OCORRENCIAS E SOLUcOES ADOTADAS NA RECONSTITUIcAO DAS SOLEIRAS DOS VERTEDOUROS DA U.H.E. DE PORTO PRIMAVERA
Eng° Jose Renato Arantes Andrade
Eng° Edvaldo Fabio Carneiro
Eng" Rubens Eid da Silva
Eng° Luiz Carlos Batista
CESP - Cia Energetica de Sao Paulo Caixa Postal 400
19274-000 - Primavera - SP
RESUMO
Apos varios meses de operacao dos Vertedouros de vaos rebaixados da UHE Porto Primavera, estes foram devidamente ensecados, visando o alteamento do perfil hidraulico. Estas atividades antecedem o enchimento do lago.
Na sequencia, com o ensecamento dos Vertedouros atraves de stop log, constatou-se a ocorrencia de erosAo generalizada nas soleiras, causada pelo material depositado (cascalho e rocha) oriundo da montante da ensecadeira, durante e apos o desvio de 2a fase do rio.
Este trabalho registra essa ocorrencia, bem como os danos causados nas soleiras, e relata os procedimentos utilizados e respectivos controles de qualidade utilizados para a recuperacao das mesmas.
1- INTRODUCAO
A Usina Hidreletrica Porto Primavera, pertencente a CESP Companhia Energetica
de Sao Paulo,
estasituada no Rio Parana a sudoeste do estado de Sao Paulo, na divisa com o
estado do Mato Grosso do Sul.
E uma barragem mista, constituida de aterro e concreto, com extensAo aproximada de 10.000 m em aterro compactado e estruturas de concreto, com extensao aproximada de
1.000 m e volume de 2.090 . 000 r r-. A potencia instalada prevista a de 1.800 MW, com 18 maquinas de 100 MW. Na figura 1, apresenta-se o perfil do vertedouro de superficie a ser alteado e recuperado .
O Vertedouro de Superficie da Usina compreende 16 (dezesseis ) vaos com
dissipador do tipo "roller bucket ", separados por muros laterais . Para possibilitar o desvio de 21
fase do rio, seisvaos,
contiguos a Barragem de Terra na margern direita ,foram
executados comsoleira rebaixada na elevacao 230,0 in. Os dez restantes foram construidos ja corn a crista da
soleira vertente naelevacao
definitiva (237,0 m).O desvio de 2' fase foi executado atraves de remocao de ensecadeiras do
Vertedouro e Tomada D'agua e fechamento do canal de desvio de 11 fase , transferindo deste
modo o fluxo d'agua pars o Vertedouro.
O alteamento de cads vao rebaixado a executado , nesta fase, atraves do seu
fechamento com "stop-log" (comportas ensecadeiras ) a montante e a jusante e esgotamento da
agua. Deste modo , alem da possibilidade do alteamento dos vaos rebaixados a possivel, a
execuaao de inspecao nas soleira e muros laterais.
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Figura 1 - Perfil do vertedouro de Superficie
2 - OCORRENCIAS
0 primeiro vao rebaixado do Vertedouro escolhido para o alteamento da soleira foi o VS.08 vao 16, adjacente a Barragem de Terra. Apes o ensecamento da regiAo , constatou-se grande quantidade de material oriundo da montante da ensecadeira (cascalho e rocha) no vao. Tal material, sob a acao do fluxo , provocou erosao generalizada na superficie do concreto, (soleiras e paredes). Podemos acrescentar as seguintes observacoes:
a) o montante de material rochoso (basalto , seixo rolado e arenito ) depositado na concha do "roller bucket " chegou a 1 . 800 m3;
b) na regiao da concha, a jusante da soleira, ocorreu
erosaoacentuada, com
exposicao de armadura, o que significa mais de 0,10 m de concreto erodido (espessura do recobrimento);c) o paramento de montante do vao foi erodido, principalmente junto ao muro lateral direito;
d) ocorreu desgaste generalizado no labio do "end-sill" (final da concha a jusante) e na regiao junto ao apoio das comportas ensecadeiras de jusante;
e) a montante da vedacao , nas proximidades do muro entre vaos 16 e 15, ocorreu erosAo acentuada, tal como na regiao da concha , acarretando a exposicao da armadura. A verificacao foi feita a partir de inspecao subaquatica.
No momento , ja foram recuperadas tres soleiras ( vaos 16,14 e 13 ) e encontra-se em fase de conclusAo , o vao 15.
De maneira geral, todos os vAos acima, tiveram ocorrencias de erosao e armaduras expostas ( vaos 14 e 15 ), conforme descrito nos itens "a" a "e" ( vao 16 ). Apos ensaio em modelo reduzido , determinou -se a abertura ideal de operacao da comporta stop-log, eliminando , quase que totalmente o material depositado nas conchal das soleiras , o que veio facilitar o trabalho de remocao do material remanescente , agilizando desta forma, o cronograma de recuperacao das soleiras.
3 - DANOS OBSERVADOS NAS SOLEIRAS
As regioes mais afetadas das soleiras foram: a concha defletora, regiao do labio do
end-sill e paramento de montante, onde ocorreram erosoes no concreto que variaram de 0,01 a
0,20 m de profundidade , sendo que o cobrimento da armadura, previsto em projeto, a de 0,10
m. Devido a acao abrasiva dos materiais rochosos , carreados pelo fluxo e depositados na
concha, estas regioes apresentaram desgaste do concreto , chegando ate a exposirao total da
armadura da 1 ° malha, com alongamento das mesmas e perda da sua capacidade resistente.
4 - PROGRAMA DE RECUPERACAO
Foram efetuados levantamentos topograficos, pars avaliacao do desgaste do concreto , causado pelo efeito abrasivo.
Conforme especificacao de projeto , a tolerancia da linha hidraulica de projeto pars o
desgaste do concreto, seria de 0 ,025 m e que a partir deste valor , haveria necessidade de serem
efetuados reparos.
A CESP, utilizando-se de sua experiencia em outras barragens , elaborou no inicio
da obra, a Especificacao pars Reparos , onde estAo contemplados, praticamente todos os tipos de danos causados ao concreto. A partir da delimitacao das areas a serem reparadas, deu-se inicio ao processo de recuperacao das soleiras, onde determinou - se duas formas para os reparos
concreto convencional e argamassa ( resina epoxi e silica fume).
Para execucao dos reparos utilizando argamassa com resins epoxi , ( erosoes menores que 0,05 m ) os procedimentos foram os seguintes: preparo da superficie , utilizando-se escalafate, limpeza rigorosa com ar comprimido , seguido de pintura (primer) com o proprio material epoxi, possibilitando desta forma , a perfeita aderencia entre concreto antigo e argamassa.
A argamassa utilizando- se silica fume, foi aplicada nos reparos situados na regiAo do
"end-sill" da soleira, no traco 1 : 0,1 : 2,5 em peso.
Nos reparos utilizando-se concreto convencional , foram adotados os seguintes
procedimentos:
- Preparo da superficie, com rompimento do concreto (ate a 1 ° maiha da armacao), utilizando-se marteletes para que o concreto envolvesse e possibilitasse a aderencia total com a armadura;
- Utilizarao de adesivo epoxi, como primer, para garantir a aderencia do reparo
com o concreto antigo. 0 adesivo epoxi utilizado, neste caso, apresenta as caracteristicas para colagem entre concretos com a presenra de umidade;
- Reguas deslizantes;
- Formas temporariamente fixas, apoiadas em guias topograficamente instaladas, recuperando desta forma, o perfil original;.
Nestes reparos ( grandes dimensoes ), o esquema de lancamento utilizado, foi o convencional (para grandes volumes) atraves de carambas com capacidade de 2,0 m3, adensado com vibradores de imersao com diametros de 0,05 e 0,07 m. Apos 04 horas do langamento, as formas temporariamente fixas eram retiradas para permitir o acabamento manual e a transposicao das mesmas.
As armaduras danificadas, foram substituidas atraves de corte a frio e a recomposicao atraves de emendas do tipo justaposta (bacalhau), com controle rigoroso no local.
Figura 2 - Recuperacao da Soleira Figura 3 - Alteamento da Soleira
5 - MATERIAIS APLICADOS NA RECUPERAcAO
5.1 - Concreto
Na tabela 1 apresentamos as caracteristicas dos concretos langados na recuperacAo e alteamento das soleiras dos Vertedouros e na tabela 2 o respectivo volume lanrado na recuperagAo.
Concreto Lancado Antes do Alteamento e Recu ra
Concreto Lancado no Alteamento e na Recu ra o
FATOR AGUA /CIMENTO 0,45 FATOR AGUA/CIMENTO 0,40
CIMENTO ( Kg/ n3) CP-IV 291 CIMENTO (Wm') CP-N 335
AGUA ( Kglm') 131 AGUA (Kg/ n3) 137 AGREGADO TOTAL ( Kglm') DIAMETRO MAX =19 mm 1904 AGREGADO TOTAL (Kg/ n3) DIAMETRO MAX =19 mm 1.821 AR INCORPORADO (%) 4 AR INCORPORADO (%) 4(-)
VOLUME DE ARGAMASSA (I) 525 VOLUME DE ARGAMASSA (I) 550
SLUMP (cm) 3,0 ± 0,5 SLUMP (cm) 2,5 ± 0,5
IDADE DE RUPTURA ( DIAS) 07 28 90 IDADE DE RUPTURA (DLAS) 07 28 90 NUMERO DE AMOSTRAS (') 13 13 13 Nl1MERO DE AMOSTRAS (') 06 06 06
RESISTENCIA A COMPRESSAO
(MPS)
20,2 32 , 5 41,5 RESISTENCIA A COMPRESSAO
(MPa)
32,2 47,8 58,6
obs.: (•) Uma amostra equivale a dois corpos de prova , di9metro 15 cm por 30 cm de altura.
Utilizado aditivo plastificante.
Tabela I - Caracteristicas do concreto para superficie hidraulica do Vertedouro.
Vao Volume de Concreto Lancado - m3
16
54
14
67
13 Superficies reparadas somente com
ar amassas a xi/silica fume
15
102
Tabela 2 - Volume de concreto lancado na recuperacao.
5.2 - Reparo corn argamassa
5.2.1 - Argamassa com resina epoxi
Na tabela 3 apresentamos as caracteristicas, bem como os constunos da argamassa corn resina epoxi aplicados nos reparos das regioes da soleira e paredes.
Quantidade de Resins Aplicada Resistencia a Compressao Axial dos no Vertedouro - (kg) Tragos Aplicados - (MPa)
Vao Trago em
MADE - DIAS
15 13 14 16 Peso (A+B):C:D No DE 03 NO DE 07 (••') (••) (***) (**) (**) * AMOSTRAS AMOSTRAS 1:7:0,7 15 46,3 15 52,9 1.730 4.712 1.698 2.472 1 : 8 : 0,5 10 44,0 -- -1:6:0,7 09 58,0 04 59,6
Obs.: (*) (A+B) = Resina - kg, (C) = Areia passando na # 30, (D) = Cimento CP-32 - kg
(**) Foram consumidos 257 kg de adesivo epoxi, como primer para colagem entre o reparo e o concreto antigo.
(***) Do total, foram consumidos 269 kg de resina, aplicada na pintura do concreto, nas regioes montante, soleira e aredes.
Tabela 3 - Caracteristicas da Argamassa corn Resina Epoxi
5.2.2 - Argamassa corn silica fume
Na tabela 3 apresentamos as caracteristicas, bern corno os consumos da argamassa corn silica fume, aplicada na soleira regiao do "end-sill".
Tra o 1 :0,1 : 2,5 em Peso A/C <- 0,45
Item Antes do Alteamento Durante a Reconstituicao Durante a Reconstituigdo
** VAo 13 Vao 15
Data de Ruptura (Dias) 03 07 28 03 07 28 03 07 28
Numero de Amostras (*) 38 38 38 08 09 08 Ol 03 03
Resistencia Media (MPa) 22,9 28,4 39,1 26,3 33,8 46,0' 1 26,2 33,9 47,0
Obs.: (*) Uma amostra equivale a dois corpos de prova, diametro 5 cm por 10 cm de altura.
(**) Numero de arnostras, refere-se a aplicacao de argamassa na soleira dos Vertedouros antes do desvio
do rio
Tabela 4 - Caracteristicas da Argamassa corn Silica Fume
6- SUGESTOES
Das experiencias obtidas relacionadas, a concretagem e recuperacao de estruturas de concreto de superficies hidraulicas em obras de barragens, sugerimos os seguintes procedimentos para especificacoes tecnicas de concretagem e reparos , principalmente na garantia da durabilidade das estruturas:
- Reduzir o fator A/C maximo do concreto aplicado em superficie hidraulica, de A/C maximo 5 0,45 para A/C maximo 5 0,40, principalmente em obras de desvio de rio, por soleiras rebaixadas e de histdrico da existencia de material de transporte;
- Executar reparos em concreto de superficies hidraulicas horizontais, utilizando argamassa com silica fume;
- Nas regioes sujeitas a variacoes de niveis de agua , reduzir o fator A/C do concreto para 5 0,55, onde convencionalmente a utilizado A/C :5 0,65;
As sugestoes mencionadas acima, estao vinculadas nas qualidades , fisico e
quimico, do cimento utilizado.
7 - BIBLIOGRAFIA
Ref. I - Almeida Jr. W., Andrade, J. R. A., Cameiro, E. F. - "AvaliacAo do desempenho dos reparos executados na soleira do vertedouro da UHE Porto Primavera" 38' REIBRAC, Ribeirao Preto/SP
Ref. 2 - Especificacao para reparos CESP n° PP-GLOO-005-ET-0009
Ref. 3 - Junior T. Joao, Andrade A. R. Jose, Carneiro F. Edvaldo, O. R. J. Paulo, Salles M. Flavio - "Reparo em concreto utilizando argamassa com microssilica" 36- ReuniAo Anual do IBRACON - Porto Alegre - RS, 1993
Ref. 4 - Almeida Jr., W.. \ndrade, J.R.A, Carneiro, E.F., Silva RE., Kataoka, E., Vieira Jr., L.P. - "Reabilitacao da Soleira do Vertedouro na UHE de Porto Primavera.