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Coordenação-Geral de Tributação
Solução de Divergência
nº 27 - Cosit
Data
5 de novembro de 2013
Processo
Interessado
CNPJ/CPF
A
SSUNTO:
S
IMPLESN
ACIONALATIVIDADES DE USINAGEM. ALÍQUOTAS.
Em tese, as atividades de usinagem, soldagem, tratamento e revestimento
de metais podem ser: (i) exclusivamente industriais, (ii) simultaneamente
industriais e serviços ou (iii) exclusivamente serviços.
De modo que devem ser tributadas pelo Anexo II da Lei Complementar nº
123, de 2006, quando exclusivamente industriais (i).
Caso sejam consideradas, simultaneamente, prestações de serviços (ii),
devem ser tributadas pelo Anexo II, deduzido da parcela correspondente ao
ICMS e acrescido da correspondente ao ISS prevista no Anexo III da
mesma Lei, conforme disposto no art. 18, § 5º-G.
Já quando realizadas por encomenda direta do consumidor ou usuário, na
residência do preparador ou em oficina, com preponderância do trabalho
profissional, constituem prestações de serviços sem operação de
industrialização (iii) e devem ser tributadas pelo Anexo III da Lei
Complementar nº 123, de 2006.
Dispositivos Legais: Lei Complementar nº 123, de 2006, art. 18, §§ 4º, 5º,
5º-B, IX e 5º-G; e arts. 4º, 5º, V e 7º, II, do Decreto nº 7.212, de 15 de
junho de 2010 (Ripi).
Relatório
Trata-se de representação formulada pelo servidor XXXXXXXXXX, lotado na
Delegacia da Receita Federal do Brasil em Joinville - SC, com base no art. 17 da Instrução
Normativa RFB nº 740, de 2 de maio de 2007, encaminhada a esta Coordenação-Geral de
Tributação (Cosit), pelo Chefe da Divisão de Tributação (Disit) da Superintendência Regional
da Receita Federal do Brasil na 9ª Região Fiscal (SRRF09).
2.
Segundo o servidor, a Solução de Consulta nº 382 da SRRF09/Disit diverge da
Solução de Consulta nº 168 da SRRF08/Disit. Transcrevem-se abaixo as respectivas ementas
apontadas como divergentes:
2.1.
Solução de Consulta SRRF09/Disit nº 382, de 29 de setembro de 2009:
ASSUNTO: SIMPLES NACIONAL
SIMPLES NACIONAL. USINAGEM. ATÉ 31 DE DEZEMBRO DE 2008.
Em tese, a atividade de industrialização sob encomenda pode ser: (i) simultaneamente indústria e serviço, (ii) exclusivamente indústria ou (ii) exclusivamente serviço.
Em relação aos fatos geradores ocorridos até 31 de dezembro de 2008, regra geral, a atividade de usinagem era considerada uma operação de transformação, i.e., industrial. Como tal, era tributada pelo Anexo II da Lei Complementar nº 123, de 2006. Caso ela fosse considerada, simultaneamente, uma prestação de serviços (o chamado “serviço de industrialização”), deviam ser feitos os ajustes de ICMS e ISS previstos no art. 79-D, da Lei Complementar nº 123, de 2006. Caso fosse uma operação exclusivamente industrial, esses ajustes não deviam ser feitos.
Já a atividade de usinagem realizada por encomenda direta do consumidor ou usuário, na residência do preparador ou em oficina, com preponderância do trabalho profissional, constituía prestação de serviços sem operação de industrialização. Nessas circunstâncias, era tributada pelo Anexo III da Lei Complementar nº 123, de 2006.
SIMPLES NACIONAL. USINAGEM. A PARTIR DE 1º DE JANEIRO DE 2009.
Para fatos geradores ocorridos a partir de 1º de janeiro de 2009, o serviço de usinagem, industrial ou não, passou a ser tributado sempre pelo Anexo III (cf.
art. art. 18, § 5º-B, inciso IX, da Lei Complementar nº 123, de 2006). SIMPLES NACIONAL. SUSPENSÃO DO IPI.
O regime de suspensão do IPI, de que trata o art. 42, incisos VI e VII, do Ripi não se aplica às pessoas jurídicas optantes pelo Simples Nacional, seja em relação às aquisições de seus fornecedores, seja no tocante às saídas dos produtos que industrializam.
Dispositivos Legais: Lei Complementar nº 123, de 2006, art. 18, §§ 5º, F e 5º-G, art. 79-D; Ripi, art. 4º, I, art. 5º, V, art. 7º, II; PN CST nº 127, de 1971; PN CST nº 450, de 1971; ADI RFB nº 26, de 2008.
ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL CONSULTA. COMPETÊNCIA FEDERAL.
Caso a atividade de um optante pelo Simples Nacional seja reputada uma operação industrial (tributada pelo Anexo II), a RFB não tem competência para responder a processos de consulta sobre dúvidas quanto ao fato de ela ser ou não simultaneamente um serviço. Isso porque se trata de matéria de interesse exclusivamente estadual e municipal, porquanto essa dúvida repercute apenas na necessidade ou não de se fazer os ajustes de ICMS e ISS previstos no art. 18, § 5º-G, e art. 79-D, da Lei Complementar nº 123, de 2006.
Dispositivos Legais: Lei Complementar nº 123, de 2006, art. 40; Resolução CGSN nº 13, de 2007, art. 3º, § 1º.
2.2.
Solução de Consulta SRRF08/Disit nº 168, de 20 de abril de 2010:
ASSUNTO: SIMPLES NACIONAL
A receita decorrente de atividade de prestação de serviço sujeita-se à tributação na forma do Anexo III da LC nº 123, de 2006, se não houver previsão expressa
de tributação na forma dos Anexos IV e V da referida Lei Complementar.
Na hipótese de atividade caracterizada como industrialização por encomenda,
serão tributadas na forma do Anexo II da LC nº 123, de 2006, as receitas que decorrerem de operação referida no art. 4.º do Decreto n.º 4.544, de 2002, e para a qual não haja previsão expressa de exclusão do conceito de industrialização, de forma que a atividade resulte em produto com incidência de IPI, mesmo que este produto esteja sujeito à alíquota zero ou seja isento.
Na hipótese de atividade caracterizada como industrialização por encomenda,
submetida à incidência simultânea de IPI e ISS, a respectiva receita sujeita-se à tributação na forma do Anexo II da LC nº 123, de 2006, deduzida a parcela correspondente ao ICMS e acrescida a parcela correspondente ao ISS prevista no Anexo III da mencionada Lei Complementar.
Declara-se a ineficácia de parte da consulta concernente à legislação do ICMS e do ISS.
Dispositivos Legais: LC nº 123, de 2006, arts. 17, 18, e 79-D, Anexos II e III; Resolução CGSN nº 13, de 2007, art. 3º, §§2º e 4º; Decreto nº 4.544, de 2002, arts. 4º, 5º e 7º.
Fundamentos
3.
A SRRF09 conclui que, a partir de 1º de janeiro de 2009, os serviços de
usinagem exercidos por microempresa (ME) ou empresa de pequeno porte (EPP) optante pelo
Simples Nacional passaram a ser tributados sempre pelo Anexo III da Lei Complementar nº
123, de 14 de dezembro de 2006. De forma diversa, a SRRF08 afirma que a atividade de
fabricação de esquadrias metálicas deve ser tributada na forma do Anexo III, quando a receita
decorrer da prestação de serviço sem operação de industrialização, e na forma do Anexo II,
quando a atividade exercida caracterizar-se como industrialização por encomenda, devendo ser
deduzida a parcela correspondente ao ICMS e acrescida a parcela correspondente ao ISS
prevista no Anexo III da mesma lei, na hipótese de submissão à incidência simultânea de IPI e
ISS.
4.
Há que se observar que, a rigor, as decisões confrontadas abordam matérias
distintas. Enquanto a SRRF09 trata dos serviços de usinagem, a SRRF08 discorre sobre
fabricação de esquadrias metálicas, mais especificamente, portas e janelas.
5.
A divergência de entendimentos, contudo, se dá de forma indireta, vez que as
duas SRRF tributam de forma diversa as atividades relacionadas no art. 18, § 5º-B, IX, da Lei
Complementar nº 123, de 2006, enquanto o tratamento tributário, em tese, deveria ser o mesmo
para todas as atividades ali descritas. Transcreve-se, abaixo, o art. 18, § 5º-B:
“Art. 18. O valor devido mensalmente pela microempresa e empresa de pequeno porte comercial, optante pelo Simples Nacional, será determinado mediante aplicação da tabela do Anexo I desta Lei Complementar.
(...)
§ 5º-B Sem prejuízo do disposto no § 1º do art. 17 desta Lei Complementar, serão tributadas na forma do Anexo III desta Lei Complementar as seguintes atividades de prestação de serviços:
I - creche, pré-escola e estabelecimento de ensino fundamental, escolas técnicas, profissionais e de ensino médio, de línguas estrangeiras, de artes, cursos técnicos de pilotagem, preparatórios para concursos, gerenciais e escolas livres, exceto as previstas nos incisos II e III do § 5o-D deste artigo;
II - agência terceirizada de correios; III - agência de viagem e turismo;
IV - centro de formação de condutores de veículos automotores de transporte terrestre de passageiros e de carga;
V - agência lotérica; VI - (REVOGADO) VII - (REVOGADO) VIII - (REVOGADO)
IX - serviços de instalação, de reparos e de manutenção em geral, bem como de
usinagem, solda, tratamento e revestimento em metais;
X - (REVOGADO) XI - (REVOGADO) XII - (REVOGADO)
XIII - transporte municipal de passageiros;
XIV - escritórios de serviços contábeis, observado o disposto nos §§ 22-B e 22-C deste artigo;
XV - produções cinematográficas, audiovisuais, artísticas e culturais, sua exibição ou apresentação, inclusive no caso de música, literatura, artes cênicas, artes visuais, cinematográficas e audiovisuais.”(Sem destaque no original)
6.
Portanto, a representação deve ser conhecida, uma vez que encontra amparo no
art. 17 da Instrução Normativa RFB nº 740, de 2 de maio de 2007. Configurada a divergência
entre as soluções dadas a consultas sobre o mesmo assunto, torna-se necessária a solução, a fim
de que seja uniformizado o entendimento sobre a matéria e de impedir que o mesmo fato seja
tributado de forma diversa, pois isso contraria o princípio da isonomia tributária, previsto no
art. 150, inciso II, da Constituição Federal.
7.
A SRRF09 fundamenta sua decisão aduzindo suposta imprecisão hermenêutica
tributar pelo Anexo III um serviço sobre o qual não incidem as vedações do art. 17, caput, não
há necessidade de citá-lo expressamente nos incisos do § 5º-B, pois ele será tributado por esse
Anexo via art. 17, § 2º, c/c art. 18, § 5º-F.
7.1.
E pondera acerca das alterações introduzidas pela Lei Complementar nº 128, de
19 de dezembro de 2008, que submeteu tal atividade expressamente ao Anexo III: Assim, se a
previsão expressa do serviço de usinagem para o Anexo III fosse destinada apenas aos
serviços não industriais, a alteração legal nada acrescentaria ao regime anterior, (...) o teor
desse dispositivo seria reduzido à inutilidade, o que não é recomendável do ponto de vista
hermenêutico.
8.
Inicialmente, observa-se que as atividades de usinagem, soldagem, tratamento e
revestimento de metais, em geral, são atividades típicas de industrialização, visto que, em
geral, modificam a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalidade do
produto, ou o aperfeiçoa para consumo, conforme definido no art 4º do Decreto nº 7.212, de 15
de junho de 2010 (Ripi).
9.
No entanto, tais atividades não são consideradas industrialização se forem
enquadradas nas exceções estabelecidas pelo Ripi, com destaque, in casu, para o art. 5º, inciso
V, c/c art. 7º, inciso II, in verbis:
“Art. 5º Não se considera industrialização: (...)
V - o preparo de produto, por encomenda direta do consumidor ou usuário, na residência do preparador ou em oficina, desde que, em qualquer caso, seja preponderante o trabalho profissional;
(...)
Art. 7º Para os efeitos do art. 5º: (...)
II - nos casos dos seus incisos IV e V:
a) oficina é o estabelecimento que empregar, no máximo, cinco operários e, caso utilize força motriz, não dispuser de potência superior a cinco quilowatts; e b) trabalho preponderante é o que contribuir no preparo do produto, para formação de seu valor, a título de mão-de-obra, no mínimo com sessenta por cento.”( Sem destaque no original)
10.
Portanto, o preparo do produto por encomenda direta do consumidor ou usuário,
no caso previsto no art. 5º, inciso V, do Ripi, não será considerado industrialização, devendo
ser tratado exclusivamente como serviço.
11.
Assim, ao menos em tese, as atividades de usinagem, soldagem, tratamento e
revestimento de metais poderão ser: (i) exclusivamente industriais, (ii) simultaneamente
industriais e serviços ou (iii) exclusivamente serviços.
12.
De fato, o art. 18, § 5º-B, IX, da Lei Complementar nº 123, de 2006, fala apenas
industriais ou não. Entretanto, a interpretação de que tais serviços são sempre tributados pelo
Anexo III pode conduzir a uma aparente antinomia entre os parágrafos 5º, 5º-B, IX e 5º-G,
todos do art. 18, da referida Lei, in verbis:
Art. 18. O valor devido mensalmente pela microempresa e empresa de pequeno porte comercial, optante pelo Simples Nacional, será determinado mediante aplicação da tabela do Anexo I desta Lei Complementar.
(...)
§ 5º As atividades industriais serão tributadas na forma do Anexo II desta Lei Complementar.
(...)
§ 5º-B Sem prejuízo do disposto no § 1º do art. 17 desta Lei Complementar, serão tributadas na forma do Anexo III desta Lei Complementar as seguintes atividades de prestação de serviços:
I - creche, pré-escola e estabelecimento de ensino fundamental, escolas técnicas, profissionais e de ensino médio, de línguas estrangeiras, de artes, cursos técnicos de pilotagem, preparatórios para concursos, gerenciais e escolas livres, exceto as previstas nos incisos II e III do § 5o-D deste artigo;
II - agência terceirizada de correios; III - agência de viagem e turismo;
IV - centro de formação de condutores de veículos automotores de transporte terrestre de passageiros e de carga;
V - agência lotérica; VI – (REVOGADO) VII – (REVOGADO) VIII – (REVOGADO)
IX - serviços de instalação, de reparos e de manutenção em geral, bem como de usinagem, solda, tratamento e revestimento em metais;
(...)
§ 5º-G. As atividades com incidência simultânea de IPI e de ISS serão
tributadas na forma do Anexo II desta Lei Complementar, deduzida a parcela
correspondente ao ICMS e acrescida a parcela correspondente ao ISS prevista no Anexo III desta Lei Complementar.” (Sem destaques no original)
13.
Segundo Maximiliano, deve-se buscar a interpretação de maior utilidade prática
e mais em harmonia com a lei em conjunto, os usos, o sistema do Direito vigente e as
condições normais de coexistência humana (MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e
aplicação do direito. 19ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 111).
14.
Como é sabido, as atividades industriais estão sujeitas ao IPI. Ante a falta de
atividades industriais, há que se buscar este conceito na legislação do IPI, a saber, o art. 4.º do
Ripi, observadas as disposições do art. 5.º c/c o art. 7.º do referido Regulamento.
15.
Assim, em sendo a receita da empresa decorrente de operação referida no art. 4.º
do Ripi, e, não havendo previsão expressa de que a referida operação está excluída do conceito
de industrialização pelo art. 5.º do referido Regulamento, de forma que a atividade resulte em
produto com incidência de IPI, ainda que este produto esteja sujeito à alíquota zero ou seja
isento, deve ser utilizado, para o cálculo de tributos e contribuições abrangidos pelo Simples
Nacional, o Anexo II da Lei Complementar nº 123, de 2006, por força de seu art. 18, §§ 5º e
5º-G.
16.
A Receita Federal tem se manifestado que a incidência do ISS sobre
determinado serviço não impede a incidência do IPI. Vale verificar a Soluções de Consultas
abaixo, citadas a título ilustrativo:
“IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS - IPI
Incidência do IPI sobre serviços gráficos. É irrelevante para determinar a
incidência do IPI o fato de quaisquer serviços estarem catalogados na lista anexa ao Decreto-lei nº 406, de 31 de dezembro de 1968, ou que foram ou venham a ser posteriormente incluídos, desde que se caracterize a operação como de INDUSTRIALIZAÇÃO dentre as modalidades descritas no art. 4º do Decreto nº 4.544, de 26 de dezembro de 2002 (Regulamento do Imposto sobre
Produtos Industrializados - Ripi). A incidência do ISS não exclui a do IPI.” (Solução de Consulta Interna nº 4, de 7 de abril de 2003 - Cosit)
“RECONDICIONAMENTO DE PNEUS. INCIDÊNCIA DO IPI E DO IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA. POSSIBILIDADE DE
CONCOMITÂNCIA. As atividades de recapagem, recauchutagem e
recondicionamento de pneus usados configuram, como regra, operações de industrialização, sujeitando-se à incidência do IPI, sendo irrelevante o fato de haver, ou não, incidência do ISS, de competência dos municípios. Na hipótese
de a recapagem, a recauchutagem e o recondicionamento de pneus usados serem realizados por encomenda direta do consumidor ou usuário, na residência do preparador ou em oficina, desde que, em qualquer caso, seja preponderante o trabalho profissional, a operação não é considerada industrialização. Para esse efeito, oficina é definida como o estabelecimento que empregar, no máximo, cinco operários e, caso utilize força motriz, não dispuser de potência superior a cinco quilowatts e trabalho preponderante é considerado aquele que contribuir no preparo do produto, para formação de seu valor, a título de mão-de-obra, no mínimo com sessenta por cento (Solução de Consulta nº 188, de 5 de novembro de 2008 - SRRF06/Disit)”
“RENOVAÇÃO. RECONDICIONAMENTO. CILINDROS USADOS.
INDUSTRIALIZAÇÃO. ENCOMENDA DE TERCEIROS. A operação de revestimento de cilindros usados (revestimento com novos componentes elastoméricos), sob encomenda de terceiros estabelecidos com o comércio de tais produtos, caracteriza-se industrialização na modalidade de renovação ou recondicionamento. O estabelecimento que realizar a operação é considerado estabelecimento industrial, contribuinte do IPI e sujeito a todas as obrigações principal e acessórias do imposto. A incidência do ISS naquela operação
caracterizada como industrialização é inteiramente irrelevante para determinar a incidência, ou não, do IPI.
A operação de revestimento de cilindros usados não será considerada industrialização se estiver enquadrada nas hipóteses previstas no art. 5º, inciso
XI, do Ripi/2010, isto é, nos casos em que os produtos usados se destinem ao uso da própria empresa executora ou quando essas operações sejam executadas por encomenda de terceiros não estabelecidos com o comércio de tais produtos.” (Solução de Consulta nº 118, de 26 de abril de 2012 - SRRF08/Disit)
17.
Ademais, há que se salientar que não raro o legislador utiliza-se da lei para
dirimir dúvidas outrora existentes ou mesmo para se antecipar a eventuais incertezas, assim,
evitando-as. De sorte que nem sempre o intérprete possui acesso às razões do legislador. Essas
poderiam ser as razões do caput do § 5º-B do art. 18 ressalvar as pessoas jurídicas que exerçam
as atividades ali relacionadas das vedações do art. 17:
“Art. 17. Não poderão recolher os impostos e contribuições na forma do Simples Nacional a microempresa ou a empresa de pequeno porte:
I - que explore atividade de prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas a pagar e a receber, gerenciamento de ativos (asset management), compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring);
II - que tenha sócio domiciliado no exterior;
III - de cujo capital participe entidade da administração pública, direta ou indireta, federal, estadual ou municipal;
IV - (REVOGADO)
V - que possua débito com o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, ou com as Fazendas Públicas Federal, Estadual ou Municipal, cuja exigibilidade não esteja suspensa;
VI - que preste serviço de transporte intermunicipal e interestadual de passageiros;
VII - que seja geradora, transmissora, distribuidora ou comercializadora de energia elétrica;
VIII - que exerça atividade de importação ou fabricação de automóveis e motocicletas;
IX - que exerça atividade de importação de combustíveis; X - que exerça atividade de produção ou venda no atacado de:
a) cigarros, cigarrilhas, charutos, filtros para cigarros, armas de fogo, munições e pólvoras, explosivos e detonantes;
b) bebidas a seguir descritas: 1 - alcoólicas;
2 - refrigerantes, inclusive águas saborizadas gaseificadas;
3 - preparações compostas, não alcoólicas (extratos concentrados ou sabores concentrados), para elaboração de bebida refrigerante, com capacidade de diluição de até 10 (dez) partes da bebida para cada parte do concentrado; 4 - cervejas sem álcool;
XI - que tenha por finalidade a prestação de serviços decorrentes do exercício de atividade intelectual, de natureza técnica, científica, desportiva, artística ou cultural, que constitua profissão regulamentada ou não, bem como a que preste serviços de instrutor, de corretor, de despachante ou de qualquer tipo de intermediação de negócios;
XII - que realize cessão ou locação de mão-de-obra; XIII - que realize atividade de consultoria;
XIV - que se dedique ao loteamento e à incorporação de imóveis;
XV - que realize atividade de locação de imóveis próprios, exceto quando se referir a prestação de serviços tributados pelo ISS;
XVI - com ausência de inscrição ou com irregularidade em cadastro fiscal federal, municipal ou estadual, quando exigível.
§ 1o As vedações relativas a exercício de atividades previstas no caput deste
artigo não se aplicam às pessoas jurídicas que se dediquem exclusivamente às
atividades referidas nos §§ 5o-B a 5o-E do art. 18 desta Lei Complementar, ou
as exerçam em conjunto com outras atividades que não tenham sido objeto de
vedação no caputdeste artigo.” (Sem destaques no original)
18.
Teme-se, assim, que a interpretação dada pela SRRF09 possa reduzir à nulidade
o teor dos §§5º e 5º-G do art. 18, ao menos em relação aos serviços de usinagem, soldagem,
tratamento e revestimento de metais caracterizados como industrialização nos termos do Ripi.
19.
Ressalta-se que não pode existir jamais antinomia entre duas normas que
constem do mesmo diploma. Os artigos de uma mesma lei são todos contemporâneos, e,
portanto, não podem revogar uns aos outros. Normas contemporâneas, e da mesma hierarquia,
têm que ser compatíveis. Cabe ao intérprete buscar, com os instrumentos hermenêuticos, uma
interpretação que concilie as normas concomitantes e aparentemente antinômicas.
20.
Dessa forma, parece ser mais adequado interpretar o comando do art. 18, §5º-B,
IX, como sendo destinado apenas aos serviços não industriais, pressupondo que o legislador
complementar tenha entendido adequado e conveniente incluir, expressamente, nesse
dispositivo os serviços de usinagem, soldagem, tratamento e revestimento de metais e, assim,
dirimir eventuais questionamentos acerca da permissibilidade da prestação desses serviços por
ME e EPP optante pelo Simples Nacional.
20.1
De fato, tal recurso parece já ter sido utilizado pelo legislador complementar ao,
expressamente, incluir no Simples Nacional atividades para as quais não há vedação na Lei
Complementar nº 123, de 2006, como: serviço de transporte municipal de passageiros ou de
exibição cinematográficas (cinemas).
21.
Mantém-se, com essa interpretação, a razoabilidade na aplicação do Anexo II -
que é destinado às indústrias - a todas as receitas decorrentes de industrialização, conforme
disposto no § 5º do art. 18. Preserva-se a harmonia dos dispositivos da Lei Complementar nº
123, de 2006, em conjunto com os usos e o sistema tributário vigente, bem como se dá
utilidade à segregação de receitas determinadas pelo §4º do art. 18 da Lei Complementar nº
123, de 2006:
“Art. 18. O valor devido mensalmente pela microempresa e empresa de pequeno porte comercial, optante pelo Simples Nacional, será determinado mediante aplicação da tabela do Anexo I desta Lei Complementar.
(...)
§ 4º O contribuinte deverá considerar, destacadamente, para fim de pagamento:
I - as receitas decorrentes da revenda de mercadorias;
II - as receitas decorrentes da venda de mercadorias industrializadas pelo contribuinte;
III - as receitas decorrentes da prestação de serviços, bem como a de locação de bens móveis;
(...)
(Sem destaques no original)