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Desafios e expectativas

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Academic year: 2021

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Mesmo com a crise econômica de 2008/09, o setor de turismo vem apresentando, em âmbito mundial, um crescimento mode-rado. No Brasil, a situação não é diferente — as taxas variam de 4% a 5%, de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT). Segundo o Ministério do Turismo (MTur), o crescimento registrado no ano passado de 3,7% é três vezes maior que o do PIB nacional. O setor também foi responsável pela geração de 2,9 milhões de empregos em 2012. Com a aproximação dos grandes eventos esportivos que o país vai sediar, espera-se a amplia-ção desse número, assim como o fomento do mercado interno e o aumento do fluxo de es-trangeiros no país — em 2012, ingressaram no Brasil cerca de 5,7 milhões, contra 5,4 milhões em 2011 —, e das divisas aqui deixadas. Mas problemas como câmbio e infraestrutura ainda persistem e podem ser entraves

a esse crescimento. Desafios que se colocam ao lado de outro: o de firmar mundialmente a imagem do país como a de um importante destino, seja para o lazer ou para os negócios.

“A crise internacional im-pacta bastante no turismo, especialmente porque ele não é um gasto essencial, está logo entre os primeiros da linha de corte do orçamento familiar. Já o turismo internacional, que seria algo mais requintado, ele ainda está mais evidente nessa linha de corte”, destaca Luiz Gustavo Barbosa, da FGV Pro-jetos. Segundo ele, a tendência para localidades mais impacta-das é a de aumento do número de viagens de curta distância. “E isso prejudica muito o Brasil, que é um destino considerado de longa distância”, avalia.

Barbosa elenca ainda outro entrave: o setor de turismo demanda investimentos de áreas atingidas pela crise. “O segmento de aviação, por

exem-plo, é fundamental. Se você não tem investimentos, o número de acentos é reduzido e muitas vezes as empresas aéreas vão privilegiar rotas mais rentáveis. Nem sempre o Brasil vai estar nelas”, destaca.

O desafio é, então, ainda maior já que visa colocar o país entre essas rotas. O governo vem buscando tornar o Brasil atrativo e usa os grandes even-tos que acontecerão aqui como alavanca para isso. “Hoje, já somos um dos dez maiores pro-motores de eventos do mundo — em 2011, fomos o sétimo. Creio que após as copas das Confederações e do Mundo e as Olimpíadas esse será o principal legado. Além do turismo de lazer, o Brasil irá se consolidar como um país sede de grandes eventos globais, de turismo de incentivo, de corporações pro-fissionais e de empresas”, avalia Flávio Dino de Castro e Costa, presidente da Empresa Brasilei-ra de Turismo (EmbBrasilei-ratur).

Kalinka Iaquinto, do Rio de Janeiro

Desafios e expectativas

“Em 2012 tivemos um déficit de US$ 15,5 bilhões na conta turismo.

Os brasileiros deixaram lá fora mais de US$ 21 bilhões, e os estrangeiros

gastaram aqui algo em torno de US$ 6,6 bilhões”

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O dirigente ressalta que os investimentos públicos e priva-dos aplicapriva-dos no setor somam cerca de R$ 40 bilhões, sendo R$ 7 bilhões apenas para a área hoteleira. Isso além do que está sendo empregado em aeroportos, rodovias, portos, estádios e mobilidade urbana, investimentos que também ecoam junto à geração de emprego e renda. “O que é possível prospectar para além dos eventos é que acreditamos que a melhoria da infraestru-tura e da imagem brasileira leve a um crescimento do turismo”, pondera ao lembrar que o país espera para o mun-dial de futebol cerca de 600 mil estrangeiros. Barbosa, da FGV Projetos, concorda: “Há uma série de investimentos que ficaram ‘engargalados’ e que os eventos acabam antecipan-do que vão melhorar muito a atratividade do Brasil como destino turístico”.

Desigualdade de

receitas

O ideal, apontam, é que além de visitar o país, os visitantes estrangeiros passem a deixar volumes maiores de divisas

aqui. Atualmente a receita cambial do segmento é uma equação bastante desigual. O Boletim de Desempenho Econômico do Turismo, do MTur, elaborado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra que os gastos efetuados por turistas estrangeiros em visita ao Brasil no terceiro trimestre de 2012 somaram US$ 1,530 bilhão (2,13% a menos que os US$ 1,563 bilhão computados no mesmo período de 2011). Já os gastos dos brasileiros com viagens internacionais totaliza-ram US$ 5,637 bilhões, entre ju-lho e setembro do ano passado, redução de 5,10% em relação ao mesmo período de 2011. Um saldo negativo de US$ 4,107 bilhões. A corrente cambial turística (receita mais despesa) registrou queda de 4,47% em relação a 2011, fechando 2012 a US$ 7,167 bilhões.

“A balança está pesando para a saída de brasileiros. Ha-via uma demanda reprimida de décadas e hoje, num panorama econômico melhor, há uma espécie de realização dessa de-manda”, analisa Flávio Dino. E emenda: “Em 2012 tivemos um déficit de US$ 15,5 bilhões na conta turismo. Os

brasilei-ros deixaram lá fora mais de US$ 21 bilhões, e os estrangei-ros gastaram aqui algo em torno de US$ 6,6 bilhões”.

A oportunidade para alterar esse cenário tem sido buscada também junto aos brasileiros, mais especificamente aos da classe C, cada vez mais disposta a investir em viagens. Mesmo com uma queda registrada no ano passado, os brasileiros são responsáveis por um cres-cimento de mais de 10% ao ano das viagens domésticas. O problema reside em atrair esse público para destinos nacionais. A Sondagem do Consumidor — Intenção de Viagem, do Ins-tituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV) para o MTur, mos-tra que em novembro de 2012,

“Em 2012 tivemos um déficit de US$ 15,5 bilhões na conta turismo.

Os brasileiros deixaram lá fora mais de US$ 21 bilhões, e os estrangeiros

gastaram aqui algo em torno de US$ 6,6 bilhões”

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31,9% das pessoas pretendiam viajar num horizonte de seis me-ses, desses 75% manifestaram interesse em destinos nacio-nais (42,6% para o Nordeste, 26,5% para o Sudeste e 17,8% para o Sul) e 17,2% vontade de viajar para o exterior.

A aposta dos governos fede-ral, estaduais e municipais está em duas linhas mestras: investir em qualificação profissional e, por consequência, melhorar a qualidade dos serviços, além de ampliar os roteiros turísticos, interiorizando as opções de viagens e destinos.

O governo do estado do Rio de Janeiro é um dos que vem buscando incrementar a qualidade de seus serviços e da imagem da capital, muitas

vezes ligada à pobreza e à violência. “A manilha do tu-rismo trabalha desde projetos em saneamento em áreas de grande demanda turística como Búzios, a cursos de capacita-ção profissional no Morro do Alemão, ensinando inglês e espanhol para que você possa ter um receptivo dentro das co-munidades. Ou seja, você está trabalhando não só com infra-estrutura, mas com o reforço de mão de obra, com capacitação e requalificação”, diz Guto Graça, diretor de Marketing da Secretaria de Turismo do Estado do Rio de Janeiro, destacando o trabalho para formação de guias turísticos, a qualificação de taxistas e de ensino de idiomas para diversas categorias de trabalhadores.

Em Belo Horizonte (MG), o governo estadual em parceria com o município, o Senac e o MTur tem, neste ano, 511 pes-soas matriculadas no âmbito do Pronatec Copa (Programa Nacional de Acesso ao Ensi-no Técnico e Emprego) que oferece cursos nas áreas de viagem, eventos, gastronomia e idiomas. Paralelamente de-senvolvem cursos em

coopera-vezes ligada à pobreza e à violência. “A manilha do tu-rismo trabalha desde projetos em saneamento em áreas de grande demanda turística como Búzios, a cursos de capacita-ção profissional no Morro do Alemão, ensinando inglês e espanhol para que você possa ter um receptivo dentro das co-munidades. Ou seja, você está trabalhando não só com

infra-Os governos federal, estaduais e municipais investem em qualificação

profissional e, por consequência, melhora da qualidade dos serviços, além

de ampliar os roteiros turísticos, interiorizando as opções de viagens

ção técnica com as secretarias Extraordinária da Copa e de Trabalho e Emprego, com o sistema Fecomércio de Minas Gerais e com o Sesc e o Senac. “Esperamos até o final deste ano ter cerca de duas mil pes-soas capacitadas para a Copa”, informa Silvana Nascimento, secretária adjunta da Secretaria de Turismo de Minas Gerais. De acordo com ela, o estado espera receber no próximo ano cerca de 200 mil turistas estran-geiros, o que deve gerar 38 mil novos empregos e um aumento de 1% no PIB estadual.

No Paraná, estado em que a atividade turística vem crescen-do — em 2001, a receita gerada foi de US$ 554 milhões e, em 2011, chegou a US$ 3,8 bilhões —, especialmente no ramo de turismo de negócios e eventos, o mote da Copa do Mundo não tem sido deixado de lado. “Estamos trabalhando para oferecer aos visitantes estrutura adequada, segurança, opções de roteiros turísticos, reurbanização e embelezamento da cidade, com foco nos locais com maior movimento de turistas como ae-roportos, rodoviária, terminal de passageiros, além do entorno do

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Em 2012 o Rio de Janeiro sediou a Rio+20 e, na ocasião, foi constatado abuso de preços cobrados pela rede hoteleira. A Embratur, por determinação da Casa Civil da Presidência da República, acompanhou o problema e mediou o acordo que levou à redução de tarifas. Para que o mesmo não ocorra durante os próximos grandes eventos, o governo federal vem monitorando, quinzenalmente, as tarifas a fim de que o país prati-que valores da média internacional. “A não ser o caso de abusos flagrantes em

um regime de economia de mercado, o papel do governo é persuasivo, pois não se pode praticar nenhum tipo de tabela-mento. É inconstitucional

e ilegal. Mas é nosso dever zelar pela imagem do país e, por isso, estamos intensificando esse diálogo com o setor privado exatamente para evitar que fiquemos com uma imagem negativa, o que seria absolutamente desastroso”, diz Flávio Dino, da Embratur.

Outro problema que tem aparecido e que os governos têm descartado diz respeito à capacidade da rede hoteleira. O Ministério do Turismo estima que haverá uma oferta de leitos na ordem de 20% até as Olimpíadas, e que redes alternativas de aco-modação serão também utilizadas. Guto Graça, do Rio de Janeiro, destaca que em quatro anos a capa-cidade de número de leitos no estado aumentará em 28%. Minas Gerais segue a mesma linha, segundo a secretária adjunta de

Tu-rismo do estado, Silvana Nascimento, até o ano que vem a capital, Belo Horizonte, e a região metropolitana, passa-riam de 110 hotéis para 417, o que totalizará mais de 32 mil leitos. Paralelo a isso, o Ministério do Turismo criou o SBClass de-volveu as estrelas à hotelaria brasileira, sinalizando ao mercado e ao hóspede sobre a qualidade dos estabelecimentos.

De olho nos preços

TABELA DE DESEMBARQUES INTERNACIONAIS E DOMÉSTICOS 2010 2011 2012 Desembarques internacionais 5.809.505 9.018.507 9.236.947 Desembarques nacionais 49.570.980 79.244.256 84.863.693 Fonte: FGV e Abremar.

estádio. Em evento de grandes proporções e visibilidade como a Copa do Mundo, garantir a segurança é essencial”, ressalta Jackson Pitombo, secretário de Turismo do estado. E emenda: “Para o próximo ano utilizamos como referencial o estudo que prevê aumento de 12% no fluxo normal de visitantes estrangeiros no país. Pela proximidade dos países do Mercosul, o Paraná tende a levar mais vantagens que outros estados”.

E a qualificação não fica apenas na esfera governa-mental. A Associação

Brasi-leira de Agências de Viagens (Abav) acredita que o turismo nacional possa deixar de ser exportador e passe a focar o receptivo, ponto que leva à ne-cessidade de qualificação das agências e de seus agentes. “O turismo pode trocar a mão e as agências precisam se preparar para esse receptivo que vem aí. Uma preparação que passa por treinamento, tecnologia, redução de custo, capacitação, enfim, itens para melhorar ainda mais o segmento”, ava-lia Edmar Bull, vice-presidente da associação.

Interiorização do

turismo

Os ganhos oriundos dos grandes eventos devem ultrapassar as barreiras das capitais. Uma das metas dos governos é levar os turistas para o interior do país, inclusive, com parcerias entre estados, de modo a fomentar as economias de diversas regiões. Minas Gerais e Rio de Janeiro, por exemplo, desenvolvem uma parceria que inclui também São Paulo e Espírito Santo, o Sudes-te InSudes-tegra. “Um roSudes-teiro que Sudes-tem chamado muita atenção é o do café, que passa por fazendas

Os governos federal, estaduais e municipais investem em qualificação

profissional e, por consequência, melhora da qualidade dos serviços, além

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históricas de todos os estados. Esses roteiros têm feito bastante sucesso em termos de comercia-lização. Temos também novos roteiros como, por exemplo, o religioso, que começa aqui em Minas, na Serra da Piedade, e termina em Nossa Senhora Aparecida, São Paulo”, destaca Silvana Nascimento.

O mesmo ocorre no Sul. Pi-tombo diz que, paralelamente ao plano de divulgação de roteiros estaduais existe a possibilidade de o turista optar por roteiros integrados pelos estados que formam a Comissão de Turismo Brasil Sul do Codesul — Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. “O Paraná participa de sete dos nove roteiros integrados e oferece opções para todos os

segmentos: ecoturismo, turismo de aventura, turismo rural, sol e praia, turismo cultural e de negócios e eventos”, destaca.

“É a interiorização do tu-rismo, uma das metas que a Embratur trabalha para a Copa do Mundo. E a gente objetiva aumentar a permanência do turista, mas não apenas em uma mesma cidade. Que o turista possa se deslocar, consumindo a cadeia de produtos turísticos que o país oferece. Do turismo rural, de aventura, de praia, náutico, de lazer, de entreteni-mento, cultural e o religioso”, diz Graça, do Rio de Janeiro.

Competitividade

Os esforços do país têm tam-bém o objetivo de ampliar a competitividade do Brasil junto a outros mercados. Para isso, destaca Flávio Dino, da Embratur, é fundamental o oferecimento de bons produtos e serviços, itens que demandam bons preços. “Diria que, cres-centemente, a gente se equivale aos grandes mercados turís-ticos do mundo, seja quanto à qualificação de atrativos, preparação de muitas cidades, crescimento de investimentos.

O que é hoje a preocupação da ordem presente está exatamen-te no segundo pilar, que são os preços”, ressalta. Conforme o dirigente, a demanda, seja doméstica ou internacional, cresceu em proporção maior que o da oferta o que levou al-guns segmentos a pressionarem os preços para cima, especial-mente a aviação e o segmento de hotelaria.

“Estamos num estágio in-termediário, no que se refere aos dois pilares. No caso de bons produtos e serviços, diria que a tendência de qua-lificação é ainda maior devido aos investimentos públicos e privados que teremos. Com relação aos preços é o gran-de ponto gran-de interrogação, o grande espectro que ronda o crescimento do turismo no Brasil”. Flávio Dino destaca ainda que no horizonte dos desafios que o país precisa enfrentar estão, além da in-fraestrutura, da qualificação dos atrativos turísticos e dos recursos humanos, a promo-ção turística. “Precisamos fazer com que o mundo, de fato, conheça o Brasil, porque o Brasil ainda é imensamente desconhecido”, finaliza. segmentos: ecoturismo, turismo

de aventura, turismo rural, sol e praia, turismo cultural e de negócios e eventos”, destaca. rismo, uma das metas que a Embratur trabalha para a Copa do Mundo. E a gente objetiva aumentar a permanência do turista, mas não apenas em uma mesma cidade. Que o turista possa se deslocar, consumindo

“É a interiorização do turismo, uma das metas que a Embratur trabalha para

a Copa do Mundo. E a gente objetiva aumentar a permanência do turista,

mas não apenas em uma mesma cidade”

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