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OS POLICORDES TURI COLLURA POR (ESSE ARTIGO FOI PUBLICADO NO NÚMERO 147 DA REVISTA TECLADO E PIANO )

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POR

(ESSE ARTIGO FOI PUBLICADO NO NÚMERO 147 DA REVISTA TECLADO E PIANO - 2009)

TURI COLLURA

Copyright 2009

OS

POLICORDES

(2)

O termo policorde significa a sobreposição de duas formações de acordes diferentes (tríades ou tétrades) uma em cima da outra. Nós pianistas e tecladistas temos uma certa facilidade para entender e realizar isso, devido às características de nosso instrumento: nossa mão esquerda, por exemplo, pode facilmente tocar uma tríade de Dó maior enquanto a mão direita toca uma tríade de Ré maior, tudo ao mesmo tempo, veja a figura 1:

Fig.1

O uso do termo policorde pode sugerir bitonalismo ou politonalidade. O que é isso? Por exemplo, Stravinsky sobrepunha, ao mesmo tempo, melodias e acordes pertencentes a tonalidades diferentes para quebrar os limites do sistema tonal. Quando as tonalidades são somente duas se fala em bitonalismo. Stravinsky usou esse sistema, por exemplo, na música para o teatro Petrouschka, que estreiou em 1911 em Paris. O acorde usado por ele é o da Figura 2:

Fig.2

Está se perguntando se isso faz mal à saúde ou é muito tóxico? Não! pode fazer mal só se lido após uma feijoada completa...

A ideia de base e sua genealogia

Contam as vovós que em 1500 os compositores usavam formações de acordes compostas por sobreposição de terças, gerando assim os acordes que conhecemos com o nome de tríades. Sucessivamente, sobrepondo mais uma terça à tríade o ser humano descobriu a tétrade: Bach usava o acorde de dominante até o 7° grau (1-3-5-b7). Sobrepondo mais uma terça à tétrade, Schumann (1810-1856) usou, pela primeira vez, uma estrutura de acorde com 9a. Naquele tempo a exploração do sistema tonal era um esporte bem difundido. Logo na segunda metade de 1800 os compositores chegaram a explorar o espaço tonal até a 13a. Veja a figura 3:

Fig.3

Mas vamos com calma: não falarei de Stravinsky nessas páginas, nem de politonalidade. Tratarei do policorde no seu significado mais comum e útil: sobreposição de estruturas superiores dentro de um contexto tonal. Traço, então, um caminho para explicar como isso funciona, qual a lógica na qual se baseia o pensamento e como aplicá-lo.

Os Policordes

Por Turi Collura

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As Upper structures ou Estruturas superiores

A partir do final da década de 50, o jazz começou a usar estruturas de poliacordes que produziam um som mais complexo. Observamos, por exemplo, a figura 4: a parte de cima do acorde (9,#11,13) forma uma nova tríade sobreposta à tétrade de base - no exemplo a tríade de D acima da tétrade de C7M.

Fig.4

Isso se indica, normalmente, com uma barra horizontal, dessa forma:

Uma estrutura (a tríade D) é sobreposta a outra (C7). Tratando-se da parte mais alta da extensão do acorde, a tríade de Ré maior (9,#11,13 de Dó7) é chamada Estrutura superior (em inglês Upper structure). As estruturas superiores sobrepostas a tríades e tétrades de base são, de forma mais comum, tríades maiores e menores. Mas ainda pode se sobrepor outras estruturas, como tríades aumentadas e outras formações, uma das quais, bem interessante, veremos daqui a pouco. A sobreposição das estruturas superiores à sua base cria o policorde.

Analisarei em seguida os policordes mais comuns para as principais categorias de acorde. É importante ressaltar a correlação escala/acorde que está sempre por trás das coisas: qualquer escala pode gerar uma ou mais estruturas superiores que, adicionada(s) ao acorde de base gera(m) um policorde. Precisamos observar, também que, por se tratar de uma linguagem relativamente nova, a pesquisa e sua sistematização mudam de um autor para outro. Por isso acredito que a coisa mais importante seja entender como funciona o mecanismo [um bom guia para o estudo pode ser o meu livro Improvisação: Práticas criativas para a composição melódica na música popular Vol.2 (momento propaganda)] pois os policordes podem ser usados tanto harmonicamente quanto melodicamente!

POLICORDES DE DOMINANTE

A figura 5 mostra as tríades maiores sobrepostas em contexto dominante ao passo que a figura 6 mostra as escalas que geram os policordes (ou, se quisermos, as escalas que podem ser usadas sobre cada policorde):

Fig.5

D

C7

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A Figura 6 analiza cada policorde agora mostrado, em sua relação com a escala de pertinência:

Fig. 6

a) C7,9,#11,13. A escala é a Mixolídia #4. Em um contexto tonal, esse policorde e sua escala são usados principalmente na resolução para um acorde maior. São usados também no caso de SubV7 e quando o acorde de dominante não resolve quinta abaixo.

b) C7,#9. A escala é a Dominante diminuta (ou escala S-T). Em um contexto tonal, esse policorde e sua escala são usados principalmente na resolução para um acorde maior. Experimente tocar a tríade de Eb na segunda inversão.

c) C7sus4,13. A escala é a Mixolídia. Em um contexto tonal, esse policorde e sua escala são usados principalmente na resolução para um acorde maior. Observe que na mão esquerda foi omitido o terceiro grau, pois o acorde é sus4.

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d) C7,b5,b9. Esse policorde é muito interessante mesmo. Podemos observar que F# é o SubV7 de C7. A figura 6 mostra que são duas as escalas que geram o (pertencem ao) acorde: a Dominante diminuta (escala S-T) e a escala Superlócria. Em um contexto tonal esse policorde e sua escala são usados tanto para a resolução em maior quanto para menor. Experimente tocar a tríade de F# na segunda inversão.

e) C7,#9,b13. A escala é a Superlócria, sua resolução é sobre um acorde menor, mas por empréstimo resolve também em maior. Experimente tocar a tríade de Ab na segunda inversão. f) C7,b9,13. A escala é a Dominante diminuta (ou escala S-T). Em um contexto tonal esse policorde e sua escala são usados principalmente na resolução para um acorde maior. Experimente tocar a tríade de A na primeira inversão.

g) C7sus4,9. A escala é a Mixolídia. Em um contexto tonal esse policorde e sua escala são usados principalmente na resolução para um acorde maior. Observe que na mão esquerda foi omitido o terceiro grau, pois o acorde é sus.

Observamos que os acordes c) e g) se referem a um acorde de dominante sus4. Outra estrutura superior interessante pode ser, nesse caso, a de Bb7M. Essa soma as tríades de Bb e de F, gerando um acorde C7sus4,9,13.

A figura 7 mostra as tríades menores sobrepostas em um contexto de dominante, enquanto a figura 8 mostra as escalas que geram os policordes (ou, se quisermos, as escalas que podem ser usadas sobre cada policorde):

Fig.7

Com referência às figura 7 e 8 (veja página sucessiva), observamos:

a) C7,b9,b13. A escala é a Superlócria. Em um contexto tonal esse policorde e sua escala são usados na resolução para um acorde menor e por empréstimo na resolução em maior.

b) C7sus4,9,13. A escala é a Mixolídia. Em um contexto tonal esse policorde e sua escala são usados principalmente na resolução para um acorde maior. Observe que na mão esquerda foi omitido o terceiro grau, pois o acorde é sus.

c) C7,b5,#9. Utilizado para resolução tanto em maior quanto em menor, esse policorde pertence a duas escalas diferentes: Superlócria e Dominante diminuta (S-T).

d) C7,b5,b9. A escala é a Dominante diminuta (S-T). Em um contexto tonal esse policorde é usado na resolução para maior.

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e) C7sus4,9. A escala é a Mixolídia. Esse talvez não seja um policorde muito interessante. Vale o que dissemos para os policordes da família sus4.

f) C7,9. A escala é a Mixolídia. Esse também não é um policorde muito interessante.

g) C7sus4,b9,13. Esse sim é um policorde muito interessante! Escrevi-o como tétrade de Bbm(7M) com baixo em C. Sua escala é a dórica b2. Sua sonoridade surpreendente. Pat Metheny, por exemplo, usa esse policorde na música Always and Forever.

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Além das tríades, é possível sobrepor tétrades, como no último caso da figura 8. Não tratarei aqui das tétrades, mas quero observar, ainda, algo interessante: podemos usar estruturas por quartas para criar policordes com novas sonoridades. Observe as figuras 9 e 10.

A figura 9 mostra três policordes que podem ser construidos com a escala mixolídia. Fig.9

A figura 10 mostra três policordes que podem ser construidos com a escala Superlócria. Fig.10

Se, de forma geral, a sonoridade dos policordes é muito interessante, a sobreposição de estruturas por quartas a uma tríade ou tétrade de base é demasiadamente interessante! Experimente esses sons!

POLICORDES NA ÁREA DE TÔNICA

A figura 11 mostra os policordes mais comuns para os acordes maiores com 7M, enquanto a figura 12 mostra as três escalas das quais se constroem esses policordes.

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Fig.12

A figura 13 mostra os policordes mais comuns para os acordes menores com função de tônica. As duas escalas consideradas são exclusivamente a menor melódica ascendente e a dórica. Essa última escala e seus acordes podem ter também função de IIm7 (subdominante). A sonoridade dórica é muito usada nas composições modais dos jazzistas dos anos 50 e 60 (ouça, por exemplo, a música “So What”, de Miles Davis). O primeiro acorde da segunda linha (escala dórica) é o assim chamado “acorde So what”, devido ao fato que foi introduzido pelo pianista Bill Evans pela primeira vez na história do jazz naquela música. A música “So What” abre o disco Kind of Blue, gravado em 1959, até hoje o disco de jazz mais vendido no mundo.

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CODA (para quem resistiu e não foi à práia para continuar lendo esse artigo)

Apresento apenas mais um policorde, muito bonito, próprio do acorde meio-diminuto com função de IIm7(b5). Veja a figura 14:

Fig.14

A figura 15 mostra um exemplo de sequência harmônica usando os policordes. Trata-se de uma cadência II-V-I em menor, veja:

Fig.15

Bom, povo sedento da Teclado e Piano que não desiste nunca, é isso aí! O estudo dos policordes não se esgota aqui, mas espero ter contribuido de alguma forma e ter despertado curiosidade para o assunto.

Se ao ouvir pianistas como Herbie Hancock, Chick Corea, Gonzalo Rubalcaba, mas também Nelson Ayres, Luiz Avellar, Kiko Continentino, Hamleto Stamato entre muitos outros (incluindo eu no meu CD “Interferências” ... outro “momento propaganda”) às vezes ficaram malucos ou apenas curiosos com suas sonoridades... talvez terão agora algum indício a mais para descobrir o que “esses pianistas” fazem!

Parte do material deste artigo está baseado no livro “Improvisação: Práticas Criativas para a Composição Melódica na Música Popular” Vol. 2, publicado pela Editora Irmãos Vitale e disponível no site www.turicollura.com

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TURI COLLURA é pianista e compositor, coordenador do curso de música popular da Faculdade de Música do Espírito Santo. É autor do método Improvisação: Práticas Criativas

para a Composição Melódica na Música Popular em dois

volumes (Ed. Irmãos Vitale) e do método Rítmica e Levadas

Brasileiras Para o Piano. Gosta de desenhos animados e de

sorvete.

Referências

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