desses problemas através do reaproveitamento de garrafas PET, a moradia pode ser um alvo de estudo, uma vez que a mesma compõe um grave problema, não só em si, mas também na abordagem do seu contexto.
Dentre os itens constantes na fase de levantamento de dados, foram detectados alguns princípios que podem ser adaptados ou mesmo utilizados diretamente no tocante ao problema da moradia. Esses princípios são constituídos por processos de operação da garrafa PET, produtos existentes, técnicas e configurações desses produtos.
Um dos pontos que pode ser considerado em relação a moradia, e que por sua vez pode ter resolução estudada através da adaptação adequada de uma forma de reutilização da garrafa PET, são as telhas translúcidas; outro ponto a ser levado em conta são as tubulações para escoamento de esgoto; e também pequenos utensílios domésticos para decoração, como porta-retratos.
Neste desenvolvimento foram estudados técnicas, configurações e processamento da garrafa PET durante seu processo de reaproveitamento nos produtos a serrem desenvolvidos.
3.1 Telhas translúcidas a partir da garrafa PET
Foi observado durante a fase de pesquisa que seria possível o desenvolvimento de telhas translúcidas a partir da garrafa PET. Seu desenvolvimento pode ser justificado pelo baixo custo, tanto do próprio material PET, quanto pelos demais processos. Foram estudados para essa situação processos de corte, colagem e repetição de módulos.
Corte
As garrafas PET possuem uma marca ou vinco que se forma nas laterais opostas no sentido vertical da garrafa durante a fabricação da mesma. Esses vincos são amassados e posteriormente cortados como.
Colagem
A definição do processo de colagem foi obtida através de testes. A cola que teve um desempenho satisfatório foi a cola de contato, popularmente chamada de cola de sapateiro. Ela é passada em todas as bordas das duas partes recortadas da garrafa. O segundo passo é a espera da secagem necessária para que a película de cola de contato possa aderir a superfície da outra parte recortada.
Depois do módulo construído, outros módulos serão adicionados até atingir a dimensão desejada.
3.2 Tubulações para escoamento de esgoto
As tubulações são feitas a partir de garrafas PET cortadas e coladas umas nas outras, podendo se estender por até 6 metros de comprimento, sem perder o desempenho estrutural e nem as fixações.
Corte
O corte pode ser com um estilete ou qualquer ferramenta semelhante, podemos ainda utilizar uma serra de corte.
Colagem
A parte de colagem é feita com cola de sapateiro e uma ferramenta auxiliar em forma de cilindro para uma melhor fixação.
Encaixe
Encaixa-se a abertura menor dentro da abertura maior e então deixa secar, em seguida faz-se o mesmo com as outras peças até que a tubulação alcance o seu destino.
3.3 Porta retratos
Esses utensílios propostos passam apenas por um processo de corte e encaixe.l alguns desses utensílios podem ser aproveitados do recorte das garrafas usadas para a fabricação das telhas translúcidas e dos tubos para escoamento de esgoto.
Corte
Corta-se a parte de cima da garrafa, ou aproveita-se as sobras das garrafas já cortadas, de modo que esta fique um pouco inclinada; depois faz-se um corte transversal com uma serra de arco ou um estilete; por último coloca-se a fotografia neste corte.
Montagem
Divide-se o cilindro da garrafa em duas partes, e retira-se o excesso de material; em uma das partes faz-se cortes longitudinais nas extremidades (pouco maior que a fotografia a ser utilizada); a outra servirá como base do porta-retrato; por último passa-se cola na extensão das partes, com espessura aproximadamente de 2 cm, de modo que a parte superior, que tem os cortes, fique um pouco inclinada.
Resultados alcançados
Os resultados obtidos com o desenvolvimento deste artigo foram satisfatórios no que tange à eficiência dos produtos propostos, uma vez que atendem à demanda específica
da população para qual esses produtos se destinam, justificados pelo baixo custo de produção, facilidade de execução e fácil acesso a tecnologia necessária para este desenvolvimento. Outro ponto a ser destacado é o fortalecimento do desenvolvimento dos trabalhos de extensão realizados pela universidade em conjunto com essas comunidades. O benefício trazido mais especificamente para essas comunidades constituí-se de: possibilidade da melhoria das condições de saneamento das instalações residenciais, a minimização do consumo de energia elétrica em função do uso de telhas translúcidas produzidas com baixíssimo custo, e a redução do lixo gerado pelas garrafas PET nos depósitos municipais.
