Poder Judiciário Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região
Ação Trabalhista - Rito Ordinário
0001967-42.2016.5.11.0017
Processo Judicial Eletrônico
Data da Autuação: 15/09/2016
Valor da causa: $100,692.60
Partes:
AUTOR: ROMULO DE LIMA MOURA
ADVOGADO: NAYANDRA CORTEZAO BRAZ
ADVOGADO: ANTONIO BRAZ DE LIMA NETO
RÉU: CAL-COMP INDUSTRIA E COMERCIO DE ELETRONICOS E INFORMATICA LTDA.
ADVOGADO: CASSIO FRANCA VIEIRA
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHOTRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 11ª REGIÃO 1ª Turma
PROCESSO nº 0001967-42.2016.5.11.0017 (RO)
RECORRENTE: CAL-COMP INDÚSTRIA E COMERCIO DE ELETRONICOS E INFORMATICA LTDA.
Advogado: Cássio Franca Vieira
RECORRIDO: ROMULO DE LIMA MOURA
Advogada: Nayandra Cortezao Braz
RELATORA: YONE SILVA GURGEL CARDOSO 01
EMENTA
DANOS MORAIS. ASSÉDIO MORAL. INDENIZAÇÃO. Nos termos do
artigo 5º, X, da CF/88 são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. A indenização mede-se pela extensão do dano, consoante o disposto no artigo 944 do Código Civil. Quantum reduzido.
Recurso conhecido e parcialmente provido para reduzir o valor arbitrado a título de indenização por dano moral para R$ 4.000,00.
RELATÓRIO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso ordinário, oriundos da MM. 17ª Vara do Trabalho de Manaus, em que são partes, como recorrente, CAL - COMP INDÚSTRIA E
, como recorrido,
COMÉRCIO DE ELETRÔNICOS E INFORMÁTICA LTDA. ROMULO DE LIMA MOURA.
O reclamante alega que no período de 19/10/2012 a 08/09/2015 exerceu perante a reclamada a função de Almoxarife A, com jornada de trabalho segunda a sexta no horário comercial com intervalo intrajornada de 1h e último salário de R$1.678,21. Postula: indenização por dano moral (assédio moral).
A sentença MM. 17ª Vara do Trabalho de Manaus (ID-ebddf79) julgou "PAR CIALMENTE PROCEDENTE a reclamação trabalhista ajuizada por ROMULO DE LIMA MOURA em face de CAL-COMP INDÚSTRIA E COMERCIO DE ELETRÔNICOS E INFORMÁTICA LTDA, para o fim de condená-la a pagar ao reclamante a quantia de R$17.250,00, a título de indenização por danos morais e
."
honorários advocatícios, TUDO NOS TERMOS DA FUNDAMENTAÇÃO
A reclamada interpôs recurso ordinário no qual se insurge contra a condenação referente à indenização por dano moral (ID-1b87658). Diz que não há como se manter e sustentar a r. sentença, pois os valores arbitrados pelo Juízo a quo estão sobremaneira elevados, acrescentando que estamos em tempos econômicos difíceis, complexos e precários; que o Recorrido não teve sua imagem profissional exposta ao ridículo, mesmo porque as palavras usadas pela suposta assediadora, não se revestiam de apelidos, mas palavras de nosso vocabulário que estavam sendo ensinadas à estrangeira, que as repetias, conforme pode ser confirmado pelos vídeos que foram fabricados pelo recorrido unilateralmente. Finaliza asseverando que não se perfaz o dever de indenizar.
O reclamante apresentou contrarrazões (ID-8063254) reiterando o dever de indenizar e requerendo a manutenção da sentença.
É O RELATÓRIO.
VOTO
MÉRITO
A recorrente argumenta principalmente que o reclamante não provou a ocorrência do dano moral, como também, que as palavras usadas são pejorativas e, finalmente, que o fato que levaria à obrigação de indenizar, ou seja, a culpa da recorrente, não restou demonstrada.
Analiso.
Acerca do assédio moral sofrido pelo obreiro a testemunha arrolada pelo reclamante relatou que:
"trabalhava na equipe do reclamante; que trabalhava das 07h30 às 17h30, de segunda a sexta-feira; que trabalhava no setor de almoxarife; que sempre trataram o depoente pelo nome; que o reclamante era chamado por algumas pessoas por apelidos; que a sra. Kim chamava o reclamante sempre por apelidos, tais como papai noel, balão e a sra. Urai chamava o reclamante de melão; que as vezes as sras. mencionadas chamavam o reclamante pelo nome; que o reclamante não chamava as sras. mencionadas por apelidos; que já presenciou colegas tirando sarro do reclamante por ser chamado por tais apelidos; que não sabe quem atribuiu os apelidos ao reclamante; que não sabe quando foi atribuído o apelido; que não participou da filmagem feita pelo reclamante."
"trabalha no setor de almoxarifado, de 07h45 às 17h33; que trabalhou com o reclamante como seu responsável; que chamam o depoente de irmão; que é mais comum tratarem os funcionários pelo nome; que o reclamante era chamado pelo nome; que tinha mais contato com a sra. Urai; que já esteve no mesmo ambiente da sra. Urai junto com o reclamante; que nunca presenciou o reclamante sendo chamado por apelido; que o reclamante nunca relatou que fora chamado de apelido; que poucas vezes ficou junto do reclamante e a sra. Kim no esmo ambiente; que nunca presenciou colegas desrespeitando o reclamante; que a sra. Kim trabalhava no setor de produção que ficava em outro galpão; que o reclamante trabalhava no galpão 22."
A Constituição Federal dispõe em seu artigo 5º, X, que são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano
.
material ou moral decorrente de sua violação
Nos termos do artigo 186 do Código Civil, aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
.
moral, comete ato ilícito, ensejando o dever de indenizar
O dano extrapatrimonial decorrente do assédio moral pode ser conceituado como a situação na qual o trabalhador é exposto, durante sua jornada de trabalho, a situações humilhantes, repetitivamente e de forma prolongada. Nessas situações um ou mais chefes se comportam com condutas negativas, possuindo com seus subordinados relações desumanas e aéticas, gerando um local de trabalho desagradável, desestabilizando a relação da vítima com o local de trabalho, forçando-a até mesmo a desistir do emprego.
Infere-se, a partir da declaração da testemunha do reclamante acima transcrita, a efetiva violação à dignidade do obreiro em razão de constantemente lhe tratarem de forma desrespeitosa. Não vislumbro contradição no depoimento das testemunhas visto que a testemunha da reclamada limitou-se a dizer que a atribuição de adjetivos pejorativos ao reclamante nunca ocorreu na sua frente, o que não invalida o depoimento da testemunha do reclamante que afirmou ter presenciado o uso de apelidos vergonhosos como "papai noel, balão, melão" por parte das Sras. Patcharee Junruenq e Urai Satzue contra o reclamante.
Acerca da fixação do quantum debeatur, o Código Civil define em seu artigo 944 que a indenização mede-se pela extensão do dano. Ao se estabelecer a indenização, analisa-se o caráter retributivo e pedagógico da sanção, bem como a capacidade das partes. Entendo como razoável o valor de R$ 4.000,00, considerando que o valor arbitrado em primeira instância foi de R$15.000,00, trata-se de quantia excessiva, capaz de causar lesão a reclamada e enriquecimento sem causa ao reclamante. Assim, reduzo a condenação para R$ 4.000,00 a título de compensação por dano moral.
Por estes fundamentos, conheço do recurso da Reclamada e, no mérito, dou-lhe provimento parcial para reduzir o valor da indenização arbitrada a título de compensação pelo dano moral para R$4.000,00. Custas atualizadas pela reclamada no valor de R$ 80,00 calculadas sobre o valor de R$ 4.000,00.
ACÓRDÃO
Participaram do julgamento o Excelentíssimo Desembargador DAVID ALVES DE MELLO JÚNIOR - Presidente, as Excelentíssima, Juíza Convocada YONE SILVA GURGEL CARDOSO, Titular da Vara do Trabalho de Manacapuru - Relatora, Desembargadora SOLANGE MARIA
SANTIAGO MORAIS e o Excelentíssimo Procurador Regional do trabalho da PRT da 11ª Região VALDIR PEREIRA DA SILVA.
ISTO POSTO
ACORDAM os Desembargadores da Primeira Turma do Tribunal Regional
Do Trabalho da 11ª Região, por unanimidade de votos, conhecer do recurso e, no mérito, dar-lhe proviment
para reduzir o valor da indenização arbitrada a título de compensação pelo dano moral para
o parcial
R$4.000,00, na forma da fundamentação. Custas atualizadas no valor de R$ 80,00.
Sessão de Julgamento realizada em 23 de julho de 2019.
YONE SILVA GURGEL CARDOSO Relatora